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Opinião João Torres - Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor
1500 Maiores Empresas
A circularidade como motor de uma economia sustentável
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João Torres
Secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor
Atravessamos um momento crítico no qual se assinala a crescente tomada de consciência de que o planeta não suporta os atuais níveis de emissões de carbono, nem a continuidade de um modelo económico baseado na utilização massiva dos recursos naturais.
O desafio não é apenas ambiental, mas também económico. Para que seja possível continuar a produzir de forma a satisfazer as necessidades dos cidadãos, impõe-se que transitemos da economia linear para um modelo económico no qual os produtos, materiais e recursos se mantenham na economia o máximo de tempo possível e em que a produção de resíduos seja reduzida ao mínimo, seguindo a hierarquia dos resíduos ou dos 3R: em primeiro lugar, Reduzir, em segundo, Reutilizar, e, quando tal não é possível, Reciclar.
Esta mudança de paradigma é disruptiva e constitui um significativo desafio a enfrentar pelos diferentes setores de atividade económica. A transição para uma economia circular pode ter elevados custos de adaptação, mas fomenta, em várias dimensões, ganhos sólidos no futuro, devendo ser encarada como uma oportunidade. Pressupõe-se o desenvolvimento de novos produtos e modelos de negócio que privilegiem a durabilidade, a reparação, a reutilização, a reciclagem e a incorporação de matéria-prima secundária, bem como uma maior servitização.
As empresas que concretizarem esta transição obterão ganhos de produtividade, quer pela poupança de recursos, quer pela diferenciação e notoriedade junto dos consumidores. Os consumidores, aliás, são determinantes na condução destas mudanças. Assistimos à emersão de um tipo de consumidor informado e consciente dos impactos ambientais das suas opções de consumo. Esta consciência ainda não é generalizada, existindo um grande trabalho de sensibilização a desenvolver, também, a este nível.
A proteção dos consumidores na transição ecológica vai nortear a política de consumidores nos próximos anos, nos planos nacional, europeu e internacional. Importa, assim, garantir que os consumidores obtenham informações confiáveis sobre os produtos, sobre a sua vida útil, sobre as opções de reparação, bem como combater o surgimento de falsas alegações ambientais (‘ecobranqueamento’ ou ‘greenwashing’). A rotulagem, por exemplo, tem de ser melhorada no que respeita às declarações ambientais e às normas que as sustentam, devendo ser privilegiada uma simbologia harmonizada ao nível da União Europeia, de modo a não confundir o consumidor e a minimizar os custos de contexto para as empresas.
Existem bons exemplos de empresas que, desde cedo, perceberam as vantagens da aposta na economia circular e que desenvolveram modelos de negócio inovadores e sustentáveis, mas importa fomentar a adoção generalizada de lógicas de circularidade, pois são seguramente elevados os riscos e os custos de uma atitude passiva face aos desafios ambientais.
Com a globalização das cadeias de valor, a disrupção necessária exige ação concertada e alinhamento estratégico a nível global. A transição verde enquadra-se nas prioridades das políticas do Governo e do País, enquadrandose, desde logo, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, bem como com as políticas da União Europeia neste domínio.
O Plano de Recuperação e Resiliência e o próximo quadro comunitário de apoio, o Portugal 2030, serão instrumentos fundamentais para a criação de condições propícias a esta transição, bem como para a capacitação dos operadores económicos para as novas tendências e os novos desafios. A circularidade, feita num esforço concertado, poderá ser o motor para uma nova economia, mais sustentável e mais competitiva, mas também mais promotora do bem-estar. Este é um desafio para o qual, todos, sem exceção, estamos convocados a agir.