Destinada a Você: O Acordo

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LUCY BERHENDS _________________________ __________________________

DESTINADA A VOCÊ O ACORDO


Copyright © Berhends, Lucy Todos os direitos são reservados à autora, sendo esta uma produção independente. É uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 2ª Edição. Formato digital Agosto de 2015 Capa e revisão: Lucy Berhends Foto da capa: pixabay.com. - atribuição não requerida luberhends@bol.com.br facebook.com/autoralucyberhends


Querido leitor,

Dedico esta obra a todos vocês que prestigiam os novos autores nacionais. É de conhecimento público que um dos maiores problemas do Brasil é a falta de investimento em cultura, porém, ultrapassando todos os obstáculos, atualmente surgem bons escritores e grandes leitores. Este romance se passa nas cidades de Salvador, na Bahia e Madri, na Espanha. Ele possibilitará que você faça um passeio com os personagens por belíssimos lugares. Espero que se apaixonem por Alfonso e Brisa como eu me apaixonei. Aprecie a leitura, Lucy Berhends


Sinopse

A empresa da família Ribeiro passava por dificuldades e precisava do apoio da família Javier. Eles fizeram um acordo para reerguer a companhia que envolvia um matrimônio entre seus filhos. Brisa estava determinada a mudar os termos do acordo e convencer seu prometido de que poderiam encontrar outra solução. Alfonso estava mais do que disposto a seguir o acordo à risca. Uma vez que sua família empenhou sua palavra, ele não voltaria atrás. Eles encontrariam uma saída para esse impasse? Seria possível que o amor nascesse de uma relação arranjada?


Prólogo

– Não! Nós não vamos fechar qualquer acordo sem que vocês nos deem garantias. Por que deveríamos investir em uma construtora que tem um mercado promissor, mas não é capaz de dar lucros a curto prazo? Esteban Javier questionou, buscando juntar todas as cartas na manga para que a transação saísse do jeito dele. Precisava ser um homem frio e calculista quando se tratava dos negócios. Não era assim que se construía um império? Quem tinha coração mole não chegava a lugar algum, assim pensava. – É verdade que não podemos estabelecer prazos para voltarmos a dar lucros, mas posso te garantir que temos uma equipe muito boa e faremos de tudo para que isso ocorra o mais breve possível. – Carlos Ribeiro respondeu. Javier se levantou da cadeira que ocupava e passou a circular pela sala. – Palavras, palavras... É só o que tem a nos oferecer como garantia? Sua palavra? – No momento, é tudo o que tenho, mas você pode pesquisar sobre minha idoneidade e da minha família. Verá que nunca agimos de má fé ou voltamos atrás em nossa palavra. Tudo o que for dito aqui ou assinado será cumprido à risca, Sr. Javier. – Eu não estaria aqui se já não tivesse pesquisado. Eu sempre sei com quem estou lidando e por isso já cheguei ao Brasil com uma proposta pronta. Eu sabia que a sua estratégia seria me mostrar um mercado promissor no futuro e é por causa disso que gostaria de nos reunir a sós. Apenas eu e você, Carlos Ribeiro. Todas na sala protestaram. As esposas achavam que tinham o direito de participar, os pequenos acionistas diziam que podiam ajudar a encontrar uma solução, a comoção foi geral, porém Javier não recuou em seus planos. A conversa só seguiria em frente depois que eles falassem de homem pra homem. Foram para uma sala de reuniões e Carlos o convidou para sentar-se.


– Confesso que estou curioso com a tal proposta. O que poderia te deixar mais seguro além de um mercado em expansão nessa área? – Eu te darei a resposta assim que você me responder outra. Até onde vai o seu amor pela sua família, Sr. Ribeiro? Carlos franziu sua testa e encarou o homem se perguntando que tipo de estratégias ele poderia estar usando para ter chegado a esse ponto. – Mas, que tipo de pergunta é essa? Se você realmente me investigou como diz, deve saber que para mim não há nada mais importante. A minha família está em primeiro lugar. Sempre. – Nem a empresa é mais importante? – De fato, não sei aonde você chegar, mas ainda assim vou continuar te respondendo. Não, nem a empresa é mais importante que ela. A minha família sempre foi e sempre será a minha prioridade. – Ótimo, eu só precisava confirmar essas informações. Então, não farei mais rodeios, vou direto ao assunto. Só existe uma maneira da minha empresa injetar recursos na sua. Eu quero firmar um acordo para termos uma parcela dela no futuro. Esse era o maior medo de Carlos Ribeiro. Ele sempre sonhou em construir uma empresa sólida e segura que se mantivesse na família de geração em geração como seu pai sempre quis e nunca conseguiu realizar. Não havia qualquer interesse em compartilhar suas ações com homens que não deram o seu sangue para vê-la de pé. Mesmo que tivessem dinheiro para mantê-la. Teria que buscar uma contraproposta. Urgente. – Vocês estão propondo sociedade? Eu lutei tanto para construir um patrimônio que levasse o nome da minha família e vocês estão fazendo essa proposta, mesmo sabendo que terão seu investimento de volta com juros e todos os direitos legais no futuro? – Sim, estou propondo sociedade e não, não pretendo tirar nem uma fatia do patrimônio da sua família. Ele ficou mais aliviado. Agora poderiam chegar a um acordo.


– Então não consigo entender. Seja bem objetivo no que está propondo. – Serei. O que estou te oferecendo é o seguinte: quero que no futuro sejamos uma família. Sei que você tem uma filha e eu tenho dois, porém o mais velho já está com dezesseis anos e durante gerações, os filhos primogênitos da minha família sempre casaram por meio de um acordo. É por isso que nunca deixamos de ser ricos, já que não havia espaço para aproveitadoras e Alfonso, meu filho, já cresceu sabendo como seria. – Espere, será que estou entendendo direito? Você está propondo que minha filha de oito anos se case com o seu filho? – Exatamente, mas quando se tornarem adultos, claro. – Então se eu aceitar um acordo em que minha filha Brisa assuma o compromisso de se casar com seu filho mais velho, você investirá na empresa. É isso o que quer dizer? – Carlos perguntou, pegando um lenço de seu bolso para limpar o suor da testa, fruto do nervoso que estava começando a se intensificar. – Sim. Eu poderia escolher centenas de famílias na Espanha e outras tantas pelo mundo. Qualquer uma se sentiria lisonjeada em ouvir essa proposta da minha boca. Conhecemos todos os nossos antepassados, todos vieram de uma prole tradicional e isso na Espanha ainda conta muito. – Você só pode estar ficando louco. Eu nunca colocaria minha filha em uma roda de negócios. Ela é o bem mais precioso que tenho e vai se casar um dia com o homem que amar. Aqui no Brasil não temos esse tipo de arranjo, Sr. Javier, e nem entendo como isso pode funcionar. Chega a ser ridículo ouvir sobre um acordo desses em plena virada de milênio. – Eu posso te garantir que funciona, pois eu sou prova viva disso. Amo minha esposa e daria o mundo a ela se preciso, mas a nossa relação não começou com amor envolvido. Primeiro vieram os interesses das famílias. Não é atoa que escolhi vocês, Carlos. Por sua filha estar no topo da sua prioridade é que decidi que ela poderia ser o melhor para o meu filho. – Se insistir nessa conversa, terei que pedir para que se retire. – Talvez se conhecer Alfonso, possa mudar de ideia. Ele é um garoto muito responsável e muito maduro para a idade que tem. Sabe exatamente como será seu futuro e nunca


discordou, sequer reclamou do que já estava predestinado para ele. Tenho certeza de que poderá fazer sua filha muito feliz. Carlos sentiu um desejo intenso de chamar os seguranças e colocar aquele homem para fora naquele mesmo instante, mas seus pensamentos o incomodavam dizendo que poderia estar fazendo a coisa errada se agisse assim. Brisa poderia se apaixonar por um rapaz que nem conhece? Esse tipo de relação poderia dar certo? Ele amargaria um arrependimento caso aceitasse? E se não aceitar, poderia se arrepender do mesmo modo? Ele precisava da ajuda de sua esposa para tomar essa decisão. – Percebo que está começando a pensar na minha proposta. No futuro você irá me agradecer, Carlos. Os filhos muitas vezes não sabem fazer escolhas, é dever dos pais ajudálos nesse processo. – Meu Deus, estou me achando um louco apenas por considerar pensar no assunto. – Chame sua esposa e converse com ela. É uma decisão que deve ser tomada em família. Laura Ribeiro ainda estava na outra sala de reuniões e ele pediu para que sua secretária a chamasse juntamente com Esperanza Javier. Ambas não demoraram a chegar. – Queriam nos ver? – Laura perguntou. – Sim, peço que se sentem e ouçam atentamente a proposta que fiz a Carlos. A opinião de vocês, especialmente a sua, Sra. Ribeiro poderá ser decisiva para o futuro de nossas famílias e das nossas empresas. – Disse Javier. Ele discursou sobre como a sua família era bem vista na Espanha e a sorte que qualquer mulher teria em desposar um Javier no futuro, tendo suas palavras endossadas por Esperanza. Usou de todos os artifícios persuasivos para convencer Laura Ribeiro que não parava de encarar seu marido com preocupação por perceber que ele poderia estar concordando com essa loucura. Quando terminou de propor o famigerado acordo, Laura deu um pulo de seu lugar e apontou um dedo na cara dele, com intrepidez.


– Nunca, entendeu bem? Nunca. Minha preciosa filha não está à venda e não será leiloada como um produto em promoção nesta mesa. Espero que tenham um bom retorno para a Espanha. Passar bem. Carlos também levantou e a segurou pelo braço. – Calma, Laura, ouça toda a proposta. Eu também fiquei arredio no começo, mas parei para pensar na possibilidade. – Você está considerando aceitar esse insulto? – Sente-se e ouça tudo o que tem a dizer. Sua palavra será a final e vou respeitar se não concordar. Ela me olhou com os olhos arregalados de surpresa e, puxou ar, respirando fundo antes de voltar ao seu lugar. Javier novamente explicou toda a situação, salientando as qualidades de seu filho e da família, e pediu para que não decidissem naquele momento. Ele gostaria que os Ribeiro tivessem a mesma confiança que os Javier já tinham por eles. – Então, posso marcar uma data para que conheçam Alfonso e tenham um período maior para se informarem sobre nós? Não estamos fechando o acordo ainda, todo o tempo que for preciso para que estejam seguros será respeitado. – Pode marcar, mas deixo claro de que ainda não estou convencida que um acordo desse tipo seja o melhor para a minha filha. Eu não posso acreditar que estou sendo persuadida a concordar com essa loucura. Estou ansiosa para conhecer esse garoto prodígio. Acho que daqui a um mês é tempo suficiente para conhecê-lo, não?


Capítulo 1

Ele

Dias atuais...

O dia não poderia estar mais perfeito. Uma linda mulher na minha cama, sem compromissos, sem promessas e sem amanhã. O que mais eu poderia querer da vida? – Assim, querido. Isso! Não pare. Oh, meu Deus! – Ela chiava em meu ouvido me deixando quase surdo. Se ela continuasse assim eu não duraria muito tempo. Esse sou eu. Alfonso Javier, executivo na empresa da minha família, tenho trinta anos e adoro sexo sem compromisso. Daqui a algum tempo, terei um acordo a cumprir, portanto aproveito minha vida de solteiro o máximo possível. Essa vida sem amarras está com os dias contados. A garota cavalgava sem parar em cima de mim, rebolando e soltando gemidos, enquanto o meu pau se afundava nela sem dó nem piedade, quase alcançando o seu útero. Fechei minhas mãos em concha sobre os seus seios, saboreando a maciez deles, provocando reações por todo o seu corpo, que intensificava os movimentos, fazendo-a pedir cada vez mais. Ela jogou a cabeça para a frente e se deitou sobre mim, espalhando seus cabelos longos pela cama. Puxei seus fios, colocando-os de lado, para que eu tivesse melhor acesso ao seu pescoço, tocando com meus lábios nessa área erógena. Seu corpo tremeu. Tomei um seio, depois outro em minha boca e segurei seus quadris, abrindo seus glúteos para aumentar as estocadas com ainda mais força em sua boceta. Eu sabia que ela estava perto e lhe daria o que veio buscar antes que eu encontrasse meu próprio prazer. – Venha comigo, princesa!


Senti que ela explodia quando suas paredes internas apertaram em volta do meu pau, então jogou a cabeça pra trás se abandonando a um êxtase fenomenal. A cena era muito excitante, mas eu ainda não queria gozar. Eu sempre dava tudo e sempre cobrava tudo. Eu ainda tinha muito o que explorar. – Gostou, putinha? Quer mais? – Ai, vai acabar comigo. Adoro homens resistentes como você, Alfonso. O que eu devo fazer? – Deite-se e levante seus quadris. – Ela fez como pedi e rocei um dedo em seu apertado cuzinho. – Você já foi fodida aqui, princesa? – Hum... já sim, mas não são todos os homens que sabem nos dar prazer dessa forma. Se você for tão bom aqui como foi antes, eu o deixo fazer o que quiser comigo. – Te garanto que não vai se arrepender. Troquei o preservativo e passei a massagear seu clitóris, iniciando todo o processo de preliminares novamente. Seu corpo estava tenso. Ela, com certeza, não teve boas experiências. Penetrei sua boceta molhada novamente, enquanto pressionava seu pequeno grelo, fazendo com que se contorcesse, engolindo o meu pau. Eu queria que ela implorasse, só assim eu a comeria por trás. Saí de dentro dela e puxei seus cabelos, trazendo seu rosto para a minha direção até que alcançasse sua boca. A beijei ao mesmo tempo que esfregava minha ereção em seu pequeno buraquinho, aumentando sua expectativa de me receber dentro dela. A antecipação sempre foi um poderoso afrodisíaco. – Alfonso... me foda. – Onde você quer ser fodida? – Aqui atrás... no meu cuzinho. Deixei seus lábios e voltei minha atenção para sua linda bunda que me provocava. Abri, separando-a em duas formas perfeitamente redondas e dei uma rápida lambida em seu núcleo, fazendo com que ela se contraísse.


– Assim eu não aguento, querido. Me coma de uma vez. Eu não obedeci. Lambi seu cuzinho, buscando passagem para a minha língua em seu pequeno espaço. Substituí minha língua por um, e depois dois dedos, na tentativa de deixá-la pronta para receber meu grande pau. A ponta da cabeça grossa e rosada forçou sua entrada, penetrei centímetro a centímetro e parei, em alguns momentos, para que se acostumasse à invasão. – Você é tão gostosa, princesa. – Está delicioso! – Foi sua resposta. – Tudo bem? Posso continuar? – Perguntei, já começando a me mover dentro de seu buraco esticado. – Sim, eu quero que continue. Passei a bombear fervorosamente, sentindo que seu ânus já estava cedendo e seu corpo começava a relaxar. A garota gemia e gritava, chamando o meu nome e pedindo por mais e eu não lhe poupava, remetendo profundamente, com força, levando-a a vibrar de prazer. Meus dedos foram para o seu clitóris e passaram a brincar ali encharcados em seus próprios fluídos. Levei-os até sua boca e ela chupou dedo por dedo, provando o seu próprio gosto. Eu já estava prestes a explodir de tesão. – Alfonso, eu não vou resistir mais. Acho que estou... Enfiei três dedos de vez em sua boceta e a provoquei ali, sentindo a fricção do meu pau sendo separada por apenas uma linha fina entre seu ânus e sua carne macia. – Goze pra mim, cachorra. Se deixe levar. Ela assim o fez, afundando seu corpo na cama e gritando de prazer como se estivesse se afogando e precisasse ser salva. Não resisti mais. A acompanhei em um clímax arrebatador, me derramando completamente dentro dela, e desabei sobre o seu corpo, ofegante e satisfeito. Assim, nos perdemos em mais uma aventura sem amarras. – Uau! Se for sempre assim, acabo me apaixonando. Quando podemos repetir a dose?


Meu sinal de alerta acabou de ligar. O que ela queria dizer com repetir a dose? Se for hoje ainda, não tenho problema nenhum em concordar, mas espero que não esteja fazendo planos futuros. – Você não está satisfeita ainda? Vamos descansar um pouco e daqui a pouco te dou um pouco mais do que precisa. – Eu o quero a toda hora, Alfonso, porém não estou me referindo a daqui a pouco. Pensei em quando for embora deixar meu número de telefone com você. Promete que me liga? Elas sempre têm que fazer esse tipo de perguntas? Por que simplesmente não aproveitam o momento e esquecem que existe amanhã? Droga, mulheres são sempre previsíveis. Não me leve a mal, mas pelo menos as que conheço são. A resposta que eu daria era padrão. Elas sempre saiam batendo os pés quando eu dizia que nunca anotava o número de telefone das garotas, que eu tinha compromisso e que até um dia, quem sabe. Quê? Você acha que sou um canalha? Nah, eu deixo tudo às claras antes de jogá-las em minha cama. Só omito o lance do compromisso porque é o trunfo que eu tenho para usar no final. Nem todas as garotas saem com caras comprometidos, não é mesmo? Eu ia começar com o meu discurso que sempre terminava em uma despedida, quando ouvi batidas na porta. Salvo pelo gongo! – Alfonso, você está aí? – Era a voz do meu pai. Que diabos ele queria? – Droga, Daniela, espera um pouco aqui. – É Graciela. Meu nome é Graciela. Maldición! O nome dela era o que menos importava agora. Precisava ver o que o meu pai tinha de tão importante para falar que não podia dar ao menos um telefonema. Vesti apenas uma calça confortável e me dirigi à sala, fechando a porta atrás de mim. – Olá, Sr. Javier, a que devo a honra da visita? Saudades do filhão?


Meu pai enrugou a testa e levantou uma sobrancelha, observando minha expressão de pós-foda, sem dúvidas deduzindo o que eu estava fazendo no quarto. Suas próximas palavras confirmaram. – Eu preciso conversar com você e não posso ser interrompido, portanto quem estiver aí, peça para que se retire. O motorista está lá embaixo e pode levar sua visita aonde quiser. Se eu não conhecesse meu pai muito bem, poderia contestar o seu pedido. Pedido não, ordem. Afinal, sou um homem de trinta anos, independente e estou em minha casa, mas sei que se ele está interferindo em minha vida pessoal é porque tem algo sério para falar. – Posso saber pelo menos qual o assunto, pai? Não poderíamos simplesmente ir ao escritório e conversarmos? – Não, Alfonso, preciso falar com você e é urgente. Respirei fundo e soltei, com força, todo o ar preso em meus pulmões. Nunca contestei esse acordo que minha família fez e não tinha dúvidas quanto a cumprir com minha palavra, mas vê-lo cada vez mais próximo de se materializar acabava com meu ânimo. Voltei para o quarto e me deparei com a garota mais que disponível para repetir a dose. Pena que dessa vez não daria para aproveitar mais um pouco. – Manuela, infelizmente a nossa brincadeira acabou. Preciso resolver algo urgente, mas tem um motorista à sua disposição lá embaixo. – Tem alguém aí? Quem é? – Meu pai. Ele precisa conversar comigo e parece que é importante. – Eu posso te esperar aqui, delícia. Não estou com nem um pouco de pressa. – Ela implorou com o olhar. – Gabriela, eu adoraria que ficasse, mas deixe-me te dizer uma coisa: eu tenho compromisso, princesa, e estou de casamento marcado. Meu pai deve ter vindo aqui justamente para falar sobre isso. – Você... você está brincando comigo? Por que me trouxe aqui então se já tem alguém?


– Pensei que estávamos na mesma página. Você não queria diversão? Era tudo o que eu podia oferecer. – Queria... e ainda quero. Eu não me importo que você tenha compromisso. Ficarei quietinha aqui no quarto. Prometo. Eu disse que nem todas as garotas saem com homens comprometidos, foi? Essa faz parte do clube do „não estou nem aí pra isso‟. Muitas mulheres são assim e são as que dão mais trabalho. E por falar nisso, essa é a hora que você percebe que não dá para continuar sendo gentil ou ela nunca vai ceder. – Não! Eu preciso que você saia agora! Bem, se um olhar pudesse matar, com certeza eu já teria partido dessa para melhor. – Eu vou, seu babaca. Não precisa me destratar. E meu nome é Graciela. GRA-CI-ELA! Mulheres! Se era gentil, elas grudavam. Se era direto, me tornava um babaca. Como entendê-las? Sai do quarto para ver a garota passar por meu pai espumando de raiva e senti uma pontinha de pena por eu não ter aproveitado mais. Espero que esse assunto seja realmente muito importante ou eu e meu pai teríamos uma conversa muito séria sobre minha privacidade. – Ah, filho, você não tem jeito. Sempre se aproveitando dessas garotas que não podem ter um futuro com você. – Posso te garantir, pai, que o proveito foi mútuo. A diversão valeu para os dois. – olhei para o meu pai, sorrindo de lado. – Então, confesso que estou curioso. O que o traz aqui tão repentinamente? Meus pais têm acesso à minha casa, já que a minha mãe prefere supervisionar os meus auxiliares domésticos pessoalmente. Coisas de mãe! E como nunca tive nada a esconder, meu pai também tem acesso irrestrito.


– Alfonso, você sempre soube que temos um acordo com a família Ribeiro e Brisa Ribeiro estará fazendo vinte e dois anos na próxima semana. Já é tempo de conhecê-la, querido. Eu sempre soube do acordo que foi feito entre as famílias Javier e Ribeiro e sempre fui orientado a não me envolver emocionalmente com nenhuma garota. Os acordos feitos pela família Javier sempre foram honrados. Inclusive o casamento de meus pais foi fruto de um deles, embora eles se amem. Parece antiquado que atualmente haja alianças desse tipo, mas isso ainda acontece quando se tem um grande patrimônio a zelar. – Pai, até onde eu saiba não havia idade estabelecida para que o acordo fosse cumprido. Procurou saber da família se ela estaria realmente disposta a casar agora? Não pretendo levar ninguém à força para o altar. – É verdade, não estabelecemos idade no acordo, pois não é algo que se possa determinar. Ela precisa estar preparada. Acontece que tenho informações de que a garota está buscando conquistar independência financeira, é braço direito do pai, concluiu a faculdade e tem falado em sair de casa. Você sabe que há muito em risco. Ela já teve alguns encontros, embora nada duradouro uma vez que também está ciente do acordo. Cada palavra de meu pai me fazia enxergar um letreiro pescando em letras maiúsculas “COMPROMISSO”. Não que eu relutasse para cumprir o acordo. Sabia que precisava fazêlo, mas com ele, vinha toda a tarefa de cuidar de uma família, fidelidade e todas essas coisas que acompanham o casamento. Passar a vida toda fazendo sexo com uma mulher só? Por favor, não me apedreje, contudo devo reconhecer que isso não está sendo nada atrativo. Respirei fundo ao perceber que chegara o momento de assumir minhas responsabilidades. Não que eu já não as assumisse. Ser executivo da Javier Empreendimentos e ter que lidar com grandes decisões diariamente é fogo. – Você vai ter que conquistá-la, filho. Estou informado de que ela está relutante em cumprir o acordo, acreditando que pode negociar com você sem que tenha que chegar ao matrimônio, mas eu e você sabemos que não voltamos atrás em nossa palavra.


– Ah, então a minha pequena prometida está relutante? Hum... isso está começando a ficar divertido. – Alfonso, o que está tramando? – Não disse que eu teria que conquistá-la? É o que farei. Quanto mais arisca ela for, mais terei prazer em amansá-la. – Ela é uma garota de personalidade forte, filho, mas está a cada dia mais linda. Você nunca quis conhecê-la pessoalmente. Por quê? – Eu sempre quis adiar o momento que ficaria preso a uma só mulher. Olhar para ela representava isso. Não saber como é o seu rosto, sempre me deu a liberdade de imaginar como poderia ser, de fantasiar. Espero que esteja certo e seja tão bonita quanto diz. Quanto à personalidade... pode deixar comigo. – A Bahia estará em festa por esses tempos e você foi convidado para participar. Poderia ser uma boa oportunidade. Por que não aproveita? – É exatamente o que farei. Vou ligar para o aeroporto e agendar minha viagem. Em quanto tempo o jato pode ficar pronto para eu partir?


Capítulo 2

Ela

– Ah, meu Deus, o que vocês estão aprontando? Onde eu estou? – Calma, filha, já estamos chegando. Se contarmos deixa de ser surpresa. Meus pais vendaram meus olhos desde que saí de casa e eu já estou começando a me agoniar. Adoro surpresas, mas ao mesmo tempo que estou com boas expectativas, começo a me preocupar, já que minha mãe está soltando pequenos soluços. Espero que sua emoção seja por um bom motivo. – Venha, querida, desça do carro devagar e nos deixe guiá-la. Sentindo meu coração palpitar rapidamente, deixei que eles me conduzissem para onde quer que eu estivesse indo. Ouvi o barulho de um elevador e repentinamente me pararam quando escutei o clique de uma porta. – Surpresa! Tirei a venda e vi todos os meus amigos reunidos em torno de uma mesa cheia de doces e salgados. Estou fazendo vinte e dois anos e não poderia ter presente melhor. – Como vocês conseguiram fazer isso sem que eu desconfiasse? Todos que eu amo estão aqui. Obrigada pela surpresa. – Agradeci realmente emocionada e me sentindo querida. – Pensou que tínhamos esquecido de você, não é? – Perguntou Clara, minha amiga. – Eu já estava começando a procurar por telefones de psicólogos, pois a depressão já estava chegando. – Disse aos risos a ela. – Exagerada. Você sabe que nunca esqueceríamos uma data tão importante. Nunca vou deixar ninguém ocupar o meu posto de melhor amiga. – Clara falou, em tom de provocação para que minhas outras amigas ouvissem. Ela é minha amiga desde sempre, pois as nossas mães se conhecem desde a infância.


– Parabéns, Brisa! Estou aqui caso o posto de melhor amiga fique vago, certo? – Brincou Tatiana, amiga e colega de trabalho. Os demais na sala riram e um a um veio me abraçar e desejar felicidades. – Obrigada mais uma vez. Não sabem o quanto aprecio estar compartilhando essa data com vocês. – Sorri para todos em agradecimento. – Bem, querida, acontece que essa não é a única surpresa. – meu pai disse olhando para minha mãe, que estava começando a soluçar novamente – como a minha menina já é adulta, eu e sua mãe decidimos satisfazer um desejo seu ainda que contrarie a nossa vontade... Minha mãe, muito emocionada, continuou falando: – Oh, querida, você sempre será nossa menina, mas o que estamos querendo dizer é que... compramos esse apartamento para você. – Para mim? Vocês querem dizer que... isso tudo aqui é meu? – Sim, minha menina, já é uma mulher e acho que deve aproveitar um pouco da sua independência antes que... você sabe. – Meu pai respondeu. Não. Eu não deixaria que esse tal de acordo atrapalhasse a minha felicidade nesse dia. Abracei meus pais e lágrimas desceram pelos meus olhos por me sentir tão amada e protegida por eles. Meu pai me deu um beijo no rosto e minha mãe enxugou uma lágrima que teimava a descer, levando todos a se comoverem com a cena. A mim, só restava sentir um misto de sensações: felicidades, saudades antecipadas da casa dos meus pais, sentimento de independência e da responsabilidade que a acompanha. – Pai, mãe, sou muito grata por terem posto os meus desejos acima dos seus. Sei que liberdade requer responsabilidade e farei por merecer o voto de confiança. Sou a filha mais sortuda do mundo por ter vocês como pais e a casa de vocês sempre será o meu lar. Eles sorriram, me abraçando ainda mais apertado e resolvemos aproveitar a noite, ouvindo música ambiente, conversando, saboreando as bebidas e os quitutes que eram servidos.


Meu apartamento era bem acolhedor, estava situado no Bairro da Barra, próximo ao Farol, em Salvador. Tinha uma sala de estar e de jantar maior do que eu realmente preciso, cozinha americana e três suítes. Já imaginava as noites do pijama com a assanhada da Clara. O apartamento ainda tinha pouca mobília, pois meus pais deixaram para que eu escolhesse. O melhor é que não fica muito longe da casa deles, que moram em uma região considerada nobre, o Corredor da Vitória, bairro da Graça. Eu gosto de saber que estou próxima, me dá maior sensação de segurança. As despedidas começaram a acontecer por volta das onze, restando apenas eu, meus pais e Clara. – É lindo, adorei! Nem acredito que tenho a minha própria casa. Eu não teria encontrado lugar melhor se tivesse procurado. É simplesmente perfeito. – Eu disse com os olhos cheios de lágrimas. – Assim como você, querida. Boa filha, estudiosa e com um futuro promissor na empresa. Simplesmente perfeita. – Meu pai falou, me deixando mais uma vez emocionada. – Eu senti falta de Ben em minha festa. Houve algum contratempo? – Perguntei, lembrando de alguém que ultimamente estava se tornando um pouco mais que um amigo para mim. Eu realmente tenho apreciado passar mais tempo com ele. – Ah, quase esqueço. – Clara foi até o quarto e voltou com um buquê de rosas amarelas na mão. – Ben iria me matar se eu esquecesse. Ele viajou e deixou isso para você. Percebi que os olhos de Clara brilharam ao falar nele. Peguei o buquê e cheirei. Li o cartão que dizia: “Como gostaria de estar com você nesse dia, mas estou viajando a trabalho. Espero em um futuro bem próximo te dar rosas vermelhas. Felicidades!” B. Meu rosto enrubesceu e me peguei tendo bons pensamentos sobre um futuro com ele. Mas antes de pensar em algo mais à frente com alguém, precisava tirar alguns obstáculos do caminho. Eu tinha que conseguir me livrar dessa armadilha do destino. Meu pai me tirou de meus devaneios.


– Brisa, você sabe que esse ano a nossa empresa é uma das patrocinadoras do Carnaval da Bahia e eu já não tenho mais paciência para participar dessas coisas. Tem um camarote reservado e gostaria que você representasse a construtora em meu lugar. Chame seus amigos para que se divirtam com você. Eu quero que aproveite bastante a vida, filha, mas com responsabilidade, pois você sabe que mais cedo ou mais tarde teremos um acordo para cumprir. Olhei para minha mãe que pareceu se entristecer um pouco. Maldito acordo! Amo meu pai e sei que na época o único jeito de salvar a empresa era por meio de uma aliança que garantisse a segurança das próximas gerações dos Javier e dos Ribeiro. – Preciso achar um jeito de mudar os termos desse acordo. Sei que na época era necessário, mas não quero me prender a alguém que nem conheço. Eu tinha visto algumas fotos do meu suposto futuro marido na internet. Na maioria, ele estava acompanhado por uma linda mulher. Ele é muito bonito, alto, moreno, olhos escuros e marcantes, porém é importante mais que beleza para manter um relacionamento. – Brisa, querida, sei que é difícil iniciar um relacionamento assim, mas vocês terão tempo para se conhecer antes dele colocar uma aliança em seu dedo e acredito que poderão ter muito em comum. – Disse meu pai. Assenti, já não querendo prosseguir com a conversa, porém cada vez mais convencida de que precisava fazer algo a respeito.

**********

– Uau! O camarote ficou perfeito, Bri, tenho certeza de que ninguém vai sair daqui reclamando. Pelo contrário, acho que você será requisitada para ser organizadora de eventos a partir de agora. – Ficou lindo, não? A empresa que contratei deve levar os créditos pela arrumação, embora eu tenha dito exatamente o que queria em cada lugar.


– Sabia que o mérito do bom gosto era todo seu. Hum... mas me conta. Convidou homens bonitos para ficar aqui ou só aqueles velhos casados que são amigos de seu pai? – O convite foi para empresários, imprensa e representantes políticos, Clara. Se dentre eles terá homens bonitos, eu não sei. Não escolhi através de um álbum de fotos. – Ah, espero que os empresários decidam mandar lindos representantes em seu lugar, filhos, sobrinhos, o que seja, mas que encha meus olhos. Hoje eu quero paquerar à vontade, como tem que ser no Carnaval. – É regra paquerar no Carnaval, é? Pois quanto a mim, estou ansiosa para que Ben consiga chegar a tempo de aproveitar a noite comigo. Ele é o único que vai encher meus olhos hoje. Clara bufou, fazendo biquinho e revirando os olhos. Às vezes acho que ela não gosta muito de Ben. – Ah, como você está chata. Eu devia ter chamado Jéssica para vir comigo. Jéssica é uma amiga que Clara fez na faculdade e de vez em quando saem juntas. É raro eu sair com elas, pois tem uma personalidade muito parecida com a de Clara e as duas juntas eu não aguento. – Devia mesmo. Por que não a convidou? – Ela está viajando com seu irmão lindo. – Certo. Venha me ajudar com os últimos ajustes. Daqui a pouco os convidados estarão chegando. O Carnaval de Salvador é a maior festa de rua do mundo. As músicas e ritmos são contagiantes, a mistura musical envolve axé, pagode, samba, reggae, música eletrônica e até forró. Alguns dos maiores cantores brasileiros se apresentam em trios elétricos, conduzindo multidões seja em blocos de Carnaval ou foliões pipoca – aqueles que não participam de blocos.


A empresa da minha família, Construtora Carlos Ribeiro, é uma das patrocinadoras da festa, o que além de dar visibilidade à marca, nos possibilita ter um camarote só nosso. Escolhi o circuito Barra-Ondina para aproveitar a folia. Convidei alguns amigos, alguns funcionários da empresa e alguns representantes de empresas que estão relacionadas à nossa. Contratei uma equipe de decoração, uma de apoio, uma de salão de beleza e massagem, e alguns DJs para dar mais uma opção musical além dos trios. Os convidados comiam e bebiam à vontade, o que me tranquilizava, pois foi uma das minhas principais preocupações. Os cantores que passavam sempre anunciavam a marca da construtora e alguns até ressaltavam a qualidade dos empreendimentos. Senti-me muito orgulhosa por representar a empresa. Olhei para os lados e observei que todos os convidados se divertiam e que tudo estava ocorrendo dentro do planejado. Isso me deixou mais confortável para aproveitar com meus amigos. Peguei uma caipirosca e tomei um gole, sentindo a mistura doce e azeda descer na minha garganta. Não estava acostumada a beber, então decidi ir devagar com a bebida. – Vamos lá, Brisa, vamos dançar. – Minha amiga me puxou para o meio do camarote onde havia algumas pessoas dançando. Resolvi extravasar e dancei bastante ao som de batidas mixadas. – Estou tão feliz, Clarinha! O sentimento é de que tudo está perfeito na minha vida e nada de ruim pode acontecer. Falei, com um pouco de esforço por causa da música alta. Tomei mais um gole da bebida e me senti mais leve para mexer ao som da música. – E não vai acontecer, cuidou tão bem de tudo. Vamos aproveitar. – Sorri e continuei dançando. Senti um arrepio e a sensação de que alguém estava me fitando e me seguindo com os olhos. Olhei para os lados e não percebi nada de anormal. Enfim, continuei dançando ainda que a sensação continuasse.


Duas mãos circularam a minha cintura e me virei para ver quem era. Um par de olhos castanhos claros me olhava com uma mistura de alegria e desejo. – Oi, linda. Não sei se foi a felicidade de rever Ben ou a adrenalina do Carnaval e da bebida que fez eu me jogar nos braços dele em um abraço mais que amistoso. Ele aproveitou para cheirar meu pescoço e depositar pequenos beijos ali. Senti arrepios que me davam a ideia de como seria se tivéssemos momentos de mais intimidades. – Oi, lindo. Ainda abraçada a Ben, olhei para um canto um pouco escuro do camarote e vi dois homens conversando e me olhando. O rosto de um deles não era desconhecido, mas não conseguia recordar de onde o conhecia. Talvez fosse por conta da pouca luminosidade daquele local. Resolvi deixar pra lá, pois não tinha como eu reconhecer todos os convidados, uma vez que não eram apenas da minha empresa. Voltei minha atenção para o homem bonito que estava à minha frente, aproximadamente quinze centímetros mais alto que os meus um metro e setenta, cabelos loiro escuros e corpo magro, com pequenos músculos proporcionais, de dar água na boca. – E então, voltou hoje de viagem? – Perguntei, querendo puxar assunto. – Voltei no início da noite. Só passei em casa para tomar um banho e vim direto pra cá. Estava com saudades demais para deixar para outro dia. – Deu um beijo em minha testa e enlaçou a minha cintura, aproximando mais seu corpo do meu. – Eu também estava morrendo de saudades. Fiquei feliz que arranjou um espaço em sua agenda apertada de produtor musical. – Precisávamos de umas férias, não é mesmo? Mas eu viria de qualquer jeito. Me senti exultante em saber que ele faria um sacrifício de vir mesmo que fosse difícil. – Hum... já que está aqui, que tal se formos dançar? – Não é muito a minha praia, mas o que não faço por você, Brisa?


Ele se afastou de mim apenas o suficiente para enlaçar suas mãos nas minhas e me levar para a pista de dança. Cumprimentou Clara com um abraço, pegou uma cerveja e veio dançar com a gente. Seus olhos só saiam dos meus para passear pelo meu corpo e eu estava bastante contente por isso. Percebi que minha amiga perdeu um pouco o ânimo e pediu licença para falar com outras pessoas, nos deixando a sós. – Estou sabendo que alguém está morando sozinha. Gostei muito da informação. Espero que o convite para conhecer sua humilde residência não demore muito. Ben conseguia me provocar com tão poucas palavras. Iria começar a amadurecer a ideia. – Vou pensar em uma festinha de inauguração para os amigos. – Falei, enfatizando a palavra amigos. Embora eu esteja tentando me aproximar mais dele, não quero avançar muito no relacionamento antes de tirar algumas pedras do caminho. – Amigos, hein? Estarei aguardando o convite. Sorri, agradecida por Ben ser tão espirituoso, perceber que estava tentando ir devagar e ainda assim continuar próximo. É muito fácil estar com ele. A noite transcorreu como previsto, com todos se divertindo como se espera em uma festa de Carnaval. O camarote iria receber convidados em mais dois dias e o primeiro era importante para medir o nível de satisfação. Saí da pista de dança e caminhei entre os que ali estavam, cumprimentando todos e fui apresentada a pessoas influentes que vieram com alguns convidados. A sensação de estar sendo observada com veemência nunca me abandonou, porém não vi maiores motivos para me preocupar. Estava conversando com Clara e Ben, quando minha amiga me puxou para ir ao banheiro com a desculpa de retocar a maquiagem. Ao chegar lá, encarei meus olhos verdes, meu rosto moreno e percebi que, de fato, precisava retocar e peguei um estojo em minha pequena bolsa.


Usei uma sombra que destacava meus olhos esverdeados e penteei meus cabelos negros, ajeitando o franjão que eu gostava de usar lateralmente. Fiquei satisfeita com o que vi e fiz uma nota mental de pedir à equipe do salão para fazer alguns penteados nos próximos dias de Carnaval. Clara também refez sua maquiagem, destacando seus olhos azuis que faziam contrastes com cabelos loiros. Ela tinha uma beleza exótica em uma terra que predomina mulheres morenas, por isso chamava muita atenção. Já faz algum tempo que não a vejo durar em um relacionamento, embora de vez em quando me apresente alguém com quem está saindo. Falta de opção com certeza não é. Estávamos terminando de nos maquiar quando entraram duas mulheres lindas no banheiro, uma delas comentando: – Nossa, você viu que moreno? Aquilo é que é homem de verdade. Ele exala masculinidade. Ah, se Deus desse asas à cobra... As duas riram, se abanando como se estivessem dizendo sem verbalizar que a temperatura havia aumentado. Clara olhou para mim e rolou os olhos. Rimos juntas. – Acho que vou procurar por esse moreno aí fora. Vai que eu tenha mais sorte que essas meninas. – Ela brincou, ao mesmo tempo que saíamos à caça do tal moreno delicioso.


Capítulo 3

Ele

Cheguei à Salvador faltando três dias para o início do Carnaval. Já tinha vindo algumas vezes à cidade e sempre fui muito bem recebido. As pessoas aqui são muito calorosas e a cidade tem muitos lugares bonitos para se conhecer. Eu tenho um apartamento em um apart hotel, situado no bairro de Ondina, em frente ao mar. Como eu venho ao Brasil com uma certa regularidade devido aos negócios, achei necessário ter um lugar fixo, que eu também usava para diversão pessoal. Aqui também é a cidade onde mora a minha futura esposa, portanto faz parte do pacote conhecer o local. – Não vejo a hora de conhecer o que essa cidade tem de melhor, Alfonso. Se as mulheres forem tão lindas quanto as que vi até agora, acho que estou no lugar certo. – Você vai enlouquecer em Salvador. Além do Centro Histórico e das lindas praias, os baianos são uma mistura de várias etnias, então você vai encontrar mulheres maravilhosas e para todos os gostos. Vim com meu irmão, Marco, que sempre teve vontade de conhecer o Carnaval da Bahia. Ele é diretor financeiro da empresa e somos muito unidos, o que é um bônus, pois convivo com ele dentro e fora da empresa. Trabalhamos juntos e saíamos para nos divertir muitas vezes também. Ele tem vinte e oito anos e, assim como eu, faz muito sucesso com as mulheres. Salvador é uma cidade quente e as mulheres são mais quentes ainda. Conheço mulheres de muitos países e as brasileiras com certeza estão no topo da minha lista. Por onde passava, o clima era de Carnaval. Desde o aeroporto até chegar ao meu apart. Recebi alguns convites para o camarote da Construtora Carlos Ribeiro e tenho a intuição de que minha noiva estará lá. Não a conheço pessoalmente, pois sempre tentei adiar esse momento, entretanto já ouvi rumores de que é muito bonita.


Dos males o menor já que independente da aparência que tivesse, o acordo teria que ser cumprido, mas se é bonita, melhor. Aproveitei as noites antes do Carnaval para apresentar a cidade a Marco, que ficou encantado. Visitamos alguns botecos e fomos a um ensaio pré-Carnaval. Conheci garotas, me envolvi rapidamente com algumas e no terceiro dia acabei levando uma loira linda pra casa. Como sempre, a noite foi maravilhosa, mas a partir de agora eu teria que me concentrar no objetivo maior que me trouxe ao Brasil e dei um jeito de dispensar mais essa conquista. – Marco, preparado para uma das maiores diversões de sua vida? – Perguntei a meu irmão. – Cara, eu não sei se vou me divertir mais em correr atrás dessas mulheres lindas ou de ver você se entregando à forca. Vai ser divertido ver o conquistador espanhol encerrando a carreira. – Ele me provocou. – Quem disse que eu preciso encerrar a carreira? Isso não está no contrato. Eu só preciso ser discreto. Falei, pegando a chave do apart e saindo em direção ao taxi que me lavaria à folia. Meu irmão sorriu e complementou: – Ainda bem que esse acordo recaiu sobre o filho mais velho. Estou muito bem solteiro e pretendo continuar assim. Balancei a cabeça em concordância. Pelo menos ele tinha escolha. Chegamos ao camarote onde nos identificaram com uma pulseira verde. O espaço era relativamente grande e de aparência bonita, bem decorado e com excelente atendimento. Algumas pessoas estavam bebendo, outras dançando e outras assistindo às passagens dos trios. Marco assistiu um pouco e seus olhos ficaram vidrados. A mistura cultural era algo surpreendente. Havia muita gente bonita e comecei a perceber alguns olhares em nossa direção, porém ninguém me chamou a atenção.


Repentinamente, todos os acontecimentos em volta ficaram para segundo plano. Uma morena linda estava chegando à pista de dança junto com uma loira. Eu não consegui parar de olhar naquela direção. Ela tinha o corpo mais perfeito que eu já vi em uma garota, cabelo na altura dos ombros e lindos olhos em tom esverdeado. Olhei em volta pra ver se estava com alguém e percebi que ninguém marcava território. Não entendi como uma princesa como aquela pudesse estar desacompanhada. Eu sabia que estava em um lugar onde não deveria me expor, mas parecia que um imã me puxava a ela. Dei dois passos em sua direção, que dançava livremente, quando vi um rapaz agarrá-la pela cintura por trás. Não sei explicar o motivo, mas raiva me subiu como se eu tivesse algum direito a reivindicá-la. Pela reação da garota, os dois tinham intimidade e provavelmente mais que amizade. Decidi recuar, embora não seja de fugir de um desafio. Marco falou algo comigo e quando viu que eu não prestava atenção, procurou com o olhar qual era o meu foco. Nesse momento, ela olhou em minha direção franzindo o rosto, o que a deixava ainda mais linda. Seu olhar não demorou e voltou sua atenção ao rapaz. – Mano, você não tem jeito mesmo. Veio aqui com uma intenção e já está à caça. Tenho pena de sua futura esposa. – Meu irmão disse, me dando tapinhas nas costas. – O que? Não enche, Marco. Continuo com o mesmo objetivo de quando cheguei aqui. Meus olhos instantaneamente voltaram para o mesmo alvo como se tivessem vida própria. – Sei. – Respondeu com sarcasmo. Bebi um copo de uísque após o outro olhando fixamente na mesma direção. Duas garotas passaram por nós e uma delas me encarou, me avaliando de cima abaixo. Essa seria presa fácil em outro dia, mas hoje nada conseguia tirar o meu foco. Marco saiu para a pista de dança e em pouco tempo já estava agarrado com uma mulher. A morena saiu, puxando a amiga e foram em direção ao banheiro. Mantive os olhos fixos onde estavam até que as vi voltando para a pista de dança.


As garotas que tinham passado por mim voltaram e uma delas levantou um copo com bebida me cumprimentando. Levantei o meu também por questão de educação, mas fazendo uma prece por dentro para que elas não se aproximassem, pois queria achar uma oportunidade de me aproximar da outra mulher que tanto me atraia. Não tive tanta sorte. – Oi, eu me chamo Alice e essa é minha amiga Vanessa. Nunca te vimos nas festas da empresa, então deve ser um dos convidados de fora, não? Os meus olhos teimavam em encontrar seu próprio destino. Eles não queriam perder a imagem daquela mulher que estava tirando o meu sossego desde o momento que a vi. Na verdade, eu estava com medo de desviar o olhar e descobrir que se tratava de fruto da minha imaginação ou de que ela desaparecesse de lá. – Como vai, Alice? Vanessa? Meu nome é Alfonso. – me forcei a olhar para elas. – Você acertou. Sou um convidado de fora. Na verdade, sou espanhol e estou aqui para aproveitar a festa. Vocês conhecem todos por aqui? Aproveitei a oportunidade para sondar sobre a outra garota por quem eu estava fascinado. – Apenas os que trabalham na construtora. Conhecemos poucos convidados de fora. – Vanessa respondeu, se aproximando ainda mais, quase roçando seus grandes seios em meu braço. – É que fui convidado, mas não conheço quase ninguém. – Percebi pelo sotaque. Está sozinho? – Não. Vim com meu irmão que está por aí em algum lugar. Garotas, vocês sabem que é aquela morena ali dançando com o rapaz? Apontei discretamente, fazendo com que elas virassem para ver de quem se tratava. – Ah, aquela ali é a responsável por esta festa. Foi ela quem preparou e organizou tudo, pois seus pais não quiseram estar à frente disso esse ano. Acho que ficou muito melhor depois que ela assumiu a direção do camarote.


Então ela era uma funcionária. Ela estava aqui a trabalho, mas pelo visto estava aproveitando para se divertir tanto quanto qualquer um de nós. Pela estrutura, realmente ela deixou tudo tão organizado que não precisava se preocupar com mais nada. Fiquei tenso quando o cara puxou o seu rosto e a beijou na frente de todos na pista de dança e ela retribuiu com mesma intensidade, cruzando seus braços no pescoço dele para estreitar ainda mais a distância. Senti um instinto animal e de posse. Tinha vontade de puxá-la de lá e reivindicar algum direito que eu pudesse ter. Mas não tinha. Eu sequer a conhecia nem ela a mim. O que estava acontecendo comigo? Nunca fui de interferir no relacionamento de ninguém. Justo hoje com tantas opções, eu começaria a fazer isso? – Aquele lá é o namorado dela? Quer dizer, ela provavelmente deveria estar dando atenção aos convidados. – Parece que você está bastante interessado, hein? – Alice perguntou, levantando uma sobrancelha. – Ela pode fazer o que quiser aqui e não sei se é o seu namorado, pois é a primeira vez que a vejo com ele. Agora, já que ela está bem acompanhada, que tal falarmos sobre nós? Droga, eu tinha duas garotas bonitas praticamente esfregando suas bocetas em minha cara e eu estava seriamente pensando em dispensá-las, apenas para ficar fitando uma mulher talvez comprometida. Eu não estava me reconhecendo. As meninas disseram que nunca o viu com ele. Isso poderia ser um indício de que não estavam namorando ou de que a relação poderia estar no início. Eu precisava sondar um pouco mais. – Falar sobre nós, princesas? O que vocês querem saber? – Se está disponível. Sabe, nós duas não nos importaríamos de sair um pouco daqui e talvez conhecer o lugar onde você está hospedado. Está em um hotel, certo? Não estou dizendo? Nunca fui de negar prazer a uma mulher bonita. Ainda mais a duas, porém o que estava acontecendo ali era uma questão de desafio. Eu nunca deixei de alcançar uma meta estabelecida e o meu objetivo agora era achar um meio de ter aquela mulher para mim. Frustração nunca foi um sentimento com o qual eu soubesse conviver.


– Estou hospedado na casa de amigos e não posso incomodá-los. Desculpe. – Menti, rezando para que elas entendessem o fora que estavam tomando. Não entenderam. – Você poderia conhecer o meu apartamento, então. Seus amigos não devem se importar em saber que você dormiu fora por uma noite. Nesse momento, a morena saiu de perto do cara e foi em direção ao palco, falar com o DJ. Era minha oportunidade. Eu me apresentaria como um dos convidados e demonstraria interesse por ela. Ainda tinha mais dois dias para tentar uma maior aproximação, mas precisava ser percebido, pelo menos. – Garotas, preciso ir ao banheiro. Esta noite não vai rolar, quem sabe outro dia? Elas pareceram decepcionadas, fazendo biquinho, mas eu não tinha tempo para isso agora. Meu foco ali era outro. Dei passos largos em direção a ela quando uma mulher, claramente bêbada, parou em minha frente puxando a minha cintura. Eu tentei me soltar do seu abraço, tentando não perder a morena de vista, mas ela estava investindo todas as suas forças para me manter ali. – Maldición! Senhorita, me deixe passar. – Que sotaque lindo! Hoje é seu dia de sorte, bonitão. Eu quero você. Porra! Eu tinha que ser ríspido com essa mulher. Usando de força, me soltei dos seus braços, mas quando voltei a olhar para o DJ, minha morena não estava mais lá. A procurei com os olhos e, para minha decepção, ela estava de volta para o lado do sortudo filho da puta que agora a abraçava por trás, dando pequenos beijos em seu pescoço. Essa batalha estava perdida, mas não a guerra. Nunca a guerra. Eu ia descobrir mais sobre essa mulher. Agora era uma questão de honra. Por falar em honra, lembrei do motivo que me levou até ali e peguei mais uma cerveja para que o álcool me ajudasse a colocar essa informação para segundo plano novamente. Enquanto não tivesse aquela morena em meus braços, não queria saber de droga nenhuma de acordo. Ela seria minha despedida de solteiro.


– Alfonso, te procurei pelo camarote todo. Pensei que já tinha ido e me deixado aqui mesmo que eu ainda não saiba andar pela cidade. – Qualquer táxi o deixaria no apart, Marco. Era só dar o endereço do hotel. – Falei, olhando para a linda mulher que o acompanhava. Ela era dona de cabelos e olhos castanhos e um corpo de dar inveja a qualquer modelo. Meu irmão tem muito bom gosto. – Então já podemos ir ou devo tomar um táxi e adiantar na frente? Gostaria de apresentar o apart a Tatiana, ela está ansiosa para conhecer, não é, Tati? Ela parecia meio tímida o que a deixava ainda mais bonita em uma mistura de menina e mulher. Marco estava realmente disposto a se divertir na Bahia, mas senti um brilho especial em seu olhar quando voltou sua atenção para essa garota. Ah! Mais um a se render aos encantos baianos! Olhei novamente para onde minha morena estava e cheguei à conclusão que naquela noite não teria a menor chance. Ele não sairia de perto dela, então resolvi dar o dia por encerrado, apostando todas as fichas que a encontraria no outro dia de festa. – Vamos embora. Preciso descansar para aproveitar os próximos dias. Marco franziu a testa com uma pergunta no olhar, sabendo que eu nunca saí de um evento tão cheio de opções sozinho antes. Dei de ombros e fomos os três para o apart, onde eu sabia que o sono não me serviria de consolo tão cedo, pois minha mente precisava trabalhar em um plano para ter aquela mulher para mim. De qualquer jeito.


Capítulo 4

Ela

Esta noite eu estava usando um vestido bastante estampado em cores vibrantes que combinavam com toda a alegria do Carnaval. Liguei pra Clara assim que fiquei pronta. Eu queria saber das novidades, pois ela não foi para casa sozinha. Ela é filha de um empresário que presta serviços à empresa de meu pai e as duas famílias tem uma relação pessoal muito boa. Tem vinte e três anos e já tem seu próprio apartamento desde os vinte e um. – Clarinha, que horas você vai chegar ao camarote? – Já estou pronta. Devo estar lá daqui a uma hora aproximadamente. – Certo. Você não vai me poupar dos detalhes, não é? Ele demonstrou interesse em algo mais estável? – Nós ficamos juntos apenas uma vez, Bri. Daqui a pouco você está me perguntando se ele me pediu em casamento. – Como você é exagerada. Eu só quero vê-la feliz com uma pessoa legal. Percebi que ficou um pouco em silêncio, mas logo a minha amiga extrovertida estava de volta. – Não vou te contar o que aconteceu por telefone. Na festa, se seu namorado chato deixar, eu te falo tudo. – Ok. Já estou indo pra lá. Até mais. Meu pai mandou o motorista me buscar para que ele ficasse mais tranquilo. Considerou mais seguro, sem falar que eu poderia estar livre para tomar uns drinks uma vez que eu não estaria dirigindo. Cheguei ao camarote mais cedo que os convidados para conferir se tudo estava em ordem.


Quando percebi que estava tudo pronto, procurei a equipe do salão para fazer um penteado. Resolvi fazer uma trança lateral nos cabelos e enfeitá-la com pequenas florezinhas. Maquiaram-me de forma que combinasse com tudo o que eu estava usando e me preparei para receber os convidados. Tudo estava funcionando normalmente como na noite anterior, Clara e Ben logo chegaram e depois de fazer o meu papel de anfitriã, fui me divertir também. Ben colocou um braço em minha cintura e ficou atento à minha conversa com Clara. – Brisa, a noite passada foi sensacional. Felipe tem pegada e ainda consegue ser carinhoso ao mesmo tempo. Daqui a pouco ele estará chegando. Minha amiga falou, olhando para mim, mas desviando o olhar na direção de Ben às vezes. Acho que ela estava com um pouco de vergonha por ele estar ouvindo nossa conversa. Demonstrando raiva, Ben falou: – De onde você conhece esse rapaz, Clara? Você é louca de sair com um cara que nem sabe de onde veio? – Ele parecia furioso. – Eu já o conhecia de vista, já tinha sido apresentada anteriormente, mas apenas ontem tivemos a oportunidade de nos conhecer melhor. Aliás, o que você tem a ver com isso, mesmo? Sou maior de idade e você não é nada meu pra se preocupar tanto. Clara não tem freio na língua quando algo a chateia. Eu também não entendi a reação de Ben. Deve ter um bom motivo. – Eu me considero seu amigo e entendo que amigos devem cuidar uns dos outros. Então, vocês se conheceram melhor? O que isso quer dizer, no sentido bíblico? Minha amiga olhou furiosa para ele, mas seus traços mudaram, quando afirmou: – Os detalhes sórdidos só conto pra Brisa. Depois. – Enfatizou na última palavra e saiu com um sorriso no rosto nos deixando a sós. – Ben, deixa Clara em paz. Ela deve saber o que está fazendo. Ele me fitou, ainda sustentando um olhar enraivado, mas depois suavizou seus traços e me beijou profundamente. Aproveitamos bastante a noite, dançamos bastante, tomamos algumas bebidas e continuei fazendo minhas funções de anfitriã.


Em algum momento, fui à cozinha verificar o abastecimento de comidas e bebidas e ao retornar tomei um susto ao me deparar com alguém que eu não pretendia ver tão cedo, quiçá nunca. Ele estava ali. O meu suposto futuro marido estava encostado em uma parede com as mãos no bolso. Lá estava o cara que eu tanto conhecia através da mídia, mas que preferia nunca estar cara a cara. Nesse momento, senti que meu mundo caía. Confesso que pessoalmente ele era muito mais bonito que nas fotos, acontece que a sua beleza nunca foi o problema, apenas o que a sua presença representava. Ele me olhou percebendo que eu o fitava e, determinado, começou a caminhar em minha direção. Engoli em seco, mas não me movi. Esperei para ver o que aconteceria. – Olá, princesa, eu sou Alfonso Javier e fiquei sabendo que é a responsável pela realização desse evento, então não podia deixar de parabenizá-la por ter preparado uma festa particular com tanta qualidade como poucas que já vi. Todos estão se divertindo muito. Senti um arrepio ao ouvir aquela voz rouca e suave, com um leve sotaque espanhol que exalava masculinidade e era muito, muito sensual. Minha boca ficou seca repentinamente, então passei minha língua pelos lábios para umedecê-los. Seus olhos acompanhavam cada movimento. – Oi, o que está fazendo aqui? Não deveria estar na Espanha? – Estou visitando a Bahia e a cada vez que venho aqui me sinto mais atraído pelas pessoas deste lugar. Conheci algumas histórias locais, mas achei que sereias aqui eram apenas lendas. Vocês existem de verdade? – Me perguntou em tom galanteador. Sério que ele iria fingir que não me conhece e se aproximar com uma cantada barata? – Pois é, elas existem e não podem ficar muito tempo fora do mar. Preciso ir. Tentei me afastar, me perguntando até quando Alfonso continuaria com esse fingimento e começaria a falar sobre o acordo. Dei dois passos, mas ele me segurou pelo braço, me arrastando para um canto mais escuro. O camarote estava iluminado apenas com o jogo de luzes que dava uma atmosfera de boate e alguns lugares não eram alcançados pela iluminação.


Ele me encostou à parede, levantou meus braços e encostou os lábios em meu ouvido. – Antes de tudo, me diga seu nome. Esperou a minha resposta enquanto esfregava a ponta dos lábios indo de meu ouvido até a nuca. Meu cérebro dizia para eu gritar ou tomar qualquer atitude, mas o meu corpo não respondia, estava inerte. Tentei abrir os lábios para responder alguma coisa, quando fui tomada por um beijo que fez as minhas funções cerebrais paralisarem de vez. A única coisa que eu sabia naquele momento era que meu corpo estava à mercê dele para fazer o que bem entendesse e eu não protestaria, pois não teria força para fazê-lo. Suas mãos começaram a se movimentar, descendo de meu pescoço, aos meus seios, meu ventre, chegando até as minhas pernas, subindo em uma lentidão que estava me conduzindo ao desespero. Meu corpo pedia mais, esqueci tempo, espaço e tudo o mais à minha volta. Correspondi à paixão de suas carícias como algo de que eu precisava para viver, ofegante, entregue. Ele se afastou um pouco para falar com voz rouca: – Desde ontem que eu a quero em meus braços. Já não estou aguentando tanto desejo. Vamos sair daqui e procurar um lugar mais reservado? Nesse momento, um pouco da razão retornou à minha mente e me encontrei olhando assustada para ele. Onde eu estava com a cabeça? Ele parecia confuso com a minha reação. Olhei para os lados e ao perceber que não chamava a atenção respondi: – Quem te deu a liberdade de me beijar? Olha, eu sei quem você é e porque está aqui, mas não tinha o direito de me abordar desse jeito. Eu não sou sua propriedade. Saí batendo os pés, furiosa com ele e comigo mesma por não entender como me deixei levar daquela forma. Ele ficou apenas me olhando de longe, confusão e desejo transbordando de seus olhos. Voltei para o lado de Ben que me olhou desconfiado. – Aconteceu alguma coisa, Brisa? – Não. Apenas me aborreci com um dos garçons, mas já consegui resolver.


– Certo, se precisar da minha ajuda, é só pedir. Eu também tenho que lidar com uma equipe e sei bem como fazer as pessoas trabalharem direito. – Não precisa se preocupar, Ben, está tudo sob controle. – Que bom. Vem aqui, Bri, eu preciso sentir seu sabor. Ben passou um polegar pelo meu rosto, como se estivesse me adorando e o segurou com suas duas mãos, aproximando sua boca da minha. Ele tomou meus lábios em um beijo sedutor, cheio de planos e promessas, porém não consegui corresponder com a mesma intensidade que ele. Não conseguia tirar a imagem do homem másculo e viril que tinha me beijado há poucos instantes e a comparação foi instantânea. O beijo de Benito havia perdido o sabor. Ele não era doce nem amargo. Apenas insípido. Neguei para mim mesma que me senti atraída pelo homem que seria o meu algoz, que representava tudo o que eu lutava contra. Eu queria amor verdadeiro, saber que compartilhava um sentimento por alguém que meu coração havia escolhido e sentir que também era a escolhida de alguém. Não queria ficar a minha vida inteira presa a um homem que não me amava por conta de um maldito acordo. – Ben, vamos até a sacada? Gostaria de ver o desfile dos trios. – Se eu pudesse escolher, nós sairíamos deste lugar para outro mais reservado, mas como sei que é responsável pelos convidados... – Você não sabe o quanto gostaria de sair daqui também, porém não tenho outra opção. Encostei na sacada e fiquei observando a animação dos foliões e dos artistas, contudo apenas a minha visão estava naquela direção. Minha mente estava em outro lugar, mais precisamente naquele mesmo camarote. Eu não imaginava o quanto ele podia mexer comigo, o quanto meu corpo ia reagir com seu toque, seu cheiro e seu sabor. Ben tentou me beijar novamente, mas fiquei com medo de que Alfonso visse e fizesse algum tipo de cena, então o evitei ao máximo.


Na verdade, eu precisava reconhecer, já não tinha mais qualquer desejo de ser tocada por Benito. Como isso podia ter acontecido em um curto espaço de tempo? Por que eu estava me deixando levar pelas rápidas sensações que tive quando meu prometido me tocou? Eu já me odiava por isso. Em algum momento, meu acompanhante percebeu o quanto eu estava distante e segurou meu queixo em sua direção. – Brisa, seja sincera comigo. Está acontecendo alguma coisa e você não quer falar. Estou te sentindo aérea, com a cabeça longe. Me diga. Talvez eu possa ajudá-la. – Não é nada. Acho que estou apenas cansada por conta da correria desses dias. – Eu já estou querendo te perguntar há algum tempo, só que ainda não tive oportunidade, contudo preciso saber. Aonde estamos indo? Você está disposta a um namoro ou quer levar essa relação sem compromisso? Não. Eu não tinha condições psicológicas de ser mais pressionada por ninguém naquele momento. Eu mesma já estava me martirizando o suficiente para ter um acréscimo. Olhei para trás de Ben e vi Alfonso tomando uma bebida, provavelmente uísque. Ele estava me encarando com olhos semicerrados e o rosto sério, porém quando percebeu que o olhei de volta, abriu um sorriso sedutor e me cumprimentou, levantando o copo. Como eu poderia dar qualquer resposta a Benito se nem eu mesmo a tinha? – Existem alguns obstáculos que nos impedem de assumir publicamente um compromisso agora, acontece que estou tentando resolver o mais rápido possível. Fico muito feliz em saber que quer levar a nossa relação a sério. É o que eu mais quero também. Um dia você vai conhecer meus motivos, só te peço que aguarde um pouco mais. Nem eu mesma estava acreditando em minhas palavras, será que conseguiria convencer Ben? – O tempo que você quiser, Bri. Eu confio em você. Nesse momento, ele tentou mais uma vez selar nossa conversa com um beijo, mas Clara chegou, nos impedindo. Ela estava acompanhada com um rapaz loiro, de olhos claros como os seus e muito bonito. Eu estava grata pela intromissão de minha amiga.


– Brisa, Benito, quero apresentar a vocês Felipe, um grande amigo. – Ela enfatizou a palavra grande. – Prazer, Felipe. Clara falou muito bem de você. Está gostando da festa? – Perguntei. – Muito. Está bastante divertida. Ela me disse que foi você quem organizou. Parabéns. – Obrigada. Olhei para o meu quase namorado e vi que não tinha estendido a mão para cumprimentar Felipe e estava fingindo que não tinha percebido sua presença. Achei sua atitude muito estranha. – Ben, Clara está te apresentando seu amigo. Ele fingiu que só tinha percebido agora e estendeu a mão para saudá-lo sem fazer qualquer esforço para parecer simpático. – Me dê licença. Vou pegar uma bebida. Ele saiu nos deixando sem entender sua reação. Perguntei a Clara com o olhar e ela deu de ombros, observando para onde ele ia até que sumiu de nossas vistas. Benito poderia estar com ciúmes da minha amiga? Por que ele ficaria? Que estranho! – Felipe, você pode me dar um minutinho com minha amiga? – Claro, fiquem à vontade. – Você não vai acreditar quem está aqui. Disfarce. Alfonso, o meu prometido está bem atrás de nós. Acho que ele veio cobrar o acordo. Eu não sei o que farei agora, mas preciso descobrir urgente. Ela olhou discretamente para trás e o procurou até que percebi que havia reconhecido quando arregalou os olhos, parecendo surpresa. – Bri, ele é lindo. Muito mais do que parecia na internet. Ah, eu acho que se fosse comigo ia querer cumprir o acordo sem pensar duas vezes. As mulheres estão em tempo de voar em seu pescoço, mas ele não tira o olho de você.


– Ele é realmente muito bonito e talvez fosse o tipo de cara de quem eu me sentisse atraída em outra situação, mas o fato é que existe uma porcaria de contrato o obrigando a estar preso à mim, sem a possibilidade de qualquer sentimento nessa equação. – Vocês já conversaram? Quer dizer, ele tentou se aproximar e cobrar alguma coisa de você? – Ele me beijou, Clara. Ele me puxou para um canto escuro e me beijou. – Sério? – ela falou alto e tapou a boca, repreendendo a si mesma. – Eu já gostei dele, pois sabe o que quer. Adoro homens assim que vão à luta. Ele deve ser muito bom de cama. Você gostou? Demorei um pouco para responder e acho que corei porque Clara logo concluiu qual seria a resposta e começou a dar pulinhos em comemoração. Só Clara mesmo. – Fui tomada por uma força poderosa. Eu não sei explicar. Só sei que quando ele me tocou, não consegui lutar, não consegui reagir. Era como se aquilo fosse o certo e estar com Ben fosse o errado. Eu estou tão confusa. Clara olhou para o lado e pediu para que eu não falasse mais nada, pois Benito estava chegando. – Trouxe uma bebida para vocês. Estão todos se divertindo na pista de dança. Não quer voltar pra lá, Brisa? – Na verdade, acho que já estou cansada demais e gostaria de ir. Você me acompanha até o carro, Ben? Ele assentiu, conversei com os responsáveis pelas equipes de apoio, deleguei funções e me despedi de todos. Antes de sair, meus olhos se voltaram à procura de Alfonso e lá estava ele, dessa vez com a atenção voltada para outra morena que falava com ele animadamente. Não sei por que, mas senti uma pontada de ciúme e angústia por não ser o foco de sua atenção dessa vez. Entrei correndo no carro e logo estava na segurança de meu apartamento.


Capítulo 5

Ele

– Mais forte, mais forte! Isso! Ai, acho que vou... aaaaaaahhhhhhh! Alguém estava gritando tão alto que parecia querer se certificar que o prédio todo escutava. Acordei por causa de um barulho que infelizmente não estava sendo provocado por mim e minha cabeça estava estourando. Acho que bebi demais. Minutos depois, os gritos cessaram e meu irmão apareceu na porta do meu quarto. – Mano, valeu por ter me chamado para vir ao Brasil com você. Cara, que garota é essa em minha cama? Acho que não vou sair do quarto hoje, então não me interrompa. – Marco disse em tom de brincadeira. Olhei para ele e sacudi a cabeça, levantando da cama para ir ao banheiro. – Só peça para ela fazer menos barulho. O mundo inteiro não precisa saber o que vocês estão fazendo. – Respondi, com cara de poucos amigos já que a ressaca estava me matando. Eu poderia ter trazido uma garota para casa ontem. Muitas mulheres se insinuaram pra mim, porém eu não estou conseguindo tirar uma certa morena de olhos verdes da cabeça. Eu nem sei como vou cumprir alguma porra de acordo quando estou tão enfeitiçado por outra mulher. Vim ao Brasil na intenção de conhecer a minha noiva, passei dois dias no camarote de sua família e ainda não tive o mínimo interesse em conhecê-la. Provavelmente, ela estava lá, mas como não vi seus pais, deixei as apresentações para outro momento. Olhei para o relógio e vi que já tinha passado de meio dia. Com sorte, o dia passaria rápido para que eu pudesse reencontrar minha sereia. Minha. Sim, ela seria minha. Ela nem ao menos disse seu nome, mas hoje eu pretendia conseguir mais que isso dela. – Alô, é da recepção? Quais são as opções de massa do restaurante?


Pedi meu almoço e de mais dois já que comida parecia ser a última coisa que preocupava meu irmão. Depois de uma tarde na piscina do apart, voltei para o meu quarto e comecei a me arrumar para mais uma noite de folia. Percebi que a acompanhante de Marco não estava mais em casa, pois o silêncio imperava e ele estava com cara de satisfeito. Se eu conseguisse tirar aquela morena da minha mente, talvez eu também estivesse assim, mas estou em busca de mudar isso hoje. – Parece que gostou muito da Bahia hein, Marco? – Confesso que gostei muito da baiana, mais precisamente. Vamos nos encontrar mais uma vez hoje. – Fui eu quem veio procurar uma mulher, mas parece que quem achou foi você. – Sabe uma pessoa que tem um jeito tímido, mas ao mesmo tempo mostra que tem garra, que é forte? Essa é Tatiana. Ela trabalha com o seu futuro sogro, sabia? – Nem me lembre desse detalhe. Então ela conhece minha noiva. Você não comentou sobre mim com ela, comentou? – Não, de jeito nenhum. Talvez nem saiba sobre o acordo, mas não toquei no assunto. – Ótimo. Melhor assim. – Você não veio ao Brasil justamente para encontrar sua noiva? Por que está se escondendo agora? – Não estou me escondendo, apenas quero adiar um pouco mais esse encontro. Eu já estou quase pronto. Adiante, pois quero aproveitar o máximo possível da noite. Apressei meu irmão para que chegássemos cedo. Não queria perder qualquer oportunidade de me aproximar. Chegamos ao camarote com um pouco de dificuldade, pois havia muita gente nas vias próximas à folia. Entrei e logo fui recebido pela equipe de apoio que me ofereceu uma bebida e petiscos. Peguei uma cerveja e me dirigi à varanda para observar a avenida que já começava a ferver. Imaginei o quanto essa festa deveria ser esperada, pois as pessoas se divertiam como se não existissem problemas lá fora e que todos eram felizes.


Marco logo encontrou a sua garota e comecei a imaginar mais uma noite de barulho. Se eu tivesse sorte, eu também teria a minha dose. Virei para pegar uma bebida quando deparei com a minha sereia. Observei que eu não era o único homem que olhava para ela com desejo naquele camarote, mas algo possessivo me dominava. Eu queria ser o único a poder tocá-la. Para o meu azar, o cara que estava com ela nos dias anteriores se aproximou e a beijou. Ela não parecia corresponder muito, mas não o impediu. Observei quando olhou para os lados como se estivesse procurando algo, o que parece ter encontrado assim que seus olhos se encontraram com os meus. Ela ficou petrificada, puxou uma respiração funda e desviou o olhar, se voltando para o rapaz. Maldición! Tenho que dar um jeito de ficar sozinho com ela. Pensei em fazer algo e resolvi agir no mesmo momento. Fui até a cozinha e avistei um garçom enchendo uma bandeja de petiscos para levar aos convidados. Dei dois passos em sua direção e ele se virou para me atender. – Pois não, senhor, deseja alguma coisa? – Sim, preciso de um favor seu e pagarei bem por ele. Seus olhos brilharam quando falei em dinheiro. Ele tentou ser discreto, olhando para os lados, mas as poucas pessoas ali não estavam atentas a ele. Todos estavam entretidos em suas ocupações. – Em que posso te ajudar? – Eu preciso que dê um jeito de chamar atenção da organizadora deste evento e trazê-la até aqui. Ela tem que vir sozinha, entendeu? – Isso não vai me trazer problemas, não é? Não é nada que precise me preocupar? – Não. Só preciso de cinco minutos com ela. Não terá consequências para você. – O que devo dizer para trazê-la até aqui? – Peça licença aos seus convidados e a alerte que algo precisa da sua atenção na cozinha com urgência. Tenho certeza de que ela virá imediatamente e o resto deixe comigo.


Ele ainda parecia meio receoso, mas acabou concordando, depois que coloquei algumas cédulas em sua mão. Percebi a cara assustada dela enquanto caminhava sem demora em direção a cozinha. Mais uma vez eu teria a oportunidade de tê-la só pra mim. – Ei, sereia, o problema não é na cozinha, é comigo. Sou eu quem está pegando fogo. A puxei para um canto, ela me olhou assustada e confusa. – Você inventou essa história para... que eu viesse até aqui? – Eu tive outra opção? Que chance você me deu de me aproximar? Aquele cara não sai do seu pé. – Alfonso... eu sei que preciso resolver essa situação, mas não é assim de uma hora pra outra. Deve imaginar que sua chegada... era inesperada agora e não posso jogar tudo para o alto e ir atrás de você em um simples estalar de dedos. – Eu não sou um homem paciente, sereia, e acho que você só está dificultando as coisas. Está tudo claro como uma simples conta de somar. Eu a quero só pra mim. Não tem mais o que pensar. – Agora não é a hora e aqui não é o lugar. Precisamos ir com mais calma. Para minha surpresa, contrariando suas próprias palavras, ela agarrou o meu rosto e tomou meus lábios com desespero. Nos beijamos como loucos, com intensidade, desejo e, aos poucos, o beijo foi amenizando e se tornando mais terno. Ficamos ali por minutos e pela primeira vez nesses dias, senti que tudo estava certo. Quando nossos corpos se separaram e ela sorriu timidamente. – De... desculpa por ter te atacado desse jeito. Eu não sei o que deu em mim. Não me julgue, por favor, eu só não sei... – A puxei para mais um beijo prolongado. – Não se desculpe por ter feito o que tinha vontade. Eu estava com desejo de fazer isso desde o momento que você chegou aqui. – Mais uma vez ela deu um sorriso de tirar o fôlego. – Não posso ficar aqui com você. Eu preciso atender aos convidados e... não sei se você observou, eu estou acompanhada.


– Se você é a representante da empresa, então entendo que realmente precise dar atenção a todos. Quanto a estar acompanhada, você acabou de provar que ele não é com quem você gostaria de estar, portanto dê um jeito de se livrar dele. Ela me olhou confusa e afirmou: – Olha, sei que acha que tem algum direito sobre mim, mas precisamos conversar. Eu sei que parece difícil, porém podemos encontrar um meio termo e... – Não acredito em meios termos. Eu quero você e você me quer, então vá lá e acabe logo com isso. – Seu olhar mudou de confusão para fúria. – Não pense que pode me dar ordens. Você acabou de me conhecer e se considera o que? Meu dono? Ela tentou se afastar, mas segurei seu braço a mantendo presa ali. – Não estou te dando ordens, sereia, mas você não pode negar que me quer tanto quanto eu te quero. Me diga pelo menos que vai sair comigo daqui no fim da noite. Ela me deu um olhar de indecisão e parecia dominava pela dúvida. Eu estava satisfeito em saber que ela sentia essa atração tão forte quanto eu. Fechou os olhos antes de responder. – Eu não quero... não posso deixar um homem para sair daqui com outro. Eu não sou assim. Passei as mãos por meus cabelos, já perdendo a paciência. – Você vai dormir com ele esta noite? É isso que está tentando me dizer? Seus olhos estavam arregalados em um misto de surpresa e raiva. – Não... eu... quem você pensa que sou? Eu tenho que ir. Mais uma vez ela tentou se afastar, mas a puxei pelo braço, empurrando-a contra a parede de um canto pouco iluminado. – Você é minha, sereia. Minha. Vou deixar seus lábios marcados para te lembrar a quem eles pertencem. Eu quero ser o último a beijá-los esta noite. Não o deixe se aproximar demais ou não respondo por mim.


Ela abriu a boca para responder e aproveitei a deixa para tomar sua boca, entrelaçando a minha língua na sua. Ela tentou lutar, mas acabou cedendo e passou a retribuir o beijo como alguém que estava sedenta, precisando desesperadamente matar sua sede. Suas mãos vieram para o meu pescoço, o enlaçando e o tempo pareceu parar para nós dois. Pelo menos era isso o que eu queria. Minhas mãos começaram a se movimentar pelo seu corpo, descendo por suas perigosas curvas até encontrar sua bunda arrebitada. Comecei a massagear ali e ela estreitou seu corpo no meu ainda mais como resposta, levando minha ereção a roçar em seu ventre. Minhas mãos já subiam por suas pernas, quando ela pareceu acordar do transe e me empurrou, tentando se afastar de mim. Dessa vez eu deixei. – Eu não posso... desculpe, eu simplesmente não posso... – Não o deixe tocá-la. Lembre-se: você é minha. Ela saiu atordoada e, por um momento, a perdi de vista. Quando a vi novamente, estava ao lado do tal cara. Passei o resto da noite a observando e percebi que ela não se afastou do homem, porém evitou ficar sozinha com ele. Sorri em vitória quando tentou levá-la para dançar e tentou beijá-la, mas foi mal sucedido em todas as tentativas. Às vezes eu a flagrava me olhando, mas ela sempre desviava o rosto para disfarçar. Quando percebi que os convidados estavam indo embora, sumi das vistas dela, entretanto não deixei de observá-la. Sai um pouco antes que o camarote estivesse vazio e encontrei Marco também de saída com a garota pendurada em seu pescoço. – Vai para casa agora, Alfonso? – Não. Não pretendo ir para casa esta noite, portanto o apart é só de vocês. – a garota me deu um sorriso tímido. Acho que a deixei sem graça. – Eu tenho um problema para resolver e preciso fazer isso ainda hoje de qualquer jeito. Nos vemos amanhã. Saí com passos determinados rumo ao meu destino. Eu precisava tirar essa mulher da minha cabeça para que eu pudesse seguir em frente com minha vida. Ela seria minha ainda esta noite.


Capítulo 6

Ela

Esse dia foi muito confuso para mim. Não consegui voltar aos braços de Ben, pois a impressão que eu tinha era de que estava traindo Alfonso. Droga! Como poderia estar traindo um noivo arranjado? O meu sentimento deveria ser de que estava traindo Ben e não o contrário, embora não tenhamos nada definido. Fiquei mais confusa ainda e frustrada com o fato de que Alfonso não tentou me abordar novamente. Não sei qual era o jogo dele. Em um momento me queria, em outro desaparecia. Não gostava de pessoas inconstantes assim, seria melhor se eu esquecesse esses dias e quando eu tiver a oportunidade, conversarei com ele para tentar rever o acordo entre nossas famílias. Era isso. Ben era uma aposta mais segura. O motorista me deixou em frente ao meu prédio e esperou que eu entrasse. Era madrugada e ele não me deixaria correr riscos. – Boa noite, Seu Roberto. – Boa noite. Aproveitando a folia? – Um pouco. Depois de três dias, estou muito cansada, mas valeu a pena. – Nada melhor que uma boa noite de sono então, menina. Entrei no elevador e subi para o meu andar, minha mente não parava de martelar com perguntas sem respostas. A porta se abriu, caminhei em direção ao meu apartamento e, para minha surpresa, tinha alguém na frente dele. A minha primeira reação foi de dar a volta e correr o mais rápido possível, mas parei quando ouvi me chamar: – Sereia!

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