Jornal TAMO LÁ! Julho/Agosto Nº4 Ano3

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Nº4 ANO 3

JULHO E AGOSTO DE 2016

GRATUITO

PÁGINAs 4 e 5 Mais de 150 escolas foram ocupadas no RS! Conhece os motivos e o que os alunos estão fazendo lá durante o tempo em que ficam nas ocupações? O Henrique Maciel Leão, educador do Esperança, nos conta um pouco sobre isso!

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editorial

futuro

Uma assembleia é um espaço democrático no qual cada parte auxilia a construir um todo maior e mais forte! Em junho aconteceu a primeira assembleia do ano no Esperança. Que venham as próximas!

Iniciamos, nesta edição, a dedicar uma seção para falar um pouco sobre as profissões mais almejadas pelos educandos do Cursinho Esperança Popular Restinga. Pra começar, saiba um pouco mais sobre os cursos de Direito, Educação Física e Psicologia!

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dicas

experiência

Gente!!! Corre lá na p. 6 que ainda dá tempo de aprender a estudar! Tem dicas de organização do tempo, ambiente e estratégias de estudo pra ninguém reclamar depois que não sabia...

A educadora Denise Ramos conta um pouco da história e trajetória da aluna do Esperança, Laryssa, que carinhosamente chama de Pérola Negra.

PÁGINA 8 comunidade A Associação de Mães Rita Yasmin desempenha um belíssimo trabalho há mais de 10 anos, na Restinga, voltado a pessoas com deficiências. Que tal conhecer um pouco mais dessa história de crescimento e superação?

www.pvprestinga.blogspot.com.br | www.facebook.com/groups/pvprestinga

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AGENDA

EDITORIAL Assembleias e ideias

Débora Simões

No dia 06 de junho de 2016, aconteceu, na sede do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular da Restinga, a primeira assembleia do ano, com participação dos educandos, educadores e servidores do DEDS (Departamento de Educação e Desenvolvimento Social da UFRGS, ao qual o cursinho é vinculado). Cerca de 50 pessoas estavam presentes naquela noite gélida, mas com um calor humano vindo da vontade de arregaçar as mangas e fazer do Esperança um cursinho cada vez melhor, atendendo aos anseios desta comunidade de estudantes da Restinga. Uma assembleia, assim como explicam os dicionários, é uma reunião de pessoas que têm algum interesse comum, com a finalidade de discutir e deliberar sobre temas determinados. Além disso, é um espaço democrático, no qual todos têm o direito de se expressar a fim de construir, em conjunto, um lugar melhor para si e para os próximos. Por isso é tão significativa a participação de todos num momento como esse, pois cada um tem um ponto de vista, uma forma de ver uma situação, algo a contribuir. Esta primeira assembleia já rendeu alguns bons frutos, como a CODEP (Comissão Discente do Esperança Popular), criada por iniciativa dos educandos, composta por cinco alunos escolhidos por votação. Esta comissão pretende ser a voz dos estudantes do Esperança perante os educadores, DEDS e a comunidade, representando seus colegas também nas reuniões semanais do cursinho, nas quais sua presença é super bem-vinda e importante. O Esperança Popular da Restinga não é apenas mais um cursinho pré-vestibular perdido por aí. Não pretende só formar bixos de vestibular, mas alcançar os ideais da educação popular, transformando as vidas de educadores, educandos e da comunidade através de seus próprios conhecimentos e auxiliando na formação de sujeitos mais conscientes de seus direitos e de seus papeis de cidadãos. Venha fazer parte dessa corrente! “Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos.”

Foto: Henrique Maciel Leão

Te liga nessas dicas do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga. Não esquece dessas datas! Anota, memoriza, copia, recorta, circula, mas não perde!

3º SIMULADO ONLINE do Hora do ENEM: 13 de agosto, no site: tvescola.mec.gov.br/tve/serie/hora-do-enem Os três primeiros simulados terão 20 questões por área de conhecimento, com um total de 80 questões cada um. O 4º simulado terá 45 questões por área de conhecimento, com um total de 180 questões seguindo o mesmo modelo do Enem. 5º edição do FESTIVAL DO JAPÃO Tema: A imigração japonesa no Rio Grande do Sul Atrações: Músicas Tradicionais, Danças Típicas, Origami - Ikebana - Caligrafia Japonesa, Gastronomia Oriental, Apresentações de Taikô e muito mais. Parceria com o ANIME BUZZ: Mangás, Cosplayers, Video Games, Desfiles de moda Japonesa Shows de Música Pop Japonesa Dias 20 e 21 de agosto,10h às 17h, na Academia de Polícia Militar (Av. Cel. Aparício Borges, 2001) INGRESSO: 1Kg de alimento não perecível INFORMAÇÕES: https://www.facebook.com/festivaldojapaors

CURSINHO PRÉ-VESTIBUlAR ESPERANÇA POPULAR RESTINGA COMISSÃO EDITORIAL EDUCADORES Adriele Albuquerque Alexandre Rodrigues Bernardo De Carli Davi Vergara Denise Aires Ramos Érick Barcelos Goulart Gabriela Sitta Henrique Maciel Leão Israel Teixeira Sasso Kamila Costa Lucas Dalenogare Márcia Reckziegel Marilize Ribeiro Alfaro Matheus Penafiel Patrícia Goulart Pinheiro Pedro I. C. Figueiredo Rodrigo Dos Santos Ronaldo Beraldin Saul Bastos William de Oliveira Silva

Daiane Moraes Débora Simões Rita Camisolão

ILUSTRAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Arthur Henrique Nielsen Bataioli Margit Anton Bersch

REVISÃO Débora Simões *As matérias assinadas nesta edição são de exclusiva responsabilidade de seus autores.

TÁ SABENDO DE ALGUM EVENTO LEGAL? COMPARTILHA! Envie um e-mail para o informativo Tamo Lá! : deds@prorext.ufrgs.br

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FUTURO

Qual é a tua? Já decidiu qual é a tua área de interesse? A faculdade que quer cursar? Ou ainda tem umas... cinco opções diferentes? “Quem sabe Direito, pois gosto de justiça, ou Educação Física, já que esporte é minha praia... Mas a psiquê humana me fascina tanto, será que devo ser psicóloga?” São tantas considerações... Saiba um pouco mais sobre essas profissões, que estão entre as mais desejadas pelos alunos do Cursinho Esperança!

DIREITO O curso de Ciências Jurídicas e Sociais tem formado advogados, magistrados, promotores, defensores públicos, políticos, ativistas sociais e professores universitários. Visa tentar compreender os conflitos da sociedade de classe em que vivemos, bem assim analisar o lugar do direito, seus limites e possibilidades. Sua função básica é formar profissionais que, desde a perspectiva do direito, reflitam e interajam com os conflitos nas mais variadas áreas da vida social. Paralelamente às atividades docentes clássicas, ao lon-

EDUCAÇÃO FÍSICA O Bacharelado em Educação Física tem por objetivo a formação de profissionais qualificados para o exercício da área de Educação Física, entendida como um campo de estudo multidisciplinar e de intervenção profissional através das diferentes manifestações e expressões do movimento humano, visando a formação, desenvolvimento e o enriquecimento cultural das pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável.

PSICOLOGIA O Psicólogo estará habilitado a exercer a profissão em todos os campos, com ênfase nas políticas públicas, nos processos clínicos e institucionais, bem como nos processos de avaliação. Busca-se formar profissionais comprometidos com as transformações da sociedade contemporânea, por isso priorizam-se os seguintes eixos: atenção integral à saúde, relação com a comunidade, trabalho em equipe, produção de conhecimento científico, educação permanente. A psicologia deve estar em qualquer contexto onde as

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go do curso, os estudantes participam de uma série de atividades de pesquisa e de extensão, dentre as quais se destaca o SAJU - Serviço de Assistência Jurídica Universitária. Campo de atuação: Atuação como advogado em escritórios individuais ou de grupos nas mais diversas áreas de especialização, como perito criminal e civil, escrivão, em assessorias jurídicas de empresas, ou seguir carreira através de concursos para o Ministério Público, Magistratura, procuradorias estatais, delegado de polícia e magistério superior, entre outras opções.

Campo de atuação: O Bacharel em Educação Física está apto a atuar nos campos da prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, da formação cultural, da educação e reeducação motora, do rendimento físico-esportivo, do lazer, da gestão de empreendimentos relacionados às atividades físicas, recreativas e esportivas, além de outros campos que oportunizem ou venham a oportunizar a prática destas atividades, em ambientes diferenciados da rede escolar formal.

pessoas estão, por isso, o psicólogo deve estar preparado para identificar as questões psicológicas envolvidas em qualquer contexto, seja ele individual, grupal ou institucional. Campo de atuação: Em Psicologia Clínica, Educacional, Jurídica, Hospitalar, Social, Organizacional, de Trânsito, do Trabalho, do Esporte, Psicopedagogia, Psicomotricidade, Neuropsicologia. É um campo muito disputado, por isso, um desafio ao psicólogo é encontrar maneiras de colocar-se de forma mais independente e autônoma, desenvolvendo competências empreendedoras e de liderança.

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CAPA

Foto: Henrique Maciel Leão

Quando o ensino é privilégio, ocupar é um direto Em tempos de retrocessos nos direitos fundamentais para o ser humano, a luta e a resistência têm aparecido com tanta intensidade que se fazem pedagogicamente necessárias. Foram mais de 150 escolas ocupadas no Estado do Rio Grande do Sul. Prática essa adotada a partir de experiências de outros estados brasileiros e da grande mobilização no Chile, pela educação pública, em 2006.

Por que ocupam? Por que agora? Não é de hoje que a educação pública gaúcha vem sofrendo ataques. Vivemos momentos de tensões em diversos governos passados. Dentre os mais fervorosos, o governo Yeda e o total descaso com as escolas, e o governo Britto, com a política de minimizar o Estado, privatizando diversos setores. Desde que foi sancionado, em 2010, o piso salarial do professor concursado pelo Estado do RS não chega a ser pago em sua totalidade. Temos professores que recebem 23% do piso nacional da categoria. Hoje, o professor tem seu salário parcelado regularmente, muitas vezes impedindo que ele consiga dar sua aula, por não haver como se locomover até a escola. Greves já fazem parte do ano letivo da escola. A luta pela valorização da categoria sempre esteve presente no cenário político, mas não tinha um diálogo e um apoio expressivo de outros protagonistas das escolas, principalmente dos estudantes.

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A onda de ocupações gera um desconforto em toda a sociedade. Alunos que não fazem parte e pais sempre questionam “quando vão voltar às aulas”? Há um descaso sobre as pautas e reivindicações dos alunos e dos professores. Mas, aliás, o que esses estudantes querem? Dentro das pautas está o repasse imediato dos recursos atrasados para as escolas. Recurso esse que não é pago em sua totalidade desde março. Vemos escolas alegando que não têm verba para arrumar estruturas físicas, como, por exemplo, a manutenção e troca de vidros das salas de aulas. Outras escolas pedem verbas específicas, como o Colégio Padre Réus, situado no bairro Tristeza, Zona Sul da cidade, onde se tem o dinheiro para a reforma do ginásio e mais seis salas de aula, mas a autorização não é dada há dois anos. Os alunos pedem também o pagamento do salário dos professores, sem

cortes e sem parcelamento, alegando que essas medidas dificultam para os professores irem dar aula, pois muitos não têm dinheiro para se locomover até as escolas. Há dois projetos de lei dentro das pautas. O primeiro é o PL 44/2016, de autoria do próprio Governo Estadual, que qualifica Organizações Sociais a administrarem setores da escola. Abaixo nota do CPERS sobre o projeto de lei: “O Governo do Estado encaminhou no último dia 25 de fevereiro à Assembleia Legislativa, uma série de projetos que visam ao desmantelamento do estado e a precarização dos serviços públicos. Em sua política de acabar com o papel do estado nas políticas públicas, o que tem por consequência, por exemplo, a crise na educação com as enturmações e ausência de professores, bem como a crise da segurança pública que hoje tristemente vivenciamos, o Governo apresenta o Projeto de Lei nº 44/2016, em que quali-

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fica entidades privadas sem fins lucrativos como ‘Organizações Sociais’”. Alunos e professores denunciam esse PL como um caminho de privatizar a escola pública. Desta forma, dando poder ao setor privado de contratar professores em contrapartida de manter as estruturas físicas da escola. Isso pode desencadear um processo de privatização em massa e fechamento de muitas escolas, colocando em risco um direito constitucional de direito a uma educação pública e gratuita. Professores alegam

que pode ser cobrada uma mensalidade, caso esse projeto siga em frente. O outro projeto, intitulado “Escola Sem Partido”, de autoria do deputado estadual Marcel van Hattem, coloca que o professor é proibido de dar opinião ou propagar ideologias dentro do espaço escolar. Ponto que já é previsto dentro das Leis de Diretrizes e Bases da Educação, mas o que traz de novo é uma perseguição a correntes de esquerda, colocando em perigo principalmente disciplinas de humanas, pois, como ensinar história mo-

derna sem mostrar os dois blocos econômicos que permeiam essa época? Como ensinar sociologia, sem falar dos tipos de dominação que estão no cotidiano da sociedade, ou falar em globalização, na disciplina de geografia. O medo toma conta dos professores, pois, assim como em Alagoas, onde professores de sociologia e história foram presos por lecionar seu conteúdo, a categoria mais uma vez é perseguida e privada da autonomia dentro da sala de aula.

O cotidiano das escolas da Restinga Das três escolas estaduais da Restinga, duas foram ocupadas. Tanto o colégio José do Patrocínio, quanto o colégio Ildo Meneghetti reivindicam as mesmas pautas, repasses de verbas, melhorias nas estruturas, pagamento dos professores. Pude acompanhar o dia a dia de uma das escolas, para entender como funciona a ocupação. No colégio Ildo Meneghetti, há uma concentração de 30 ocupantes, em sua grande maioria alunos, mas também

há pais, professores, ex-alunos e moradores da comunidade ligados à escola. A organização é feita através de comissões. Cada comissão é responsável por afazeres diários, como alimentação, limpeza do espaço, comunicação, entre outras. Os manifestantes colocam que “escola ocupada não é escola fechada”, e com isso, a fim de manter um diálogo com a comunidade escolar e tentando mostrar o outro lado da moeda, oferecem oficinas e aulas públicas abertas. O intuito das

oficinas é fazer com que o espaço escolar não se restrinja a práticas educativas tradicionais, reduzindo a educação à sala de aula. As oficinas vão de aulas de preparação para o ENEM a oficinas sobre gênero, grafite e serigrafia. Práticas que mostram que a escola pode ser um espaço diferente. Uma coisa é certa, as escolas ocupadas não serão mais as mesmas, e muito menos esses estudantes que as ocupam. Henrique Maciel Leão

Foto: Henrique Maciel Leão

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DICAS APRENDENDO A ESTUDAR: COMO MELHORAR SEU DESEMPENHO Muita gente considera que estudar seja um comportamento natural, mas estudar é um processo que se precisa estar sempre aprendendo a fazer. Vamos pensar assim: na escola, fazíamos de um jeito, na universidade, provavelmente teremos que mudar nossa forma habitual de estudar, porque isso envolve um processo de compreensão do tipo de estratégias que funcionam para si relacionadas aos tipos de conteúdos que se quer aprender. Portanto, às vezes, se faz necessário aprender a estudar. Se você estuda de um jeito “errado” ou que não lhe traz bons resultados, poderá aprender pouco e se frustrar com isso. O resultado é que estudar vira um momento desagradável e também ameaçador, pois ninguém gosta de fracassar no que faz. Como é chato, você poderá fugir desse momento de estudos, tornando esse processo ainda mais penoso. E o contrário também é válido. Se você estuda, obtém bons resultados, consegue aprender, cada vez mais esse processo pode tornar-se mais prazeroso e agradável. Gostar de estudar poderá resultar em gostar de aprender! Uma das primeiras providências a ser tomada por um estudante que quer eliminar dificuldades ou, até mesmo, potencializar seu modo de estudar é verificar o seu modo de se relacionar com os estudos, ou seja, como você estuda hoje, quais são suas facilidades e dificuldades nesse processo. Tenha em mente que estudar envolve alguns fatores: objetivos que se tem em relação ao conhecimento que se pretende adquirir, ambiente, uso do tempo, hábitos e estratégias de estudos. Quanto mais você conseguir prestar atenção no modo como estuda, mas fácil será de identificar o que pode não estar adequado e, assim, pensar em alternativas de mudança. Mas lembre-se: não há uma receita de bolo a seguir ou dicas milagrosas! Aprender é um processo, obter bons resultados também.

Hábitos e Estratégias de Estudos

Algumas dicas para melhorar seus estudos: Ambiente Crie um local de estudos. (silencioso, sem interrupções, com espaço para dispor seus materiais, boa iluminação...). Mesa arrumada → cabeça arrumada. Disponha dos materiais necessários para seus estudos, a fim de evitar interrupções.

Investigue como é seu ritmo. Em que parte do dia você se sente mais disposto para estudar? Leia as matérias sugeridas pelo professor, no tempo que você estabeleceu. Procure revezar as matérias e o tipo de atividade. Por exemplo, depois de estudar inglês, resolva problemas de matemática. Faça anotações durante as aulas e tire dúvidas. Busque exercícios complementares, além dos indicados pelo professor, e corrija-os.

Tempo Considere um bloco de tempo, uma tarde, por exemplo. Ao longo desse período, vá anotando como você usa seu tempo. Quantas atividades você começou e terminou e quantas não acabou? Quais poderiam ser postergadas ou eliminadas? Faça uma lista do que precisa fazer na semana. Anote o tempo necessário para cada atividade, pessoais, profissionais, de estudos, lazer e etc. Some os tempos de cada uma e compare com o tempo que você realmente dispõe. Dá tempo para fazer tudo? Transfira para o topo da lista as atividades prioritárias. Siga o planejado. Deixe certa folga no seu tempo, pois podem ocorrer interrupções e tarefas imprevistas. Seu planejamento só será racional se corresponder ao seu ritmo de vida, com o tempo livre necessário para pausas e descanso. Mantenha uma agenda diária. No começo do dia (ou no dia anterior), escreva uma lista com tudo o que quer realizar.

Adaptado de texto das autoras:

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Alessandra Blando (Pedagoga e mestre em Educação) Ana Paula Couto Zoltowski (Psicóloga e doutoranda em Psicologia) Patrícia Costa Azevedo (Assistente Social e especialista em Saúde Mental)

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EXPERIÊNCIA

NOSSA PÉROLA NEGRA por Denise Aires Ramos Em março de 2015 entro para dar aula no salão de festas da Asala e me deparo com aquela beleza genuína, uma menina que chamava atenção por seu turbante, por seus belos olhos verdes e, sobretudo, por sua postura. Ela tinha uma imponência que não sei bem explicar. Ela parecia demarcar território, mostrava-se dona de si, de sua história e de seus desejos: eu não estava enganada. Ao longo do tempo, ela não me surpreendeu. Eu sabia que ali estava uma bonita história para se contar. Laryssa Fontoura é minha aluna aqui no Esperança. Ela tem 18 anos e uma força e coragem invejáveis. Há algum tempo, nos aproximamos mais e pude ter o privilégio de conhecê-la melhor. Na verdade, nos aproximamos bastante porque passei a perceber sua evolução na escrita. O que, ano passado, era dificuldade, transformou-se em uma profunda capacidade de se expressar através de seus textos. O olhar sempre atento às aulas, a insistência na reescrita e a curiosidade lhe trouxeram um significativo aumento em sua facilidade para escrever. No entanto, hoje não é sobre seus talentos linguísticos que venho falar. Quero falar da menina, sim... pra mim, é uma menina, a menina forte, a mulher negra que nos apresenta sua história e suas negras raízes com doçura e tenacidade, ao mesmo tempo. Essa menina de que falo é muito forte. Sempre com seu espírito combatente, não se deixa abater pelas dificuldades e adversidades pelas quais passou e ainda passa. Essa Pérola Negra não se mixa, não se deixa esmorecer. A partir de sua coragem, acabou abrindo trilhas ao longo

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de sua vida. Acabou adquirindo o respeito daqueles que ela julga serem importantes em sua existência. Hoje, a vejo defendendo seu direito de ser o que quiser e não o que os outros acham que ela deveria ser. Quero falar da menina que me contou de quando tinha 16 anos e alisou seu cabelo por completo: “Sora, me olhei no espelho e não me reconheci”, me disse ela. Não consegui esquecer essa frase dela. Apesar de ter permanecido assim por algum tempo, foi a partir da decisão de deixar os cabelos crescerem naturalmente que veio o contato com a Cultura Negra. Foi seu cabelo e a reconstrução de sua autoestima que a fizeram se assumir como mulher negra e descontruir o racismo que existia dentro dela, segundo ela mesma relata. A partir disso, suas lutas foram forjadas. Lutas por direitos iguais, por respeito, por

dignidade. Pelo direito de ser diferente. Segundo ela, o Esperança acabou por lhe proporcionar diversas discussões que só fizeram contribuir para sua formação como cidadã. Laryssa, minha Pérola Negra, é motivo de orgulho para todos. Sua força e sua dignidade são molas propulsoras para que continuemos nossa grande luta: levar nossos alunos à Universidade mas, sobretudo, proporcionar a eles a chance de se tornarem agentes de suas próprias histórias e transformá-las da maneira como melhor lhes convier. Laryssa, Pérola Negra. Tão linda e tão forte.

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COMUNIDADE

UM ESPAÇO PARA FORMAR CIDADÃOS Associação de mães da Restinga oferece novas perspectivas a pessoas com deficiência

Há mais de 10 anos à frente da Associação de Mães Rita Yasmin (AMRY), dona Antônia Batista tem muitas histórias de superação e solidariedade para contar. Desde 2005, quando somou suas forças às de outras mães da Restinga, ela luta para melhorar a qualidade de vida de crianças, adolescentes e adultos com deficiência. A AMRY foi criada para amparar, orientar e auxiliar quem enfrenta dificuldades relacionadas a deficiências leves. Idealizada por 35 mães, a Associação começou suas atividades em dois cômodos da casa de dona Antônia. Mas o espaço foi ficando pequeno e, em 2013, com o apoio de empresários e de Dunga, ex-treinador da Seleção Brasileira de Futebol, uma sede foi inaugurada. Nesse espaço são realizadas sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e pedagogia, além de atendimento jurídico: tudo sem custos e oferecido por profissionais voluntários. Além disso, dona Antônia faz questão de destacar que há uma grande preocupação em apoiar as famílias dos pacientes. “Esse é o

nosso grande diferencial”, ela enfatiza. A ideia é aliar os tratamentos de saúde a um ambiente familiar acolhedor e preparado para lidar com as diferenças. Hoje, a AMRY atende mais de 100 pessoas: são crianças, adolescentes e adultos que recebem cuidados fundamentais. Apesar de essenciais, contudo, esses cuidados são relegados pelo poder público, como afirma dona Antônia: “Todo mundo fala de inclusão, mas na prática as nossas escolas não são inclusivas. Os alunos com deficiência vão ao colégio por ir. Eles não recebem tratamento adequado lá”. Para a presidente, faltam políticas públicas para atender à demanda relacionada aos portadores de deficiências e para combater o preconceito. “Estamos muito longe de a deficiência ser aceita”, lamenta. Mas o “trabalho de formiguinha” realizado pela associação, como o denomina dona Antônia, vale a pena. Além de estar por trás de histórias de crescimento, desenvolvimento e superação, a AMRY encanta muito parceiros que contribuem para a manutenção do projeto. Já que sobrevive apenas por meio de doações

por Gabriela Sitta e eventos beneficentes – como brechós e almoços –, a associação valoriza muito cada doação recebida. De acordo com dona Antônia, alimentos não perecíveis estão entre os artigos mais importantes para o dia a dia da instituição. Com uma trajetória de muito esforço, solidariedade e amor ao próximo, dona Antônia (e a AMRY) seguem acreditando muito no futuro: “Quero que a associação exploda de alegria, de muito trabalho e de crianças realizadas, saindo daqui como cidadãs. E quero que o governo reconheça todo o nosso trabalho”. Ajudar a Associação de Mães Rita Yasmin não é difícil. Na sua página do Facebook, a associação divulga as datas de todos os eventos beneficentes. Além disso, é possível atuar como voluntário e fazer doações de artigos ou dinheiro. SERVIÇO Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 8h às 17h Endereço: Rua Dr. Carlos Niederaur Hoffmaister, 952 Telefone: (51) 3277-4129

Foto: Doug Butchy | Flickr

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