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Os objetos inusitados de Marcel Duchamp

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Lista de imagens

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Nota. 1

Marcel Duchamp (1887-1968) foi um pintor e escultor francês, naturalizado norte-americano. Foi considerado um ícone do movimento conceitual de arte moderna o “Dadaísmo” e o precursor do “ready-made”. (ebiografia.com, acesso 04/11/2019).

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Nota. 2

O termo “dada” é encontrado por acaso numa consulta a um dicionário francês. “Cavalo de brinquedo”, sentido original da palavra, não guarda relação direta, nem necessária, com bandeiras ou programas, daí o seu valor: sinaliza uma escolha aleatória (princípio central da criação para os dadaístas), contrariando qualquer sentido de eleição racional. “O termo nada significa”, afirma o poeta romeno Tristan Tzara, integrante do núcleo primeiro. Ao contrário de outras correntes artísticas, o Dadaísmo apresenta-se como um movimento de crítica cultural mais ampla, que interpela não somente as artes, mas modelos culturais passados e presentes (Itaú Cultural, acesso 04/11/2019). Neste trabalho abordamos diferentes níveis da transformação de artefatos, e Marcel Duchamp (18871968) é um dos principais precursores da ideia de se pensar objetos de forma inusitada, tendo sido o artista do movimento dadaista, que mais explorou a construção de “esculturas” a partir de partes, pedaços ou materiais reutilizados de objetos obsoletos ou descartados. Neste caso, foram objetos construídos como obras de arte, justamente para provocar a tradição que os vanguardistas do início do século XX contestavam, e contrariar os pensamentos até então colocados como sendo a “verdade” para o que era considerado “Arte”. A seguir, serão analisadas, em sequência cronológica, duas obras do autor, ambas relevantes para este trabalho: “Roda de Bicicleta”, 1913 (Figura 7) e “Fonte”, 1917 (Figura 8). Sua obra “Roda de Bicicleta” (1913) faz uma alteração curiosa no uso de todos os objetos utilizados em sua composição. A obra consiste em um banco de madeira de pé, em cujo assento está fixado um garfo de bicicleta com uma roda voltada horizontalmente para cima. Esta obra tensiona o paradigma que tradicionalmente se estabelece entre banco X roda, nas bicicletas normais. Uma bicicleta possui em sua construção primordial elementos, entre eles um banco e duas rodas e ambos possuem suas funções específicas. O banco para sentar-se, expressa assim o apoio para o corpo; as rodas como apoio do corpo da bicicleta e único contato com chão. Ao se pedalar uma bicicleta, normalmente, gera-se atrito entre a roda e seu ponto de contato (o

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Figura 7: Escultura do artista Marcel Duchamp denominada Roda de Bicicleta.

Figura 8: Instalação do artista Marcel Duchamp denominada Fonte solo), transferindo essa energia, a roda gira deslocando a bicicleta no espaço, transportando o seu usuário.

Na “escultura” de Duchamp, a composição intriga o destinatário por fugir do convencional: esta roda, roda, mas está presa ao banco e não é passível de deslocamento. O banco, por sua vez, perde sua função de apoio do corpo e conexão entre o usuário e a bicicleta, e passa a ser o único contato com o solo, e também suporte fixo para o garfo, que faz a conexão entre o assento do banco e a roda. Há nesta obra uma inversão de posturas entre o assento e a roda provocando a reflexão, causada pela estranheza que vivencia o apreciador da obra. (Figura 7) Em 1917, Duchamp apresenta a obra “Fonte”, uma peça de cerâmica industrial, convencionalmente utilizada como mictório em banheiros públicos. O sistema de fixação do objeto, em uma parede, com a “bacia” direcionada para baixo, revela como o fornecimento e o escoamento da água ocorrem, a partir da exibição clara do desenho dos pontos de saída e entrada da água no equipamento/ objeto. Na obra do artista, esta peça de porcelana é posta em posição paralela ao eixo “x”, ou seja, na horizontal, apoiada em superfície plana, fazendo os desenhos dos orifícios na peça remeter a um chafariz, construindo a relação semântica entre a estrutura da peça e o nome dado à obra. (Figura 8).

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