O livro onde (ou em que?) se aprende que o onde nem sempre é lugar...

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O livro onde (ou em que?) se aprende que o nem sempre é lugar...

Orações subordinadas adjetivas; Uso do “Onde” e do “cujo”.



Texto desenvolvido pelas professoras Adriana Gibbon, Cibele da Costa, Priscila do Amaral e Trícia do Amaral para ser utilizado na disciplina de Língua Portuguesa IV, no curso de Letras Espanhol oferecido pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG.



O livro onde (ou em que?) se aprende que o nem sempre é lugar... Todos saíram do supermercado em silêncio, afinal, o ocorrido com a Dona Sintaxe tinha sido matéria pra deixar até a boneca calada. O Uso, além disso, ainda pensava no beijo que ganhou na bochecha, ao se despedir de Chapeuzinho. Foram até a biblioteca e deram uma boa olhada nos materiais do Uso sobre as subordinadas substantivas. Dona Sintaxe sentiu-se em casa durante todo o tempo. Foi quando Emília, muito curiosa, encontrou um livro em meio a tantos outros: - Gente, olha só o que encontrei! Talvez esteja contando a nossa história... Somos todo o tipo de gente numa biblioteca. – E mostrou a capa do seu achado: - Realmente, Emília. – respondeu Dona Sintaxe – Quando estou aqui, me sinto em casa. - Também gosto muito de estar aqui, Emília. Apesar de Dona Sintaxe achar que não gosto de um bom livro, eu adoro! Os livros têm muito a ensinar. – Completou o Uso.

(Uma Biblioteca É uma Casa Onde Cabe Toda a Gente, Mafalda Milhões)


Enquanto Dona Sintaxe fazia uma careta de pouco caso, Quindim, o paquiderme gramático, pensava sobre o título do livro que a boneca estava mostrando. Ficou confuso sobre o uso do pronome “onde” na construção da sentença e perguntou: - Aposto que um bom livro de gramática pode explicar o uso da palavra “onde” neste título. Afinal, “onde” também é um pronome relativo, assim como o “que”, de que tratamos até agora. - Perfeito, Quindim! Fico feliz ao lhe ouvir falar assim! Lembra-se de tudo o que conversamos no País da Gramática! O “onde” é um pronome relativo utilizado sempre para referir-se a um lugar. - Achei que era possível usar “em que”. Na verdade, nunca sei quando usar um ou outro. – Disse Narizinho, um pouco confusa. - Ah! Esta eu sei responder. – falou Pedrinho – Aprendi nas aulas de sintaxe que o “onde” é utilizado para indicar lugar, mas um lugar físico. Nos outros casos, se usa “em que”. - Isso, Pedrinho! – Disse o Uso, parabenizando o garoto – Um bom exemplo é, usando a ideia do livro que a Emília encontrou, dizer assim: “Emília achou um livro em que o assunto era a biblioteca”. E Narizinho disse: - Hmmmm... Entendi. Por o livro ser um objeto, uma “coisa física”, a tendência é achar que devemos usar “onde”, não “em que”. E o Uso complementou: - Aham. Na verdade, esse pode ser o motivo que explica a gramaticalização do “onde”. É muito comum ver construções em que o “onde” aparece no lugar do “em que”, ou mesmo com a ideia de tempo. - Pode nos dar um exemplo em que o “onde” é usado com essa ideia de tempo? – Perguntou o Burro. - Claro, meu amigo! Dona Sintaxe pode reviver aquela época onde se seguia a gramática tradicional sem questionar! - Como assim? – Perguntou o Burro novamente – O que Dona Sintaxe tem a ver com o exemplo que eu lhe pedi? - Affff... – Resmungou Dona Sintaxe – Este é o exemplo, Burro! Quando o Uso falou “época ONDE se seguia a gramática”, quis lhe explicar este tal processo de gramaticalização que ele tanto gosta de mencionar. Pela regra de gramática, a boa e velha gramática, o correto seria dizer “época EM QUE”, afinal, “época” diz respeito a tempo. Entende? - Ahhh! – Sorriu o Burro – Entendi! Que cabeça a minha. Visconde, que até então estava em silêncio, somente ouvindo e observando a conversa, falou: - E onde se encaixam as orações subordinadas de que vínhamos falando até então? - Olha! Achei que o sabugo tinha perdido a língua! – Comentou Emília, atrevida como sempre. Visconde balançou a cabeça para os lados, conformado com a ideia de que retrucar a boneca seria perda de tempo. No mesmo momento, Dona Sintaxe respondeu: - Encaixam-se perfeitamente, senhor Visconde! “Onde” é um pronome relativo, como já dissemos; e os pronomes relativos sempre introduzem orações subordinadas adjetivas, as quais irão qualificar o elemento anterior a elas. - Hmmm... Estou entendendo. Então, enquanto as orações subordinadas substantivas exercem a função de sujeito, complemento nominal, objeto direto e objeto


indireto, as subordinadas adjetivas exercem a função de que? – Continuou indagando o Burro. - Ah, isso depende. Para lhe dar uma explicação melhor, podemos voltar a pensar nos pronomes relativos. Há um livro do qual gosto muito que trata deste assunto de uma forma bastante didática. – Disse Dona Sintaxe, enquanto dirigia-se às prateleiras da biblioteca procurando o tal livro. Não demorou muito, Dona Sintaxe voltou com o exemplar nas mãos, de autoria das amigas Abaurre e Pontara. Abriu-o nas páginas 234 e 235 e leu o seguinte trecho:

Funções Sintáticas Os pronomes relativos exercem a mesma função que seria exercida em estruturas sintáticas específicas, pelos antecedentes que substituem. Cujo e suas flexões são sempre pronomes relativos em função adjetiva, por isso exercem sempre a função de adjuntos adnominais. Observe: Os políticos cuja atuação merece elogios são cada vez mais raros. (Cuja atuação: a atuação desses políticos/ a atuação deles.) Os demais pronomes relativos ocorrem sempre em função substantiva, ocupando a posição de núcleos de sintagmas nominais na função sintática de: - Sujeito: Vi um homem estranho que saia da livraria. ( O homem saia da livraria.) - Objeto direto: Comprei o livro que você indicou . (Você indicou o livro.) - Objeto indireto: Comprei o livro do qual você havia gostado. (Você havia gostado do livro.) - Complemento nominal: Os medicamentos de que temos necessidade só devem chegar amanhã. (Temos necessidade dos medicamentos.) - Adjunto adverbial: Estas são as professoras com quem vamos fazer a excursão para Ouro Preto. (Vamos fazer a excursão para Ouro Preto com as professoras.) - Agente da passiva: Este é o jornalista por quem a reportagem vencedora do prêmio foi escrita. (A reportagem vencedora do prêmio foi escrita pelo jornalista.)


Após a leitura, todos ficaram impressionados com a clareza do material mostrado pela Dona Sintaxe. Emília, que não perdia a mania de ser implicante, comentou: - Óh, dúvida cruel! Não sei qual material é melhor. O do Uso, ou o da Dona Sintaxe? E o Uso respondeu: - Também estou com dúvidas, Emília. Tenho algo sobre subordinadas adjetivas para mostrar para vocês, mas percebo que a indicação de leitura da Dona Sintaxe foi muito esclarecedora. Que tal darmos uma olhadinha no que tenho preparado? Gostaria que vocês pensassem, também, sobre o uso do pronome “cujo”. Assim, podemos ter certeza de que aprendemos sobre essas orações a partir de duas óticas que se complementam. Neste instante, a bibliotecária avisou a turma que era hora de fechar. Todos se deram conta que já tinha anoitecido. Pedrinho e Narizinho pensaram em Dona Benta... Ela devia estar muito preocupada com a demora deles. Foi quando Emília lembrou que trazia consigo um saquinho cheio de pó de pirlimpimpim, uma rápida e segura maneira de voltarem para o sítio.

Referências: ABAURRE, Maria L.; ABAURRE, Maria B.; PONTARA, Marcela. Português: contexto, interlocução e sentido. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2003. P. 234-235 CASTILHO, Ataliba T. de. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. LOBATO, Monteiro. Emília no País da Gramática. São Paulo: Brasiliense, 1994. MILHÕES, Mafalda. Uma biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente. Bichinho do Conto, 2010.

Então, que tal irmos lá fuxicar no material que o Uso preparou para turma esta semana? Parece que o material está bem esclarecedor! Ah, será que esse pó de pirlimpimpim, que a turma pretende usar, vai funcionar direitinho? Vamos torcer para que sim!


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