Pelos caminhos de Manteigas

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Pelos caminhos de Manteigas ...by


Ficha técnica

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Propriedade, edição e distribuição: Gomes & Canoso, Lda. Rua São João, nº. 39, Repeses 3500-727 Viseu Telefone: 232 407 544 Telemóvel: 969 474 853 Directora: Olinda Martins Redacção: Ana Margarida Gomes e Lino Ramos

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Design e paginação: Tiago Canoso Publicidade e marketing: Tiago Canoso Telefone: 232 407 544 Telemóvel: 969 474 853 Visite o nosso website em www.descla.pt

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04 — Vale por Natureza

Trilhos verdes de Manteigas

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Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota Rota

do Poço do Inferno do Javali da Vila do Carvão do Maciço Central do Glaciar dos Poios Brancos da Reboleira de Vale de Amoreira da Azinha do Sol de Sameiro das Faias do Corredor de Mouros do Covão de Santa Maria das Quartelas

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No encalço do rio Zêzere Manteigas em duas rodas Descer com adrenalina Turismo em Manteigas

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Vale por Natureza Em Manteigas predomina o verde, a natureza, o ar puro. Desde o Poço do Inferno ao Covão d’Ametade, passando pelos Cântaros, tudo isto pode ser admirado fazendo um dos percursos pedestres que a Vila proporciona. A vila de Manteigas, situada em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, tem um grande património paisagístico, natural e ambiental, destacando-se o Vale Glaciário do Rio Zêzere, um dos maiores da Europa. “Vale por Natureza” é o slogan deste concelho, e não é por acaso. Para potenciar todo este panorama paisagístico, o concelho desenvolveu os “Estrela Green Tracks”, 16 percursos pedestres interligados que cobrem mais de 200 quilómetros do território, alguns dos quais podem ser feitos em BTT. Foi também

A biodiversidade em Manteigas é muito rica e variada.

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criado um centro de BTT, com balneário e alguns utensílios de apoio para pequenos imprevistos como, por exemplo, um furo num pneu. Foram desenvolvidas duas aplicações para o telemóvel para ajudar o turista – Estrela Green Tracks e Turismo Manteigas. Indicam os vários trilhos disponíveis, o tempo que demora a percorrer cada um e o seu grau de dificuldade. As aplicações estão disponíveis em português, inglês e castelhano. Para além destes 16 trilhos, a Grande Rota do Zêzere e a Grande Rota das Aldeias Históricas também passam em Manteigas, cruzando-se nalguns pontos com os 16 percursos. Mas Manteigas Vale por Natureza não são apenas trilhos pedestres

e de BTT, mas sim de tudo o que pode fazer-se na montanha, em termos de desporto, aventura, natureza e lazer. Existem eventos de parapente, saídas de campo para identificação de cogumelos silvestres, birdwatching, canyoning, ski, carrinhos de rolamentos, percursos de orientação, geocaching, o Festival de Outono, o Imaginature – Festival de Fotografia e Vídeo, e eventos gastronómicos, onde se destaca a feijoca, a truta e o famoso queijo da Serra. No centro da Vila há um grande relevo para o património religioso e judaico, tendo sido criado um roteiro das marcas da herança judaica em Manteigas. Pode encontrar mais informação em www.manteigastrilhosverdes. com. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 5


Rota do Poço do Inferno Fotografia: Tiago Canoso

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carro ficou no largo que é também um miradouro. Saímos à procura do Poço do Inferno. Pela estrada envolta em narcisos, vidoeiros, azinheiras, tramazeiras e teixos, reparamos nas escarpas rochosas, íngremes e até assustadoras. Esses cumes mais altos são formados pelas rochas corneanas, fenómeno que ocorre quando o magma quente e plástico ascende atravessando as rochas pré-existentes. É aí que nascem linhas de água como a cascata de nome obscuro, com cerca de dez metros. Para chegar ao riacho e ao ponto onde cai a água há que subir uma escadaria e sal-

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tar pedregulhos num equilíbrio periclitante. No Verão é um bom sítio para banhos, mas em Invernos mais rigorosos o leito chega a congelar. Estamos no ex-líbris do concelho de Manteigas e da Serra da Estrela. A Rota do Poço do Inferno começa no seu ponto mais baixo, a 1081 metros de altitude, mas há-de terminar nos 1150. Não dá para fazer de bicicleta, mas por serem apenas 2,5 quilómetros de caminhada atrevemo-nos a dizer que não faz mal. E a pé apreciamos melhor a paisagem sobre o magnífico Vale Glaciário do Zêzere e o Vale da Ribeira de Leandres. Para além do teixo, extremamente raro e que só se encontra em Manteigas e na Serra da Peneda-Gerês, ainda encontramos árvores tão singulares como o plátano-bastardo, a faia, o pinheiro-do-oregon e o abeto. Com sorte havemos de nos cruzar com uma raposa, um coelho-bravo, um guarda-rios, um peneireiro, uma lagartixa do mato ou uma salamandra-lusitânica… Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 7


Rota do Javali Fotografia: Tiago Canoso

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s pegadas em forma de estrela denunciam as lontras. Vivem junto às diversas linhas de água que atravessam o concelho de Manteigas. O equilíbrio entre essas fontes de vida, as zonas de matos e as espécies folhosas e resinosas tornam esta área um dos habitats privilegiados para este e outros animais, como a cobra-de-água-de-colar, o lagarto-de-água, o coelho-bravo, a raposa, o ouriço-cacheiro e o javali, que dá nome a esta rota. Lá em cima observamos o peneireiro e o tartaranhão-caçador, entre outras aves de rapina. Ao longo do percurso vemos castanheiros, freixos, carva-

lhos-negrais, vidoeiros – muito raros em Portugal – ou gilbardeiras, árvore que possui estatuto de conservação. A Ribeira de Leandres é uma das principais linhas de água: corre rápida pelo meio de escarpas e vales e atravessa o Poço do Inferno, uma cascata natural com cerca de dez metros. A Rota do Javali permite uma vista panorâmica sobre a vila de Manteigas. Imaginamos Horácio, personagem do romance A Lã e a Neve, de Ferreira de Castro, nas duras caminhadas que fez até à Covilhã em busca de uma vida melhor que lhe permitisse comprar casa e desposar o seu grande amor, Idalina. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 9


Rota da Vila Fotografia: Tiago Canoso

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ão há como fugir ao que é evidente: o vale glaciário, em forma de U, molda o cenário da vila de Manteigas, situada lá ao fundo, para onde outrora escorriam as línguas de gelo vindas do alto da Serra da Estrela.

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Manteigas é uma terra pequena com uma grande história para contar. Das lendas sobre a origem do nome há duas mais credíveis: a primeira diz que teria origem na produção de lacticínios na região, como a manteiga e o queijo da serra; a


segunda lembra as “mantecas”, mantas feitas de burel usadas pelos pastores. A Rota da Vila varia entre os 1,8 e os 2,3 quilómetros e leva-nos a conhecer um rico património religioso, com destaque para aquela que terá sido a primeira igreja de Manteigas, a da Misericórdia, construída entre 1685 e 1688, no local onde outrora se situava a capela de São João Baptista (1260). A neobarroca Igreja de Santa Maria – onde começa o trajecto – e a Capela do Senhor do Calvário, situadas num vasto adro, são outros pontos de interesse, mas o que mais chama a atenção são as Alminhas, que encontramos na fachada de um dos edifícios da zona mais antiga da povoação: estão relacionadas com a crença no Purgatório, simbolizada por uma fogueira por onde todas as almas têm de passar para serem purgadas com o fogo dos pecados veniais. Pelas ruas típicas que guardam casas tradicionais descobrimos a Casa das Obras, começada a construir por volta de 1770 e assim chamada por demorar cerca de 50 anos a ficar concluída: é uma antiga residência nobre adaptada a turismo de habitação no interior da qual podemos encontrar algum mobiliário de qualidade e sete quadros a óleo que retratam antigos inquilinos. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 11


Rota do Carvão Fotografia: Tiago Canoso

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omo o nome indica, esta rota segue o rasto do carvão. Houve um tempo em que na zona mais alta do percurso, a 1683 metros, queimava-se a raiz da urze para produzir carvão, popularmente chamado de “borralho” e vendido na vila de Manteigas. Era também nesses pastos naturais que o gado se alimentava,

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o que ainda hoje acontece. A Rota do Carvão atravessa as Penhas Douradas, pequena aldeia de montanha outrora procurada para tratar doenças respiratórias devido aos seus “bons ares”. Em 1880 o médico José Tomás de Sousa Martins, especialista no combate à tuberculose, considerou este sítio o mais saudável de


Portugal. É também aqui que encontramos o Observatório Meteorológico das Penhas Douradas, construído há mais de um século para monitorizar o clima da região. Estamos numa das regiões mais frias de Portugal continental mas nem por isso queremos ir embora. O percurso assim obriga: seguimos em direcção ao espelho de água do Vale de Rossim, um pequeno paraíso no alto da montanha

onde reina o silêncio. Nos 20 quilómetros de trajecto reparamos em grandiosas esculturas naturais como a Fraga da Cruz, o Fragão do Corvo e a Pedra Sobreposta. Paramos com frequência, quase sem dar por isso, para contemplar a incrível panorâmica do Vale Glaciário do Zêzere e tomar consciência da nossa pequenez ao ver o acumular de serras que se estendem até Espanha. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 13


Rota do Maciço Central Fotografia: Tiago Canoso

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ponto mais alto de Portugal continental. Havemos de lá chegar. Assim haja vontade e capacidade. A Rota do Maciço Central não é a mais longa – varia entre os 10 e os 19,6 quilómetros – mas é porventura a mais difícil. Aconselham-nos a começar junto ao Covão d’Ametade, um dos ex-líbris da Serra da

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Estrela. Trata-se de uma bela depressão glaciária, arborizada com vidoeiros ao longo das margens do rio Zêzere para criar condições ao abrigo dos rebanhos. À sua volta erguem-se três cântaros, Gordo, Raso e Magro, grandiosos afloramentos graníticos com 1875, 1916 e 1928 metros de altitude, respectivamente.


A Torre, aqui bem perto, é um pouco mais alta (2000 metros, após o rei D. Pedro VI ter mandado construir uma estrutura em pedra para alcançar a medida certa). Junto a ela nasce o Zêzere, que se precipita por entre as paredes dos cântaros e começa a ganhar forma no Covão d’Ametade, engrossando cada vez mais o caudal até o depositar no rio Tejo. O que todos procuram mas nem sempre encontram é a neve, e se ela existir

podemos sempre praticar algum desporto de Inverno, pois há infra-estrutura adaptadas a isso. Além do Covão d’Ametade, a Rota do Maciço leva-nos por outras paisagens emblemáticas como o Covão Cimeiro, as Salgadeiras – conjunto de várias charcas –, a Lagoa do Peixão (ou da Paixão) ou a Nave da Mestra, um lugar bem escondido da Serra da Estrela e um dos mais bonitos e mágicos do planalto.

Devido ao elevado grau de dificuldade que o percurso apresenta, aconselha-se o uso de GPS ou da aplicação para smartphone que o município de Manteigas disponibiliza. O caminheiro também deverá possuir boa capacidade física, reforço energético, água e vestuário adequado.

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Rota do Glaciar Fotografia: Tiago Canoso

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eguimos o rasto do glaciar que desenhou a paisagem de Manteigas. Ao olharmos para o Vale Glaciário do Zêzere imaginamos o gelo a escorrer das montanhas e a seguir em direcção ao que é hoje a vila. A língua de gelo principal chegava a atingir 300 metros de espessura. A sua força era tal que arrastava enormes blocos de rocha, como o grandioso Poio do Judeu, cerca

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de 150 m³ de granito e mais de 500 toneladas que jaz no alto da Nave de Santo António. No fundo do vale glaciário, um dos maiores da Europa, com 13 quilómetros de extensão, há algumas construções típicas da serra, as “cortes”, casas de pedra com telhados em colmo de palha de centeio ou giesta, bem como casas do guarda-florestal. Rebanhos de cabras e ovelhas deliciam-se em pastos verde-


jantes. O pastoreio e a agricultura de montanha tiveram que adaptar-se às exigências do território da Serra da Estrela, assim como a fauna e flora. O cuco, o corvo e a águia-real são algumas das espécies que sobrevoam a zona, vigiando lá do alto o coelho, a lebre ou o famoso cão Serra da Estrela, companheiro inseparável de muitos pastores. Várias espécies de flores e árvores pontuam a paisagem, dos eixos centenários às belas tramazeiras, com as inconfundíveis bagas de cor vermelha que parecem cerejas e dão para fazer uma geleia de gosto intenso. Ao percorrer a Rota do Glaciar podemos ver ainda a Senhora da Boa Estrela, no Covão do Boi, uma escultura religiosa dos anos 40, o Bairro fabril, junto da antiga fábrica de lanifícios, a Igreja de São Pedro, já na Vila de Manteigas, ou a Estância Termal das Caldas de Manteigas, cujas águas sulfurosas são indicadas no tratamento de várias doenças, como reumatismo, dermatoses, vias respiratórias e doenças musco-esqueléticas. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 17


Rota dos Poios Brancos Fotografia: Tiago Canoso

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s Almas são construções feitas em pedra no cimo de um cabeço. Marcam a religiosidade das populações e é frequente encontrar velas e lamparinas acesas deixadas por quem passa no local ou mesmo oferendas de

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flores. Ao longo da Rota dos Poios Brancos encontramos alguns destes monumentos naturais, importantes vestígios da arte popular portuguesa. O nome do percurso deve-se ao facto de atravessar, no seu ponto mais elevado, o conjun-


to granítico dos Poios Brancos, que nas primeiras neves do ano se pinta dessa cor, avisando que o Inverno chegou. A extensão da rota é de 7,9 km, perfazendo 25,4 quilómetros com as respectivas derivações. É na derivação para o Poço do Inferno que surge a magnífica paisagem do Covão da Abelha, de onde se avista, no fundo do desfiladeiro,

o Aguilhão, um considerável maciço rochoso encimado por grandes pedras sobrepostas. Lá no alto voam a águia de Bonelli, o melro-das-rochas e o falcão-peregrino, aves que enfrentam um risco de extinção muito elevado. Cá em baixo a paisagem veste-se de teixos, zimbros-rasteiros,macieiras-bravas ou favas-de-água, entre outras espécies.

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Rota da Reboleira Fotografia: Tiago Canoso

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Reboleiro produz castanhas pequenas e deliciosas que são secas à lareira no Inverno. Trata-se de uma árvore selvagem que em tempos foi uma importante fonte de alimento das populações de Manteigas e actualmente integra o Souto do Concelho, uma área de castinçal que no Outono compõe um quadro multicolor. A Rota da Reboleira leva-nos a conhecer casas típicas em xisto, bem como muros construídos com este material que adornam parte do trajecto. Há retalhos esculpidos na terra, socalcos, lameiros, bosques frondosos e áreas incultas de pastoreio. A zona é particularmente rica em flora elevado interesse conservacionista, como o azevinho, a azinheira, o amieiro, o medro-

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nheiro, o castanheiro, o pilriteiro, a urze e a roseira-brava. A diversidade de habitats serve de refúgio a espécies como a toupeira-de-água, os morcegos-de-ferradura-grande e pequeno, a cobra-de-escada, o tartaranhão-caçador, a coruja-do-mato e a raposa, entre ou-

tras. Nas proximidades do trilho encontramos algumas colmeias que convém não perturbar. Os mais aventureiros podem ainda experimentar a Pista de Ski – SkiParque, que com as suas pistas sintéticas permite praticar ski e snowboard durante todo o ano. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 21


Rota de Vale de Amoreira Fotografia: Tiago Canoso

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ale da Amoreira é uma pequena freguesia com pouco mais de 200 habitantes, de ruas estreitas, ladeadas por casas típicas, e uma das mais belas paisagens da Serra da Estrela. A povoação é envolta por uma extensa floresta que podemos conhecer a pé, de bicicleta, em moto 4, jipe ou então lá do alto, já que esta é uma das melhores zonas do país para a prática do parapente. À medida que avançamos deparamo-nos com olivais, vinhedos, milheirais e prados de azevém, acompanhados de bosquetes, lameiros, construções em xisto e socalcos. Uma das árvores mais comuns é o pinheiro-bravo, que constitui a principal exploração silvícola. A vasta área florestal, os matos e as linhas de água são o habitat privilegiado de diversas espécies de fauna, como o como morcego-de-ferradura-pequeno e o morcego-de-ferradura-grande, que enfrentam risco de extinção elevado, além do tartaranhão-caçador, o coelho bravo, o corvo, o mocho-de-orelhas e o toirão, entre outros. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 23


Rota da Azinha Fotografia: Tiago Canoso

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uinta do Fragusto. Aqui pratica-se uma agricultura de montanha à base de pastoreio, cultivo de centeio e floresta. Abundam castanheiros e pinhos nórdicos. A propriedade rural é especialmente bonita na Primavera e no Outono, no Inverno é preciso cuidado com a neve. Mais adiante fica o Cabeço

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da Azinha, um miradouro natural de onde podemos observar os vales e serras a perder de vista e no qual funciona uma pista de parapente e um posto de vigia de incêndios. A Rota da Azinha, que começou com uma bela vista sobre o Vale de Amoreira, é uma das atractivas pela diversidade de relevos, entre vales e impo-


nentes cumeadas. Já quase no fim do percurso chegamos às Coanheiras, campos agrícolas situados perto da povoação de Sameiro que incluem prados e horticulturas onde se produz feijoca, batata, tomate, alface, ervilha, couve-galega e cenoura, entre muitos outros vegetais regados pela água do rio Zêzere que é conduzida por levadas. A curiosidade leva-nos ainda à antiga casa do Guarda-Florestal do Gorgulhão, que, como

outras, foi ocupada por guardas-florestais e respectivas famílias, com a missão de vigiar e fiscalizar as áreas que lhe estavam atribuídas. Estes homens tiveram um papel importante na arborização e protecção de tais áreas, que ocupam grande parte da serra. Ainda no Gorgulhão podemos parar na área de lazer local, que inclui um circuito de manutenção, percurso de BTT e um parque de merendas envolto em densas matas de resinosas. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 25


Rota do Sol Fotografia: Tiago Canoso

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ota do Sol”. Só o nome já nos motiva. A pé ou de bicicleta seguimos por entre vinhas, socalcos, lameiros e levadas, florestas mistas de folhosas e resinosas. Cheira a rosmaninho, planta que decora alguns caminhos e muros, e há casas típicas da serra, em xisto ou granito. Começámos a viagem no Posto de Turismo de Manteigas, um edifício recentemente requalificado no centro da vila, e depois de uns quilómetros chegamos ao Cabeço de Satanás, vista privilegiada para os

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bosques que rodeiam o vale glaciário do Zêzere. A rota é dominada pelo silêncio, elemento comum aos 16 trilhos pedestres mas mais evidente neste, assim como o ar puro, a tranquilidade, a ideia de uma natureza virgem. É neste ambiente bucólico que vivem espécies como a coruja-do-mato, o gaio, o coelho bravo, a raposa, o licranço, o ouriço-cacheiro, o morcego-de-ferradura-pequeno e a víbora-cornuda, os dois últimos com estatuto de conservação vulnerável.


Parque da Vรกrzea

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Rota de Sameiro Fotografia: Tiago Canoso

A Rota de Sameiro é a mais pequena – varia entre os 1,3 e os 5,9 quilómetros –, mas uma das mais ricas em tradição, cultura e beleza natural. Nesta freguesia há casas em xisto e granito, levadas de água fresca, campos lavrados e um forno comunitário que, já não tendo a importância de outras épocas, é um traço da identidade local. Mais adiante encontramos a mística Capela de São Lourenço, rodeada de carvalhos. No solstício de Verão, se estivermos na vila de Manteigas veremos nascer o sol sobre esta povoação, o que leva a crer que aqui se praticavam cultos pagãos ligados à adoração das árvores e dessa estrela. A paisagem oferece uma im28 | Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla


pressionante uma palete de cores, graças a espécies de flora tão diversas como a carqueja, a urze, o rosmaninho, o freixo, amieiro, o pinheiro-bravo ou a azinheira, entre muitas outras.

É neste ambiente mágico que vivem o licranço, o andorinhão-preto, o cuco-canoro, o ouriço-cacheiro, a poupa, coruja-do-mato e a coruja-das-torres, só para enumerar alguma fauna. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 29


Rota das Faias Fotografia: Tiago Canoso

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percurso atravessa uma densa floresta de faias, plantada pelos Serviços Florestais de Manteigas no início do século XX, e é usado por pastores que levam o gado até aos locais de pastoreio.

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Acabámos de entrar numa verdadeira experiência sensitiva, pois além das belas paisagens somos conquistados por odores a rosmaninho, alfazema, tomilho e hortelã-brava. Chegados ao lugar de São


Lourenço, fixamos o olhar na imensidão de serras que se estende até Espanha. Em primeiro plano surge a cumeada da Lomba das Cancelas, que limita a Beira Alta da Beira Baixa, e o Cabeço da Azinheira, a quase 900 metros de altitude. O Vale Glaciário do Zêzere, em forma de U, acompanha-nos ao longo do percurso e

voltamos a encontrar-nos com a Torre, os cântaros magro e gordo e as sublimes Penhas Douradas. A víbora-cornuda, a lagartixa-do-mato, o sardão, a raposa e a doninha são alguns dos animais que, com sorte, poderemos ver, vigiados lá do alto pela coruja, o corvo e o peneireiro, entre outras aves. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 31


Rota do Corredor de Mouros Fotografia: Tiago Canoso

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s serranos, que nas solidões da Estrela ora pastoreavam as suas ovelhas, ora teciam a lã que elas forneciam (…) ”. Lembramo-nos das palavras de Ferreira de Castro em A Lã e a Neve, de 1947, e vamos à procura dessas gentes, ou melhor, das memórias desse

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tempo. Para isso fazemos a Rota do Corredor de Mouros, assim chamada devido ao cume com o mesmo nome, extenso e imponente. É um dos percursos mais bonitos dos 16 que integram o projecto “Manteigas Trilhos Verdes”. Ao longo de 15,5 quilóme-


tros podemos descobrir eiras ancestrais, searas de centeio, vários afloramentos quartzíticos e o mágico Covão da Ponte, uma paisagem natural a 950 metros de altitude repleta de pastagens, campos de cultivo, matos e resinosas onde é fácil deixar-se embalar pelos chocalhos dos rebanhos. O covão, atravessado pelo rio Mondego na fase inicial do seu percurso, é o ponto ideal de partida para visitar o planal-

to central da Serra da Estrela, a pé ou de bicicleta, dispondo de infra-estruturas de apoio à pernoita e uma casa abrigo com as condições mínimas para apoiar aqueles que gostam de actividades ao ar livre. A Rota do Corredor de Mouros permite-nos ainda observar espécies em elevado risco de extinção, como o falcão-peregrino, o morcego-de-ferradura-pequeno, o coelho-bravo e o tartaranhão-caçador. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 33


Rota do Covão de Santa Maria Fotografia: Tiago Canoso

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ousada de São Lourenço. É um edifício construído para o turismo, um dos primeiros da rede Pousadas de Portugal, iniciada em finais da década de 30. Daqui temos uma vista panorâmica para o Vale Glaciário do Zêzere e se no Verão as lagoas situadas nas imediações convidam a um mergulho, no Inverno é a neve que nos chama para fazer ski. Apetece ficar mas há uma rota para fazer. O Covão de Santa Maria é um lugar recôndito e ao mesmo tempo bucólico, moldado pela actividade agrícola. Mais adiante encontramos a Capela da Nossa Senhora do Carmo, mandada construir por José Ramos dos Santos para que

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o filho, Padre Zeferino Roque, pudesse pregar a doutrina católica. Ouvimos de novo os chocalhos dos rebanhos e sabemos que estamos perto do belo Covão da Ponte, já para lá do meio do percurso, onde podemos fazer um lanche ou simplesmente repousar, recuperando forças para o que falta. O rio Mondego acompanha-nos ao longo da rota: corre veloz e cristalino por entre lameiros e encostas. Repara-

mos no carvalho-negral, na tramazeira e no vidoeiro, entre outras espécies autóctones e muitas mais que foram aqui “introduzidas”. A fauna é dominada pelo falcão-peregrino, pelo morcego-de-ferradura-pequeno e pela toupeira-de-água que enfrentam um risco de extinção elevado, enquanto espécies como o coelho-bravo, a águia-cobreira, e o corvo têm o estatuto de ameaçados. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 35


Rota das Quartelas Fotografia: Tiago Canoso

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Rota das Quartelas estende-se por vasto anfiteatro natural ocupado por socalcos, lameiros, construções em xisto e granito. Os pastores conduzem os rebanhos, guardados de perto pelos cães da serra.

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Já depois do meio do percurso encontramos a Casa do Guarda-Florestal do Cerro da Correia, uma das muitas que foram construídas no concelho de Manteigas a partir de finais do século XIX como forma de


arborizar os baldios municipais que se deparavam com graves problemas de erosão, devido ao aproveitamento excessivo da vegetação existente na serra. O nome da rota advém de uma zona chamada de Quartelas, repleta de talhões agrícolas, que evocam a tradição da agricultura e da pastorícia,

actividades que compõem a identidade desta terra. A pé ou de bicicleta atravessamos olivais, vinhedos, milheirais, prados de azevém e povoamentos de pinheiro-bravo. Com sorte haveremos de nos cruzar com algum coelho-bravo, com estatuto de conservação ameaçado. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 37


No encalço do rio Zêzere Fotografia: Tiago Canoso

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Grande Rota do Zêzere é um percurso de 370 quilómetros que atravessa 13 concelhos. O ponto de partida não poderia ser mais belo: o vale glaciário e o Covão d’Ametade. A Grande Rota do Zêzere é, como o nome indica, um percurso majestoso que acompanha o rio Zêzere desde a nascente, na Serra da Estrela, até à foz, em Constância, onde entra no Tejo. Ao longo dos 370 quilómetros que unem 13 concelhos podemos ver algumas das mais belas paisagens naturais do nosso país e importantes marcas deixadas pelo Homem em diversas gerações. O ponto de partida é Manteigas e o seu emblemático Vale Glaciário do Zêzere. O rio nasce junto à Torre, a quase 2.000 metros de altitude, cai pelas paredes íngremes dos famosos Cântaros e começa a ganhar forma no Covão d’Ametade, uma depressão de origem glaciar que ao longo dos anos se tornou num cenário paradisíaco e bucólico. A descida do vale conduz-nos à vila de Manteigas, terra de pastores e artesãos. A actividade pastoril permitiu aproveitar terrenos abandonados ou que não eram úteis e a pecuária foi importante na fertilização da 38 | Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla


terra dos maninhos, tornando possível a cultura do centeio a 1700 metros de altitude. Ainda hoje vemos pastores a guardar rebanhos, acompanhados de cães da serra. A indústria têxtil desenvolveu-se pelo menos desde o século XVI, pois sabe-se que nessa altura já existiam em Manteigas três pisões e, por isso, um conjunto de operações inerentes à produção de lã e ao acabamento dos tecidos. Seguimos o leito do Zêzere e alcançamos Vale de Amoreira, aldeia com pouco mais de 200 habitantes, de ruas estreitas e casas em xisto, uma das mais belas da Serra da Estrela. Desde muito cedo que esta terra

está associada à agricultura e à produção de azeite. Os serviços florestais também foram importantes para o sustento de várias famílias, na construção dos caminhos e estradas e na sua manutenção. Esta é a primeira parte da Grande Rota do Zêzere, um extenso percurso que podemos fazer a pé, de bicicleta ou canoa, embora esta última actividade nem sempre seja possível. Um dos aspectos inovadores desta rota são, precisamente, as 13 Estações Intermodais, estruturas de apoio que nos permitem alternar entre estas três modalidades sem necessidade de sair do percurso para trocar o equipamento utilizado. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 39


Manteigas em duas rodas Fotografia: Tiago Canoso

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ma das melhores formas de descobrir a beleza natural de Manteigas é em duas rodas. E não, não é de mota, mas de bicicleta, pois por mais cómodo que seja aquele transporte, sobretudo no Verão, nunca permitirá sentir este território como ele merece. Ao subir a montanha compreendemos um pouco do que passam os ciclistas na etapa rainha da Volta a Portugal. Manteigas é conhecida como a “capital do BTT”, recebendo inúmeras provas ao longo do ano. Além dos profissionais, muitos outros se aventuram no asfalto, em calçadas ou caminhos de terra batida. Os percursos estão organizados em cinco rotas. A primeira, a da Lapa, é a mais fácil: seguimos em direcção à vila pelo caminho da Lapa, regressando depois ao centro de BTT, num trajecto de 7,5 quilómetros. A Rota do Sameiro, de nível moderado, já tem 14,5 quilómetros, mas vale a pena per-

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corrê-los para descobrir a Ribeira de Leandres, cuja água atravessa o Poço do Inferno, a famosa cascata natural com cerca de dez metros, bem como a povoação do Sameiro com as suas casas em xisto e granito e que ainda conserva um forno comunitário. O Vale Glaciário, o “monumento” natural mais importante de Manteigas, dá nome à terceira rota, a primeira de nível “difícil”, destinada, por isso, a “praticantes experientes”. O início é semelhante ao do percurso anterior, mas, depois de chegar ao Poço do Inferno, sobe até aos Poios Brancos, passa pela Serra de Baixo e pela Lagoa Seca e depois começa a descer, alcançando o Covão d’Ametade e o vale glaciário, até chegar à vila, ao fundo deste, num total de 32,6 quilómetros. Igualmente difícil é a Rota do Corredor de Mouros (33,8 quilómetros), que, entre outros locais, nos leva até ao Miradouro da Azinha, de onde podemos


ver a Torre – ponto mais alto de Portugal Continental –, bem como todo o maciço central da Serra da Estrela. Mais abaixo fica a Mata de S. Lourenço, ocupada por faias que dão uma sombra impagável nos dias mais quentes. Além da boa preparação física, o único requisito para fazer este percurso é levar água em quantidade suficiente, pois quase não há locais para reabastecimento. Já se imaginou a pedalar ao longo de mais de 65 quilómetros? É isso que propõe a Rota das Penhas Douradas, a única de nível “muito difícil”. A primeira metade é muito parecida com o percurso anterior, mas agora somos conduzidos ao Covão da Ponte, conhecido pelas suas pastagens, campos de cultivo e árvores resinosas. Deixamo-nos embalar pelos chocalhos dos rebanhos e pelo barulho da água do Mondego e da sua nascente, o Mondeguinho. Depois de alcançarmos as Penhas Douradas começamos a descer até à vila de Manteigas. Pode ver mais informação em www.centrodebtt.cm-manteigas.pt. Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 41


Descer com adrenalina Fotografia: Tiago Canoso

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Ribeira de Leandres é um daqueles locais mágicos que não nos cansamos de admirar. A água corre por entre vales e escarpas rochosas, criando prodígios como o Poço do Inferno, uma cascata natural com cerca de dez metros. Este afluente do rio Zêzere é um dos melhores locais para praticar canyoning, modalidade que consiste na descida de rios e ribeiras de montanha a caminhar, a saltar e em rapel. Uma ponte de madeira espera quem se aventura. Caminhamos 50 metros e iniciamos o primeiro rapel, de oito, o mais pequeno de todos, seguindo depois pela ribeira até encontramos o segundo, de 12 metros, que podemos interromper a meio para fazer um salto. Há-de ser assim nas próximas quatro a cinco horas, tempo médio do percurso: andar, descer apoiados em cordas, saltar

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e, eventualmente, nadar, tudo com grande cuidado. Poço do Inferno, 18 metros de rapel: mas a adrenalina é maior do que o susto. A aventura termina aqui para os que escolheram o sector “Ribeira de Leandres Inferior”, destinado aos menos experientes nestas coisas do canyoning. Para os outros, os que optaram pela “Ribeira de Leandres Inferior”, este é o ponto de início e também a zona ideal para o necessário reforço alimentar. Mais uma ponte e, logo a seguir, um novo rapel com 10 metros. Seguem-se outros de 6,5 – com recurso a corda – 13 e 12 metros, intercalados com caminhadas, umas mais demoradas do que outras. E eis que chegamos a uma parte mais técnica da ribeira, com dois ressaltos, que ultrapassamos com dois rapéis de nove metros, o último deles suspenso.


O maior rapel, com 25 metros, vem depois, antecedendo um pequeno salto, de dois a três metros – seja como for, o cuidado é sempre pouco e é preciso verificar a profundidade da água. Caminhamos mais 50 metros até à última ponte, onde termina a nossa aventura. Equipamento necessário • Corda de 50 metros ou duas cordas de 25 metros • Fato de neopreno • Botas de caminhada • Capacete • Arnês • Descensor • Mochila • Bidon estanque Ficha técnica Altitude inicial: 1143 metros | Altitude final: 967 metros | Tempo de acesso: 15 minutos | Tempo de descida: 4 a 5 horas | Tempo de regresso: 30 minutos Dificuldade: Média, com caudal estival | Região: Serra da Estrela – Manteigas. Carta Militar 224 | Coordenadas de entrada: 40º 22’17.67”N 7º31’4.31”W Coordenadas de saída: 40º22’33.25”N 7º30’59.95”W | Período recomendado: Maio a Outubro Manteigas Trilhos Verdes ...by Descla | 43


Cada vez mais turistas visitam Manteigas

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uando o projecto dos Green Tracks foi planeado, o seu objectivo era atingir 7.000 visitantes por ano, valor que já foi ultrapassado. No posto de turismo há um registo de cerca de 3.000 visitantes anuais e na sede do Parque Natural da Serra da Estrela o valor é equivalente. Fora estes dados, há todos os turistas que vão fazer os trilhos e que não passam em nenhum destes locais, pelo que não são contabilizáveis. O pico de visitantes verifica-se no mês de Agosto, haven-

do uma forte expressão dos turistas franceses, número que tem vindo progressivamente a aumentar. Existem ainda muitos turistas espanhóis e alemães. Apesar de a maior percentagem ainda ser de turistas portugueses, os públicos estrangeiros estão a ter cada vez maior expressão. O Posto de Turismo de Manteigas esteve em obras para se tornar mais dinâmico e inovador. O espaço inaugurado no dia 16 de Julho chama-se “Manteigas Welcome Center”.


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