Edição 18

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Impresso Especial 9912247598/2009-DR/BA CRIARMED

a Revista dos Líderes da saúde do brasil

Quase um terço dos US$ 2,6 trilhões gastos com saúde anualmente pelos EUA provém de não conformidades. As fraudes no sistema não são um problema apenas do Brasil

ANO IV Nº 18 | NOV/DEZ 2012

rombo BILIONÁRIo

DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA

aMERICANA ROSEMARY GIBsON, AUTORA DO LIVRO THE TREATMENT TRAP (A ARMADILHA DO TRATAMENTO)

EM ENTREVISTA EXCLUSIVA, PESQUISADORA CONTA OS BASTIDORES DE UM NEGÓCIO QUE TEM FEITO DE MÉDICOS AMERICANOS MERCADORES DA SAÚDE

QUEM É E COMO ATUA A UNITED HEALTH NOS EUA

AS LIÇÕES DE MICHAEL PORTER (PARTE 2)

A ENTRADA DO CAPITAL ESTRANGEIRO NA SAÚDE



SUMÁRIO

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CAPA Rosemary Gibson

MERCADO Arab Health

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Realizada entre os dias 28 e 31 de janeiro, em Dubai, feira recebe delegação com 41 empresas brasileiras

A jornalista e escritora americana denuncia o overuse aplicado por médicos e instituições de saúde em seus pacientes

PERFIL Fernando Parrado Uruguaio que ficou conhecido como “o herói da tragédia dos Andes” ensina empresários a superar seus limites

Divulgação

06 12

A ESCRITORA ROSEMARY GIBSON: revelações no livro “A Armadilha do Tratamento”

ENSAIO Gestão

Divulgação

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arab health, em Dubai: novos mercados na ásia e norte da áfrica

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ARTIGO Maísa Domenech Articulista comenta os novos modelos de remuneração das instituições e as implicações das mudanças no setor

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ENTREVISTA

Arquitetura Hospitalar

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Os principais aspectos necessários para a mudança da relação do paciente com o ambiente hospitalar

Artigo da Mckinsey afirma que o gerenciamento do tempo é a primeira parte da gestão da performance de uma empresa

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ENSAIO

ARTIGO Paulo Lopes Headhunter discorre sobre o que é preciso para que o gestor possa executar a liderança de alta performance Bloomberg/Getty Images

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stephen hemsley, ceo da unitedhealth: R$9,95 bilhões pela Amil, de Edson Bueno

Flexa Ribeiro Senador critica a lentidão na tramitação do Projeto de Lei que permite investimento estrangeiro em hospítais brasileiros

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ARTIGO Michael Porter Segunda parte do artigo do americano defende a concorrência baseada no valor como alternativa aos conflitos de interesse

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ESPECIAL UnitedHealth Quais as estratégias e planos da operadora americana - e nova dona da prestadora brasileira Amil - para o mercado brasileiro

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CARO GESTOR Osvino Souza Professor da Fundação Dom Cabral esclarece questões como gestão de pessoas e liderança

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ARQUITETURA Saúde Sustentável É possível apostar em ações para instituições de saúde mais“verdes” a partir de pequenas atitudes diárias

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RESENHA Antes de Partir Livro da australiana Bronnie Ware relata as experiências da própria autora no cuidado com pacientes em estágio terminal


EDITORIAL

A América e os latino-americanos

A

‘redescoberta’ da América Latina nunca foi tão contemporânea para uma geração quanto para a nossa, cúmplice de um momento histórico de relevância econômica da região, capitaneada pelo Brasil. Afinal, é a partir dessa nação-continente que a economia mundial faz suas contas e desenha o perfil de investimento na região, seja para montar uma fábrica de automóveis, um complexo petroquímico ou para a aquisição de empresas do setor de serviço, a exemplo do mercado de saúde. No contexto médico hospitalar, aliás, a liderança do Brasil é inconteste no ranking das melhores instituições da América Latina. Das dez primeiras posições, três são brasileiras. Em primeiro lugar na lista – organizada anualmente pela Revista América Economia – o paulistano Albert Einstein, seguido pelo Samaritano (5º) e Alemão Oswaldo Cruz (10º). Nos melhores do mundo, eleitos pelo Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha, o país é o mais bem colocado da América Latina – dessa vez com o INCA encabeçando a lista, na 17ª posição. Não é de se admirar que o Brasil tenha sido o escolhido para receber o maior aporte do mercado de saúde da região, com a compra da Amil pela UnitedHealth Group (UHG) por R$9,95 bilhões – uma história cujos bastidores é contado nesta edição pelo nosso repórter Rodrigo Sombra, direto dos EUA. Segundo o CEO da UHG, Stephen Hemsley, o objetivo da United é ampliar sua participação no mercado regional, tendo o Brasil como plataforma de crescimento. Nada mau para uma nação que, apesar da grandeza, ainda enfrenta percalços no desafio de ganhar estatura. Estimular a entrada de novos atores no asfixiado mercado de saúde local, já seria um bom começo. Desde 2009, um projeto de autoria do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) que permite a entrada de capital estrangeiro na saúde permanece parado sem data para ser votado. Segundo o parlamentar, que falou com exclusividade à Diagnóstico, o “lobby contra a aprovação é forte”. Quase intransponível também é o debate sobre médicos, hospitais e suas relações com o mercado. Um assunto que virou tema de livro nas mãos da americana Rosemary Gibson, autora de A Armadilha do Tratamento – ainda sem tradução no Brasil. De forma corajosa, a jornalista e escritora revela, com exclusividade, os bastidores de instituições de saúde e profissionais da medicina americana que estão ganhando dinheiro realizando procedimentos desnecessários em pacientes saudáveis. O que o leitor verá nas páginas que se seguem é o roteiro de uma história com contornos de crime organizado, desvio de dinheiro público e, em última instância, atentado à vida das pessoas. Poderia ser uma ficção americana, mas trata-se de um drama real com personagens que bem poderiam ser brasileiros, infelizmente.

Gestão em Saúde

Publisher Reinaldo Braga – (MTBa 1798) reinaldo@diagnosticoweb.com.br Diretor Comercial Helbert Luciano – helbert@diagnosticoweb.com.br Repórteres Brasil Aline Cruz - aline@diagnosticoweb.com.br Eduardo César - eduardo@diagnosticoweb.com.br Gilson Jorge - gilson@diagnosticoweb.com.br Rebeca Bastos - rebeca@diagnosticoweb.com.br Estados Unidos Rodrigo Sombra China Daniel Ren Gerente Comercial Verônica Diniz– veronica@grupo criarmed.com.br Financeiro Ana Cristina Sobral – ana@diagnosticoweb.com.br Fotógrafos Marcelo Soares Ricardo Benichio Roberto Abreu Diagramação Aline Cruz Ilustrações Tulio Carapia Aline Cruz Revisão Calixto Sabatini Tratamento de Imagens Roberto Abreu Arte Joelton Goes Foto capa Divulgação Atendimento ao leitor atendimento@diagnosticoweb.com.br (71) 3183-0360 Para Anunciar (71) 3183-0357 Impressão Gráfica Vox Editora Ltda Distribuição Dirigida Correios

Reinaldo Braga Publisher

Redação Brasil Av. Centenário, 2411, Ed. Empresarial Centenário, 2º andar CEP: 40155-150 | Salvador-BA Tel: 71 3183-0360 Realização

A Revista Diagnóstico não se responsabiliza pelo conteúdo editorial do espaço Prestador Referência, cujo texto é de responsabilidade de seus autores. Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do veículo.


EMAILS CARTAS@DIAGNOSTICOWEB.COM.BR

É assustadora a forma como a burocracia pública emperra o crescimento desse país. Enquanto a Anvisa e indústria discutem quem tem razão, o usuário do serviço de saúde brasileiro paga a conta da morosidade Flávio Hadad, São Paulo-SP

Capa

anvisa x indústria

A reportagem só esqueceu de mostrar com mais contundência o prejuízo provocado pela Anvisa ao doente que não pode receber um medicamento de ponta, fazer um exame mais moderno ou uma intervenção cirúrgica que poderia lhe salvar a vida. Clóvis Abad, São Paulo -SP

Não acho razoável que o país simplesmente seja um mero repetidor de tudo o que o FDA julgue como eficaz e seguro. Vide o exemplo das próteses francesas em que o Brasil foi uma das poucas nações do mundo a proibir sua comercialização, em 2010. Detalhe: o produto tinha certificação americana e europeia. Augusto Pipo, São Paulo-SP

Como empresário da indústria médico-hospitalar gostaria de parabenizar esse importante veículo pela contribuição dada com a reportagem sobre a morosidade da Anvisa. Senti-me confortável ao ver minha revolta amplificada de forma equilibrada e honesta. T.M., Porto Alegre-RS

entrevista

bruno sobral

Curiosa a estratégia da ANS de associar o Qualiss a critérios usados pelo Guia Quatro Rodas. Didático, mas esquisito. Batista Gomes, Rio de Janeiro-RJ

Espero que o desempenho do Qualiss possa ser acompanhado de forma periódica pelas operadoras de Saúde. Não me parece muito eficiente que os esforços pela busca da qualidade por parte dos prestadores não se reverta em reconhecimento das fontes pagadores. Ou, então, a quem caberá o ônus pelo investimento? Samy Morais, Curitiba-PR

Ensaio Mckinsey

arte de girar pratos

Oportuno o último ensaio publicado por esse veículo sobre os caminhos para uma governança equilibrada. Gostei tanto que passei a utilizar as dicas em minha rotina como gestor. Obrigado pela contribuição.

É dessa forma que defino o prazer de apreciar nas páginas da revista a genialidade e a clareza de idéias do americano doutor em competitividade, Michael Porter. Todo médico, dono de hospital, operadora de saúde ou autoridade do governo ligada ao setor deveria ler esse artigo. Uma verdadeira tese de doutorado sobre o sistema de saúde moderno. Gustavo Campos, Campinas-SP

Porter é reconhecido no mundo inteiro pelo seu expertise em competitividade e seus pitacos no sistema de saúde americano. Não acredito que sua fórmula seja universal, muito menos passível de ser aplicada no complexo sistema de saúde brasileiro. Amaro Vicentino, Joinville-SC

Artigo

Colocar o médico no centro da busca da solução do sistema de saúde é a maior e mais óbvia sacada para se buscar a solução para o futuro da saúde. Claro que nem todos os profissionais da medicina estão preparados para esse desafio.

Um presente a seus leitores.

Teodora Alcântara, Belo Horizonte-BH

George Vitta, Belém-PA

Michael porter

Gostaria de parabenizar a Diagnóstico por propiciar a nós, médicos, a oportunidade ter acesso a um conteúdo de fronteira, na visão do professor Michael Porter. Paulo Volker, Curitiba-PR

Políticas Públicas

obamacare

Oportuna a discussão sobre o sistema de saúde americano, tão bem tematizada na última edição deste prestigioso veículo. Acho, sinceramente, que o Brasil pode tirar lições desse desafio americano. Igor Seixas, São Paulo-SP

O que os americanos precisam resolver é a difícil equação entre gastos exorbitantes e ineficiência do sistema. Para eles, gastar muito com qualquer coisa, seja saúde ou defesa, nunca foi um problema. A diferença é que a conta já não fecha mais. Romano Albuquerque, Salvador-BA

Interessante o olhar internacional que a revista passou a ter. Vocês vieram acabar com o marasmo da informação no setor de saúde no Brasil. Parabéns pelo belíssimo trabalho! Augusto Echeverri, São Paulo-SP

Diagnóstico | nov/dez 2012 07


CAPA

rosemary gibson Divulgação

A ESCRITORA ROSEMARY GIBSON, AUTORA DO LIVRO A ARMADILHA DO TRATAMENTO: um terço do orçamento americano da saúde é gasto com fraude e não conformidade

08 Diagnóstico | nov/dez 2012


A armadilha do tratamento

A

o recolher material para um livro sobre erros médicos, a jornalista e escritora americana Rosemary Gibson se deparou com algo muito mais assustador: casos em que hospitais e profissionais de saúde aplicam deliberadamente procedimentos médicos que podem levar os pacientes à morte com o objetivo de conseguir dinheiro público para as instituições a que estão subordinados. Um único hospital americano chegou a inserir catéteres em 580 pacientes que não precisavam de intervenções cirúrgicas. A Associação de Medicina dos Estados Unidos classificou atos como esse de “tratamento excessivo”, do inglês overuse – procedimento médico que traz mais riscos

à saúde dos pacientes do que benefícios. Rosemary também revela casos em que os próprios médicos são beneficiados pelas fraudes no sistema. “Os conflitos entre o interesse do paciente e dos prestadores em fazer dinheiro são maiores do que nunca”, acredita a escritora, cuja pesquisa sobre erros médicos a inspirou a escrever o livro A Armadilha do Tratamento, do inglês The Treatment Trap – ainda sem tradução no Brasil. Segundo ela, há estimativas de que 30% dos US$ 2,6 trilhões gastos anualmente no sistema de saúde americano são desperdiçados em procedimentos desnecessários, assim como nas ineficiências do sistema e em fraudes. “Um problema que não é apenas dos Estados Unidos, mas de muitos outros países”, conclui Rosemary, que falou de Washington D.C., com exclusividade, à Diagnóstico.

Gilson Jorge Diagnóstico – A senhora já foi vítima, alguma vez, do overuse? Rosemary Gibson – Não, nunca fui vítima de tratamento excessivo. Sempre que vou ao médico, levo uma cópia de A Armadilha do Tratamento. Na verdade, eu costumo ir a médicos atenciosos e nós discutimos as evidências sobre o que funciona e o que não funciona. Essa é uma conversa que todos os pacientes deveriam ter com o médico. Eu me envolvi com esse tema por uma série de razões. Estava escrevendo um livro sobre erros médicos, Wall of Silence (Muro do Silêncio). Muitos dos pacientes que eu ouvi tinham sido vítimas de erros médicos, enquanto haviam se submetido a cirurgias desnecessárias.

Também lembro de um jantar que tive há 12 anos com um proeminente médico, que falou enfaticamente sobre a quantidade de danos provocados pelo tratamento excessivo. Ele nunca diria tais coisas publicamente. Então comecei a pesquisar o tema e encontrei artigos na literatura médica sobre o uso excessivo de cirurgias de coluna, histerectomia, cirurgia de ponte de safena e outros procedimentos invasivos em que os riscos superavam de longe os benefícios. Entrevistei os médicos e as respostas foram extraordinárias. O ex-presidente de um hospital internacionalmente conhecido, por exemplo, fez o seguinte relato: “Meu Deus, isso está em todo lugar”. Escrevi o livro porque

Escrevi o livro porque o público tem o direito de saber o que os médicos e outros profissionais de saúde já sabem. Eles não devem cair na armadilha do tratamento Diagnóstico | nov/dez 2012 09


CAPA ROSEMARY GIBSON o público tem o direito de saber o que médicos e outros profissionais de saúde já sabem. Eles não devem cair na armadilha do tratamento. Diagnóstico – O Hospital Mayo apontou em um estudo que 40% das cirurgias que foram indicadas para seus pacientes por médicos de outras unidades eram desnecessárias. Quanto os Estados Unidos gastam a cada ano com procedimentos médicos que não precisam ser feitos? Rosemary – Não sabemos exatamente qual a extensão dos tratamentos médicos inapropriados. Portanto, é difícil avaliar custos. O Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências dos EUA estima que 30% dos US$ 2,6 trilhões gastos no sistema de saúde são desperdiçados em tratamentos desnecessários, assim como nas ineficiências do sistema e em fraudes. Aparentemente, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos tem aumentado a sua atenção ao tema e processado médicos que realizam cirurgias desnecessárias, especialmente procedimentos cardíacos. Ainda assim, os processos são relativamente raros. Os executivos dos hospitais usualmente não são implicados. Diagnóstico – Explique a expressão “monstro verde”, que a senhora apresenta no seu livro A Armadilha do Tratamento? Rosemary – O termo “monstro verde” foi usado por um médico muito ético que eu entrevistei. Ele estava citando um amigo, também médico, que explicou as razões pelas quais colegas seus haviam feito uma cirurgia de dupla reconstrução do ligamento cruzado em um homem que tinha doença vascular periférica nas pernas e nunca deveria ter sido submetido à cirurgia. O paciente morreu de um ataque cardíaco logo após o procedimento. Os médicos disseram ao colega ético: “Você não viu o monstro verde?”, referindo-se ao dinheiro – a nota do dólar é verde. O médico ético ficou atormentado com essa experiência. 10 Diagnóstico | nov/dez 2012

Diagnóstico – Como as associações americanas representativas dos médicos se posicionam em relação ao overuse? Rosemary – Médicos éticos não permitem o tratamento excessivo. As declarações de princípios da categoria dizem que um médico nunca deveria colocar os pacientes em uma situação em que os riscos excedem os possíveis benefícios. O Instituto de Medicina (correspondente ao CRM, no Brasil), em assembleia, definiu o overuse como uma situação em que o potencial de dano em um procedimento de cuidados médicos supera os seus possíveis benefícios. Ainda assim, a ética médica é ignorada muito frequentemente e é por isso que esses problemas existem não apenas nos Estados Unidos, mas no Brasil e em muitos outros países. Sob os aus-

FRAUDES NO SISTEMA: Justiça americana tem aumentado a atenção ao tema e processado médicos que realizam cirurgias desnecessárias


Fotos: Shutterstock

Médicos éticos não permitem o overuse. As declarações de princípios da categoria dizem que um médico nunca deveria colocar os pacientes em uma situação em que os riscos excedem os possíveis benefícios

pícios do Fórum Nacional de Qualidade – órgão que fiscaliza a qualidade do serviço médico americano –, um grupo identificou as cirurgias e exames que são conhecidos por serem usualmente adotados sem parcimônia. As cirurgias mais recorrentes que eles identificaram foram cirurgia da coluna, de ponte de safena, histerectomia, prostatectomia e cesarianas. Recentemente, tentei encontrar esse relatório no site do Fórum Nacional de Qualidade, e a informação não estava mais lá. Diagnóstico – Seu livro tem como público-alvo preferencial o usuário do sistema. O paciente tem poder para intervir nesse processo? Rosemary – Em algumas instâncias, absolutamente sim. Encontrei uma quantidade de pessoas bem informadas

que declinaram das recomendações de tratamento feitas pelos seus médicos, não de forma espontânea, mas muito cuidadosa. Talvez pela primeira vez na história da medicina temos um subconjunto da população que está dizendo “não” às recomendações médicas porque eles acreditam que não vão estar melhores, mas sim piores. Em economia, isso se chama retorno decrescente. Falei com um grupo de legisladores estaduais no verão de 2012. Depois, um deles veio até mim e disse que vai ao médico a cada três meses para fazer um raio-x do peito. Perguntei se ele tinha uma condição médica subjacente. Disse-me que não. Eu tinha falado durante o encontro sobre a exposição à radiação emitida pelo equipamento e como esses exames deveriam ser feitos apenas quando necessários. Ele disse que ia perguntar ao médico se realmente precisava daqueles exames. Esse cidadão provavelmente nunca pensou na exposição à radiação. Aposto que nunca mais vai fazê-los. Diagnóstico – Os médicos americanos costumam argumentar que solicitar um número grande de exames é uma

forma de se precaver contra eventuais processos judiciais, caso sejam acusados de omissão, por exemplo. Pode comentar? Rosemary – Médicos cautelosos realizam exames que acreditam ser desnecessários por causa do temor de processos. O medo de ser processado, contudo, não explica a realização de cirurgias, implantação de pontes de safena, cateterismo. De fato, médicos estão sendo processados por terem realizado esses procedimentos. Um médico que trabalhou em um hospital não muito longe de Washington D.C. foi processado por inserir catéteres desnecessariamente em 580 pacientes. Diagnóstico – Como seu livro repercutiu no mercado de saúde americano? Em algum momento se sentiu constrangida por parte da indústria ou pelos médicos? Rosemary – O tema do excesso de tratamento não é bem recebido por aqueles que dependem da renda proveniente do excesso de tratamento dos pacientes. Entretanto, o clima mudou. Se há dois anos era difícil até abordar o tópico, agora eu posso ir a encontros e falar sobre excesso de tratamento com muita liberdade. Solicitaram que eu falasse no Encontro Nacional sobre Excesso de Tratamento, realizado no último mês de setembro, sob o patrocínio da Associação Médica Americana e da Joint Comission. O fato de ter acontecido um evento dessa magnitude mostra como a maré virou. Dito isso, o desafio de falar sobre excesso de tratamento ainda permanece. Afinal, o débito que os Estados Unidos têm no orçamento federal e os gastos com o sistema de saúde são o principal fator de endividamento. O Congressional Budget Office (escritório de orçamento do Congresso Americano) estima que, se continuarmos nesse ritmo, em 2082 os Estados Unidos vão gastar todo o PIB com o sistema de saúde. O único lugar razoável para fazer os cortes é o excesso de tratamento, onde não estamos agregando valor à saúde do paciente. A principal razão Diagnóstico | nov/dez 2012 11


CAPA ROSEMARY GIBSON para fazermos isso, entretanto, é que pessoas estão sofrendo danos por conta de cirurgias e exames desnecessários. Diagnóstico – Segundo um trabalho publicado no Jama (jornal da Associação Americana de Medicina) em 2000, o ato de pagar uma viagem para um profissional aumenta entre 4,5 e 10 vezes a possibilidade de ele receitar as drogas produzidas pela patrocinadora. Esse marketing é legítimo? Rosemary – Muitos estudos mostram que os médicos que recebem dinheiro das companhias são influenciados por esses pagamentos na hora de tomar decisões. As grandes e antigas tradições da medicina chamam os médicos a ter o interesse do paciente como o principal e único propósito. Agora passamos a ter conflitos de interesse. Diagnóstico – Pela sua experiência, a senhora arriscaria dizer a porção de médicos americanos que praticam tratamento excessivo nos Estados Unidos? Rosemary – Certa vez, um médico de grande reputação, disse-me durante um jantar que um terço das pessoas que estão na medicina continuam trabalhando por que essa é a sua vocação; um terço por causa do dinheiro e outro terço está pensando em abandonar a carreira porque está cansado de ver os colegas prescreverem procedimentos médicos desnecessários para os seus pacientes. O excesso de tratamento chegou a ser mencionado em um discurso há sete anos pelo presidente Obama (então senador), mas nunca mais isso foi mencionado em público. Diagnóstico – Muito se fala nos conflitos de interesse com ênfase nas atitudes dos médicos. Mas não deveria haver um maior rigor também com a postura ética dos hospitais? Rosemary – É difícil. Há algumas clínicas e hospitais que só visam ao lucro e nunca ao paciente. Você sabe o quão terríveis eles podem ser? Nos Estados Unidos há um programa de atendimen12 Diagnóstico | nov/dez 2012

to específico para pessoas em estado terminal (End of Life Care). Essas pessoas não serão curadas, mas têm direito a passar um tempo, normalmente uns seis meses, internadas recebendo todo atendimento para que se sintam confortáveis. Há clínicas que, para receber o dinheiro do governo, matriculam pessoas que não estão doentes, que não têm perspectiva de morrer. O 60 Minutes (programa de TV da rede americana CBS) mostrou como executivos de hospitais são constantemente pressionados a admitir pacientes idosos para suas unidades mesmo quando não há necessidade médica. Entrevistei um médico para o A Armadilha do Tratamento. Segundo ele, o diretor financeiro do hospital onde ele trabalhava disse que, se ele e os seus colegas pudessem admitir

“IMUNIDADE DA REPUTAÇÃO”: para a pesquisadora, pacientes querem que médicos sejam leais a eles e somente a eles


um paciente a mais por mês, o hospital estaria em uma situação financeira mais sólida. Que pessoa quer ser esse indivíduo adicional e ser internado em um hospital? São lugares assustadores. Isso mostra o quanto perdemos a nossa bússola moral. Diagnóstico – Em busca de transparência, os Estados Unidos dispõem de uma lei que obriga as indústrias a informar quais são os médicos que lhes prestam consultoria e quanto eles recebem. Além disso, há iniciativas como o site ProPublica, em que qualquer cidadão pode consultar quanto um médico recebeu de um fabricante qualquer. Até que ponto isso tem funcionado? Rosemary – A transparência na infor-

mação sobre o dinheiro que os médicos recebem das companhias é uma coisa boa. Mas agora há uma tendência de que mais médicos sejam empregados das companhias, que estão comprando consultórios médicos nos EUA. Os conflitos entre o interesse do paciente e dos prestadores em fazer dinheiro são maiores do que nunca. Isso jamais pode ser bom para o paciente, muito menos para o seu bem-estar. Diagnóstico – Médicos brasileiros não éticos costumam associar a prática de overuse à baixa remuneração que recebem. Esse é um argumento aceitável? Rosemary – Como observado, tratamento excessivo, para o Instituto de Medicina, é quando o potencial para dano de um serviço médico é maior do que o seu possível benefício. Nunca pode ser aceitável que um médico exponha os seus pacientes a riscos que excedam possíveis benefícios.

As empresas têm um dever fiduciário primário com os seus acionistas, e os médicos, com seus pacientes. Essas forças são conflitantes médicos, com os pacientes. Estas duas forças são conflitantes. O resultado é uma armadilha de tratamento em que muitos pacientes caem.

Diagnóstico – Por que é tão difícil punir um médico que age como “sócio” de fornecedores, cobrando comissões para usar determinada prótese ou indicar um laboratório, por exemplo? Rosemary – Os médicos podem fazer muito pelos seus pacientes. Um paciente que eu conheço descreve isso como a “imunidade da reputação”, que deriva dos cuidados médicos. Pacientes querem médicos que sejam leais a eles e somente a eles.

Diagnóstico – Diante de tudo o que foi exposto, a senhora tem esperança de que o seu livro possa mudar a realidade? Rosemary – O primeiro passo para resolver um problema é falar sobre ele. Se permanece invisível, nunca vai ser corrigido. A boa notícia é que mais pessoas estão falando sobre os danos das armadilhas de tratamento. Não chegamos a este ponto da noite para o dia e vai levar, na mesma medida, um longo tempo para nos desenterrarmos. Pelo menos, há mais honestidade em torno do debate.

Diagnóstico – Os defensores da saúde pública e gratuita acreditam que esse tipo de distorção é quase uma prerrogativa do modelo capitalista implantado na saúde. O que a senhora pensa a respeito? Rosemary – Todo mercado precisa ser regulado. Os americanos não se importam que alguém ganhe muito dinheiro trabalhando duro. O que as pessoas não suportam é a fraude. Aqui há um conflito de interesses em um nível muito alto. As empresas têm um dever fiduciário primário com os seus acionistas, e os

Diagnóstico – Há planos para lançar o seu livro no Brasil? Rosemary – Eu gostaria muito que o livro fosse traduzido para que as pessoas no Brasil pudessem estar cientes deste fenômeno nos cuidados de saúde. Afinal, acredito que tratamento excessivo seja um problema crescente também em mercados emergentes. Editá-lo seria um grande serviço público ao cidadão brasileiro. Nos EUA, parte da renda com a venda da obra será doada para ajudar pacientes que tenham sido vítimas do overuse. Diagnóstico | nov/dez 2012 13


ENSAIO Gestão

Uma abordagem pessoal para a gestão organizacional do tempo Escolher o que ignorar pode representar a mais importante estratégia de gerenciamento de todo os tempos, segundo o consultor Peter Bregman Peter Bregman | Tradução: Aline Cruz Fotos: Shutterstock

Todos os gestores acreditam que suas prioridades deveriam ser as principais

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O

maior e mais destrutivo mito na gestão do tempo é que você pode conseguir que tudo esteja pronto apenas se seguir o sistema correto, utilizar a lista de tarefas correta ou sistematizar seus afazeres da maneira correta. Isso é um erro. Vivemos em um tempo no qual o fluxo intenso de informação e comunicação, combinado com nossa incessante acessibilidade, nos sugere que poderíamos trabalhar todas as horas de nosso dia (e da noite) – e ainda assim não conseguir terminar tudo. Por esta razão, escolher o que ignorar pode representar a mais importante estratégia de gerenciamento de todos os tempos. Para ilustrar, olharemos para as experiências de Todd, diretor comercial de uma empresa de finanças e subordinado direto do CEO. Todd vem tendo dificuldade para mudar o modo como as pessoas são abordadas no processo de vendas. Ele queria que os alvos fossem pessoas que pudessem dar uma margem de lucro maior, queria que os colaboradores fossem mais estrategistas a respeito de qual prospecções realizar, quais pessoas visitar e para quais pessoas apenas ligar. Finalmente, ele gostaria de ser mais corajoso a respeito de perseguir prospectos arriscados, nos quais as chances de sucesso fossem pequenas, mas as recompensas seriam altas – e gostaria de ignorar aqueles cujas contas não são necessariamente lucrativas. “Eu disse a eles tudo isso múltiplas vezes”, afirmou Todd. “Eu até sentei com eles em um longo treinamento. Mas o comportamento deles não muda. Eles ainda vendem do mesmo jeito antigo, para os mesmos clientes antigos”. Os vendedores de Todd sabiam o que ele queria deles e estavam aptos a fazê-lo. Eles também não eram lentos; estavam trabalhando durante longas horas e com bastante esforço. O problema é que os colaboradores de Todd pensavam que conseguiriam fazer tudo. Esse é o motivo pelo qual eles resistiram a segmentar seus mercados ou medir o potencial de cada prospecto antes de planejar a visita: eles não queriam perder nenhuma oportunidade. Ainda assim, por causa de seu tempo limitado, eles acabavam perdendo algumas de suas melhores oportunidades de negócio. Se este problema atormenta pessoas do setor de vendas, como Todd, imagine o que pode fazer com executivos seniores. O alcance, complexidade e ambiguidade dos papéis de líderes seniores não apenas criam permutações infinitas de prioridades,


mas também tornam mais difícil alcançar uma performance real ou feedback de produtividade. Não é de se estranhar que apenas 52% dos executivos questionados pela McKinsey disseram que o modo como gastam seu tempo casa perfeitamente com as prioridades estratégicas. Não colocamos muito regularmente problemas organizacionais (como fraco alinhamento entre prioridades da estratégia de uma companhia ou pobre colaboração entre os gestores principais) no domínio da gestão de tempo, que é geralmente visto como um problema individual. Intrometer-se com a lista de afazeres de alguém ou com seu calendário parece ser um microgerenciamento. Além disso, o gerenciamento do tempo parece uma solução muito simplista para um problema organizacional muito maior e complexo. Mas, nesse caso, a solução mais simples pode ser a mais poderosa, porque a maior parte dos desafios de mudança de comportamento é simplesmente sobre como as pessoas gastam seu tempo. É precisamente aí que a gestão do tempo individual e a gestão organizacional do tempo precisam se interconectar. A questão é como. Aqui está uma aproximação honesta. Passo um: identificar cinco coisas – e não mais que isso – nas quais deseje focar durante o ano. Deve gastar cerca de 95% do tempo nessas coisas. Por que cinco coisas? Por que 95% do tempo? Porque realizar as coisas é algo que tem a ver completamente

QUANDO E ONDE: forma como as pessoas gastam seu tempo pode interferir negativamente na produtividade e na vida pessoal dos colaboradores

com foco. Se ao invés de gastar 95% do tempo em seu top cinco, gastar 80% do tempo em seu top dez, irá perder o foco, e as coisas começarão a cair por terra. Como um exemplo, as cinco coisas de Todd incluem: 1. Esclarecer e refinar as estratégias de vendas para margens maiores. 2. Falar e escrever para divulgar o trabalho para prospectos de maior margem. 3. Visitar prospectos e clientes de maior margem. 4. Desenvolver e motivar o time de vendas, para que foque neste perfil de clientes. 5. Fornecer um gerenciamento cruzado da liderança executiva. Suas cinco coisas formam a estrutura de sua lista de afazeres. Divida um pedaço de papel em seis quadros, cinco contendo suas prioridades e outro contendo “os outros 5%”. Esta caixa dos “outros 5%” é como açúcar – um pouco pode ser ok, mas não mais de 5% no seu dia deve envolver atividades que não se encaixem em suas cinco áreas de foco anual.

Vivemos em um tempo no qual o fluxo intenso de informação e comunicação, combinado com nossa incessante acessibilidade, nos sugere que poderíamos trabalhar todas as horas de nosso dia (e da noite), e ainda assim não conseguir terminar tudo Diagnóstico | nov/dez 2012 15


ENSAIO Gestão Se um CEO está criando uma estratégia para a organização, a instituição precisa criar tarefas diárias ao redor desta estratégia. O poder deste processo reside em sua simplicidade e concreticidade

Uma vez terminados os seis quadros, preencha-os com atividades de sua transbordante lista de afazeres. Se houver tarefas – e haverá – que não se encaixem em sua lista principal, coloque-as em seu quadro dos 5%. Quando comecei a usar a lista de tarefas de seis quadros, metade de minhas tarefas saíam do meu top cinco. Isso mudou um dia após começar a usar esta lista, quando aprendi a dispensar e deletar o que me distraía do meu foco estratégico (claro que, se o quadro dos 5% está cheio de tarefas que não podem ser deletadas e que demorarão mais de quatro horas por semana, isso sugere que as prioridades podem estar erradas). Passo dois: uma vez que já foi criada a lista de seis quadros de afazeres, ajude os colaboradores a criar suas respectivas listas. Aí é que o alinhamento – não apenas estratégias, mas ações – entra. Cada uma das listas de seis quadros dos colaboradores deve sair de seu top cinco. Seu top cinco deve vir de seu supervisor, e assim por diante, até o último top cinco, traçado pelo presidente da empresa. Clarear as prioridades para ações diárias na maior parte das chefias da organização é particularmente importante, precisamente porque a maior parte dos trabalhos para gestores é complexa e dispersa. O CEO é responsável pela maior parte do que acontece na organização. Mas focar na superfície é alcançar coisa alguma. Então, é trabalho do gestor – juntamente com todos os gestores – identificar as primeiras pequenas coisas que levarão às prioridades de toda a organização. No caso de Todd, seu CEO havia identificado maiores margens em seu próprio top cinco. Então Todd – que se reportava diretamente para o gestor – focou seu top cinco nisso. E os colaboradores de Todd, por sua vez, listaram seus top cinco a partir da lista de Todd. Passo três: use esta lista de afazeres para gerenciar os colaboradores mais de perto, sem o microgerenciamento. Em um rápido relance, é possível observar as prioridades deles, assim como as ações que irão tomar para mover esse top cinco para cima. Se estiverem fazendo a coisa errada, pode-se pontuar imediatamente e guiar apropriadamente. E se estiverem fazendo a coisa certa, pode-se reconhecer e contribuir com o sucesso. O poder deste processo reside em sua simplicidade e concreticidade. Estes não são top cinco objetivos ou top cinco metas. Eles compõem a estrutura de cada lista de afazeres, de cada pessoa, e traduzem, diretamente, o gasto de tempo no trabalho – o que é a diferença entre conseguir as coisas feitas e apenas declarar que é importante fazê-las. Em resumo, “o gerenciamento pela lista de seis quadros” encoraja transparência organizacional e o alinhamento estratégico. Também empodera executivos, gestores e colaboradores para 16 Diagnóstico | nov/dez 2012

que recuem quando houver mais trabalho do que o que deveria ser estabelecido, o que os distrai de suas áreas de foco estratégico. Quando as pessoas começam a distribuir as tarefas que não estão em suas áreas de foco, existe uma estrutura para trazer a distração em questão para que o grupo a discuta e avalie se é preciso agregá-la às tarefas ou resistir. Esta abordagem pega o estabelecimento normal de metas e o leva mais longe, criando um sistema muito mais provável de ser executado. Cada dia, gestores e colaboradores conectam suas tarefas diárias com as prioridades da organização. Isso é bastante utilizável em organizações com filiais, nas quais pessoas muitas vezes possuem relação com múltiplos gestores, e em organizações globais, com linhas cruzadas de gestão que podem ser complicadas, resultando no embate entre prioridades regionais, locais e a prerrogativa geral. Nessas instâncias, aumenta-se a confusão, além da complexidade da estrutura de gestão. Todos os gestores acreditam que suas prioridades deveriam ser as principais. A tensão aumenta, juntamente com a resistência passivo-agressiva e procrastinação por excesso de demandas. A lista de seis quadros clareia a confusão colocando tudo no papel e garantindo o alinhamento – não apenas de cima para baixo, mas através da hierarquia também. Cada funcionário tem sua própria lista – e se algum gestor quer que ele foque em algo fora de sua lista, isso fica imediatamente evidente e é resolvido no nível em que deveria ser resolvido: entre os próprios gestores. Muitas organizações usam MBOs (management by objectives ou, em português, administração por objetivos), mas esses objetivos raramente são vistos além do relatório anual de performance (ou, em alguns casos, em um relatório trimestral) e nunca são traduzidos em atividades diárias. Se um CEO está criando uma estratégia para a organização, a instituição precisa criar tarefas diárias ao redor desta estratégia. No início, quando Todd começou a usar a lista de seis quadros, todos ficaram nervosos. Muito da ansiedade foi de ter que revelar as listas pessoais de afazeres para os demais. Mas depois de alguns dias, isso deixou de ser um problema. A real fonte de desconforto era que os colaboradores de Todd começaram a descartar muito do que haviam planejado antes. Não demorou muito para que ganhassem confiança – e prazer –, limitando seus esforços para o que traria retorno. Esse foco permitiu que um dos funcionários ligados a Todd recentemente fizesse a venda mais lucrativa que a divisão de Todd jamais havia feito naquela empresa centenária. Isso sem trabalhar em nenhum fim de semana. Este artigo é uma reprodução. Mckinsey Quartely | www. mckinseyquartely.com. Publicado com autorização.


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Maisa Domenech ARTIGO Roberto Abreu

Maisa Domenech é engenheira civil, pós-graduada em Administração Hospitalar e consultora

OS NOVOS MODELOS DE REMUNERAÇÃO: REALIDADE POSTA. O QUE ESTAMOS ESPERANDO PARA MUDAR AS ANTIGAS PRÁTICAS? Como comentado em artigo anterior, profundas mudanças vêm ocorrendo no mercado de saúde suplementar, capitaneadas pela Agência Nacional de Saúde (ANS), com impactos importantes no setor como um todo, e em particular para os prestadores de serviços médico-hospitalares. Parte destas requer dos dirigentes dos hospitais e clínicas conhecimento e iniciativa, para não só minimizar os efeitos negativos impostos por elas, como também para fazer valer os benefícios oriundos de tais transformações. Destacamos neste artigo os novos modelos de remuneração, que têm como premissa a remuneração efetiva das instituições pelos serviços prestados. Tais mudanças foram justificadas a partir da necessidade de definição de um modelo de pagamento a prestadores de serviços que não contribua para a perda da efetividade do tratamento, já que a prática de mercado atual estimula a maior produção e não a melhor qualidade com o menor desperdício. O acordo para adoção dos novos modelos de remuneração dos atendimentos na saúde suplementar foi selado em 6/12/2012 pela ANS, representantes dos prestadores de serviços e dos planos de saúde. Nos novos modelos propostos, diferentemente do atual modelo de remuneração, denominado “conta aberta por unidade de serviço” (fee-for-service), temos a conta aberta aprimorada, na forma de tabela compactada, para aplicação nos procedimentos hospitalares que ofereçam dificuldades de padronização dos insumos e serviços. Para as demais situações, em que os procedimentos são de alta frequência e baixa variabilidade dos processos assistenciais, temos os procedimentos gerenciados, cujos preços deverão ser previamente fixados pelo prestador de serviço. Os procedimentos gerenciados, embora similares na forma de cobrança aos nossos antigos conhecidos “pacotes” ou “embrulhos”, não deverão ser formatados como estes com 18 Diagnóstico | nov/dez 2012

base nos valores financeiros médios das contas, mas fundamentados em protocolos cirúrgicos ou clínicos (estes a serem experimentados em fase mais adiante), diretrizes e consensos técnicos definidos pelos especialistas que compõem o corpo clínico do hospital, para que, a partir daí, sejam precificados os serviços com base em custos. Pois é, em custos! É uma ferramenta tão difundida em outras áreas de prestação de serviço e venda de produtos, mas ainda pouco desenvolvida e aplicada na área de saúde. Vale ressaltar que a ANS informa que inicialmente a adoção dos novos modelos de remuneração será voluntária, mas que estudos estão sendo elaborados para induzir a maior aderência ao modelo proposto. Tal informação nos leva a crer que os hospitais e clínicas não terão opções de escolha no que diz respeito à implantação, salvo a decisão se desejarão ter a competência e possibilidade de discutir e/ou definir os preços dos serviços médico-hospitalares prestados, ou se preferirão tê-los impostos pelas operadoras de planos de saúde. Para que os hospitais e clínicas possam optar pela primeira, serão necessários alguns ingredientes fundamentais, como conhecimento técnico para respaldar as discussões e decisões, assim como a busca de elementos de força, de conjugação de esforços, tal como descrito em publicação na revista Diagnóstico (Ano IV, Nº 16, JUL/AGO 2012), que impeçam imposições por parte dos compradores de tais serviços. Como mencionado no segundo parágrafo, os novos modelos de remuneração, assim como os demais estudos e conceitos técnicos que têm sido desenvolvidos pela ANS, foram discutidos e pré-acordados por todas as entidades que compõem a saúde suplementar e, portanto, passíveis de implantação a curto prazo sem demandar maiores discussões. Faço ressalva às órteses, próteses e materiais especiais (OPME), que foram incluídos na composição dos itens que integram os procedimentos gerenciados como um passe de mágica, ou seja, sem qualquer consenso entre as citadas entidades. Aliás, foram incluídos pela ANS apesar do consenso de não inclusão deste item . Precisarão, pois, os prestadores de serviços não só estar atentos a toda esta movimentação de mercado como investir na qualificação dos seus processos de trabalho e modelos de gestão, focando na melhoria da assistência e contribuindo, assim, para garantir a perenidade dos hospitais e clínicas. Como abordei em publicação na revista Diagnóstico (Ano III, Nº 8, NOV/DEZ 2010), “tais iniciativas, aliadas à tendência de padronização dos pacotes como forma de cobrança, demonstram a necessidade urgente em evoluir protocolos de atendimento e cuidar do custo e da eficiência dentro da cadeia de valor”.


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Divulgação

ENTREVISTA FLEXA RIBEIRO

senAdor FLEXA RIBEIRO: investidor estrangeiro terá que se associar a parceiro nacional e ser sócio minoritário do empreendimento


“Há um lobby forte contra a entrada de capital estrangeiro na saúde” Autor do PL 259/2009 que flexibiliza a entrada de capital estrangeiro em hospitais brasileiros, o senador Flexa Ribeiro (PSDB/PA) diz que o atraso na tramitação do projeto impede a saúde do país de avançar Reinaldo Braga Revista Diagnóstico – Por que o projeto de lei (PL 259) que flexibiliza a entrada de capital estrangeiro em hospitais brasileiros ainda não foi aprovado? Flexa Ribeiro – Lamentavelmente, esse projeto tem um lobby muito forte contrário à sua aprovação por parte de operadores nacionais da área de assistência médica, que não o deixam caminhar. Dei entrada nesse projeto em 2009 e iremos iniciar a sessão legislativa de 2013 com trâmite ainda em seu primeiro degrau, que é a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Nesse período, foi trocado o relator; pediram vista e foi solicitado também que o projeto tramitasse em mais três comissões: Assuntos Sociais, que é a de mérito, Relações Exteriores – que não entendi o porquê – e na Comissão de Justiça, cujo trâmite também considero normal. Diagnóstico – É possível dar nomes ao lobby contrário à aprovação ao qual o senhor se referiu? Ribeiro – Não tenho como nomeá-los. Mas posso dizer que há muito interesse por trás desse projeto, contrário e a favor. Afinal, o capital estrangeiro está sendo incentivado pelo próprio governo a investir no Brasil. E uma das metas da presidente Dilma é expandir a política de parceria público-privado para as áreas de infraestrutura estratégica, como aviação e portos – só para citar alguns exemplos. Não há por que, sobre a lógica de coerência do governo, que a assistência médica fique de fora desse contexto. Diagnóstico – Qual seria o prazo ideal para a aprovação de um projeto dessa importância? Ribeiro – Com vontade política, em 60 dias. Basta o governo, que tem maioria nas duas casas [Senado e Câmara], pedir urgência.

Diagnóstico – O senhor já recebeu a visita de algum lobista a favor do projeto? Ribeiro – Nem a favor, nem contra. Diagnóstico – O que motivou o senhor a propor esse projeto? Ribeiro – Para o Brasil avançar na saúde é preciso de capital, de investimento. E falta dinheiro para isso. Há um consenso de que o país não consegue avançar com recursos públicos, de orçamento, nem tampouco privados, de origem 100% nacional, na velocidade que a nação precisa. Diagnóstico – Mesmo assim, o projeto impõe algumas exclusões à entrada do capital estrangeiro, como o setor de hemoderivados, banco de órgãos e tecidos. Ribeiro – São áreas de atuação que entendemos, por questões estratégicas, devem permanecer nas mãos do capital nacional. Outra restrição é a que impede que o investidor estrangeiro opere apenas em nichos de grande rentabilidade, em detrimento da exploração de outros serviços. Assim, o projeto desestimula, com a limitação do número de leitos, qualquer investimento estrangeiro na saúde voltado exclusivamente para a alta complexidade, a exemplo de um hospital especializado em cirurgia cardíaca. Ele pode até ser especialista, mas vai ter que atuar também na média complexidade e na atenção básica. O investidor estrangeiro também terá, obrigatoriamente, que se associar a um parceiro local, que deverá ser o sócio majoritário (no mínimo 51%) do empreendimento. Diagnóstico – A ressalva não pode espantar o capital estrangeiro? Ribeiro – O Brasil é muito interessante para o mundo. O texto da PL permite que as regras sejam claras para o investidor

e a intenção do país com a abertura do mercado. Queremos que esse capital crie uma estrutura de assistência em que a sociedade seja melhor atendida, com mais leitos, mais hospitais e mais brasileiros inseridos no sistema. Mas, por outro lado, não podemos abrir mão de nossa soberania. Diagnóstico – Alguns investidores acreditam que, se a PL 259 não for aprovada em 2013, só terá chance na pauta do Congresso em 2015, já que 2014 é um ano eleitoral. Faz sentido? Ribeiro – Eu espero que o projeto seja votado este ano. Diagnóstico – Fontes do mercado acreditam que a aprovação do projeto, neste momento, não é de interesse de grandes consolidadores locais, que estão adquirindo operações em todo o Brasil. A tese é a de que a flexibilização poderia inflacionar o mercado de fusões e aquisições. Pode comentar? Ribeiro – Trata-se de uma premissa coerente, mas de mercado. Com mais concorrência, a tendência, sob esse aspecto, é de uma subida de preços. Mas minha preocupação é com a assistência, que tende a subir de patamar de qualidade com a entrada de novos investidores e tornar a oferta de serviços no setor de saúde mais acessível à população. É isso o que me interessa como legislador. Diagnóstico – O senhor não teme que, com a defesa de um projeto tão polêmico, possa ser rotulado como um senador comprometido com os interesses do capital estrangeiro? Ribeiro – Não me preocupo com rótulos. Todo parlamentar deve trabalhar com aquilo que, na sua consciência, seja o melhor para o país. É dessa forma que pauto o meu mandato. Diagnóstico | nov/dez 2012 21


Grupo Delfin

Parceria assertiva Grupo Delfin e hospital São Rafael mantêm gestão colaborativa do serviço de bioimagem há sete anos

Fotos: Roberto Abreu

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tradição de qualidade do Grupo Delfin e a consistência em gestão hospitalar e tecnologia do Hospital São Rafael são os pilares da parceria institucional na gestão do serviço de bioimagem. A administração colaborativa do serviço de bioimagem do hospital, que existe desde 2005, permitiu que o parque tecnológico fosse renovado e proporcionou uma série de inovações que levaram o serviço a ser reconhecido como um dos melhores do estado, por conta do investimento em equipamentos de ponta exclusivos à época. Desde então, o sistema é atualizado periodicamente para continuar sempre à frente e permitir que os pacientes tenham acesso ao que há de mais moderno e seguro. “A parceria com o HSR é uma das maiores da Bahia e nos trouxe outra visão sobre os serviços de diagnóstico por imagem em unidades de emergência, aumentando a visibilidade e a credibilidade junto aos nossos clientes”, afirma Delfin Gonzalez, presidente do Grupo Delfin. Condizente com a proposta do São Rafael de oferecer um 22 Diagnóstico | nov/dez 2012

atendimento humanizado e de qualidade, o serviço da Delfin conta com equipamentos modernos, equipe capacitada e estrutura física adequada. Com segurança, conforto, agilidade e equipamentos de última geração, o serviço de bioimagem realiza os mais diversos exames de diagnóstico por imagem, pelos métodos de radiologia convencional, ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética. Além disso, o serviço também é referência na realização de ressonância magnética com sedação para pacientes resistentes, como crianças, idosos, casos de claustrofobia e em radiologia intervencionista. “A expertise do Grupo Delfin na administração do serviço de bioimagem agrega muitos valores ao São Rafael, entre eles mais tempo para potencializar a administração hospitalar”, afirma Alfredo Martini, diretor-geral do São Rafael. Cada dia mais requisitado, o serviço de bioimagem do São Rafael tem uma média mensal de 14 mil exames. Para atender a demanda e facilitar ainda mais o diálogo das informações, o


serviço é constantemente atualizado e vai ganhar ainda neste semestre um novo PACS – sistemas de arquivo e distribuição de imagem digital. “Com isso, médicos e técnicos terão acesso 24 horas aos resultados de exames pela intranet e pela internet, o que vai garantir ainda mais agilidade na tomada de decisões e acelerar o tratamento dos pacientes”, destaca Paulo Engrácio, coordenador do serviço de radiologia do hospital. Também será reduzido o uso de filme radiográfico, o que vai gerar benefícios econômicos e, principalmente, para o meio ambiente. Entre os planos para 2013 estão a ampliação do parque de tomografia, que passará a contar com sete salas, mais o serviço de emergência, que ganhará um equipamento de tomografia com 128 canais, que garantirá imediatismo no atendimento de politraumatizados e diagnósticos de pacientes com AVC, intercorrências cardíacas, dor torácica, entre outros. O equipamento possibilita ainda acesso remoto por telerradiologia aos pacientes críticos. Dessa forma, o médico não precisará estar fisicamente na unidade hospitalar para apreciar o caso, possibilidade inédita no estado da Bahia. “A ampliação e a contínua renovação do parque de bioimagem foi um dos maiores ganhos da parceria entre o Grupo Delfin e o Hospital São Rafael”, confirma o coordenador do serviço. A aquisição de uma nova ressonância magnética de alto campo, que poderá fazer novos exames, como, por exemplo, a ressonância de mama, faz parte do leque de novos equipamentos que irá complementar o portfólio de serviços

na área de diagnóstico. Os equipamentos atuais também serão atualizados e passarão a emitir baixa dose de radiação, o que beneficia pacientes que são submetidos a exames periódicos e a equipe do hospital. Presente com o serviço de bioimagem em outros hospitais, como o Português, Hospital da Bahia, em Salvador, e o Natal Center, no Rio Grande do Norte, o Grupo Delfin faz parte de uma seleta categoria com expertise na área de diagnóstico em ambiente hospitalar, mantendo a excelência como clínica de imagem. Formação acadêmica – Outro benefício da parceria entre as instituições é a qualificação do corpo clínico do hospital. Uma das razões para a qualidade é o programa de residência médica em radiologia, que tem o reconhecimento de ser o melhor da Bahia e um dos melhores do país. Isso é possível graças aos convênios com diversas faculdades e universidades. “Temos vocação educacional e um corpo clínico diferenciado. Tudo isso colabora para que a instituição seja reconhecida pela sua excelência”, assegura Martini. No programa, os residentes são treinados em radiologia geral e em ultrassonografia. A pós-residência em neurorradiologia, ressonância em muscoesquelético e em tórax e abdômen é outra possibilidade. “Uma das razões para a evolução do programa de residência pode ser atribuída à expertise do Grupo Delfin e aos equipamentos de ponta que são utilizados aqui, além da formação dos médicos envolvidos e da alta complexidade do hospital”, finaliza Engrácio. Diagnóstico | nov/dez 2012 23


ARTIGO Gestão Divulgação

O Guru da competitividade, Michael Porter: lições para o trade de saúde brasileiro em série de artigos inéditos publicados pela Diagnóstico

“As operadoras podem intervir menos na prática médica” Tradução: Gilson Jorge

No segundo e último capítulo do ensaio How Physicians Can Change the Future of Health Care (Como os Médicos Podem Mudar o Futuro do Sistema de Saúde – em tradução livre ), o americano Michael Porter defende a concorrência baseada no valor como alternativa aos conflitos de interesse entre médicos, pacientes e fontes pagadoras 24 Diagnóstico | nov/dez 2012


O

s três princípios para transformar a prestação de cuidados de saúde estão fortemente interligados. Boas medidas de resultados exigem clareza que o objetivo é o valor para o paciente, e que o valor é criado no tratamento de condições médicas ao longo do ciclo completo de tratamento. A ampla disponibilidade de medidas de resultados confiáveis por condição e pela equipe médica irá produzir poderosos efeitos em cascata em todo o sistema. Vários tipos de mudança serão colocados em movimento. Busca de excelência nas escolhas da linha de serviço Hoje, as escolhas práticas são feitas com base em padrões tradicionais, com um viés na direção de oferecer uma ampla gama de serviços no campo de uma especialidade médica. Muitos médicos procuram variedade em suas práticas para evitar o tédio. Um anestesista, por exemplo, explicou-nos que ele ocasionalmente lida com pacientes pediátricos cujas necessidades diferentes os tornam interessantes. Mas ele faria isso se os resultados mostrassem que a sua prática está aquém da excelência? Da mesma forma, a maioria dos hospitais oferece uma completa gama de serviços. Até mesmo unidades do mesmo sistema hospitalar costumam atuar como entidades autônomas. A concorrência baseada no valor encorajaria a profundidade na prática, em vez da largura. Há evidências de que o valor do paciente aumenta com a experiência e o volume do médico e de sua equipe e com profundo conhecimento em determinadas condições médicas e procedimentos cirúrgicos. A experiência permite o aprendizado, e o aprendizado leva à recuperação mais rápida e mais completa, menos erros e uma melhor experiência do paciente. Volume suporta equipes dedicadas, instalações adaptadas, feedback de pares, melhor tecnologia de informação e a capacidade de integrar e ampliar os serviços ao longo do ciclo de cuidados. À medida que os médicos se concentram em melhorar o valor para os pacientes, eles vão gravitar para as áreas em que se pode alcançar a verdadeira

excelência. Isto não implica uma espiral em constante estreitamento da hiperespecialização. Os médicos podem ampliar e aprofundar os seus conhecimentos através da compreensão das interdependências entre especialidades e em todo o ciclo de atendimento. Em vez de se concentrar em determinados procedimentos, os médicos se tornariam mais especialistas no sucesso total do paciente. Por exemplo, a prática de fibrose cística no Fairview (hospital pediátrico da Universidade de Minnesota) agora inclui uma prática em medicina reprodutiva especializada, assim como diabetes e clínicas especializadas gastrointestinais para atender às necessidades desses pacientes com as condições que frequentemente coocorrem. Alguns médicos se concentram na gestão da

Do jeito que o sistema de saúde atual está quebrado, é uma ilusão supor que ele pode ser corrigido no atoleiro atual de pagamento por tratamento e não de medição de resultados coocorrência de doenças crônicas, enquanto outros definem a sua prática com mais precisão, por exemplo, mudando de cirurgia geral para o tratamento do câncer de mama. Cada um dos cirurgiões do Boston Spine Group (Grupo de Coluna Boston), por exemplo, tem atraído o tratamento de algumas, mas não todas, as condições da coluna vertebral. Os resultados clínicos do grupo têm melhorado, assim como o seu market share. Os médicos que procuram trabalhar em tal nível de excelência nunca vão se entediar. À medida que os médicos buscam a excelência, as escolhas feitas por milhares de médicos individualmente irão produzir três mudanças importantes na prática médica. Primeiro, o desempenho médio do médico irá aumentar. À medida que cada médico fornece mais dos

serviços, ele/ela faz melhor e aprende mais rápido. Em segundo lugar, as equipes verdadeiramente excelentes irão tratar uma maior proporção de pacientes em cada condição médica. E, terceiro, o valor global do cuidado do paciente irá melhorar dramaticamente. Colaborações mais efetivas Muitos médicos hoje estão frustrados com a organização dos cuidados, com a sua má coordenação, ineficiência, redundância e escasso compartilhamento de informações. A maioria dos provedores de serviços completos de saúde não está integrada. A especialidade atual e o modelo baseado em procedimentos cria a necessidade de coordenação exponencialmente maior entre entidades separadas, mas torna a coordenação extremamente difícil. A concorrência baseada no valor irá desencadear a proliferação de unidades de prática integradas, nas quais os médicos podem operar com maior eficácia do que nas unidades isoladas de hoje. Médicos serão habilitados e encorajados a fazer escolhas melhores sobre suas colaborações com outros médicos e equipes no ciclo de atendimento, seja em fazer referências, filiar, ou o desenvolvimento de outros tipos de parcerias. Hoje, as referências são muitas vezes baseadas em redes informais pessoais ou de cativeiro e redes financeiras. Os médicos focados em valor para os pacientes já não se veem como autossuficientes, atores isolados. Em vez disso, eles vão construir fortes ligações profissionais com especialistas complementares que contribuem para o atendimento ao paciente através dos ciclos de tratamento de seus pacientes. Unidades práticas integradas podem envolver grupos de médicos independentes ou podem ser construídas dentro de hospitais ou clínicas. De qualquer forma, os médicos irão formar ou participar de organizações que lhes dão acesso aos ciclos de classe mundial de cuidados, pois os resultados que seus pacientes vão alcançar dependem da qualidade dos cuidados ao longo do ciclo. Em seu campo, os médicos vão querer se afiliar ou compartilhar conhecimento com outras excelentes equipes. Isto pode assumir a forma de bancos de dados compartilhados, como são usados pela Sociedade de Cirurgiões Torácicos, a nível nacional, Diagnóstico | nov/dez 2012 25


ARTIGO Gestão ensaios clínicos, como são perseguidos em oncologia pediátrica, ou resultados comparativos e medições de processos, como ocorreu na gestão de pacientes com fibrose cística. Unidades práticas integradas, juntamente com informações de resultados confiáveis, irão produzir ganhos importantes em qualquer condição médica. Maior envolvimento do paciente A assistência médica é incomum na medida em que é um serviço que deve ser produzido em conjunto pela equipe médica e pelo paciente. À medida que os médicos abracem o conceito de ciclo de cuidados, eles vão inovar e encontrar melhores maneiras de alistar pacientes em seu próprio cuidado e enviar uma forte mensagem sobre a responsabilidade do paciente com a saúde. Este é um caminho mais apropriado para mudar do que exigir que os consumidores se tornem especialistas médicos. O ciclo de cuidado deve incluir pacientes como participantes engajados que aderem aos seus tratamentos e agir com responsabilidade, não como receptores passivos de cuidados. Os médicos apenas arranham a superfície no desenvolvimento de abordagens eficazes para envolver os pacientes, em grande parte porque os cuidados atuais estão fragmentados. Ciclos de cuidados melhor integrados tornarão muito menos complicado para os pacientes ficarem informados e envolvidos. Menos processos por erros médicos Muitos médicos temem que mais medidas de resultado aumentariam o risco de ações por imperícia. O oposto é verdadeiro. Com bons dados sobre os riscos reais de atendimento, os médicos serão mais capazes ao defender-se da mentalidade predominante de que qualquer resultado ruim é culpa de um médico incompetente. Será mais fácil para documentar, por exemplo, que uma percentagem específica de todos os doentes que se submetem a um determinado procedimento possui uma determinada complicação. Planos de saúde com maior cobertura e pagadores do governo Quanto mais os médicos liderarem o ca26 Diagnóstico | nov/dez 2012

minho para a reorganização da assistência médica e a medição dos resultados, menos os administradores e as seguradoras serão levados a intervir na prática médica. Em vez disso, os gestores dos planos de saúde vão ver os benefícios para si e para os seus membros. Então, os administradores de planos de saúde,

com os olhos no ponto principal, vão se afastar de pagamentos por tratamentos isolados, contratação restritiva e redes de descontos para incentivar referências baseadas no mérito. Eles se tornarão aliados em informar os pacientes e premiar a excelência, em vez de adversários. Na verdade, este modelo já é


os jogos resultantes da injustiça do sistema e subsídios cruzados para atender os segurados criam custos desnecessários e complexidade

Resource Networks, por exemplo, que o seguro do paciente irá abranger tanto o tratamento quanto os custos da viagem para um centro mais distante, mas melhor qualificado. Embora a noção de um plano de saúde solidário se estenda à imaginação de muitos médicos, informações de resultados ajustados ao risco possibilitam esta ideia aparentemente radical. O foco no valor mensurável alinha os objetivos de todos. Sem uma mentalidade de valor e sem dados de resultados reais, não é de se estranhar que os planos de saúde recorram ao controle de custos. Em última análise, os planos de saúde também serão medidos pelos resultados de saúde que oferecem a seus membros.

Fotos: Shutterstock

utilizado no transplante de órgãos, para o qual os dados dos resultados são universalmente coletados e publicamente reportados. Alguns planos de saúde subcontratam a United Resource Networks (Redes Unidas de Recursos), uma empresa de serviços de planos de saúde e pacientes, para aconselhar doentes e

médicos, fornecendo informações como taxas de mortalidade, tempo de sobrevida do enxerto, transplantes de repetição, tempos de espera, despesas por fora para o paciente. Às vezes, os médicos referentes são inclinados inicialmente a se reportar a um centro nas proximidades, até que eles aprendam a partir da United

Novas bases para reembolso Enquanto o princípio de condução do sistema de saúde é de contenção de custos no pagamento de serviços, o reembolso será intensamente contraditório e sujeito ao puro exercício do poder de barganha. Melhorias tangíveis em valor, no entanto, vão mudar a base sobre a qual os pagamentos são feitos. Em última análise, para premiar valor e melhorar os resultados, o reembolso deve ser baseado em ciclos de tratamento, não em serviços isolados. O pagamento deverá cobrir o ciclo de atendimento completo para um paciente com uma determinada condição, incluindo todos os serviços e medicamentos e tratamento hospitalar e tratamento ambulatorial juntos. Isto não apenas recompensa o verdadeiro valor, mas incentiva a inovação, porque os médicos deixarão de ser penalizados por reduzir a necessidade de cuidados adicionais, como eles são no sistema atual. Embora essas mudanças não vão acontecer da noite para o dia, os médicos podem iniciar novas estruturas de reembolso com os planos de saúde e com o Medicare se eles vêm para a mesa com os resultados da informação e uma perspectiva de ciclo de cuidados. Do jeito que o sistema Diagnóstico | nov/dez 2012 27


ARTIGO Gestão Com bons dados sobre os riscos reais de atendimento, os médicos serão mais capazes de defenderse da mentalidade predominante de que qualquer resultado ruim é culpa de um médico incompetente

de saúde atual está quebrado, é uma ilusão supor que ele pode ser corrigido no atoleiro atual de pagamento por tratamento e não de medição de resultados. Um novo modelo já está em vigor em algumas áreas. Em transplantes de órgãos, a United Resource Networks negocia um preço único, incluído na maior parte do ciclo de atendimento, com uma cláusula de salvaguarda para cobrir complicações verdadeiramente imprevistas. No mínimo, os hospitais e os médicos podem incentivar referências com base no valor, afastando-se da cobrança de preços, da lista completa para pacientes fora-de-rede ou negociar acordos especiais com cada pagador, em vez de cobrar um preço padrão razoável em cada pacote de serviços para todos os visitantes. Evitando falsas soluções Cada uma das mais populares propostas atuais de reforma da saúde aborda uma parte do problema e contém alguma verdade. Mas cada uma é fatalmente defeituosa quando vista no contexto de como todo o sistema poderia funcionar. Na verdade, cada proposta perpetua a espécie de competição de soma zero que assola a assistência médica hoje. Pagador único O sistema de pagador único defende corretamente destacar dois problemas reais. Primeiro, o sistema atual carrega o fardo de um enorme custo administrativo que um único pagador poderia reduzir. Segundo, o sistema atual deixa milhões de pessoas sem seguro, com acesso limitado à assistência. Mas a mudança para um sistema de pagador 28 Diagnóstico | nov/dez 2012

PARA PORTER, À MEDIDA QUE OS MÉDICOS MELHOREM O VALOR DA PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA, A COBERTURA UNIVERSAL SERÁ MAIS ACESSÍVEL


único poderia facilmente tornar as coisas piores porque o pagador único teria ainda mais poder para alcançar os seus objetivos de redução de custos através de preços arbitrários, ditando normas de boas práticas, mudando custos e restringindo serviços. Isso só exacerba a competição de soma zero que permeia a assistência médica hoje. Ao recompensar a contenção de custos ao invés da melhoria do valor, o modelo de pagador único iria sufocar a inovação da qual o progresso da medicina e a melhoria da vida dos pacientes dependem. A estrutura fragmentada e pouco integrada da prestação de assistência médica permanece inalterada. O importante discernimento no modelo de pagador único é a necessidade de cobertura universal, incluindo o acesso aos cuidados primários. A injustiça do atual sistema é intolerável, e os jogos resultantes e subsídios cruzados para atender os segurados criam custos desnecessários e complexidade. Muitos problemas de saúde são desacompanhados até atingirem estágios avançados, os quais são mais difíceis e mais caros de tratar. O acesso à assistência na fase inicial explica em parte por que os países com cobertura universal de saúde alcançam melhores resultados agregados a custos mais baixos. Mas a cobertura universal não requer um único ordenante sem enfrentar concorrência com excessivo poder de negociação e com incentivos irresistíveis para controlar o custo e a prestação de atendimento. O mesmo objetivo pode ser alcançado através de uma estratégia envolvendo os planos de saúde concorrentes, partilha de riscos, a exigência de que todos os indivíduos (incluindo aqueles que são saudáveis) possuam assistência médica e os subsídios ou vouchers para aqueles que precisam de ajuda. À medida que os médicos melhorem o valor da prestação de assistência médica, a cobertura universal será mais acessível. Assistência médica direcionada ao consumidor O modelo direcionado ao consumidor se baseia não em um pagador poderoso, mas no poder coletivo de milhões de consumidores, cada um comprando pelas melhores ofertas. Os defensores da assistência médica direcionada ao consumidor usam principalmente as

Em um sistema baseado em valor, receita e lucro vêm da entrega de valor, não de apenas fornecer tratamento. Entrega e reembolso devem ser organizados em torno de ciclos de tratamento consequências financeiras para aumentar a responsabilidade do consumidor. Há duas informações valiosas aqui. Os pacientes devem ser informados e ativamente envolvidos em sua própria saúde, e as escolhas de médicos e equipes devem ser baseadas no valor, que tem um componente de custo. Mas comprar é a metáfora errada para a assistência médica. Os consumi-

A MEDIÇÃO DE RESULTADOS OFERECE AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE A INFORMAÇÃO QUE PERMITE APRENDIZAGEM E APERFEIÇOAMENTO

dores simplesmente não estão equipados para gerenciar seu próprio cuidado no atual sistema fragmentado. Os pacientes não têm nem a perícia, nem a informação, nem as escolhas a um nível adequado para conduzir o sistema para produzir mais valor. A forma em que o atendimento na assistência médica é organizado oferece aos pacientes e aos seus médicos referentes uma estrutura em que é quase impossível navegar. A falta de integração de serviços em todo o ciclo de cuidados para a condição clínica do paciente torna difícil, mesmo para um médico atento, garantir que atendimento adequado, aconselhamento e acompanhamento permanente estão ocorrendo. Esperar que os pacientes gerenciem seu próprio cuidado coloca uma pressão Diagnóstico | nov/dez 2012 29


ARTIGO Gestão ESPERAR QUE O PACIENTE GERENCIE SEU PRÓPRIO CUIDADO É UMA PRESSÃO INADEQUADA NA RELAÇÃO ENTRE MÉDICO e PACIENTE, NA OPINIÃO DO PROFESSOR DE hARVARD

Quando médicos e equipes médicas se esforçam para melhorar os resultados medidos, os consumidores, ainda que desinformados e não envolvidoS, serão beneficiados

inadequada sobre eles e sobre a relação médico-paciente. Médicos como vendedores e caveat emptor (em latim, o risco é do comprador) é simplesmente o modelo errado. O papel da medição no modelo direcionado ao consumidor também é problemático. Para os defensores do modelo direcionado aos consumidores, informações de resultados devem ser utilizadas principalmente por pacientes e suas famílias para fazer escolhas mais inteligentes sobre quais procedimentos, medicamentos e médicos usar e quais evitar. No entanto, muitos consumidores não vão usar as informações de resultados de forma eficaz. Um impacto muito maior e mais rápido de medição de resultados virá do incentivo e da viabilização de que médicos e equipes médicas melhorem o valor. Quando os médicos e equipes médicas se esforçam para melhorar os resultados medidos, os consumidores, ainda que desinformados e não envolvidos, serão beneficiados. Pagamento por desempenho Há um ímpeto crescente para programas

30 Diagnóstico | nov/dez 2012

que se propõem a premiar médicos que alcançam um bom desempenho, medido por vários tipos de indicadores de qualidade. Embora esses programas muitas vezes tenham nomes que sugerem um foco em resultados, na prática, a grande maioria depende de padrões de processos e conformidade com as diretrizes do processo. Na verdade, muitos médicos preferem esse tipo de conformidade dos processos porque é mais fácil de conseguir e parece consistente com a medicina baseada em evidências. A padronização de processos baseados em evidências é sedutora por causa dos benefícios óbvios e imediatos da redução de atendimentos abaixo do padrão. No entanto, basear relatórios e recompensas em conformidade com o processo é a maneira errada de agir. Isso vai levar inevitavelmente à microgestão da prática médica. Orientações práticas tendem a congelar as melhores práticas de hoje e retardar a inovação. O pagamento por desempenho vai se tornar um novo veículo para o controle administrativo da prática médica. Medir os resultados reais, como de-


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ARTIGO Gestão finido anteriormente, é uma alternativa muito melhor para impor diretrizes de prática e determinar protocolos. Um dos princípios mais básicos da administração moderna é que os resultados gratificantes são quase sempre preferíveis aos processos de microgestão. Medição de resultados oferece aos profissionais a informação que permite aprendizagem e aperfeiçoamento, ao invés de restringi-los através da imposição de regras e o rastreamento do cumprimento. Também porque o atendimento de alta qualidade deve ser menos custoso, o foco deve ser em ajudar pacientes a acessar clínicos excelentes, em vez de presumir a necessidade de bônus, simplesmente para o processo de um bom atendimento. Sistemas integrados pagadorfornecedor Uma forma de eliminar algumas das concorrências disfuncionais e o custo de mudança que são tão proeminentes no sistema atual é criar organizações que oferecem tanto o seguro de saúde quanto a assistência médica de várias especialidades. Na teoria, essas organizações podem coordenar melhor atendimento entre os médicos e reunir registros clínicos e financeiros para obter insights sobre a relação entre o custo e os resultados da assistência. No entanto, por três razões, a integração pagador-provedor não é o modelo ideal para o sistema como um todo. Primeiro, um sistema constituído exclusivamente pela integração financeira entre pagador e fornecedores cria competição apenas no nível global do plano de saúde, enquanto elimina a concorrência onde ela é mais importante, na atribuição de valor ao abordar o paciente de condições médicas particulares. No modelo pagador-fornecedor, os pacientes são encaminhados para médicos do sistema, tenham eles demonstrado ou não excelência para as circunstâncias do paciente, de modo que os médicos da casa têm um fluxo garantido de pacientes Segundo, o sistema integrado pagador-fornecedor procura manter uma gama completa de serviços, o que pode levar inadvertidamente a um atendimento abaixo do padrão em áreas particulares. Terceiro, sistemas integrados pagador-fornecedor têm incentivos para minimizar o custo dos cuidados porque 32 Diagnóstico | nov/dez 2012

operam sob pagamento individual por membro. Há graves riscos de que os custos sejam controlados pela restrição de escolhas ou retardamento do atendimento, a menos que esses incentivos sejam equilibrados por medição de resultados transparentes. Os defensores do sistema pagador-fornecedor argumentam que a integração financeira é o caminho mais rápido ou melhor para conseguir atendimento integrado, mais atenção para o ciclo completo de atendimento e melhoria no compartilhamento de informação – todas as quais são essenciais para o valor. Sistemas pagador-fornecedor, tais como o Veterans Health Administration, Kaiser e Intermountain Health, fizeram melhorias impressionantes, mas até agora medidas mais em padrões de processo, ao invés de resultados. Mais importante, sistemas plano de saúde-fornecedor de sistemas não são o único nem necessariamente a melhor forma de aumentar o valor, e eles apresentam riscos significativos. Sistemas integrados pagador-fornecedor têm um papel em um sistema baseado em valor, mas eles devem atender a um alto padrão de transparência nos resultados no nível da condição médica. Provedores independentes e médicos devem compreender uma parte importante do sistema para que haja uma concorrência adequada e medição de resultados no tratamento das condições médicas. Criando um sistema de assistência médica que funcione O valor medido por resultados de saúde por dólar gasto alinha os interesses de todos os envolvidos na assistência médica. Melhoria do valor na saúde e na assistência médica é um objetivo compartilhado a partir do qual todos, incluindo os médicos, podem se beneficiar. Em um sistema baseado em valor, receita e lucro vêm da entrega de valor, não de apenas fornecer tratamento. Entrega e reembolso são organizados em torno de ciclos de tratamento das condições médicas. Pacientes fluem para os prestadores de alto valor. Todos os pacientes, incluindo aqueles com baixos rendimentos, se beneficiam porque o atendimento de alta qua-

pagar por ciclos de tratamento e valor é, finalmente, a única forma viável de alterar um sistema de reembolso que todos sabem estar quebrado. quando o valor for a regra, a nação vai conseguir melhores resultados para cada dólar gasto em assistência lidade é menos oneroso. Pacientes de baixa renda em um sistema baseado em valor são cuidados por excelentes médicos e equipes que estão motivados para alcançar bons resultados em servi-los. Esta estratégia para a reforma é baseada no mercado, mas conduzida por médicos. Um sistema baseado em valor oferece aos médicos uma nova credibilidade e uma nova influência. Administradores de planos de saúde vão ver o benefício de trabalhar cooperativamente com os médicos e entender que a melhor forma de controlar os custos futuros é incentivar e premiar a qualidade e o valor. Pagar por ciclos de tratamento e valor gratificante é, finalmente, a única forma viável de alterar um sistema de reembolso que todos sabem estar quebrado. Quando o valor for a regra, a nação vai finalmente conseguir melhores resultados para cada dólar gasto em assistência. Concorrência pelo valor, então, deve se tornar a estratégia de saúde da nação. Melhorar a saúde e o valor da assistência médica para os pacientes é a única solução real. A concorrência por resultados baseada no valor fornece um caminho para a reforma, que reconhece o papel dos profissionais de saúde no coração do sistema. Na economia como um todo, a concorrência pelo valor subjaz a riqueza das nações. Isso pode transformar a saúde das nações também. Publicado com a autorização do autor. Todos os direitos reservados.


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Vitalmed

Investimento em equipe é estratégia de crescimento Serviço de Assistência Domiciliar da Vitalmed prima pela eficiência operacional e elevação do nível de satisfação dos clientes e colaboradores

Roberto Abreu

O Vitalcare, serviço de assistência domiciliar do Grupo Vitalmed, reconhecido pelo mercado de saúde como o melhor serviço de atendimento domiciliar de Salvador no último ano, dando continuidade ao investimento em capacitação de equipe, iniciou em 2012 o projeto de desenvolvimento de equipe de alta performance. A empresa acredita que o resultado positivo obtido pelo Vitalcare é consequência da estratégia de investimento em qualidade técnica e na formação profissional dos seus colaboradores. “A valorização das relações humanas no clima organizacional, assim como o reconhecimento das habilidades e competências de cada colaborador, é ingrediente fundamental para um atendimento de alto padrão aos pacientes e suas famílias, garantindo a excelência dos nossos serviços”, resume a Dra. Cláudia Dórea, gerente do Vitalcare. Pensando desta forma, a Vitalmed contratou, desde 2010, os serviços de treinamento e desenvolvimento de uma empresa de consultoria especializada na implantação de programas de alinhamento cultural e desenvolvimento comportamental. A empresa está implementando a gestão integrada da cultura

de alta performance (GICAP), ferramenta desenvolvida com o objetivo de melhorar a eficiência operacional do Vitalcare, aumentar o nível de satisfação interno dos colaboradores e, por consequência, dos serviços prestados a todos os seus clientes. Para que o Vitalcare alcance estes resultados, o programa será constituído por ações de diagnóstico interno, alinhamento cultural, desenvolvimento de competências comportamentais, endomarketing, gestão das métricas de desempenho e ações motivacionais. A Vitalmed vem investindo intensamente na capacitação técnica e comportamental dos colaboradores, com o objetivo claro de atender a demanda crescente, melhorando a qualidade, humanização dos serviços e eficiência operacional. A Vitalmed, empresa com 20 anos de atuação no mercado de Salvador, entende que a avaliação positiva do trade de saúde reflete a solidez e confiabilidade do Grupo Vitalmed. Eleonora Santos, gerente de RH da Vitalmed, reforçou a crença de que investir em pessoas é o caminho para a obtenção de melhores resultados, e o crescimento progressivo desta organização ao longo dos anos está diretamente ligado à valorização dos seus colaboradores. Diagnóstico | nov/dez 2012 33


ESPECIAL globalização na saúde

QUEM É A UNITED HEAlTh? Como atua a nova dona da Amil, as estratégias para o Brasil e a repercussão nos Estados Unidos da mais ousada investida já feita por uma operadora de saúde americana no exterior Rodrigo Sombra,

da

Califórnia

“A

compra da Amil foi a mais atraente oportunidade de crescimento e criação de valor em anos para nós do UnitedHeatlth Group”. Com essas palavras, Stephen Hemsley, CEO do maior grupo americano de saúde, descreveu a razão que o fez desembolsar R$ 9,95 bilhões e investi-los no Brasil. Divulgada no final do ano passado, a compra da Amil, maior seguradora brasileira, pela UHG – como a United é conhecida nos EUA – entra para história da economia brasileira como um investimento sem precendentes no setor de saúde do país. O acordo, porém, não tem escala inédita apenas para uma das partes. Considerada uma oferta generosa pela imprensa americana, a aquisição da Amil é encarada como o mais ousado passo dado por uma seguradora de saúde dos EUA no exterior.“Em termos de seguro, o empreendimento da UnitedHealth no Brasil é realmente o primeiro deste tipo”, avalia o professor Stephen Parente, diretor do Instituto de Liderança da Indústria Médica da Universidade de Minnesota, em entrevista à Diagnóstico. A United atende hoje a 78

34 Diagnóstico | nov/dez 2012

milhões de segurados e é um dos líderes mundiais no desenvolvimento de tecnologia de ponta para o setor de saúde. A diversidade de negócios administrados pela empresa ajuda a explicar o entusiasmo com a aquisição da Amil. “Uma vez que assistência médica é um bem desejado e seguro saúde é um grande facilitador de tecnologia médica avançada, faz sentido

A compra da Amil foi a mais atraente oportunidade de crescimento e criação de valor vista em anos para nós do UnitedHealth Group stephen Hemsley, ceo da UHG

que a UHG vá comprar seguradoras locais para expandir todo o seu mercado”, observa Parente. O crescente poder de compra da classe média e o potencial de um mercado tido como inexplorado (apenas cerca de 25% dos brasileiros possuem convênio privado) foram argumentos decisivos para a investida da UnitedHealth no Brasil. As negociações se arrastaram por três anos, e o acordo satisfez um desejo antigo dos americanos. Em entrevista ao Wall Street Journal, o diretor financeiro da United, David Wichmann, afirmou que o grupo mirava o país há mais de uma década. “A oportunidade na América Latina é similar à oportunidade que tivemos nos Estados Unidos há 20 anos. Esperamos que os mercados brasileiro e latino-americano tenham um crescimento ainda mais rápido do que o americano”, projetou Wichmann, em uma conferência com investidores. Líder no setor americano de seguros de saúde, a UnitedHealth tem ganhado cada vez mais terreno no mercado internacional. Reino Unido, Índia e Austrália são alguns dos principais parceiros da empresa, que nos últimos dez anos expandiu seu campo de ação a mais de 130 países. Muitos analistas percebem o avanço da United no exterior como mais um sinal da crescente


PERSONIFICAÇÃO dO famoso TIO SAM nA GIGANTE AMERICANA DA SAÚDE: investimento de R$ 9,95 bilhões no Brasil

Diagnóstico | nov/dez 2012 35


ESPECIAL globalização na saúde globalização do setor. Em um cenário de intensas trocas internacionais, países com legislação flexível e cujo sistema de saúde favorece a cobertura privada têm atraído cada vez mais as companhias americanas. Razões internas também explicam o avanço no exterior. Embora prometa expandir o mercado ao oferecer cobertura a toda a população americana nos próximos anos, o Obamacare (apelido da lei que reforma o sistema de saúde dos EUA) ainda gera incerteza entre companhias de seguro saúde. Em teoria, após a reforma, as companhias menores ganharão mais poder de competitividade, o que implica uma possível ameaça ao domínio de gigantes como a UnitedHealth. Somadas a isto, as diferentes formas pelas quais a lei se adequará à realidade de cada estado, possíveis ajustes futuros na legislação e indefinições sobre como a reforma irá funcionar na prática compõem um cenário instável para o mercado de seguro saúde nos EUA. Diante deste quadro, Christopher J. Conover, professor de políticas de saúde da Duke University e autor do livro The American Health Economy Illustrated (em tradução livre, A Economia da Saúde Americana Ilustrada), afirma à Diagnóstico que a ida ao Brasil é importante para a United pois diversifica os negócios, o que pode gerar mais receita e “ajudaria a proteger a empresa em caso de problemas imprevistos decorrentes da implementação da reforma”. Conover acrescenta ainda que o Brasil oferece “potencial para um maior crescimento em matrículas de seguro do que os EUA para a próxima década ou mais”. Além da promessa de lucro, a chegada da UnitedHealth ao Brasil ocupa lugar estratégico nos planos de crescimento internacional da empresa. A Amil seria a “plataforma de expansão da United na América Latina”, afirma Edson Bueno, fundador da empresa e membro recém-admitido no conselho do grupo americano. Embora a participação da United na América Latina ainda seja tímida, de acordo com o professor da Escola de Administração de Empresas da Universidade de Miami, Steven Ullmann, o intercâmbio entre o continente e o setor de saúde dos EUA já

sheryl skolnick, analista de seguros saúde da crt capital: plano de saúde da UnitedHealth já foi o mais odiado dos EUA 36 Diagnóstico | nov/dez 2012

demonstra sinais de vitalidade. “Indivíduos da América Latina e Caribe estão cada vez mais viajando para os EUA à procura de atendimentos terciários especializados. A cobertura de seguro saúde é importante para esse tipo de atendimento e provê um incentivo para que seguradoras pensem globalmente”, avalia Ullmann, em entrevista à Diagnóstico. No caso da vinda da UnitedHealth ao Brasil, Stephen Parente acredita que chegar a um país em que o inglês não é a primeira língua e adquirir uma empresa de serviços financeiros é sempre algo desafiador. “Mas as recompensas podem ser maiores, particularmente se a infraestrutura for construída quando os custos estão mais baixos e antes de o setor ganhar força, aumentando a receita à medida que as economias emergentes acumulam riqueza”, salienta. Nesse sentido, o acadêmico acredita que a United deve se concentrar, além do Brasil, em outros países grandes, como China e Rússia, “onde seguros públicos e privados possam ter operações globais similares aos mercados de títulos e ações que agora são comuns por todo o mundo desenvolvido”.

Chegar a um país em que o inglês não é a primeira língua e adquirir uma empresa é sempre algo desafiador, mas as recompensas podem ser maiores (no caso do Brasil) stephen parente, diretor do instituto de liderança médica da universidade de MInnesota

Fotos: Divulgação


Bloomberg/Getty Images

stephen hemsley, ceo da unitedhealth: Brasil será usado como plataforma de crescimento na América latina

A UnitedHealth nos EUA – O inves-

timento pesado em tecnologia e o pioneirismo na sistematização de dados construíram, ao longo dos anos, a reputação da UnitedHealth como empresa inovadora. Eleita a 22ª maior corporação americana em ranking publicado em 2012 pela revista Fortune, o grupo quadruplicou sua receita na última década, fechando 2012 com lucro de US$ 5,3 bilhões. A expansão durante os anos 2000, contudo, não salvou a UnitedHealth de críticas que expunham as fissuras de um crescimento desordenado. Erros no envio de dados, resposta insatisfatória à demanda de pacientes e atraso no reembolso a médicos figuram entre as principais queixas contra a empresa em relatório publicado em 2008 pela Associação Americana por Justiça (AAJ). O documento inclui a companhia entre as 10 piores seguradoras dos EUA. Em entrevista à Diagnóstico, Sheryl Skolnick, analista de seguros saúde na CRT Capital, conta que a United convivia com problemas graves quando a AAJ preparava seu relatório. “A UnitedHealth parou de ouvir, começou a ditar. Ela perdeu eficiência no atendimento ao consumidor

e desenvolveu uma má reputação por ser arrogante e agressiva”, comenta Skolnick a respeito de como a empresa relacionava-se com empregados, clientes e pacientes em meados dos anos 2000. De acordo com a analista, a mudança na cultura da empresa deu-se com a chegada de Stephen Hemsley, em 2007. Novo chefe executivo, Hemsley tentaria reposicionar a United no mercado, afinar o setor de relacionamento e reverter o desgaste da marca. Para Skolnick, o ritmo da mudança foi lento e enfrentou solavancos. “Alguns funcionários não poderiam funcionar bem sob o novo mandato e foram substituídos. O desempenho sofreu. Mas, por volta de 2009, a UnitedHealth parecia ter começado a ganhar tração. A seguradora estava lentamente perdendo a sua posição como o ‘plano de saúde mais odiado’ entre hospitais e fornecedores, bem como pacientes e clientes, mas na verdade não foi até o outono de 2010 para 2011 que a tração realmente tornou-se evidente nos resultados”, analisa Skolnick, para quem a United é, desde então, a força modernizadora do setor de saúde americano. O relacionamento entre a UnitedHeal-

Indivíduos da América Latina e Caribe estão cada vez mais viajando para os EUA à procura de atendimento. A cobertura de seguro saúde para esse público incentiva as seguradoras a pensarem globalmente Steven Ullmann, professor da escola de administração de empresas da Universidade de miami Diagnóstico | nov/dez 2012 37


ESPECIAL globalização na saúde th e os médicos ainda hoje é controverso. Em 2011, a empresa foi eleita pela Associação dos Médicos Americanos (AMA) a seguradora mais eficiente na realização de pagamentos. Por outro lado, pesquisa realizada no mesmo ano por outra associação médica, a Medical Group Management Association (MGMA), lista a United como a pior entre sete outras grandes seguradoras do setor. Tabulada por critérios como “respostas rápidas e eficientes” e “boa-fé nos negócios”, a pesquisa ouviu 800 médicos. Ao fim, a United foi avaliada como “moderadamente insatisfatória” Para Christopher J. Conover, a fatia de mercado ocupada por uma empresa não pode ser ignorada quando se interpretam as pesquisas acima. No caso da UnitedHealth, ele argumenta que “seu tamanho total pode torná-la mais visível para os médicos, pois até mesmo uma taxa de erro pequena pode produzir um maior número absoluto de erros para uma certa prática médica do que uma seguradora com uma maior taxa de erro que lida com uma fração muito menor de reclamações daquela mesma prática médica”. Analisar o papel da United – maior seguradora americana e dona de uma rede de provedores que inclui 650 mil médicos e 5 mil hospitais – requereria então cautela extra. “No final das contas, é difícil argumentar com a participação dominante da empresa do mercado. Eles devem estar fazendo algo certo, senão seus clientes estariam deixando-a para se juntar a outros planos”,

Até meados dos anos 2000, a United havia perdido eficiência no atendimento. Era vista como uma empresa arrogante e agressiva sheryl skolnick, analista de seguros saúde da crt capital, da califórnia 38 Diagnóstico | nov/dez 2012

profesSor chistopher conover, autor do livro a economia da saúde americana: Brasil pode ser uma alternativa da UHG diante das incertezas da América

conclui Conover. Entre os especialistas americanos ouvidos pela Diagnóstico prevalece a ideia de que a fusão entre Amil e UHG é potencialmente vantajosa para o Brasil. Sheryl Skolnick destaca os serviços já prestados pela empresa a outras companhias americanas e sustenta que sua atuação no Brasil “pode trazer um melhor atendimento com um menor custo. Organizar o serviço corretamente, assistência ao consumidor, realização de matrículas, todas essas coisas foram refinadas por muitos anos pela UHG”. Professora da Universidade de Columbia e ex-secretária assistente do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo Obama, Sherry Glied argumenta ainda que as “seguradoras de saúde dos EUA têm muita experiência com gestão de dados e de reclamações, programas de bem-estar e outras funções técnicas que podem ser de valor em outros contextos”. Na opinião de Stephen Parente, a chegada da United “oferece oportunidades de ver diferentes práticas de negócio e de expandir no Brasil um capital humano que entenda essas novas práticas”. Para o Brasil, com suas vicissitudes econômicas e forte protecionismo que ainda impera no setor, a chegada da United é também um grande teste para o trade de saúde local e os segurados da Amil, em particular. Por enquanto, o casamento entre as duas gigantes segue em plena lua de mel.

steven ullmann, da universidade de miami: América Latina e Caribe entraram definitivamente no radar do trade de saúde americano


HOSPITAL SÃO RAFAEL:

UM SELO DE QUALIDADE PARA A SUA SAÚDE O Hospital São Rafael acaba de receber a certificação “Acreditado com Excelência – Nível 3”, concedida pela ONA (Organização Nacional de Acreditação), com avaliação do IQG, Instituto Qualisa de Gestão. Este é mais um reconhecimento da qualidade do São Rafael na atenção à sua saúde. Uma conquista também para a Bahia. A acreditação é um processo rigoroso de avaliação, colocando em perspectiva a instituição como um todo (corpo clínico, fluxo de processos, gestão e controle de riscos, entre outros aspectos). Além disso, são verificadas a segurança da assistência e a sustentabilidade da instituição. Assim, o São Rafael obteve o grau máximo de certificação, atestando a excelência dos serviços. Para conhecer mais sobre o processo de acreditação, visite o site da ONA: www.ona.org.br . O caminho até a certificação máxima envolveu todo o hospital. Nossas equipes não economizaram esforços nesta caminhada. Tudo para que você tenha a garantia das nossas boas práticas assistenciais e a certeza de que continuamos cumprindo a missão “Ide, Ensinai e Curai”.

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Carogestor Participe: carogestor@diagnosticoweb.com.br

Sou gerente de RH de um grande hospital e há um ano comecei a implantar um programa de trainee. Além da falta de boas referências no setor, estou tendo dificuldades internas em criar uma cultura de formação de jovens talentos. Qual é o bê-a-bá para implantação desse tipo de rotina? ANÔNIMO Os programas de trainees são uma boa prática atualmente, mas precisam ser bem realizados. Há muitas armadilhas e erros que podem ser cometidos desde sua idealização. Oriento empresas nacionais e multinacionais, pequenas, médias e grandes, na construção deles há alguns anos. Também ministro aulas neste tipo de programa. É um bom desafio lidar com os jovens trainees. Aprendo muito com eles, acredite. Trate-o como um projeto, não como uma rotina. Quero dizer, o programa precisa ter início, meio e fim e ser muito bem planejado. Deve ter objetivos claramente definidos para todos os envolvidos, particularmente para o hospital. Deve contribuir para a realização da estratégia da organização. Este tipo de programa se propõe, geralmente, a introduzir “sangue novo” na organização, mas, frequentemente, quando os trainees en40 Diagnóstico | nov/dez 2012

Osvino Souza é gerente de projetos e professor da Fundação Dom Cabral nas áreas de Comportamento e Desenvolvimento Organizacional

Divulgação

tram em contato com os funcionários mais antigos (“sangue velho?”) costumam ser rapidamente contaminados por estes. Neste caso, ou o programa perde seu objetivo ou o trainee deixa a empresa, pois logo verifica que não vai conseguir realizar aquilo que lhe foi prometido. Por isso, sempre recomendo que o programa seja acompanhado de uma preparação dos funcionários, particularmente os gestores, que os receberão, seja durante a sua realização, ou após. Há programas de trainees para vários objetivos, que vão desde a substituição e a reposição até o aumento do quadro de pessoal. Eles também podem ser orientados para posições administrativas, operacionais, técnicas ou gerenciais. Há também aqueles que são mistos, ou seja, contemplam trainees com objetivos e para posições variadas na organização. Cuidado com estes, pois são os mais difíceis de serem construídos. Os objetivos ficam muito abertos ou amplos e podem não satisfazer nenhuma das partes interessadas. O processo seletivo é outra armadilha. Já vi jovens trainees chegarem a empresas achando-se superiores aos seus colegas mais antigos, tudo por conta da forma como foram selecionados. Lembre-se: você estará tratando com jovens recém-formados, novas gerações.


O que é mais importante para assumir uma função de chefia: ter conhecimento sobre a função ou possuir atributos relevantes de liderança? ANÔNIMO As duas coisas são necessárias. Recorro ao conceito que já citei várias vezes, o de competência individual, que traduzo por meio do conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA). Conhecimentos e habilidades sobre a função, qualquer que seja, são indispensáveis para a obtenção dos resultados desejados. Os atributos estão diretamente relacionados à atitude. Para exercer qualquer função, o indivíduo precisa reunir os atributos exigidos por ela. Ninguém é perfeito, é claro, mas é preciso reunir o máximo possível desses atributos. Ter visão de futuro, saber construir uma trajetória, envolver e comprometer as pessoas, compartilhar o poder, gerir pessoas e equipes, gerenciar mudanças, demonstrar bom caráter (honestidade, ser confiável etc.) são atributos indispensáveis de um líder. É importante destacar que, quando atuamos em posições mais ou menos especializadas, administrativas ou técnicas, somos diretamente responsáveis pela maior parcela dos nossos resultados, mas, quando estamos numa posição de liderança, a maior parcela de nossos resultados é produzida por nossos liderados. Ressalto que me refiro aos conhecimentos, habilidades e atitudes de liderança. Digo isso porque um dos erros mais frequentes e conhecidos cometido ao se designar um novo líder é o da escolha do melhor profissional especialista, que tem muita competência para sua função (especialista), mas que nem sempre tem competência para liderar pessoas e equipes. É um erro clássico. Competência gerencial também é outra coisa, pois se refere à capacidade de gerenciar recursos, inclusive humanos, de forma eficiente e eficaz. Liderança refere-se à capacidade de obter resultados com as pessoas, não no curto prazo, mas de forma consistente e contínua. Assim, um chefe-capataz pode conseguir resultados no curto prazo, mas não sustentáveis no médio e longo prazo e, muitas vezes, a um custo muito alto para as pessoas e para a empresa. Há de tudo na cultura moderna de gestão de pessoas, quando o assunto é premiar o colabo-

rador: permitir que um funcionário tenha o abono de um dia a cada mês, lua de mel paga pela empresa e até o direito de ganhar um carro depois de dez anos de trabalho. Iniciativas positivas. Mas como mensurar esse tipo de resultado? ANÔNIMO Não é fácil mensurar o resultado deste tipo de premiação ou recompensa. Inclusive há controvérsia quanto a isso, mas o fato é que programas deste tipo passaram a compor o modelo de gestão de pessoas da maioria das empresas. Eles são, de certa forma, fundamentados na teoria comportamental (behaviorista), que considera que pessoas devidamente recompensadas por seu bom comportamento ou resultado tendem a repetir ou aprimorar seu desempenho para conseguir nova recompensa, igual ou maior. Será verdade? Por outro lado, a maioria dos investimentos no desenvolvimento de pessoas só gera resultado no médio e longo prazo. De qualquer forma, é preciso cuidar muito bem da construção deste tipo de programa, pois ele pode exigir muito investimento para gerar pouco resultado. Outras consequências negativas são: a criação de um grau destrutivo de competição interna; o desenvolvimento de sentimento de menos valia para aqueles que não conseguem os resultados contratados, muitas vezes inatingíveis mesmo; instalação do sentimento de inveja entre colegas que não conseguem a premiação; a criação do hábito (vício) de ganhar o prêmio a qualquer custo. Um programa mal concebido ou mal executado pode gerar um forte senso de injustiça entre os empregados, e isso é muito negativo para o clima organizacional. O senso de justiça é cada vez mais exigido nas organizações. Assim, é preciso comunicar institucionalmente e gerencialmente com muito cuidado (o que não é nada fácil) os critérios (que devem ser justos) na fase de implantação. É preciso cumprir à risca esses critérios, que quase sempre envolvem avaliações subjetivas, aumentando o risco de injustiça. Até a forma como se comunica a premiação ou os premiados precisa ser muito bem cuidada. Comunicação é um grande desafio para o ser humano. Qualquer deslize numa fala, num discurso, pode pôr tudo a perder. Em resumo, todo cuidado é pouco ao se implementar esse tipo de programa.

Diagnóstico | nov/dez 2012 41


MERCADO arab health Fotos: Divulgação

Um negócio das Arábias Segunda maior feira do mundo, a Arab Health vem despertando a atenção do trade de saúde mundial – do Brasil, inclusive – interessado em expandir negócios no Oriente Médio e Norte da África

O Da Redação

trade de saúde mundial – e o Brasil em particular – vem descobrindo os encantos do Oriente Médio e do Norte da África. Além das mais de 336 milhões pessoas que vivem dentro de seus limites geográficos, o Mena, como a região ficou conhecida – do inglês Middle East 42 Diagnóstico | nov/dez 2012

and North of Africa – é vizinho dos dois países mais populosos do mundo China e Índia. De olho nesse gigantesco mercado em desenvolvimento, companhias de todo o mundo vão se encontrar entre 28 e 31 de janeiro na Arab Health, uma das maiores feiras hospitalares do mundo, em Dubai. Uma missão com representantes de 41 indústrias brasileiras do setor médico-hospitalar embarca no final do mês de janeiro para os Emira-

dos Árabes Unidos, com o objetivo de vender pelo menos US$ 13 milhões em produtos made in Brazil para uma das regiões que mais investem em saúde atualmente no mundo. Embora o valor de negócios gerados na feira do Oriente Médio fique bem abaixo dos U$ 22 milhões que as empresas brasileiras venderam na última edição da maior feira do mundo no setor, a Medica, em Dusseldorf (Alemanha), a


compradores ÁRABEs NO STAND DA ALEMÃ SIEMENS, EM DUBAI: demanda por produtos de alta tecnologia

Nosso objetivo é crescer com congênere árabe apresenta duas vantagens para o Brasil. A primeira é que o Oriente Médio oferece uma abertura aos produtos da indústria hospitalar brasileira maior do que se encontra na Europa, que concentra gigantes do setor. Dados da Associação Brasileira de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) indicam que os compradores árabes responderam por 11% de tudo o que foi vendido em 2012 pelo Brazilian Health Devices, um grupo de 140 empresas nacionais que exportam produtos desse setor. “Comparativamente, frequentar a Medica tem uma importância maior no sentido de manter contato com o pessoal da área”, avalia a diretora de Marketing e Comércio Exterior da Abimo, Paula Portugal. “ A Arab Health, por sua vez, é uma feira bastante efetiva em termos de concretização de negócios”. O segundo fator que anima os empresários brasileiros é a perspectiva de crescimento do setor em uma região do mundo rica em recursos naturais como petróleo e minério, que começa a investir fortemente em infraestrutura na área de saúde para atender à demanda de uma população que em grande parte ainda não tem acesso adequado a serviços de saúde. Há cinco anos, o International Finance Corporation (IFC), órgão do Banco Mundial dedicado à redução da pobreza no planeta, emitiu um relatório afirmando que a região do Mena vivia um boom em investimentos em healthcare, com os governos locais se abrindo à participação de grupos privados no setor. O IFC considera que há uma tendência a os sistemas de saúde locais sejam “dramaticamente redesenhados” com a construção de hospitais e clínicas ao longo dos próximos anos em toda a região. Claro que as recentes crises políticas que afetam alguns países importantes da área, como a Síria, esfriaram momen-

o mercado de saúde nos níveis local, regional e internacional. Por isso, nossa expansão em países como Egito e África do Sul simon page, diretor gerente da arab Health

taneamente o ímpeto de investidores estrangeiros. Para alguns empresários, entretanto, não há dúvidas sobre o futuro do setor no Mena. Fabricante de incubadoras e de outros produtos para o atendimento neonatal, a brasileira Fanem, que está presente à Arab Health há 11 anos, abriu uma fábrica na Índia e um escritório de representação em Amã, capital da Jordânia em 2011, para atender melhor os mercados do Oriente Médio e do Norte da África, que naquele ano já representavam 35% das exportações da Fanem. Entre os maiores mercados da companhia estão Marrocos, Iraque e Arábia Saudita. O CEO da empresa, Cicero Schleder, não gosta de falar em números, mas deixa claro a importância que a Arab Health tem para os negócios. “Por causa do contexto político e social conturbado em que boa parte dos países da região estão inseridos, às vezes, é difícil visitar alguns clientes. A feira possibilita esse contato”, afirma Schleder. segunda do mundo – Criada em 1977 pelo grupo inglês Informa Life Sciences Exhibitions, e organizada com apoio do Ministério da Saúde dos Emirados Árabes Unidos, Arab Health conta este ano com 3.500 expositores de 142 países. Ainda não chega perto da grandiosidade da Medica, a maior feira do

setor, realizada em Dusseldorf, na Alemanha, mas tem ambições de alçar voos maiores. “Nosso objetivo é crescer juntamente com o mercado de saúde, nos níveis local, regional e internacional. O setor de saúde nos Emirados Árabes Unidos vem assistindo a uma expansão constante nos últimos anos e tem resistido razoavelmente bem à crise financeira”, afirmou à Diagnóstico o diretor-gerente da Arab Health, Simon Page, para quem a feira é segunda maior do mundo, atrás apenas dos alemães da Medica. Vários fatores contribuíram para esse crescimento, como os investimentos do governo em infraestrutura, crescimento demográfico, aumento da incidência de doenças crônicas e mudanças no estilo de vida. Uma das prioridades do grupo – cuja holding tem sede na Europa e opera em outros negócios como Construção e Finanças – é realizar pesquisas em novos mercados na Ásia e na África. O objetivo é identificar territórios que estejam preparados para a expansão da saúde e, por extensão, o portfólio da marca Arab Health “A Arab Health vê o mercado de saúde na África como um dos que serão mais procurados para investimentos no mundo”, aposta Page. Com 11% da população mundial, a África Subsaariana deve chegar a 2016 com um mercado de saúde em torno de US$ 35 bilhões. Para o executivo, um sintoma dessa expansão é a presença cada vez maior do grupo Informa no continente africano através de feiras. Em 2011, foi lançada a Africa Health, em Joanesburgo, África do Sul, que terá a sua terceira edição no próximo mês de maio, com 400 expositores de 51 países, um crescimento de 37% em relação ao ano anterior, segundo os organizadores. Desde o ano passado, a Informa se associou à egípcia Arab African Conferences & Exhibitions para a organização da Mediconex Cairo Health. E em maio deste ano, será lançada a Saudi Health Conferences and Exhibitions, em Riad. Um momento de ebulição no setor de saúde da África, que está sendo observado atentamente pelos ingleses que atuam em Dubai. “A decisão de lançar a EgyptPharm, exposição farmacêutica líder norte da África, juntamente com a edição de 2013 do Cairo Mediconex Diagnóstico | nov/dez 2012 43


MERCADO arab health

compradores árabes RESPONDERAM POR 11% DE TUDO QUE FOI VENDIDO EM 2012 PELA BRAZILIAN HEALTH DEVICES

Saúde, no Centro de Conferência Internacional do Cairo, foi baseada no interesse sem precedentes que o mercado farmacêutico do Egito recebeu de empresas farmacêuticas mundiais”, analisa Page. apoio da apex – Outra brasileira que está de olho no crescimento do setor no mundo árabe é a Schioppa, tradicional empresa familiar paulista líder no segmento de rodas e rodízios na América Latina. “Como a Arab Health é a maior feira hospitalar do Oriente Médio, buscamos conquistar mais clientes e reputação fora do país”, explica o diretor-gerente da empresa, Mário Schioppa Neto. Segundo ele, o mercado árabe é um dos mais exigentes do mundo e vem se tornando cada vez mais importante para as empresas do setor médico-hospitalar que oferecem produtos inovadores e de alta tecnologia, aliado a custos reduzidos. “O governo brasileiro, através da Apex-Brasil, enxergou o Oriente 44 Diagnóstico | nov/dez 2012

Médio com um mercado estratégico há 10 anos”, afirma o presidente da Apex-Brasil, Mauricio Borges. “Um esforço que vem se traduzindo na capacidade brasileira de produzir alta tecnologia e de inovar”. Para seduzir ainda mais o mercado da região, a Apex lançou mão de um outro artigo fortemente associado ao Brasil e que faz muito sucesso no Oriente, o futebol. No dia 29 de janeiro, durante um café da manhã promovido pela Abimo, com a participação de clientes do Oriente Médio e África, serão sorteadas duas viagens ao Brasil no próximo mês de junho, com direito a passagens, hospedagem e ingressos para a final da Copa das Confederações, no Rio de Janeiro. Entre os países que vão se enfrenta na prévia da Copa de 2014, Japão e um representante africano – ainda não definido – terão presença garantida na competição. Pelo menos nos negócios, a torcida da indústria brasileira já mudou de cor.

Por causa do contexto político conturbado em que boa parte dos países da região estão inseridos, às vezes, é difícil, visitar alguns clientes. A Arab Helth possibilita esse contato cicero schleder, ceo da fanem


informe publicitário

Icon - Instituto Conquistense de Oncologia

Excelência no atendimento e acolhimento são destaques do instituto Referência de qualidade no tratamento de oncologia e hematologia, o Icon aposta no crescimento da rede na região de Vitória da Conquista

Roberto Abreu

O

Instituto Conquistense de Oncologia (Icon) é um centro de referência no diagnóstico e tratamento do câncer na região do sudoeste baiano. Fundado em 1999, o Icon é formado por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, nutricionistas, psicólogos, farmacêuticos e enfermeiros e realiza atendimento em duas unidades clínicas localizadas em pontos estratégicos de Vitória da Conquista. Equipado com a mais moderna tecnologia existente, o centro está preparado para oferecer serviços especializados na área de oncologia clínica, mastologia, hematologia e quimioterapia ambulatorial. Além disso, também está capacitado para fornecer suporte para pacientes com hepatite B e C e doenças reumatológicas, com administração de medicamentos específicos nessas áreas. Entre os diferenciais do instituto está a experiência de 14 anos de prestação de serviços e uma equipe multidisciplinar preparada para ofertar um atendimento de primeira linha, ágil e humanizado. “Em nossa nova unidade (clínica da Av. Mário Batista) criamos um ambiente com uma atmosfera aconchegante, que remete a uma confortável casa. A novidade tem sido bem recebida pelos nossos pacientes”, relata o diretor técnico e oncologista Leonardo Cunha Costa. As instalações físicas da clínica obedecem a estudos de design baseados em evidências para produzir resultados

Equipado com a mais moderna tecnologia, o Icon possui instalações acolhedoras e voltadas para a promoção da saúde e para o conforto físico do paciente

positivos para o paciente. E é neste ambiente acolhedor voltado para a promoção da saúde e para o conforto físico e psicológico que os pacientes fazem consultas, recebem suporte nutricional, psicológico e realizam as sessões de quimioterapia. Em suas duas unidades, o instituto prioriza a segurança dos pacientes e funcionários e segue normas estabelecidas e indicadores internos de serviços. Pioneiro na região, o Icon conquistou o reconhecimento e a credibilidade por conta de sua seriedade e compromisso com a reabilitação plena de seus pacientes, sempre alinhando tradição e inovação nos tratamentos. O instituto é constituído por uma equipe de profissionais altamente qualificados e especializados na área de atuação da clínica e com equipamentos modernos. Ainda colhendo os frutos da recente ampliação, o Icon vai inaugurar em breve uma nova unidade voltada para a saúde da mulher. “A ideia surgiu a partir da carência de centros voltados para a saúde feminina na região”, explica Costa. A nova clínica, que será inaugurada ainda no primeiro semestre deste ano, vai centralizar diversos serviços, especialistas e procedimentos em um só local, evitando, assim, deslocamentos desnecessários e perda de tempo das usuárias. “A meta do instituto consiste em continuar se destacando no mercado de saúde e oferecer atendimento de excelência e serviços cada vez mais completos aos clientes”, finaliza Costa. Diagnóstico | nov/dez 2012 45


ENSAIO arquitetura hospitalar

Cinco coisas que é preciso saber sobre tendências de design no mercado de saúde Recriar a experiência do paciente e transformar o ambiente médico em um espaço mais familiar é um desafio possível na tarefa de trazer calor humano aos hospitais Karen Edmundson | Tradução: Aline Cruz Fotos: Divulgação

A

s instituições de saúde de hoje lutam para criar ambientes mais responsáveis e voltados para necessidades específicas, inovação em mobília e técnicas de design, que podem representar um papel significativo. As unidades médicas estão descobrindo que, ao converter tradição e interiores de suas organizações em espaços funcionais, esteticamente agradáveis e positivos, elas podem aumentar a satisfação do paciente, facilitar a cura, incrementar o conforto do visitante e até mesmo aumentar a produtividade dos colaboradores. As cinco áreas seguintes – prioridade entre muitas instituições de saúde hoje – estão sendo moldadas através de avanços com mobília e design, possibilitando que as organizações melhorem a qualidade do serviço de saúde enquanto oferecem uma experiência superior ao paciente. Calor residencial – Para dar apoio

guarda-roupa e cômoda em leito de hospital americano: tendência aproxima ambiente hospitalar de uma estética definida como “em casa, fora de casa”

46 Diagnóstico | nov/dez 2012

à conexão entre o conforto dos pacientes e os avanços terapêuticos, as instalações modernas do sistema de saúde estão dando passos para adicionar o “calor humano das residências” aos espaços. Pegando emprestado a estética “em casa, fora de casa” que serviu bem à indústria hospitalar, essas instituições estão reduzindo estressores do meio ambiente – afastando-se dos designs tradicionais dos hospitais a favor do que for mais familiar para os pacientes. Para ajudar a atingir este objetivo, mais instituições de saúde estão incorporando coleções de mobiliário em seus leitos, o que inclui guarda-roupas e cômodas – criando coletivamente um visual consistente típico do design de um quarto comum. O resultado deve permitir que os


As instituições de saúde estão descobrindo que, ao converter tradição e interiores de suas organizações em espaços funcionais, agradáveis e positivos, elas podem facilitar a cura e até mesmo aumentar a produtividade dos colaboradores pacientes façam uma associação positiva entre a casa deles e o quarto de hospital. As coleções de mobiliário dos quartos em grande variedade de estilos fornece para diferentes usuários, em diferentes demografias e estéticas de hospitais, enquanto abrangem sutilezas residenciais que facilitam a situação dos pacientes. Este efeito pode ser alcançado com o uso de arte, paletas de cores sofisticadas, texturas, métodos de redução de ruídos e luz natural. Além disso, lounges informais e/ou cafés ou salas de estar e corredores podem ajudar a tornar toda a instituição mais convidativa, amigável e conveniente para os usuários. Cafés externos e salas de estar, em particular, fornecem um santuário para que os visitantes chequem seus laptops e celulares, relaxem com uma xícara de café ou um sanduíche e, acima de tudo, se sintam mais em casa. Esses locais podem ser uma alternativa bem-vinda para as tradicionais salas de espera, que tendem a inibir a interação. Em conjunção com o mobiliário dos pacientes e a influência do design de residências, eles exemplificam um novo e progressivo modelo que está impactando positivamente a experiência do paciente, o conforto do visitante e a produtividade do colaborador. leitos personalizados – Levando

o design talvez um passo adiante do conforto residencial, as instituições de saúde estão gradativamente personalizando os quartos – especialmente para seus habitantes – como um modo de reduzir a ansiedade e o estresse, enquanto melhora o conforto e a satisfação geral. Uma

mobília e design: oferta de uma experiência superior para o paciente

maneira de alcançar isto é através do uso dos questionários de entrada – perguntando sobre itens como a revista favorita, comida favorita e/ou cor favorita – para que pacientes possam estar em quartos customizados exatamente para eles. Muitas instituições também estão alavancando as formas de comunicação com o paciente, seja com uma forma mais avançada de sinalização digital ou quadros convencionais, dentro dos quartos. Nesses displays, é possível personalizar as mensagens com o nome do paciente, nomes de médicos e enfermeiros responsáveis pelo tratamento, além de fotos de família, notícias recentes e previsões do tempo, entre outras informações. Assim, usuários que entram em um

quarto de hospital – cumprimentados por uma mensagem customizada, a revista favorita ao lado da mesa, suas flores favoritas na janela – irão imediatamente obter um novo senso de conforto a respeito da visita e, mais importante, sobre o cuidado que estão recebendo. Personalizar a experiência de internação, desta maneira, não apenas reforça o modelo de cuidado centrado no paciente, como também pode transformar um pesado ambiente clínico em um espaço relaxante – neutralizando os efeitos negativos e a ansiedade. Proporções perfeitas – Enquanto

as instituições de saúde trabalham para aumentar os níveis de cuidado e satisfação dos pacientes, elas também precisam acomodar as necessidades de familiares e dos visitantes, assim como de enfermeiros, médicos e outros profissionais de saúde. Essa pode ser uma tarefa difícil. O espaço é um artigo de luxo, e, enquanto as organizações incorporam estações de enfermagem descentralizadas e tentam adicionar mais depósitos e áreas de suplementos, pode se tornar desafiador utilizar o espaço também para criar conforto e ambientes personalizados para os pacientes. Como resultado, a escala e a flexibilidade da mobília do leito de um hospital é

quadro de comunicação no quarto do paciente: interação customizada amplia o sentido de conforto e cuidado Diagnóstico | nov/dez 2012 47


ENSAIO arquitetura hospitalar Lounges informais e “móveis de casa” ajudam a tornar o ambiente hospitalar mais convidativo para os usuários

um ambiente mais seguro para pacientes e colaboradores.

um fator vital para superar as limitações do espaço e seus resultados no design dos quartos. Existe atualmente no mercado uma variedade de novidades em mobiliário para diversos propósitos, oferecendo às instituições de saúde a opção de escolher entre sofás-cama que incorporam mesas de suporte com dados embutidos e acesso elétrico, além de compartimentos para guardar mantimentos, lençóis e travesseiros. O uso de produtos híbridos, como cadeiras que também servem como poltronas reclináveis, contribui para maximizar o espaço. Essas ofertas multipropósito e híbridas são um modo efetivo de aumentar a funcionalidade do quarto usando móveis de menor escala – resultando em ambientes mais espaçosos, esteticamente agradáveis e produtivos para pacientes, visitantes e profissionais de saúde. Controle de infecções – Outra

área em que o mobiliário e o design podem desempenhar um importante papel é no controle de infecções associadas aos hospitais que tornaram-se uma grande ameaça para as instituições de saúde, especialmente com o surgimento de organismos resistentes a diversos tipos de drogas. O caminho da infecção é único para cada ambiente e pode afetar diversas áreas e elementos em um hospital, incluindo cortinas que dividem os leitos e a mobília. Como resultado, hospitais e outras instituições de saúde estão toman48 Diagnóstico | nov/dez 2012

do medidas para controlar a gravidade destas epidemias. E existe uma indústria de larga escala focada em determinar os meios mais efetivos para prevenir e suprimir o crescimento de agentes causadores de infecções. A ferramenta de prevenção número um envolve disponibilizar espaço para – e chamar atenção para – procedimentos de lavagem de mãos entre pacientes e staff. Muitas instituições estão criando ambientes com pouca água e muito higienizador antibacteriano e antimicrobiano para evitar o crescimento de germes. Em adição a isso, tipos de mobília, assim como seleção de tecidos e acabamento, podem ter um grande impacto. Ao incorporar mobília que é fácil de limpar e desinfetar, como produtos de cantos arredondados e de cor clara, e evitando peças que escondam a sujeira e a poeira, facilita-se o combate às infecções. Com este objetivo em mente, tecidos vinílicos de alta performance e acabamentos de crypton são bastante efetivos para serem usados nos quartos dos pacientes, em salas de espera e de procedimentos. Mobiliários com acabamentos antimicrobióticos, como ions de prata em madeira e metal, também inibem o crescimento de micróbios. Educando a equipe no controle de infecções através do mobiliário e do design – e realizando pequenas mudanças –, as instituições de saúde podem ajudar a prevenir a disseminação de infecções e criar

Cuidado Bariátrico – Implementar soluções de mobília e design que acomodam as necessidades de pacientes bariátricos também vem ganhando importância na indústria de saúde, e a quantidade de mobília direcionada para esta especialidade, as áreas públicas de espera e quartos de pacientes bariátricos também se tornaram foco. O objetivo é eliminar o sentimento de isolamento e intimidação com um mobiliário espaçoso e mais amigável e promover um cuidado mais efetivo com o paciente. Para esta finalidade, instituições estão continuamente designando espaços específicos destinados a pacientes bariátricos para que todos os aspectos do quarto – incluindo cadeiras reclinadas, cadeiras para visitas, camas, banheiros e equipamentos especializados – possibilitem mobilidade, conforto e segurança, enquanto elevam a qualidade do cuidado. Uma grande gama de opções de mobília bariátrica também está disponível no mercado, a preços acessíveis. Estabelecer princípios ao selecionar este tipo de mobília é algo estável e seguro – o que reflete em peças como cadeiras com movimentos restritivos e que fornecem suporte para as costas e para os braços, com pequeno ângulo de movimentação da coluna. Comitês da especialidade e outros profissionais de saúde devem também usar os produtos específicos para esse perfil de paciente – com especial atenção aos limites de peso –, o que garante ao paciente segurança e discrição. Ao se incorporar um novo olhar sobre a importância do design na rotina das instituições de saúde, é possível ir mais longe criando espaços convidativos, colocando usuários à vontade e facilitando a interação entre o paciente e os profissionais de saúde.

Artigo publicado originalmente na revista Healthcare Design. Todos os direitos reservados.


Diagn贸stico | nov/dez 2012 49


ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE

Verde a partir do zero

As vantagens da introdução dos princípios de sustentabilidade em hospitais na fase inicial do design, segundo a especialista americana Anna Gilmore Hall

H

ospitais compõem uma importante e benéfica parte das comunidades onde vivemos, provendo cuidado e suporte quando mais precisamos. Ao mesmo tempo, como grandes consumidores de energia e água, eles podem ter impactos bastante negativos no meio ambiente. De acordo com o Energy in Healthcare Fact Sheet (Relatório sobre Energia em Saúde), um acompanhamento dos 100 principais estudos realizados pela Northwest Efficience Alliance (Aliança pela Eficiência do Noroeste), as instalações de saúde consomem 4% do total de energia utilizada nos Estados Unidos, incluindo toda energia consumida pela indústria, transportes e construções. Elas utilizam 836 trilhões de BTUs de energia anualmente e possuem 2,5 vezes maior intensidade de energia e emissão de dióxido de carbono do que prédios de escritórios comerciais, produzindo mais de 30 pounds (aproximadamente 14 kg) de emissão de CO2 por metro quadrado. Um hospital de tamanho médio nos EUA produz aproximadamente 18 mil toneladas de dióxido de carbono anualmente. Obviamente esse é um problema que precisa ser abordado e agora pode ser o momento perfeito. Surpreendentemente, apesar da recente crise econômica mundial, o sistema de saúde americano está vivenciando um boom de construções, enquanto busca substituir ou renovar prédios antigos construídos com o dinheiro da Lei Hill-Burton, que vigorou entre as décadas de 40 e 70 com o objetivo de incentivar a expansão dos hospitais americanos. Essa nova fase no setor de saúde dos EUA for50 Diagnóstico | nov/dez 2012


nece a oportunidade ideal para incorporar medidas de controle de energia e desperdício em unidades médica antes de começarem a ser construídos. Anna Gilmore Hall, diretora executiva da ONG Healthcare Without Harm (HCWH) – Saúde sem Dano, em tradução livre – confirma: existem maneiras de os hospitais reduzirem os impactos ambientais desde o começo. “Antes da pá atingir o chão, existem coisas nas quais você precisa pensar primeiro”, salienta a especialista. “No setor de saúde, por exemplo, o impacto do transporte na sua rotina é grande, seja no deslocamento de seus colaboradores ou de pacientes do hospital”. Isto, em sua opinião, torna a decisão de onde você instalará a unidade de saúde muito importante. “Ponha-o em um local de alto fluxo de trânsito, para que as pessoas possam pegar o ônibus ou o metrô. Encontre meios de incentivar seus colaboradores a utilizarem o transporte público. Pensar nestas coisas no início da construção do hospital é muito importante”, sugere Gilmore Hall. Sabidamente, hospitais são projetados para durar por um longo período e não são suscetíveis a terem múltiplos donos, como escritórios comerciais, prédios residenciais ou empresariais. Um hospital pode permanecer em uso por 50, 100 anos. O que significa que a comunidade ao redor precisa pensar nos impactos da construção não somente hoje, mas nas próximas décadas.“Trata-se de um importante diálogo a se ter com a comunidade”, diz Gilmore Hall. “Agora, no momento em que estamos neste boom de construções nos EUA, devemos refletir sobre quais hospitais queremos no futuro”. Uma das principais premissas do Healthcare Without Harm, explica a especialista, é a visão de que para ser eficiente um hospital precisa economizar água, utilizar energia neutra em carbono e se envolver com a comunidade local. “Esse estabelecimento deve ser um local amigável para se ir e não apenas um consumidor de recursos e produtos”, defende Gilmore Hall. Mas, afinal, o que se pode fazer para ajudar hospitais a se tornarem parceiros da comunidade em que se inserem? Isso é o que arquitetos e planejadores precisam manter em mente enquanto projetam e constroem hospitais. Eles também devem pensar como os hospitais serão geridos. Há, infelizmente, instituições projetadas por “arquitetos verdes” que não levam em conta o modo de gestão do hospital. Por exemplo, caso a pretensão seja realmente

Um hospital pode permanecer em uso por 50, 100 anos. o que significa que a comunidade ao redor precisa pensar nos impactos da construção não somente hoje, mas nas próximas décadas criar um bom programa de reciclagem, é necessário que haja uma certificação de que isto estará em mente durante a construção do hospital. Será preciso haver latas de lixo para o descarte de material e outros recipientes que serão responsáveis por agregar todo o carregamento a ser reciclado. “Pequenas coisas como essas podem realmente fazer a diferença”, defende Gilmore Hall. Não tóxico – Outro problema em poten-

cial está em comprar materiais que não são VOC free (volatile organic compounds; em português, compostos orgânicos voláteis) – bastante tóxicos – ou pelo menos com pouco VOC. Um exemplo dessa redução deveria ocorrer com o uso do PVC, reconhecido pela sua toxicidade tanto em seu processo produtivo quanto em sua aplicabilidade. Esse tipo de polímero também emite ftalatos (um agente químico nocivo) com potencial de emitir odores tóxicos, que posteriormente poderão ser aspirados por pacientes durante semanas ou meses após a abertura do hospital. A luz do dia – ou a falta dela – também é importante: quem faz o design de um hospital precisa pensar no impacto da luz do dia nos quartos de seus pacientes e salas de descanso de enfermeiros e médicos. “A luz natural ajuda as pessoas a se sentirem melhor, reduz erros médicos e pode diminuir a necessidade de medicamentos como analgésicos, por exemplo”, diz Gilmore Hall. “Existem diversos novos estudos, ainda pouco difundidos, sobre o impacto da natureza nos pacientes e colaboradores que trabalham nos hospitais”. Outro aspecto defendido por Hall, e que deveríamos pensar a respeito, é o fato de que hospitais criaram a tendência, nos últimos anos, de não parar de crescer. Ampliações,

em algumas circunstâncias, bonitas de se ver, mas não necessariamente importantes. Devemos, então, nos perguntar, sob esse aspecto, o que podemos fazer para reduzir as pegadas do setor de saúde no meio ambiente? Construir hospitais menores, de um modo mais verde, não poderia ser uma solução? O HCWH dispõe de um instrumento chamado Guia Verde para a Saúde (Green Guide For Health), que pode ajudar hospitais, arquitetos e designers a pensar no assunto sob o ponto de vista do design, construção e operação dos prédios. O guia traz respostas a questões como ‘quais são os materiais mais seguros para se usar nessa construção’ e o que é possível fazer para aumentar a resistência à seca das plantas presentes no micro ambiente onde o hospital está inserido . Existem, naturalmente, modos de reduzir o consumo de água, com o uso de descargas de baixo fluxo. Assim também, maneiras simples de reduzir o consumo de energia, a exemplo do uso de sensores que desligam as luzes automaticamente quando as pessoas saem das salas. Especialistas da Healthcare Without Harm também estão trabalhando com os hospitais em alguns países para estabelecer um sistema de troca de energias no setor de saúde, no qual hospitais realizam “leilões de energia excedente”. Uma iniciativa que acaba também reduzindo o preço da compra de energia do hospital. “Algumas instituições estão guardando parte de suas economias para comprar fontes de energia renovável verde”, pontua Gilmore Hall. “Adoraria ver os hospitais do futuro comprometidos com o uso do maior número de fontes de energia renovável possível”. Segundo ela, aproximadamente mil hospitais consultam regularmente o Guia Verde, que é dividido em diferentes tópicos específicos do setor de saúde. Os interessados podem fazer o download do guia através do site do Healthcare Without Harm (http:// www.noharm.org/, disponível em inglês e espanhol). “Temos hospitais nos EUA e Canadá que não apenas adotaram premissas sugeridas no Guia Verde, mas se tornaram replicadores do programa”, revela Gilmore Hall. Um projeto-piloto pretende, em breve, ampliar a iniciativa, com hospitais interessados em testar novas ideias, que, no futuro, possam reduzir seus gastos e o consumo de água e energia. Artigo publicado originalmente na revista Executive Healthcare. Todos os direitos reservados.

Diagnóstico | nov/dez 2012 51


PERFIL FERNANDO PARRADO

A metáfora da montanha Como o desafio de salvar a própria vida em meio ao frio e ao gelo da Cordilheira dos Andes pode servir de aprendizado no mundo dos negócios? Para o uruguaio Fernando Parrado, que ficou conhecido como o herói da tragédia dos Andes, a história do voo 571 ainda inspira lições, 40 anos após o desastre Fotos: Divulgação

parrado e outros 16 sobreviventes tiveram que comer carne humana para continuar vivos: 60 quilômetros caminhando na neve em busca de ajuda

52 Diagnóstico | nov/dez 2012

S Gilson Jorge

e gestores e empresários dizem que ser proativo é fundamental para obter sucesso na vida, no caso de Fernando Parrado, ter iniciativa foi efetivamente uma questão de continuar vivo. Herói no famoso desastre aéreo do voo 571, que bateu na Cordilheira dos Andes, em outubro de 1972, Parrado viu de perto a morte gradual de 29 passageiros e tripulantes do voo que iria do Uruguai ao Chile, incluindo sua mãe e a sua irmã, de 17 anos. O grupo, composto por atletas do Old Christians Club, de Montevidéu, e seus familiares, ia participar de um torneio de rugby em Santiago. Parrado e os outros sobreviventes da tragédia – que acaba de completar 40 anos – permaneceram por 72 dias à espera de socorro em uma montanha a 3,5 km de altura, sob temperaturas que oscilavam entre -25ºC e -42ºC. Não havia roupa adequada para enfrentar o frio ou provisão de alimentos, o que obrigou os sobreviventes a ingerir carne humana para continuar vivos. Quando a fuselagem do Fokker F277 da Força Aérea Uruguaia estacionou sobre a neve minutos depois que uma das asas se chocou contra o pico de uma montanha, 12 pessoas já estavam sem vida – havia 40 passageiros a bordo e cinco tripulantes. Nando, como é conhecido, também havia sido dado como morto pelos companheiros, devido à sua imobilidade e à aparente gravidade dos ferimentos em seu rosto. Três dias após o acidente, contudo, ele assombraria o grupo pela primeira vez naquela épica aventura ao se mover e abrir os olhos. Era


Às vezes é preciso tomar em 12 horas uma decisão que pode mudar o rumo de uma empresa. É algo que não se aprende em Harvard. Nos Andes, sim nando parrado, empresário e palestrante motivacional

o começo de uma história que, quatro décadas depois, ainda desperta interesse em todo o mundo. Poucos minutos após ser informado pelos amigos da morte de sua mãe e do estado agonizante de sua irmã, Nando passaria a protagonizar uma série de eventos que seriam determinantes para que o grupo conseguisse o improvável resgate. Parte do que experimentou nos dois meses mais difíceis de sua vida serve agora como inspiração para as concorridas palestras para empresários que Parrado faz mundo afora. “Às vezes é preciso tomar em 12 horas uma decisão que pode mudar o rumo de uma empresa. É algo que não se aprende em Harvard. Nos Andes, sim”, declarou à Diagnóstico o empresário, que, em meados do ano passado, esteve no Brasil para falar a uma plateia de empreendedores. Responsável direto pela salvação dos sobreviventes, quando resolveu caminhar pelos Andes até encontrar quem pudesse ajudar o grupo, o uruguaio se tornou uma referência mundial em liderança em situações de crise e, há anos, é convidado para motivar funcionários de multinacionais como IBM, Coca-Cola, Dell e Banco do Brasil. São pelo menos 12 apresentações por ano, em que normalmente o ex-atleta fala sobre temas como liderança efetiva e trabalho em equipe. Entre os motivos do seu sucesso como palestrante está uma

elogiada oratória, que o fez figurar em 2010 como o melhor palestrante do mundo, pelo World Business Forum, de Nova Iorque. Gente que está sempre ávida por conhecer detalhes da trajetória de Parrado. “Eu tenho falado tanto para grupos com 2 mil pessoas quanto para pequenas empresas”, afirma o uruguaio, para quem histórias como a da tragédia dos Andes e o naufrágio do Titanic só fazem aumentar o interesse das pessoas à medida que o tempo passa. Assunto para ilustrar as suas falas não falta. Em 72 dias no inferno gelado, Parrado viu a sua irmã morrer debilitada em seus braços sem poder socorrê-la, perdeu outros cinco companheiros de viagem que não resistiram aos 34 graus negativos da primeira noite nas montanhas e negociou com os demais sobreviventes os termos de conduta, como a decisão de se alimentar com a carne dos passageiros mortos e a saída em busca de ajuda, da qual seria o grande mentor. cadáveres da mãe e irmã – Ingerir a carne fresca de pessoas com as quais se estava convivendo foi a decisão mais difícil a ser tomada. Com a fome castigando o grupo e sem a menor possibilidade de encontrar algo comestível na aridez das montanhas, os sobreviventes começaram a especular discretamente a possibilidade de praticar a antropofagia, ainda que não houvesse consenso. Até que Parrado anunciou explicitamente a sua intenção de se alimentar com partes do corpo do piloto. Houve alguma relutância e até a defesa do ato com menções à eucaristia, em que católicos se alimentam simbolicamente do corpo de Cristo. Por fim, o instinto de sobrevivência prevaleceu. A etapa seguinte foi improvisar facas com material arrancado da fuselagem para cortar a carne dos mortos e comê-la. Os cadáveres da mãe e da irmã de Nando, entretanto, não foram mutilados. A ingestão de proteína animal deu vigor ao grupo para continuar a luta pela vida, mas a natureza ainda se encarregaria de influenciar o destino dos sobreviventes. A situação, que já era desesperadora, ficou ainda mais dramática quando uma avalanche soterrou o grupo, que dormia dentro da fuselagem. Oito pessoas, de um total de 24, morreram asfixiadas pelo gelo durante esse tempo. Mas curiosamente alguns sobreviventes avaliaram que, sem a avalanche, todos teriam morrido depois,

já que os novos cadáveres passaram a garantir mais um mês de suprimentos. As esperanças foram perdidas cerca de 60 dias depois da queda do avião, quando, pelo rádio da aeronave – que continuava funcionando, apesar do choque –, as autoridades informaram que as buscas haviam sido encerradas. A apatia tomou conta do grupo. Menos de Parrado, o único que tomou a decisão de buscar ajuda, mesmo que isso significasse uma caminhada pelos Andes sob condições extremas. Com o abrigo da fuselagem e um novo estoque de carne, a maioria optou por permanecer onde estava ao invés de se arriscar em uma caminhada sem destino. Mas Parrado estava determinado e anunciou o seu plano de enfrentar as montanhas. “Tive a ideia de me mobilizar e lutar pela minha vida. Não precisei de que alguém me dissesse o que fazer. A verdade é que, se eu não tivesse saído, ninguém teria ido. Acredito nisso”, afirmou ele, que, após ter perdido a mãe e a irmã na tragédia, sentia a angústia de informar a seu pai que estava vivo. Tomada a decisão, Nando recebeu apoio verbal dos companheiros, mas apenas outros dois se dispuseram a segui-lo. Baseado em informações fornecidas pelo piloto aos passageiros durante o voo, o grupo acreditava que o vale chileno estaria à vista do alto da montanha em que estavam. Mas quando os três chegaram ao topo e olharam o horizonte, tudo o que viram foram mais montanhas. Um deles preferiu o “conforto” do grupo ao risco de padecer em meio ao deserto de gelo e voltou para a fuselagem. Mesmo profundamente decepcionado, Nando decidiu seguir. Estava determinado a morrer lutando pela sobrevivência. Ao seu lado, como companheiro, estava Roberto Canessa, que anos depois, em 1994, se tornaria candidato à presidência do Uruguai. “Via que no avião tinha muita gente incentivando a expedição, fazendo Nando pensar em sair de lá. Mas ninguém queria ir com ele”, revelou Canessa no documentário Estou Vivo: Milagre nos Andes, exibido pelo canal History Channel. “Achei uma atitude bem covarde”. Um outro aspecto fundamental para o resgate foi a coordenação de esforços e o aproveitamento de habilidades individuais de cada sobrevivente. A estratégia, que incluía rotinas de limpeza e retirada da neve, era garantir a vida de quem estava no acampamento, além de preencher o Diagnóstico | nov/dez 2012 53


PERFIL FERNANDO PARRADO ócio. Na preparação da expedição que iria buscar ajuda, não foi diferente. Um dos sobreviventes, Carlitos Paez aproveitou as lições de costura na infância e ensinou os seus companheiros a fazer sacos de dormir, que seriam fundamentais para que Parrado e Canessa suportassem o frio das madrugadas andinas durante o trajeto até o Chile. O avião estava localizado no meio da fronteira com a vizinha Argentina. Foram 10 dias de caminhada enfrentando rochas, atalhos e madrugadas geladas até que, na outra margem de um rio aos pés da cordilheira, os dois avistaram um boiadeiro. Como não era possível atravessar as águas agitadas do rio e não dava para escutá-los desde a outra margem, o pacato camponês voltou na manhã seguinte e arremessou para o outro lado uma pedra com papel e lápis para que aqueles dois jovens com aparência sofrida explicassem porque estavam ali, em meio a montanhas isoladas dos Andes. O socorro chegaria horas depois. “Ninguém acreditou quando falamos que havíamos traçado aquela rota a pé e sem equipamentos”, destaca Nando, que percorreu mais de 60 quilômetros do local do acidente até a beira do rio. ninguém é insubstituível – Falar em público sobre o que aconteceu nos Andes é algo que Parrado faz, em média, uma vez por mês, quando aparece um convite. Na maior parte do tempo, ele precisa aplicar o que prega nas três empresas que preside: a serralheria familiar que herdou do pai, uma agência de publicidade e uma produtora de vídeo, todas em Montevidéu. Como chefe, Parrado acredita que é fundamental delegar responsabilidades à equipe. “Sou muito compassivo e tento fazer com que meus funcionários, mesmo errando, tomem decisões, façam coisas”, afirma. Foi trabalhando dessa forma que um funcionário de Parrado que começou como cinegrafista, há 30 anos, chegou à gerência de sua produtora de vídeo, a MRC. “Não gosto que os funcionários tenham direitos sem ter obrigações”. Ao explicar por que acredita na delegação de responsabilidades a quem trabalha em sua equipe, Nando faz uma comparação com as atitudes que precisou tomar nos Andes. “Aqui são decisões empresariais. Não é uma questão de vida ou morte”, defende. Para ele, na hora de decidir é preciso levar em conta três fatores: intuição, coração e informação. Um 54 Diagnóstico | nov/dez 2012

dos motivos que levam Parrado a defender vigorosamente o compartilhamento de obrigações é a certeza de que ninguém é insubstituível. Algo que também aprendeu com o acidente. “Quando voltei para casa, depois de ter sido considerado morto por mais de dois meses, percebi que todo mundo continuava a fazer o que fazia antes independentemente do fato de eu estar vivo ou não. Isso acontece com todo mundo”, reflete o empresário. “Se morrer o CEO de uma empresa, logo alguém vai assumir em seu lugar.” Com a experiência de quem sobreviveu a um desastre aéreo e tem “a bagagem cultural de morar em um país sul-americano”, Parrado sabe que as crises podem ser perfeitamente superadas. “Quando acontece um problema, a primeira providência é tratar de minimizá-lo”, afirma o uruguaio, para quem a convivência com o histórico de crises faz os CEOs sul-americanos serem bastante valorizados por empresas multinacionais.

parte do que restou da fuselagem do fokker se tornou abrigo para os sobreviventes: permanecer ‘seguros’ ou arriscar tudo e buscar ajuda?

“Quando há uma decisão muito importante a ser tomada, o negócio é não ficar paralisado”. Depois de ficar em silêncio por 25 anos após o acidente, inclusive porque os sobreviventes foram acusados por parte da mídia de canibalismo, Parrado decidiu começar a fazer palestras quando um amigo o convidou a ir ao México para falar sobre sua experiência. E novamente foi criticado, dessa vez por seus colegas de voo, com quem, apesar disso, até hoje mantém uma relação de irmãos. “No início, todos me criticaram, mas quando viram o quanto era bom, resolveram fazer o mesmo. Hoje, 12 dão palestras. E a alguns deles eu salvei a vida de novo”, alfineta.


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CEHON

Pioneirismo e excelência são marcas do Cehon

Centro de Hematologia e Oncologia completa 16 anos. humanização do tratamento, valores éticos e reconhecimento da equipe são destaques

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undado em 1997 por um grupo de médicos interessados em prestar serviço de alta qualidade técnica no tratamento de pacientes com câncer, o Centro de Hematologia e Oncologia da Bahia (Cehon) é uma instituição de saúde voltada ao atendimento especializado a pacientes oncológicos e hematológicos. Ao longo de sua trajetória de atuação, o Cehon tem evoluído de modo permanente na busca e consolidação de sua referência na excelência do atendimento e na qualidade técnica de sua assistência. Após ter adicionado o serviço de mastologia, o centro ampliou a equipe e suas especialidades, pois havia uma necessidade de tornar a instituição cada vez mais multidisciplinar. Atualmente com uma unidade de atendimento em Salvador, no bairro do Canela, o grupo está presente também nos municípios de Teixeira de Freitas, Jequié e Juazeiro, e está em vias de conclusão de duas novas unidades ainda no primeiro trimestre deste ano: uma em Barreiras e outra em Petrolina (PE), a primeira em outro estado. Com uma importante posição no cenário local em função de seu pioneirismo em levar tratamento oncológico para regiões que careciam das especialidades, o Cehon não perde de vista a prestação de serviços de excelência e um atendimento humanizado e ético. “A decisão de interiorizar os serviços do Cehon foi um desafio que encaramos e proporciona ganhos importantes às populações locais”, assegura a oncologista Márcia Amaral, sócia-diretora do centro. Na clínica, os pacientes contam com instalações acolhedoras, que garantem tranquilidade durante o tratamento. Com uma equipe multiprofissional composta por médicos, psicólogos, massoterapeutas, fisioterapeutas, nutricionistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares e farmacêuticos que se revezam no atendimento e tratamento dos usuários, a instituição investe também em valores. “Nosso diferencial é que, além de dispormos de uma estrutura clínica moderna e segura, garantimos o acolhimento ao paciente que já chega emocionalmente fragilizado”, certifica a Dra. Fernanda Asfora, coordenadora de oncologia do Centro.

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tradição e inovação – Com investimentos e aprimoramentos contínuos dos colaboradores e corpo clínico, bem como o avanço tecnológico, otimização e adequação das instalações físicas, o Cehon destaca-se pelo bom desempenho no resultado dos tratamentos convencionais e pela inserção de serviços alternativos que são capazes de conscientizar e de levantar a autoestima dos pacientes. Entre as opções que podem ser escolhidas pelo usuário estão a massoterapia e os encontros do “Cehon Acolhe”, que integram e informam novos usuários. Um dos recursos inéditos utilizados pelo centro é o Quimioplex, cinema destinado aos pacientes no momento da quimioterapia. “Uma das nossas prioridades é oportunizar aos usuários momentos lúdicos e de relaxamento que minimizem os desconfortos e efeitos colaterais do tratamento”, justifica a Dra. Fernanda. Além disso, o Centro oferece aulas de dança para pacientes e ex-pacientes, que realizam apresentações periódicas. Seguindo processos que priorizam a segurança e a qualidade no atendimento ao usuários baseados nas melhores práticas internacionais vigentes, o Cehon vai encarar em 2013 o desafio de ser avaliado na tentativa de obter a sua primeira acreditação. “Esse é um grande passo para a instituição. Para tanto, estamos investindo ainda mais em segurança, treinamentos e capacitação da nossa equipe técnica. Além disso, investiremos em uma reforma ampla da ala de quimioterapia, para oferecer mais conforto e bem-estar no atendimento”, reforça Márcia. Diagnóstico | nov/dez 2012 55


Diretoaoponto FERNANDO MEDEIROS

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“O fim da informalidade no setor de saúde é um filão que vai beneficiar a todos”

QUAL É A SOLUÇÃO QUE a MEDiTRACT OFERECE AO SEU CLIENTE? A tecnologia consiste em escanear e abstrair as informações do contrato e colocar esses dados em rede. A partir daí, o sistema, que roda em nuvem, passa a ser um aliado do gestor, que conta com uma ferramenta que o auxilia na administração dos contratos. Considerando que um grande hospital de 500 leitos tem uma média de três a quatro contratos por leito, ao multiplicar esse total por 500, há, no mínimo, 2.000 contatos para serem geridos. A MediTract sintetiza as informações e gera e-mails alertas apontando situações que têm que ser observadas com atenção, como datas críticas, documentos que precisam ser anexados ao contrato, manutenção obrigatória preventiva. Outro problema solucionado pelo sistema é o fim do acesso aos documentos físicos. É possível mensurar o retorno nesse tipo de investimento? A partir do primeiro mês já é possível sentir os benefícios da adoção do serviço. A rotina do financeiro das empresas é alterada positivamente. É possível, por exemplo, acompanhar on line todas as tabelas de preço dos contratos. Pesquisas americanas indicam que para cada real 56 Diagnóstico | nov/dez 2012

gasto em nosso serviço, o hospital recupera de R$ 14 a R$ 16. Como funciona a segurança nesse tipo de operação? Desde a nossa fundação, há 12 anos, nunca registramos nenhuma violação do sistema. Até porque cada usuário tem logins com níveis de acesso diferentes, com restrições e níveis de acesso diferentes. Possuímos mais de 1.010 mil usuários cadastrados e mais 100 milhões de consultas nos EUA. Algo que, a nosso ver, é uma prova da eficiência do serviço. POR QUE A MEDITRACT ESCOLHEU ATUAR NO BRASIL? O Brasil é um país que apresenta um crescimento vertical da área de indústria médica acima da média mundial. Após estudos de mercado e diante da estratégia de crescimento da empresa pelo mundo, decidimos que o país seria ideal para investir. Há também uma coincidência: Brasil e os EUA têm o mesmo número de hospitais, embora lá existam mais leitos. O nosso maior interesse aqui está nos maiores centros hospitalares do país, além dos grandes hospitais e seguradoras, companhias e autogestão. QUEM SÃO OS PRINCIPAIS CON-

FERNANDO MEDEIROS, DA MEDITRACT: empresa americana quer aproveitar a informalidade do mercado de saúde brasileiro para lucrar com a informatização dos contratos

CORRENTES DA MEDITRACT NO BRASIL? Não temos nenhum concorrente direto. O que existe são companhias que fazem softwares, mas que cobram pelo número de usuários ou acesso – um custo que nosso cliente não tem, uma vez que o escaneamento e a gestão dos dados são por nossa conta. quanto custa esse tipo de solução? O valor cobrado vai depender muito do tamanho da empresa e da quantidade de contratos que a MediTract vai gerenciar. Outra diferença positiva é que a nossa tabela é decrescente: quanto mais contratos, mais baixo o valor. DE ACORDO COM A ANS HÁ APROXIMADAMENTE 25% DE INFORMALIDADE ENTRE HOSPITAIS E OPERADORES. Como avalia esse número? Trata-se de uma oportunidade. Até porque a ANS está liberando novas portarias, exigindo que as relações entre hospitais, seguradoras, prestadores de serviços e operadoras sejam contratualizadas. O fim da informalidade no setor de saúde é um filão que vai beneficiar a todos.

Foto: Roberto Abreu

Empresa líder na gestão de contratos de saúde nos Estados Unidos, a MediTract decidiu se instalar no Brasil em 2012 motivada pelo bom momento econômico e pela escala ascendente do mercado de saúde no país. Fundada há 12 anos por executivos nova-iorquinos ligados à área de assistência médica, a corporação é especializada na digitalização e gestão de contratos via web. “As reduções de custo operacionais e o controle total dos dados são as principais vantagens na adoção desse tipo de sistema”, garante Fernando Medeiros, gerente-geral da MediTract no país. De acordo com o gestor, o momento regulatório vivido pelo mercado brasileiro é único para o core business da companhia. “ANS vem publicando portarias exigindo que as relações entre hospitais, seguradoras, prestadores de serviços e operadoras sejam contratualizadas”, afirma Medeiros. “O fim da informalidade no setor de saúde é um filão que vai beneficiar a todos”.


Quem lê decide. Quem decide lê.

alfredo martini, diretor-geral do hospital são rafael (BA)

Diagnóstico | nov/dez 2012 57


Paulo Lopes ARTIGO Roberto Abreu

Paulo Lopes é CEO do Grupo Organiza, diretor da Associação Comercial da Bahia, headhunter, coach, palestrante e autor do livro “Segredos de um Headhunter”

LIDERANÇA DE ALTA PERFORMANCE

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ara falarmos de liderança de alta performance, torna-se Observamos então que é de fundamental importância que os necessário estabelecer alguns conceitos básicos e algumas líderes assumam novos papéis, dos quais se destacam: diferenças entre liderança, gerenciamento e coaching. • Parceiro estratégico da organização. Liderança é anunciar o futuro e convocar as pessoas para que • Transformador de paradigmas. façam esse futuro acontecer. • Desenvolvimento de pessoas. Gerenciamento é a coordenação de recursos e pessoas para o Estes novos papéis, sem sombra de dúvidas, irão contribuir cumprimento de objetivos específicos, que farão o futuro anun- para o desenvolvimento das competências dos liderados, e isso ciado acontecer. será revertido em resultados de alta performance. Coaching é ajudar as pessoas a se dedicarem e a terem entuPara adotar o alinhamento de pessoas estratégicas e resultasiasmo no cumprimento dos objetivos. dos, é fundamental ter a transparência, o compromisso e a capaPortanto, para que se possa ter uma liderança de alta per- citação como pilares básicos. Transparência no sentido de clareformance, é preciso que a ação esteja inza estratégica, estrutura organizacional, tegrada com esses três pilares: liderança, valores e princípios. Compromisso na gerenciamento e coaching. o maior trabalho da adoção de práticas de reconhecimento, Temos observado nos nossos trabaremuneração e clima organizacional sauliderança é agregar lhos de contratação de executivos e de dável. E finalmente o pilar capacitação, valor, e isto se dará consultoria de gestão empresarial que que representa a importância da gestão ainda é muito forte a ênfase no gerenciaatravés de programas do desempenho, treinamento e desenvolmento, o que tem contribuído para que as vimento das lideranças. e processos efetivos organizações tenham baixos resultados. Assim, podemos observar que todas Esta postura com forte ênfase na as atitudes acima listadas dizem respeide desenvolvimento gestão tem levado muitos executivos ao to a um aspecto vital na liderança: fazer humano, visando fracasso, e isto ocorre pelas práticas de com que as pessoas se sintam importanconstruir excelência tes, pois essa é uma das maiores necesalgumas atitudes, tais como: • Intimidação. sidades para o bem-estar psicológico do na liderança de • Frieza e arrogância. ser humano. pessoas • Ambição demasiada. Para que tenhamos um líder de alta • Incapacidade de pensar e agir esperformance, é necessária a adoção de trategicamente. comportamentos mais produtivos, como: • Incapacidade de delegar e trabalhar em equipe. • Atuar como coach dos liderados. Tais atitudes levam à baixa produtividade e, consequente• Apoiar no estabelecimento da visão. mente, à desmotivação. E qual seria então o comportamento • Disseminar os valores da organização. adequado do líder para obtenção da alta performance, ou seja, • Comemorar sempre os resultados, por menores que seatitudes para energizar os seus liderados? jam. • Criar momentos de diversão no trabalho. • Envolver todas as partes interessadas no negócio. • Deixar os liderados fazer escolhas com maior frequência. • Evitar o foco no curto prazo. • Oferecer permanentemente feedback construtivo. Concluindo, podemos dizer que o maior trabalho da lideran• Oferecer medidas de desempenho desafiadoras e não ça é agregar valor, e isto se dará através de programas e proameaçadoras. cessos efetivos de desenvolvimento humano, visando construir • Encorajar os liderados a fixar as metas que sejam repre- excelência na liderança de pessoas para poder gerar melhores sentativas para eles. resultados para os negócios e a equipe. 58 Diagnóstico | nov/dez 2012


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Hospital Jorge Valente

Uma referência de qualidade

Primeiro hospital da Bahia a receber acreditação nacional, o Jorge Valente repete o feito e conquista a Acreditação em Excelência pela terceira vez Divulgação

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Equipe do hospital passa por constantes aperfeiçoamentos e segue padrões rígidos de segurança

econhecido pelo mercado e usuários por seu elevado nível de atendimento, o Hospital Jorge Valente tem marcado na sua história o feito de ter sido o primeiro hospital baiano a obter acreditação hospitalar plena, em 2005. De lá para a cá, a instituição firmou-se entre as melhores do Brasil e logrou, em dezembro de 2012, mais uma recertificação em excelência (nível 3) na avaliação da Organização Nacional de Acreditação (ONA). Qualificada para enfrentar as mais diversas situações com segurança e qualidade de atendimento, a equipe do hospital é orientada a primar pelo aperfeiçoamento constante dos resultados: “A melhoria diária dos processos de atendimento faz parte da cultura da equipe de saúde do Jorge Valente, por isso não é nenhum esforço participar das inspeções dos avaliadores da ONA”, assinala Eliane Noya, diretora técnica do hospital. Com estrutura completa para atendimento de emergência adulto e pediátrica, maternidade, internação em áreas clínicas e cirúrgicas, unidades de tratamento intensivo (UTI) adulto, neonatal e pediátrica, day hospital e uma unidade especializada em oncologia, o Hospital Jorge Valente possui uma média mensal de 700 internações, 3.200 atendimentos na emergência pediátrica, 3.900 na emergência adulta, além de mais dois mil atendimentos realizados na unidade de pronto atendimento (PA), situada nas proximidades do hospital. O Hospital Jorge Valente conta com atendimento médico linear através de equi-

pe de “médicos hospitalistas”, especialistas nas diversas áreas e equipamentos modernos. Em 2012, implantou o serviço de hemodinâmica, conferindo maior segurança aos atendimentos de pacientes com suspeita de infarto agudo do miocárdio (IAM). A segurança, porém, não é um benefício apenas para os pacientes, pois médicos, equipe de enfermagem e todos os colaboradores da instituição são beneficiados com os rigorosos métodos adotados pela instituição. “Nos orgulhamos em manter o nível de excelência em acreditação e trabalhamos com o planejamento estratégico anual, alinhando as metas prioritárias com medidas que são monitoradas através de um painel de indicadores assistenciais, integrando toda a equipe em busca de melhores resultados para a instituição”, explica a diretora técnica. A iniciativa de concorrer a um título de acreditação requer preparação contínua. Para tanto, o Jorge Valente realiza encontros mensais de gestores, auditorias internas a cada seis meses e implantou, na atual gestão, o Núcleo de Qualidade e Segurança (NQS), que acompanha e controla a qualidade e segurança dos processos. Entre os planos para este ano, o Jorge Valente projeta reestruturar o day hospital situado no bairro da Graça, implantar um centro médico em Ondina, ampliar o centro pediátrico e expandir os serviços de assistência domiciliar e de oncologia, incluindo o atendimento em oncopediatria. Ciente de que a acreditação é um processo voluntário que evidencia o compromisso do hospital com o bom andamento de seus serviços, o Jorge Valente pretende buscar, ainda em 2013, a avaliação da Accreditation Canada, certificação internacional que abre caminho às instituições de saúde brasileiras para buscar seu posicionamento em par de igualdade com melhores instituições internacionais e cria oportunidades únicas de benchmarking. Com uma trajetória de 36 anos de atuação, uma moderna estrutura hospitalar e uma equipe preparada para as adversidades, o Jorge Valente é uma instituição que apresenta um modelo assistencial que se tornou referência para outras instituições por proporcionar segurança, agilidade e menor tempo de internação. Este reconhecimento é resultado da aplicação de uma metodologia que avalia e garante a segurança, a padronização dos processos e os ciclos de melhoria contínua. Diagnóstico | nov/dez 2012 59


60 Diagn贸stico | nov/dez 2012


Diagn贸stico | nov/dez 2012 61


RESENHA assistência

“Médicos não estão preparados para lidar com pacientes terminais” No livro Antes de Partir, autora australiana descreve as vicissitudes do convívio por quase uma década com pacientes terminais e, em entrevista à Diagnóstico, revela a falta de preparo emocional dos profissionais de saúde para lidar com o tema Eduardo César

D

urante oito anos, a escritora australiana Bronnie Ware compilou os relatos de pessoas nas últimas semanas de vida, incluindo queixas e arrependimentos. Apesar da delicadeza do tema, que a inspirou a escrever o livro Antes de Partir – Uma vida transformada pelo convívio com pessoas diante da morte, Bronnie é uma crítica contumaz da atenção à saúde voltada para esse tipo de paciente. “As instituições de saúde em geral, e os médicos por inclusão, não têm preparo adequado para lidar com pacientes à beira da morte”, disse a autora, de Sidney, onde mora, em conversa com a Diagnóstico. “Cada paciente é uma sala de aula”. Publicada no Brasil pela Editora Jardim dos Livros, a obra permite avançar por uma discussão mais técnica e urgente, desde o despreparo das instituições até como a experiência pode interferir na humanização dos profissionais de saúde. A autora, que usou a experiência de quase uma década como cuidadora de doentes terminais para escrever a obra, acredita que a questão merece uma discussão mais aprofundada em relação à rotina de médicos e sobre os dois paradigmas que envolvem o tratamento de um paciente: curar e cuidar. “Há espaço para melhorias nesta área. Acredito que o medo da morte, comum a todas as pessoas, impede que a questão seja tratada adequadamente”, pontua Bronnie, cuja obra foi a mais vendida da Livraria da Folha, ano passado. “Mas, de alguma forma, todos se beneficiariam ao oferecer conforto para este tipo de paciente” A questão passa pelos investimentos em técnicas que prolongam a vida dos doentes, mas que nem sempre os ajudam no processo de morte. Ao abordar essa lacuna, a autora acredita que a falta de preparo emocional e humanitário dos profissionais de saúde para lidar com pacientes terminais é, de certa forma, compreensível. “É muito difícil se preparar para as lições que se aprende no leito de morte e para a escala de emoções que se experimenta, seja pela natureza das conversas ou pelo que se compartilha com alguém nesta situação”, re62 Diagnóstico | nov/dez 2012


“Estou certa de que há, ocasionalmente, pessoas que preferem morrer no hospital, longe da presença da família. Cada paciente terminal é uma sala de aula” Bronnie Ware Divulgação

flete Bronnie. Mesmo assim, ela acredita que seu livro pode colocar um pouco de luz sobre o assunto. Em relação a médicos e enfermeiros, cuja morte faz parte do cotidiano e os põe cara a cara com a questão da própria finitude, ela acredita que há uma dificuldade inerente à aparente ausência de altruísmo. Algo que estaria ligado à própria rotina desses profissionais, imbuídos em salvar vidas. Mesmo assim, segundo a autora, o contato pessoal, de uma forma compassiva, deve ser fundamental na rotina de uma unidade de saúde. “Em caso de um drama familiar, por exemplo, acredito que o médico precisa interferir para que a família transmita apenas paz, e isso sem precisar entrar em maiores detalhes e no drama em si”, pondera a autora. morrer em casa – Neste aspecto, o tratamento deveria

reunir habilidades para que os parentes possam se adaptar às mudanças de vida impostas pela doença, além de apoio social, intervenções psicoterapêuticas e educação continuada. E

Bronnie reforça a importância do acompanhamento familiar. Em seus relatos ela observou que, na maioria dos casos, quem está no leito de morte prefere gastar o tempo que lhes resta com os entes queridos. “Nem todos podem dar-se ao luxo de realizar este desejo devido às questões financeiras, embora eu esteja certa de que há, ocasionalmente, algumas pessoas que preferem morrer longe da presença de sua família”, pondera. “Mas, na minha experiência, quando as pessoas tinham a opção de fazer a escolha, preferiam morrer em casa”. Em 2002, a Organização Mundial da Saúde definiu os cuidados paliativos como a abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Dez anos depois, no Brasil, o Conselho Federal de Medicina publicou a Resolução 1995/2012. O documento determina que pacientes com doenças crônico-degenerativas, em casos terminais, devem ter o direito de morrer em casa ou no hospital, e com ou sem a intervenção de aparelhos e da tecnologia, respeitado pelos médicos. O livro – Antes de Partir nasceu através de pequenas publicações no blog pessoal de Bronnie. Mas a postagem de um artigo de sua autoria – Os Cinco Principais Lamentos dos que Vão Morrer – causou uma repercussão maior e o resultado a assustou. Rapidamente, o texto transformou-se em viral e se espalhou pela web. Ultrapassou um milhão de acessos em poucos meses, triplicou o número no ano seguinte e a boa audiência do blog a levou a escrever o livro. “Senti-me impelida a combinar o aprendizado que tive com pessoas que estavam morrendo com a minha própria história”, disse. Para preservar a privacidade de amigos e parentes dos pacientes, Bronnie alterou os nomes dos pacientes no livro. antes de partir | Bronnie Ware |

Editora Jardim dos Livros, 2012 (R$ 23,90) Diagnóstico | nov/dez 2012 63


Estante&resenhas Divulgação

Divulgação

Leia também “A Startup Enxuta” procura ensinar empreendedores, administradores e líderes empresariais a serem mais bem-sucedidos na condução de seus negócios sem, contudo, desperdiçar tempo e recursos.

Alexandre Diogo, presidente do IBRC (SP)

Vitor Asseituno, médico e fundador do Empreender Saúde (SP)

A obra traz uma característica inovadora, ao preconizar que a forma de atendimento nos dias de hoje está errada, pois se baseia na reclamação. E essa é uma mudança de paradigma necessária para o desenvolvimento: a importância de se desenvolver estratégias inteligentes de aperfeiçoamento do atendimento minimizando custos e amplificando os ganhos. O autor, Bill Price, foi um CEO para atendimento ao cliente da Amazon e cria uma espécie de roteiro, quase uma “Bíblia” de boas práticas.

Esse livro, clássico da gestão, é um dos primeiros a utilizar a pesquisa científica e outros métodos conhecidos na área de saúde para fazer “gestão/ excelência baseada em evidências”. Numa era em que qualquer empreendedor de sucesso vira guru da gestão, e decisões tomadas por gestores influenciam muitos recursos e vidas, o livro aponta quais tipos de práticas gerenciais, de fato, têm evidência de sucesso e resultados comprovados. Sem esquecer a necessidade de desafiar paradigmas.

A obra inova ao preconizar que a forma de atendimento nos dias de hoje está errada, pois se baseia na reclamação

O livro aponta quais tipos de práticas gerenciais, de fato, têm evidência de sucesso e resultados comprovados

“The Best service is no service” (sem tradução no país) Autores: Bill Price e David Jaffe Editora: John Wiley Trade Número de páginas: 336 Preço sugerido: R$78,90

64 Diagnóstico | nov/dez 2012

“Vencedoras por Opção: Incertezas, caos e acaso - Por que algumas empresa prosperam apesar de tudo” Autor: Jim Collins Editora: HSM Número de Páginas: 352 Preço Sugerido: R$ 39,00

“A Startup Enxuta - Como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente” Autor: Eric Ries Editora: Lua de Papel Número de Páginas: 224 Preço Sugerido: R$ 29,90

A história do homem que criou um mundo de fantasia e é um exemplo de sucesso através de quatro momentos: a caminhada de Walter Elias Disney, a gestão empresarial da Walt Disney Company, os segredos do modelo de excelência e a descrição completa dos famosos parques na Flórida.

“A Magia do Império Disney” Autor: Ginha Nader Editora: Senac São Paulo Número de Páginas: 536 Preço Sugerido: R$ 71,20

Em um fim de semana, gestores mergulham de cabeça na cultura empresarial, testemunham pessoas botando a mão na massa e, em alguns casos, saem com um empreendimento de sucesso nas mãos.

“Startup Weekend - Como Levar uma Empresa do Conceito à Criação” Autor: Marc Nager, Clint Nelsen e Franck Nouyrigat Editora: Alta Books Número de Páginas: 200 Preço Sugerido: R$ 49,90


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Responsável Técnico: Dr. Ariovaldo Mendonça CRMMG 33477 - RQE 21876 - Inscrição CRM 356 – MG.


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