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LUCY BERHENDS

UM CEO PARA CHAMAR DE

MEU


Copyright © Berhends, Lucy Todos os direitos são reservados à autora, sendo esta uma obra de ficção sem compromisso com a realidade. 1ª Edição. Formato digital 2016 Capa: Magic Design Editorial

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Sumário Agradecimentos.................................................................................................................3 Sinopse.....................................................................................................................................5 Capítulo 1..............................................................................................................................6 Capítulo 2............................................................................................................................13 Capítulo 3............................................................................................................................19 Capítulo 4............................................................................................................................22 Capítulo 5............................................................................................................................29 Capítulo 6............................................................................................................................38 Capítulo 7............................................................................................................................46 Capítulo 8............................................................................................................................54 Capítulo 9............................................................................................................................59 Capítulo 10..........................................................................................................................67 Capítulo 11..........................................................................................................................72 Capítulo 12..........................................................................................................................76 Capítulo 13..........................................................................................................................86 Capítulo 14..........................................................................................................................93 Capítulo 15........................................................................................................................101 Capítulo 16........................................................................................................................112 Capítulo 17........................................................................................................................120 Capítulo 18........................................................................................................................128 Capítulo 19........................................................................................................................134 Capítulo 20........................................................................................................................142 Capítulo 21........................................................................................................................151 Capítulo 22........................................................................................................................164 Capítulo 23........................................................................................................................172 Capítulo 24........................................................................................................................179 Capítulo 25........................................................................................................................189 Capítulo 26........................................................................................................................195


Capítulo 27........................................................................................................................203 Capítulo 28........................................................................................................................212 Capítulo 29........................................................................................................................220 Capítulo 30........................................................................................................................233 Antony.....................................................................................................................................233 Capítulo 31........................................................................................................................245 Capítulo 32........................................................................................................................254 Capítulo 33........................................................................................................................261 Capítulo 34........................................................................................................................269 Capítulo 35........................................................................................................................276 Capítulo 36........................................................................................................................285 Epílogo.................................................................................................................................298 Conheça outros livros de Lucy Berhends..........................................................308



Agradecimentos A história de Antony e Laís se tratava de um conto que chegou a ocupar a primeira colocação em leituras na internet, mas, como todo conto, a narrativa não era profunda. Eu escrevia outro livro quando Antony começou a sussurrar no meu ouvido, pedindo para ter sua história contada com mais detalhe e sensibilidade. Ele não me deixaria quieta porque esse homem não sabe lidar com negativas. Pois bem, aceitei o desafio de rever a história e recontá-la. Estou muito, muitíssimo feliz com o resultado. O livro alcançou mais de meio milhão de leituras em pouquíssimo tempo na internet e me presenteou com leitores completamente rendidos e apaixonados por esse casal. Contudo, devo confessar que a história não foi escrita apenas por mim. Cada comentário, seja ele nas redes sociais ou plataformas foi essencial para decidir o rumo que o enredo tomaria. Ele foi escrito em conjunto. Foi escrito pelos melhores leitores que alguém pode ter. Sortuda eu, não? Então a esses leitores que torceram, riram, se emocionaram e se entregaram à história eu dedico esta obra. Gostaria de agradecer às minhas betas Patrícia Rammos e Paula Faria. São elas que mergulham comigo nessa aventura, me incentivam e se permitem apaixonar por todos os personagens. Agradeço aos meus filhos e marido por estar ao meu lado mesmo quando o processo de escrita não possibilite que eu esteja cem porcento com eles. Eu sou amada incondicionalmente e esse é o principal elemento que levo para minha obra. Enfim, esse livro tem e sempre terá um lugar especial em meu coração, e terá no seu também caso se permita envolver pela história.


Conheça o Sr. e Sra. Sublime. É impossível não se apaixonar!!! Mil beijos!!! Lucy Berhends


Sinopse “Com mais de meio milhão de leituras em menos de um mês, o conto bestseller da Amazon tem agora sua história transformada em livro”. Laís Oliveira é uma garota com grandes sonhos profissionais e que luta bastante para alcançá-los. Ela foi criada no interior, mas veio para a cidade grande em busca de vencer por seus próprios esforços. Quer terminar seu mestrado e se tornar professora universitária. Antony Cavalcanti é um CEO viciado em controle. Ele cuida de tudo o que lhe pertence e os mantêm em segurança, mas talvez precise aprender que pessoas não são propriedades de ninguém. Eles se esbarram, literalmente, e juntos vão construir uma história cheia de sedução, prazer e sentimentos que os confundem. Conflitos, ciúmes, obstáculos podem ser apenas alguns dos ingredientes que os desafiarão até que o amor fale mais alto e, finalmente, alcancem seu ‘happy end’. Laís e Antony o convidam a conhecer e a participar desse intenso enredo que envolve conquista, surpresas, raiva, sexo, e muito, muito amor.


Capítulo 1

Não posso me atrasar, não posso me atrasar, não posso me atrasar. Repito essa frase depois de olhar pela terceira vez para o relógio e me dar conta de que não se passou mais de um minuto depois da última vez. Balanço as pernas em um hábito nervoso como se isso fosse capaz de me trazer mais calma. Não traz. Eu sou daquele tipo de pessoa que tem o relógio como um terceiro braço sem o qual não posso sonhar em sair de casa, se é que você me entende, mas particularmente hoje eu tenho um bom motivo para isso. Daqui a alguns instantes todos os funcionários da Editora Cavalcanti, a empresa onde trabalho, serão apresentados ao executivo e proprietário do complexo editorial Cavalcanti, um dos maiores no ramo. Definitivamente, não posso chegar atrasada hoje. – Não esqueçam de ler o material e deixar tudo pronto para o seminário. – Essa é uma das poucas palavras que consigo escutar do meu professor de Linguística, já que minha mente teima em oscilar entre a sala de aula e o evento na editora hoje.


Olho mais uma vez para o relógio. Eu não sou do tipo distraída ou desatenta, mas eu nunca esperei tanto a hora do amém como estou esperando agora. – Vocês estão liberados por hoje. Tragam suas dúvidas na próxima aula. Ufa! Finalmente a aula termina, e se eu tiver sorte, chegarei a tempo na empresa. Recolho meu material de cima da mesa, jogando de qualquer jeito na mochila. Dirijo-me à porta da sala tão rápido quanto meus pés permitem, mas sou freada por uma voz grossa chamando o meu nome. – Laís, você poderia vir até aqui, por favor? Não. Me diga que não estou escutando isso. O chamado do meu professor está me fazendo xingar internamente todos os palavrões que vêm à cabeça. Ah, merda. Hoje não é meu dia de sorte. – Desculpe, professor. O senhor me chamou? – Sim, Laís. Você geralmente é tão participativa e concentrada. Está acontecendo alguma coisa hoje? Parecia estar com a cabeça longe durante a aula. Você não imagina o quanto. Será que fui tão óbvia? Terminantemente não tenho tempo para essa merda agora. Por que eu simplesmente não me deito sobre um divã e conto para ele a tragédia que pode acontecer se eu não estiver no meu trabalho dentro de... – Droga, já estou atrasada. – O que disse? – Ele levanta a sobrancelha, o que faz com que seus olhos fiquem bem maiores do que já são, escondidos atrás de óculos fundo de garrafa.


– Professor Benjamim, eu tenho que me desculpar mais uma vez. É que hoje eu vou conhecer o dono da empresa onde trabalho e acabei me preocupando com a hora. Isso não vai voltar a acontecer. – Tudo bem, Laís. Eu sabia que havia um motivo. O que você ainda faz aqui, menina? Já devia estar no caminho. Elementar, meu caro Wattson. Pelo amor de Deus, será que ele não se deu conta de que era exatamente isso que eu estava fazendo quando me chamou? – Obrigada, professor. Saio correndo em direção ao estacionamento. Essa disciplina está longe de ser a minha favorita, mas ela é indispensável para que eu alcance o título de mestre em Letras. A minha praia sempre foi literatura. Eu sempre gostei de me envolver com os personagens, viajar na história e sonhar. Sim, posso dizer que sou uma sonhadora. Ah, não me apresentei? Perdão. Sou Laís Oliveira, tenho vinte e quatro, estatura média como a maioria das pessoas e cabelos claros, mas nada parecida com essas Barbies que você conhece. Sou mais como uma garota normal, cheia de carne e curvas nos lugares certos, eu acho. Trabalho no centro de elaboração de material didático como revisora e nesse momento, estou revisando o livro de um autor conceituadíssimo com um cronograma mais que apertado. – Ei, Laís, me espere! Preciso falar com você. É a voz de Leandro. Ele é um grande amigo que conquistei na universidade e alguém a quem tenho grande estima, mas nem mesmo para ele posso parar agora. O que há com o mundo querendo falar comigo hoje? – Agora não dá, Leo. Pode me ligar à noite?


Ele está quase correndo para me alcançar, mas diminui os passos quando ouve o que digo. – Está bem. Nos falamos depois. Bom trabalho. Sim, eu espero que ele seja bom se eu conseguir mantê-lo, pelo menos. Me dividir na rotina entre a universidade e trabalho está sendo cada dia mais difícil, cansativa, mas eu repito a mim mesma todos os dias que não há opção. Você tem um sonho a conquistar, garota. Precisa fazer isso para alcançá-lo. Chego ao estacionamento e logo avisto o meu carro que está estacionado do outro lado do campus. – Tomara que o trânsito esteja calmo. – Faço uma prece em voz alta, ciente de que não tive tanta sorte nos últimos dias e acabei chegando atrasada algumas vezes. Abro a porta do meu Celta, jogo a mochila de qualquer jeito e faço menção de entrar no carro quando sinto uma mão grossa segurar meu braço. Santa paciência, quem está me impedindo de sair agora? Olho para o lado apenas para me deparar com uma mulher vestida de cigana em seu vestido vermelho cheio de brilhos, moedas penduradas e um lenço de mesma cor cobrindo longos cabelos escuros. Tento imaginar mil motivos para ela ter me parado, mas não encontro nenhum, então espero que ela dê o primeiro passo. – Mostre-me a palma da sua mão e deixe que eu leia a sua linha do destino, menina. Estou sentindo sua áurea de energia e pressinto que terei boas notícias para você. Boas noticias? Sério? Alguém ainda acredita nesse tipo de coisa? Para mim neste momento, boa notícia seria não encontrar engarrafamento a caminho do trabalho. – Estou atrasada, senhora. Não tenho tempo pra isso agora.


– Apenas um minuto. É tudo que lhe peço e te garanto que não vai se arrepender. Ah, claro. Ela vai dizer que eu vou encontrar o grande amor da minha vida um dia, que terei sucesso, saúde e, quem sabe, dinheiro. Não é isso que o universo inteiro está em busca? Ignoro a voz insistente, entro no carro e giro a chave na ignição, ouvindo o ronco do motor que já está pedindo para ser aposentado. Aguente firme, bebê, eu não posso te trocar agora, falo com meu velho carro. Começo a dar a ré para acertar o veículo e já me preparo para seguir meu percurso quando a velha insiste, parando na frente do carro. Ah, Deus, era só o que faltava. – Senhora, por favor, me dê licença. Ela faz o que peço, mas não antes de se aproximar de minha janela e me deixar com o que pensar depois de sua última frase. – Ainda hoje você terá uma grande surpresa. Não resista. Seu futuro depende da escolha que fará, menina. Boa sorte! Ela não pode estar falando sério. Não tem uma frase mais clichê? É lógico que o meu futuro e o de qualquer pessoa depende das escolhas que fizermos. Eu, hein? Assinto, sem tempo sequer para questionar suas premonições e acelero para o trabalho, tendo sorte de encontrar o trânsito quase livre. Talvez meu atraso não seja percebido, certo? Estaciono o carro de qualquer jeito e entro na editora, tentando chegar o mais rápido possível à minha sala. Estou tão concentrada em alcançar o meu destino que não percebo alguém vindo em minha direção. Oh, Deus! Como uma pateta, me esbarro em um homem no caminho.


Estou ciente que esse é o momento no qual eu deveria abrir a minha boca e pedir desculpas por ser tão desastrada, mas não consigo encontrar voz quando meus olhos encontram os... uau... dele. Passeio com o olhar desde sapatos negros perfeitamente lustrados e com aparência de caros, até um conjunto de terno cinza, certamente feito sob medida e que, sem dúvida, custa um ano do meu trabalho, chegando ao dono daquilo tudo que... oh, Senhor! O homem não é nada menos do que sexy pra caralho com seus olhos de um castanho quase verdes, misteriosos, e cabelos negros que fazem um contraste perfeito com seus olhos. Ele deve estar na casa dos trinta, ostentando um corpo forte, cheio de músculos que o terno não está fazendo um bom trabalho em esconder. Não mesmo. E o que é aquele pequeno brilho? Ele está usando um diamante discreto em sua orelha esquerda? Minha nossa, existe algo mais quente do que um homem de terno, mostrando uma pitada do seu lado travesso? O que um cara desses estaria fazendo na editora? Eu estou praticamente hipnotizada, quando ele quebra o silêncio, me acordando de meus devaneios. – Terminou a inspeção? Espero que tenha gostado do que viu. Agora, se possível, poderia me dar passagem? – Sou tomada pela vergonha, uma vez que eu não tinha me dado conta do tanto de tempo que fiquei o observando. – Senhor, desculpe-me. Eu estava distraída e com pressa. Não percebi que alguém estava vindo. Agora é a vez dele fazer seu escrutínio. Baixa seu olhar em direção ao meu corpo e passeia com eles até fixá-los em meus olhos negros. Engulo em seco quando um par de olhos arrasadores brilha como se estivesse carregado de luxúria. – Sem problemas, Laís, nos vemos outra hora. – levanto uma sobrancelha como uma grande interrogação. Ele prossegue. – A propósito, você está atrasada. Eu não sou muito bom com atrasos.


Ele sai, me deixando atordoada. Eu repito algumas de suas palavras na mente a caminho da sala. Quem lhe disse o meu nome, o que significa “outra hora” e como ele sabe que estou atrasada? Droga! Agora é que me atrasei de vez.


Capítulo 2

Com a mente como um turbilhão, corro para a minha sala, sentindo alívio quando meu chefe não flagra meu atraso dessa vez e pego o livro didático que está sobre a mesa, tentando centralizar toda minha atenção nele. Passo um tempo fazendo o meu trabalho, mas sou interrompida por uma voz que logo reconheço. – Laís, lamento te atrapalhar, mas preciso de um pouco da sua atenção. O Sr. Antony Cavalcanti está convocando todos os funcionários na sala de conferências. Apesar do cronograma apertado, ele faz questão que todos estejam lá. Sr. Osvaldo Vieira Filho parece muito eufórico com a presença do poderoso chefão na empresa. Ele abre um sorriso de orelha a orelha, mostrando seus dentes levemente amarelados, quando pronuncia o nome do tal CEO mandachuva do complexo editorial. Eu confesso que não estou nem um pouco eufórica, mas fazer o quê? No meio de tantos funcionários, minha presença não faria qualquer diferença. – Estou indo, Sr. Osvaldo.


– Não demore, filha. Rapidamente guardo todo o meu material em uma gaveta e pego meu estojo de maquiagem na mochila. Se você vai encontrar com os demais funcionários, precisa parecer pelo menos apresentável, Laís. É o que faço. Olho-me no espelho enquanto dou um pouco de cor suavemente ao meu rosto, realçando apenas meus lábios com um batom vermelho que comprei recentemente em um dos poucos caprichos que me permito ter no momento. Corro para a sala de conferências onde todos aguardam a entrada triunfal do poderoso administrador deste império. Com certeza, é um senhor velho e careca que cria filhos pelo Skype porque sai de casa antes que eles acordem e quando volta, já estão dormindo. – Você já viu o tal Cavalcanti, Laís? – Claudia pergunta, quase esfregando seus enormes seios siliconados em meu rosto quando sento ao seu lado. – Não. Andei ocupada demais para investigar sobre ele. Ela joga seus longos cabelos cacheados para os lados, escovando alguns fios no meu rosto. – Ah, menina. Fiquei sabendo que o homem é lindo. Estou muito curiosa pra conferir o material. Faço uma careta, já conhecendo o tipo de homem que Claudia gosta. Ela é secretária aqui na empresa e fica de olho em qualquer exemplar de macho que aparece vestido de terno, gravata e aparente ter algum dinheiro. – Claro, Claudia. Tenho certeza de que ele é realmente maravilhoso, afinal ele é dono disso tudo, não? Ela pisca os olhos, tentando entender o que acabo de dizer, mas parece que não consegue pelo que vem a seguir. – O que tem a ver uma coisa com a outra, Laís? E eu que sou loira!


– Deixa pra lá, Cau. Ele deve chegar a qualquer momento e você terá sua oportunidade de conferir o material. Sinto que meu celular está vibrando, então aproveito para verificar as mensagens de WhatsApp e ver quem está tentando falar comigo. Abro um sorriso quando percebo que se trata de Leandro, mostrando sua preocupação como ele sempre faz quando percebe que algo está errado. Meu amigo é realmente um querido. Começo a responder a mensagem quando ouço alguém limpar a garganta com muita vontade, na tentativa de chamar a atenção na sala. Levanto o rosto, ainda com um sorriso que logo desvanece assim que me deparo com um par de olhos castanhos fascinantes, olhando diretamente em minha direção. Cruzes, não pode ser. Será que isso é fruto da minha imaginação? O homem diante de todos está longe de ser careca e mais longe ainda de ser um senhor velho, cheio de filhos. Meu sangue gela, pois se trata de nada mais, nada menos que o cara sexy, cheio de músculos e de olhar misterioso que esbarrou em mim na chegada e que sabia o meu nome mesmo que eu não tenha me apresentado. Oh, Deus, que péssima primeira impressão eu deixei! – Minha nossa! – Acho que minha voz sai um pouco mais alta do que eu gostaria, então tapo minha boca ainda aberta, tentando disfarçar. – Boa tarde! Eu gostaria muito da atenção de todos os presentes. Inclusive, solicito aos senhores que desliguem seus aparelhos celulares imediatamente. Senhor, por que o olhar desse homem não sai de mim? Sou a única aqui com um aparelho ligado? Desligo o celular tão rápido quanto minhas mãos permitem e vejo que a maioria faz o mesmo, em um ritmo frenético por conta do nervoso, mas eu


pareço a única que ele espera se mover para prosseguir com sua fala. Logo eu que sempre prefiro passar despercebida pelos lugares. – Como vocês já devem saber, eu sou Antony Cavancanti, executivo e proprietário do complexo editorial Cavalcanti. O que vocês não sabem é que estou aqui não apenas para conhecer a editora de perto, mas que pretendo passar um tempo na cidade. – Sr. Cavalcanti, é um prazer tê-lo conosco. Espero que bons motivos te tragam até nós. – Meu chefe diz, claramente puxando o saco de seu superior. – Sim, obrigado. Na verdade, estou fixando a matriz da empresa aqui já que pretendo diversificar as publicações e ampliar o setor de livros didáticos. – Que maravilha! – Eu quase consigo ler os pensamentos de Osvaldo pleiteando um cargo maior na empresa. Claudia bate seu cotovelo em meu braço e sussurra ao pé do meu ouvido. – Eu não disse que o homem era tudo de bom? Meu Deus, ele vai estar nos meus sonhos mais molhados a partir de hoje. Eu dou fácil se ele quiser. Olho para a mulher ao meu lado como se estivesse nascendo chifres em sua testa. Ela dá de ombros com a calma de quem fala sobre pastas e relatórios, inconsciente de que acaba de formar uma cena quente na minha cabeça na qual, em vez dela, sou eu quem está sobre uma cama, fodendo ardentemente com Antony Cavalcanti. Quer dizer, eu não posso culpá-la. Talvez esse seja o pensamento de dez em cada dez mulheres aqui presentes. – Será que vou ter que parar a todo o momento para pedir atenção? O mínimo que espero dos meus funcionários é postura no trabalho. Concorda, dona Laís? Não, não e não! Por tudo o que é mais sagrado, me diga que esse homem não acabou de chamar a minha atenção diante de todos os meus colegas de trabalho? Que


espécie de tirano ele pensa que é para me constranger desse modo? Juro que se eu não precisasse tanto desse emprego, eu o mandaria ir à merda neste exato momento. – Claro, senhor. Já que todos pararam seus serviços bastante atrasados para vir até aqui, o que se espera ao menos é que lhe deem total atenção. Puta merda! Eu não sei de onde tirei coragem para enfrentar a fera, mas de repente estou me sentindo uma leoa. Rá! Espero que ele tenha entendido o meu recado. Ele apenas me oferece um meio sorriso que só comprova o quanto é arrogante, que se acha o dono do mundo e hum... lindo... Completamente lindo! – Sim. Eu sou o tipo de homem que gosta de olhos nos olhos. Podem me chamar de egocêntrico, mas quando estou falando, quero toda atenção centrada apenas em mim. Seu olhar é direcionado a todos, mas não consigo entender por que tudo o que sai da boca dele me parece tão pessoal e ao mesmo tempo tão... sensual. Merda, eu acho que estou precisando me relacionar com alguém. Faz mais de um ano que não transo e isso já deve estar mexendo com alguns neurônios em minha cabeça. Ele leva cerca de meia hora comentando sobre seus planos de expansão da editora, mostrando gráficos e números da empresa que só me levam a concluir que ele vai ficar ainda mais rico e que minha vida não vai mudar em nada por isso. Quando termina seu discurso clichê de que somos uma equipe e que devemos vestir a camisa da empresa, todos os funcionários se mostram ansiosos para cumprimentá-lo e dar as boas vindas. Que o diga Claudia.


– Você não vai falar com o chefe delicioso, Laís? – Ela me pergunta, enquanto retira a tampa de um batom para realçar ainda mais seus lábios carnudos e chamativos. Tenho certeza de que o chefe vai adorar sua nova secretária. – Não. Ele é realmente muito bonito, mas está fora do meu alcance. Principalmente porque prezo demais pelo meu emprego. Faça bom proveito, Claudia. Ela parece feliz por saber que tem menos uma para competir pela atenção dele. Eu só quero voltar para a minha mesa, fazer um pequeno lanche, já que não almocei e minha barriga está roncando, e continuar meu trabalho que está longe de terminar. Tento sair à francesa, sabendo que eu sou apenas mais um número naquela sala e ninguém vai perceber minha ausência. Ledo engano. Dou apenas alguns passos antes de ouvir meu nome pronunciado novamente. Merda! – Laís Oliveira, eu gostaria que fosse até a minha sala daqui a quinze minutos. E não coma nada porque a nossa conversa vai demorar, então pedi o almoço. Mais uma vez tenho o olhar de toda a empresa voltado para mim mesmo que o tom de voz dele não faça qualquer menção a uma conversa pessoal. Tenho certeza de que meu rosto está da cor de um pimentão agora. Balanço a cabeça, assentindo e saio da sala o mais rápido possível. Inspire, expire! Inspire, expire! Faço esse exercício a caminho da minha mesa, me questionando que diabo de assunto esse homem teria a tratar justamente comigo. Definitivamente, hoje não é o meu dia de sorte.


Capítulo 3

Maldito relógio. Não consigo pensar em mais nada além do fato de que vou me encontrar com o cara mais lindo com quem já me esbarrei, literalmente, daqui a exatos... dois minutos e trinta e seis... trinta e cinco... trinta e quatro segundos. Você consegue ter uma ideia de quantos assuntos possíveis já elenquei nessa droga de cabeça que insiste em apenas pensar e pensar? Faz ideia do quanto é frustrante alguém dizer “quero falar com você daqui a quinze minutos” e esses tais quinze minutos parecerem mais como uma hora? – Ei, sua vadia sortuda, o que você fez para chamar atenção daquele deus dos livros? Porra, eu juro que só queria uma chance de estar em seu lugar e ele nunca mais ia me deixar sair daquela sala. Rolo os olhos e sorrio quando Claudia invade meu espaço, cheia de caras e bocas, gesticulando enquanto fala. Tudo para ela tem um fim sexual. Não há uma só conversa que tome outro rumo. Bonita como é, talvez os homens não consigam pensar em outro assunto ao seu lado. O problema é que eles a querem como um troféu que depois


perde a graça. Ela sempre volta para chorar no ombro de um de nós aqui da empresa. – Não deixe sua mente corrompida falar por você, Claudia. Você não o ouviu dizer que está ampliando o setor de livros didáticos? Com certeza tem a ver com isso. Mais uma vez, ela joga a cabeça para o lado, levando o montante de cachos amendoados e bem definidos junto com o movimento. – Eu não perderia essa oportunidade, mas sei que você é muito inocente para tirar proveito da situação. Não sabe o quanto é bonita escondida atrás desses óculos cafonas e... – olha para a minha roupa com nojo – esse vestido marrom. Quem usa marrom hoje em dia? Bufo ao ouvir tanta superficialidade. Eu sei, você acha que eu deveria dar uma resposta à altura ou mandá-la ir pra puta que a pariu. Acontece que eu conheço Claudia o suficiente para saber que ela usa essa armadura a fim de parecer algo que não é. No fundo, não passa de uma mulher frágil em busca de ser amada, mesmo que faça um trilhão de escolhas erradas. – Você precisa de mais alguma coisa ou já terminou sua aula sobre cores adequadas para roupas? – Meu benzinho, pode não parecer, mas eu só quero o seu bem. – aceno, mostrando uma ponta de sarcasmo. – O homem quer falar com você agora. Divirta-se! Olho para ela como se fosse louca e me levanto para atender ao chamado do meu novo chefe. Apesar do nervoso, mil e um motivos passam por minha mente agora para justificar ser convocada pelo CEO da editora. Decido ser otimista e me apegar aos bons motivos. Não há o que temer. Não é como se eu estivesse fazendo qualquer coisa errada. Quer dizer, além de me atrasar quase todos os dias, claro. Mas esse não é exatamente um crime que viola o Código Penal.


Ajeito meu vestido marrom e me xingo mentalmente por ter escolhido essa peça hoje. Não que eu esteja preocupada com a última moda em Paris ou se a cor dele não é vibrante o suficiente, só que está um pouco justo demais, abraçando meus seios e minha bunda como uma segunda pele. Droga! Minha esperança agora é de que Antony Cavalcanti seja gay ou fiel demais a quem quer que seja para reparar nesse pequeno detalhe, embora o homem exale masculinidade e virilidade pelos poros. Pensando bem, a primeira opção está completamente descartada. Vamos lá, Laís. Seja o que Deus quiser.


Capítulo 4

Bato na porta e aguardo que autorizem a minha entrada. Enquanto isso não acontece, decido observar o ambiente ao meu lado, já que nunca tive acesso a essa parte da editora antes. Poucos já foram autorizados a vir até aqui. Dou asas à curiosidade, percebendo o quanto esse andar é diferente dos demais em cada detalhe. Onde trabalho, há livros espalhados por todos os lados, gente andando pra lá e pra cá, outras tantas concentradas na leitura de algum material. Se eu pudesse opinar, diria que não gosto da impessoalidade deste escritório. Falta gente, faltam livros, na verdade falta vida, embora seja imponente, sofisticado como o próprio CEO aparenta ser. Humpf! Não é tão difícil imaginar como seja a mulher desse cara. Com certeza linda de morrer e tão nariz em pé que pisa em qualquer um sem olhar duas vezes. O quê, se ele tiver mulher? Claro que ele tem. Um homem como ele jamais estaria disponível no mercado, queridinha. – Laís, que bom que você veio. Entre. Estávamos justamente falando sobre você.


Meu chefe imediato é quem abre a porta com o enorme sorriso amarelado ainda preso em seu rosto como uma máscara que ele precisa manter durante todo o dia. Me pergunto se o maxilar dele não está doendo. Talvez tenha que fazer alguns exercícios na boca quando chegar em casa. Espera, mudando de assunto, ele disse que estavam falando sobre mim? De que forma eu poderia interessar a um homem como Antony? – Eu espero que não tenha feito nenhuma besteira para me tornar o assunto entre vocês. Pelo menos nada que me faça sair dessa sala algemada. Brinco, tentando acabar com meu próprio nervoso, mas vejo que não vai adiantar, principalmente porque o poderoso chefão está me dando um olhar estreito, sério, quase concentrado demais para o meu gosto. Engulo em seco, quando me dou conta de que já comecei cometendo uma gafe. Minha nossa, por que eu simplesmente não fico com minha boca fechada? E o pior de tudo é que não paro de pensar o quanto ele fica ainda mais lindo com sua testa franzida e olhar inescrutável, determinado, me fazendo alvo contínuo de sua inspeção, quando eu deveria estar totalmente no modo profissional. – Você não fez qualquer besteira, filha. Pelo contrário. O Sr. Cavalcanti fez grandes elogios ao seu trabalho o que é bom, já que estamos fechando um importante contrato neste setor. Sr. Osvaldo parece bastante orgulhoso ao falar, me deixando aliviada por saber que pelo menos minha vida profissional está indo por um bom caminho, embora eu tenha outros horizontes a alcançar. – O que é isso, Sr. Vieira, todos aqui fazem um grande trabalho. – volto minha atenção para Antony, que ainda não disse uma palavra, aumentando minha aflição. – Espero contribuir para que não se arrependa de ter se mudado pra cá.


Ele se move, passando sua mão grossa e bronzeada sobre a mesa, sem nunca tirar os olhos de mim. – Tenho certeza de que não me arrependerei e que você poderá contribuir bastante para isso. Oh, Deus, por que sinto meu corpo pegar fogo repentinamente? – Eu quis dizer, Sr. Cavalcanti, que espero que não se arrependa de ter mudado a sede da empresa para a nossa cidade. – Tento trocar minhas palavras, fazendo uma nota mental de ter cuidado com elas no futuro. – Faremos o possível para que isso não aconteça. Você tem grandes chances de crescer na editora, Laís. Eu estava justamente falando ao Sr. Cavalcanti o quanto você é estudiosa e esforçada. Você já está concluindo o mestrado não é mesmo? Meu chefe continua cheio de uma animação nada contagiante, alheio à atmosfera pesada na sala que certamente apenas Antony e eu estamos sentindo. Sinto-me incomodada, de certa forma. – Sim, estou no último período. – Que maravilha! Nós a queremos em período integral aqui na empresa. Aceno positivamente mesmo que meu desejo seja de gritar que não pretendo passar o resto da minha vida trabalhando na editora quando tenho sonhos a alcançar. Não é que eu não goste do que faço. Tudo que envolve o mundo dos livros me fascina. A questão é que quero trabalhar na minha praia que definitivamente não são os livros didáticos. Quero viver e respirar literatura. – Você está bem com isso, Laís? Antony Cavalcanti me tira do devaneio quando sua pergunta à queimaroupa me faz questionar se ele é algum tipo de vidente que lê pensamentos ou


algo do tipo, ou se eu sou tão óbvia assim, mesmo que não tenha dito uma só palavra. – Cla-claro. – Respondo institivamente. Ele se levanta, dando a volta na mesa até que para diante de mim, ainda recostado sobre ela, e seu olhar corre para meu chefe ao mesmo tempo que aponta a porta do escritório. – Você pode ir, Osvaldo. Laís e eu temos muito o que conversar esta tarde. Osvaldo pisca várias vezes, antes de responder. – Mas... eu pensei que... essa reunião seria entre nós três. – Pensou errado. O que eu tenho pra conversar só interessa a mim e a ela. Você certamente tem muito trabalho a fazer para colocar os prazos em dia. Pode se retirar. Sabe aquele momento que você sente vergonha alheia? É o que estou sentindo agora. Ele está sendo prepotente e autoritário demais quando poderia conversar de uma forma mais amena. Eu não gostaria de ser tratada assim se fosse eu a chefe. Não permitiria que tirassem minha autoridade na frente de um subordinado. Por favor, Deus, não permita que ele aja como um ogro comigo e eu acabe botando tudo a perder. Eu preciso tanto desse trabalho. – Eu... eu estarei lá embaixo, se precisar. Osvaldo me olha, completamente confuso, e sai com o rabinho entre as pernas, ressabiado. Antony acompanha cada passo dele, até que a porta se fecha atrás de nós. Eu começo a ficar apavorada agora que estamos sozinhos nesta sala e não há ninguém para amenizar o peso que a presença dele exerce sobre mim.


Ele leva seu tempo apenas me encarando com as mãos cruzadas sob o queixo e o corpo recostado na mesa. Se ele soubesse que não funciono bem sob pressão, acabaria logo com essa merda em vez de fazer tanto suspense. Respiro fundo, soltando de vez todo ar dos meus pulmões e ele toma isso como uma deixa para começar finalmente a tal reunião. – Tranque a porta, por favor. – Apesar do “por favor”, seu tom de voz deixa claro que não está pedindo. Está ordenando. Tranco a porta confusa já que ninguém ousaria entrar em sua sala sem ser convidado. Ele prossegue. – Para começo de conversa, quero que me chame de Antony assim como a chamo por seu primeiro nome. Laís... – ele testa. – É um lindo nome, por sinal. – Obrigada. O seu também é muito bonito. De onde vem isso? Não estamos exatamente num boteco, trocando apresentações. Intimidador seria a palavra certa para um nome e sobrenome tão fortes. – Você sabe que está trabalhando com o autor mais importante desta editora, não é mesmo? Os livros de Milton Antônio de Melo são os mais requisitados do setor educacional. Não há espaço para erros nesse material. Conte-me como conseguiu ser a escolhida para revisar os livros dele. Eu fui? Nem sabia que havia passado por uma seleção. É claro que conheço as obras de Milton, mas elas simplesmente apareceram na minha mesa e pronto. Comecei a revisar. – Talvez você deva perguntar os critérios ao Sr. Osvaldo. O que eu posso te afirmar é que levo muito a sério meu trabalho como um todo, independente de quem seja o autor. – Você chega atrasada todos os dias, sai sempre no horário sem disponibilidade para se estender até tarde, trabalha somente um turno, já está com o prazo aperto. O quão sério você está levando isso?


Agora é minha vez de lhe dar um olhar desafiador. Não gosto de ter minha competência questionada, uma vez que me dou de corpo e alma quando estou na editora. – Talvez o seu informante tenha esquecido de dizer que eventualmente levo trabalho para casa, que estou num período importante do mestrado em que preciso me concentrar na tese, que deixo de almoçar quase todos os dias para chegar o mais rápido possível e que rendo muito mais do que dois ou três funcionários que param a todo momento para tomar cafezinho e bater papo. Então, Antony, parece que estou levando isso muito, muito a sério. Solto tudo como um desabafo, sem pausa para respirar. Ele bate uma caneta sobre a mesa, voltando a avaliar meus traços com seus olhos que agora parecem estar em um tom castanho, quase mel. Eu podia jurar que estavam verdes agora há pouco. Repentinamente, ele esboça um sorriso que não enche seu rosto, mas é suficiente para mostrar o quão sexy pode ser com apenas pequenos gestos. Gente do céu! Minha mão está coçando para traçar sua boca como um mapa e me certificar que sua pele seja tão macia quanto minha intuição está dizendo. Um homem desses pode ter a mulher que quiser, Laís. Não é como se você tivesse qualquer chance de ser vista por ele, ainda mais em seu vestido marrom. Acalme-se. – Gostei de sua resposta. Daria uma excelente advogada. Diga-me outra coisa. Costuma vir sempre com roupas tão provocantes quanto esta? Oi? Eu não estou dizendo que esse homem tem algum poder sobrenatural de ler pensamentos? Mas, será que escutei bem e ele está dizendo que meu vestido marrom, fora de moda, que ninguém usaria na São Paulo Fashion Week é provocante? – Desculpe? Ele passa a andar pelo escritório, me deixando ainda mais nervosa.


– Vou me fazer entender melhor. Você vem sempre com roupas tão grudadas em seu corpo que quase não te permitem respirar e que podem desconcentrar seus colegas de trabalho? Ei, como essa conversa saiu dos livros e veio parar na minha roupa? – Foi para isso que me chamou em sua sala? Será que não temos assuntos mais importantes para tratar? Ele ri com vontade agora e... uau... é simplesmente o sorriso mais fantástico que já vi, mostrando levemente duas covinhas nas bochechas. Será que aquela história de que existem anjos na terra é verdade? Se bem que talvez ele estaria mais para um belo demônio. – Você tem razão. Acho que eu consigo me concentrar assim como seus colegas precisam fazer todos os dias, embora eu deva confessar que será uma tarefa difícil. Ah, meu paizinho querido. Nunca em mil anos eu esperaria que um homem como ele me daria um segundo olhar. Por que não Claudia? Por que não tantas outras mulheres bonitas na editora? Logo eu que não faço questão nenhuma de me tornar a Miss editorial. – Por que estou aqui, Antony? Ele me ignora e dá a volta em sua mesa, pegando o telefone para falar com alguém. Ouço quando manda entregarem o almoço em sua sala dentro de cinco minutos e desliga sem usar o famigerado “por favor” que usou comigo. Olho para a sua mão direita e percebo um brilho típico dos caras comprometidos. Ele tem uma noiva, claro. O safado é comprometido e está jogando indiretas baratas pra mim. Argh! – Agora, vou direto ao ponto, Laís. Você tem namorado, noivo, marido ou qualquer outro compromisso com um homem?


Capítulo 5

Céus, será que bati a cabeça em algum lugar e estou sob efeito do tombo? Eu não consigo entender aonde ele quer chegar com essa pergunta. Sim, eu tenho um grande compromisso, querido. Você não sabe o quanto ele consome do meu tempo. – Tenho apenas Alfred que é meu... – Entendo. – ele parece irritado – E que tipo de relação você tem com ele? Esse homem está começando a me dar medo e ao mesmo tempo que tenho esse sentimento, outro está começando a se manifestar. Eu estou sentindo ondas de calor só em estar próxima a ele e o clima do ambiente começa a ficar pesado. Controle-se, Laís, você não é assim. – O tipo de relação mais verdadeira que possa haver entre um cachorro e sua dona. – Respondo. Ele demonstra alívio.


– Ótimo. Então Alfred não vai se importar se sua dona tiver que chegar um pouco mais tarde algumas vezes, não é? – Se for realmente necessário, não, mas estou conseguindo cumprir o cronograma em um turno. – Não é o suficiente. Eu preciso de você... por mais tempo na empresa. – Acontece que... o meu contrato com a editora estabelece o meu horário até as dezessete horas. – Esse é o problema? Nós pagaremos hora extra. O fato é que o panorama da empresa mudou e sua presença será indispensável nessa fase de ampliação. Posso contar com você, Laís? Levo alguns segundos para pensar e me vejo sem saída. Sonho em ser professora universitária, porém enquanto estudo para isso, tenho que manter meu emprego atual. Ficar até mais tarde perto dele será uma tortura, pois só nesse pouco tempo que estou aqui já me sinto um tanto asfixiada, imagine a convivência com ele por mais dias. Esse homem é de tirar o fôlego. – Claro. – solto, com ar de vencida. – Pode contar comigo. Sua noiva não se importa que dedique tanto tempo à empresa? Que diabos de pergunta é essa? Desde quando deixei de ter papas na língua, pelo amor de Deus? – Essa é uma forma de retribuir a pergunta que te fiz? Por acaso está querendo saber se sou um homem comprometido? Seu olhar corre para a aliança brilhando no dedo anelar, em seguida volta para o meu rosto, com uma ponta de diversão nele. – Não... na verdade, eu não sei por que fiz essa pergunta. Me desculpe, isso não é da minha conta. Esqueça o que perguntei, está bem? – Você precisa saber que meu coração está na minha empresa, Srta. Oliveira. Não foi fácil ganhar o mercado e nem é fácil mantê-la. Nenhuma


mulher conseguiria permanecer ao meu lado se quisesse ocupar um lugar maior que o complexo editorial em minha vida. Ele me chamou de Srta. Oliveira? Onde foi parar aquela história de chamar pelo primeiro nome? Deus, a noiva dele deve ter sangue de barata. Por mais bonito e rico que ele seja, uma mulher deve ter o mínimo de amor próprio. – Eu não aceitaria nada menos do ocupar um lugar maior do que o trabalho no coração de um homem. Alguém costura minha boca, por favor. Eu sempre me orgulhei de ser uma mulher controlada e sensata. Agora estou falando tudo que me vem à cabeça, justamente com o cara que paga as minhas contas. Por que ele tem esse poder de me tirar do sério? Ele me olha atravessado, mas ainda percebo aquele ar divertido de outrora. – Claro. Você ainda é uma dessas mulheres românticas e ingênuas que precisa apenas da primeira queda para entender que a vida não se trata de um conto de fadas. Ah, não. Agora ele vai ouvir. Não quero saber se é o dono dessa porra toda, se paga meu salário ou quem quer que seja. Ele não pode me dizer o que quer e me manter calada. Não mesmo. – E você é um dos tipos arrogantes que acha que todos são como fantoches e é você quem detém as cordas. No mínimo pensa que a sua verdade é a única a ser considerada e o resto do mundo que se exploda se não pensar com a mesma frieza que você. – Você chegou bem perto de me desvendar, Laís, mas qual é a graça de saber tudo sobre mim de uma só vez se isso tira o prazer de descobrir ao poucos? – O quê? Eu não tenho interesse em descobrir nada sobre você.


Mentira, mentira, mentira. Minha curiosidade está cada vez mais aguçada. – Traga o livro que está revisando até aqui. Vamos trabalhar juntos. – Ele diz, secamente. Sua voz grossa faz com que meu corpo se esforce para obedecer com se fosse um convite sensual e me dou conta naquele momento que se acaso esse homem tentasse me seduzir, seria muito difícil resistir. Saio do escritório sem olhar para trás, me perguntando como conseguirei achar concentração com ele circulando à minha volta. Sua presença é marcante, intimidadora a ponto de me deixar confusa, quase sem encontrar raciocínio lógico no pouco tempo que estive ao seu lado. Antony Cavalcanti definitivamente é do tipo que passa por cima de tudo e de todos como um trator desgovernado para conseguir o que quer. Eu não quero ser atropelada por sua sedução barata e seu olhar intenso. Não quero e não vou. Por mais tentador que seja, a última coisa de que preciso é uma foda rápida com meu lindo chefe e encontrar minha carta de demissão alguns dias depois pela situação constrangedora que ficaria entre nós. Deixe de delírio, Laís, você deve ser a única aqui que está pensando em sexo, já que ele não disse qualquer coisa que desse a entender isso. Se enxergue! Entro no elevador sozinha e encontro um enorme espelho me olhando. Decido tirar os óculos, que uso para leitura e para manter um ar profissional, e encaro aquela imagem feminina ali refletida. Apesar de estar um pouco mais cheinha do que eu gostaria, o que vejo diante de mim me agrada. Minha amiga Alana e mais outras colegas da editora cansam de dizer que tenho bunda e grandes peitos de dar inveja a qualquer atriz pornô. Sinto-me constrangida quando ouço isso. Eu gostaria que fossem menores.


Grandes olhos negros, levemente puxados em suas extremidades, me encaram, passeando pela minha pele clara, enrubescida, quase combinando com o batom vermelho que marca meus lábios grossos. Junto meus cabelos em um rabo de cavalo com as mãos e decido fazer um coque frouxo, sem usar qualquer prendedor. Eles são a parte que mais gosto em mim. A maioria das pessoas não está contente com os seus. Querem cachear, alisar. Eu gosto deles longos, claros e pesados exatamente como são. O elevador se abre no andar de baixo, me trazendo de volta à vida real. Corro para a minha sala, pegando o livro sobre a mesa, ciente de que alguns olhares interrogativos buscam encontrar respostas nas minhas feições. Eu os ignoro. Passo por Claudia que, claro, pensa em vir em minha direção, mas eu levanto a mão a impedindo de se aproximar e, para meu alívio, ela entende meu recado. Sei que o quiz das cinquenta perguntas vai começar assim que ela tiver outra oportunidade, mas pelo menos estou livre dela por algum tempo. Pego o livro sobre minha mesa e volto para o melhor modo revisora de livro didático, alcançando o andar executivo da empresa. Entro novamente na sala do CEO, mas engulo em seco, surpreendida com o que vejo. Sem levantar o olhar em minha direção, ele brinca de enfiar e puxar um lápis do apontador, de forma concentrada, séria, como se estivesse fazendo uma atividade muito importante. Deus, que dia eu comecei a ver maldade em tudo à minha volta? Por que qualquer movimento desse homem parece que tem um tom sexual para mim? Isso é o que dá ficar tão concentrada no trabalho, universidade e esquecer de satisfazer suas próprias necessidades sexuais. Acho que vou comprar um daqueles brinquedinhos quando sair da editora hoje. Coço a garganta, mas ele não me olha. Apenas aponta a cadeira em sua frente, me convidando a sentar.


– Vamos almoçar antes do trabalho. Eu sempre acho que mulheres satisfeitas são mais produtivas. Está vendo que não é coisa da minha cabeça? A culpa é dele por ser tão... ousado. Uma mesa cheia de opções de carnes e saladas se estende diante de nós. Escolho um pouco de cada e tento engolir a comida mesmo sendo tão difícil já que estou sob o peso de um olhar que parece também bastante faminto, se é que você me entende. Depois de fazer do almoço quase uma missão, abro o livro que estou revisando no lugar onde havia parado, mas sua atenção de forma alguma está no material. Ele levanta as vistas e passa a me encarar, mantendo seus olhos grudados em mim por um longo, longo tempo em um silêncio incômodo. Sei que meus olhos estão ainda maiores, assustados com seu escrutínio que parece me desnudar. Sem mudar um traço do seu olhar, ele começa a fazer perguntas, me deixando descobrir onde vou encontrar fôlego para responder a cada uma delas. Eu preciso de um brinquedinho, eu preciso de um brinquedinho... – Está revisando um livro de Ciências, certo? – Pergunta e se inclina sobre a mesa, diminuindo cada vez mais a distância entre nós. – Ciências, claro. – respondo, confusa. – Estou revisando um livro de ciências. – Qual a temática principal do livro? – Sua voz é suave, mas carregada de sensualidade. Oh, Deus! – O corpo humano.


– Hum... que interessante. Será que ele trata sobre a atração que dois corpos sentem quando ambos se desejam? Ele já está tão perto de mim que me obriga a afastar o corpo para trás, mesmo que não possa fazê-lo tanto por conta do livro sobre a mesa. Seu rosto para diante do meu a ponto de me fazer sentir sua respiração quente e profunda. – Não, ele não trata. – Respondo, ofegante. – Que pena. Talvez porque seja algo impossível de explicar com palavras. É necessário sentir para entender. Sua boca já está próxima da minha, então fecho os olhos me preparando para sentir seus lábios quentes encostados aos meus, mas o que eu espero não vem. Uma sensação de abandono me toma quando sinto uma passagem de ar entre nós e abro os olhos, percebendo que ele está se afastando. – Como é possível que uma mulher como você esteja solteira, Laís? Minha mente é um poço de confusão nesse momento. Ele se recusa a me beijar e continua fazendo perguntas pessoais? – Uma mulher como eu? Sobre o que está falando. – Sem falsa modéstia. Você é linda e deve ser disputada por muitos homens, mas diz que tem apenas um cachorro. Por que não tem um namorado? O que me deixa mais perturbada é que ele está me bombardeando de perguntas agora com uma aparência profissional inabalável. Quem entrar naquela sala pode apostar o dedo mindinho que estamos falando sobre livros e não sobre mim. – Eu não tenho tempo para namoro. Estudo, trabalho muito e estou focada em alcançar um objetivo, portanto como vê, não há espaço para um namorado em minha vida.


Ele me inspeciona a ponto de me intimidar com tanta virilidade, me deixando atordoada e corada por despertar tanto desejo em mim. O que está acontecendo comigo? – Eu quero um resumo do livro. Tenho muito trabalho a fazer e você também. Meu tempo é precioso. Como? O cara me bombardeia de perguntas e sou eu quem está gastando o seu tempo? – Bem... é... o livro trata, de forma contextualizada através de textos e imagens, como o corpo humano funciona, seus órgãos e suas funções. Ele apresenta uma parte interativa... – Continuo explicando a um empresário sério que quase não pisca os olhos prestando atenção ao que eu digo. Em determinado momento, ele me para, coloca o notebook entre nós, distanciando nosso contato e passa a teclar no computador como se eu não estivesse ali. – Pode continuar trabalhando. Eu preciso checar meus e-mails. Não trocamos mais nem uma palavra sequer pelo resto da tarde e da noite e nem tive o direito a um segundo olhar em minha direção. Esse cara só pode ser bipolar, não há outra explicação, mas é, sem dúvidas, o executivo mais bonito deste país. Sua beleza é de encher os olhos. Como diria Alana, minha amiga e companheira de apartamento, “oh, lá em casa!” – Já são nove da noite e você deve estar cansada. Como te prendi até agora, vou levá-la em casa. Nove? Como as horas passaram depressa! Não vai dar mais tempo de encontrar um sexy shop aberto para comprar meu acessório tão necessário hoje. Droga! – Não precisa. Meu carro está no estacionamento. Acho que consegui adiantar bastante, então se eu já estiver liberada, gostaria de ir.


– Vá no seu carro e eu a seguirei. Está muito tarde e é meu dever zelar por sua segurança. Uau! Um homem protetor sempre parece tão sexy. – Se prefere assim, tudo bem. Fico olhando pelo retrovisor e percebo que cumpriu o que disse, me acompanhando até a minha residência, em seu imponente Mercedes. Quando percebe que eu estaciono em meu prédio, passa por mim buzinando e segue seu caminho. Ah, finalmente eu cheguei ao fim deste dia. E que dia! Entro em meu quarto e tomo um banho antes de me jogar na cama. Estou torcendo apenas para que esta noite não seja uma daquelas cheias de sonhos eróticos. E já tenho até noção de quem seria o protagonista. Meu celular vibra, mostrando que tem mensagem. Abro o WhatsApp apenas para me deparar com uma mensagem de A. C. que certamente vai apimentar ainda mais meus sonhos. Antony: Fiquei tentado a retirá-la da sala algemada, mas ainda é muito cedo pra isso. Tenha uma boa noite! Oh, meu Deus! Ele não esqueceu da brincadeira que fiz logo que entrei em sua sala. Fecho os olhos e passeio com a mão pelo meu corpo, em busca do alívio que eu tanto necessito. Eu não tenho um brinquedo sexual, mas as imagens de algemas aprisionando os meus braços enquanto sou subjugada por aquele homem intenso devem ser mais que suficientes por hoje. Ah, Antony Cavalcanti, tenho a impressão de que essa noite será longa, muito longa.


Capítulo 6

É hora de acordar, são seis horas. É hora de acordar, são seis horas.

Maldito despertador! Só não quebrei ainda esse troço barulhento porque é nada menos que meu celular, mas eu juro que mudo esse toque hoje sem falta. Levanto com os olhos ardendo pela péssima noite de sono na qual um tal CEO dominador não saiu da minha cabeça nem em sonhos. Com certeza isso é falta de sexo, certo? Eu só preciso de um pouco de diversão e estará tudo resolvido. Faço minha higiene matinal e vou para a mesa tomar café, já encontrando Alana lá sentada. Seus olhos de um tom violeta estão com uma animação de dar inveja e já pressinto uma chuva de perguntas. – Ei, Alfred, senti sua falta ontem amigão. Onde você estava que não veio me receber quando cheguei? Meu cachorro vem ao meu encontro, abanando o rabo em resposta, e baixa o olhar como se estivesse se desculpando comigo. Malandro! Ele sabe que não resisto a essa carinha que ele faz. Eu encontrei Alfred ainda filhote, perdido pela rua de Verdes Montes e foi paixão à primeira vista. Seu olhar doce e carente não me deu qualquer escolha


senão levá-lo para casa quando quase o atropelei. Ele é um vira-lata amarelo com pintas brancas e já está comigo há cerca de três anos. – Tudo bem, querido, está perdoado. Mamãe chegou tarde ontem e sei que você dorme cedo como o bom garoto que é. Tia Alana já deu seu café? É incrível como ele parece me entender. Quando cito o nome de minha amiga, ele olha pra ela em reconhecimento. Às vezes tenho a impressão de que os animais pensam muito mais do que determinados seres humanos. Eles pensam com o coração. – Deu uma esticadinha ontem? – Alana pergunta, enquanto dou uma migalha de pão a Alfred. – Cheguei, não lhe encontrei em casa e quando fui pra cama você ainda não havia chegado. – Dei uma esticadinha sim, mas não foi em qualquer lugar que esteja pensando. Fiquei até tarde na editora. O bam bam bam da empresa apareceu lá e pediu para que eu ficasse até mais tarde. Ela faz biquinho, segurando alguns fios de cabelos acobreados, quando percebe que suas expectativas não foram alcançadas. – Ah, entendi, então. E eu aqui pensando que você tinha decidido dar um up em sua vida e se divertir. Esses homens velhos geralmente tem uma mulher que não o satisfaz em casa, então só pensam em ganhar dinheiro, por isso gostam tanto de prender funcionários na empresa. Bando de mal-amados. Lembro dele ter sido muito evasivo quando perguntei sobre sua noiva. Ela seria esposa? Não, provavelmente não, já que a aliança estava na mão direita. – Ele não é velho. – Falo naturalmente, enquanto derramo um pouco de suco no meu copo. Ela para de mastigar o pão e fixa seus olhos em mim como se tivesse acabado de dizer que fodi loucamente sobre a mesa com meu chefe. – Quer dizer que ele não é velho do tipo gordo e careca, que tem esposa e amantes na rua?


Reviro os olhos, achando graça do modo estereotipado como todos veem os grandes executivos. – Definitivamente ele não é velho, muito menos gordo e careca, Alana. – E esse mesmo executivo jovem, magro e cabeludo a prendeu na empresa até tarde? Porra, me diga que outros funcionários foram obrigados a ficar lá também. – É... parece que não. Acho que apenas eu. Alana me surpreende quando levanta da mesa e se ajoelha como se agradecesse aos céus por sua amiga ter finalmente desencalhado. Deus, como ela é exagerada e maldosa. Apenas digo que estou trabalhando e ela já tira suposições precipitadas. Ela levanta e começa a fazer uma dancinha esquisita como se estivesse comemorando algo. Fecho os olhos e respiro fundo. Negar não vai adiantar nada mesmo, então deixo que ela faça sua cena por um tempo. – Laís arrumou um namorado rico... Laís arrumou um namorado rico... – Cantarola. – Acabou o espetáculo? O homem é apenas meu chefe. MEU – CHEFE! Ela senta novamente. – Se você está enfatizando tanto essas palavras, é sinal de que ele é feio, não é? Eu não lhe dou qualquer resposta. Enquanto mexo o suco com o dedo, minha mente vai de encontro à imagem de um rosto sério, mas com cada traço milimetricamente perfeito e másculo. Posso afirmar que não há nada de feio naquele homem. Ela me tira do transe, quase me ensurdecendo, aos gritos. – Não, ele não é feio. Seu chefe é bonito? Estou vendo em seu rosto que ele é. Diz pra mim, Lalai, você vai investir nele, não vai? Se ele for solteiro e


você der mole, tenho certeza de que vai te querer. Você é tão linda e precisa ter alguém ao seu lado. Ela quase não respira e está me deixando sem fôlego também. – Deixa de falar besteiras, Lana. Você sabe que não tenho tempo nem para me coçar, quanto mais para me envolver com um cara tão complicado quanto Antony. – Chamando o chefe pelo primeiro nome? Minha nossa, prevejo dias agitados nesta casa. Ela fala em previsão e lembro de que uma cigana me abordou ontem, falando sobre algum acontecimento em minha vida. Será que teria relação com o poderoso chefão? Balanço a cabeça, tentando afastar esse pensamento. Você não acredita nessas conversas de previsões lembra, Laís? – Ele carrega uma aliança enorme no dedo, sinal de que é comprometido está bem? Ainda que não fosse, você sabe como minha vida é corrida. – Onde está a diversão em sua vida? Deus, se você não tivesse a mim para te alegrar um pouco, provavelmente estaria frequentando um convento agora. – Ra, ra, ra! Completamente exagerada. – Ei, falando em diversão, vou ao cinema com Daniel hoje. Quer vir conosco? Ouço a voz de Alana um tanto longe porque estou indo para o quarto pegar minha mochila. Ela e Daniel namoram há aproximadamente um ano desde que se conheceram no teatro. Ele é produtor e ela, digamos que seja uma aspirante a atriz, mas se me ouvir dizendo isso, é capaz de cortar minha língua fora. Alana se considera atriz profissional, mas ainda não se consolidou na carreira.


– Imagina se vou atrapalhar vocês. Além disso, meu novo chefe não está contente com minha saída da empresa no horário. Ele me quer trabalhando como um relógio até tarde. – Você precisa entender que nunca seria um inconveniente pra nós, Lalai. Dani te adora e não é como se ficássemos nos agarrando em público o tempo inteiro. – Hum-rum. Sei. – Mas foi impressão minha, ou ouvi você sussurrar que seu chefe te quer? – Você ouviu o resto da frase, Lana? Ele me quer até tarde. – Que delícia. Até tarde é hum... muito interessante. Humpf! É claro que minha amiga tem o dom de distorcer minhas palavras. Ela torce para que eu encontre uma pessoa legal e tenha um pouco de diversão como ela mesma diz. Contudo como vou encontrar se sequer estou procurando? Saio pela tangente, não querendo responder mais nenhuma das intermináveis perguntas dela. Coloco a ração de Alfred, tomo uma xícara de café preto para alimentar meu vício em cafeína e corro para a Universidade Federal de Verdes Montes. A expectativa de reencontrar Antony Cavalcanti na editora já está me deixando nervosa. Não sei exatamente lidar com o imprevisível e chego à conclusão de que ele é exatamente assim. Deus, isso me deixa assustada demais.

Depois de chegar mais uma vez atrasada à editora, passo toda a tarde fazendo meu trabalho incrivelmente sem ser incomodada por ninguém. Minha


expectativa era de que seria convocada a qualquer momento para voltar à sala do chefe, mas não é o que acontece. Não sei dizer se o sentimento que me domina é de alívio por não ter que lidar com a presença esmagadora de Antony ou se seria uma ponta de tristeza por não ter que encarar aqueles lindos olhos misteriosos. Só sei dizer que algo me incomoda enquanto me concentro para não deixar uma palavra passar despercebida e atrapalhar meu trabalho. – Ele não te quis hoje? Levanto o olhar apenas para me deparar com um par de seios duros e grandes inclinados sobre o meu rosto. O decote que Claudia está usando deveria ser considerado um atentado ao pudor pelas leis do país. Tudo isso é para chamar a atenção do CEO da editora? – Nem hoje nem ontem nem dia nenhum, Claudia. Se você está se referindo ao Sr. Cavalcanti, já falamos tudo que era necessário no que diz respeito ao trabalho. Não há motivos para que ele me chame hoje. Muito bem, Laís. Continue dizendo isso para convencer a si mesma. – Não sei se foi impressão minha, mas senti que você estava esperando por mais um convite hoje. Em seu lugar, eu estaria. Oh, Deus, estou sendo tão óbvia assim? – É impressão sua. – digo em um só fôlego, parecendo mais ansiosa do que deveria. Respiro fundo antes de continuar. – Olha, Cau, se ele nos encontrar batendo papo, pode implicar porque estou com o cronograma apertado. Que tal deixarmos essa conversa para depois? – Preciso que me ajude, Laís. – Oi? Mil vezes oi?


– Fale sobre mim para ele. Comente sobre minha eficiência e beleza como quem não quer nada. Tente colocar os holofotes sobre mim. – Por... por que eu faria isso? – Controle-se! Você consegue. Ela joga os cabelos para o lado, colocando uma caneta na boca como se acabasse de descobrir a teoria que vai lhe dar o Prêmio Nobel de Física. – Se o foco estiver em mim, ele vai parar de pegar em seu pé e você se livra de um chefe inconveniente lhe dando ordens. Prometo deixá-lo bastante ocupado. Eu quero me livrar dele? E mais, eu gostaria de vê-lo ocupado com Claudia? Ah, merda. Não entendo o motivo de estar fazendo esse tipo de perguntas a mim mesma. Talvez eu tenha gostado daquele jogo de gato e rato em seu escritório ontem, talvez eu tenha me excitado com sua mensagem sobre a vontade de me algemar, talvez eu tenha que dar um jeito de escapar mais cedo e correr para um sex shop pra acabar com minha tortura. – Está bem. – ela bate palmas e dá pulinhos como uma foca fazendo sua apresentação. – Eu sabia que podia contar com você, lindinha. – Mas tem uma condição. Pare de atrapalhar meu trabalho e me encher de perguntas sobre ele. Vou fazer minha parte e o resto é com você, combinado? – Combinadíssimo. É uma pena que você não possa começar imediatamente com nosso plano. Ele não está na editora e ouvi Osvaldo dizer que ele não vem hoje. Nada melhor que um dia após o outro. Antony Cavalcanti ainda não sabe, mas será meu. – Já viu o tamanho da aliança em seu dedo? – Ah, Laís, ninguém é páreo pra mim. Será uma questão de tempo até que aquela aliança saia de lá ou não me chamo Claudia Aparecida. Claudia Aparecida. Como eu gostaria que fosse apenas desaparecida.


Então hoje eu não o verei por aqui. Melhor assim, não é mesmo? Agora nada mais pode me distrair e ainda terei o bônus de sair em meu horário. Eu poderia ter mais sorte do que isso? Minha mente diz que não, mas não entendo por que meu coração está começando a dizer que sim.


Capítulo 7

Saio da editora às cinco em ponto grata por não ter que ficar até mais tarde como fiquei no dia anterior. Nenhum dos meus chefes estava na casa e nem deixou qualquer determinação para me manter lá, então não estou cometendo nenhum crime em sair mais cedo. Sinto o vento forte bater no meu rosto e fecho os olhos para sentir o ar fresco do fim da tarde tocar a minha pele, trazendo um aroma delicioso, próprio do outono. Decido andar um pouco. O lugar onde pretendo ir não fica tão distante da editora e esticar as pernas é tudo o que preciso depois de passar a tarde inteira sentada numa cadeira. Olho para um lado e para o outro. Eu sei que sou adulta e que não há nada demais em comprar um brinquedo sexual, mas não é algo que se queira compartilhar caso encontre um conhecido na rua, não é mesmo? Queria que Alana estivesse aqui. Ela é mais resolvida nesse tipo de coisa e com certeza me ajudaria o obter o que quero e dar no pé. – Boa tarde. Como posso te ajudar?


Uma vendedora simpática me atende, vestida em um espartilho e uma saia justíssima que deve chamar mais atenção dos clientes do que os produtos que está vendendo. Sabe aquelas mulheres que aparecem em comerciais de cerveja na televisão? A garota em minha frente é um exímio exemplar. É incrível como o mercado abusa da imagem feminina relacionada ao sexo. – Estou procurando um... uh... brinquedo sexual. – Minha voz sai em um sussurro. – Ah, queridinha, brinquedo sexual é o que mais tem aqui. Nós temos vibradores de todas e cores e tamanhos, alguns até parecem de verdade. Temos bolas, anéis penianos, algemas, chicotes, alguns objetos eletrônicos, outros manuais, tem para todos os gostos. Experimente esse. Deus, eu entro na loja como uma espiã disfarçada de James Bond e a garota está praticamente proclamando aos quatro ventos a minha falta de vida sexual. Ela toma a minha mão e posiciona sobre um pênis de borracha grande e grosso coberto por um material que imita a pele humana. Puxo minha mão de volta como se tivesse acabado de tomar um choque. A sem-vergonha começa a rir da minha cara. – Está bem. Você realmente precisa de ajuda. Olha, serei mais discreta, ok? Vejo que você não se relaciona com um homem há algum tempo e está precisando de um pouco de diversão. Eu não sou homofóbica nem nada e sei que as mulheres precisam ser preenchidas de vez em quando... – Ei, eu não sou lésbica, se é isso que está pensando. – Não? Por que uma garota tão bonita quanto você ficaria sem um homem por perto? – Eu não lembro de ter dito em algum momento que não tenho um. – Claro que não. Bobagem a minha. Você está procurando algo para brincar a dois, certo?


– Não. Estou em busca de um brinquedo para ser usado na intimidade do meu quarto. – Aha! Acho que entendi. Você gosta mais do estilo... grupal hein, safadinha? – Diz ao pé do meu ouvido como quem conta algum segredo. Ah, minha paciência... nunca pensei que poderia ser tão difícil assim. – Não, porra! – estou praticamente gritando e já chamo a atenção de alguns poucos clientes que estão na loja. – Eu preciso de um vibrador para usar sozinha. So-zi-nha! Ela levanta a sobrancelha e abre um sorriso de lado. – Por que não disse antes, menina? Eu sei exatamente do que precisa. Ela abre uma gaveta e tira de dentro um vibrador tamanho médio, em um tom rosado com um formato um tanto estranho, contudo fico curiosa. – Por que ele tem essa ponta virada para cima? – Pergunto, tendo certeza de que meu rosto está da mesma cor do objeto em minha mão. – Essa pontinha é o grande segredo. Esse vibrador fará maravilhas em você porque parece ter um mapa para achar o nosso ponto G com mais eficiência do que muitos homens. Que eles não me escutem. Sorrio. Já estou começando a gostar dessa maluquinha. – E esse outro aqui? Aponto para algo pequeno que daria para levar na bolsa. Ela pega na bancada e coloca sobre a palma da minha mão. Tomo um susto quando o troço começa a vibrar forte. – É um bullet, queridinha. Ótimo para aquele momento que você está no trabalho e se depara com um homem delicioso sabendo que ele está inacessível. O que você faz? Corre para o banheiro e dá um jeito rápido de baixar o fogo entre suas pernas.


A imagem de Antony se personifica em minha cabeça, cabendo milimetricamente na descrição que essa doidinha está fazendo. Senti ondas de calor com o jogo de palavras que ele fez ontem, com seu olhar intenso, apenas com sua presença. Os argumentos da vendedora são muito convincentes. – Acho que vou levar os dois. – Digo num impulso, provavelmente meus hormônios sexuais falando mais alto do que qualquer fio de consciência que eu ainda tenha. – Maravilha! Você não vai se arrepender. Eu tenho alguns deles e costumo brincar sozinha, acompanhada, às vezes até mesmo com uma amiga ou amigos e... Argh! Não lembro do momento que perguntei sobre a vida sexual movimentada dela. – Ok, – leio seu crachá. – Vanessa. Vou levar esses dois. Entrego meu cartão de crédito a ela na esperança de que faça todo o processo ligeiramente para que eu dê o fora dali o mais rápido possível. Ela faz, contudo acho que a sorte resolve me abandonar nesse momento. Uma voz rouca, masculina e familiar faz com que todos os pelos do meu corpo se arrepiem da cabeça aos pés. Não. Isso não pode estar acontecendo. – Eu gostaria de fazer algumas encomendas. Quem poderia me ajudar? É ele. Eu não preciso me virar para saber que Antony Cavalcanti está no mesmo lugar que eu. E o pior, esse lugar é um sexy shop. Dá pra imaginar a cena? Eu estou em um sexy shop com o meu chefe lindo de morrer que me deixou com tesão ontem e é o principal motivo pelo qual estou aqui. Oh, Deus, não permita que ele me reconheça. Vanessa me entrega o cartão e corre para atender Antony. Antes, eu sussurro para ela.


– Acho que vou experimentar algumas lingeries, ok? Pode atender o cliente sem pressa enquanto estarei no provador. Ela sacode a cabeça sem tirar a atenção do homem à sua frente. Pego uma tonelada de peças íntimas empilhadas em um cesto grande e corro para o provador, rezando para que ele suma rápido daqui. Pensando bem, até que a ideia de comprar algumas peças não é tão ruim. Não devo ter nada sensual em meu guarda-roupa e talvez eu possa me dar esse pequeno luxo a mais. – Eu quero um estimulador clitoriano, duas canetas comestíveis de cores diferentes, lubrificantes, preservativos com aroma e gostaria de saber se esta loja aceita encomenda de braceletes de ouro 22 quilates. Senhor, não é possível que além de lindo, esse homem seja um verdadeiro profissional no sexo. Ele fala de cada produto com a habilidade de quem compra pão numa padaria. A noiva dele deve ser uma mulher de sorte. Quer dizer, pelo menos na cama ela não deve ter do que reclamar. – Sim, senhor. Fazemos peças lindíssimas. – Aqui está o modelo e os nomes que devem estar impressos. Ele continua explicando o que deseja a uma vendedora mais que disposta a ajudá-lo a ponto de ter me esquecido no provador. Não sei explicar, mas sinto uma ponta de tristeza por saber que ele está comprando tudo aquilo para usar com uma ou mais mulheres por aí. É claro que esse sentimento em mim não é normal. Eu acabei de conhecê-lo e não houve nada além de uma tensão sexual momentânea entre nós, mas é um sentimento que eu não estou conseguindo controlar. Tudo isso deve acabar assim que eu começar a usar minhas novas aquisições. Preciso acreditar nisso.


– Quero discrição, por favor. – Antony continua. – E urgência nos braceletes. Passo aqui semana que vem para buscar. – Claro senhor... Cavalcanti. A voz de Vanessa é trêmula e nervosa, comprovando que esse homem não exerce seu poder de dominação apenas sobre mim. Todas as calcinhas devem dissolver apenas ao olhar para ele. Alguns cabides caem da minha mão, fazendo um barulho alto no provador. Droga, espero que ele já tenha ido ou terei que fazer a caminhada da vergonha na frente dele. – Está tudo bem aí? – Vanessa pergunta, abrindo a cortina do provador, me flagrando com uma cueca na mão com formato de elefante e uma tromba bizarra na frente. Ela abre um sorriso sugestivo e eu apenas dou de ombros. – Tirando a bagunça que acabei de fazer, está tudo certo. Seu cliente já foi embora? Ela suspira alto, perdida em pensamentos. – Você precisava ver o tipo de homem. Menina, o cara que saiu daqui exala feromônios pelos poros. Duvido que uma mulher precise de qualquer brinquedo sexual se estiver na cama com ele. Eu gozaria apenas de olhar seu corpo nu. Engulo em seco, fingindo que desconheço sobre quem ela esteja falando, ainda que minha cabeça compartilhe da mesma opinião que ela. Meu chefe definitivamente não é do tipo que passa despercebido por qualquer lugar. – É uma pena não ter visto esse deus do sexo. Vou levar algumas peças. Pode embalar rapidamente? Preciso me apressar. Ela faz tudo com a mesma eficiência de antes e saio da loja com grandes expectativas de acabar com esses hormônios infernais no meu corpo antes que eles acabem comigo.


A noite já desponta no céu escurecido e as ruas estão um pouco mais vazias que antes. Apenas alguns pedestres caminham e carros transitam com tranquilidade. Dou passos longos em direção ao estacionamento da editora. Provavelmente nesse horário apenas o meu carro esteja lá, contudo não me importo porque há seguranças durante vinte e quatro horas cuidando do local. Me assusto quando alguns adolescentes saem de uma via escura, rindo alto uns para os outros e percebo que deixar o carro e ir á pé não foi tão boa ideia quanto me pareceu à princípio. Ando ainda mais rápido em busca do meu alvo, mas penso que meu coração vai sair pela boca no momento que meu braço é puxado sem dó para uma parte escurecida da via. Um milhão de cenas se passam por minha cabeça, menos aquela que está prestes a acontecer. – Você perdeu o juízo, Laís? Por que está caminhando sozinha pela rua? Onde está seu carro? O toque forte em meu braço começa a abrandar e, por um instante, tenho receio de que minhas pernas falhem e eu desabe em seus braços ali mesmo. Seu perfume almiscarado invade minhas narinas acompanhando sua respiração quente e ofegante muito próxima a mim. Tenho vontade de envolver meus braços em seu pescoço e sentir a segurança que sua simples presença transmite. Não entendo como posso me sentir segura quando ele é o único homem capaz de despertar medo em mim. Medo de querer o que eu não posso ter. – Meu carro está na editora. Eu precisei ir ali... hum... perto e não vi necessidade de ir com ele. Talvez não tenha sido boa ideia. Seu rosto está muito, muito próximo ao meu, então passo a língua nos lábios, me preparando para um beijo arrebatador mesmo que algo dentro de mim diga que isso seria completamente errado.


Meu coração bate forte, me levando a sentir seu pulsar em outras partes do corpo que já imploram por atenção. Antony alisa meus braços como se me ofertasse segurança e estou prestes a suplicar que me dê mais. Para minha frustração, ele apenas escova seus lábios nos meus, segura meus pulsos e deposita um beijo suave em cada um deles, jogando a cabeça para trás como se juntasse forças para resistir. – Vamos para a editora. Você vai pegar seu carro e vou te acompanhar até em casa. Precisa zelar mais por sua segurança já que poderia ser algum psicopata em meu lugar hoje. Não me perdoaria se perdesse minha melhor revisora. Definitivamente, ele é bipolar. Eu ainda sou uma manteiga derretida tentando me recompor enquanto ele consegue vestir sua maldita máscara de CEO de um segundo para o outro quando estava quase me beijando agora há pouco. É mole? Antony me acompanha até em casa como fez na noite anterior e, assim como na noite anterior, sou surpreendida por uma mensagem que vai me dar o que pensar por mais uma madrugada inteira. Antony: Espero que tenha feito boas compras no sexy shop. Estou curioso para testar cada uma delas com você. Sem ler mais uma palavra, eu pego o vibrador rosa que acabo de comprar e me jogo sobre a cama. Antony Cavalcanti não sabe, mas estará compartilhando os brinquedos comigo ainda hoje. Nem que seja apenas em pensamento.


Capítulo 8

Está ainda mais linda hoje, Laís. Tem um brilho diferente no olhar,

parece mais animada. Leandro está ao meu lado me encarando com um sorriso sedutor nos lábios. Foi a primeira pessoa com quem fiz amizade logo que iniciei o curso e só consigo enxergá-lo assim, como um bom amigo. Às vezes o pego me olhando de um jeito meio estranho, mas nunca alimentei qualquer investida sua. Sempre o levei na brincadeira. – É impressão sua, Leo. Estou como sempre fui, tão cheia de trabalho e atividades que muitas vezes não consigo dar conta. – Está assim porque quer. Já te chamei várias vezes para estudarmos juntos, mas nunca está disponível. – Agora é que eu não estarei mesmo. – O quê? Aconteceu alguma coisa, Laís? – Não, imagina. É só um período especial no trabalho que está tomando muito de mim. Será apenas por um tempo. – Sei. Imagino que esteja louca para se livrar dele, hein? Eu já consigo ouvir sua voz recitando “Motivo” de Cecília Meireles, fazendo com que seus alunos se tornem tão apaixonados quanto você é por ela.


– Não há nada que eu mais queira, Leo. Só você pra me entender, meu amigo. Ele baixa a cabeça como se estivesse um tanto pensativo e depois volta a me olhar com o esboço de um sorriso no rosto. – O meu próximo convite será para aproveitarmos a noite da cidade. Acho que é disso que você está precisando. – Eu na balada com tanta coisa pra dar conta? Não seja bobo. – Precisa levar a vida um pouco menos a sério, Laís. – Shhh, olha, a aula vai começar. Vamos fazer silêncio. O nosso professor de Texto e ensino entra na sala cumprimentando a todos e, depois de nos sobrecarregar com mais meia dúzia de leituras, anuncia que receberemos uma visita ilustre naquela manhã. – A pessoa que tenho a honra de apresentar a vocês é um dos grandes benfeitores da universidade e patrocina diversos projetos de pesquisa na área de linguagens, sendo alguns desta turma. Estou curiosa para saber quem é esse homem tão poderoso que está investindo generosamente parte do seu tempo e dinheiro nos projetos de Letras. – Ele é executivo e proprietário de uma das maiores editoras do país e está pensando em ampliar a empresa ainda mais. Tenho orgulho de dizer a todos que nesta cidade há investimento em cultura. Poderia ser ele? Não é possível, seria muita coincidência. Só de pensar na possibilidade, sinto arrepios passarem por minha espinha dorsal. Já faz um tempo que não temos qualquer contato mais... cara a cara. Quer dizer, ele quase não para na empresa e quando está lá, é como um deus soberano que mal cumprimenta seus súditos. O homem sabe que fui a um sexy shop e que comprei brinquedos eróticos mesmo que eu tenha sido tão


discreta, então eu deveria soltar fogos por não ter que voltar ao seu escritório. Mas não estou soltando. Principalmente porque me sinto tão confusa quando não recebo sequer um olá de sua parte, mas as mensagens tentadoras continuam chegando todas as noites. Eu já estou viciada nelas. A porta se abre e todos os pescoços viram para conhecer quem é o novo super-herói das galáxias, já que praticamente foi essa a imagem vendida pelo professor. Acho que você não precisa de tanto para acertar na mosca quem é o cara que passa por aquela porta, não é mesmo? Embora não venha voando, o homem exala imponência e grandeza por onde quer que passe como os melhores heróis dos quadrinhos fariam. Merda! Algo me diz que vamos nos encontrar mais do que eu presumia. – Queridos alunos, deixe-me apresentá-los ao Sr. Antony Cavalcanti, CEO do complexo editorial Cavalcanti e patrono da nossa universidade. Em nome dos nossos estudantes, te dou as boas vindas, Sr. Cavalcanti. O burburinho na sala é geral. Os rapazes falam sobre a possibilidade de uma oportunidade na editora ou de publicar seus livros. As meninas fazem piadas sobre a riqueza e beleza irretocável do executivo. E eu? Eu fico apenas surpresa, de boca aberta como um pateta, por reencontrá-lo mais uma vez e fora do ambiente de trabalho. – Obrigado, Sr. Alcântara. Eu sempre contribuí com a universidade, mas nunca despertei o interesse em conhecer os beneficiados pelos nossos programas mais de perto. Fico feliz em saber que estou dando uma força para a realização do sonho de vocês, de alguma forma. Estou apenas devolvendo o que fizeram por mim um dia e espero que não desperdicem essa oportunidade. Sucesso a todos.


Ele faz todo o seu discurso tem tirar os olhos de mim. O que pode ter despertado seu interesse em conhecer os alunos, já que afirma nunca ter demonstrado antes? – Você percebeu que ele não tirou o olho de você, Laís? Já o conhece de algum lugar? Deixo de olhar para o homem magnífico que ainda é o foco da atenção de todos e me viro para responder a Leandro mesmo que meus olhos teimem e encontrar seu próprio destino. – Ele é meu chefe na editora. Quer dizer, só o conheci recentemente e não tivemos muito contato. Ele é o CEO, então, como revisora, eu só convivo com meu chefe imediato. – Minto, sem querer dar margens a especulações. – Ah, então deve ser isso, mas ele continua te olhando e por um momento tive a impressão de que não era um olhar de chefe para sua funcionária. Ele parece bastante irritado. Levanto minhas vistas a fim de olhar novamente para Antony e percebo quando ele fala algo no ouvido do professor, que me busca com os olhos pela sala até encontrar. Ele volta sua atenção para o patrono, balança a cabeça e Antony se despede da turma, sem voltar a olhar em minha direção. Sinto-me aliviada, mas não o suficiente, pois noto que algumas colegas me fitam e outras até cochicham alguma coisa, olhando para mim. Baixo as vistas e finjo que estou lendo a apostila da aula de hoje. Eu não gosto de ser o assunto central das fofocas. Não mesmo. – Ele não tinha motivo para ficar irritado, Leo. Que eu lembre, não cometi nenhum erro ontem na editora. Deve ser impressão sua ou ele deve ser sério assim mesmo. – É, deve ser impressão minha. – Leo fala, sem parecer convencido com o que diz.


A aula transcorre sem mais interrupções e desta vez tento me concentrar o máximo possível, já que não tenho nenhuma distração me preocupando. Não vou mentir que vez ou outra minhas lembranças vão de encontro aos sonhos eróticos que tenho quase todas as noites, mas as coloco de lado assim que me dou conta de que há outro sonho maior que eu preciso conquistar. E esse tem que ser bastante acordada. A aula termina mais cedo, então respiro aliviada uma vez que não preciso sair correndo pelo menos hoje. Estou conversando com Leandro e já me aproximando da porta quando ouço o professor chamar pelo meu nome. Sim, a cena se repete. O que será desta vez? Caminho em direção a ele confusa, pois não faço a menor ideia do que ele teria para falar comigo. – Laís, está com muita pressa para ir embora? Parece que o nosso patrono gostaria de conversar com você. Ledo engano achar que teria uma manhã mais tranquila hoje. Estou com uma sensação e ela não é boa. Sinto-me sufocada e perturbada. Algo me diz que não vou gostar dessa conversa. Nem um pouco.


Capítulo 9

É sério mesmo? Antony Cavalcanti se deu ao trabalho de me esperar para conversar quando poderia fazer isso na empresa daqui a algumas horas. O que há de tão urgente? – Comigo? O senhor sabe qual é o assunto? – Pergunto, me corroendo por dentro com a possibilidade de estar próxima novamente daquele homem lindo, avassalador. – Parece que pesquisou sobre a vida escolar de alguns alunos e se interessou pela sua. Vá falar com ele. Talvez tenha uma boa proposta de emprego em sua editora. Pelo visto, meu professor não sabe que eu já trabalho lá. – Ah... está certo. Onde devo encontrá-lo? – Ele está te esperando na minha sala. É a doze. Sabe onde fica? – Sei, sim. Obrigada. Leandro arregala seus olhos castanhos e passa as mãos pelos cabelos de mesma cor, demonstrando o quão curioso ele está, mas desconverso, dizendo que preciso ir ao banheiro e que ele não deve me esperar. Meu amigo insiste, porém acabo lhe convencendo.


Caminho até a sala, me fazendo mil perguntas. Chego até lá e bato na porta, ouvindo uma voz que não pede, simplesmente ordena para que eu entre. Abro a porta e dou dois passos para dentro, insegura. – Pois não, Antony? Quer falar comigo? Ele está de costas, olhando para uma estante cheia de livros como se estivesse escolhendo um para ler. Ainda de costas, começa a falar comigo em um tom que já não está me agradando. – Quem é aquele carinha que quase a beijava em plena sala de aula? Sua pergunta me deixa atordoada. Nunca, em mil anos, pensei que esse tipo de pergunta pudesse sair de sua boca, mesmo porque não lembro de ter lhe dado intimidade para isso. Dei? – Como? Antony vira de frente, anda em minha direção e para muito próximo a mim. Sinto sua respiração forte, seu ombro subindo e descendo, ofegante. Sinto aquele cheiro bom e completamente sedutor. – Eu te perguntei quem é o cara que estava dando em cima de você descaradamente. Fito seus olhos assustada e balanço a cabeça sem entender a razão daquela pergunta. – Desde quando eu te devo explicações da minha vida pessoal, Sr. Cavalcanti? – Antony, Laís. Para você, eu sou apenas Antony. Pensei que estava estudando para se tornar uma grande profissional e não para conseguir um namorado no campus. Estreito ainda mais nossa distância, se é que isso é possível. Eu não estou disposta a aturar essa invasão de privacidade, ainda mais fora do meu ambiente de trabalho.


– Não é da sua conta o que eu faço ou deixo de fazer fora da editora. Quem você pensa que é para insinuar algo desse tipo? Ele vira a cabeça de lado e me dá um sorriso desafiador. O homem continua lindo em um terno preto, perfeitamente adaptado ao seu corpo, gravata vermelha que dá vontade de puxar, obrigando sua pele a tocar a minha, cabelos negros molhados e penteados para trás, deixando o pequeno brilhante ainda mais à mostra em sua orelha. Antony Cavalcanti é lindo de morrer e o safado conhece exatamente o grande poder de sedução que tem. – Não é da minha conta? É o que vamos ver. Antes que eu perceba, ele agarra os meus ombros e me empurra para a parede mais próxima, cobrindo o meu corpo com o seu, e toma os meus lábios em um beijo ardente e faminto. Deus, e que beijo! Suas mãos começam a ter vida própria e passam a viajar pelo meu corpo, tentando reconhecer cada curva com habilidade, como se estivesse me mapeando. Uma chama viva começa a arder dentro de mim e ela está alcançando lugares... hum... um tanto isolados e inexplorados já há algum tempo. Minha pele traça um fio de tensão que faz seu caminho por todo o meu corpo até alcançar a latência no meio de minhas pernas. Merda! Eu mal fui tocada e minha boceta já está pronta e implorando pela invasão que pode trazer o alívio que ela tanto precisa. Eu não tenho forças para lutar. Eu não quero lutar. Há uma energia que me atrai a ele, acabando com todo o meu sistema de defesa. Eu serei dele ali na universidade sem pensar duas vezes se acaso me quiser. Estou disposta a lhe dar qualquer coisa que me peça sem pestanejar, mas, repentinamente, ele parece que muda de planos.


Sinto quando força o seu corpo a se separar de mim, me deixando mais uma vez confusa e envergonhada. Esse homem vai acabar me enlouquecendo com seus jogos. Se queria provar um ponto, acaba de conseguir. Eu não estava pronta para resistir ao seu toque. Nunca me senti tão fraca, tão vulnerável antes. – O que foi isso, Sr. ... Antony? – Pergunto ao mesmo tempo que não posso deixar de perceber a enorme ereção que marca sua calça. Engulo em seco, tentando desviar o olhar, mas sem muito sucesso em minha tentativa. – Isso foi apenas uma resposta à sua ousadia. Parece que o seu corpo acha que tudo sobre você é da minha conta, Laís. Ele acaba de me dizer isso com todas as letras. Suposições confirmadas. Então, ele estava apenas me testando. Meu Deus, em que loucura estou me metendo? – Você é alguma espécie de maluco ou algo parecido? Ele não responde. Caminha até a mesa do escritório e senta na cadeira, vestindo novamente a máscara de CEO em seu rosto como se não tivesse acabado de me jogar em uma parede e me beijado. – Tem o lançamento de um livro esta noite e gostaria que fosse como minha acompanhante. Você não vai para a editora esta tarde. Preciso que esteja perfeita para o evento. O que você acha, devo rir ou chorar? – Eu não posso ir a lugar algum hoje. – digo, com determinação. – Preciso terminar a revisão do livro, já que nosso prazo está curto. – Eu sou o dono da editora e eu decido como as coisas devem funcionar. Se estou dizendo que não vai para o trabalho é porque não vai. Nem hoje nem amanhã. – Eu não fui contratada para servir de acompanhante de executivo nos eventos. Por que não contrata uma prostituta para isso?


Alguém está se divertindo claramente aqui e posso garantir que esse alguém não sou eu. Antony ri como se eu tivesse acabado de lhe contar uma piada. – Eu não estou te pedindo para cair em minha cama, Laís. Pelo menos não até que você peça por isso. É um simples evento e, naturalmente, deve ter representantes da editora lá. Pode ser muito interessante para você. Se ele soubesse o pouco interesse que tenho por esta área. – Você é muito senhor de si para achar que vou implorar por sexo a você ou a qualquer outro homem. Eu não preciso disso. Claro que não. Eu apenas tenho mais de um ano sem sentir nada maior que um pinto de borracha rosa entrar em mim, mas esse pequeno detalhe não significa que eu não tive opção. Só quer dizer que nenhuma das que tive me atraiu. E não é porque Antony desperta todos os meus sentidos adormecidos que eu vou mendigar para que me dê qualquer coisa. Homens como ele são para admirar de longe. Homens como ele não são descomprometidos. Homens como ele deviam vir com uma placa grudada na testa gritando perigo. – O que eu quis dizer foi que não estou te fazendo um convite obsceno. Você é funcionária da minha empresa e esse evento tem relação direta com o seu trabalho. Quando o convite tiver outro objetivo, certamente você saberá. Já vi que ele é do tipo que morde e assopra, que dá com uma mão e tira com a outra. Ao mesmo tempo que fala com um tom todo profissional, sempre solta uma pitada de seu veneno erótico. O pior é que eu não sei qual a versão dele que gosto mais. Na verdade, ele é magnífico de qualquer jeito. – Sua noiva não vai se importar de saber que você frequenta eventos com outra mulher a tira colo? Por que não convida o Sr. Osvaldo? Talvez seja mais importante para ele do que para mim que não sou chefe do setor.


Ele olha por um tempo para a aliança em seu dedo, passando a girá-la como um tique nervoso. – Você está muito preocupada com a aliança que eu carrego. Ela é apenas uma relíquia de família a qual tenho muita estima. Aceno com a cabeça e ele continua. – Olha, Osvaldo estará lá também, mas eu ficaria muito lisonjeado se aceitasse me acompanhar. Haverá gente de todo tipo envolvido com as letras e as artes lá. Será interessante para você conhecer pessoas que podem te ajudar no futuro. Ele fala como se soubesse que meu coração não está na editora. Ou Antony é muito perspicaz ou ele de fato lê mentes. Estou cada vez mais convencida da segunda hipótese. – Conheço alguém que ficaria mais que feliz com o convite. – Quem? – Claudia Aparecida, secretária de Osvaldo. – Aquela garota desmiolada? Como pode se comparar a ela, Laís? É você quem quero ao meu lado e não ela. É você quem quero ao meu lado e não ela. Tenho certeza que essa frase vai ficar martelando em minha mente mais do que eu gostaria. Procuro por uma justificativa para me livrar da cilada de ter que ficar ao lado desse homem que tanto me atrai. Já ouviu aquele ditado “se não pode com ele, junte-se a ele”? Não serve pra mim. O meu é “se não posso com ele, então preciso fugir a léguas dele”. Me chame de covarde, eu aceito, mas se ele já está me cercando desse jeito em tão pouco tempo, imagine se eu lhe der mais espaço. Esse homem é do tipo que pega sem pedir.


– Não tenho roupa para ir a um evento desse tipo, Antony. Desculpe, mas acho que não será possível. Ele levanta e se aproxima de mim, olhando no fundo dos meus olhos. – Entenda uma coisa, Laís, eu não sei lidar com negativas. Impossível não é uma palavra que esteja no meu dicionário. Você pode usar todas as justificativas, mas nenhuma irá me convencer de que não estará comigo esta noite. O vestido será entregue pela tarde no salão. – Salão? Que salão? – Embora eu duvide que fique ainda mais linda do que já é, reservei um horário para você em um salão de beleza conhecido. Enquanto tento segurar minha boca que está aberta pelo susto, ele apenas ignora minha reação, pegando um cartão de seu bolso com o endereço do salão. Volta para a mesa novamente ostentando sua máscara de CEO e baixa as vistas para ler alguns papéis sobre ela. Bato com minhas mãos abertas por cima dos papéis, o obrigando a entender que a conversa ainda não terminou. – Eu não tenho condições no momento de pagar por vestido ou salão algum. E não pense que pode comprar minha companhia com presentes. Antes de impor sua própria vontade sobre mim, lembre-se de que não sou um objeto, portanto tenho todo o direito de ser questionada sobre o que quero ou não. Ele respira fundo e ajeita a gravata que não estava sequer um milímetro fora do lugar. – Você tem razão, me desculpe. Eu pensei no salão e no vestido porque eu acho que você merece ter sua beleza realçada. Costuma se esconder atrás de óculos grandes e coques nos cabelos. Entendo plenamente se não aceitar. Ainda gostaria que viesse comigo. – Como uma Cinderela.


Meu corpo se aproxima mais pra frente em um instinto e ele aproveita para puxar uma mexa do meu cabelo, alisando-a. – Sim, como uma Cinderela que nunca tem seu encanto quebrado. Droga, por que esse homem exerce tanto poder sobre mim? Por que eu não consigo mandá-lo ir à merda e enfrento suas ordens? – Eu não deveria, mas... tudo bem, aceito apenas o salão. Dispenso o vestido. Eu devo ter qualquer coisa adequada para este evento. Ele parece feliz com minha afirmação. Como disse, não sabe lidar muito bem com negativas, mas não deve encontrar muitos nãos em seu caminho. O magnetismo que ele exerce sobre as pessoas faz com que todos somente lhe digam sim como vacas de presépio. Pego o cartão com o endereço de cima da mesa e me afasto, sentindo meu cabelo deslizar suavemente por sua mão, trazendo ondas de arrepio pelo meu corpo. Vou para a cantina da universidade almoçar e sou grata por não encontrar Leandro nem qualquer outro conhecido no caminho para me encher de perguntas. Olho para o cartão com o endereço e bufo sem acreditar que acabei cedendo aos caprichos de um homem que mal conheço, mas já está mexendo com meu mundo em demasia. Vamos lá, não é? Talvez não seja tão ruim acompanhá-lo no lançamento de um livro. Quem sabe até aproveite para comprar um exemplar. É isso. Decido que se concordei em ir, vou aproveitar a noite. Que Deus me ajude!


Capítulo 10

Chego ao salão e, quando entrego o cartão que Antony me deu e me apresento, fico chocada com o modo que passo a ser tratada por todos. Os funcionários começam a se movimentar como se estivessem em um dia agitado da Bolsa de Valores, loucos para me dar atenção, revezando entre meus cabelos, unhas, rosto. Sinto-me tal qual uma personagem de um filme no melhor estilo Uma linda mulher naquele momento que a personagem de Julia Roberts entra na loja com Richard Gere e todas as vendedoras lhe tratam como uma rainha. Há vários profissionais em cima de mim em questão de segundos dizendo o quanto sou bonita e como vou ficar ainda mais. Bem, o que dinheiro não faz com as pessoas, hein? Em algum momento, enquanto eu estou sendo moldada como um vaso, um dos funcionários faz um comentário despretensioso. – Sr. Cavalcanti já mandou muitas meninas bonitas para as nossas filiais ao redor do país. Eu mesmo cuidei pessoalmente de algumas delas, mas como você ainda nenhuma. Garota, você seria uma grande modelo fotográfica com todo esse corpo e esse rostinho lindo.


Então é hábito dele adequar as mulheres ao seu gosto antes de sair desfilando com elas. A quem estou enganando? Eu sou apenas mais um enfeite em seu braço esta noite. Estou me dando conta de que ele é o tipo de cara que gosta de se exibir com uma mulher diferente a cada dia. Ah, mas comigo será diferente. Vou deixar claro para todos no evento que sou apenas sua funcionária. Nada mais. – Já recebi convites, contudo nunca me interessei por esse tipo de trabalho. Com certeza não me encaixo na mesma situação das tantas garotas que são enviadas a este tipo de salão. O Sr. Cavalcanti precisa de alguém que trabalha com literatura para acompanhá-lo e acabou me convidando. Sou apenas sua funcionária. Ele ergue uma sobrancelha, totalmente incrédulo. – Apenas funcionária? Sei... Adianta eu usar todo o meu latim para tentar convencê-lo do contrário? Não mesmo. Resolvo que nesta tarde eu irei relaxar sem dar mais importância às fofocas de salão. Depois deste dia não pretendo ver mais essas pessoas, então por que me dignar a lhes dar satisfações? Passo a tarde inteira lendo revistas de fofocas, pra variar. Tudo bem que estou em um salão de beleza e não em uma livraria, mas não seria pedir demais encontrar um romance ou um livro de poemas, por exemplo. No fim do dia, vou sair dali especialista em celebridades. Não que eu seja de outro mundo e não tenha uma curiosidade natural, mas definitivamente meu mundo não gira em torno disso. O fim da tarde chega depois de muito estica daqui, alisa de lá. Não deixaram que me olhasse no espelho até que estivesse pronta. Confesso que estou com uma ponta de curiosidade para ver como ficou. Não lembro da última vez que coloquei meus pés em um salão de beleza. Talvez em minha formatura?


– Pode virar a cadeira, maravilhosa. – Um dos funcionários diz, cheio de mãos e bocas, enquanto gira a cadeira para que eu fique de frente para o espelho. Eu quase não reconheço aquela mulher diante de mim. Oh, meu Deus, eu estou... uau... como uma daquelas super modelos sensuais estampadas nas capas das revistas que eu folheava agora há pouco. Meu olhar está esfumado com bastante delineador de modo tão perfeito que não me deixou com aparência vulgar. Eles ressaltaram meu tom de loiro, deixando em uma tonalidade que eu já tinha tentado, mas ainda não tinha conseguido alcançar com nenhum produto que usei. Minha pele está lisa como um pêssego, coberta por uma maquiagem leve que se contrapõe com o meu olhar negro e marcante. Eu estou quase irreconhecível. Essa mulher que me olha no espelho é simplesmente... linda. – Nossa, vocês devem gostar muito de seu cliente para ter caprichado tanto assim. – Querida, gostamos muito do Sr. Cavalcanti. Ele é muito generoso, porém não foi difícil deixá-la com está. Sua beleza natural ajuda muito. – Obrigada. – Deixe-me ver um vestido para combinar com a cor dos seus olhos e sua maquiagem. Ah, esse aqui é perfeito! – uma funcionária diz, levantando uma peça longa, mas cheia de decotes. – Vista. Tenho certeza de que vai ficar deslumbrante em seu corpo. – Não. – O quê? – A moça de olhos arregalados pergunta. – Eu disse ao meu chefe que não aceitaria mais nada dele. O salão foi mais que suficiente porque eu não o envergonharia no lançamento com uma aparência ruim.


– Sério, maravilhosa? De que mundo você é? – o cabelereiro inquire, tocando nos cachos que caem como ondas sobre meus ombros. – As mulheres que frequentam esse tipo de evento vão te comer viva se estiver com um vestido chinfrim. Um rosto como o seu precisa de um acompanhamento à altura. Engulo em seco. Eu sei que em meu guarda-roupa não tem nada muito decente para vestir essa noite. Roupas de festa é um luxo que não me dou há algum tempo, já que sequer saio à noite. Até mesmo o vestido da minha formatura foi alugado. Um vestido tubinho que uso no trabalho não serviria? – Não é como se eu estivesse indo para uma noite de gala por vontade própria. É apenas trabalho. Sendo assim, não preciso parecer com nenhuma das paquitas que porventura estejam lá. O cabelereiro faz biquinho, batendo os dedos delicadamente sobre seu rosto moreno como se estivesse em busca de uma solução para o meu caso. Certamente, ele gostaria de estar em meu lugar acompanhando Antony, pela forma como o exalta. – Ah, por que Deus não dá asas à cobra? Você tem algumas opções de Dior ou Versace originalíssimos para vestir e pretende usar uma roupa qualquer, belezinha? Desse jeito você não vai valorizar o belo trabalho que fiz em você. – Foi Antony quem mandou os vestidos? – Minha equipe teve o trabalho de escolher os melhores, mas o homem soube dizer exatamente o número que você veste. Não são todos os espécimes de macho que têm essa percepção. Mas que merda! Nenhum dos meus argumentos foi suficiente para fazê-lo entender que não estou à venda, que tenho direito a escolhas e que mal o conheço para deixar que dê ordens em meu nome. – Eu não quero nenhum vestido. Agradeço pelo atendimento da equipe, sei que serão muito bem recompensados pelo excelente trabalho, mas preciso tomar um banho e me preparar para esta noite.


E o melodrama começa... – Pelo menos aceite experimentar o Versace preto. Seria um desperdício não aproveitar essa oportunidade de se sentir diva nem que seja por quinze minutos. E não é que ele tem razão? Ah, também não sou de ferro e não custa nada fingir que sou outra pessoa por apenas alguns minutos, embora eu não esteja reclamando de quem sou. Sinto muito orgulho de mim, por sinal. Com a ajuda desnecessária de três funcionárias que só faltam ter a varinha de condão das fadas-madrinhas, mais prestativas do que deveriam já que estou apenas provando o vestido, fico pronta em um minuto. Minha nossa, quem é aquela mulher e o que fizeram com a verdadeira Laís? A peça abraça o meu corpo como se fosse exclusivamente confeccionada para mim em cada medida. É feita em cetim e tule que se agarra à cintura, destacando todas as minhas curvas, com um enorme decote nos seios e costas nuas. – Aaaaaaiiiiii! – a criatura dá um grito tão alto e fino que chego a pular de susto. – Flor, você está per-fei-ta! – Exclama com olhos arregalados e uma mão tapando sua boca aberta. – Obrigada. O vestido é realmente formidável. – Você disse que o Sr. Cavalcanti é o que mesmo seu? Apenas chefe? Só se ele fosse cego para não tentar ir além. Ignoro as besteiras que ele diz, sabendo que não há qualquer chance disso acontecer. É só um evento da editora, certo? Sorrio e agradeço por tanta atenção, indo para o closet tirar o vestido. Já está na hora de ir para minha casa, onde ele ficou de me buscar mais tarde.


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Destinada a Você: O Acordo – (Livro 1) Destinada ao Prazer: Meu Vício – (Livro 2) Destinada ao Amor: O Herdeiro – (Livro 3) Destinada a Seduzir: A Rendição – (Livro 4)

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Apollo: Quando o Amor entra em Jogo – (Livro 1) Apollo: O Amor Vence o Jogo – (Livro 2) Em breve, outros livros da série.


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