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CARAVANA DA ALEGRIA

CECÍLIA KAWALL Mora em Chapada dos Guimarães, é guia de ecoturismo e de aventura, empresária, fotógrafa e escreve para Lume MT.

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POR CECÍLIA KAWALL lume MatoGrosso

48 Q ue vá direto ao coração, que mexa comigo? Chapada dos Guimarães é claro, o “coração do mundo” ! De onde parti para todas as aventuras e caminhos e para onde volto, sempre. A Chapada mexe com o sangue da gente, emociona, tira o fôlego. Aqui conheci e vivi grandes amores, desiludi, parti e voltei. A primeira vez que vim foi de táxi aéreo com a família, no meio das férias na fazenda do vô, lá se ia o ano 1976. A emoção de sobrevoar os paredões já era uma aventura e tanto, e me marcou definitivamente a coloração avermelhada da terra rasgando o verde vibrante da vegetação do cerrado, tudo sob o céu de cristal azul. Cores! Os contrastes.

Dez anos depois minha mãe comprou uma casa naquela “aldeia”, encontrou uma pérola naquele mar de dentro. Eu vivia em São Paulo bem enredada na vida asfáltica, trabalhando e estudando e ela me convidou para uma visita. Me lembro como se fosse hoje que eu respondi bem altiva (quanta soberba…) “o que EU vou fazer no meio do mato???” Foi a primeira grande guinada quando resolvi vir pelo menos para agradá-la… fiz uma viagem de ônibus de quase 30 horas e a chegada aqui ainda era na frente da Igreja. Passei duas horas, acreditem, caminhando e procurando a casa dela, dentro da cidade, hahaha! O endereço era assim: desce do ônibus, sobe a avenida umas duas quadras e dobra na ruazinha à esquerda. Fiz todos os roteiros possíveis acompanhada de uma senhora que queria ajudar mas não me deixava ultrapassar aquelas duas quadras porque dizia que depois dali “é o fim do mundo minha filha, não tem mais nada lá”. A Chapada tinha 4mil habitantes então e por causa de sua localização muito próxima dos paredões, para as pessoas mais simples daqui tudo ao redor era o fim!

Bem, depois de muito insistir que ela me deixasse descansar num hotel para continuar no dia seguinte, me sentei numa calçada e esperei não mais do que 5 minutos e já vieram me resgatar. Minha mãe sabia que eu estava chegando e como eu não aparecia ela saiu andando e me encontrou. Sua casa era exatamente uns passos além do limite da iluminação pública da época, no “nada”, no escuro, no fim! Hoje é no Centro, hehe, a uma quadra da rodoviária!

50 Só um detalhe: estamos sim no centro da cidade mas ao mesmo tempo no campo. Minha área é vizinha da APA da Quineira, uma área de proteção permanente que abriga uma das mais importantes nascentes de água potável da cidade. Detalhe este de relevância crucial nos tempos de hoje! Aproveitando já deixo aqui este alerta, ajudem, sempre que possível, lutem pelas nascentes, pela nossa água. Pelo poder do cerrado como berço das águas, protejam, venham conhecer, passear e desfrutar.

E, de visita passei a moradora. De moradora a proprietária. De proprietária a contribuinte, cidadã, colaboradora e amante apaixonada. Cada vez que dirijo ou caminho por estas trilhas me emociono um pouco mais, me vem um suspiro no peito, um leve sorriso nos lábios. Ui! Foram muitas as idas e vindas, cada vez com uma estória. Eu ia e vinha mas não decidia nada, parecia que a Chapada escolhia quando eu ia ou vinha. Acolhia e ainda acolhe. Ainda me admiro como se fosse aquela primeira vez com as cores, com os contrastes, com as dificuldades e maravilhas. A vida nas asas das borboletas azuis no meio da mata, os rios cristalinos entre as rochas de arenito e ferro, a dramaticidade da vegetação e a doçura das flores.

Uns dizem magnetismo, outros astral, outros ainda energia, karma… a gente hoje brinca que quem vai embora teve “alta” do hospício, hehe. A Chapada é deslumbrante para os olhos sim mas te cobra tudo isto a cada respiração. Ai. Nada é muito fácil, tudo tem que ser conquistado, guerreado. Todos os tipos de movimentos tem espaço por aqui, o povo índio dono de tudo, o povo das estrelas, dos intra-terrenos, dos elementais, das máquinas gigantes do agro-negócio, mono culturas sem fim, dinheiro, garimpo, ouro, diamantes e madeira. É macro produção versus preservação,

51 civilização, dignidade de vida e chuva ácida…um caldeirão de sentimentos controversos, fortes emoções. Arroz integral, meditação e bife na chapa.

De emoção em emoção alcanço meus “cinquentanos” que comemoro e compartilho aqui com a maior alegria. Pela Graça da Natureza, Gratidão!

Deixo com vocês imagens que me curam, minha verdadeira face. E a partir de agora abrem-se as cortinas da caravana mais animada deste Centro Oeste, um verdadeiro espetáculo de lugares fantásticos e sorrisos iluminados.

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