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Objeto e significado
Para discutirmos o significado dos objetos, ou de tudo que está “posto à nossa frente” , segundo Cardoso (2002), escolhemos estudar os conceitos básicos da semiótica criada pelo filósofo e matemático Charles Sanders Peirce (1839 - 1914) estadunidense, referência no estudo sobre o código não verbal (lógica), e sobre a lógica presente na elaboração das linguagens não verbais (a que, portanto, é discutida quando analisamos e estudamos objetos). Para Peirce o signo é uma representação de algo, através de qualquer forma “perceptível”. Sendo uma parte, uma secção desta forma, portanto, uma representação “parcial” daquele ente. O autor diz também que o signo se constitui de forma triádica, trabalhando com três conceitos articulados para se gerar um significado: signo, objeto e interpretante. Assim:
Signo: representa possibilidade de representação.
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Interpretante: o processo mental, que gera o significado de forma não definitiva, relacionando o objeto (o que é representado) e o signo, que o substitui (está no lugar dele).
Objeto: o que é/ está representado. Estas três instâncias são colocadas de forma a gerar um diagrama triangular, sendo o signo, e o objeto os vértices da base, ligados por linha descontínua e o interpretante o do lado oposto, conectando os outros dois com linhas diagonais contínuas. (Figura 6) É preciso, antes de tudo, observar que o “ob-
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Figuras 6: Triangulo Peirciano, apresentacomo se dão as ligações de cada conceito.
Nota
O signo sempre é representação parcial do objeto, portanto a linha é pontilhada porque não é definitiva, ela depende do interpretante. Já o processo de associação ocorre de forma particular a cada vez, portanto só ocorre se o interpretante relacionar signo e objeto de um único modo (que poderá ser outro, porém dependerá de outra associação). jeto” do triângulo peirceano é usado como referência de tudo que se pode observar, enquanto, no caso deste TCC, usaremos o termo especificamente para nos referirmos a objetos e artefatos propriamente ditos, peças e utensílios que compõem o universo selecionado para estudo.
Assim, partimos do princípio de que todo objeto possui um significado e propósito, caso contrário não teria sido construído.
Os objetos, dentro de sua área de entendimento, buscam também demonstrar através de seu significado, o momento que seu possuidor vivência a experiência de uso ou conhecimento do objeto. Isso ocorre de forma relativamente simples, porém o entendimento se demonstra por formas complexas.
O consumo se tornou algo intrínseco ao ser humano, na medida em que não se pode viver sem estar incluido nesta prática. A aquisição de um objeto quer dizer muito sobre o consumidor, o mesmo tem a propriedade de apresentar traços da personalidade de quem o possui, e também demonstrar as preferências de quem a obtém, além de apresentar o repertório cultural a que a pessoa foi exposta e que formou seus gostos e seus valores.
Como mostrado o objeto tem o poder de mostrar a personalidade de quem o possui. Hoje os produtos são construídos em massa e comprados na mesma frequência, gerando pessoas que buscam os mesmos tipos de produtos como forma de se expressarem, se aproximando por terem traços em comum. Estas pessoas começam a se juntar, se conhecer e terem
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uma forma de contato, iniciando a formação de grupos, tribos urbanas, e gerando, com o passar do tempo ,comunidades, subculturas e culturas.
Exemplo disso, são os denominados “sneakerheads” que buscam se introduzir em um ciclo social, formado por apreciadores e/ou colecionadores de tênis. Neste contexto o tênis é um artefato que além de ter a função prática de proteção, também desempenha o papel de expressar a personalidade do usuário através das cores, formatos e marcas, que possuem seus próprios posicionamentos sociais.
Comprando um artefato, mesmo sem se considerar colecionador ou apreciador, você já está expressando traços da sua personalidade, pelas próprias características do objeto e gostos pessoais.
“Os objetos são nossa maneira de medir a passagem de nossas vidas. São o que usamos para definir, para sinalizar quem somos, e o que não somos.” (SUDJIC, 2002, p.21)
A História da Arte testemunhou, no início do século XX, uma experiência inusitada com objetos cotidianos, realizada por Marcel Duchamp, que ao mostrar os objetos em outra situação de uso, deu a eles outras interpretações, no caso artísticas. Estes objetos revelavam subversões de montagens, composições, nomenclatura e para a própria forma de arte instituída até o momento.
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