Edição Diário Causa Operária nº5406

Page 1

QUINTA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2018 • EDIÇÃO Nº 5406

DIÁRIO OPERÁRIO E SOCIALISTA DESDE 2003

QUEM É HAMILTON MOURÃO, O PROPAGANDISTA-CHEFE DO GOLPE MILITAR?

WWW.PCO.ORG.BR

Causa Operária Ediçao 1022

ADQUIRA JÁ SUA EDIÇÃO ANÁLISE

“Avante irmãos! Avante heróis! Voltar não desejamos Lutando sempre, fugindo nunca Viver não imploramos Unidos, coesos, marchando Soldados da velha Brigada! O gosto da morte lembrando Aos novos que chegam do nada.”

Dia do pagamento: Serra comemora entrada de petrolífera dos EUA no mercado brasileiro

Boulos: como não serei eleito, prometo indulto ao Lula

Rubens Paiva rebate Mourão: “fui criado pela minha mãe, porque a ditadura matou meu pai”

Dilma era impopular? Presidenta eleita lidera isolada eleição em MG

PSOL e PCdoB fazendo campanha gratuita para o PSDB

Um dos argumentos usados pelo monopólio da imprensa burguesa para justificar o golpe que levou ao impeachment da presidenta, democraticamente eleita, Dilma Rousseff, seria uma suposta impopularidade.

Cresce o clima de terror nas Alckmin, o feminista? agências do Banco Itaú em Tucano ataca Mourão por declaração sobre mulheres Brasília

Rui Costa Pimenta: “uma ala ‘ética’ do PT prefere o Haddad é a mesma ala que queria expulsar José Dirceu” “Ficou clara na substituição do Lula pelo Haddad, que uma ala do PT prefere o Haddad ao Lula. Essa e uma ala do PT que quer um partido ético, eles gostariam de ver o Lula fora das eleicoes, promovendo uma reformulação do partido...

Comitê de Luta contra Golpe de São José do Rio Preto realiza colagem de cartazes e panfletagem


2 | EDITORIAL ANÁLISE POLÍTICA DA SEMANA

Rui Costa Pimenta: “uma ala ‘ética’ do PT prefere o Haddad é a mesma ala que queria expulsar José Dirceu” Transcrevemos abaixo um trecho da Analise politica da Semana do ultimo dia 15 de setembro, no qual o presidente do PCO Rui Costa Pimenta analisa a politica direitista de um setor do PT contra a candidatura de Lula. “Ficou clara na substituição do Lula pelo Haddad, que uma ala do PT prefere o Haddad ao Lula. Essa e uma ala do PT que quer um partido ético, eles gostariam de ver o Lula fora das eleicoes, promovendo uma reformulação do partido. Retirando todos os corruptos, ou que eles consideram corruptos, e, portanto, eles festejaram a substituição do Lula pelo Haddad, abrindo o jogo, colocando as cartas na mesa. Uma parte do PT não festejou nada, se apoiou na tática do Lula. Mas toda uma parte do PT acha que o Haddad e o melhor candidato. Se você vir a entrevista do Haddad do PT na Rede Globo, algumas pessoas se arriscaram a elogiar duas, ou três frases dele na entrevista, mas maioria protestou, mostrando que o outro lado esta jogando. Um parlamentar do PT afirmou que o Haddad foi interrompido 62 vezes. Eles simplesmente não deixaram o Haddad falar nada que interes-

se a ninguém. A única coisa que fica e que ele não conseguiu se defender da corrupção. Ele afirmou que militantes do PT se envolveram na corrupção, e agora não da para ficar sustentando isso ai, toda uma ala do PT pensa isso ai. Um setor do PT, na época do mensalão, chamada de Mensagem ao Partido, propos expulsar todo um setor do partido, que supostamente tinha sido acusado de corrupção. O Haddad era dessa ala, depois foi escolhido como candidato do Lula, e veio para a ala Lulista. Faz parte da ala direitista, o Tarso Genro do PT do Rio Grande do Sul, o PT do Rio Grande do Sul foi o que menos se mobilizou em defesa do Lula. O ex-governador do Rio Grande do Sul deu entrevista de que o PT tem que fazer autocritica. Assim como o ex-ministro da justiça, José Eduardo Cardoso, que atuou muito mais a favor do golpe. Muita gente vai falar o Lula indicou o Haddad, mas o Lula e

ATIVIDADES

líder de um partido que e um balaio de gatos, ele adotou uma politica que ele considera capaz de unificar o partido. E por esse motivo que teve festa e o pessoal não se recriminou em falar

la que o que estava ocorrendo era o assassinato politico de Lula, para que falar de coisas tao desagradáveis se o momento e de festa. Então nos temos que levar em consideração isso“

CHARGE

Comitê de Luta contra Golpe de São Como de hábito, por Renato Aroeira José do Rio Preto realiza colagem de cartazes e panfletagem

FRASE DO DIA

N

o dia 19 de setembro, o Comitê de Luta Contra o Golpe de São José do Rio Preto realizou suas primeiras atividades: a colagem de cartazes pela cidade e panfletagem no Calçadão da cidade. Os cartazes de “Sem Lula é Golpe” e “Sem Lula é Fraude” foram colados em pontos de ônibus, galerias, postes e muros da cidade inteira: centro, bairros ricos e paredes de avenidas de bairros mais pobres. A Panfletagem foi feita com cartazes, Jornais Causa Operária, adesivos

do PCO, Sem Lula é Fraude e com o boletim dos Educadores em Luta. Não dá para baixar a cabeça frente aos golpistas que perseguem os militantes de esquerda (seja por meio da polícia ou pela extrema direita). Os militantes do Comitê foram parados pela guarda municipal que tentou intimidar a colagem. Isso não impediu e não deve impedir as manifestações da esquerda. A Panfletagem foi extremamente bem recebida. São José do Rio Preto amanheceu com os cartazes em pontos estratégicos.

“Fui criado pela minha mãe e irmãs, porque a ditadura matou meu pai aos 11 anos, e meu avô morreu de tristeza dois anos depois. Por isso que sou um desajustado.” Marcelo Rubens Paiva


NACIONAL| 3

#ELENÃO

PSOL e PCdoB fazendo campanha gratuita para o PSDB A

manipulação nas eleições do Brasil, segue o enredo das eleições francesas, que através do voto útil, elegeu um programa impopular (neoliberal), através do banqueiro Macron, para espantar a possibilidade de que um candidato de extrema direita, Marine Le Pen, viesse a ganhar as eleições. No Brasil, o espantalho, o mal maior, a extrema direita fascista, já está configurada na eleição através da candidatura do direitista Jair Bolsonaro do PSL, e esse trabalho já está pronto, agora resta aos golpistas levar seu candidato preferencial, que no caso é o direitista Geraldo Alckmin para o segundo turno a fim de que o voto útil seja canalizado para ele. Para essa tarefa, os golpistas tem o apoio da esquerda pequeno burguesa, PSOL e PCdoB que em sua propaganda apresenta que as forças “democráticas” no Brasil, incluindo to-

dos os partidos golpistas, inclusive o PSDB, precisam se juntar para vencer o “abominável” candidato da extrema-direita. O PCdoB que inclusive governa o estado do Maranhão com o PSDB, limpa a ficha corrida do governador de São Paulo, apresentando-a diferente de Bolsonaro, quando todos sabem que no governo do Estado de São Paulo, o PSDB coloca em prática a política que Bolsonaro defende para o Brasil, a de privatizações, repressão às greves dos trabalhadores, retirada de direitos e defesa do golpe de Estado no país. Geraldo Alckmin nesse sentido é muito mais perigoso que Bolsonaro, pois a extrema direita teria dificuldade de governar o país sem uma grande reação popular contra as medidas deste último contra o povo. Já Alckmin, se ganhasse as eleições através do voto útil, serviria para desmorali-

zar a esquerda e a luta contra o golpe e teria todo o apoio da ala golpista para manter o golpe e implementar medidas totalmente antipopulares. É necessário alertar que Bolsonaro é o espantalho da eleição e que o plano A da burguesia golpista nas eleições é o PSDB de Geraldo Alckmin, fazer campanha contra Bolsonaro sem

explicar que o PSDB, na prática tem mais recursos para atacar a população brasileira, é entrar na campanha da direita, que está tentando unificar os candidatos golpistas em torno de Alckmin a fim de levá-lo para o 2° turno das eleições e depois forçar a esquerda a apresentar o voto útil no também direitista Geraldo Alckmin.

BOULOS

DILMA ERA IMPOPULAR?

Como não serei eleito, prometo indulto ao Lula

Presidenta eleita lidera isolada eleição em MG

P

ode parecer contraditório, mas apresentar uma candidatura que não possui nenhuma possibilidade real de vitória nas eleições tem lá suas vantagens. A maior delas é que o candidato com baixa votação pode apresentar as propostas mais ousadas, estapafúrdias e escatológicas possíveis e imagináveis, uma vez que não há qualquer compromisso com uma eventual vitória, por mais remota que seja. Nestas eleições farsescas de 2018, marcadas indelevelmente pela retirada arbitrária do ex-presidente Lula da disputa, há um candidato que se destaca pelas propostas extravagantes, quando já é de domínio público a inviabilidade de sua vitória eleitoral. Estamos falando do candidato gestado pelo Psol, que lhe serviu de ‘barriga-de-aluguel’, o senhor Guilherme ‘pé no barro’ Boulos. Pode parecer surpreendente, mas Boulos não parece compartilhar dessa opinião. Com frequência, o candidato delirante pronuncia frases como “Quando eu for presidente, …”, demonstrando por um lado um descolamento total da realidade e por outro, um caráter artificial, de candidato profissional, de papelão. Boulos acredita que será presidente. Ele ilude seus eleitores e as pessoas que ouvem suas palavras. Trata-se de fazer com que as pessoas acreditam nas instituições burguesas, legitimando estas eleições. Na realidade, a eleição no regime burguês, em geral, sempre é fraudada. Em 2018, temos eleições ainda mais fraudulentas, uma vez que o candidato favorito de 60 milhões de brasileiros, à frente

de todos os outros concorrentes, ou seja, Lula, foi impedido de maneira arbitrária de participar das eleições. Diante das declarações recentes de Haddad, que, pressionado sistematicamente pela imprensa golpista tem dito que não pretende indultar Lula “por que ele mesmo não quer”, Boulos mostrou ter um afiado senso de oportunidade. Em visita ao Rio de Janeiro, Boulos afirmou que dará indulto a Lula caso seja eleito. Essa declaração de Boulos foi publicada pelo portal golpista G1. A rede Globo sabe que Boulos não tem nenhuma chance de vitória, mas o fato é que a sua própria candidatura e bravatas desse tipo servem para tirar alguns votos do vacilante candidato do PT, Fernando Haddad. Nesse sentido a candidatura de Boulos desempenha um caráter similar à de Ciro. Enquanto o país caminha em ritmo acelerado para a ribanceira, Boulos nos brinda com uma candidatura de brinquedo, que só serve aos interesses mesquinhos da direita golpista e do PSOL. Enquanto isso, o povo brasileiro que se lasque.

U

m dos argumentos usados pelo monopólio da imprensa burguesa para justificar o golpe que levou ao impeachment da presidenta, democraticamente eleita, Dilma Rousseff, seria uma suposta impopularidade. Como “embasamento”, mostravam imagens das manifestações realizadas por coxinhas, onde os direitistas levavam cartazes e faixas pedindo a saída da governante. Essas manifestações eram totalmente artificiais, convocada pela imprensa e por grupos criados com dinheiro do imperialismo. Dilma, todavia, não era, e não é, impopular. Quando reeleita, a presidenta recebeu 54 milhões de votos. Após sua retirada, realizada pela direita, as mobilizações populares pela luta contra o golpe demonstraram isso. Atual-

mente ela concorre ao senado pelo Partido dos Trabalhadores, em Minas Gerais. A petista lidera as intenções de votos entre os mineiros. Na última pesquisa, realizada pela DataTempo, a candidata aparece em primeiro lugar, com 27,9% dos votos. Comparada com agosto, o crescimento foi de 1,1 ponto percentual. Dilma foi retirada pelos golpistas e, atualmente, está no poder Michel Temer, o presidente fantoche. O seu governo é, na verdade, controlado pelos militares, que ditam os rumos do país, atendendo aos interesses burgueses, que vão de oposto aos da classe trabalhadora. E não tem absolutamente nenhum apoio popular. Assim como o golpe se expressou na retirada da presidenta democraticamente eleita, por 54 milhões de brasileiros, hoje se expressa na prisão política de Lula e em sua retirada das eleições. Ele, que é o maior líder de massas da América Latina, é o escolhido do povo para assumir a presidência. Todavia seu direito foi vetado e ele não apenas não pode concorrer, como sua figura também não pode ser utilizada nas propagandas eleitorais gratuitas, expostas nas emissoras de TV e rádio. Nesse sentido lutar contra o golpe é fundamental. Todavia é importante ter a clareza de que a luta não deve ser nas urnas. Apostar nas eleições burguesas é um caminho trágico para a derrota. Apenas a mobilização popular, nas ruas, será capaz de barrar aos retrocessos impostos pela direita, bem como acabar com todas as medidas do governo fantoche, que atacam diretamente os interesses da classe trabalhadora.


4| NACIONAL

DIREITA GOLPISTA

Quem é Hamilton Mourão, o propagandista-chefe do golpe militar? “Avante irmãos! Avante heróis! Voltar não desejamos Lutando sempre, fugindo nunca Viver não imploramos Unidos, coesos, marchando Soldados da velha Brigada! O gosto da morte lembrando Aos novos que chegam do nada.”

U

m grupo de militares entoa essa velha canção de guerra, hino da brigada paraquedista. Entre eles, o general Antônio Hamilton Martins Mourão. A cada refrão, todos desferem socos nas mesas, marcando o ritmo. A melodia da música Dragões do ar é a de SS marschiert in Feindesland [A SS marcha em território inimigo] – nada menos que o hino da Waffen Schutzstaffel, a brigada mais cruel das tropas de Adolf Hitler. Se a letra original fala que “os vermelhos não terão mais descanso”, a tradução brasileira faz questão de lembrar o “gosto da morte aos novos que chegam do nada”. É exatamente o papel que Mourão vem desempenhando na política nacional nos últimos anos, ao tornar-se o porta-voz daqueles que defendem o golpe militar e a volta de uma ditadura sangrenta ao Brasil. Em setembro de 2017, Mourão anunciou que o golpe estava em fase de preparação, “por aproximações sucessivas”. E assim vem acontecendo desde o impeachment de Dilma Rousseff – que não teria acontecido sem o apoio das Forças Armadas, que não garantiram a permanência da presidente legitimamente eleita. Desde então, o general Sérgio Etchegoyen instalou-se no Palácio do Planalto, como Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, comandando nos bastidores o débil governo de Michel Temer: indicando ministros e cargos de segundo escalão, definindo os rumos da política. Dentro da política de “aproximações sucessivas”, foi decretada intervenção militar no Rio Grande do Norte em dezembro, no Rio de Janeiro após o Carnaval. O comandante-geral das Forças Armadas, general Eduardo Villas-Boas pressionou abertamente o Supremo Tribunal Federal a negar o habeas corpus a Luiz Inácio Lula da Silva, e sabatinou diversos presidenciáveis. Os militares contam com candidatos ao governo em diversos estados – inclusive no Distrito Federal – e, claro, o capitão Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República, tendo como seu vice o próprio Mourão. Desde então, o general voltou à berlinda, sobretudo após o suposto atentado que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora no dia 6 último, deixando-o hospitalizado. Mourão não se fez de rogado: deu um “golpe militar” no capitão e rumou ao TSE para pedir o direito de falar como candidato a presidente na campanha. Desde então, vem proferindo barbaridades à imprensa diariamente. Vale

tudo: misoginia, racismo, obscurantismo. A visão de mundo do general é sombria. Mas quem é essa figura que agora emerge dos mais profundos rincões da caserna? De onde veio sua representatividade junto aos militares direitistas?

dor de fogo ao Exército Brasileiro em 2012. A participação de oficiais em missões da ONU parece ser a senha para demonstrar o seu envolvimento com o imperialismo. PORTA-VOZ DO GOLPE MILITAR

Porto-alegrense, filho de general, o General Antônio Hamilton Mourão, ingressou aos 18 anos, em plena ditadura, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1972, onde se formaria três anos depois. Fez diversos cursos típicos do alto oficialato, tendo se tornado instrutor da própria Academia. Comandou o 27° Grupo de Artilharia de Campanha em Ijuí (Rio Grande do Sul), a 2.ª Brigada de Infan-

Já dentro do processo do atual golpe de Estado, Mourão “queimou a largada” em 2015. Então à frente do Comando Militar do Sul, o general criticou Dilma Rousseff, homenageou o torturador da ditadura Brilhante Ustra, e convocou os militares ao “despertar de uma luta patriótica”. Foi transferido então para a Secretaria de Economia e Finanças do Exército em Brasília. Na capital, dois anos depois, Mourão seria convidado pelo grupo direitista Terrorismo Nunca Mais (Ternuma) – conhecido por cultuar tortura-

taria de Selva em São Gabriel da Cachoeira (Amazonas), a 6.ª Divisão de Exército e o Comando Militar do Sul, tendo sido adido militar na Embaixada da Venezuela. Participou da Terceira Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola (UNAVEM III) – entre 1995 e 1998. Eram forças imperialistas encarregadas de administrar a relação com a UNITA – grupo armado pelos norte-americanos que fez frente aos socialistas durante após a independência de Angola. A missão fracassou, e os conflitos se intensificaram após a intervenção da ONU. O envolvimento com corporações internacionais não pára por aí. Segundo o coronel da reserva Rubens Pierrotti, Mourão estaria envolvido no favorecimento da Tecnobit – uma empresa espanhola contratada pelo Exército para fornecer um simula-

dores – a dar uma palestra na sede da maçonaria. Ali, em meio às crises política e econômica do governo golpista de Temer, o general anunciou as ações do Alto Comando das Forças Armadas no sentido de um golpe militar: “nós estamos numa situação daquilo que poderíamos lembrar lá da tábua de logaritmos, ‘aproximações sucessivas’. Até chegar o momento em que ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso”. Ou seja: havia condições materiais, havia planejamento e havia intenção de levar a cabo a imposição de impor pelas Forças Armadas um regime ditatorial no País. A declaração causou apreensão tanto naqueles que lutam contra o golpe, como nos que acreditam viver-

DA DITADURA AO SERVIÇO IMPERIALISTA

mos numa democracia: afinal, seria o retorno aos anos de chumbo que o país atravessou entre 1964 e 1985. O general Eduardo Villas-Boas confirmou tacitamente o que dissera Mourão, ao não recriminá-lo nem puni-lo nos dias seguintes. Limitou-se a afirmar que Mourão é um “bom soldado”. Desde então, a dupla passaria a desempenhar o clássico papel de policial mau e policial bonzinho, em que Villas-Boas pareceria um moderado enquanto Mourão seria o militar “linha-dura”: ambos na verdade parte do mesmo jogo político. Em dezembro de 2017, o general afirmaria – novamente durante uma seção do Ternuma – que o governo de Temer ia “aos trancos e barrancos, buscando se equilibrar em um balcão de negócios”. A pedido do presidente golpista, Mourão teria sido afastado do cargo por Villas-Boas. Foi um truque. Mourão se aposentaria em 28 de fevereiro desse ano com um raivoso discurso em que tratou Brilhante Ustra por “herói”, declarou apoio a Jair Bolsonaro, qualificou a intervenção federal no Rio de “fajuta” e afirmou que Temer deveria ser “expurgado da vida pública”. Era o início da vida política aberta do general. Assim como em 1964, os militares nada mais são que o braço armado do imperialismo no Brasil: eles representam o “núcleo duro” do golpe: as corporações que visam a destruir nossa economia e os direitos de nossa população, transformando o País num mero fornecedor de matéria-prima e mercado consumidor. Sua verborragia patriótica nada mais é que uma cortina de fumaça destinada a ocultar seu verdadeiro caráter de lambe-botas da grande burguesia internacional. Conforme já dito, as “aproximações sucessivas” anunciadas por Mourão consistiram num progressivo avanço de elementos das Forças Armadas no comando da nação, além da aproximação com o Exército dos Estados Unidos em treinamentos realizados na Amazônia em dezembro e, expressão mais palpável, as intervenções militares Rio Grande do Norte e no Rio de Janeiro. Em março, com Lula já preso, o STF decidiu julgar em plenário o pedido de habeas corpus que poderia dar a liberdade a Lula. Mourão ameaçou: “cuidado com a cólera das legiões”. Em 3 abril, o general Villas-Boas rosnaria candidamente: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais? Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de


NACIONAL| 5 respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”. PORTA-VOZ DO OBSCURANTISMO Mourão avançava em sua carreira política. Após evidente constrangimento por colocar-se abaixo de um oficial de patente muito inferior, acabou por consentir em se tornar candidato à Vice-Presidência da República na chapa encabeçada pelo capitão Jair Bolsonaro em 5 de agosto. Era a candidatura do golpe militar. Na famosa palestra na maçonaria, há um ano, Mourão já havia demonstrado que entendera a “tese das três raças” original de Karl von Martius por meio de uma leitura enviesada de Gilberto Freire e Sérgio Buarque de Hollanda. Segundo o general: “Carregamos dentro de cada um uma herança cultural tripla: a herança ibérica, do privilégio, todo mundo quer se dar bem; a herança indígena, da indolência e a herança africana, que é a da magia, que tudo vai dar certo (…) Temos que romper este ciclo”. O que para Martius, Varnhagen e sobretudo para Freire fora um traço distintivo único de nossa cultura, para Mourão é apenas motivo para autodepreciação. Desnecessário dizer que tal visão colonizada de mundo foi apreendida justamente contato com o imperialismo – a que serve a ação política de Mourão. Após o lançamento de sua candidatura, o militar atribuiu a Bolsonaro o papel de agitador, e a si o papel de propagandista – ou transmitir muitas ideias para um grupo pequeno de pessoas. Resolveu então compartilhar

com o país mais detalhes de sua canhestra visão de mundo. Sempre com ar compenetrado, ele vem expondo um festival de barbaridades em suas entrevistas e palestras. Perto dele, até o tarimbado boquirroto Bolsonaro não parece ser mais que um aprendiz. Como já mencionado, inclusive, Bolsonaro foi a primeira vítima do golpe militar que tanto apregoa. Tendo sofrido um suposto atentado a faca em Juiz de Fora no dia 6 de setembro, ficou afastado da campanha eleitoral. Mourão dirigiu-se no dia 12 ao TSE com seu correligionário, Levy Fidelix (PRTB). O objetivo era substituir o capitão internado na corrida presidencial. No dia 13 de setembro, em palestra no Instituto de Engenharia do Paraná, defendeu uma “uma nova constituição para o Brasil”. Criticou a extensão de nossa Carta Magna, e deu sua fórmula legislativa: “Não precisa de Constituinte. Fazemos um conselho de notáveis e depois submetemos a plebiscito”. Evidente: o que Mourão propõe é uma ditadura. Nenhum poder emanaria do povo, mas de juristas. Talvez os mesmos que condenaram Lula sem provas, que perseguem a esquerda nos Tribunais Regionais Eleitorais, que estão extinguindo por acórdão o direito de greve dos servidores públicos. Não custa lembrar, na vilipendiada Constituição de 1988 consta como cláusula pétrea em seu artigo primeiro que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Não há risco de mal-entendido: o general repetiria a afirmação cinco dias depois. Na última segunda (17), elucubrou: “Família sempre foi o núcleo central. A

partir do momento que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narco-quadrilhas que afetam nosso país”. Ou seja: a causa da criminalidade não é a miséria, a desigualdade social, o regime selvagem de exploração do capitalismo. Para Mourão, a culpa da criminalidade é das mães solteiras, das divorciadas, das viúvas etc. A culpa, claro, é da mulher. No mesmo dia, de modo servil, atacou as alianças com países como o nosso: “problema da política externa do Brasil é que nós nos ligamos com toda a mulambada, do lado de lá e de cá do oceano, na diplomacia Sul-Sul”. Claro: nada de união entre os povos oprimidos para buscar uma saída em comum para a dominação imperialista. Para Mourão, devemos submeter como escravos aos países do hemisfério norte que sempre dizimaram, escravizaram e relegaram à miséria a África e a América do Sul. Eles hão de conceder-nos um tratamento mais humano. Na terça (18), em evento da Associação Comercial de São Paulo, o general questionou o ensino de humanidades no país: por que as nossas crianças estariam “estudando filosofia em vez de se dedicar a outras matérias mais importantes”? O graduado e supostamente bem formado general é o exemplo maior do tipo de destruição duradoura que a ditadura militar perpetrou em nosso sistema educacional. É o retrato do que se tornaram nossas

Forças Armadas após décadas servindo como mero acessório da política imperialista. Talvez, se nossos jovens tivessem um mínimo de formação em humanidades, em Filosofia, História, Lógica Formal, Sociologia, não teríamos entre nós os eleitores de Bolsonaro e Mourão: são eles que afirmam que “o nazismo era de esquerda”, que urram “vai pra Cuba” aos socialistas, que vociferam que “bandido bom é bandido morto”, que argumentam que os próprios africanos escravizaram a si mesmos. O remédio para Bolsonaro, Mourão e seus seguidores, foi receitado pelo metalúrgico encarcerado em Curitiba. Na quarta (19) Lula enviou uma carta ao general em que sugere: “não julgue avós e mães pobres pelo seu conceito medíocre da espécie humana. […] Faça um curso sobre o Humanismo”. O obscurantismo arrogante de Hamilton Mourão é da mesma espécie daquele apregoado por pseudointelectuais como Olavo de Carvalho. Carentes de qualquer fundamento científico e mesmo de uma argumentação minimamente lógica que os sustente, transformam qualquer tese em opinião. Contrabandeiam nada mais que a barbárie sob sua verve empolada. O tipo de Mourão, na verdade, não tem nada de novo. Esses empertigados propagandistas do imperialismo sempre estiveram de plantão entre nós. Como boa cria da ditadura, apologista de assassinos e torturadores, Mourão cumpre o papel de lembrar “o gosto da morte aos novos que chegam do nada”. A ameaça do fascismo alerta-nos hoje que a civilização requer vigília.

RUBENS PAIVA REBATE MOURÃO

“Fui criado pela minha mãe, porque a ditadura matou meu pai” E

m declaração dada na última segunda-feira, Hamilton Mourão, o verdadeiro militar por trás do desprezível Bolsonaro, reforçou o caráter antipopular da chapa, afirmando que “casa só com mãe e avó é fábrica de desajustados para o tráfico”. O delinquente reincidente usa de subterfúgios para dizer que as mulheres são seres inferiores e que não há como edificar uma família próspera e ordeira senão dentro dos padrões tradicionais da burguesia. Somado às demais agressões proferidas pelo candidato à vice presidência, o menosprezo às famílias chefiadas por mulheres só reafirma a profunda incompatibilidade dos anseios dos golpistas (baseados em mentiras histórias e geopolíticas) com os rumos do país. Mourão, Bolsonaro e Paulo Guedes são a Rota… Rubens Paiva “pai” foi um dos (literalmente) incalculáveis assassinados pela ditadura militar (1964 – 1985). Engenheiro de profissão e parlamentar, denunciou e combateu o golpe no momento em que este acontecia. Foi cassado pelo AI-1 e, em seguida, exilado. Sua captura pela polícia política foi eivada, a exemplo de muitas outras, de mentiras e covardias. Pre-

so e torturado, Paiva chegou a receber a recomendação médica de ser encaminhado à emergência, o que foi ignorado pelo aparato repressivo, resultando em sua morte. O óbito e suas condições só foram esclarecidos em 2014, no âmbito da Comissão da Verdade. Como todos os outros milhares de assassinados, Rubens Paiva tinha família. Hamilton Mourão, general da reserva, ganhou notoriedade após uma escalada de atos de insubordinação. Em 2015, durante o conturbado prelúdio do golpe, o militar porto-alegrense, na condição de comandante das tropas do Exército na Região Sul, conclamou seus pares para aquilo que considerava a saída da crise institucional instaurada: o despertar para a luta patriótica; em outras palavras, Mourão escancarava o apoio militar ao golpe de estado. Quando questionado sobre a inconstitucional interferência opinativa na política, o general respondeu com outra colocação imprópria. “Luta patriótica é simplesmente não nos omitirmos”, explicou. Como represália, o já fragilizado governo Dilma promoveu-o para a Secretaria de Economia e Finanças

das forças armadas, posto no qual permaneceu até 2017. Durante o escandaloso golpe de 2016, o “ordeiro” militar manteve-se silente. Não veio a público apresentar qualquer objeção à incineração do voto de mais de 50 milhões de brasileiro em Dilma Rousseff. No ano seguinte, pressentindo que a fragilidade do governo golpista de Temer – deslocado do equilíbrio pela enorme rejeição popular – poderia arruinar os intentos golpistas. Desde lá, certo de que delinquia im-

punemente, Mourão tornou hábito a interferência militar na política e no judiciário, tendo, inclusive, ameaçado o judiciário para que este não libertasse o ex-presidente Lula. Mais do que Bolsonaro, peça chave nos planos da direita para controlar um eventual segundo turno das eleições presidenciais, Mourão é um perigo muito mais nítido. É a prova de que o crime compensa e de que a impunidade no Brasil do golpe leva ao poder os piores e mais perigosos psicopatas.


6 | NACIONAL

CANDIDATO DA OPUS DEI

Alckmin, o feminista? Tucano ataca Mourão por declaração sobre mulheres O

espantalho da vez, general Mourão, é o vice do espantalho-mor, Jair Bolsonaro. Mourão, um notório defensor da evolução do golpe em curso para um golpe militar, tem intensificado declarações de cunho cada vez mais fascistas depois do atentado sofrido por Bolsonaro. Em uma de suas últimas declarações, Mourão afirmou que crianças criadas por mães e avós, são “elementos desajustados” e que tendem a ingressar no tráfico. Como bom demagogo que é, o candidato da Opus Dei, Geraldo Alckmin, correu, como de outras vezes, a condenar a declaração de Mourão. Na tentativa de se apresentar como o candidato que defende as mulheres, declarou: “fiquei horrorizado com a declaração do general Mourão, vice do Bolsonaro, dizer que as crianças

criadas pelas mães e avós elas são desvirtuadas. Isso é uma ofensa às mães que criam seus filhos com dificuldade, com sacrifício, às vezes dois, três filhos, sozinhas. As avós que são verdadeiras heroínas. É lamentável esse tipo de coisa.” Como todo candidato direitista, o demagogo Alckimin, que governou o Estado de São Paulo por quase 16 anos, tenta encobrir, e nisso tem o absoluto apoio da imprensa golpista, a intensa perseguição que promoveu contra o ensino público, os alunos e os professores no Estado. Em uma categoria marcadamente com maioria de mulheres, além do arrocho salarial – o Estado de São Paulo responde por mais de 50% do PIB do país – suas administrações foram marcadas pela sistemática diminuição de salas de aulas, empoleirando

os alunos em autênticos “galinheiros” humanos. Como se não bastasse o fato de tratar a educação como lixo – característica de todo governo direitista – sua gestão ainda foi protagonista de uma perseguição contra todas as mobilizações e greves de trabalhadores, com agressões brutais contra as mulheres pela Polícia Militar de fazer corar o fascista Mourão. Finalmente, como sempre ocorre nas administrações capitalistas, Alck-

min é campeão nesse quesito, são dezenas de casos de corrupção, inclusive na própria merenda escolar. Bolsonaro, Mourão e Alckmin são faces de uma mesma política. A diferença é que os dois primeiros causam ojeriza em só vê-los abrir a boca. Já o segundo, procura se passar como o candidato aceitável, limpinho e cheiroso, mas que ao fim e ao cabo todos estão juntos para subjugar todo o povo brasileiro.

DIA DO PAGAMENTO

Serra comemora entrada de petrolífera dos EUA no mercado brasileiro O

ex-ministro das relações exteriores do governo golpista de Michela Temer e atual senador José Serra, em sua conta no Twitter, comemorou a volta da empresa de petróleo imperialista, a norte-americana ExxonMobil, na exploração do pré-sal. Serra faz parte do principal partido que liderou o golpe contra Dilma e é autor da lei, sancionada por Michel Temer após o golpe, que retira da Petrobrás o monopólio sobre a exploração do Pré-sal, abrindo as portas para os capitalistas estrangeiros lucrarem com os recursos nacionais. É preciso entender que a Exxon é uma das maiores empresas petrolíferas do mundo, e uma das que mais têm controle sobre o Estado norte-americano, que financiou, elaborou e

concretizou o golpe de estado no Brasil, por meio do impeachment da presidente Dilma Rousseff e a prisão política do ex-presidente Lula. Por isso, é muito claro que esta empresa detém diversos representantes na política brasileira. José Serra, com outros políticos e juízes ligados ao PSDB, é um deles. Em sua conta no twitter, Serra disse: “A Exxon, uma das gigantes do setor petroleiro no mundo, estava ausente do mercado brasileiro desde 2009, quando devolveu o promissor bloco BM-S-22, à época o único operado por uma empresa estrangeira.” A declaração do tucano foi rapidamente atacada pelos internautas. Um comentou ““O lucro da Petrobras ia para a Saúde e Educação. O lucro da Exxon vai pa-

ra onde?”. “Seu entreguista e corrupto ainda tem a cara de pau de fazer gracinha”, disse outro. Segundo a revista Forum, “em 2009, o site WikiLeaks vazou um documento do consulado americano no Rio de Janeiro de uma correspondência entre José Serra e executivos das petrolíferas norte-americanas Chevron e Exxon, onde ele assumia o compromisso de mudar as regras de exploração do pré-sal brasileiro para beneficiar empresas petrolíferas estrangeiras. Serra prometeu às empresas estrangeiras que a lei seria alterada caso os interesses destas empresas fossem atingidos pelo Congresso Nacional.” Por isso, Serra comemora a exploração do Pré-sal por seus empregadores. O pagamento deve ter chegado, e

José não conseguiu se segurar, publicando sua felicidade com a desgraça dos brasileiros em sua conta nas redes sociais. E assim rebateu um dos que comentaram sua postagem: “José Serra é corrupto notório e tem a cara de pau de se vangloriar pela entrega do pré sal. E nós brasileiros pagando 5 reais um litro de gasolina. Traidor do Brasil!”


MOVIMENTOS| 7

ATAQUES AOS TRABALHADORES

Cresce o clima de terror nas agências do Banco Itaú em Brasília O

s trabalhadores das agências do Banco Itaú, em Brasília, denunciam o aumento sistemático da pressão em relação à cobrança para atingir as metas de vendas de produtos bancários. Em uma das agências do Banco Itaú, localizada no entorno da Capital Federal, (pedem para que não identifiquem o local com medo da represália) os trabalhadores estão submetidos a todo o tipo de humilhações feitas pelos chefetes de plantão para que aumentem as vendas. “O assédio moral aqui corre solto” desabafa um funcionário, “uma hora pedem uma coisa, logo em seguida mudam tudo e pedem outra. Não tem nenhum tipo de regra; estão deixando a gente doido” conclui. Não é por acaso que uma grande quantidade de funcionários está desenvolvendo, além de doenças físicas como LER/DORT, doenças psíquicas,

síndrome do pânico, depressão, etc. Levantamento do Ministério Público do Trabalho revela que 30% de denúncias de assédio moral organizacional são em bancos, ou seja, três em cada dez casos no país inteiro. A política de assédio é uma regra tradicional no setor bancário, que é o mais parasita da sociedade. No atual processo de golpe de Estado no País, os banqueiros vêm a cada dia se sentido mais a vontade para implantar a política de aprofundar os ataques aos trabalhadores para satisfazer o seu apetite por lucros. Os trabalhadores e suas organizações não devem aceitar a política que aprofunda os ataques dos banqueiros e seus governos. Somente uma luta unitária dos trabalhadores bancários com demais trabalhadores pode barrar a ofensiva dos golpistas e o golpe.

RACISMO

ESPORTES

Protesto em frente ao Fórum em que advogada negra foi algemada denuncia o racismo no Judiciário

Brasileirão 2018 Série B – Luta feroz na parte de cima da tabela

N

a última segunda-feira (17) ocorreu um ato de desagravo em frente ao Fórum de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro – onde uma advogada negra, Valeria Lucia dos Santos, que também participou do ato, fora algemada, ilegalmente, em pleno exercício de sua função (entenda o caso). A manifestação reuniu dezenas de pessoas e organizações de defesa dos negros e das mulheres, um dos motes centrais do ato foi a denúncia do racismo, marca indelével deste poder tirânico no país. O ato contou com a presença do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Lamachia que afirmou: “Algemar uma advogada, dentro de uma sala de audiência, no exercício de sua profissão, é algo inaceitável, sob qualquer aspecto. O meu sentimento é que, naquele momento, a democracia brasileira foi algemada”. O Fórum manteve as portas fechadas enquanto realizava-se o protesto, o Judiciário do Estado afirmou que está averiguando o caso. É necessário denunciar as arbitrariedades e o caráter racista do judiciário brasileiro que age de maneira implacável na perseguição do povo negro, assim como é necessário compreender bem que esta instituição tal como existe hoje é uma engrenagem necessária e fundamental para que o Estado nacional – que é, em geral, o comitê que dirige os negócios da burguesia – possa subjugar um povo que constitui mais de 50% da população nacional. O Brasil é uma República federativa e um estado de direito (democracia), de acordo com a sua Constituição,

no entanto o poder Judiciário é uma verdadeira anomalia dentro regime político, já que é anti-republicano, seus membros não representam o povo e exercem o poder em nome de si próprios, uma corporação quase medieval. Confundem seus desejos e interesses com a lei, agem como se fossem escolhidos por Deus para exercer uma “justiça” totalmente independente do povo. É antidemocrático, seus membros não são eleitos e não são controlados pelo conjunto da cidadania. Ou seja, é uma poder cujo verdadeiro intento é o de cercear os direitos democráticos e republicanos para resguardar o caráter tirânico do regime, tão necessário à burguesia, sob a aparência de legalidade democrática. É justamente por esta “independência” total deste poder das massas populares que a burguesia pode organizar, principalmente por meio dele e das polícias, uma regime de terror contra a população negra no país, eliminando dela o acesso aos direitos democráticos que burguesia não pode estender a essa população. O judiciário não é racista por conta da mentalidade de seus membros, nem casos como este, da advogada, são manifestações isoladas fruto do racismo individual, mas uma manifestação do modus operandi desta instituição. O caso aberrante de uma advogada negra no exercício da advocacia ser presa por uma juíza branca de maneira totalmente arbitrária mostra, evidentemente, que o judiciário é inimigo do povo negro e existe tal como é hoje para persegui-lo.

T

á incendiada a luta na parte de cima da tabela pela garantia de uma das quatro vagas de acesso à divisão especial (série A) do campeonato nacional. A diferença que separa os quatro primeiros é de apenas 1 (um) ponto, depois da abertura da vigésima oitava rodada, que tem o Fortaleza na liderança com 47 pontos. A rodada foi aberta nesta terça-feira com a realização de dois jogos. O Atlético-GO enfrentou em casa o Juventude-RS e desperdiçou uma ótima oportunidade para encostar no líder. O “Dragão” foi derrotado diante de sua torcida pelo placar mínimo de 1 x 0 e permaneceu com 43 pontos, na quarta posição. Se tivesse vencido iria a 46 na pontuação, 1 (um) a menos do líder Fortaleza. Para o Juventude, a vitória trouxe um pequeno alívio, fazendo com que o time do sul subisse três pontos na tabela, ficando agora como o primeiro fora da zona de rebaixamento, na décima sexta posição.

Na outra partida de abertura da rodada o Londrina subiu para a oitava posição ao fazer bem o dever de casa, vencendo o Figueirense pelo placar de 2 x 0. O time da cidade paranaense roubou a vaga justamente do adversário, estando as duas equipes agora empatadas na pontuação, ambas com 39 pontos. Um dos gols da partida foi assinalado pelo veterano Dagoberto (ex-São Paulo). A rodada terá sequência a partir da sexta-feira, quando serão realizadas quatro partidas, com o complemento no sábado, onde mais quatro confrontos estarão sendo realizados. O líder Fortaleza tem compromisso em casa contra o Vila Nova-GO, que faz boa campanha e ocupa a quinta posição, com 43 pontos, lutando para não perder o contato com o pelotão dianteiro. Já o vice-líder CSA tem compromisso muito difícil contra o Guarani, em Campinas, pois o time do interior paulista segue na cola do pelotão de acesso. O “Bugre” ocupa a sétima posição com 41 pontos.


8| INTERNACIONAL

BREXIT

Governo May fracassa, jornais ingleses falam em novo referendo do Brexit O

governo de Theresa May está em uma profunda crise. A questão do Brexit é uma bomba relógio. A burguesia imperialista está tentando desviar das exigências da população de sair da União Européia. Ou o governo toma uma decisão clara sobre o assunto, ou ele cai. Para se safar da crise, é preciso resolvê-la. Ou seja, os conservadores (partido ao qual pertence May) precisam dar um jeito de solucionar essa questão. Trata-se, entretanto, de uma questão bastante complicada. A atual primeira-ministra inglesa já foi colocada no poder através de um processo não eleitoral, quando o primeiro-ministro conservador anterior, David Cameron, renunciou ao cargo. O problema é que colocar um novo governo não eleito pelo povo no poder, para os conservadores, é praticamente insustentável, já que o próprio governo

May só fez aumentar a crise deixada por Cameron. Desta forma, os conservadores estão em uma situação desconfortável, em que May pode ter de renunciar e

convocar novas eleições. O inconveniente, entretanto, é que Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista inglês, um político ligado à classe operária, aos sindicatos e aos grupos oprimidos da

sociedade, está ameaçando ganhar as eleições. Este Diário já havia denunciado que um cenário como este poderia levar a um golpe – possivelmente militar – na Inglaterra, pois sua vitória é quase certa. A campanha contra Corbyn é gigantesca na imprensa burguesa, o que revela o medo da burguesia com sua ascensão política em um dos principais países do imperialismo. A solução que os conservadores estão encontrando é passar por cima da vontade popular, que decidiu em 2016 pela saída da Inglaterra da União Européia (Brexit), e convocar um novo referendum sobre a questão. Quer dizer, para o imperialismo, a questão é colocada da seguinte forma: “se for à favor, colocamos em prática, se não for, damos um golpe na lei”. Isto é, atuam da mesma forma que o judiciário brasileiro atua, o que ficou claro com a questão Lula. De uma forma ou de outra, o governo conservador só verá sua própria crise se aprofundar, o que reflete a crise geral que existe no seio do imperialismo.

Assista o Jornal das 3, todos os dias na Causa Operária Tv: no site: causaoperariatv.com.br ou no youtube: causaoperariatv


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.