Edição Diário Causa Operária nº5482

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QUARTA-FEIRA, 5 DE DEZEMBRO DE 2018 • EDIÇÃO Nº 5481

DIÁRIO OPERÁRIO E SOCIALISTA DESDE 2003

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CONTROLADO PELOS GENERAIS, STF MANTÉM LULA PRESO POLÍTICO: MOBILIZAR OS TRABALHADORES PELA SUA LIBERTAÇÃO Composta por cinco ministros, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, na tarde desta terça-feira (4), o julgamento um novo pedido de liberdade apresentado pela defesa do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como o pedido de anulação dos processos relacionados ao ex-presidente conduzidos pelo então juiz federal Sérgio Moro, indicado como futuro ministro da Justiça do governo ilegítimo de Jair Bolsonaro.

Fora Bolsonaro: 11 fatos que demonstram que o governo é ilegítimo

EDITORIAL

SÓ O POVO NAS RUAS LIBERTA LULA: STF COMPROVA QUE NÃO SE PODE CONFIAR NAS INSTITUIÇÕES

Revolução e contrarrevolução na Alemanha

“Os grupos fascistas na Ucrânia são uma ferramenta perfeita para reprimir qualquer resistência popular”, diz jornalista ucraniano A segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) adiou o julgamento sobre a liberdade do ex-presidente Lula. Após dois votos favoráveis à manutenção ilegal do líder petista nas masmorras dos golpistas, em Curitiba, o ministro Gilmar Mendes pediu mais tempo para analisar o processo (vista) e adiou o julgamento, expressando uma crise existente no judiciário para levar adiante o processo de ataques aos trabalhadores.

“Primeiro-filho” vai aos EUA envergonhar o Brasil Recentemente, Eduardo Bolsonaro se achou no direito de ir aos Estados Unidos posar para fotos e dar entrevistas para jornais e televisão em nome do pai.

De onde surgiu a palavra fascismo? Essa e outras curiosidades na Universidade de Férias



OPINIÃO| 3 EDITORIAL

Só o povo nas ruas liberta Lula: STF comprova que não se pode confiar nas instituições

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segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) adiou o julgamento sobre a liberdade do ex-presidente Lula. Após dois votos favoráveis à manutenção ilegal do líder petista nas masmorras dos golpistas, em Curitiba, o ministro Gilmar Mendes pediu mais tempo para analisar o processo (vista) e adiou o julgamento, expressando uma crise existente no judiciário para levar adiante o processo de ataques aos trabalhadores. Entretanto, os votos de Carmen Lúcia e Edson Fachin (o relator) contra a liberdade de Lula se mantém com a volta da sessão que julga o caso. O fato em si, junto com todos os acontecimentos ocorridos desde o

início do processo golpista, demonstra que a população e os trabalhadores não devem depositar nenhuma esperança na justiça burguesa. A luta política já demonstrou que o judiciário é um pilar fundamental do golpe de estado. Os trabalhadores não obtiveram nenhuma vitória dentro dos moldes institucionais controlados pelos golpistas. O STF colaborou com a prisão arbitrária e totalmente ilegal do ex-presidente da república decretada por Sérgio Moro, futuro ministro da justiça de Bolsonaro. Inclusive, com a aceitação de Sérgio Moro ao cargo de ministro no governo do principal corrente ao PT nas eleições deixa ainda mais claro que Lula é um preso político. Se as coisas funcionassem dentro da lega-

lidade, não haveria dúvida: os ministros do STF seriam obrigados a libertar Lula. O julgamento iniciado na terça-feira (4) trata justamente sobre o pedido de liberdade do ex-presidente após o juiz Sérgio Moro, ainda responsável pela Lava-Jato, ter aceitado participar do governo fraudulento de Bolsonaro, que só foi vitorioso por conta da retirada de Lula das eleições, confessando a parcialidade que foi conduzido o processo que está mantendo Lula preso há 8 meses. A votação de Lucia e Fachin, que deve ser reproduzida pela maioria dos ministros do STF, deixa mais uma vez bem claro: o judiciário é golpista e um eixo central da política de ataques aos trabalhadores. E a si-

COLUNA

Revolução e contrarrevolução na Alemanha Por Rafael Dantas

T

exto essencial sobre o fascismo, o livro de Trótski é bibliografia indispensável para a Universidade de Férias do PCO que se realizará em janeiro próximo. Falaremos sobre o livro, portanto. Trata-se da reunião de artigos escritos por Trótski entre 1929 e 1933, isto é, nos anos que antecederam a ascensão de Hitler na Alemanha. Mais precisamente, sete artigos e dois folhetos consagrados aos principais problemas da luta contra o fascismo: a política da Internacional Comunista, a frente única dos stalinistas com os nazistas contra os social-democratas no “plebiscito vermelho”; o desenvolvimento do fascismo na Áustria, a polêmica sobre a frente única operária contra o nazi-fascismo que ocupa o centro da discussão em todo o período. Foi publicado no Brasil pela primeira vez no calor dos acontecimentos, com tradução e apresentação do trotskista Mário Pedrosa que escreveu, na sua apresentação, em janeiro de 1933: “Fiel aos ensinamentos dos seus grandes mestres, e continuando-os dialeticamente, Trótski opõe ao processo da contrarrevolução permanente o da revolução permanente. Nessa oposição, não há lugar para os sonhos senis de democracia e de liberalismo dos velhos enxaquecados e dos lacaios e caixeiros de fraque da social-democracia; a questão se decidirá como Marx a pôs em 1849 – ou pelo triunfo completo da contrarrevolução, ou então por uma nova revolução, vitoriosa”. Pedrosa explica nesta introdução o porquê do título – o mesmo dado à

obra de Engels de 1848: “trata do problema da revolução proletária alemã, posto em ordem do dia com uma extraordinária acuidade pelo irromper da crise de 1929 (…) Ambas [as obras] estudam as relações de classes da sociedade germânica em duas épocas decisivas da sua história. O livro de Trótski continua o do mestre numa etapa mais alta do desenvolvimento histórico”. Inserido na luta decisiva contra o fascismo, Trótski intervinha para que o Partido Comunista Alemão abandonasse sua política ultimatista e burocrática que impedia a unidade dos trabalhadores comunistas com os social-democratas em nome do combate ao “social-fascismo”, isto é, à própria social-democracia. “Os destinos da revolução alemã dependem apenas da conquista dos operários social-democratas. E só há um meio de realizar essa conquista, é pela política de frente única preconizada pela Oposição de Esquerda, de acordo com os ensinamentos de Lênin, e da qual este livro é um verdadeiro manual”, escreveu Pedrosa.

Um manual. A definição não poderia ser mais adequada. O livro é essencial para a formulação de uma política correta diante do fascismo dos dias de hoje. Traz caracterizações cruciais sobre este fenômeno, como a de que “a hora do regime fascista chega no momento em que os meios militares-policiais ‘normais’ da ditadura burguesa, com a sua capa parlamentar, se tornam insuficientes para manter a sociedade em equilíbrio”. É uma obra-prima de análise política, em que o método marxista permitiu ao autor tirar conclusões e traçar prognósticos cuja correção se verificou integralmente no curso dos acontecimentos da década de 1930. Essa curta resenha, parcial e incompleta, tem apenas o objetivo de despertar o interesse do leitor. A leitura do livro é insubstituível e indispensável para todo militante na luta contra a direita, o golpe de Estado e o fascismo no Brasil nos dias de hoje. Mais ainda se contarmos que, juntamente com este livro outros serão apresentados pelo companheiro Rui Costa Pimenta, é tarefa urgente conhecê-lo e estudá-lo.

tuação fica ainda mais óbvia quando percebe-se que os militares, que já se manifestaram publicamente sendo organizadores da prisão de Lula, controlam o STF por meio, consecutivamente, dos Generais Fernando Azevedo e Silva e Ajax Porto Pinheiro (“assessores” de Dias Toffoli). Por isso, a única solução para libertar Lula é a campanha constante nas ruas, mobilizando à partir dos comitês de luta contra o golpe. A classe operária precisa ativar seus métodos de luta e derrotar o regime golpista. Apenas uma mobilização de características revolucionárias será possível conquistar a libertação do principal líder político do Brasil, que é um chave para derrotar os golpistas e todos os seus ataques.


3| OPINIÃO E POLÊMICA

PIADA PRONTA

“Primeiro-filho” vai aos EUA envergonhar o Brasil R

ecentemente, Eduardo Bolsonaro se achou no direito de ir aos Estados Unidos posar para fotos e dar entrevistas para jornais e televisão em nome do pai. Só isso já seria vexame suficiente para qualquer democracia séria, independentemente do que ele disse ou fez diante das câmeras. É verdade que o filhinho do papai é deputado federal reeleito e poderia estar se autorrepresentando como idiota, o que ele faz muito bem. Mas não foi isso que ele fez. Não se tem notícia, na história do planeta, de nenhum filho de chefe de Estado (a ser empossado ainda, lembre-se) que tenha feito esse papel de “embaixador” informal, atropelando os serviços oficiais de diplomacia do seu país, a não ser, talvez, algum príncipe de monarquia absolutista do Oriente Médio ou filho e herdeiro de ditador africano ou caribenho. Eduzinho nos proporcionou um ridículo sem tamanho, em qualquer condição, mas principalmente se tivermos consciência de que o Brasil não mereceria ser visto como uma republiqueta: é uma nação de 220 milhões de habitantes, está entre os 10 maiores PIBs do planeta e tem o quarto maior território, só para resumir. Papai Bolsonaro é pau-mandado dos gringos e vai assumir o poder em consequência de um golpe de Estado em andamento, que apeou a legítima governante sem fundamentação constitucional e tirou da disputa eleitoral o potencial presidente eleito fraudulentamente, valendo-se do empenho e ambição política de um jagunço travestido de juiz, que, descaradamente, aceitou como recompensa um super ministério para controlar a “justiça” e todo o sistema policial repressor do Brasil. Se tudo isso não fosse avacalhação suficiente para uma comédia indecen-

CHARGE

te, o subserviente garotão Bolsonaro posou de boné com inscrição em apoio à reeleição de Trump em 2020 e disparou sandices para a imprensa de lá, ávida por exibi-lo como espécie exótica e pitoresca proveniente do remoto país tropical conquistado (com traição interna) e ocupado. Como ele não tem senso de ridículo e tem o apoio de gente de igual calibre, o Brasil inteiro acaba pagando o preço e passando vexame. Entre outras abobrinhas, o deputado declarou para os jornalistas gringos que seu pai vai, sim, transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, causando um alvoroço na diplomacia mundial, de graça, e, especialmente, iniciando um protesto e potencial boicote de todos os países árabes que importam produtos do Brasil, inclusive carne bovina e de frango do agronegócio dos golpistas apoiadores de seu pai e dele próprio, tamanho é o “talento” intelectual do menino. Para culminar seu périplo desengonçado, o primeiro-filho deu entrevista para a televisão. No telejornal da rede Fox, ele declarou de maneira robótica, como se tivesse lendo um texto no teleprompter ou em um cartaz que seu guia Steve Bannon escreveu (veja vídeo): “…o Brasil está mudando de um enorme socialismo para uma economia muito mais liberal. O que eu vim fazer aqui nos Estados Unidos é o primeiro passo para resgatar nossa credibilidade e mandar uma mensagem, uma mensagem clara, de que nós não seremos mais um país socialista e nós estamos entusiasmados em ficarmos realmente íntimos dos EUA”. O jornalista que ouviu tudo aquilo, cinicamente, deu “corda”, retrucando: “E eu sei que os americanos estão entusiasmados que vocês estejam caminhando nessa direção, porque a pros-

peridade acompanha uma economia capitalista forte. Tem pessoas que continuam falando sobre socialismo, mas não conseguimos encontrar um país socialista bem-sucedido no mapa”. Esse jornalista, Lou Dobbs, âncora do telejornal da rede de televisão de extrema-direita Fox, de propriedade do magnata Rudolph Murdoch, que também é dono do jornal Wall Street Journal, missário do sistema financeiro dos Estados Unidos e dos investidores da bolsa de valores de Nova York, é puxa-saco emérito de Donald Trump e já foi, ele próprio, cogitado como candidato à presidência daquele país pelo Partido Republicano. Dobbs trabalhou antes para a CNN, quando deu dor de cabeça a Obama, a mando de Trump, cobrando uma comprovação de seu nascimento em território dos EUA para que pudesse ser presidente pelo Partido Democrata. Depois de uma campanha que o acusava de ter nascido no Quênia, África, terra de seu pai, Barack Hussein Obama divulgou sua certidão de nascimento no Havaí. O episódio de perseguição causou um embaraço para a CNN, de direita, que pediu a Dobbs

para sair e procurar sua turma de extrema-direita. Se é possível algum tipo de consolo para nós brasileiros, existe esse aspecto de que a exibição de boçalidade de Eduardo Bolsonaro foi para consumo interno da extrema-direita. Nem nos Estados Unidos, os bem-pensantes, mesmo de direita, dão qualquer relevância à Fox, a Dobbs ou a Trump. Talvez seja um erro deles, pois os lunáticos seguem livres para falarem e fazerem besteiras que afetam a todos. O garoto exótico e o jornalista mostraram grande afinidade e dotados de ignorância equivalente. O “enorme socialismo” que existiu no Brasil foi quando? Qual será a definição do termo na cabeça dele? Seria presença forte do Estado na economia, empresas estatais, como eram os bancos, companhias telefônicas, siderurgia e mineração durante a ditadura militar? Seria a conquista de direitos trabalhistas que remontam a 1930? E a “prosperidade do capitalismo forte” defendido por Dobbs, seria representado pelo 1% da população dos EUA que acumulou a mesma riqueza que os 50% da base da pirâmide que estão dormindo acampados nas ruas ou em abrigos? Ou as seis pessoas no Brasil que têm a mesma quantidade de dinheiro que 110 milhões de pessoas (metade da população)? Nenhum dos dois têm a mais vaga noção do que seja socialismo e de que o capitalismo é um estágio para uma sociedade desenvolvida chegar ao socialismo, que está em curso hoje em várias nações prósperas do mundo, que já atingiram um nível de eleger chefes de estado que se declaram socialistas, como o vizinho Canadá, Portugal e Nova Zelândia. Não importa. Eles apenas jogaram para sua plateia interna de ignorantes, como uma religião. E nos matam de vergonha.

5 de Dezembro de 2012: morre o maior arquiteto do século XX, o brasileiro e comunista Oscar Niemeyer

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o dia 15 de dezembro de 1905 nasceu o arquiteto modernista, Oscar Niemeyer, figura de extrema importância no desenvolvimento da arquitetura moderna. Niemeyer é bastante conhecido por todos os projetos cívicos da cidade de Brasília, ou por sua colaboração na criação da sede da ONU. Oscar Niemeyer é carioca, estudou na Escola Nacional Belas Artes. O primeiro grande projeto de Niemeyer foi uma série de edifícios em Pampulha, um subúrbio planejado em Belo Horizonte. Esse trabalho chamou bastante atenção da crítica nacional e estrangeira durante os anos 40 e 50. No ano de 1956, o presidente da República, Juscelino Kubitschek convidou Niemeyer para a o seu maior projeto, a construção da cidade planejada de

Brasília, projetando assim o Congresso Nacional, os Palácio da Alvorada e do Planalto, a sede do STF e a catedral, todos antes de 1960. Devido à esse trabalho, Niemeyer foi nomeado diretor do Departamento de Arquitetura da Universidade de Brasília. Niemeyer deixou o País após o golpe militar de 1964, devido à sua militância comunista no PCB, abriu um escritório em Paris, e só retornou em 1985. Já foi amigo pessoal de várias figuras revolucionárias como Luiz Carlos Prestes e Fidel Castro e sempre deu um apoio incondicional ao movimento comunista. Niemeyer continuou trabalhando até o dia de sua morte, em 5 de dezembro de 2012. Hoje completamos seis anos sem Niemeyer, o maior arquiteto que o Brasil já teve.


ATIVIDADES DO PCO E COMITÊS | 3

CURSO DE FORMAÇÃO MARXISTA

De onde surgiu a palavra fascismo? Essa e outras curiosidades na Universidade de Férias

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e há atualmente um termo em voga nas discussões políticas, esta palavra é: fascismo. Sabe-se que o termo surgiu na Itália. Mas seriam todas as ditaduras contrarrevolucionárias fascistas? Seria então a ditadura espanhola de Primo de Rivera (1923–1930) uma ditadura fascista? Seriam também fascistas as ditaduras de Franco (1939–1975), Pinochet (1973–1990) e de Jorge Rafael Videla (1976–1981)? Na Itália, o emblema do partido nacional fascista era o fascio littori. Da palavra italiana Fascio, referente a um feixe de varetas em torno de uma estaca que sustenta uma machadinha – símbolo do poder que desde o império Romano fez parte das armas dos soldados de escolta das autoridades, chamado de lictor. Sendo o número de lictos, condizente ao referido posto. Não por acaso, as formações paramilitares engendradas na Itália logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, e que levaram Mussolini ao poder se chamaram fascio di combatimento, ou “feixes de combate”. Foram essas milícias paramilitares compostas por quarenta mil “camisas negras” (pois, assim trajavam-se) que, em

1922, marchando sob o lema “crer, obedecer, combater”, cercaram Roma, e – através de um golpe – nomearam Mussolini como chefe de Estado. Naquele momento, mesmo financiado por grandes capitalistas, o movimento do fascismo foi espontâneo de amplas massas, revelando novos líderes de base. Nesse ínterim, Mussolini surge como o dirigente mais destacado deste movimento; amparado pela pequena-burguesia, do lumpemproletariado e, até certo ponto, da massa proletária. O comunista italiano Ercoli (que dirigiu o partido comunista italiano após a morte de Grasmsci) acertadamente traduz o fascismo da seguinte forma: “a essência e a função do fascismo consistem em abolir completamente as organizações operárias e em impedir o seu restabelecimento”. O fascismo surge da bancarrota da democracia, donde as classes dominantes já não retiram do seu incipiente caldo, as bases de sua sustentação. A crise do capitalismo vem desde a década de 1970 acumulando nuvens tempestuosas que – ao fim e ao cabo – recaem sobre a cabeça da classe

trabalhadora. Se em períodos de calmaria as ondas não viram o barco, na tempestade, os pesqueiros se lançam em profundidade. Assim como as leis físicas têm seus fundamentos, o materialismo histórico nos permite analisar os movimentos sociais. Enquanto a pequena-burguesia integra a base genuína do fascismo, a social-democracia se ampara na classe operária. Diante da

crise atual, portanto, do esgotamento da via social-democrata, torna-se tarefa candente dos movimentos de esquerda a luta contra a extrema-direita. Quer uma formação completa acerca das origens do fascismo e de suas versões históricas? Participe da 43.ª Universidade de Férias e tire todas as suas dúvidas vivenciando uma experiência única, socialista.

A nossa luta é para ser comemorada! Todos bem-vindos ao reveillon do PCO em Minas Gerais! A

partir deste ano, também em Belo Horizonte vamos ter a já tradicional festa de reveillon do Partido da Causa Operária, famosa em São Paulo e Brasília pela mesa farta, organização caprichada e toda a conhecida dedicação de sua militância em sempre buscar proporcionar o melhor para todos os companheiros de luta. E se temos algo a comemorar juntos, é justamente isso: a força de nossa luta! 2018 foi mais um ano marcado pela luta do povo contra seus opressores, quando nem os diversos golpes com que a burguesia buscou atacar as massas foi suficiente para gerar abatimento ou abandono da luta. Muito ao contrário, a intensificação da luta de classes está produzindo um contínuo amadurecimento da militância e do povo em geral, que cada vez mais reconhece a importância e a necessidade de organizar uma política de fato revolucionária e operária, mobilizando um número cada vez maior de companheiros sem medo de enfrentar o golpe e o fascismo que ele alimenta. Por isso, este ano muitas pessoas que nunca militaram procuraram o PCO e os diversos comitês que lutam contra o golpe, diante da lucidez política recém adquirida segundo a qual

não podemos mais ser simples instrumentos passivos nas mãos da burguesia, reféns de todo tipo de manipulação, mas, ao contrário, temos que nos organizar, e de forma totalmente independente desta mesma burguesia e do estado burguês, para construirmos juntos a defesa concreta e efetiva dos interesses populares. E este foi o motor do grande crescimento do Partido da Causa Operária em Belo Horizonte e em Minas Gerais, com novas células sendo organizadas, muitos companheiros se aproximando, um expressivo crescimento do número de filiados, e um conjunto cada vez mais expressivo de simpatizantes que a cada dia se aproxima mais do partido. Com a força coletiva de todos estes companheiros de luta, a política revolucionária mineira teve presença marcante em todos os grandes atos da luta contra o golpe, impulsionando a resistência à prisão política de Lula, lutando por sua candidatura à presidência, denunciando duramente a fraude nas eleições, e, agora, impulsionando o Fora Bolsonaro que deixa clara a completa ausência de base popular desse fascistóide. Foi marcante a presença mineira na 1a. Conferência de Luta Contra o Golpe, onde toda a garra militante dos companheiros dos comitês de luta e

de movimentos sociais de Belo Horizonte, ajudaram a impulsionar a firme decisão em não arredar pé da candidatura de Lula e ir para Brasília mostrar aos golpistas do TSE que se eles levassem a frente as manobras para impedir o registro dessa candidatura, as consequências seriam violentas e inevitáveis. E de fato, a importância do ato de Brasília, no dia 15 de agosto, onde o PCO se colocou claramente entre as principais forças políticas presentes, foi o de mostrar como se faz para vencer o golpe: povo na rua, mobilizado não só como um lobby dócil, à reboque do poder burguês, mas de forma revolucionária, mostrando claramente a força invencível da luta popular quando age de forma independente e organizada. As ações deste ano mostraram também que na guerra de classes, muitas vezes a vitória é mais a disposição para a luta e a ausência de capitulação às pressões da direita, do que eventualmente ganhar uma batalha pontual. E isto porque é na luta que o movimento operário se organiza, e foi exatamente este o motivo de o PCO em Minas conseguir dar um salto em sua organização, que se comprova principalmente pela grande vitória que representa a abertura da sede pública

do partido, em local tradicional de encontro da militância de esquerda de Belo Horizonte, no edifício Maletta. E o PCO abriu sua sede em BH sem mudar uma vírgula da tradição de total independência econômica e política do verdadeiro movimento revolucionário operário. Foi feito exatamente como os vitoriosos bolcheviques, sem depender de verbas sindicais, estatais ou qualquer outra fonte de recursos que não aquela obtida pela contínua campanha financeira entre os companheiros conscientes de luta e pela venda militante de materiais de estudo e de divulgação de nossa política. Por tudo isso é que temos muito a comemorar neste reveillon entre os companheiros de Minas Gerais, e vamos fazer também seguindo o mais tradicional estilo bolchevique, com roupas sociais, uma sede caprichosamente preparada, a melhor comida e bebida, espaço aberto para uma confraternização de toda a esquerda de luta, com tudo do bom e do melhor, porque todos nós merecemos, e muito! Por tudo isto, a militância do PCO de Belo Horizonte tem a alegria de convidar a todos os companheiros de luta, para o reveillon do Partido da Causa Operária, em nossa sede pública, no Maletta!


4| ENTREVISTA INTERNACIONAL

UCRÂNIA

“Os grupos fascistas na Ucrânia são uma ferramenta perfeita para reprimir qualquer resistência popular”, diz jornalista ucraniano N

a Ucrânia, um governo de extrema-direita surgido de um golpe de Estado promovido pelo imperialismo acaba de instaurar uma semiditadura militar. No dia 26 de novembro, o presidente Petro Poroshenko decretou lei marcial por 30 dias. A lei vigora em dez regiões do país, dentre elas Donetsk e Lugansk, regiões que declararam independência em 2014 e formaram a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk. O regime de Kiev não reconhece a separação e está em guerra civil contra os rebeldes. O pretexto para a lei marcial foi a captura de três navios de guerra ucranianos por parte da Rússia no dia anterior da decretação da lei. Os barcos cruzavam o estreito de Kerch, saindo do Mar Negro para entrar no Mar de Azov, mas o estreito é controlado pelos russos, que avisaram as embarcações para não passarem pelo local, sendo ignorados e terminando por abrirem fogo e apreender os veículos e a tripulação. A Rússia considerou o ato como uma provocação da Ucrânia, país com o qual vive uma tensa relação, e com apoio do imperialismo. O caso gerou uma forte crise política entre os dois países e levou à instauração da lei marcial na Ucrânia. Para explicar o que ocorre na região e seu contexto, o Diário Causa Operária Online conversou com o jornalista ucraniano Oleg Yasinsky. Ele falou sobre o golpe de 2014, o crescimento do movimento fascista na Ucrânia, o regime de extrema-direita impulsionado pelo imperialismo e seu conflito com as repúblicas independentistas do Donbass e com a Rússia. O que é a lei marcial e quais estão sendo seus efeitos práticos até o momento?

Do ponto de vista legal, a lei marcial na Ucrânia que entrou em vigor em dez regiões fronteiriças do país pode significar o seguinte: restrições aos direitos e liberdades constitucionais da população, confisco de propriedades comunitárias e privadas “para as necessidades do Estado”, aplicação do toque de recolher, implementação de um “dever de trabalho”, que obriga civis a se incorporarem para trabalhar nas forças armadas, introdução de postos de controle militares e restrições sobre a transferência de informação nas redes sociais. A maioria desses pontos não tem caráter obrigatório e, mais que uma realidade, são uma possibilidade. Segundo informação que nos chega, o caótico e improvisado governo do presidente Petro Poroshenko não se atreve a reprimir a população com todas as faculdades que a lei lhe permite, já que o nível de apoio de seu governo é mínimo, sobretudo nas regiões onde foi imposta a lei marcial. Até agora, trata-se mais do que nada de uma base legal para justificar uma futura destruição do que restou da democracia ucraniana.

A repressão do governo não é uma novidade… O que tem acontecido desde o golpe de Estado de 2014, como o governo tem tratado os movimentos sociais e os partidos opositores, especialmente os de esquerda? Também há uma perseguição aos falantes de russo e à imprensa russa? Diferentemente de uma grande parte dos países da América Latina, no momento do golpe de Estado na Ucrânia, assim como no resto das ex-repúblicas soviéticas, nesses territórios já não existia praticamente nenhum movimento social de esquerda capaz de enfrentar o avanço da extrema-direita. Os partidos pós-soviéticos que costumam se autodenominar de esquerda – como o comunista ou o socialista – nunca foram uma esquerda real e, para além de seu discurso meio nostálgico e meio progressista, nunca se desfizeram de sua cômoda e tranquila cota dentro do poder capitalista. Um par de décadas de uma hábil e descarada propaganda anticomunista nos principais veículos de imprensa “democráticos” da ex-URSS semeou entre as novas gerações um repúdio geral contra as ideias de esquerda e cultivaram uma fé cega no capitalismo como sinônimo de progresso econômico e liberdades pessoais. O novo regime ucraniano – de longe o mais direitista em toda a Europa – desde suas primeiras no poder, reprimiu e amedrontou os fracos e divididos grupelhos de esquerda, embora estes jamais tenham chegado a ser uma referência, e, ao melhor estilo Bolsonaro, ilegalizou a propaganda e a simbologia comunista, tentando estabelecer dentro do imagi-

nário das massas uma falsa igualdade entre o comunismo e o fascismo… usando o velho truque da comparação entre Hitler e Stalin. Sobre a perseguição aos falantes de russo e à imprensa russa, o tema é mais complexo. Apesar de muitas afirmações da propaganda oficial russa, o principal conflito na Ucrânia não é entre o idioma russo e o ucraniano ou entre os ucranianos e os russos, mas entre duas visões da história, que, simplificando, poderíamos definir como uma orientação “pró-russa” no oriente do país, historicamente de fala russa, industrializado e culturalmente mais “soviético”, e uma orientação “pró-europeia” no ocidente, mais agrícola, nacionalista e mais distante da Rússia idiomática e mentalmente. As novas autoridades da Ucrânia, país diverso, multicultural e riquíssimo em suas culturas e paisagens, incentivaram e conseguiram separar essas regiões, gerando uma guerra civil a qual preferem apresentar como conflito com a Rússia, algo totalmente falso. Com isso, é preciso ter em conta que a maioria dos ucranianos têm como seu idioma natal o russo e os russos étnicos da parte ocidental do país sempre falaram ucraniano. Apesar da imposição do idioma ucraniano nas regiões de uma maioria de fala russa, a linha divisória na Ucrânia não existe pelos idiomas, mas pelas ideias políticas. Muitos ucranianos de fala russa apoiam o atual governo de Kiev a acusam a Rússia de Putin de promover a guerra. E dizer que os russofalantes na Ucrânia são perseguidos por falar russo seria uma mentira. Sobre a imprensa russa na Ucrânia, há um claro filtro ideológico. Há anos existe uma

censura oficial da imprensa estatal russa e como o governo ucraniano considera a Rússia um país inimigo, toda a imprensa oficial russa tem sérios problemas. Por outro lado, a imprensa russa opositora tem luz verde e, como é lógico, é tratada pelas autoridades ucranianas como amiga e aliada. Tudo isso está relacionado com o aumento exponencial das atividades de grupos fascistas desde o chamado “Maidan” (golpe de 2014). Qual é a relevância e o poder desses grupos? Há um perigo de tomarem o poder do Estado? Parece que há inclusive grupos paramilitares e o temido Batalhão Azov, que recebeu apoio dos Estados Unidos e agora faz parte da Guarda Nacional da Ucrânia. O atual governo da Ucrânia pôde chegar ao poder graças a dois grupos de choque da extrema-direita, o Partido Svoboda (Liberdade) e o Pravyi Sektor (Setor de Direita). Tendo uma representação mínima na sociedade e um apoio eleitoral insignificante, esses movimentos nazistas parecem ser forças melhor organizadas e estruturadas do país, ideologicamente muito claros e com suficiente força militar para amedrontar até certos círculos do poder que de vez em quando se incomodam um pouco com tanta proximidade que têm com eles. Seguramente eles têm simpatizantes entre os altos comandos militares e nos serviços de segurança. A tendência na relação entre o estado e os grupos paramilitares da extrema-direita é a de sempre. Me refiro ao que se viveu em El Salvador e Guatemala na década de 1980 e o que


POLÍTICA | 5 segue na Colômbia e no México hoje. São uma ferramenta perfeita para reprimir qualquer resistência ou descontentamento popular: os sequestros e assassinatos podem ser atribuídos ao “crime organizado”, o estado lava as mãos, oficialmente lamenta e até põe flores no túmulo da vítima. Com o futuro presidente do Brasil, é capaz que peçam assessoria a seus veteranos dos esquadrões da morte. Eles ainda têm muito a aprender. E o papel dos EUA nessas delicadas situações costuma ser de uma hipocrisia infinita… se aqui, na América Latina, sabemos muito de alguma coisa, é disso… Então há milícias fascistas na Ucrânia? Como atuam? Atacam os sindicatos? Existem vários grupos de choque sob diferentes nomes. Alguns se denominam os “dobrobat” (Batalhões do Bem), outros que são chamados na imprensa pelo eufemismo “grupos de radicais” costumam atacar pessoas solitárias, normalmente indefesas, sempre desarmadas. Suas vítimas frequentemente são sindicalistas, ativistas de esquerda, jornalistas, pacifistas, veteranos de guerra que participam de atividades comemorativas antifascistas, e, como do costume dos nazistas, atacam imigrantes, ciganos, gays e outros que não se encaixam em sua “norma”. Destroem monumentos aos personagens históricos, revolucionários e antifascistas, profanam seus túmulos, atacam os meios de comunicação que não gostam, assim como os tribunais de justiça e a embaixada e consulados russos. A polícia normalmente não intervém. E quando intervém, como aconteceu há seis meses em Dnepr quando defendeu uma celebração popular da vitória sobre a Alemanha nazista, logo termina com os delinquentes absolvidos e policiais punidos e demitidos. Sendo hoje grupos bastante reduzidos, hoje se comportam como os donos das ruas. O que está acontecendo no Donbass? Nos últimos meses se falou que o conflito pode voltar a escalar e o exército pode fazer uma nova ofensiva. No Donbass se vive uma realidade paralela. As repúblicas independentistas apoiadas mas não reconhecidas por Moscou são uma peça a mais no jogo geopolítico entre EUA e Rússia, onde o capitalismo multinacional se apoderou do território ucraniano, pela primeira vez posicionando-se na fronteira russa a fim de desestabilizar seu governo e se apoderar de seus enormes recursos naturais. E o capitalismo nacional russo – inimigo mais fraco – tenta defender como pode seus sempre santos interesses. Mas creio que há uma clara diferença. Se para o governo ucraniano – um governo claramente colonial e profundamente antissocial – uma permanente guerra em seu território é o principal álibi e desculpa para justificar sua desastrosa política interna baseada na repressão e saque, para o governo da Rússia é uma fonte de instabilidade e perigo que ameaça

seus interesses. Sobre o futuro dessa situação já se disse e se dirá muita coisa, mas tenho a impressão de que o ambiente se manterá tenso e ninguém sabe o que poderia acontecer. Enquanto esse governo ucraniano se mantiver no poder, essa guerra não vai terminar. Em sua opinião, o movimento separatista do Donbass é legítimo? Creio que o próprio conceito de “separatista” é parte de uma manipulação midiática. Os verdadeiros separatistas que dividiram a Ucrânia são suas autoridades que mandaram tanques e aviões de guerra ao Donbass para impor sua versão da história e futuro. Nesse sentido, creio que a resistência no Donbass é justa e legítima. Você acredita que os EUA, União Europeia e OTAN estão utilizando a Ucrânia para ameaçar a Rússia? Estou seguro de que o governo dos EUA, através dos instrumentos militares da OTAN e chantageando a União Europeia politicamente, tentam controlar os recursos naturais da Rússia. Não estão fazendo outra coisa senão o que costumam fazer em todo o mundo. A Ucrânia recebeu uma dupla missão: a de ser um laboratório para experimentar os métodos de desestabilização da Rússia (embora muitos ucranianos e russos digam que não, ou talvez se sintam ofendidos, as diferenças mentais e culturais entre os dois povos são mínimas e mais imaginárias do que reais) e a de ser a plataforma para desestabilizar e provocar a Rússia na mais vulnerável de suas fronteiras, a poucas centenas de quilômetros de suas principais cidades. Está claro que o objetivo da pressão ocidental não é o governo do senhor Putin, mas os recursos da Rússia e uma possível aliança estratégica entre Moscou, Berlim e Pequim que derrocaria do topo do poder mundial o decadente império dos EUA. A Ucrânia nesse caso não é mais que um tabuleiro de xadrez geopolítico. O que você espera das eleições do próximo ano? Poroshenko não tem nem 10% de aprovação. Hoje não conheço nenhuma força social decente nem interessante capaz de retirar o poder da atual administração colonial. Para salvar a Ucrânia se necessita de um potente movimento de baixo com uma orientação anticapitalista, capaz de apresentar um novo projeto político e cultural. Lamentavelmente, nem na Ucrânia, nem nos outros lugares do território que antes se chamava União Soviética, não se vê nada parecido. Segue a luta entre as sombras do passado, onde algumas se veem tão monstruosas, que outras ao lado delas parecem ser progressistas. Mas creio que não é mais do que um jogo de sombras. O futuro ainda não chega. Pensando nas eleições, quero repetir a velha frase argentina, “Que se vayan todos”. E, se quer uma resposta honesta, direi que não espero nada. Pelo menos, ainda não.

Fora Bolsonaro


8| POLÍTICA

CONTROLADO PELOS GENERAIS, STF MANTÉM LULA PRESO POLÍTICO

Mobilizar os trabalhadores pela sua libertação C

omposta por cinco ministros, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, na tarde desta terça-feira (4), o julgamento um novo pedido de liberdade apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bem como o pedido de anulação dos processos relacionados ao ex-presidente conduzidos pelo então juiz federal Sérgio Moro, indicado como futuro ministro da Justiça do governo ilegítimo de Jair Bolsonaro. O julgamento foi suspenso pouco antes das 18h, quando dois dos ministros mais reacionários do STF e claramente mais identificados com a ala pró-imperialista daquela Corte, Edson Fachin (relator) e Cármen Lúcia terem votado contra a concessão de liberdade a Lula e contra a anulação dos processos relacionados a Lula nos quais Sérgio Moro atuou como juiz federal. Mudança recente na composição da segunda turma, com a substituição do ministro Dias Tofolli por Cármen Lúcia, por conta da troca na presidência do STF, teria garantido uma maioria tranquila contra Lula, segundo analistas da maioria dos monopólios golpistas das comunicações. A suspensão do julgamento ocorreu por conta do pedido de Gilmar Mendes no momento do seu voto. Além do seu voto, faltam ainda os de Ricardo Lewandowski e Celso de Mello para a conclusão do julgamento, sem data prevista para acontecer. A defesa de Lula – preso há cerca de oito meses – baseou seu pedido no fato de que Sérgio Moro, ainda atuando como juiz responsável pela Lava Jato, aceitou publicamente convite de Bolsonaro para compor seu ministério, depois de ter sido o principal responsável pela condenação sem provas do ex-presidente, pela manutenção ilegal de sua prisão política e pela intensa campanha contra Lula e o PT, por exemplo, “vazando” a delação do ex-ministro Antônio Pallocci, na semana que antecedeu o primeiro turno da fraudulenta eleição presidencial. Corretamente a defesa liderada pelo advogado Cristiano Zanin, denunciou que a aceitação do convite comprova parcialidade de Moro na condenação do ex-presidente, alegando que a culpa de Lula estava “pré-definida” e que Lula não teve direito a um julgamento

“justo”, como estabelecido na Lei e nos tratados internacionais que o Brasil é signatário. Zanin indagou, “esse magistrado deu à sociedade garantias de que estava sendo imparcial? A resposta me parece negativa” e acrescentou, “tanto é que a sociedade, veículos de comunicação, lançaram pelo menos duas capas como adversários num ringue de boxe. Essa percepção é o que mostra que não se pode cogitar de imparcialidade”. Ele lembrou ainda que Lula foi submetido a um “espetáculo” durante condução coercitiva “desnecessária”, determinada pelo então juiz Sergio Moro, e que seus familiares tiveram dados sigilosos divulgados. O advogado de Lula defendeu ainda que Lula “foi julgado por alguém que, ao longo do tempo, mostrou ter convicção de que a culpa era pré-estabelecida e estava pré-definida”. Segundo o defensor, cada decisão mostra, “de forma clara”, que Lula jamais teve a hipótese de ser absolvido por Moro. Adiamento negado Antes de iniciada a votação do pedido da defesa, no início da sessão, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, pediu o adiamento do julgamento argumentando que a defesa apresentou um novo habeas corpus ao Supremo. Mostrando a decisão de negar qual-

quer pedido da defesa, o ministro-relator Edson Fachin encaminhou contra e se formou uma maioria de três votos a dois, contra o adiamento. Pelo mesmo placar, os ministros também negaram o envio dos dois pedidos para o plenário do STF, como proposto pelo ministro Gilmar Mendes. Votando pelo adiamento, o ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a possibilidade de examinar uma suspeição de um juiz por meio de um habeas corpus era uma “questão complexa que está sendo apreciada pela primeira vez pelo STF” e defendeu que o caso fosse levado a plenário, o que foi desconsiderado pela ala mais direitista da segunda turma. A procuradora-geral escolhida pelo governo golpista de Temer, Raquel Dodge, atacou a defesa acusando-a de “ilações frágeis” contra Sérgio Moro e alegando ao colocar o trabalho de Moro sob suspeição, a defesa tenta atingir todo o Poder Judiciário e defendeu todo o processo arbitrário contra o ex-presidente, alegando que “tanto a condenação, quanto a prisão provisória e a inelegibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (…), apresentam-se como elemento objetivo robusto a demonstrar que ele não é um perseguido político, mas, sim, um cidadão que está sendo, justamente, repreendido pelo Estado, em razão dos crimes que praticou”.

Liberdade para Lula, só se conquista nas ruas Os fatos ocorridos na segunda turma, confirmam o caráter político, golpista e reacionário de todas as decisões tomadas contra Lula e demais presos políticos do regime golpista que nada têm a ver com a Lei e com os fatos. Da primeira instância que conduziu e conduz a criminosa operação lava-jato, inclusive com novos processos criados nas últimas semanas, para incriminar Lula, Dilma e outros dirigentes do PT e até condenar o partido como se fosse uma “organizada criminosa”, à cúpula do judiciário este se encontra totalmente sob o controle dos setores que comandam – de fato – o regime golpista, como é o caso dos militares que passaram a ocupar uma assessoria especial da presidência do STF, depois de terem ameaçado em mais de uma oportunidade com intervenção militar caso o judiciário tome qualquer decisão que possa significar a liberdade de Lula ou a garantia de qualquer de sus direitos fundamentais. Sob a tutela dos militares e dos verdadeiros donos do golpe, como o imperialismo norte-americano, o judiciário é um túmulo para qualquer pleito da defesa de Lula. Nessas condições, sua liberdade só pode ser conquistada por meio de uma ampla mobilização popular. É nas ruas que se pode mudar a situação contra o judiciário e todo o regime golpista. Essa perspectiva foi paralisada por conta da polícia dos setores mais capitulares e conciliadores da esquerda que procuraram difundir a ilusão de que a situação poderia ser revertida nas eleições fraudulentas, sem a presença de Lula, que o judiciário endossou. Esses mesmos setores, agora, desejam “sucesso” para Bolsonaro e buscam um entendimento com setores da “oposição” golpista que apoiaram o golpe que derrubou a presidenta Dilma, bem como a condenação e prisão de Lula. É preciso debater nas organizações populares, nos comitês de Luta contra o golpe, pela liberdade de Lula etc. a superação dessa política e apontar no sentido claro da mobilização, retomando iniciativas fundamentais como a realização do Congresso do Povo, a mobilização nas ruas etc. pela liberdade de Lula e de todos os presos políticos e por Fora Bolsonaro e todos os golpistas.


POLÍTICA | 9

FORA BOLSONARO

11 fatos que demonstram que o governo é ilegítimo E

m meio a um golpe de estado, não era de se esperar que as eleições fossem realizadas dentro da legalidade. As eleições que colocaram Bolsonaro no poder foram com certeza as mais arbitrárias que ocorreram nos últimos anos. Por isso, fizemos uma lista (que poderia se estender ainda mais) de alguns fatos que comprovam que a eleição de Bolsonaro é um fraude e, portanto, o governo é ilegítimo. 1. LULA FOI EXCLUÍDO DO PROCESSO Desde 2016, os golpistas deixaram claro que um elemento essencial para o sucesso do golpe já em curso seria a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva. A manobra foi escancarada quando Sérgio Moro, o Mussolini de Maringá, divulgou na imprensa golpista uma gravação ilegal entre a presidente da República Dilma Rousseff e Lula. Menos de duas semanas depois do episódio, Moro – o Mazzaropi da Odebrecht – ordenou o encarceramento provisório ou “condução coercitiva” de Lula em São Paulo. Desde então, o PCO iniciou a agitação em torno da palavra de ordem de Não à prisão de Lula, tendo sido capaz de impedir a prisão de Lula durante dois depoimentos em Curitiba ao longo de 2017. Com a ordem de prisão do ex-presidente em março deste ano, o próprio Lula cederia à pressão e se entregaria à Polícia Federal, crédulo no PT jurídico que o convencera de que sua libertação por meio de um habeas corpus não tardaria mais que 10 dias. Lula não apenas permaneceria trancafiado desde então numa masmorra em Curitiba, como seria impedido de dar entrevistas. Em 15 de agosto, 50 mil pessoas estariam presentes no ato de registro da candidatura de Lula à presidência da República. O ex-presidente liderava as pesquisas com folga, e uma possível vitória no primeiro turno. Em 31 de agosto, porém, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declararia Lula inelegível, induzindo o Partido dos Trabalhadores a lançar a candidatura de Fernando Haddad em seu lugar. Com a exclusão de Lula das eleições e sua exclusão do jogo político, os golpistas haviam atingido seu objetivo: não apenas retiraram de cena a maior liderança popular do país como também abriram as portas do arbítrio para a perseguição, criminalização e encarceramento das organizações e lideranças de esquerda – a começar do próprio PT. Com a nomeação de ninguém menos que Sérgio Moro para o Ministério da Justiça de Jair Bolsonaro, ficou demonstrada cabalmente a parcialidade política do Mazzaropi da Odebrecht, bem como da operação Lava Jato e suas congêneres. Moro, um limitado juiz de província, foi treinado pelo governo norte-americano para levar a cabo a perseguição a Lula e para enfraquecer sobretudo os ramos econômicos da exploração petrolífera e da construção civil pesada, em que o Bra-

sil vinha se destacando no mercado internacional. Cumprida sua missão, foi levado pelos golpistas ao poder. A cada ato administrativo dos golpistas, fica comprovado mais um dos inúmeros crimes de lesa-pátria do Mussolini de Maringá. Somente com a derrota de Bolsonaro e de todos os golpistas é possível desmontar a quadrilha entreguista que se instalou na Polícia Federal, no Ministério Público e no Judiciário sob o comando do imperialismo. A base das eleições presidenciais conduzidas pelos golpistas, portanto, foi a prisão de Lula, e isso demonstra seu caráter fraudulento. 2. BOLSONARO TEVE SOMENTE 39% DOS VOTOS Como se sabe, as eleições em dois turnos no Brasil são destinadas a fazer prevalecer não apenas “o menos pior” para o povo – quando são colocados candidatos espantalhos – mas também “a maior das minorias”, uma vez vence o pleito a chapa que tem a maioria absoluta dos votos válidos. O processo eleitoral de 2018 amplificou tal distorção, uma vez que o índice de abstenção foi de 20,3% no primeiro turno – o maior desde 1998 – e de 21,3% no segundo turno. Além disso, o número de votos inválidos – brancos e nulos – chegou a 9,6%: o maior desde o fim da ditadura militar. Se contados todos os votos potenciais, o percentual daqueles que votaram em Bolsonaro é de apenas 39% dos eleitores – pouco mais de um terço – isso se desconsideramos todos os demais elementos de fraude que influíram mesmo nesse resultado. 3. LULA FOI PROIBIDO DE DAR ENTREVISTAS A Justiça Federal do Paraná parece ter somente direitistas em seus quadros – e não por acaso o ex-presidente foi trancafiado nas masmorras curitibanas. Todos os juízes envolvidos no caso de Lula são unânimes em decisões arbitrárias e próprias de um estado de exceção. Tal é o caso de Carolina Lebbos – juíza encarregada de sua custódia – que reiteradas vezes proibiu-o de conceder entrevistas – algo inédito até mesmo para presos comuns. Em suas sentenças, abundaram absurdos jurídicos, como a presunção de inelegibilidade antes menos que tal condição fosse julgada. Numa sentença em 11 de julho, por exemplo, a magistrada declarou que a situação do candidato Lula “se identifica com o status de inelegível”. 4. O NOME DE LULA E SUA IMAGEM FORAM CENSURADOS Com a adoção da candidatura de Haddad, o Partido dos Trabalhadores buscou associar a imagem de Lula ao “candidato do plano B”, de modo a intensificar a transferência de votos. Slogans como “Haddad é Lula e Lula é Haddad” foram multiplicados na cam-

panha, até mesmo como uma forma de aproveitar o material de propaganda já confeccionado antes da retirada de Lula da disputa. De modo a impedir ao máximo essa associação, o TSE determinou ainda em setembro que o nome de Lula não poderia sequer ser citado nas campanhas eleitorais do PT. Mesmo denúncias de golpe foram amplamente censuradas não apenas nas campanhas nacionais como também nas estaduais – mesmo em denúncias contra o golpe e o arbítrio da prisão de Lula. 5. A JUSTIÇA E A POLÍCIA ATACARAM A CAMPANHA DO PT E APREENDERAM MATERIAL Com a desculpa de apreender os materiais de campanha que continham o nome de Lula, a Polícia Federal e as polícias de diversos estados agiram a mando dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e invadiram de modo sistemático os comitês de campanha do PT em centenas de cidades em todo o Brasil, confiscando todo o material de propaganda – inclusive os computadores e mesmo os impressos que não continham qualquer menção a Lula. O caso mais gritante ocorreu em 28 de setembro, quando sedes do PT e do PCdoB foram invadidas em todo o Estado de Minas Gerais. 6. BOLSONARO FOI BLINDADO PELA JUSTIÇA ELEITORAl Durante o segundo turno o fascismo da Justiça Eleitoral saiu definitivamente do armário. Na quinta-feira que antecedeu o segundo turno das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mobilizou agentes da Justiça Eleitoral, policiais militares e federais para dar batidas em 35 universidades públicas em todo o país. A simultaneidade das invasões policiais evidenciou tratar-se de uma ação coordenada, cujo objetivo era encerrar atividades didáticas, debates, panfletagens, coletas de assinaturas. Apreenderam material, ordenaram a retirada de faixas e cartazes, ficharam todos os envolvidos. O pretexto era o cumprimento da lei eleitoral 9.504/1997, que veda a “veiculação de propaganda de qualquer natureza … nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público, ou

que a ele pertençam”. Ocorre que em nenhum dos casos as atividades eram de propaganda eleitoral. Eram palestras, aulas e debates sobre o fascismo e o nazismo, manifestos de estudantes, professores e servidores em defesa da democracia. Evidentemente, desde a nova ascensão da extrema-direita no mundo e frente ao caráter francamente fascista do então candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), trata-se de um tema premente, a ser discutido também nas universidades. Afinal, o militar prega a discriminação de mulheres, homossexuais, negros e até mesmo de nordestinos. Defende abertamente a perseguição, encarceramento, tortura e extermínio de seus adversários políticos – e assim o reforçou em sua campanha. Ao intervir nas universidades, o Judiciário nada mais fez que confirmar o fascismo da chapa dos militares. A juíza Maria Aparecida da Costa Barros, por exemplo, determinou a retirada de uma faixa afixada ao edifício da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense com os dizeres: “Direito UFF antifascista”. A magistrada ameaçou de prisão o diretor em caso de não cumprimento da decisão, alegando que a peça “possuía conteúdo político-eleitoral, na medida em que se voltava contra o ‘fascista’ e não contra o ‘fascismo’”. Passadas as eleições, as ações foram amplamente condenadas até mesmo pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Palavras e desagravos, no entanto, não apagam o fato de que justamente o ramo do Judiciário encarregado de “zelar pela democracia” foi aquele que ao longo dos anos restringiu drasticamente as liberdades políticas dos Partidos por meio de uma burocracia asfixiante, restringiu a campanha eleitoral a praticamente zero e, nesse momento crítico, aprofundou o fascismo de Estado. O Judiciário, porém, não recuou da decisão de censurar o show do músico britânico Roger Waters – ex-vocalista do grupo Pink Floyd. Conhecido por ter uma postura politicamente ativa, Waters vinha realizando uma turnê pelo Brasil, em que mostrava Bolsonaro como a expressão do “neofascismo” no mundo – ao lado de Le Pen na França ou Trump nos Estados Unidos, por exemplo. O TSE considerou o ato uma manifestação política, e proibiu


10 | POLÍTICA a menção a Bolsonaro após as 22h no evento do dia 27 de outubro em Curitiba – classificada como “propaganda eleitoral irregular”. Waters não se intimidou, e mencionou o capitão fascista antes das 22h, alterando a ordem do espetáculo. As ações parciais da Justiça Eleitoral mostram que justamente aqueles encarregados de garantir a lisura da apuração têm um lado político bem definido. Evidentemente, as eleições conduzidas por tais agentes foram fraudadas. 7. UMA ELEIÇÃO SEM CAMPANHA POLÍTICA NAS RUAS Com a chamada “minirreforma eleitoral” promovida em 2015 pelo golpista Eduardo Cunha, o tempo de campanha foi reduzido de três para dois meses, o tempo de televisão foi cortado, e praticamente todas as campanhas de rua foram proibidas: foram vedados os carros de som, a colagem de cartazes, a fixação de faixas. Com tais restrições, os meios populares tradicionais de propaganda eleitoral foram totalmente banidos, restando apenas os meios pagos à disposição da burguesia: a televisão, o rádio, as redes sociais. Como consequência, o habitual desequilíbrio de forças se fez sentir sobretudo nos conhecidos disparos em massa no Whatsapp promovidos pela campanha de Bolsonaro.

8. OS PATRÕES GOLPISTAS COAGIRAM SEUS FUNCIONÁRIOS A mesma burguesia que pagou pela propaganda de Bolsonaro não se furtou também a coagir os funcionários de suas empresas. Foi o caso, por exemplo, de Luciano Hang – dono da rede de shoppings Havan ––, além de diversos empresários da baixada santista. Os empresários faziam “palestras” frequentes aos funcionários, ameaçando com fechamento de suas unidades e demissão em massa nos municípios em que Bolsonaro fosse derrotado. Mais uma vez, nada aconteceu com esses senhores. Afinal, com a burguesia a Justiça funciona segundo o velho ditado: “para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”. 9. MAIS DE TRÊS MILHÕES DE ELEITORES TIVERAM SEUS TÍTULOS SUSPENSOS No dia 26 de setembro, o STF confirmou o cancelamento de 3,4 milhões de títulos de eleitores, a pretexto de não haverem realizado o recadastramento biométrico, quase todos por residirem em regiões remotas ou em periferias urbanas de difícil acesso. O número corresponde a 2,4% dos 147,3 milhões de títulos de eleitores cadastrados – 54% deles nas regiões Norte e Nordeste. Evidentemente, trata-se justamente da população desassisti-

da: os eleitores de Lula e da esquerda em geral, aqueles que mais precisam do Estado para sobreviver. O cadastramento biométrico sequer é obrigatório em muitos municípios brasileiros. Tratou-se de mais uma flagrante arbitrariedade dos golpistas. 10. A EXTREMA-DIREITA AGREDIU MILITANTES DE ESQUERDA Desde que levantou a cabeça em 2013, a extrema-direita vem seguindo sua cartilha tradicional: invadem atividades de trabalhadores e agridem os seus participantes. Tal abuso dos coxinhas não ocorreu nos grupos que já organizaram sua autodefesa. Num contexto eleitoral, porém, muitos simpatizantes dos candidatos de esquerda realizaram atos inadvertidos da ameaça coxinha. Esses são justamente os alvos preferenciais dos fascistas – que primam pela covardia. Foi o que ocorreu por exemplo com o diretor da FUP e do Sindipetro Bahia quando panfletava em favor de Haddad em Salvador, agredido por um fascista com fiveladas de seu cinto, ou no conhecido caso do jovem candidato a deputado estadual do PT que panfletava em Curitiba e foi atingido por tiros de escopeta a queima-roupa disparados por policiais militares. Evidentemente, nada aconteceu com os fascistas que agrediram os militantes de esquerda. A “festa da de-

mocracia” burguesa tem poucos convidados, e seus seguranças tratam com mão de ferro os “penetras” do povo. Nada de fazer campanha livremente, nada de liberdade de expressão: mais um sinal inequívoco da parcialidade do processo como um todo e do clima em que foi realizado. 11. AS ELEIÇÕES FORAM CONDUZIDAS PELOS MESMOS GOLPISTAS QUE DEPUSERAM DILMA ILEGALMENTE Como já se sabia desde o impeachment ilegal de Dilma Rousseff, se o imperialismo e a burguesia nacional não estavam dispostos sequer a aguardar o término do mandato da presidente eleita, tampouco estariam dispostos a entregar o governo para qualquer liderança política com influência popular – caso do PT. Ao contrário, se o governo de Michel Temer carecia de força suficiente para implementar as reformas golpistas com a intensidade e voracidade demandadas pelos donos do capital, seria necessário um governo empossado com a “legitimidade das urnas” para aprofundar o golpe. Nesse sentido, o processo eleitoral seria, na verdade, um elemento do golpe, e não algo com o que ele poderia ser combatido: as eleições golpistas, fraudadas, não poderiam ter outro resultado que não um brutal regime de ataque ao Estado e à população brasileiros.

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POLÍTICA| 11

TORTURA

Identificada mais uma vítima do torturador Brilhante Ustra, ídolo de Bolsonaro

F

oi divulgado pelo Grupo de Trabalho Perus a identificação por exame de DNA dos restos mortais do bancário e ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro Aluízio Palhano Pedreira Ferreira, torturado e assassinado nas dependências do DOI-CODI em São Paulo em 1971, o principal centro de tortura durante a ditadura. A ossada de Palhano é a 5ª identificada em meio aos mais de mil sacos com ossadas não identificadas localizados em uma vala comum no cemitério clandestino de Perus, zona norte de São Paulo, local descoberto no final dos anos 80, após mais de 10 anos de

investigação. O cemitério era o local preferencial de “desova” dos corpos de militantes de esquerda sequestrados, torturados e mortos pelos órgãos de repressão da ditadura militar. De acordo com dossiê produzido pelo Comitê Brasileiro de Anistia, Palhano, militante do grupo de Carlos Lamarca, Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), foi preso em 9 de maio de 1971 em São Paulo e transferido para as dependências da Cenimar – centro de inteligência da Marinha. Depois de seguidas sessões de tortura foi entregue nas mãos do então major Carlos Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército entre 1970 e 1974, onde foi nova-

mente tortura e morto provavelmente no dia 21 de maio daquele ano. Ustra, conhecido com a alcunha de doutor Tibiriçá, notabilizou-se pelo sadismo e crueldade com que tratava os presos políticos, inclusive participando ativamente das sessões de torturas. As práticas cruéis do Dr. Tibiriçá não poupavam nem crianças. São vários os relatos da presença dos filhos dos torturados nos porões do DOI-CODI, como forma de instigar o pavor entre os pais. Único brasileiro declarado pela Justiça como torturador na ditadura, Ustra morreu em 2015 sem nunca pagar pelos crimes que cometeu, assim como milhares de outros torturadores e assassinos, dentro e fora das Forças Armadas, que saíram absolutamente impunes das atrocidades cometidas. Para aqueles que por um momento possam pensar que os fatos acima dizem respeito simplesmente à história, tem que ter presente que os fascistas de ontem, ao estilo de Ustra, têm nos fascistas de hoje a sua linha de continuidade. O golpe de Estado de 2016 no Brasil acaba de levar à presidência da República por meio da fraude e da manipulação um presidente que, pelo que ele mesmo admite, se tiver condições irá muito além do que foi feito pelo seu “herói”.

Quando da votação do impeachment absolutamente fraudulento da presidenta Dilma, Bolsonaro dedicou o seu voto em “… memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, se referindo ao fato da ex-presidenta ter sido uma das torturadas pelo doutor Tibiriçá. São públicas ainda as suas declarações como “o erro da ditadura foi torturar e não matar”, “eu sou favorável à tortura, tu sabe disso” , o “problema da ditadura foi não ter matado 30 mil…” e “ quem procura osso é cachorro”, ao se referir justamente às investigações dos “desaparecidos” políticos vítimas da ditadura militar de 64. Bolsonaro, seu vice, o general Hamilton Mourão e todas as figuras de frente do novo regime que se esboça no país, são os cultuadores atuais do golpe militar de 64 e que foram elevados pelo golpe de 2016 novamente ao centro da cena política brasileira. Assim como os militares de 64, também são serviçais da política do imperialismo para o Brasil. Na defesa da absoluta subserviência aos Estados Unidos, não vão se furtar em repetir no país todas as atrocidades da ditadura de 64, aliás, esse é o desenvolvimento natural do golpe de Estado em curso. A única saída progressista para a população trabalhadora brasileira é a sua mobilização para barrar o avanço do golpe e essa mobilização para ser efetiva só pode se dar nas ruas em torno de um programa e um plano de lutas que tenham como eixos centrais o Fora Bolsonaro e todos os golpistas e a liberdade de Lula.

EXTERMÍNIO

A solução final de Witzel para o problema carcerário: “cova a gente cava e presídio, se precisar, a gente bota navio em alto mar” W

itzel em uma fala na sede da Associação de Oficiais Militares do Rio, mostrou mais um vez o caráter assassino ao qual seu governo se propõe. “Cova a gente cava e presídio, se precisar, a gente bota navio em alto mar”, foi o que declarou quando abortou o tema dos presídios e da criminalidade. O ex-juiz já havia proposto após sua eleição a contratação de snipers para atirar em qualquer sujeito que portasse uma arma nas favelas do Rio, mas para bom entendedor, isso significa qualquer cidadão negro, pois no brasil qualquer objeto na mão de um negro pode ser “confundido” com uma arma. Além dos atiradores de elite, o futuro governador foi a Israel fazer compras com seu grande amigo Eduardo Bolsonaro, atrás de drones que pudessem executar vítimas a distância. A Intervenção Militar no Rio de Janeiro foi desgastante para a população das favelas cariocas; abusos, estupros, assassinatos etc., Witzel quer prolongar a carnificina por mais um ano. Não é atoa que foi eleito pelos militares no Rio de Janeiro, numa verdadeira fraude eleitoral, onde passou

de total desconhecido para futuro governador do estado do Rio de Janeiro. A população carceraria Brasileira é a terceira maior do mundo, tendo 726 mil presos, quase o dobro do que pode abarcar. Segundo Ricardo Carvalho Miranda, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná, “Os internos já estão amontoados. No Brasil, a situação prisional é caótica. O que as autoridades não percebem é que, quanto mais incharem as penitenciárias, pior fica a situação. Não é à toa que os presídios são conhecidos como universidades do crime.”, e dizer que agora vão amontura os presos é redundância, já estão empilhados em células a muito tempo. A direita promove um verdadeiro extermínio contra os trabalhadores brasileiros, nossas prisões são verdadeiros campos de concentração, onde o cidadão entra sem precisar ter sido julgado ou passou por um julgamento totalmente injusto e arbitrário; passa uma eternidade exposto a doenças como aids e hepatite, sem se alimentar direito, sofre diversos abusos das autoridades, e é posto em contato com facções cri-

minosas que sabem muito bem lucrar com todo o ódio social proveniente dessa experiência no mínimo traumática, crescendo então o números de abandonados pelo sistemas que ingressam nas legiões do crime organizado. Uma medida imediata que deveria ser tomada seria a libertação de toda a população carcerária brasileira. Se o detido não teve um julgamento

justo, e o País não tem estrutura para ter um sistema de recuperação social para aqueles que infringirem as leis, ninguém deve suportar o suplício que nossos presos suportam atualmente. Uma mudança radical no sistema jurídico, na distribuição de renda e no sistema carcerário devem ser prioridade antes do encarceramento de qualquer indivíduo.


12 | INTERNACIONAL

FRANÇA

Rejeição popular ao neoliberalismo força recuo de Macron diante dos coletes amarelos O presidente francês anunciou nesta terça-feira, 4 de dezembro, um recuo na política de aumento do preço dos combustíveis. Macron anunciou uma suspensão temporária de 6 meses na política de aumento de preços. O recuo do governo francês, representante direto dos bancos, do imperialismo e da política neoliberal, é uma consequência da verdadeira rebelião popular iniciada na França com os protestos dos chamados “coletes amarelos”. O movimento dos condutores contra a subida dos preços dos combustíveis deu início a uma ampla e radical mobilização popular contra o governo, com manifestações gigantescas na capital francesa, enfrentando, inclusive, a tentativa de repressão das forças policiais, por meio das barricadas. As manifestações entraram em sua terceira semana. Nos protestos do último sábado, até o momento, 412 pessoas foram presas, 4 foram mortas, 360 es-

tão sob custódia e mais de 100 estão feridas. Devido a instabilidade política, Macron cogitou decretar estado de emergência. Nesta segunda-feira, demonstrando o repúdio generalizado à política neoliberal do imperialismo, cerca de 100 escolas foram ocupadas por estudantes secundaristas em apoio ao movimento dos coletes amarelos e contra as mudanças nos métodos de ingresso nas universidades francesas. Desde que assumiu, Macron, que é obra de uma manobra eleitoral do imperialismo, vem implementando uma política de terra arrasada contra o povo francês, atacando as condições de vida da população em prol dos interesses dos grandes bancos e dos monopólios capitalistas. O recuo de Macron é uma consequência direta da reação do povo, a qual tende a se acentuar ainda mais frente a crise econômica e a crise política do imperialismo

REPRESSÃO

Com medo do povo, polícia vai se armar para reprimir população de Londres

E

m todo o mundo, a crise profunda em que o capitalismo se encontra tem levado os povos a se rebelar contra os governos pró-imperialistas. Empurrados pela crise, os banqueiros procuram explorar os trabalhadores

até a última gota de sangue, causando uma enorme destruição na vida de toda a população. No Reino Unido, que é um dos pilares da burguesia internacional, a crise entre os capitalistas e a população já

se expressou de inúmeras maneiras. O crescimento da ala esquerda do Partido Trabalhista britânico, liderada por Jeremyn Corbin, é vista com muita preocupação pela direita que quer continuar atacando os direitos dos trabalhadores. Apesar de o governo da atual primeira-ministra britânica, Thereza May, já ter virtualmente chegado ao fim por causa do desgaste da direita europeia, a burguesia ainda não decidiu derrubá-la, uma vez que isso levaria, quase que inevitavelmente, à ascensão de Jeremin Corbyn. Tal fato mostra que a direita está muito perto de perder o controle do regime político. Um acontecimento que contribuiu para acelerar a crise em que se encontra a burguesia britânica foi a votação do Brexit, ocorrida em 2016. Na

votação, ao contrário do que defendia o imperialismo, os britânicos votaram a favor da saída do Reino Unido da União Europeia. Diante de toda essa preocupação com a estabilidade do regime político, a burguesia britânica decidiu tomar uma decisão inédita. A polícia, que é fundamentalmente um instrumento de contenção da revolta contra os governos burgueses, passará a andar armada nas ruas de Londres. As patrulhas armadas que serão feitas pela polícia britânica ocorrerão sobretudo nos bairros pobres de Londres. O objetivo é claro: impedir que os setores mais esmagados pela política dos banqueiros se manifeste e coloque o regime político em xeque. Um claro sinal do agravamento da crise histórica do capitalismos, das tendências à polarização que se desenvolvem em toda parte, com os trabalhadores e suas organizações expressando uma tendência de luta contra os planos de fome e miséria do grande capital imperialista.


MOVIMENTO OPERÁRIOL| 13

ATAQUES

Milhares de professores paulistas tem salários parcelados pelo terceiro mês consecutivo N

os últimos três meses, milhares de professores da rede estadual de ensino tiveram seus vencimentos pagos com “erros” e sem o devido pagamento do vale alimentação também. Foram resolvidos alguns salários, porém outros vieram errados também no mês de novembro, a ser pago na próxima semana. No mês de novembro algumas escolas informaram que foram mandados papéis extras para a Secretaria da Fazenda para que fosse sanado os problemas. O “erro” da Fazenda, não foi sanado, pois o restante dos salários só foi provisionado para pagamento com o pagamento de novembro, no quinto dia útil de dezembro. Esse “erro” faz parte de uma política de seguidos ataques aos professores,

de seguidos ataques ao ensino público. A política de rapina dos cofres públicos tem gerado esses “erros” que somam milhões e acarretam prejuízos

BANCÁRIOS

Golpistas da direção do BB perseguem trabalhador que luta pelos seus direitos

e mal estar entre os professores. O professor vive uma ameaça constante com os “erros” de pagamento e pressões de todos os lados, como a

campanha de perseguição e ataques da direita do “escola com fascismo”. Há professores com carga de 40 horas semanais que recebem, por conta dos “erros”, cerca de R$ 300 a R$ 500. Quando isso ocorre, na maioria das escolas alegam que o erro é da Diretoria de Ensino e outros dizem que é da Secretaria de Fazenda, em um “jogo de empurra”. No enato, não se trata apenas de “erro”, mas de uma política premeditada dos golpistas contra os professores. Com estes e outros mecanismos, os salários d milhares de trabalhadores acabam sendo pagos em parcelas. sem que se anuncie isso publicamente. Somente com a mobilização dos professores e estudantes vamos barrar todos os retrocessos que estão na cartilha dos golpistas para a Educação. Somente a luta coletiva vai levar todos os trabalhadores á barrar o golpe e a possibilidade de melhorar sua vida e dos demais.

abaixo a escola com fascismo Organizar os professores Para acabar com a caça às Bruxas

A

cada dia que passa intensificam os ataques da direita golpista, que hoje dirige o Banco do Brasil, contra os trabalhadores. Toda a política de reestruturação na empresa de demissão em massa, fechamento de agências, descomissionamentos, etc. visa única e exclusivamente aumentar os fabulosos lucros dos capitalistas às custas da maior exploração da classe trabalhadora. Para isso precisam intimidar e coagir os funcionários, para que possam levar a frente os seus ataques. Em mais um exemplo as arbitrariedades dos golpistas, recentemente um funcionário que lotado na agência Estilo da Asa Norte, localizada na Capital Federal, foi destituído da sua função comissionada por ter uma ação judicial que postula, justamente, horas trabalhadas e não pagas pelo banco. O funcionário que exercia o cargo comissionada como gerente passou de uma hora para outra na empresa para o cargo de Posto Efetivo, ou seja, uma queda abrupta nos seus vencimentos. A ação do funcionário diz respeito a pagamento de horas trabalhadas e

roubada pelos banqueiros que passaram descumprindo as leis trabalhistas (CLT) em relação à jornada de trabalho dos bancários de 30 horas semanais, o que gerou um imenso passivo trabalhista, ou seja, os trabalhadores ficaram credores do banco, tendo o direito a receber como adicional de horas-extra, as horas trabalhadas a mais e outras vantagens incidentes nos salários: férias, anuênios, etc. Os trabalhadores que tem processo na justiça para receber as horas trabalhadas e não pagas pelo banco estão sendo sistematicamente ameaçados pela direção da empresa. Os bancários do Banco do Brasil precisam dar um basta à política de ditadura que vigora dentro da empresa contra os trabalhadores. É necessário organizar, imediatamente, uma grande mobilização de toda a categoria bancária, juntamente com os demais trabalhadores na luta contra o golpe de Estado que aprofundou a ofensiva dos banqueiros, dos capitalistas e seus governos contra a classe trabalhadora e a população em geral.

Em cada sindicato, organizar uma central para denunciar a perseguição fascista, criar comitês para destruir a provocação da direita

número do disque solidário

11 972446304

FRASE DO DIA

Temos de nos preparar para novos ataques, que já começaram, como vimos nas novas ações, operações e denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês depois das eleições Lula


14 | MULHERES E CULTURA

MULHERES

“Mulheres nasceram para ser mães”, esse é o programa dos golpistas impostos pela fraude eleitoral A

pontada como futura ministra dos Direitos Humanos, da Igualdade Racial e das Mulheres, do governo ilegítimo de Jair Bolsonaro, a pastora evangélica e advogada Damares Alves diz que “mulher nasce para ser mãe”. A atual assessora do senador Magno Malta, tem padrinho forte entre os golpistas e por conta disso é apresentada como tendo identificação com a pauta da família e direitos humanos. Em uma entrevista, Damares afirmou “temos que ir para o mercado de trabalho” e por isso se preocupa com a ausência da mulher da casa, além das crianças cujas mães trabalham fora. Ela é antagonista do movimento LGBT e da campanha pela legalização do aborto, e defende que o papel que mais gosta de exercer é o materno e que as mulheres nascem para ele. “Dá pra gente ser mãe, mulher e ainda seguir o padrão cristão que foi instituído pras nossas vidas”, disse a líder evangélica. As frases carregadas de preconceito e falso moralismo cristão não combinam em nada com a realidade vivida pela maioria das mulheres brasileiras que trabalham e são chefes de família, tem jornada dupla de trabalho e se desdobram para cuidarem de todas as facetas da vida. Tais posições são representativas dos interesses da burguesia golpista e machista, que apoia o posicionamen-

to da futura ministra ao dizer a frase medieval que “mulher nasce para ser mãe”, uma posição de quem defende que mulher se mantenha em uma posição submissa e secundária, o setor mais explorado da sociedade. Se pensamos que a mulher nasce para ser mãe, como ela poderá adquirir independência financeira, se ela ao exercer essa função (no atual modelo de produção – capitalista – da sociedade) não é remunerada para tal? A luta pela independência econômica deve ser preponderante para a liberdade da mulher, porém é necessário compreender essa luta em uma sociedade baseada em contradições de classe. Conforme Alexandra Kollontai afirma no texto “A base social da questão da mulher”, o mundo das mulheres é dividido em dois campos; os interesses e aspirações de um grupo de mulheres que se aproximam da classe burguesa, enquanto outro grupo tem ligações estreitas com o proletariado, e seus pedidos de libertação abrangem uma solução completa para a questão da mulher. Assim, embora ambos os campos possam seguir o slogan geral da “libertação da mulher”, seus objetivos e interesses são diferentes. Cada um dos grupos inconscientemente leva o seu ponto de partida os interesses de sua própria classe específica para as metas e tarefas que se propõe. Lutar para a transformação fundamental da

estrutura econômica e social da sociedade sem que a libertação das mulheres não esteja concluída, não será possível a evolução da sociedade. Por consequência, ao identificar os campos de interesses das falas, constata-se que a futura ministra representa a classe burguesa que não deseja a libertação da mulher desta sociedade escravizadora e nefasta. A burguesia deseja uma mulher submissa prioritariamente cuidando da casa e dos filhos e é portanto contrária aos interesses da maioria das mulheres brasileiras que precisam das melhores condições possíveis para trabalhar e conquistar sua liberdade econômica. É preciso estar atento a essa verdadeira ofensiva ideológica e moral contra a liberdade das mulheres, ocultada sob uma fachada de “valorização dos dons naturais”.

“O Rei da Vela” terá últimas apresentações nos dias 14 e 16 no Auditório Ibirapuera O Teatro Oficina Uzona Uzyna realizará a montagem de duas peças do teatro brasileiro neste fim de ano. No dia 6 de dezembro iniciará com Roda Viva, de Chico Buarque, no SESC Pompeia e, durante os dias 14 e 16 de dezembro. O Auditório Ibirapuera receberá a montagem de O Rei da Vela. O Rei da Vela, peça de Oswald de Andrade, obra representativa da década de 30, e marca uma época de apreensões e compromissos sociais. A peça é considerada o primeiro texto modernista para teatro. Nas experiências inovadoras anteriores, apenas a encenação tinha ares modernistas ao incluir a pintura abstrata nos cenários e afastá-los do realismo e do simbolismo. Mas o texto de Oswald de Andrade trata com enfoque marxista a sociedade decadente, com a linguagem e o humor típicos do modernismo. As peças oferecem em suas narrativas e nos acontecimentos de suas montagens ao longo da história analogia com os dias atuais. A mais antiga, de Oswald, de 1937 e encenada pela primeira vez em 1967, em plena Ditadura Militar (1964-1985), aborda a vida das famílias das elites brasileiras, “alcoolizadas” no fascismo, re-

gime que marcou a época em que o autor escreveu a obra. Ressaltando a seriedade e hoje mais do que nunca, da atual temática, diante de uma montagem de ministérios militares. Roda Viva (1968), de Chico Buarque, traz o processo de criação da figura do mito. A peça, que foi escrita pelo autor ainda jovem, após ele ter assistido O Rei da Vela, teve sua montagem brutalmente interrompida pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC) durante os anos de chumbo. Perguntado sobre o papel do teatro na quebra dos ciclos históricos que mantém o Brasil ainda na condição de colônia, como pode ser observado em ambas as peças, Zé Celso diz: “Oswald queria enxergar como os Tupis. Foi daí que ele trouxe a antropofagia. Precisamos mais do que combater, mas sim comer a colonização, degluti-la para criar algo novo,” fazendo alusão ao ritual indígena. INFORMAÇÕES: RODA VIVA | CHICO BUARQUE Dias: 6 a 09/12/2018 Horário: Quinta a sábado, 20h.

Domingo, 18h Ingressos: R$ 50 Inteira R$ 25 meia para estudantes, servidor de escola pública, maiores de 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência R$ 15 – Credencial plena do Sesc Venda Online a partir de 27 de novembro, terça –feira, 12h Venda presencial nas unidades do Sesc SP a partir de 28 de novembro, quarta-feira, às 17h30Local: Sesc Pompeia, Rua Clélia, 93, Água Branca, São Paulo – SP Duração: 3h30, com intervalo de 15min Indicação etária: 18 anos O REI DA VELA | OSWALD DE ANDRADE Dias: 14 a 16/12/2018 Horário: Sexta e sábado, 20h. Domingo, 19h Ingressos: R$ 30 Inteira R$ 15 Meia Local: Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer Duração: 240min, com intervalos de

A luta ideológica é parte da luta política nesse momento. Com o golpe de estado em andamento que está retirando direitos, aumentando vertiginosamente o desemprego, as mulheres sofrem brutalmente ao ataque dos golpistas. Bolsonaro é cria da burguesia e do golpe de Estado organizado pela direita desde 2012, que derrubou a presidenta legítima, Dilma Rousseff, em 2016, fortaleceu a extrema-direita e prendeu, sem provas, o ex-presidente Lula, além de perseguir toda a esquerda nacional. O que Bolsonaro pretende é radicalizar essa política. O governo Temer tem comprovado que não passa de um fantoche dos militares, que estão tomando o controle de todas as instituições. Isso está perfeitamente sincronizado com a eleição fraudulenta de Bolsonaro, que já têm coordenando sua campanha diversos membros das forças armadas e parte de seu futuro ministério também será liderada por militares. É necessário repudiar e denunciar todas as iniciativas nesse sentido e lutar pelos mais amplos direitos democráticos das mulheres, por sua libertação completa do trabalho e da vida doméstica, por sua organização e participação política ampla. Organizar uma contraofensiva de conscientização da população pelo fim de toda opressão e discriminação contra as mulheres.

15min Indicação etária: 14 anos Informações: www.autorioibirapuera. com.br *As vendas serão realizadas nos canais da Ingresso Rápido e na bilheteria do Auditório Ibirapuera Horários da bilheteria: sextas-feiras e sábados, das 14h às 22h. Domingos, das 13h às 20h RODA VIVA TEMPORADA OFICINA | DE CHICO BUARQUE De 23/12/2018 a 10/02/2019 Sexta a domingo Horários: Sexta e sábado, 20h. Domingo, 19h Ingressos: R$ 60 Inteira R$ 30 Meia R$ 25 moradores do Bixiga (necessário comprovante de residência) R$ 5 (estudantes secundaristas de escola pública, imigrante, refugiados, moradores de movimentos sociais de luta por moradia) – limitados à 10% da lotação diária www.compreingressos.com/ rodavivaLocal: Teatro Oficina Uzyna Uzona, Rua Jaceguai, 520, Bixiga, São Paulo –SP Duranção: 3h30, com intervalo de 15 minutos Indicação etária: 14 anos


JUVENTUDE, ESPORTES E MORADIA E TERRA| 15

PM ASSASSINA MAIS UM

Jovem de 15 anos morre em hospital em Campinas A

Polícia Militar de São Paulo, máquina de extermínio da população jovem, pobre e trabalhadora do estado, assassinou mais um garoto, desta vez em Campinas. O adolescente Danilo Henrique da Silva, 15 anos, foi morto a tiros pela PM em uma bairro periférico da cidade,o Jardim Centenário. Segundo os PMs que o assassinaram, o jovem teria fugido ao avistar uma viatura se aproximando, ainda teria apontado uma arma para os policiais antes de ser alvejado. A morte do jovem soma-se a outros milhares de casos semelhantes. A PM, como desculpa para a sua política de extermínio utiliza o chamado “autos de resistência”, ou seja, um subterfúgio macabro que busca legitimar a prática assassina da polícia frente a uma suposta reação da vítima. Ocorre que na imensa maioria dos casos, a

alegação de resistência da vítima serve para encobrir o verdadeiro genocídio praticado pela PM. Em grande parte dos casos os próprios policiais forjam a tal da “resistência” da vítima, colocando uma arma na mão do jovem assassinado, ou contando com a conivência dos tribunais e das instituições estatais, favoráveis a essa política. O caso de Danilo entra nestas estatísticas. A PM, fortemente armada e treinada, mata um jovem de apenas 15 anos de idade, e depois acusa o “perigoso” adolescente de ter oposto resistência aos policiais. Trata-se de uma farsa, a qual só serve para ocultar a verdadeira política de guerra contra a juventude pobre e negra levada adiante pela polícia. Com o aprofundamento do golpe de estado, e o avanço da extrema-direita, esta política irá se acentuar ainda mais, aumentando

em escalas gigantescas o número de assassinatos provocados pela PM nas periferias. É preciso organizar a população pobre, a juventude e a classe trabalhado-

ra contra essa política. Organizar nos bairros os comitês contra o golpe e de auto-defesa. Defender também a dissolução da PM, o fim dessa verdadeira máquina de guerra contra o povo.

POLÍTICA NAZISTA

ESPORTES

Bolsonaro compara índios a animais em zoológico

UEFA ensaia punição a um gigante do futebol europeu. Será mesmo?

A

N

a última sexta-feira (30) em Cachoeira Paulista (SP), o presidente eleito pelo golpe de estado, Jair Bolsonaro, afirmou que a demarcação de terras indígenas e propriamente a permanência dos índios em reservas seria a mesma coisa que mantê-los em um zoológico. A colocação do presidente ilegítimo nos remete à política nazista, que tem como característica primeira o desprezo por outras etnias e assim as inferioriza, despreza, ataca e, quando pode, as extermina. Ao fazer essa comparação, Bolsonaro, confirma a tese de que esse é o tratamento que deve ser dado aos índios e que é a que ele defende. Na visita que realizava, ao responder pergunta de um jornalista com relação ao Acordo de Paris, dentro de sua resposta ficou claro seu ataque aos indígenas, quando fala que há excesso na demarcação de terras indígenas e de reservas ambientais e que consequentemente o índio quer a mesma coisa que “nós” queremos.

A todo momento em suas declarações, Bolsonaro sempre deixou sua posição explícita, e que corrobora com o massacre da população indígena que vai de comum acordo com a ação do latifundiários que promovem um verdadeiro massacre contra a população no campo e contra o povo indígena. É fato que esse setor hoje declara total apoio ao governo ilegítimo de Jair Bolsonaro, e isso se deve justamente pelo fato de que os mesmos sabem que estão amparados pela política nefasta que compõe a agenda do representante da extrema-direita. É preciso reafirmar, o papel de Bolsonaro, é o de dar continuidade a agenda do golpe, suas declarações simplesmente confirmam aquilo que os golpistas e latifundiários já disseminavam: um feroz ataque contra o povo indígena e os trabalhadores rurais. Contra o avanço dessa política de massacre, é preciso organizar a reação popular, organizar a luta para garantir o direito a terra e preservação e demarcação dessas terras.

entidade européia que controla o futebol do velho continente (UEFA), declarou, através do seu presidente, Aleksander Ceferin, que a entidade estuda a possibilidade de adotar uma severa punição a um dos gigantes do futebol europeu, o time inglês Manchester City. O milionário clube da cidade de Manchester, controlado por um grupo dos Emirados Árabes Unidos (Abu Dhabi United Group) pertence, na verdade, ao sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan. O nababo árabe vem investindo somas bilionárias no clube, desde quando o comprou em 2008. Os aportes astronômicos de dinheiro do mundo árabe fizeram com que o time rapidamente alcançasse o topo não só conquistando títulos nos gramados, como também em arrecadações milionárias entre premiações na Premier League, contratos comerciais, cotas de TV e outras receitas. Toda essa movimentação gigantesca de dinheiro despertou a atenção do disputado mercado europeu do futebol. A revista alemã Der Spiegel fez veicular, recentemente, denúncias sobre violação de regras do chamado fair play financeiro por parte do clube inglês, depois de informações reveladas pelo Football Leaks. “De acordo com Ceferin, a investigação aponta para um “caso concreto”. A Uefa acredita que a integridade de uma das principais regras da entidade está em risco, e que sanções esportivas são a única resposta apropriada, caso o episódio seja confirmado” (ESPN, 04/12). Por ocasião da primeira denúncia publicada pela revista alemã, a UEFA buscou fazer “vistas grossas” para o

caso, pois havia também a suspeita de que outros gigantes do futebol europeu (PSG, também financiado pelos árabes) pudessem estar envolvidos na violação do fair play. Neste momento, no entanto, por razões ainda não muito claras, a entidade parece estar disposta a levar adiante a punição ao Manchester City. Os dirigentes europeus falam inclusive em banimento do time das competições do continente na próxima temporada de 2019. “A investigação aponta para um ‘caso concreto’. A Uefa acredita que a integridade de uma das principais regras da entidade está em risco, e que sanções esportivas são a única resposta apropriada, caso o episódio seja confirmado” (idem, 04/12). A Uefa pode estar sendo levada a ir além do que gostaria de ir neste episódio, em função das flagrantes evidências de violação e irregularidades financeiras praticadas pelo time inglês do Manchester City. Está claro também que em um lucrativo e disputado mercado, onde somas astronômicas são movimentadas, a pressão dos concorrentes funciona como um dos elementos que motiva a entidade européia a adotar sanções contra os clubes que maculam os códigos de conduta dos acordos informais (fair play) que regem o futebol do velho continente. É esperar para ver.



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