LUCY BERHENDS _________________________ __________________________
DESTINADA AO AMOR O HERDEIRO
Copyright © Berhends, Lucy Todos os direitos são reservados à autora, sendo esta uma produção independente. É uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 1ª Edição. Formato digital Junho de 2015 Capa: Magic Capas Design Editorial Revisão: Lucy Berhends
luberhends@bol.com.br https://www.facebook.com/autoralucyberhends lucyberhends.blogspot.com.br
Agradecimentos
Novamente preciso derramar o meu coração para leitores tão generosos que conheceram e tiveram a oportunidade de se apaixonar pelos personagens da Série Destinados. A cada livro eu tento dar o máximo de mim e me superar para que possa disponibilizar um trabalho de qualidade para cada viciado em livros como eu. O livro 1 dessa série rendeu mais de 65.000 visualizações e mais de 6.000 votos na plataforma Wattpad, o que me deixou muito orgulhosa por ser minha primeira publicação. Brisa e Alfonso foi o nosso casal doce que lutou contra o destino, mas o amor falou mais alto. As críticas quanto ao livro 2 superaram as minhas expectativas, pois a grande maioria foi positiva. Os leitores tiveram a mente aberta para aceitar a forma de amar escolhida por Ben e Clara. ‘O livro é muito hot’ – era o que eu mais lia. Esse era o objetivo, além de criar personagens com personalidades próprias. No livro 3, a relação entre Marco e Tatiana é também muito sexy. Há uma força poderosa que os atraiu desde o início. Eles não lutaram contra o destino, como os demais personagens. Foi o destino quem os maltratou por um tempo até que conseguisse uni-los outra vez. Espero que goste, curta, viaje na história, ria e chore com esse lindo romance. Marco e Tati realmente foram destinados ao amor.
Boa leitura, minhas rainhas!
Lucy Berhends
Sinopse
Tatiana se apaixonou loucamente por Marco desde o momento que o viu pela primeira vez. Ele correspondeu aos seus sentimentos e a relação parecia estar se aprofundando até que ela descobre que está grávida. Seu primeiro pensamento é o de comunicá-lo que se tornará pai, mas quando liga para o seu celular, quem atende é uma mulher afirmando ser sua namorada. Seu desespero aumenta quando ouve o Sr. Ribeiro dizer à sua esposa que Marco era o único livre para escolher com quem se relacionava dos dois irmãos e que a única forma de ele ser forçado a se casar, seria caso engravidasse alguma mulher. O que Tatiana fará diante de tanta informação? Ela deve tentar lhe contar mesmo assim ou deve livrá-lo de ter que assumir uma relação apenas por obrigação?
PRÓLOGO
Ela
Ficar sentada aguardando na sala de espera era a pior tortura que já havia passado. Aquele ambiente branco com fotos de bebês e famílias sorrindo felizes estava me dando nos nervos. Parecia que o tempo não passava e a minha vez de ser atendida não chegaria nunca. Olhei para os lados e vi algumas mulheres esperando por atendimento também. Dava para perceber que algumas estavam grávidas e uma parte delas estava acompanhada por companheiros e familiares. Outras não demonstravam gravidez e poderiam estar aguardando apenas para uma consulta ou estavam vivendo o mesmo drama que eu na tentativa de descobrir se havia encomenda para a cegonha. Eu preferi ir sozinha com medo de estar fazendo alarde desnecessariamente. Meu ciclo menstrual sempre foi inconstante e eu sempre tomei anticoncepcional desde que iniciei a minha vida sexual, embora tenha parado por um tempo por estar sentindo algumas reações que poderiam ser consequência dele. Depois de alguns exames, concluí que não era e voltei a tomar, porém sempre exigi que meus parceiros se protegessem ou não faríamos sexo. Nunca abri mão.
A chuva caía forte lá fora e parecia um indício de que o tempo também iria fechar para o meu lado. Fiquei olhando fixamente para a janela como se pudesse contar cada pingo que batia nela. Uma voz interrompeu meu turbilhão de pensamentos: – Você não acha que o atendimento está muito lento? Não aguento mais esperar. – Uma mulher que parecia estar na casa dos trinta me perguntou, massageando sua enorme barriga. Eu não estava para muita conversa, mas resolvi ser educada. – Sim, está demorando muito. Também estou muito ansiosa para ser atendida. Não posso passar a manhã inteira aqui. Preciso voltar ao trabalho. Eu havia justificado a minha falta no escritório por ter que estar presente a uma consulta médica. Estou rezando para que seja apenas de rotina e eu não tenha que voltar a este lugar regularmente. – O início da gravidez nos deixa com os nervos a mil, realmente. Eu lembro que só faltava enforcar o médico quando demorava de ser atendida. Graças a Deus que meus hormônios se estabilizaram. – Ela continuou puxando assunto. – Desculpe, mas não estou grávida. É apenas um exame de rotina. – Respondi, rapidamente. Ela me examinou de cima a baixo e com voz acusatória afirmou: – Eu jurava que você estava. O corpo da mulher dá sinais de gravidez e eu quase não me engano com essas coisas. Se você diz que não está...
Pânico me tomou. Não queria continuar essa conversa fazendo suposições por algo que mudaria a minha vida drasticamente. – Com licença, vou pedir informações na recepção. Fugi daquela criatura o mais rápido que pude. Prefiro evitar pessoas que ficam fazendo previsões descabidas, ainda mais neste momento. Caminhei em direção a uma recepcionista que me olhava sorridente. – Por favor, gostaria de saber se serei logo atendida, pois estou em horário de trabalho. Ainda há muitos pacientes antes de mim? – Qual é o seu nome, senhora? – Tatiana Carvalho. – Deixe-me checar... você será a próxima a ser atendida, Tatiana. A última paciente já tem um tempo na sala e não demorará a sair. – Obrigada! Sentei em outro lugar mais próximo do consultório médico. Queria evitar contato novamente com aquela que se achava a portadora de boas notícias. Estava torcendo para que ela estivesse errada. Já não tinha mais unhas para roer, quando a paciente saiu, chamando pelo meu nome. – Tatiana Carvalho, a médica está te aguardando na sala. – Obrigada!
A minha mente estava mais que pronta para enfrentar o que estivesse por vir, mas as minhas pernas não queriam obedecer. Fiquei em pé, parada na frente do consultório receosa de dar o próximo passo. Olhei para a porta onde o nome ‘Dra. Camargo’ estava escrito e respirei fundo para tomar meu controle de volta. ‘Seja o que Deus quiser’, pensei. A médica era morena e deveria estar na casa dos quarenta. Demonstrava muita simpatia e me convidou para sentar. – Tatiana, como vai? – E-estou bem, doutora. – Hum... pela sua aparência assustada, não está tão bem quanto diz. Vamos ver no que posso ajudá-la. Qual a finalidade da sua consulta, querida? O meu desejo era de dar as costas e sair correndo daquele lugar. Ela poderia me dar respostas que não gostaria de ouvir naquelas circunstâncias. – Estou desconfiada de uma possível gravidez e resolvi procurá-la apenas por desencargo de consciência. – Certo, como imaginei. Quando foi seu último ciclo menstrual? – Minhas regras nunca foram regulares mesmo tomando a pílula. Deve ter um pouco mais de dois meses que não menstruo.
– Bem, nesse estágio, se você estiver grávida, será possível confirmar apenas por um ultrassom. Dirija-se àquela sala e vista um roupão que está lá dentro. Quando retornar, faremos o exame. Caminhei lentamente, pesando as consequências do resultado que estava por vir. Um bebê não mudaria apenas a minha vida. Mudaria a de Marco também e de todos à nossa volta. Sempre tive medo de me tornar mãe sem poder dar uma estrutura familiar a meu filho. Tenho o meu próprio apartamento onde moram também a minha mãe e minha irmã dois anos mais nova que eu. Ela é mais que irmã. É minha melhor amiga. Me troquei e voltei para a sala onde a médica já preparava o aparelho para me examinar. – Deite-se aqui e levante um pouco o roupão. É preferível uma transvaginal para termos um resultado preciso, algum problema? Não. Eu queria um resultado preciso. Precisava ter certeza do que estava acontecendo comigo ultimamente e algo me dizia que essa resposta viria em seguida. – Tudo bem, doutora. Faça da forma que achar melhor. Ela introduziu o aparelho em minha vagina e começou a mexer com ele lá dentro. Senti um pouco de desconforto, mas sabia que era parte do procedimento. – Então, a senhora está vendo algo diferente? A ansiedade estava me matando.
– Deixe-me ver... hum... aqui, querida. Sim, consigo ver algo diferente. Observe essa pequena imagem no centro. – Oh, meu Deus, será que realmente estou vendo o que eu acho que estou vendo? A médica sorriu. – Espero estar te dando uma boa notícia. Eu posso te afirmar sem sombras de dúvidas que você está grávida, Tatiana. Esse pequeno grão aqui é o seu bebê e ele está muito saudável. Parabéns! Logo se tornará mãe. Um bebê. Meu. De Marco. Grávida. Como na galáxia isso foi acontecer com tantos cuidados que tomamos? Tinha que ser comigo. Eu tinha que entrar na porra de uma estatística mínima de não sei quantos zeros porcentos e acabar grávida sem sequer estar num relacionamento sério. A médica pediu para que me trocasse e que depois voltasse para conversarmos. Fiz conforme solicitou e logo estava de volta. – Sente-se, Tatiana. Já vi muitas mulheres terem a mesma reação de pânico que a sua, mas é normal tomar esse susto na primeira impressão. O que eu vejo depois é sempre pais ansiosos por verem o
pequeno rosto de seu bebê e muito felizes com a chegada dele. Tudo acaba se resolvendo, querida. – É complicado, doutora. Estarei pensando o que fazer a partir de agora e espero que tudo seja resolvido de fato. Foi possível ver de quanto tempo de gravidez estou? – Calculando pelo seu último ciclo e o tamanho do bebê, está com cerca de dez semanas. – E os enjoos e tonturas demoram muito a passar? Tenho sentido constantemente. – Logo sairá do primeiro estágio da gravidez e provavelmente as reações que estiver sentindo passarão. Estarei te medicando para minimizar as sensações, mas te alerto que podem permanecer por mais um tempo. Ela receitou alguns remédios e complementos alimentares que as grávidas geralmente tomam, e pediu para que marcasse nova consulta dali a um mês. Saí do consultório como se tivesse sido arrasada por um vendaval. A chuva ainda caía lá fora e deixei que me molhasse como se pudesse lavar a minha agonia. Me daria aquele dia apenas para chorar e mais nada, mas no outro, teria que tomar decisões como descobrir uma forma de contar a Marco que ele se tornaria pai. Cheguei em casa e liguei para o escritório dizendo que não estava passando bem e que não retornaria naquele dia.
– É algo sério, Tatiana? Percebi que estava pálida ultimamente. Tire quantos dias precisar de folga. Você trabalha demais, menina. – Não será necessário, Sr. Ribeiro. Só preciso de repouso hoje, mas amanhã estarei de volta ao escritório. Obrigada por entender. – Desejo melhoras, menina. Se cuide. Essas foram as últimas palavras que consegui pronunciar antes que desabasse em lágrimas. Me joguei na cama e passei a tarde inteira embrulhada em meu próprio drama. Só hoje. Amanhã é outro dia, Tatiana, e você terá que reagir, pois não pode pensar apenas em si mesma. Agora tem mais alguém para se preocupar. Não é como se eu fosse uma adolescente com uma gravidez precoce. Tenho vinte e cinco anos e estabilidade financeira. Apenas não tenho estrutura familiar para oferecer ao meu filho. – Falei para mim mesma. A noite chegou e minha irmã, Lana, entrou em meu quarto toda animada pelos últimos acontecimentos na faculdade. Ela estava terminando enfermagem e estava adorando cada vez mais. Quando viu meu rosto inchado de tanto chorar, parou de tagarelar e veio ao meu encontro, me abraçando. – Sssrrr pronto, minha irmã. O que seja que tenha acontecido, estaremos sempre contigo. Tente se acalmar.
Ela continuou abraçada a mim por um tempo e em seguida saiu para buscar água. Quando voltou, bebi todo o líquido e resolvi desabafar. – Estou grávida, Lala. Estou grávida e nem sequer estou namorando. Minha irmã tapou a boca, demonstrando mais felicidade que surpresa. – Oh, Tati. Você será mãe? Graças a Deus que a notícia é boa, maninha. Fiquei achando que me contaria uma tragédia. Um bebê vai animar tanto a nossa casa. – Você ainda não pesou as consequências, Lana. Esse bebê tem um pai que não faço ideia de como irá reagir e eu tenho um trabalho que amo, mas toma muito do meu tempo. Como estarei nesse barco sozinha? – Você não estará sozinha, querida. Temos eu e mamãe para te ajudar e iremos descobrir juntas como cuidar dele. Você ainda não sabe como será a reação do pai, como disse, e quem sabe não se surpreenda positivamente? Marco pareceu muito responsável quando o conheci. – Eu jamais pediria nada a ele. Nos vemos às vezes e isso é só o que temos. Acho que ficará tão assustado quanto eu, pois não fazia planos de se tornar pai tão cedo. Espero apenas que assuma a paternidade. – Não sofra antes da hora. Meu sobrinho será muito bem-vindo a essa casa. Vou amá-lo e mimá-lo tanto. Ei, pequeno, aqui é titia. Não
ligue para a reação de sua mãe. Ela logo estará louca por você. – Lana falou, tocando em minha barriga lisa como se estivesse conversando com o nené. – Valeu, La, você sabe como me levantar sempre. Preciso dormir para acordar cedo. Pretendo contar a Marco amanhã. Parece que meus dias serão agitados a partir de agora. Não sei se por causa das lágrimas ou do cansaço emocional, mas assim que minha irmã saiu, caí nos braços de Morfeu por longas horas só despertando no outro dia.
Capítulo 1
Ela
Cheguei ao escritório um pouco mais cedo do que chego normalmente. Tentei atualizar a agenda do Sr. Ribeiro e preparar alguns documentos que estavam pendentes. – Tatiana, chegou cedo. Está se sentindo melhor? Meu chefe já adentrou o lugar, perguntando. Eu amo trabalhar na Construtora Carlos Ribeiro. As pessoas aqui são como uma segunda família para mim. – Sim, Sr. Ribeiro. Obrigada por perguntar. Sua agenda já está pronta e daqui a uma hora aproximadamente terá sua primeira reunião do dia. – Sempre tão eficiente, Tati. O que faria sem você para me ajudar agora que Brisa está tão distante? Brisa é a filha dele que se casou por conta de um acordo, mas que tinha encontrado a felicidade. Vivia muito bem com seu esposo com o qual tinha uma filha chamada Luiza. Ela era a sensação da empresa nas poucas vezes que aparecia. A menção dela me fez lembrar que logo teria que contar a seu cunhado que ele se tornaria pai. Marco é irmão de seu marido, Alfonso.
– O que é isso, senhor, não faço mais que minha obrigação. A manhã passou sem maiores problemas, além do pequeno enjoo que estava sentindo. Comprei os remédios antes de chegar ao trabalho e pareciam estar fazendo efeito. As sensações estavam mais brandas. – Tati, já está na hora de almoçar, vamos? Minha amiga Lúcia me chamou. Ela é a recepcionista da empresa e sempre almoçávamos juntas. – Claro, vou pegar minha bolsa. Comemos em um restaurante self service próximo do escritório como de costume. Minha mente estava em outro continente enquanto Lúcia não parava de falar. – Ele era enorme. Eu não sei como aquele troço coube em mim. Porra, aquele homem deveria ser colocado em uma exposição para mostrar a obra-prima criada pela natureza e... – Hein? O que? Desculpa, Lu, hoje não estou muito bem. A minha cabeça está cheia. – Oh, querida, posso te ajudar em alguma coisa? Senti sua falta ontem, já está melhor? – Infelizmente ninguém pode me ajudar, mas não é nada com que precise se preocupar. Você estava falando sobre quem? Eu conheço o cara? Continuamos a conversa sobre um homem com quem ela estava saindo e tentei me concentrar durante o maior tempo possível.
Tudo transcorreu bem durante o dia no escritório e logo já era hora de ir para casa. O enjoo havia passado pela tarde e a única coisa que estava me consumindo era saber que tentaria falar com Marco ao chegar. Na entrada de casa, senti um cheiro delicioso que vinha da cozinha. Entrei e minha mãe me recebeu com um grande sorriso, dizendo que tinha preparado um jantarzinho para nós. – Ah, mãe, estou realmente precisando de todo esse carinho. Ela me puxou para o sofá e encostou minha cabeça em seu ombro. – Eu sei, filha. Eu sei. – Sabe? – Você acha que não percebi que algo estranho estava acontecendo com você? Que tipo de mãe seria se não tivesse percebido? – Então você já desconfiava? Por que não comentou? – Eu a via enjoando pela manhã e tendo mudanças de humor. Já tive duas gravidezes e sabia que logo iria descobrir. – Estou tão confusa, mãe. O que você acha que devo fazer? – O primeiro caminho é contar para o pai, querida. Ele tem o direito de saber.
– Eu não quero que ele se sinta preso a mim por causa de um bebê que nenhum de nós planejou. – Não planejaram, mas está sendo gerado dentro de você e terão de conviver com esse fato. Uma criança é um elo para a vida toda independente de ficarem juntos ou não. – Ah, mãezinha, você tem razão. – Sabe que está realizando um sonho meu não é, querida? Se seu pai estivesse vivo, também estaria muito feliz. – Saber que tenho o apoio da minha família é o combustível que está me movendo desde que recebi a notícia. – Sempre, querida. Sempre. Tomei um banho enquanto a minha irmã chegava da faculdade. Jantamos todas juntas e consegui me desligar dos problemas por um tempo. As duas estavam mais que animadas com a chegada de um novo membro à família e já faziam suas apostas para o possível sexo e nomes de bebês. Depois de jantar, fui para o quarto. Deitei em minha cama, buscando coragem para ligar para Marco e lhe contar. Se eu não fosse tão covarde, pediria para que viesse ao Brasil para conversarmos pessoalmente, mas sei que não terei forças para segurar esse segredo comigo por tanto tempo. Terá que ser por telefone mesmo.
Fiquei olhando para o teto e senti que a minha visão estava ficando nublada. Com o telefone na mão, fui tomada pelo sono que veio seguido de um sonho misturado a lembranças. Eu tinha acabado de sair da renovação de votos entre Brisa e Alfonso. Marco me arrastou para um quarto do hotel mais próximo e me encurralou de frente à parede. Ele cheirava a minha nuca enquanto arrepios tomavam o meu corpo. – O que está fazendo comigo? Você tem um corpo que foi feito para ser fodido. Quer que eu te foda, Tati? – Sim, Marco, por favor. Ele esfregou sua ereção dentro da calça em minha bunda, enquanto seus lábios brincavam desde a minha orelha até a base da minha nuca. Seus dedos esmagaram meus mamilos, fazendo que com minha vagina ficasse encharcada implorando para que fosse fodida. – Eu estava com saudades do seu gosto. Nesse momento, ele me virou, capturando os meus lábios em um beijo ambicioso. Eu sentia que ele queria tudo de mim e eu estava mais que disposta. Seus dedos foram substituídos por sua boca e Marco passou a chupar os meus seios, me levando à loucura. Arqueei o meu corpo, pressionando o seu pau, buscando algo que me trouxesse o alívio que eu tanto precisava.
– Querida, eu quero que aproveite muito comigo, pois quando tiver terminado, sua bocetinha apertada estará destruída e cada movimento seu irá te lembrar quem esteve aí dentro. Ele se abaixou e eu já sabia onde sua boca iria parar. Eu já me contorcia em antecipação, sabendo que a tortura valeria a pena. Chupou o meu clitóris por bastante tempo, me levando à borda o tempo todo. Quando percebia que estava prestes a gozar, ele parava. – Marco, não faça isso. Eu preciso... – Calma, minha rainha, quanto mais eu te provocar, melhor será o gozo. Você vai alcançar outro nível de prazer. Mordiscava, lambia, chupava e fazia mágica com os dedos. Eu puxava sua cabeça ainda mais para perto, como se isso fosse possível. Rebolava em sua boca, fazendo com que sua língua deslizasse entre meu clitóris e minhas dobras. Um gemido escapou de meus lábios. Eu precisava me liberar. – Agora, querida, me dê seu prazer. Quero senti-lo em minha boca. Meu corpo parecia explodir em mil pedaços, quando fui tomada por um gozo de abalar o universo. Consegui alcançar um clímax profundo e duradouro. Apenas Marco havia extraído tanto de mim. Eu estava estragada para qualquer outro depois dele. Seu olhar estava fixo em minha direção de forma predatória. Meus lábios foram tomados com paixão e voracidade. Suas mãos se
apressaram em empurrar as alças do meu vestido e me deixar apenas de lingerie. Ele se afastou para me olhar, seus olhos dilatados, mas não demorou com o escrutínio. Precisava me possuir e eu precisava ser possuída. – Que Deus me ajude, acho que nunca terei o bastante de você. Ele falou, tirando a minha calcinha e se apressando para baixar a calça e colocar um preservativo. Adorava olhar o seu pau cheio de veias sobressalentes que me davam água na boca. Marco era másculo da cabeça aos pés. Ainda de pé, ele estreitou nossa distância, puxando as minhas pernas em volta de sua cintura. – Diga que é minha, Tatiana. Diga que me pertence. – Sim, Marco, de corpo e alma. Sou sua desde o dia que te vi pela primeira vez. Meu amante me penetrou sem piedade, fazendo com que minha boceta queimasse em um ardor delicioso. O meu corpo logo o reconheceu e se ajustou com perfeição ao seu membro. Suas investidas continuavam como se ele estivesse em uma missão. Seu pau me invadia de forma áspera, arrancando de mim sensações que nem eu mesma sabia que poderia ter. – Marco. – Falei em um sussurro. – Goze comigo, minha rainha.
Meu corpo obedeceu ao seu comando e imediatamente fui tomada por um nirvana tão alucinante que me fez acreditar que deveria ser uma amostra do paraíso. Ele me acompanhou e derramou todo o seu prazer dentro de mim. Com a respiração ainda irregular, fiquei admirando o espetáculo de homem que tinha acabado de me possuir. Eu queria mais dele. Eu queria mais com ele. Marco me olhou possessivamente e com os lábios quase encostados aos meus declarou: – Eu te... Toc, toc, toc. – Querida, está acordada? O quê? Quem? Oh, meu Deus, eu estava sonhando? – Eu estava dormindo, mãe. – Gritei. – Está tudo bem, Tati? Não, mãe. Não está nada bem você me acordar no momento que o pai do meu filho diria que me amava. – Pensei. – Está, dona Marlene. Boa noite! – Boa noite, filha. Qualquer coisa me chama. Meu coração batia acelerado e eu estava toda molhada pelo sonho delicioso. Esta noite eu teria que me tocar ou explodiria.
Escorreguei a mão em direção a minha entrada. Enfiei dois dedos lá e os melei com os meus próprios fluidos. Voltei para o meu clitóris e passei a massageá-lo, imaginado que aqueles dedos pertenciam ao homem dos meus sonhos. – Marco. – Chamei por ele em um gemido baixo. Minha mente se encheu de recordações de nós dois e, em pouco tempo, fui invadida por um clímax que me fez estremecer de prazer. Ainda ofegante, lembrei o que tinha planejado fazer antes de ser vencida pelo cansaço. Tinha que ligar para ele e soltar a bomba. A minha mãe estava certa, Marco tinha o direito de saber.
Capítulo 2
Ela
Peguei o meu celular e procurei por seu número na agenda. Faria uma ligação internacional, mas não podia pensar em dinheiro naquele momento. Eu tinha que compartilhar a notícia, uma vez que a informação não pertencia só a mim. Disquei o seu número. Chamou aproximadamente cinco vezes antes que a ligação fosse atendida. – Hola! – Uma voz feminina respondeu. – Boa noite, esse telefone é de Marco? – Si, Marco está ocupado. Quem gostaria? – Sou apenas uma amiga do Brasil e você, quem é? – Eu sou a namorada dele, chica. Senti um gosto azedo em minha boca e fui tomada por um daqueles enjoos, mas dessa vez com toda força. Namorada? Como vou contar ao filho da puta que será pai do filho de uma amante quando ele já tinha se comprometido com outra? Meu Deus, que confusão! – Ah, tudo bem. Avisa a ele que Tatiana ligou, por favor.
Desliguei o celular e saí correndo para o banheiro na tentativa de botar para fora tudo o que tive de digerir nesta ligação. O desgraçado só estava brincando comigo. Eu era apenas uma foda fácil que ele encontrou no Brasil. Imagino quantas vezes riu da minha cara por transparecer que queria algo mais com ele. Você é idiota, Tatiana. – disse para mim mesma. – Só você para acreditar que um homem lindo e bem-sucedido como Marco te daria alguma chance. Ainda pensou em posar de família feliz com ele. Patética! Já vi que a noite será longa, porém vou precisar dela para decidir o que fazer a partir de agora.
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No outro dia, acordei bastante sonolenta, pois quase não havia dormido. Quando consegui cochilar, o dia já estava para amanhecer e em pouco tempo, o despertador tocou. Pensei muito e decidi que ele ainda tinha o direito de saber que seria pai mesmo que já tivesse assumido outro compromisso. Um filho deve ser prioridade e se a garota realmente gostar dele, saberá lidar com a situação. Tenho que ser madura e não deixar que meus sentimentos influenciem a minha opinião. Há mais em jogo. Há um bebê que não tem culpa das escolhas erradas que fazemos na vida.
Meus planos para aquele dia eram de tentar me concentrar no trabalho e ligar para Marco novamente à noite. Tinha esperança de ter mais sorte dessa vez e que ele mesmo atendesse ao telefone. Depois de um tempo no escritório, o telefone sobre a minha mesa tocou. Era Sra. Laura Ribeiro avisando que passaria no escritório esta manhã. Informei-lhe qual seria o melhor horário para que tivesse mais tempo com seu marido e anotei o recado. Informei ao Sr. Ribeiro que sua esposa viria ainda esta manhã à empresa e ele pareceu bastante contente por isso. O amor deles depois de tanto tempo de casados era de dar inveja. A manhã no escritório estava transcorrendo sem imprevistos, me vi envolvida com os afazeres e consegui até mesmo esquecer dos meus problemas por um tempo. Havia muito que demandava a minha atenção. Sra. Ribeiro chegou e conversou um pouco comigo antes de entrar na sala. – Tati, como vai? Linda como sempre. Carlos me falou que não esteve muito bem esses dias. Espero que esteja melhor. – Estou sim, Sra. Ribeiro. Foi apenas um pouco de cansaço, mas descansei e estou melhor. – Se cuide, querida. Carlos pode me receber agora? – Sim, senhora. Ele já a aguarda. Entrou sem ser anunciada. A porta do escritório continuou aberta e dava para ouvir que a conversa entre eles era descontraída.
Não tinha como ver tamanho companheirismo e não se imaginar tendo algo parecido um dia. Eu ainda acreditava que, no futuro, encontraria alguém que me amasse tanto quanto eu a ele. Não seria aquele que meu coração tinha escolhido, mas haveria alguém no mundo que faria os meus batimentos cardíacos acelerarem tanto quanto Marco consegue fazer atualmente. A luz do telefone acendeu e atendi já sabendo que era da sala do Sr. Ribeiro. – Tatiana, você poderia solicitar que tragam uma xícara de café para mim e um copo de suco para Laura? Peça alguns biscoitos também, por favor. – Sim, senhor, eu mesma providenciarei tudo. – Obrigado, Tati. Fui à copa e preparei uma bandeja contendo tudo o que meu chefe tinha me pedido e acrescentei mais alguns aperitivos. Havia pessoas que faziam esse tipo de serviço na empresa, mas não me custava fazer isso de vez em quando. Entrei na sala e mesmo tentando ser discreta, não pude evitar ouvir o assunto da conversa entre eles. – Brisa me ligou hoje contando as novidades sobre Luiza. Disse que os dentes dela estão nascendo e que às vezes, fica um pouco enjoada, mas que na maior parte do dia, está traquina e sorridente, tentando alcançar todos os objetos e colocá-los na boca.
– Eu terei que ver isso pessoalmente. Vamos programar uma viagem para o fim de semana, Laura. – Estou morrendo de saudades. Vamos, sim. Eu estava saindo da sala, quando Sra. Ribeiro me chamou de volta. – Tati, você ainda está saindo com o irmão de Alfonso? Como é mesmo o nome dele... Ah, sim, Marco. – Não, senhora, faz um tempo que não o vejo. Somos apenas amigos. – Aquele menino não toma jeito, não é? É tão lindo e as garotas ficam loucas tentando levá-lo ao altar. Alfonso já disse que ele não pretende se casar tão cedo e a única forma de fazê-lo mudar de ideia seria caso uma dessas aproveitadoras engravidassem dele. Eu acho um absurdo esse tipo de mulher que usa um bebê para prender um homem. Eu tinha que sair daquela sala o mais rápido possível. Eu não tinha controle emocional para ouvir mais nenhuma palavra. – Com licença, preciso voltar à minha mesa. Saí correndo para o banheiro e nem o efeito dos remédios que estava tomando conseguiu controlar a minha ânsia de vômito. Coloquei tudo para fora e percebi que alguém entrava no banheiro. – Tati, o que está acontecendo? Você está passando mal?
Ela segurou meus longos cabelos enquanto a minha alma descia pelo vaso sanitário. Quando consegui me controlar, fechei a tampa e sentei sobre ela, abaixei a cabeça e as lágrimas começaram a rolar livremente. – Eu vou ficar bem, Lúcia. – Tem certeza que não quer ir a um hospital? Você está pálida, minha amiga. – Não, sem hospitais. Você poderia me deixar um pouco sozinha? Eu prometo que ficarei melhor em instantes. Eu só preciso desabafar e mais tarde converso com você. – Se é o que deseja..., mas se demorar, volto para ver se está bem. A minha amiga saiu e me deixou sozinha com meus pensamentos. O que eu faria agora, meu Deus? Eu não poderia prendêlo em uma cilada de casamento só por uma questão de honra. Não quero ser a única a amar o meu marido. Quero ser amada na mesma intensidade. E se ele achar que engravidei de propósito, que fiz um plano ardiloso para levá-lo ao altar? Eu seria sempre apontada como aquela que deu o golpe da barriga para prender o noivo. Não, não e não. Pelo meu bem e pelo bem do meu filho, não posso deixar que ele saiba. Marco faria a coisa certa pelos motivos errados, nenhum de nós seria feliz com isso e meu filho não teria um lar.
Lavei meu rosto e respirei fundo, tentando fazer com que meu corpo parasse de tremer. Eu precisava ser forte para tomar as melhores decisões e em nenhuma delas estava a minha felicidade. Ao menos eu não tornaria alguém mais infeliz. Fui até a minha mesa buscar meu nécessaire, escovei os dentes e refiz minha maquiagem. Me olhei no espelho e o que vi lá foi uma mulher completamente diferente daquela sonhadora de antes. A mulher que me olhava havia amadurecido do dia para a noite e teria responsabilidades para cuidar a partir de agora. Os sonhos teriam que ficar na gaveta por um tempo. Quem sabe não viriam à tona um dia novamente? Voltei para o trabalho e nem ao menos saí para almoçar apesar da insistência de Lúcia. Fiz um lanche lá mesmo e me entreguei aos afazeres. No final da tarde, aceitei o convite para um happy hour com minha amiga. Eu precisava conversar com alguém que não conhecesse Marco. Talvez uma opinião de uma pessoa de fora iluminasse a minha mente. – Vai tomar o quê, Tati? Vinho, cerveja... – Não, apenas um suco de laranja. – Hoje é sexta-feira e você vai tomar apenas um suco? Deixe-me te lembrar que não trabalharemos amanhã. – Minha amiga tentou quebrar o clima.
– Se eu conseguir manter um suco no organismo, já me dou por satisfeita. – Você tem me deixado preocupada ultimamente. Não vai me contar o que está acontecendo? – Em resumo, estou grávida de um homem que não tem qualquer compromisso comigo, que não me ama, tem pavor de casamento e que tem princípios morais que o forçaria a um matrimônio caso descobrisse sobre a minha gravidez. – Porra! Era aquele cara com quem estava saindo, que inclusive a levou para a Espanha? – Ele mesmo, o cunhado de Brisa. Não sei que merda faço agora. Se eu contar, ele e todos que nos conhecem podem achar que planejei um golpe, além do fato de que nenhum de nós estaria feliz em um casamento de conveniência. Se eu não contar... – Não, Tati. Você precisa contar a ele. Independente do fim que essa história tenha, ele precisa saber que será pai. Um dia seu filho também cobrará isso de você. No século atual, ninguém se casa porque está grávida. Você tem direito a escolher, é livre. – Ele tem dinheiro e poderia tentar tirar a criança de mim, além de tudo, tem namorada e não gostaria que meu bebê fosse visto como o fruto do casinho que seu pai teve. A sociedade a qual Marco pertence pode ser muito cruel. – Oh, querida, sei que você tem todos os motivos para tentar se proteger, porém não tem o direito de guardar essa informação para
você. Não é uma questão de escolha, mas de decisão. Espero que decida dar uma oportunidade a ele. – Ainda tenho bastante tempo pela frente para descobrir qual o melhor caminho. Não quero agir precipidamente. Fiquei mais um tempo com Lúcia, ouvindo música ao vivo e tomando suco, enquanto ela tomava uma taça de vinho. A deixei em casa, que não era muito distante da minha e por volta das oito já estava em meu quarto, me preparando para um banho. Entrei na banheira e passei a alisar a minha barriga ainda sem vestígios de gravidez. Dizem que os bebês nos ouvem desde o ventre. Resolvi conversar com ele. – Meu grãozinho, não tenho dúvidas de que será uma criança muito forte, pois enfrentou tudo e a todos para vir ao mundo. Você está deixando a mamãe em apuros, mas já o amo, pequenino. Por enquanto, papai não pode saber sobre você, mas vamos contar para ele no futuro, está certo? Fiquei bastante tempo lá, jogando água em minha barriga e conversando com o meu príncipe ou minha princesa. Saí do banho e me enrolei em um roupão. Deitei na cama e liguei a televisão, porém a minha mente não conseguia se prender a nada que estava passando. Só conseguia lembrar de Sra. Ribeiro dizendo: “Alfonso já disse que ele não pretende se casar tão cedo e a única forma de fazê-lo mudar de ideia seria caso uma dessas aproveitadoras engravidassem dele.” Aproveitadora. Era assim que eu seria vista.
Minha cabeça estava em turbilhão quando o meu celular tocou. Olhei para o identificador e vi que a ligação era de Marco. Oh, meu Deus, o que eu faria gora? Deixei que tocasse até cair na caixa de mensagens e me senti aliviada quando não voltou a tocar. Meus olhos estavam grudados na tela do visor por alguns minutos, quando novamente percebi que a luz acendia. O que será que ele queria comigo? Será que a namorada dele havia lhe dado o recado? Deixei que tocasse mais uma vez. Saí do quarto, deixando o celular para trás. Fui até a cozinha tomar um copo de água e voltei determinada a desligá-lo. Não precisei entrar no quarto para ouvir o toque me convidando a atender. Aceitei ao convite desta vez, sem saber o que lhe diria. – Alô! – Tati, por que demorou tanto para atender? Já estava começando a acreditar que me evitava. – Oi, Marco, como vai? – Muito bem, minha rainha, e com saudades. Estou planejando ir ao Brasil para te encontrar, o que acha? – Vir ao Brasil? Você tem negócios a tratar aqui? – Não. Pretendo ir ao Brasil só para te ver ou poderia mandar as passagens para que viesse à Espanha. Não está com saudades?
– Olha, Marco, eu posso ter deixado essa impressão, mas quero que saiba que não sou uma qualquer que você apenas usa quando está com vontade. Eu mereço respeito e não sou a única. Você tem namorada e não gostaria que fizesse comigo o que está fazendo com ela. Acho que o melhor é esquecer o meu número de telefone. – Do que está falando, Tatiana? Por que está me tratando assim? Quando foi que te faltei ao respeito? – Não se faça de desentendido. Eu já sei de tudo. Quero que esqueça que um dia me conheceu e eu tratarei de fazer o mesmo. Espero, de verdade, que seja muito feliz, Marco. – Então é assim, Tati? Você vai terminar a nossa relação desse jeito? Pensei que estávamos indo por um bom caminho. Você simplesmente vai me dar adeus, passe bem? – Oh, Deus, para que tanto fingimento, porra? Eu não serei um casinho extra seu. Entenda isso. – Você quer um relacionamento sério? Por que não deixamos para ver no que vai dar? Eu sorri para mim mesma. Até aonde ele iria para tentar me enganar? – Chega, Marco. Até qualquer dia. Desliguei o telefone e me enrolei em meu próprio corpo como um bebê. Acabou. Eu tinha que buscar um meio de convencer o meu coração a aceitar esse fato.
Capítulo 3
Ele 1 ano depois...
– Onde está Luiza? Olha ela aqui! Eu brincava com minha sobrinha de quase dois anos de me esconder atrás do sofá. Com olhos atento, ela me procurava e sempre acabava encontrando. Seus risos eram contagiantes e me faziam cair na gargalhada também. Acho que nasci para ser tio. Não aguentava ficar muito tempo sem ver minha princesinha. Ouvi passos em nossa direção e quando ela viu o pai, saiu correndo para que ele a apanhasse no colo. Alfonso assim o fez e ela deitou sua pequena cabeça cheia de cachos castanhos no ombro dele. – Você leva tanto jeito com crianças, cara. Deveria ter o seu próprio filho. – Porra, essa é uma ideia que está começando a nascer na minha mente, mas ainda preciso de um pouco mais de tempo. A mãe do meu filho será a minha esposa e não pode ser qualquer uma.
– Não xingue na frente dela! Por falar em esposa, já tem uns meses que você namora Andréa, não é? Não tem planos de casar com ela? – Ainda é muito recente, vamos ver no que vai dar. Deve ter o quê? Cinco ou seis meses que namoramos. Ela é linda, porém não tenho certeza se é a pessoa certa para mim. – Cara, quando eu vi Brisa pela primeira vez, eu já sabia que ela seria a minha esposa. Tive a maior sorte do mundo do destino ter interferido. Se você não tem essa certeza, talvez deva rever seu relacionamento. Essa conversa me lembrou uma certa morena de olhos castanhos. Já tinha bastante tempo que não via Tatiana, mas ainda não havia conseguido me livrar de seu fantasma. Eu pensei que estávamos caminhando para um relacionamento. Pensei em ter encontrado essa mulher que meu irmão acabou de descrever, entretanto, sem maiores explicações, ela terminou tudo. Comecei a namorar Andréa alguns meses depois, já que ela tinha se tornado uma grande amiga quando eu mais precisei. Ela era minha confidente e conhecia toda a minha história com Tatiana. Com o passar do tempo, o meu coração não aquecia para mais ninguém e resolvi dar espaço apenas para a atração sexual como sempre foi com as mulheres. Eu ainda pensava em Tati e tinha sonhos regulares com ela e um pequeno menino andando de mãos dadas em minha direção. Sei que
isso era delírio da minha cabeça, pois sempre nos prevenimos e se houvesse o risco de eu me tornar pai, ela me contaria. – Peça um primo para ele, Lu. – Alfonso provocou. – Dá piminho, titio. – Um dia, minha princesinha. Um dia você terá um amiguinho para brincar. – Um dia... está certo! Até Clara e Benito já estão com um herdeiro a caminho e você sequer tem um compromisso sério. – Disse meu irmão. Clara é a melhor amiga de Brisa que se casou com Benito, produtor da banda brasileira No Return. Depois de muitos conflitos e até um sequestro no qual ajudei, tudo ficou bem e já tinham um bebê a caminho. – Estou namorando, não é o bastante? Fui salvo pela minha cunhada. – Pare de apertar a mente de seu irmão, Alfonso. Marco ainda é muito jovem, logo pensará em formar família. Disse, entrando na sala e tomando Luiza do colo do pai. – Isso, cunhada, convença esse chato de que tudo tem o seu tempo. O meu ainda não chegou. Ela sorriu para Alfonso que parecia se derreter apenas em olhar sua mulher. Eu vivi para ver isso. Meu irmão mulherengo se
transformou em um homem fiel, visivelmente apaixonado pela esposa e pela filha. – Vou deixá-lo apenas porque está me pedindo, sereia. – Falou, dando-lhe um abraço. – Ei, tem criança e visita na sala. Me dê Lu e vão para o quarto. – Agora, não. Vou levar Luiza para tomar um banho. – Brisa disse, se afastando com a filha no colo. – Foi bom Bri levar minha filha, pois preciso falar contigo, irmão. – Fale, então. – Você sabe que com o casamento, uma parte da Construtora Carlos Ribeiro ficou sob a minha responsabilidade e embora seja gerida pelo meu sogro, tenho receio de que alguém esteja lhe passando para trás. Alguns números não fecham e preciso ver isso de perto. – Certo, mas onde eu entro nessa história? – Eu estou muito atarefado com a nossa matriz aqui da Espanha e não posso me afastar agora. Você é tão sagaz quanto eu e conseguirá descobrir se estamos sendo roubados. – Porra, você consegue dar conta da matriz e das filiais sozinho? – Se eu precisar de ajuda, sempre tem o telefone ou avião para você voltar. Papai e Brisa me ajudarão também.
– Tudo bem, eu irei para o Brasil. Você ainda tem o apartamento lá, não é? Fazer descobertas pode demandar tempo e não vou morar em uma merda de hotel. – O apartamento é todo seu, maninho. Vai levar Andréa com você? Ainda não tinha pesado esse detalhe. Eu estaria de volta ao Brasil depois de mais de um ano e gostaria de levar a minha namorada comigo? A resposta era não. Teríamos de achar um jeito de conviver com a distância e nos encontrarmos em momentos pontuais. – Andréa tem compromissos com suas lojas de roupas e não tem disponibilidade para ficar muito tempo fora. Vamos conversar e viabilizar um meio de nos encontrarmos. – O motivo é esse mesmo ou seria por causa daquela garota que você conheceu no Carnaval de Salvador? Tatiana o nome dela, não é? Percebi que, na época, você ficou bastante mexido, a trouxe inclusive para a Espanha, mas depois de um tempo não a vi mais e nem te vi animado para voltar ao Brasil. – Você está esquecendo de um detalhe: foi ela quem terminou o lance que tínhamos. Eu não entendo até hoje, mas já desisti de entender. Não é esse o motivo pelo qual não vou levar Andréa comigo. – De qualquer modo, você vai encontrar a garota brasileira, pois ela trabalha na empresa Carlos Ribeiro, lembra-se? – E o que você quer dizer com isso? Eu já segui em frente e a essas alturas, ela também.
– Sei, certo. Converse direito com Andréa. Não quero causar problemas entre vocês. Como se estivesse adivinhando, meu celular tocou, mostrando o nome dela no display. Coloquei no viva-voz. – Diga, Andréa. – Baby, estou ligando para saber onde vai almoçar. A loja não está muito cheia e gostaria que fôssemos juntos. – Tudo bem, docinho. Estarei aí em no máximo uma hora. – Te aguardo, meu bebê. – Argh! Que nojo, vocês dois. ‘Docinho’, ‘meu bebê’, depois fala de Brisa e eu. Pelo menos não nos tratamos como duas crianças. – Vá se foder! Ela gosta de ser tratada assim e por mim, tudo bem. Vou almoçar com ela. Fui ao quarto de Luiza me despedir dela e de Brisa. Lu se agarrou em meu pescoço e não queria mais soltar por que eu estava saindo. Quando viu que eu iria de qualquer jeito, começou a chorar. Meu coração se apertava cada vez que tinha que deixar minha princesinha, mas me confortava saber que o amor que eu sentia por ela era recíproco. Fui ao shopping e logo vi minha namorada. Andréa é tão loira que às vezes parece que seus cabelos são brancos. Ela é alta, de corpo e rosto perfeitos e adora falar de roupas e sapatos.
Meus amigos brincam que namoro a Barbie. Não vou negar que sua aparência me atrai, mas ocasionalmente me sinto cansado de tanta futilidade, porém, acima de qualquer coisa, é uma grande amiga. – Baby, que bom que não demorou. Vamos? Logo chegamos ao restaurante e enquanto eu pedi uma massa bastante calórica, ela pediu apenas uma salada. Eu me exercitava, então não me preocupava muito com o que comia, mas Andréa contava cada caloria como se precisasse. Já era muito magra. Ela comia tranquilamente, lançando pequenos sorrisos em minha direção quando toquei no assunto: – Docinho, eu terei que passar um tempo no Brasil cuidando dos negócios da família. Há uma suspeita de que alguém esteja nos roubando lá. Vi minha namorada mudar de cor. – Você não pode ir para o Brasil. Por que você não fica na Espanha tomando conta da empresa enquanto seu irmão viaja? Os negócios lá não são da família de Brisa? Então o interesse maior é dele. – Andréa, eu não estou consultando você ou pedindo sua permissão. Estou afirmando que na próxima semana irei para o Brasil e enquanto não conseguir resolver os problemas lá, teremos que arrumar um jeito de conviver com a distância. – Não, Marco. Eu vou com você. Eu contrato um administrador competente que pode lidar com tudo na minha ausência.
A imagem de uma morena de cabelos e olhos castanhos passou por minha mente e o impulso de impedir minha namorada se tornou mais forte. – Andréa, meu anjo, não estou indo a passeio e talvez nem tenha tempo para te dar atenção lá. Tome conta de suas lojas e daremos um jeito, certo? Seus olhos se encheram de lágrimas. – Eu sinto que está se distanciando, bebê. Aquela brasileira vai fazer de tudo para tirá-lo de mim. – Chega de inseguranças, querida. Talvez eu nem a veja lá e caso aconteça, seremos adultos o suficiente para lidar com a situação. Não estou indo em busca de um encontro amoroso. Não sei se a finalidade das minhas palavras era mais convencer a minha namorada ou me convencer. Na verdade, eu não sei qual seria a minha reação caso reencontrasse Tatiana. Precisava lembrar que foi ela quem me deu um chute na bunda sem maiores explicações. Terminamos o almoço e fomos para o apartamento de minha namorada. Ficava situado em uma região privilegiada de Madri e, pelo tamanho, daria para comportar uma grande família. Bem maior do que ela precisava, pois morava só. Ela ficou em silêncio durante todo o trajeto e quando estávamos no espaço privado, se jogou em meus braços, me beijando e tirando a minha roupa, parecendo desesperada.
Segurei seus dois braços e fixei meu olhar ao dela. Minha namorada estava ofegante e havia medo em seus olhos. Medo da distância. Medo de me perder. E naquele momento, também tive medo. Eu tinha receio de fazer promessas que eu não pudesse cumprir, pois ainda que a minha consciência dissesse que eu deveria seguir em frente depois de tanto tempo, havia algo mais forte que me dominava quando eu lembrava que estaria de volta à Salvador. Fizemos amor como se não houvesse amanhã, sem palavras e sem promessas. Apenas a mistura de sentimentos falava em cada toque, em cada gesto, em cada sensação.
Capítulo 4
Ela
Esta manhã, saí correndo para o escritório com um aperto no coração por ter que deixar um pedaço de mim em casa. Amo o meu trabalho, mas se pudesse escolher, passaria mais tempo com o meu pequeno. Faz dois meses que a minha licença maternidade acabou e ainda não me acostumei a ficar longe daquele cheirinho delicioso de bebê e do sorriso mais lindo que já vi na vida. Acho que nunca me acostumarei. Lorenzo é a doce lembrança da linda e curta história de amor que vivi com Marco, e suas feições me lembram muito as de seu pai. É uma pena que tivemos que trilhar por caminhos diferentes. Talvez um dia, eu possa lhe apresentar seu filho. Talvez um dia, ele entenda os meus motivos e me perdoe. Estava atarefada enviando alguns e-mails quando percebi que duas mãos masculinas se apoiavam em minha mesa. – Finalmente hoje você vai aceitar almoçar comigo? Olhei para cima, a fim de reconhecer quem era o dono daquelas mãos. – Ai, Augusto, que susto você me deu!
– Não foi a minha intenção, juro que sou um bom garoto. E então? – Então, o quê? – O meu repetitivo convite. Hoje eu terei essa honra? Augusto Haggi chegou à empresa quando eu estava no segundo trimestre de gravidez e logo nos tornamos amigos. Ele trabalhava em uma das filiais e veio à Salvador para chefiar o departamento de contabilidade. Percebi seu interesse desde que descobriu que eu seria mãe solteira e até hoje tem insistido para que saia com ele. – Está bem. Se der tempo, iremos almoçar juntos. – Ufa! Até que enfim. Pensei que esse dia nunca chegaria. – Apenas não fique tão empolgado. Será só um almoço. – Claro, só um almoço. – Ele falou, fazendo sinal de jura com os dedos nos lábios. Saiu, me deixando continuar o meu trabalho. Ele até que é um cara bonito e bastante simpático, mas meu coração só tem espaço para uma pessoa neste momento: meu filho Lorenzo. A minha sorte de trabalhar em paz não durou por muito tempo, pois Lúcia logo se aproximou, querendo saber das novidades. – Ei, nem tente escapar. Eu vi que Augusto estava todo meloso para o seu lado. E aí, resolveu dar uma chance a ele?
– Que chance, Lu? Você está vendo demais. Ele estava apenas sendo gentil como sempre e me convidou para almoçar mais uma vez. – Me diga que dessa vez você aceitou. Por favor! – Tudo bem. Ok. Dessa vez aceitei lhe fazer companhia para o almoço e nada mais, entendeu? – Porra, aquele cara vai acabar conseguindo o que quer. Senti firmeza nele. – Você sabe, melhor que ninguém, que não tenho tempo para relacionamentos. Qualquer minuto de folga tem que ser dedicado ao meu filhote e estou muito feliz por isso. Nunca achei que fosse tão bom ser mãe. – Só não esqueça, querida, além de mãe, você é mulher. Consiga um tempo para si mesma. – Vou tentar pensar nisso no futuro. – Ok. Dê um beijo em meu sobrinho e depois quero saber de cada detalhe desse almoço. – Disse, colocando a última palavra entre aspas com os dedos. Finalmente consegui trabalhar em paz e, por volta das doze e meia, estava pronta para almoçar. Entrei na sala do meu chefe para avisá-lo que estava de saída. – Sr. Ribeiro, estou saindo para o almoço. Precisa de algo mais?
– Você pediu para o departamento de contabilidade separar os livros de contas? Um representante da Espanha chegará esta tarde e precisamos analisar os números. – Sim, senhor. Os livros já estão à disposição. Fico feliz em saber que terá mais alguém para compartilhar tantas responsabilidades. Com licença. Ele me deu o seu melhor sorriso envelhecido como resposta. Seu genro, Alfonso, tinha algumas ações na empresa e daria um apoio mais que bem-vindo, pois o Sr. Ribeiro estava sobrecarregado. A chegada dele me lembrava o seu irmão, mas estava despreocupada, pois somente Lúcia sabia quem era o pai do meu filho na empresa e ela não diria a ele nem a ninguém sem minha autorização. Saí do escritório e Augusto já chegava para me buscar. – Vamos? – Claro, vamos! Fomos a um restaurante de comida oriental um pouco mais distante do que eu costumava ir na hora do almoço. Fomos muito bemrecebidos e logo fizemos os pedidos. Augusto era muito agradável e eclético nas conversas. Falamos sobre a empresa, assuntos cotidianos, meu filho e relacionamentos. Ele me contou que já foi noivo, mas a relação ficou desgastada e ambos concordaram que era melhor terminar.
– E você, Tati, não deu certo com o pai do seu filho? Ninguém nunca havia me perguntado tão diretamente, embora sempre tivesse percebido a curiosidade no olhar das pessoas. – É isso, não deu certo, pois tínhamos metas diferentes. Filho e casamento não estavam nos planos dele. – Acho que viverei mil anos e não vou conseguir entender como alguém não teria planos de construir uma vida com você. – Infelizmente, nem sempre fazemos as mesmas escolhas, não é? Me perdoe, Augusto, mas preferiria não continuar falando sobre ele. – Sem problemas. Acho mais interessante falar sobre você. Quais são os seus planos além de ser mãe de um lindo bebê? – Sem planos no momento, apenas vivendo um dia após o outro. – Sei, espero que ao menos encontre espaço para almoços com amigos eventualmente. Continuamos a conversa de forma descontraída e ri muito com as histórias hilárias que ele me contava. Comemos, pedimos sobremesa e tomamos um cafezinho. Adorei o restaurante. Vou chamar Lúcia para virmos almoçar aqui qualquer dia. Resolvemos voltar para o escritório após uma hora e meia fora. Ele me conduziu até a minha mesa e ficou parado, me olhando. – Obrigada, Augusto, pelo almoço e pela companhia. Você tem muito bom gosto, o restaurante é maravilhoso.
– Sou eu quem agradece. Estou à sua disposição para voltarmos lá. Augusto se inclinou, vindo em direção a mim. A princípio, fiquei nervosa, acreditando que me roubaria um beijo, mas seus lábios mudaram de direção e encontraram a maçã do meu rosto. Fomos interrompidos pelo som de uma tossida rouca. Olhei para trás dele, a fim de identificar que mais estava naquele lugar e, repentinamente, me senti como se tivesse sido jogada em um abismo, sem nada que me mantivesse a salvo. Marco estava parado, correndo seus olhos de mim para o meu amigo de forma acusadora. Oh, meu Deus, o que ele fazia aqui? Não era seu irmão quem viria? Eu precisava me controlar. O pior dos meus pesadelos estava acontecendo, mas com sorte, não seria por muito tempo. Continuava lindo e meu coração logo reconheceu seu dono como um cachorrinho abanando o rabo. – Eu não sabia que a empresa já estava permitindo namoro em suas dependências. – Ele provocou. Augusto virou em direção a Marco como um animal felino que se prepara para defender seu território. – Quem você pensa que é para chegar aqui falando desse jeito? – Meu amigo inquiriu.
Marco não moveu um centímetro para lhe responder, pelo contrário, o ignorou e fixou sua atenção em mim, como se esperasse uma resposta da minha boca. – Você é o representante da Espanha que o Sr. Ribeiro está esperando? – Tentei amenizar o clima, tentando tratá-lo de modo profissional. – Ah, então você é o cara que o chefe está esperando para olhar os livros, não é? Independente de quem seja, deve desculpas a Sra. Carvalho pelo modo como falou. Augusto continuou sendo ignorado por Marco, que não desviava os olhos de mim. – Anuncie a minha chegada, por favor, Tatiana. Carlos já deve estar me esperando. – Claro, farei isso imediatamente. Ainda assustada, informei ao meu chefe que o irmão de seu genro havia chegado e ele solicitou a sua entrada. Me senti encurralada entre dois homens me olhando e medindo forças sem dizer uma palavra. Marco resolveu ir para a sala, mas antes virou e me falou: – Mais tarde preciso falar com você, Tatiana. Antes que eu respondesse, repetiu: – Mais tarde.
Seu tom de voz dava uma ideia de que havia milhares de promessas e por um momento me deixei levar pela doce ilusão de um recomeço, contudo um fio de razão me chamou de volta e deixei com que minha mente ganhasse essa batalha. Marco foi um fogo com o qual me queimei. Era um fogo com o qual não me queimaria novamente. Augusto permanecia em pé me olhando como se medisse o meu comportamento. Eu sou daquele tipo que transparece tudo no rosto e tenho dificuldades de esconder reações. Ele balançou a cabeça ironicamente, como se tivesse entendido tudo e me deu o beijo no rosto que havia tentado anteriormente. – Obrigado mais uma vez por ter aceitado o meu convite. Espero mais almoços prazerosos como este. Vou para a minha sala. Falou comigo como se um melodrama não tivesse acabado de acontecer naquele espaço. Fiquei sozinha em minha mesa, tentando descobrir o que Marco queria comigo e o que eu faria a partir de agora.
Capítulo 5
Ele
Quem diabos era aquele homem que estava quase a beijando quando cheguei? Claro que imaginei que ela já teria outro namorado, já que tem mais de um ano que não nos vemos. Só não imaginava que estaria tão perto dela. Droga! Vou ter que conviver com ela esfregando a porra de um namoradinho na minha cara toda hora. E se não for mais namorado? Ele a chamou de senhora Carvalho. Será que já está casada? Que porra você tem a ver com isso, Marco? Concentre-se! Você veio ao Brasil a negócios e não para reviver a ilusão de um romance. Além de tudo, você tem uma namorada linda e apaixonada te esperando na Espanha. Consegui fazer mil perguntas a mim mesmo apenas segundos depois de tê-la deixado em sua mesa. Não esperava que um reencontro fosse me abalar tanto. Entrei na sala e Carlos Ribeiro estava de cabeça baixa folheando um livro. Percebeu a minha entrada e se levantou para me cumprimentar. – Marco, é bom vê-lo. Espero que tenha feito boa viagem.
– O prazer é recíproco. A viagem foi tranquila como sempre. Alfonso estava muito atarefado com a companhia lá na Espanha e pediu para que eu viesse. Entendo tanto quanto ele dos negócios, então espero ajudar. – Antes de falarmos de negócios, me conte como está a minha neta. Estou pretendendo visitá-la o mais breve possível. A saudade está me corroendo. – Luiza é a criança mais perfeita que já vi e muito inteligente. Provavelmente estarei tão saudoso quanto você logo, pois nunca passei mais de uma semana sem visitá-la. – Parece que você está descrevendo Brisa quando era pequena. Ela era muito inteligente e engraçada, e não havia uma pessoa sequer que não se encantasse por ela. – Acho que minha sobrinha herdou muito de Bri, sobretudo a beleza. Conversamos um pouco mais sobre a família e acabamos entrando nos assuntos de negócios. – Então, você desconfia que alguém pode estar fraudando os números de contabilidade. Por quanto tempo está desconfiado e teria alguém em mente? – Eu desconfiava de um funcionário que chefiava o setor e depois que ele não conseguiu me explicar alguns números, eu o demiti e contratei uma pessoa de minha confiança que trabalhava em uma das filiais. Você provavelmente não teve a oportunidade de conhecer Augusto ainda.
Ah, deve ser o merdinha que tentou me enfrentar. Quer dizer que ele não tinha tanto tempo assim aqui na matriz e é o responsável pela contabilidade. Terei contato com ele mais do que gostaria. – O conheci muito rapidamente. Estava conversando com Tatiana quando cheguei. – Então é dele que você vai cobrar explicações de tudo que passa pelo setor de contabilidade. Ele pode te ajudar muito e já está na empreitada de encontrar quem está nos sabotando, uma vez que outros funcionários têm acesso às finanças da empresa. Uma ideia me veio à mente. – Carlos, um dos motivos que me trouxe aqui foi de ver como está a saúde da empresa também. Gostaria que alguém me mostrasse os relatórios. – Claro, então deixemos o outro assunto para mais tarde e posso chamar alguém da administração para te mostrar os dados. Eu não queria que uma pessoa aleatória me mostrasse esses dados. Eu precisava de um tempo com Tatiana e era ela quem me mostraria. – Você não precisa incomodar uma pessoa da administração para isso. Tenho certeza que sua secretária tem essas informações e poderia me explicar tranquilamente. – Sim, Tatiana é muito competente e está sempre atualizada sobre todas as informações que compete à empresa. Tem sido o meu braço direito desde que Brisa casou e apesar de estar mais concentrada
em sua vida familiar agora, consegue conciliar muito bem com o trabalho. Aí está a confirmação. Parece que ela realmente está casada. Terei que descobrir o mais rápido possível, quem sabe essa informação me ajude a desfazer a inquietação que sinto quando a vejo. Carlos interfonou para ela, a chamando para vir à sala. Em segundos ela entrou, olhou para mim assustada e voltou a atenção para seu chefe. – Precisa de mim, senhor? Porra, garota, não faz uma pergunta dessas que eu fico tentado a arrancá-la desta sala e mostrar o quanto preciso. – Sim, Tati. Marco quer conhecer melhor como andam as ações e a vida financeira da empresa. Gostaria que se reunisse com ele e lhe apresentasse. – Faria com todo o prazer, Sr. Ribeiro, mas acredito que tenha funcionários mais competentes para lhe dar as informações. Não, merda, você não percebe que eu quero que seja você? – Ninguém é mais capaz que você de dar uma visão da nossa empresa, além de mim, portanto, não vemos necessidade de chamar outra pessoa. Eu não precisarei de você mais esta tarde, então dê total atenção ao Sr. Javier. O rosto dela estava vermelho e sem muito esforço eu saberia interpretar que havia uma mistura de medo e desejo. Com um gesto, ela
me convidou a acompanhá-la e fomos para uma sala de reuniões um pouco distante do escritório. Deixei que entrasse primeiro e a segui, fechando a porta atrás de nós. A sala era bastante moderna, com uma grande mesa de vidro rodeada de dezenas de cadeiras em aço cromado. Mais ao canto, havia duas mesas de escritório com computadores e todo arsenal necessário para esse tipo de trabalho. Algumas estantes com livros decoravam o ambiente, dando um ar de sofisticação. O clima estava pesado com apenas nós dois na sala e ela resolveu quebrar o gelo: – Como vão Brisa e Luiza? Faz um tempo que não aparecem aqui. – Melhor impossível. Luiza está cada vez mais esperta e falando pelos cotovelos. Toda a família está a cada dia mais apaixonada. Seus olhos brilharam ao ver como eu falava de minha sobrinha. – Imagino. Sr. e Sra. Ribeiro não falam de outro assunto quando estão juntos e todos ficaram enlouquecidos quando elas vieram aqui na empresa. – Minha sobrinha tem esse poder sobre os espanhóis também. – Então, vamos aos balancetes, não é? Ela começou a me explicar, contudo o único número que estava me interessando naquele momento era o do tempo que não a via. Mais
de um ano sem olhar naqueles olhos, sem ver aquele rosto, sem beijar aquela boca. Fiz um escrutínio por todo o seu corpo que parecia um pouco mais cheio de curvas. Seus seios estavam maiores e mais desejáveis, perfeitos para serem acariciados e adorados. Seu rosto continuava o mesmo, lindo com toda a sua feminilidade definida, dentes perfeitos e uma boca que convidava ao prazer. – ... Como você pode ver, apesar de alguns problemas, a empresa está muito consistente no mercado e... – Janta comigo esta noite? – O quê? – Repito o convite: janta comigo esta noite? Pareceu assustada a princípio, mas logo vestiu a máscara de executiva novamente. – Olha, Marco, não estou aqui para brincadeiras e se realmente quiser conhecer os números da empresa, estou mais que disposta a te dizer o que sei, porém se o objetivo for outro, me deixe voltar ao trabalho. – Para que tanta defensiva, Tatiana? A impressão que me deu logo que cheguei não foi tão profissional quanto esta que está tentando me vender. – Peço desculpas se deixei uma má impressão, mas o fato era que estava apenas me despedindo de um amigo com o qual almocei.
– E o que seu marido acha desses almoços com amiguinhos do trabalho? – Marido? Do que está falando? Embora não seja da sua conta, eu não sou casada. – Ah, então aquele contador não é apenas amigo. Ele é seu namorado, não é? – Marco, aonde você quer chegar? Saiu da Espanha apenas para saber sobre a minha vida? Não precisava ter se dado ao trabalho. A sua namorada sabe o que está fazendo aqui? – Não coloque a minha namorada nessa história. A conversa é entre eu e você. – Olha só, estou em meu local de trabalho e aqui não é lugar para esse tipo de conversa. Você me chamou para te apresentar os dados, então vamos a eles? – Concordo. Aqui não é lugar para conversarmos. Saia comigo esta noite. Vamos jantar fora. – Você é louco? Acha que pode aparecer depois de um ano e num estalar de dedos quer que eu vá jantar contigo como velhos amigos? – Por que não? Que eu saiba, quem não quis mais papo comigo há um ano foi você. Tem algo que a impeça de ir? Percebi que ela ficou pensativa, porém tentou disfarçar. – Não tenho nada que me impeça além da falta de vontade de jantar e de conversar com você.
– Não sei por que, mas sinto que está me escondendo algo. – Mesmo que quisesse, não posso, tenho outros compromissos. – Se não é com o contador, então deve ser com outro. Quem é ele, Tatiana? – Oh, Deus, por que você não me deixa em paz? Eu não tenho marido nem namorado, mas tenho uma vida fora do trabalho que pertence unicamente a mim. O que eu faço no meu tempo livre não é problema de ninguém. – Eu não acho que estou pedindo muito do seu tempo. É apenas um jantar entre amigos, como aquele almoço com o contador. Não estou a pedindo em casamento. Ela respirou fundo e com olhar confuso, respondeu: – Tudo bem. Eu vou jantar com você. – Finalmente! Podemos ir direto do escritório, se quiser. Fazemos um happy hour e depois podemos jantar. – NÃO! Eu preciso ir em casa, tomar um banho e me arrumar. Podemos nos encontrar mais tarde. – Está certo. Eu vou te buscar às oito da noite, pode ser? – Marque o lugar que estarei lá no horário. Vou com meu carro. – Não há necessidade, eu a deixarei em casa depois. Por que tanto medo, querida?
– Eu insisto, não precisa se dar ao trabalho. Não estou bebendo, então não vejo problemas em dirigir. Você ainda quer informações sobre a empresa? – Sim, claro. É para isso que estamos aqui, não é? Ela continuou explicando e fixei o olhar em sua boca que parecia falar em câmera lenta, me convidando para ser tomada. Nenhuma palavra dita fazia sentido naquela hora, pois fui remetido a um tempo que traria de volta, se tivesse o poder. Um imã me atraia em direção ao seu rosto e me peguei sendo levado a tomar seus lábios nos meus em busca de saciar a sede que sentia desde o momento que a vi novamente. Ela percebeu meu movimento e deveria estar tão atraída quanto eu, pois nada fez para me impedir. Minha boca se aproximava da sua quando fomos interrompidos por batidas na porta. Rapidamente nos recompomos e Carlos logo entrou, querendo saber em que ponto estávamos. Se percebeu algo, não demonstrou. Com o rosto corado, Tatiana continuou a explicação, sendo interferida pelo seu chefe, que me dava mais detalhes. Dessa vez, me esforcei para controlar as emoções e me concentrei no objetivo que me levou ao Brasil. O que eu tivesse para conversar com Tatiana, ficaria para mais tarde. Eu precisava preencher algumas lacunas que ficaram no passado e entender o que aconteceu conosco na época, talvez assim eu conseguisse seguir em frente.