32.º ANIVERSÁRIO DO DIÁRIO DE LEIRIA
Este suplemento faz parte integrante da edição de hoje do Diário de Leiria, não podendo ser vendido separadamente
MADE IN REGIÃO DE LEIRIA
Introdução | 03
Especial Aniversário
FICHA TÉCNICA Outubro 2019
Made In Região de Leiria
Director Adriano Callé Lucas Directores-adjuntos Miguel Callé Lucas e João Luis Campos Directora Geral Teresa Veríssimo Chefe de Redacção/ Coordenação Editorial Nuno Henriques Textos: Cristiana Alves, Guilherme Francisco, Helena Amaro, José Roque, Mário Pinto e Nuno Henriques Fotografia Luis Filipe Coito, Arquivo e DR Direcção Comercial Joana Oliveira Publicidade (vendas): Graça Santos, Ivone Branco, Inês Resende, Isabel Figueiredo, Maria Lopes, Mário Carrola Sandra Amarante e Vítor Pimenta Design Gráfico: Pedro Seiça Publicidade: André Antunes Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A.
O
Diário de Leiria assinala o seu 32.º aniversário - comemorado ontem, 13 de Outubro - com um Suplemento com o tema ‘Made In Região de Leiria’, que dá relevo a pessoas e ao património que fazem parte da identidade da região e cuja importância são uma ‘marca’ deste território, com reconhecimento inclusive além-fronteiras. E são muitos os casos que o Diário de Leiria trata mais aprofundadamente neste trabalho editorial, o qual dá seguimento à rúbrica com o mesmo nome implementada pelo jornal há cerca de um ano e com publicação periódica. Um trabalho que reúne vários ‘made in’ região de Leiria, abrangendo cada um dos 17 concelhos deste território (distrito de Leiria e concelho de Ourém). Do desporto, à cultura, ao património edificado, social, cultural e religioso, não faltam exemplos ‘made in’ região de Leiria. O difícil é congregar todos os que dão identidade e dimensão maior a esta região. Rui Patrício, Annarella Sanches, David Fonseca (Leiria), The Gift, Mosteiro e Maçã de Alcobaça, Chícharo de Alvaiázere, o legado romano em Ansião, o Mosteiro da Batalha, a Pêra Rocha do Bom-
barral, a arte de Bordalo Pinheiro nas Caldas da Rainha, a Praia das Rocas em Castanheira de Pera, o legado de José Malhoa em Figueiró dos Vinhos, a arte vidreira e a indústria de moldes na Marinha Grande, as ondas gigantes da Nazaré, a Ginja de Óbidos, a Barragem do Cabril em Pedrógão Grande, a ‘capital do surf’ (Peniche), o legado do ‘marquês’
em Pombal, o Castelo de Porto de Mós e o ‘altar do mundo’, em Fátima. Todos são ‘Made In Região de Leiria’. Exemplos que não encerram aqui e que vão continuar a ter espaço no Diário de Leiria, pois é grande o mundo ‘made in’ região de Leiria e ainda há muito por contar. Nuno Henriques (Chefe de Redacção do Diário de Leiria)
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Especial Aniversário
O menino introvertido que se tornou um gigante entre os postes Aurélio Pereira, mítica figura do universo leonino, conta como Rui Patrício foi parar à ‘teia’ de observação do Sporting e não está nada surpreendido por ver o guarda-redes chegar ao topo do futebol mundial Muita coisa já se escreveu sobre Rui Patrício. Desde a sua infância na Matoeira, em Regueira de Pontes, de onde é natural, até aos primeiros passos no futebol ao serviço do SCL Marrazes. É já também sobejamente conhecida a forma como se tornou guardaredes depois de um ‘amuo’ de um colega de equipa, que ‘obrigou’ Rui Patrício a tentar a sorte por entre os postes. O que poucos sabem é a forma como o Sporting chegou até ao menino-prodígio de Leiria, e nada melhor do que conhecer essa estória através daquele que é considerado o ‘pai’ dos principais craques que o clube de Alvalade deu ao mundo, nomeadamente Cristiano Ronaldo, Luís Figo, Simão Sabrosa, Nani, Quaresma, Moutinho, entre muitos outros. Falamos, claro está, de Aurélio Pereira, uma das principais figuras do futebol de formação em Portugal. Pioneiro na criação de uma rede de ‘olheiros’ a nível nacional, Aurélio Pereira permitiu ao Sporting chegar quase sempre primeiro aos talentos que iam aparecendo, adquirindo e consolidando o prestígio e a tradição de clube formador, tendo então passado pelas mãos de ‘Mestre Aurélio’ dois jogadores que se tornaram bolas de ouro – Figo e Ronaldo.
Rui Patrício foi decisivo na conquista do título europeu de futebol, em 2016, pela Selecção Nacional
Mais do que um simples descobridor de talentos, Aurélio Pereira é visto pelos seus ‘meninos’ quase como um pai, sendo muita vezes lembrado por eles nos grandes momentos das suas carreiras. O mesmo aconteceu com Rui Patrício, com o coordenador do departamento de recrutamento dos leões a contar ao Diário de Leiria como Rui Patrício foi parar à ‘teia’ de observação do Sporting. “O nosso coordenador de zona estava presente num jogo ente o SC Pombal e o SCL Marrazes e sal-
tou-lhe à vista um miúdo muito grande na baliza. Podemos dizer que o nosso coordenador, que era de Lisboa, estava no sítio certo à hora certa, porque aquela era a primeira vez que o Rui Patrício tinha ido à baliza e criou logo impacto”, contou Aurélio Pereira. Depois dessa primeira observação no terreno, foi feito um relatório que chegou às mãos de Aurélio Pereira. Foi então que o mundo mudou para o pequeno Rui Patrício, com apenas 12 anos. Aurélio Pereira viajou de propósito a Leiria para conversar com
os pais do jovem guarda-redes e com os responsáveis do SCL Marrazes - isto com o Benfica à perna, porque também os ‘encarnados’ tinham Rui Patrício debaixo de olho. Contudo, nesta altura o futebol de formação do Sporting era considerado uma referência no mundo inteiro, pelo que a decisão acabou por ser fácil. “Algumas das pessoas com quem falámos do Marrazes eram do Benfica, mas foram excepcionais ao ‘encaminharem’ o Rui Patrício para o Sporting. Nessa altura tínhamos
uma escola de formação muito conceituada e era mais fácil convencer as pessoas do que é agora”, sublinhou Aurélio Pereira. Depois da decisão tomada, Rui Patrício passou a vestir de leão ao peito, mas os primeiros tempos não forma fáceis já que era ‘obrigado’ a ir para Lisboa “duas vezes por semana de autocarro” para treinar. “Logo aqui se vê que ele passou por muito sofrimento e demonstra que tem um carácter fantástico. Ao fim de todo este tempo podemos dizer que valeu a pena toda a nossa teimosia”, rematou. Aurélio Pereira recorda ainda hoje o “miúdo introvertido” que lhe apareceu à frente, mas garante que com “o passar do tempo” e com “a convivência”, Rui Patrício “foi-se soltando”. A nível desportivo, recorda o facto invulgar de um atleta tão jovem “ter aquele tamanho todo”. “Tinha tudo para dar certo”, atirou Aurélio Pereira. “É um orgulho enorme ver onde ele chegou” Depois de somar títulos na formação do Sporting, Rui Patrício teve a tão esperada estreia ao serviço da equipa principal dos ‘leões’. Foi contra o Marítimo e desde aí o Marrazes, como tão carinhosamente era apelidado
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Especial Aniversário
pelos colegas de equipa, nunca mais largou a baliza leonina, num trajecto de 12 épocas a representar a equipa sénior ao mais alto nível, sem esquecer o percurso ao serviço da Selecção Nacional onde se tornou o indiscutível dono da baliza.
Aurélio Pereira recorda como Rui Patrício foi parar à ‘teia’ de observação do Sporting “É um orgulho enorme ver onde ele chegou. Mas não me espanta. Estamos a falar de alguém que gosta de treinar, que tem uma capacidade de trabalho incrível. Ele queria muito ser alguém na vida e coloca muita paixão em tudo aquilo que faz”, frisou Aurélio Pereira, acrescentando que Rui Patrício “tinha todos os ingredientes” para chegar longe e não defraudou as expectativas. Ainda hoje Aurélio Pereira mantém contacto com o número um da baliza nacional, agora ao serviço do Wolves, de Inglaterra, e assegura que Rui Patrício está melhor que nunca e “com muito para dar” ao futebol.
Rui Patrício: da Matoeira até ao topo do futebol Está nas bocas do mundo e há bons motivos para isso. Depois de anos a fio de leão ao peito, brilha agora ao mais alto nível na liga mais competitiva do mundo ao serviço do Wolves, sendo actualmente um dos guarda-redes mais respeitados e cotados numa lista onde só entram os melhores dos melhores. Sem esquecer claro está o seu papel na Selecção Nacional de futebol, onde jogo após jogo vaise tornando cada vez mais preponderante entre os postes. Falamos de Rui Patrício que é visto ainda por muitos leirienses como o 'menino' da Matoeira. Foi nessa aldeia da freguesia de Regueira de Pontes, concelho de Leiria, que Rui Patrício nasceu, cresceu e começou a dar os primeiros toques na bola. Mas a coisa só começou a ficar mais séria quando ingressou no SCL Marrazes e, mais tarde, por um acaso, acabaria por experimentar as luvas
Rui Patrício foi o melhor guarda-redes no Europeu de 2016
para nunca mais as descalçar. E brilhou de tal forma que o Sporting não mais o perdeu de vista, ao ponto de o levar para a sua academia quando ele tinha apenas 12 anos.
A partir daqui a história é a que todos conhecem. Fez toda a sua formação no clube leonino onde venceu seis campeonatos de iniciados, juvenis e juniores em seis temporadas. Em 2007-
/2008, aproveitou uma oportunidade na baliza sénior ‘leonina’ para ganhar um lugar que até há bem pouco tempo foi seu por direito próprio. Na vitrina dos troféus conquistados, realce para o facto de ter vencido duas Taças de Portugal (a última delas com papel preponderante no desempate por grandes penalidades) e duas Supertaças, mas tem o amargo de boca de nunca ter ganho o título nacional de leão ao peito. Além disso, somou uma série de marcos históricos no clube pelo número de jogos consecutivos como titular no campeonato, e por ser o segundo jogador com mais encontros oficiais pelo Sporting. Mas 2016 foi o ano de afirmação do leiriense, nomeadamente ao ser considerado o melhor guarda-redes do Campeonato da Europa, em França, prova conquistada pela turma de Fernando Santos. A façanha foi tal que colocaram uma estátua de Rui Patrício em Leiria, junto ao estádio, e que ficará para a eternidade, assim como o seu nome na história do futebol português e mundial.
06 | Leiria
Especial Aniversário
Annarella Sanchez dá nome a um dos maiores conservatórios de ballet É em Leiria que tudo acontece. A aventura começou na Gândara dos Olivais e é por lá que a antiga bailarina cubana ainda transforma pequenos aspirantes de ballet em bailarinos profissionais, como António Casalinho, já lá vão mais de duas décadas António Casalinho é um dos vários exemplos de sucesso gerados no Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez, em Leiria. Um jovem promissor, que começou a dar os seus primeiros passos com a cubana Annarella Sanchez aos oito anos e que, aos 16, já conta no seu currículo com prémios de ‘peso’, como o Grand Prix na China, e o Youth American Grand Prix, nos Estados Unidos da América. Mas, o seu maior sonho ainda está a ser trabalhado: ser um bailarino profissional, e António Casalinho acredita que Annarella Sanchez e o conservatório o irão ajudar a alcançar. “Sonho poder entrar numa grande companhia e aí fazer a minha carreira enquanto bailarino profissional, fazer disso a minha vida e poder ser reconhecido internacionalmente como bailarino profissional. A Annarella pode ajudar a alcançar esse sonho. Tem sido o pilar mais importante”, afirma o jovem leiriense, “muito feliz” pelo trabalho que tem desenvolvido ser recompensado através dos prémios. “Todos esses prémios foram
António Casalinho é um dos casos de sucesso do conservatório
fruto do trabalho que tive, da ajuda da Annarella, dos professores, dos colegas. Sem a ajuda deles, dos pais, dos patrocínios, não seria possível”, acrescenta. Como António Casalinho, outros bailarinos do conservatório de Leiria têm conquistado os seus troféus, levando o nome da instituição além-fronteiras. Foi um sonho que levou Annarella Sanchez a Leiria, e é nesta
cidade que concretiza, dia após dia, o sonho de muitas crianças e jovens. “Acho que tanto a Annarella como o conservatório representam, não só a escola cubana, como a dança toda em si. É através deles que conseguimos expor a dança em Portugal”, aponta António Casalinho. Ganha notoriedade este jovem bailarino, ganha notoriedade o
conservatório, Annarella Sanchez, e a própria região em que está inserida a escola, porque o nome de Leiria vai sempre na ‘mala’ para um novo espectáculo. Se em Leiria Annarella Sanchez contribui para concretizar sonhos, foi na cidade do Lis, mais concretamente em Gândara dos Olivais, que esta cubana também alcançou o seu sonho, já lá vão mais de 20 anos.
De Cuba para Leiria e de Leiria para o mundo A paixão pela dança veio de Cuba, mas foi em Leiria que Annarella Sanchez transformou um sonho em realidade, mesmo perante o cepticismo de alguns, que não acreditavam que o ballet pudesse ser uma profissão. A aventura começou na Gândara dos Olivais, freguesia de Marrazes, concelho de Leiria, e é por lá que a antiga bailarina cubana ainda transforma pequenos aspirantes de ballet em bailarinos profissionais, como António Casalinho. Brasileiros, russos, espanhóis, italianos, franceses, romenos, gregos, alemães, ingleses, argentinos, norte-americanos, todos querem aprender com Annarella Sanchez e é no Conservatório Internacional de Ballet e Dança onde a magia acontece. A excelência desta escola mantém-se graças a um plano rigo-
Annarella Sanchez forma bailarinos há duas décadas em Leiria
roso de trabalho, muita dedicação e a renúncia a uma vida. O resultado está à vista. Dezenas de prémios nacionais e internacionais e o reconhecimento do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que recebeu a escola em
Belém e convidou a dar um espectáculo, no Natal do ano passado, ao corpo diplomático de mais de 75 países, acreditado no País. É no corpo de António Casalinho que nos últimos anos An-
narella Sanchez começou a ver reconhecido o seu trabalho. O jovem leiriense é um exemplo de sucesso do Conservatório e do trabalho da directora, com eco pelos quatro cantos do mundo. António Casalinho conta no seu currículo com uma das mais importantes distinções em competições internacionais, mas outros há na escola gerida através da Gândara dos Olivais que também levam para casa distinções, fama, reconhecimento e respeito. Para já, “a fase de pendurar medalhas ao pescoço passou”. A formação assume o papel principal num palco onde a felicidade transforma-se a cada passo ou pirueta, e onde a vontade de ir mais longe não conhece horários ou privilégios. A Annarella Sanchez junta-se um quadro de professores que
Ensinar ballet, transmitir a paixão pela dança, fá-lo diariamente junto de dezenas de alunos, que chegam a ter apenas seis anos. A palavra foi passando. Os prémios fizeram o resto. E o conservatório é hoje procurado por quem quer vingar no mundo da dança, como António Casalinho. Brasileiros, russos, espanhóis, italianos, franceses, romenos, gregos, alemães, ingleses, argentinos, norte-americanos, todos querem aprender com Annarella Sanchez. Mas, há duas décadas, as coisas eram bem diferentes, e Annarella Sanchez teve de lutar pelo reconhecimento que hoje lhe é prestado. Conta a cubana que as pessoas não acreditavam que o ballet pudesse ser profissão. Mas, apesar das contrariedades que sofreu, acabou por tentar, e hoje colhe os frutos dessa decisão. Continua a não ser fácil, reconhece, sobretudo pelo grau de exigência que dota às suas aulas. Nem todos nascem prodígio como António Casalinho, e mesmo este jovem bailarino teve de renunciar a uma vida para poder ter os resultados que estão à vista, explica. Para já, a fase de pendurar medalhas ao pescoço passou. Para os alunos, Annarella Sanchez diz que é uma motivação, sobretudo para os mais pequenos, porque é um incentivo. Mas, para a directora do conservatório, o mais importante é a formação. “E a melhor maneira de se formarem é participar em competições”.
compartilham a paixão pela dança, para além daqueles que são convidados pela directora para partilhar a sua experiência profissional e de vida, e que se deslocam de outros países para ajudar a encontrar o próximo novo talento. Se alguma vez foi intenção mostrar ao mundo a sua paixão ou partilhar uma das mais bonitas formas de expressão da arte, Annarella Sanchez conquistou o pódio da excelência e da qualidade de ensino, numa escola que começou com poucos alunos e que hoje recebe quase uma centena, e onde não se ensina apenas a dançar. É também uma escola de vida, que pretende formar futuros adultos com os valores da sociedade. O orgulho em levar o nome de Leiria além-fronteiras vai sempre na ‘mala’ de Annarella Sanchez de cada vez que parte com os seus pupilos para um novo espectáculo.
08 | Leiria
Especial Aniversário
David Fonseca: o ‘David Bowie português’ David Fonseca dispensa apresentações. A sua música fala por si, assim como o repertório, os êxitos, prémios, concertos. Mais de duas décadas a cantar e a tocar, num percurso que começou a dar os primeiros passos com os icónicos Silence 4 Estávamos em 1996 quando quatro amigos de Leiria se juntaram para formar uma das bandas mais icónicas portuguesas e aquela que viria a catapultar David Fonseca para o sucesso que hoje conhecemos. Os Silence 4 apresentavam-se em palco com músicas cantadas, na sua maioria, em inglês. David Fonseca (voz e guitarra), Sofia Lisboa (voz), Rui Costa (baixo) e Tozé Pedrosa (bateria) davam corpo e voz aos Silence 4, uma experiência realizada pelo grupo, ainda no início, quando Rui Costa sugeriu que se desligassem os amplificadores e tocassem naturalmente, mas para isso tinham todos de estar em ‘silêncio’. Mas, não foi fácil para o grupo divulgar o seu trabalho. Apenas em 1998, os Silence 4 são catapultados para o estrelato com a versão de uma música dos Erasure, ‘a little respect’, do álbum de estreia ‘Silence Becomes It’, que alcançou vários discos de platina, tendo ficado vários meses no top nacional. A banda passou por vários palcos nacionais, promovendo dezenas de concertos numa digressão que durou vários meses. Em Londres nasceu o segundo trabalho do grupo ‘Only Pai nis Real’, corria o ano de 2000. A banda acabaria por separar-se em 2001, enveredando os seus elementos por outras iniciativas. David Fonseca, por exemplo, lançou-se numa carreira a solo, tornando-se num sucesso incontornável da música portuguesa.
Radio Gemini é o título do último trabalho do cantor leiriense
A sua música fala por si, assim como o seu vasto repertório, os sucessivos êxitos, prémios, centenas de concertos ao longo das últimas duas décadas, uma legião de fãs que até originou uma comunidade ‘online’, os Amazing Cats’, e um respeito pela comunidade musical que muitos procuram. Paulo Mouta Pereira não tem dúvidas ao afirmar que os Silence 4 deram “naturalmente” um empurrão no arranque da carreira a solo de David Fonseca. “Havia um grande interesse em redor do David, tanto da parte do
público como da comunicação social, o que facilitou a divulgação do novo disco por parte das rádios, e o interesse dos promotores e agências na nova tour”, explicou o músico, que acompanha desde sempre David Fonseca, lembrando, contudo, que, no início da carreira a solo do cantor, não eram tocadas músicas dos Silence 4, “para desespero de alguns fãs”. Considerando que “o sucesso nunca é garantido, mas seria expectável”, Paulo Mouta Pereira refere que, durante 20 anos, David Fonseca “nunca abrandou o
ritmo, independentemente dos picos ou momentos mais calmos na sua carreira”. “Creio que a personalidade é uma característica constante. Sempre foi a mesma pessoa. Se, por um lado, existe o reconhecimento e apreço do público pela música e toda a parte artística, há, por outro lado, o ‘assédio’ dos fãs e a devassa da vida privada. Isso naturalmente obriga a uma mudança de comportamentos no dia-a-dia por uma questão de protecção”, explica. São mais de duas décadas sempre a cantar e a tocar. David
A música ‘camaleónica’ de David Fonseca São 20 anos sempre a cantar e a levar a sua melodia desde Austin, no Texas, Estados Unidos da América, até ao Japão, onde gravou o vídeo de um dos singles do seu último trabalho. Duas décadas de música, cuja voz começou por fazer ouvir-se no seio de um grupo de amigos que formou uma banda, mas depressa se percebeu que estava reservado muito mais para este ‘cantautor’, que gosta de inovar, reinventar-se, “fã gigantesco”, claro está, do camaleão David Bowie. Já sabe de quem falamos? David Fonseca dispensa apresentações.
A sua música fala por si, assim como o seu vasto repertório, os sucessivos êxitos, prémios, centenas de concertos ao longo das últimas duas décadas, uma legião de fãs que até originou uma comunidade ‘online’, os Amazing Cats’, e um respeito pela comunidade musical que muitos procuram. Português, inglês, rock ou pop, tudo tem servido para uma “espécie de transmissão radiofónica” que David Fonseca tem procurado abordar com vários géneros musicais e várias formas de fazer música.
David Fonseca é “fã gigantesco” do camaleão David Bowie
Começou com os Silence 4, em 1998, onde ‘emprestava a voz’ e a guitarra num grupo ainda composto por Rui Costa, Sofia Lisboa e Tozé Pedrosa. Depois da “explosão absurda” que foram os Silence 4, o percurso a solo de David Fonseca começou em 2003, com ‘Sing Me Something New’, onde explora novas facetas de compositor e intérprete, tocando praticamente todos os instrumentos deste disco. Até chegar a 2018, com ‘Radio Gemini’, o seu sétimo álbum, que assinala as suas duas décadas a cantar e a tocar. Este artista internacional na-
Fonseca já levou a sua música desde Austin, no Texas, Estados Unidos da América, até ao Japão, onde gravou o vídeo de um dos singles do seu último trabalho. Este ‘cantautor’ gosta de inovar, reinventar-se, é “fã gigantesco”, claro está, do camaleão David Bowie. Não será, por isso, de estranhar ser apelidado do ‘David Bowie português’. “Ele tem-se reinventado ao longo da sua carreira. Um pouco à imagem do Bowie, nunca se deixou ficar muito tempo no mesmo sítio, agarrado a uma ‘fórmula de sucesso’”, aponta Paulo Mouta Pereira. “Creio que o David nunca encarou a arte como um passeio domingueiro à beira-mar. Sempre procurou a música fora da sua zona de conforto. Isso sente-se nos temas, uma espécie de melancolia que está sempre presente, mesmo nos temas mais alegres”, acrescenta o músico. A letra, a música e a presença em palco são as principais razões para o sucesso de David Fonseca, mas Paulo Mouta Pereira entende que “é todo um processo que começa na composição das músicas, que passa pela gravação e edição dos discos”. “Uma vez terminada essa fase, há um esforço enorme de promoção por parte do artista, da agência e da editora. Depois os ensaios e preparação da tour com a banda e técnicos, e finalmente resumir tudo a duas horas de concertos incríveis”, explica, apontado, entre as muitas músicas favoritas de David Fonseca ‘Hoje eu não sou’, do álbum ‘Futuro eu’.
tural de Leiria, ‘self made artist’, fez a diferença no panorama musical português e não mais parou. Participou em vários projectos de parcerias. Ele próprio criou parcerias para as suas músicas. No Natal, por exemplo, não dispensa o ‘cover’, à maneira ‘David Fonseca’, de uma canção de Natal. E não podemos esquecer a paixão pela fotografia, que o levou a aceitar, recentemente, ser o curador de uma exposição de fotografia dedicada a David Bowie. Para quem quiser conhecer a ‘pegada’ no mundo da música, existe na página de Facebook de David Fonseca um vídeo de apenas dois minutos, que relembra uma história de sucesso com 20 anos.
10 | Opinião
Especial Aniversário
Região de Leiria: uma referência nacional da qualidade de vida das populações e da dinamização da economia local
Paulo Batista Santos Vice-presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria
A
Região de Leiria CIMRL é constituída por 10 municípios associados - Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós, desenvolvendo projetos inter e supra municipais de interesse comum. Uma região coesa, empreendedora, com-
petitiva, inovadora, atrativa, dotada de meios técnicos e humanos altamente qualificados, capazes de promoverem o empreendedorismo e a diferenciação da Região. De relevar ainda a aposta no desenvolvimento de parcerias com diversas entidades publicas e privadas quer dentro, quer fora do território, com destaque para as restantes Comunidades Intermunicipais do País, juntas de freguesias, instituições de ensino, Proteção Civil, associações locais e restantes entidades da sociedade civil da região. A Região de Leiria carateriza-se por uma fantástica diversidade com grande potencial para ser ainda mais ‘explorada’ nas vertentes cultural, turística, gastronómica, patrimonial, que importa valorizar e promover. É neste contexto que estamos a desenvolver atividades de captação de turistas e investidores para a Região, dando-lhes a conhecer as potencialidades e ‘oferecendo-lhes’ alternativas diferenciadoras de
possibilidades diversificadas de experiências de estadia e de investimento, convidando-os a permanecer e a investir na nossa região. A CIMRL é ainda um veículo de coordenação de meios e de esforços, apresentando uma região diversificada onde, de forma rápida, fácil e amigável, podemos ter acesso a: praia, pinhal, serra, rio, grutas, gastronomia, artesanato, património da humanidade, património natural e cultural, empresas de alta tecnologia, emprego, ensino profissional e superior altamente reconhecido e uma imensidão de produtos Made In Região de Leiria. Enfim, uma região ímpar e que muito tem para dar. Destaque para o vidro, os moldes, a pedra, os têxteis, a cerâmica, a cimenteira, a tecnologia de ponta, a produção animal, os produtos locais de qualidade, o artesanato, que aliados ao Turismo altamente qualificado e às atividades artísticas de renome, tornam a Região numa das mais atrativas e dinâmicas do País.
Esta Região tem sabido capitalizar as suas riquezas, valorizando as suas gentes, as suas empresas, as suas instituições, os seus produtos, a sua diversidade, criando laços muito estreitos entre os 10 municípios, que lhes tem permitido desenvolver importantes projetos intermunicipais e supramunicipais em prol da melhoria da qualidade de vida das suas gentes e do seu território. A Região de Leiria é também sinónimo de diversidade consistente de projetos e atividades de diversas áreas, que respondem às efetivas necessidades sentidas na região e no país, a nível social, económico e financeiro, educativo, cultural, patrimonial, turístico e de segurança, sempre numa ótica de proximidade com os principais atores públicos, privados e associativos da Região. Esperamos por si! Visite e Invista na Região de Leiria
(artigo escrito com o novo acordo ortográfico)
12 | Opinião
Especial Aniversário
Oeste continua um mundo por descobrir
Pedro Folgado Presidente da Comunidade Intermunicipal do Oeste
N
o Oeste, somos bairristas, defendemos o que é nosso com orgulho e com carinho, e vendemos ao mundo que a nossa galinha é sempre melhor do que a da vizinha. E se é verdade que este é um exercício muito português, é também verdade que é muito salutar, e é ainda verdade que no caso do Oeste, a nossa galinha é realmente melhor que a da vizinha. Perto de Lisboa o suficiente para tirar
partido das suas infraestruturas e da sua escala, mas longe o suficiente para ser, com igual facilidade, um destino de um dia ou o local onde passar uma semana de férias em família com uma paleta variada de destinos e de atrativos à mão de semear, o OESTE continua um mundo por descobrir junto de quem o visita. A região Oeste distingue-se de outras regiões por inúmeros motivos, e desde logo pelo turismo. É uma região na qual os municípios estão ligados sob a perspetiva administrativa a vários distritos, em territórios muito vastos e díspares, mas complementares, começando às portas de Lisboa com Alenquer e Arruda, e terminando já muito próximo de Leiria, com a Nazaré e Alcobaça a confinarem com este distrito. Nenhuma outra região terá em simultâneo, uma frente de mar capaz de oferecer destinos balneares e cénicos, com o mais fresco peixe MADE IN Portugal e equipamentos hoteleiros para todos os gostos. Por toda a região, o património histórico e o edificado é riquíssimo (Alcobaça e Óbidos), albergando inúmeras
instalações religiosas e militares do passado (Sobral e Arruda), classificadas com particular importância nacional e internacional. Não podemos esquecer, contudo, todo o potencial para desportos náuticos que a nossa região vem mostrando, onde tem existido particular afirmação de Peniche com o campeonato do mundo de Surf, e da Nazaré com as competições BIG WAVE CHALLENGE. Também em termos económicos somos uma região especial, onde a expressão MADE IN OESTE faz particular sentido com os nossos clusters competitivos e com largas economias de escala a funcionar. O setor primário continua a ter um papel muito importante na região, garantindo emprego e desenvolvimento económico, muito apoiado nas condições excecionais da região. São exemplo disso o setor Agroindustrial onde, a fruta (maçã de Alcobaça e pera-rocha de Cadaval e Bombarral) o vinho (em Alenquer e Torres Vedras), os hortícolas (Lourinhã), as pescas em toda a orla costeira. O vinho é neste momento um grande
atrativo turístico, nomeadamente através de atividades eno-turísticas. A procura por este tipo de ofertas tem vindo a crescer continuadamente, alavancada pela qualidade dos nossos vinhos, reputados internacionalmente, e pela beleza do nosso território, onde não faltam vinhas que parecem tiradas de uma tela, contendo quintas seculares com reconhecida importância histórica. Muito do nosso melhor vinho é exportado, o que desencadeia também nos consumidores do norte da Europa e da Europa central o desejo de conhecer as encostas onde aquele néctar ganhou vida. Este é um efeito âncora muito importante, que acaba por fazer com que estes mesmos turistas acabem por conhecer toda a região Oeste, gerando laços que levam à repetição do destino. Ainda assim, a maior riqueza deste território são as pessoas MADE IN OESTE, que recebem como ninguém, são trabalhadoras, empreendedoras e resilientes, e são sem dúvida o motor da região.
(artigo escrito com o novo acordo ortográfico)
Alcobaça | 13
“Seremos sempre uma marca ‘Made In’ Alcobaça e por consequência do distrito” Um dos ‘rostos’ da banda The Gift, Nuno Gonçalves, diz não ter dúvidas que o grupo é uma “marca' de Alcobaça, onde foram dados os primeiros acordes, mas também do distrito. Com 25 anos de carreira, os alcobacenses vão continuar a produzir música pelo sinal positivo dado pelo mercado musical “Seremos para sempre uma marca ‘Made In’ Alcobaça e por consequência do distrito de Leiria. O início não se pode considerar turbulento, talvez mais custoso do que o normal. Sempre acreditamos na música que fazíamos e, sobretudo, no público que sabíamos existir para a nossa música”. “Foi e ainda continua a ser esse o grande segredo”. É assim que um dos ‘rostos’ dos The Gift, Nuno Gonçalves, define a dimensão que o grupo de amigos, que se conhecem desde crianças, ganhou desde que tocam juntos há 25 anos. Nuno Gonçalves considera os The Gift “uma banda de carreira”, numa altura em que diz ter “a sensação de que de 10 em 10 minutos podem ser formados
Banda alcobacense nasceu em 1994
novos sucessos, novos fenómenos”, mas entende que o mais importante “é manter uma carreira durante 20 ou 25 anos”. “Os Gift não se repetem, tentamos e conseguimos ter mercado lá fora, nunca existiram fronteiras na nossa música. Fazemos regularmente discos novos, digressões diferentes umas das outras, esteticamente tentamos sempre superar o que queremos para nós. Mas sempre assente na ideia de seguir em frente”, frisa Nuno Gonçalves (teclista, compositor). A completar este elenco de ‘luxo’ está ainda Sónia Tavares (voz, letras), Miguel Ribeiro (baixo, guitarra) e John Gonçalves (sintetizador, baixo) - irmão de Nuno Gonçalves. O percurso percorrido pela
14 | Alcobaça banda nos últimos 25 anos, com particularidades muito próprias, é justificado por Nuno Gonçalves com o facto de os quatro amigos “terem sido fieis aos seus valores, aos ideais dos miúdos”, que tinham quando começaram em 1994. “E fieis aquilo que achamos ser intocável, a nossa vontade enquanto artistas”, sublinha. Sobre o papel que os The Gift têm dado para que a banda continue a ser uma referência no contexto regional, nacional e uma marca 'Made In Leiria', Nuno Gonçalves diz que “invariavelmente” a cidade de Alcobaça “associa-se aos The Gift”. “Uma ligação que nos orgulha muito”, frisa. “Temos muitas ideias para juntar cada vez mais àquilo que os The Gift são, com aquilo que Alcobaça representa para nós”, adianta Nuno Gonçalves. E o músico explica como o potencial e a projecção que a banda ganhou pode reforçar ainda mais a sua posição no mundo musical e ser cada vez mais uma referência no distrito de Leiria. “A partir do momento em que existe uma moda, um movimento, um sonoridade ou uma maneira de ver a região de Leiria como pólo criativo, é, para mim, obviamente
Especial Aniversário
Banda de Alcobaça continua a ser uma referência regional, nacional e uma marca 'Made In Leiria'
fruto também do nosso trabalho”, mas também “como agentes de promoção de outros projectos”. “Somos mais que família. Isso é, sem dúvida, uma mais-valia” Nuno Gonçalves diz não ter dúvidas que o facto de a banda ser uma 'marca' reforça “ainda mais a identidade do distrito”, fruto não só do trabalho do grupo, mas
também “da forma como os habitantes da região também ajudam a manter o nome de pé”, não só pela ida aos espectáculos realizados em vários pontos do País, como “pela promoção nas redes” das suas músicas. Para o sucesso da banda, que se tem afirmado cada vez mais no mundo da música e nos últimos anos como uma marca de referência no panorama musical, Nuno Gonçalves tem uma única explicação: “Somos
Nuno Gonçalves diz não ter dúvidas que o facto de a banda ser uma 'marca' reforça “ainda mais a identidade do distrito”
amigos desde os quatro, cinco anos. Somos mais que família. Isso é, sem dúvida, uma maisvalia”. Em relação ao foco da banda no futuro, num contexto cada vez mais competitivo do mundo artístico/musical, o músico alcobacense considera “que o importante” é estarem “mais vivos que nunca”, produzindo “discos com regularidade, concertos únicos e canções que marquem a vida das pessoas”. “Não trocava a carreira dos Gift por nenhum 'comeback' que agora está na moda. Não desistir é sempre melhor que desistir e voltar, ainda que mascarados de heróis. Quero ser fiel à minha música, quero ser fiel àquilo que éramos quando começámos, de Alcobaça para o mundo”, diz Nuno Gonçalves. “Estamos felizes com a carreira, mas também acho que estamos com força e energia física para aguentar mais anos, desde que haja música nova para fazer e editar”, adianta Nuno Gonçalves. “Viver do passado é para os que desistiram”, sublinha ainda o músico, deixando a garantia que a estratégia futura da banda em termos de produção musical passa pela Europa e América do Norte.
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Especial Aniversário
The Gift: ‘património’ de Alcobaça que alcançou palcos do mundo Deram o primeiro concerto no Mosteiro de Alcobaça, em 1995. Dois anos depois, lançaram o primeiro disco de originais, ‘Digital Atmosphere’. Sem edição comercial, serviu, sobretudo, para mostrar o trabalho da banda. O álbum não conquistou as editoras, mas teve um enorme sucesso entre o público e nos media, servindo como impulso para uma carreira que, desde que subiu ao palcos, já está a caminho de completarem 25 anos. Sónia Tavares (voz, letras), Nuno Gonçalves, (teclista, compositor), Miguel Ribeiro (baixo, guitarra) e John Gonçalves (sintetizador, baixo) são os The Gift. A banda alcobacense nasceu em 1994, e o grupo de amigos tinha na altura idades compreendidas entre os 16 e os 21 anos. Hoje, todos os portugueses os conhecem e muito público internacional também. Um feito alcançado com a edição de autor de oito álbuns de originais - Di-
A comemorarem 25 anos de carreira, os The Gift são uma das maiores certezas da música nacional
gital Atmosphere (1997), Vinyl (1998), Film (2001), AM-FM (2004), Explode (2011), Primavera (2012), 20 [anos; 2015] e Altar (2017) – a que se junta a edição ao vivo de Fácil de Entender (2006), bandas sonoras, quatro edições em vídeo (VHS e DVD),
duas das quais como documentário, e até dois livros (The Gift a single diary : fotografias no âmbito do Vinyl tour, por Ana Pereira, edição de 2000, e The Gift ‘20’: a história dos 20 anos da banda de Alcobaça, por Nuno Galopim, em 2015).
A tudo isso juntam-se centenas de espectáculos no País e no estrangeiro, e, claro está, vários prémios, como o de melhor banda portuguesa no MTV Europe Music Awards, com o álbum ‘AM-FM’, em 2005. No mesmo ano ganharam o Prémio Arco-
íris, entregue pela Associação ILGA Portugal, reconhecendo o contributo da banda na luta contra a discriminação e homofobia. Em 2011, o site ‘Art Vinyl’ elegeu o disco Explode uma das melhores capas do ano, alcançando o 27.º lugar numa lista de 50 melhores capas, que inclui bandas como os Coldplay e The Strokes. A comemorarem 25 anos de carreira, são uma das maiores certezas da música nacional. 'Verão' é como se intitula o novo álbum da banda de Alcobaça, lançado no primeiro semestre do corrente ano e apresentado na digressão nacional 'The Gift Primavera/Verão 2019'. Em Outubro 1999, ainda longe do sucesso que viriam a alcançar, Sónia Tavares afirmou, nos bastidores do Teatro José Lúcio da Silva, por ocasião da Gala da Rádio Clube de Leiria: “Acho que demos um pedradinha pequenina na música nacional e uma grande pedrada às editoras, pois não temos nenhuma por trás do nosso trabalho”. A banda estava a ser premiada como a grande revelação musical do ano. Um ADN que se manteve ao longo dos anos.
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Especial Aniversário
Mosteiro de Santa Maria: uma “referência do 'Mundo Cisterciense'” Directora do Mosteiro de Santa Maria, em Alcobaça, destaca o “reforço da identidade do monumento enquanto espaço de referência do 'Mundo Cisterciense'”. É ‘Património Mundial da Humanidade’ e é a sua identidade “que o torna único” O Mosteiro de Alcobaça é um dos monumentos portugueses mais emblemáticos, é uma ‘marca’ patrimonial distintiva do distrito de Leiria, pela sua importância histórico-arquitectónica e, sobretudo, por estar classificado pela UNESCO como ‘Património Mundial da Humanidade’. Dada a dimensão nacional e além-fronteiras do Mosteiro de Santa Maria, Ana Pagará refere que a história do monumento está “intimamente ligada à fundação da nacionalidade e à Monarquia portuguesa ao longo dos séculos, em especial, aos reis e às rainhas da primeira dinastia, que escolheram o Mosteiro de Alcobaça para seu locus sepulcral (local para serem sepultados)”. “Aliás, merecem especial referência as suas magníficas arcas tumulares, um dos maiores focos de atracção do monumento, por serem os expoentes máximos da arquitectura funerária medieval em Portugal e do melhor que se produziu na Europa. Enquanto conjunto arquitectónico cisterciense, é de realçar o facto de manter a sua integridade, preservando a sua igreja de acordo com a sua concepção inicial”, explica a directora do monumento, destacando a Igreja Abacial como a “que mais se evidencia, por ser a terceira maior a ser construída
um dos conjuntos arquitectónicos legados pela Ordem mais completos, mais identitários e melhor preservados de toda a Europa”, num universo de quase duas mil abadias construídas desde a Suécia à Itália e de Portugal à Polónia; e, por outro lado, o facto “de ter sido reconhecido pela UNESCO como uma obraprima do Espírito Humano e como um exemplo extraordinário daquilo que foi a arquitectura e o saber tecnológico dos cistercienses na Idade Média”.
Mosteiro de Santa Maria data do século XII (1178)
no seio da Ordem de Cister e a segunda maior subsistente”. Para Ana Pagará, a importância do monumento tem de ser vista de duas perspectivas: ao nível regional, porque foi “ao longo dos seus quase sete séculos de existência”, enquanto mosteiro da Ordem de Cister, “um dos maiores promotores do ordenamento do território, com realce para o forte desenvolvimento agrícola que potenciou” e por ter sido um “pólo irradiador de cultura ao mais alto nível, aspecto
Mosteiro assumiu, sobretudo após a extinção das Ordens Religiosas (1834), um papel fulcral na vida dos alcobacenses
que ultrapassou fronteiras pela Europa fora”. “Hoje constitui um dos maiores pólos de atractividade turístico-cultural da região Centro, pela sua importância históricoarquitectónica e artística, bem reconhecida internacionalmente, para o que contribui fortemente o facto de ser Património Mundial”, frisa a directora. No que respeita à dimensão internacional, destaca-se por “ser um ícone da arquitectura cisterciense, subsistindo como
“Pólo de atracção cultural e turístico de dimensão mundial” Segundo Ana Pagará, o mosteiro, sobretudo após a extinção das Ordens Religiosas (1834), assumiu um papel fulcral na vida dos alcobacenses, “o que se justifica não só pela sua forte presença na paisagem, enquanto elemento estruturante da própria cidade, e papel na história local e nacional, como também pelos quase 700 anos de permanência de uma comunidade monástica de clausura”, pelo facto de não ser permitido “o acesso livre da população ao seu interior, ao contrário do que aconteceu no Convento da Batalha”. “Na contemporaneidade, é de realçar o facto de o monumento
18 | Alcobaça se ter tornado um pólo de atracção cultural e turístico de dimensão mundial, sobretudo nos últimos 30 anos, fenómeno que implicou um processo crescente de confrontação da comunidade de Alcobaça com a presença de milhares de visitantes oriundos de todas as partes do mundo”, sustenta Ana Pagará, acrescentando que “o sentimento de pertença se fortaleceu com esta realidade”. A responsável entende ainda que “são as comunidades locais que devem, em primeiro lugar, contribuir o mais possível para a boa conservação deste património, de forma a que as gerações vindouras possam vir a usufruir do mesmo, nas melhores condições possíveis”. A forma como o patrimonial e o arquitectónico podem reforçar ainda mais o monumento passa, segundo Ana Pagará, “por continuar a fortalecer a ligação com a comunidade científica, procurando incentivar a produção de conhecimento, base de toda e qualquer ação de conservação, divulgação e promoção do património”, fazendo a “sua divulgação” ao público em geral, “através da realização de colóquios, congres-
Especial Aniversário
Monumento está classificado pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade
sos, ciclos de conferências, visitas orientadas e publicação de livros”. “A actual estratégia de gestão em curso baseia-se na afirmação e no reforço da identidade do monumento enquanto espaço de referência do 'Mundo Cisterciense' e na assunção plena do seu estatuto de bem inscrito na Lista do Património Mundial. É de facto a
sua identidade que o torna único”, reforça a directora do monumento, um dos 'ex-libris' de Alcobaça. Nesse sentido, Ana Pagará adianta que a Direcção-Geral do Património Cultural “tem desenvolvido um grande esforço no sentido da preservação dos valores de integridade e de autenticidade, assente num “especial rigor
não só ao nível das intervenções físicas (conservação e restauro), como também ao nível do seu usufruto e da sua utilização para outros fins que não os culturais”. Por outro lado, refere que, “pela sua inquestionável importância, ainda hoje, no contexto da Europa Cisterciense”, tem-se “vindo a fortalecer o posicionamento” do Mosteiro de Alcobaça
na Rota Europeia de Abadias Cistercienses/ Itinerário Cultural do Conselho da Europa. “É, de facto, a tomada de consciência da sua importância patrimonial que permite ao visitante e à comunidade local consciencializaremse que também têm um papel activo a desempenhar na sua salvaguarda, enquanto herança colectiva que deverão passar às gerações vindouras”, afirma a directora do monumento. O facto de o monumento estar classificado pela UNESCO “reforça ainda mais essa marca e identidade no distrito de Leiria, apesar de ter caído numa certa banalização (está na ‘moda’), a marca UNESCO continua a ser a mais alta distinção que se pode obter ao nível do Património, quer material, quer imaterial”. Para Ana Pagará, o Mosteiro de Alcobaça destaca-se em relação a outro património cultural do distrito de Leiria pelas “suas características únicas e distintas, pela identidade própria em que se filia – o Mundo Cisterciense”. Nesse sentido, afirma que o Mosteiro de Santa Maria “é o monumento mais 'europeu'” no distrito de Leiria.
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Mosteiro de Alcobaça ‘guarda’ mais de 800 anos de história O Mosteiro de Alcobaça é um dos mais importantes roteiros turísticos da região de Leiria e do País, no que se refere ao património secular edificado. Com nome da santa - Santa Maria -, é uma referência obrigatória do turismo nacional, como comprova a classificação que lhe é atribuída pela UNESCO: ‘Património Mundial da Humanidade’. Edificado em 1178, o Mosteiro de Santa Maria (do século XII) é, por si só, motivo maior de uma visita. Fundado pela Ordem de Cister, em cumprimento do voto de doação feito por D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, quando da conquista de Santarém aos Mouros, é mais novo quase 200 anos do que o monumento da Batalha (Mosteiro de Santa Maria da Vitória), também património UNESCO. Foi construído no vale fértil dos rios Alcoa e Baça e reproduz o modelo da Casa-Mãe de Claraval, em França, onde sobres-
Mosteiro de Santa Maria foi fundado pela Ordem de Cister
saem, no estilo barroco, duas imponentes torres, na frente do monumento, que da fachada original apenas resta o portal, a rosácea e dois janelões. A idade do mosteiro da cidade de Cister não impede de nos transportar pelo tempo, onde apenas faltam os cânticos dos monges. A nave central da Igreja é um dos traços que mais impressiona quem visita o Mosteiro de Alcobaça, dado a profundidade e a altura das abóbadas de ogivas. Com informação detalhada à entrada de cada sala, são inúmeros os exemplos que apelam à vista, nomeadamente a Sacristia Joanina, o Refeitório, a Cozinha, a Sala dos Monges, o Dormitório, o Parlatório, a Sala do Capitulo e a Antiga Sacristia. A par dessas divisões, localizadas para lá da porta da Sala dos Reis, não podemos, nem devemos, passar a lado de uma visita aos túmulos de D. Pedro I e de D. Inês de Cas-
tro, nas capelas laterais do transepto, assim como à Sacristia Manuelina e à Sala dos Túmulos, onde estão sepultados D. Afonso II, D. Afonso III, as suas rainhas e infantes. A Capela das Relíquias é outro dos pontos de interesse do monumento, onde tem realce a cobertura de talha dourada no local da actual sacristia. As salas do Capítulo e dos Monges são as valências que assumem particular destaque no que toca às dependências do Convento, onde é ainda de visita obrigatória a cozinha do século XVIII e um refeitório. No mesmo ‘roteiro’ não pode passar despercebido a Sala dos Reis, espaço que guarda ‘ricos’ painéis de azulejo e estátuas de barro de monarcas portugueses. No exterior do Mosteiro de Santa Maria – mas com acesso pela porta do corpo sul do transepto – encontra-se a Capela de Nossa Senhora do Desterro, uma obra do século XVIII, igualmente de visita obrigatória. Motivos, todos eles, mais que suficientes para uma ‘viagem’ com mais de 800 anos de história.
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Maçã de Alcobaça “prestigia e valoriza o território” da região Quando nos referimos a Alcobaça é inevitável falarmos da sua maçã, fruto que tem ganho cada vez mais espaço no mercado. Organização de Produtores do Hortofrutícolas do Oeste define-o como “um importante factor de equilíbrio económico, ambiental e social da região” “Alimento perfeito e dos mais saudáveis do mundo”. É assim que Jorge Soares, um dos responsáveis pela Organização de Produtores Hortofrutícolas do Oeste, define a Maçã de Alcobaça, uma marca distintiva no distrito de Leiria e um produto qualificado, diferenciado, prestigiado, certificado e valorizado pelo “rigor” dos seus produtores. Considerando a Maçã de Alcobaça como “um importante factor de equilíbrio económico, ambiental e social da região”, Jorge Soares salienta que as áreas geográficas onde o fruto é produzido - no Centro e Sul do distrito de Leiria –, “num vasto território bem ordenado, bem cuidado e ocupado pelos mais modernos pomares da Europa, constitui uma forma sustentável de valorização do território regional e das suas populações rurais”. “Do ponto de vista da qualidade do produto, da imagem dos intervenientes e da notabilidade da Maçã de Alcobaça IGP (Indicação Geográfica Protegida), apesar de não ser o sector que economicamente mais representa na região, é com certeza daqueles que mais prestigia e valoriza o território, dado o equilíbrio do processo produtivo, o contributo saudável para a alimentação humana e o im-
Maçã de Alcobaça é produzida na região Litoral Oeste
pacto positivo que proporciona no ambiente, no que se refere aos ecossistemas bio-funcionais”, explica o responsável pela Compotec. Jorge Soares acrescenta que o “conceito” Maçã de Alcobaça tem uma produção nacional entre os 100 e os 150 milhões de quilos, equivalente a um valor para a economia superior a 100 milhões de euros. dos quais cerca de 25% já destinado à exportação, e cerca de 50% destinado à distribuição
moderna em Portugal. Razão pela qual Jorge Soares refere que o fruto “ocupa um lugar de destaque” na importação, “gerando mais de cinco mil postos de trabalho especializados, dos quais mais de 20% com formação técnica superior”. “Pode-se afirmar que estarmos perante um sector com importância relevante na região e com futuro”, acrescenta. O responsável destaca as principais características da Maça de Alcobaça, que lhe valeram em
1994 a distinção de Indicação Geográfica Protegida (IGP), pelo seu sabor agridoce distinto, aromas fortes e coloração Intensa viva, influenciada pelas condições climáticas, a Oeste das Serras dos Candeeiros e de Montejunto, e pela elevada fertilidade dos solos em evolução desde o Jurássico Superior e Neo- Jurássico. “Estamos verdadeiramente perante um fruto e um alimento de enorme valor nutricional e de enorme valor funcional, de uma
nobreza tal que lhe permite ir para além de um fruto. A alguns dos seus produtores aproveitam as suas qualidades mais nobres como ingrediente riquíssimo para desenvolverem diferentes produtos tecnológicos também de elevada qualidade, mas de elevada comodidade de consumo”, destaca o responsável da Campotec. Como principais particularidades da marca 'Maçã de Alcobaça', Jorge Soares explica tratar-se de “um dos alimentos naturais mais ricos e mais completos do mundo, com a particularidade de ser produzido com as mais inovadoras técnicas ambientais e nas condições naturais do território histórico”. Uma característica que faz do fruto “um dos alimentos mais equilibrados, mais agradáveis, mais natural e dos mais saudáveis do mundo, com marca regional e com marca de certificação”. É devido a este leque alargado de particularidades e à forma como os consumidores tem aderido cada vez mais, que a Maçã de Alcobaça “é diferente dos restantes” e “é substituído por outras maçãs do mundo e por outros produtos”. “Elemento diferenciador” e “marca referência” O papel dos produtores alcobacenses que na óptica de Jorge Soares “tem sido invulgar” no uso das técnicas adequadas na produção da Maça de Alcobaça, mas também a orientação das diversas Organizações de Produtores de maçã, “tem feito um enorme esforço de modernização, de alavancagem e de divulgação da Maça de Alcobaça IGP,
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enquanto marca colectiva e marca da sua terra”, contribuem para que o produto seja um “elemento diferenciador”. “Para continuar a ser uma marca referência é fundamental a comunidade regional dar-lhe o devido valor e reclamar para o seu desenvolvimento, as condições mínimas que uma sociedade deve proporcionar a quem produz alimentos saudáveis: zela pelo ambiente, cuida e organiza o espaço rural e gera empregos e gera impostos para a sociedade”, sublinha o responsável pela Organização de Produtores do Hortofrutícolas do Oeste. Jorge Soares diz não ter qualquer tipo de dúvida de que o facto de a Maça de Alcobaça “ser uma marca” reforça ainda mais a sua identidade, “porque os promotores e gestores da Maça de Alcobaça IGP quiseram e querem que esta seja uma marca colectiva”, simultaneamente “uma marca regional e uma marca institucional”. “E por essas razões é uma marca eterna que ficará geração após geração, como por exemplo, e só a título de paralelismo, como já acontece com o vinho do Porto”, conclui Jorge Soares.
Maçã de Alcobaça: o fruto que não é proibido e conquista novos mercados Casa Nova’, ‘Fuji’, ‘Golden Delicious’, ‘Granny Smith’, ‘Jonagold’, ‘Pink’, ‘Reineta’, ‘Red Delicious’ e ‘Royal Gala’. Não faltam variedades de Maçã de Alcobaça, produto que é hoje uma marca incontornável do concelho alcobacense e da região litoral Oeste. Sem gorduras e uma “excelente” fonte de fibra, a Maçã de Alcobaça está qualificada como Indicação Geográfica Protegida (IGP), mas antes de ser um produto tradicional qualificado a sua história tem séculos. A produção da Maçã de Alcobaça passou de geração em geração, atravessando um vasto grupo de fruticultores, que com o tempo foram aplicando as mais modernas tecnologias na sua produção, obtendo mais qualidade do produto e segurança alimentar. Actualmente, esta fruta é produzida com recurso a sistemas de protecção e produção integrada, o que permite o consumo da maçã por inteiro, ou seja, a
Fruto está qualificado como IGP
polpa e a casca. As diferentes variedades de Maçã de Alcobaça partilham características nutricionais comuns, mas cada maçã tem uma composição nutricional distinta. Sendo um produto nacional, a Maçã de Alcobaça é produzida nos concelhos do Litoral Oeste e desde 1994 que está qualificada como IGP pelo Ministério da Agricultura e pela União Europeia, que reconhecem que as maçãs produzidas nesta região possuem “características dis-
tintas e que reúnem condições ímpares para a produção de maçãs de elevada qualidade”. Além de ser um alimento natural, tem uma composição nutricional equilibrada e muito rica em minerais, como potássio e cálcio, é um dos frutos mais ricos em vitamina C e actividade antioxidante, entre outras características benéficas à saúde. Dos 50 milhões de quilos que os produtores de Maçã de Alcobaça estimavam colher este ano, apenas foram produzidos “40 milhões de quilos, na maioria com calibres mais pequenos do que os habituais”, disse, recentemente, o presidente da Associação do Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA), Jorge Soares, assegurando, contudo, que se mantém “o sabor e a dureza” característicos da maçã qualificada como IGP. Por outro lado, apesar daquela quebra, a APMA estima que a comercialização da Maçã de Al-
cobaça movimente “entre 35 a 40 milhões de euros”, dos quais a maior 'tranche' deverá corresponder ao mercado nacional. Inglaterra, Brasil, Irlanda, Emirados Árabes Unidos, Cabo Verde e Angola vão manter-se como os principais países para onde a maçã de Alcobaça será exportada, mas, pela primeira vez, a maçã IGP está a comercializada em Espanha, facto que acontece desde este mês. O novo mercado surge no âmbito da relação entre a APMA e uma cadeia de supermercado, que nos últimos 10 anos contabilizou “mais de 20 mil toneladas vendidas” em Portugal, divulgou a associação. Se a qualidade e o bem nutricional são factores de distinção da Maçã de Alcobaça, os números associados a este produto ‘made in’ região de Leiria também explicam o seu sucesso: a sua produção anual representa um volume de negócios que ronda os 60 milhões de euros.
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Chícharo é “marca identitária de Alvaiázere e das suas gentes” Chícharo é uma leguminosa seca que tem projectado o concelho de Alvaiázere no País e no mundo e cada vez mais tem mais adeptos É pequeno, acastanhado, tem uma forma irregular e, muitas vezes, é confundido com o tremoço e com o grão-de-bico, mas distingue-se pelo seu paladar suave e aveludado. O chícharo é uma leguminosa seca que começa, cada vez mais, a fazer parte da ementa dos portugueses, que o confeccionam das mais variadas formas. Apesar de não ser um produto exclusivo de Alvaiázere, o chícharo torna-se, em alguns momentos do ano, ‘rei’ naquele concelho, que se torna a ‘Capital do Chícharo’, com o intuito de promover a leguminosa. “Não sendo um exclusivo do nosso concelho, o chícharo é claramente uma marca identitária de Alvaiázere e das suas gentes. Desde os já longínquos tempos em que saciava a fome as mais pobres e ao mesmo tempo azotava os olivais de onde vinha outro nosso produto endógeno de elevada qualidade, o azeite, até aos dias de hoje, onde é considerado um produto gourmet e é utilizado de forma inovadora na cozinha, o chícharo e a sua história, estão intrinsecamente ligados a Alvaiázere, às suas gentes e à sua gastronomia”, afirmou ao nosso jornal o presidente da direcção da Confraria do Chícharo, Paulo Silva.
Chícharo é uma leguminosa seca que pode ser confeccionada de várias maneiras
Para o responsável, “com uma notoriedade claramente em ascensão, a procura pelo chícharo e pela sua gastronomia atraem cada vez mais gente a Alvaiázere, potenciando, assim, a restauração e hotelaria locais, bem como o comércio de todos os outros produtos endógenos, de elevada qualidade, tais como, o azeite, o vinho, o mel, as ervas aromáticas”, entre outros. “Num território de baixa densidade, como o nosso, a presença de gente de fora é claramente
uma mais-valia e uma grande oportunidade para a economia e comércio locais. Para além disso, esta notoriedade do chícharo potencia também a venda, para o país e o estrangeiro, de todos os nossos produtos endógenos, abrindo assim novas perspectivas de negócio para os nossos produtores”, frisa o presidente da confraria. Paulo Silva acrescenta ainda que “o chícharo já é e pode vir a ser ainda mais um produto ancora para Alvaiázere, potenciando a
economia local através da comercialização de uma vasta panóplia de produtos endógenos de elevada qualidade e da restauração e hotelaria”. “Se aliarmos a tudo isto um vasto património natural de elevada beleza e uma rica história e cultura de toda esta região, o chícharo e tudo o que a ele está ligado, será um factor diferenciador e uma grande mais valia, não só para o concelho de Alvaiázere, mas também para toda a região de Leiria”, referiu o con-
frade do chícharo. Para Paulo Silva “vencida que está a ‘batalha’ do desconhecimento do chícharo”, e considerando que agora “cada vez é mais difícil encontrar alguém que ainda não saiba o que é”, o “próximo desafio” será “o de pôr mais gente a cozinhar o chícharo”. “Para tal, pode contribuir uma maior divulgação das suas características nutricionais e o facto de ser um produto extremamente completo e muito saudável, muito rico em proteínas e sais minerais, completamente compatível com um estilo de vida saudável que cada vez mais procuramos hoje em dia”, destaca o responsável. Doçaria é grande inovação do chícharo A doçaria é, segundo Paulo Silva, “a área onde têm aparecido o maior número de novos pratos”, se se comparar “com as formas mais tradicionais de cozinhar o chícharo”, e o responsável aponta elementos gastronómicos como “o gelado de chícharo, para além de todos os bolos, pastéis e tartes”, além do “premiado licor de chícharo e a cerveja artesanal de chícharo”, que considera serem as principais inovações feitas com a leguminosa. “Depois de praticamente ter desaparecido da mesa e da vida das pessoas”, desde a criação do festival do chícharo que este se “tem afirmado cada vez mais como uma presença habitual nas ementas das famílias, não só em Alvaiázere, mas também um pouco por toda a parte. Nota-se também uma curiosidade crescente na produção do chícharo e há cada vez mais gente a querer experimentar a sementeira, es-
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sencialmente para auto-consumo”, afirma o presidente da confraria. Tendo como “principal objectivo a divulgação do chícharo e do património do concelho de Alvaiázere”, a confraria tem promovido “vários tipos de iniciativas, desde logo e de uma forma mais regular, a participação em capítulos e eventos de outras confrarias e da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, um pouco por todo o País”, sublinha. “Destaco ainda as deslocações à Ilha do Porto Santo, onde a confraria tem sido parceira das entidades locais, na tentativa de reintrodução do chícharo na ilha, onde a nossa leguminosa já teve uma grande importância no passado, não só ao nível do consumo, mas também da produção”, exemplifica o confrade. A confraria é, também, “co-organizadora do Festival Gastronómico ‘Alvaiázere Capital do Chícharo’”, que é, para Paulo Silva, “um dos expoentes máximos da divulgação e promoção do chícharo, que atrai milhares de pessoas” ao concelho, “com o intuito de conhecerem e provarem o chícharo” e a gastronomia local.
Chícharo: a leguminosa que põe Alvaiázere nas ‘bocas do mundo’ Quer seja em licor, nas sopas, pudins, bolos ou até mesmo a acompanhar uma refeição, o chícharo tem vindo a ganhar simpatizantes de todo o mundo e tem sido motivo de diversos certames, como, por exemplo, acontece em Alvaiázere, um território que tem levado aquela leguminosa ‘além-fronteiras’ e criado apreciadores em todo o mundo. Anualmente, aquele concelho, na região Norte do distrito de Leiria, transforma-se na ‘Capital do Chícharo’, um certame que, este ano, teve lugar entre os dias 11 e 13 de Outubro, com uma mostra económica com tasquinhas gastronómicas e diversas actividades. A iniciativa integrou ainda a 39.ª FAFIPA – Feira Agrícola, Florestal, Industrial, Pecuária e de Artesanato, bem como o 17.º Festival Gastronómico do Chícharo. O seu destaque é de tal forma grande que foi criado o Licor de
Uma vez por ano Alvaiázere transforma-se na ‘Capital do Chícharo’
Chícharo d’Alvaiázere, com o intuito de dignificar e divulgar aquela leguminosa, projectando o território no panorama nacional e internacional. Acredita-se que esta leguminosa seca, de forma irregular e cujo aspecto se assemelha ao grão-de-bico e ao tremoço, e
rica em proteínas, sais minerais e hidratos de carbono, tenha as suas origens no Mediterrâneo Oriental e que terá sido introduzida em Portugal pelos árabes. Apreciado pelas pessoas das aldeias serranas das beiras, onde abundam as rochas cal-
cárias e o terreno é mais árido, o chícharo não necessita de muitos cuidados, nem no cultivo e manutenção. São resistentes às secas e conseguem desenvolver-se com água da chuva, mas, se o tempo estiver muito seco e quente, a plantação deverá ser regada, sem encharcar o solo. O chícharo deverá ser colhido quando o grão estiver num estado mais pastoso e, se for para consumir seco, deverá deixar terminar o ciclo vegetativo e, quando as vagens estiverem secas, colocá-los ao sol até ficarem estaladiços. De paladar suave e aveludado, há quem junte esta leguminosa seca a pratos como, por exemplo o bacalhau assado, a morcela de arroz, chocos e entrecosto, sendo que, antigamente, era confeccionado em broa de milho e untada de azeite como acompanhamento de diferentes pratos.
24 | Ansião
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Ansião ‘esconde’ vila tardo-romana dos séculos IV e V
pólio arqueológico encontrado e que completam a viagem ao passado. A par disso, também a produção de vinho, azeite e frutos secos divulgam a existência daquela vila romana em Santiago da Guarda, revelada em pleno século XXI. Uma oficina de arqueologia e um centro de documentação completam um complexo com características únicas na Península Ibérica, com a possibilidade de alojamento. A oficina de arqueologia encontra-se em funcionamento des-
de finais de 2012, com trabalhos de restauro e conservação. De todo o espólio, a Câmara de Ansião salienta uma grade de ferro romana encontrada quase intacta, peça única na Península Ibérica. “O processo de romanização do actual território do concelho de Ansião está intimamente ligado com a passagem por estas terras do eixo viário romano que ligava Lisboa a Braga. Assim as marcas da presença romana encontramse por todo o concelho”, explica Rodrigo Marques Pereira. Presente no concelho está também o anfiteatro, outrora reservado ao complexo termal privado de uma família romana. Ao ar livre, o anfiteatro permite enquadrar a Villa Romana de Santiago da Guarda na história de um império e de um território. “O que mais destaco é a paisagem cultural, isto é, a relação do Homem com a Natureza. As marcas que os romanos deixaram ao longo das Terras de Sicó são significativas e reveladoras daquela relação”, defende o arqueólogo do município de Ansião. O legado deixado pelos romanos em Ansião é de tal forma importante para o concelho que está já em curso o projecto execução do futuro Museu de Santiago da Guarda, num investimento de 250 mil euros, que deverá apresentar aos visitantes recriações da época romana. O património natural e edificado de Ansião, muito marcado pelo Império Romano, pode ainda ser conhecido através da Rota Romana, que se inicia no Parque Verde do Nabão, em Ansião, a 500 metros da nascente do rio e no local que em tempos marcou o cruzamento do IC8 para a Constantina.
minhas do Lousal. Atravessando a estrada principal para Santiago da Guarda, a rota passa pelo lugar do Pinheiro. Ao chegar a Santiago da Guarda é obrigatório visitar o Complexo Monumental, classificado como monumento nacional desde 1978. O que de fora aparenta ser apenas uma torre medieval e uma residência senhorial, esconde, na verdade, uma antiga vila tardo-romana, constituída por vários compartimentos e ornamentada por mosaicos riquíssimos, remontando aos finais do século IV ou inícios do século V. Descoberta apenas em 2002 e num conjunto de características únicas na Península Ibérica, a vila é, actualmente, um local museológico onde funciona uma oficina de arqueologia e um centro de
documentação. Subir à Torre e observar os painéis de mosaico romano é um dos pontos altos desta rota e também o expoente máximo do legado romano no concelho de Ansião. Por baixo da torre encontram-se os vestígios do átrio da vila, com os seus mosaicos. Saindo do Complexo Monumental de Santiago da Guarda, e continuando pela Rota Romana, é possível regressar a Ansião por caminhos florestais e zonas agrícolas, permitindo observar muitas das práticas ainda hoje utilizadas nesta região. Passando junto à lagoa de Soucide pode observar-se também uma fonte tradicional, antes de se seguir por Tarouca até Pinheiro e Lousal, já perto de Ansião, onde termina a Rota Romana.
Descoberta apenas em 2002, a vila tardo-romana dos séculos IV e V é o expoente máximo do legado patrimonial deixado em Ansião Situada entre o Rio Nabão e os maciços da Serra de Sicó, a vila de Ansião é ocupada desde tempos pré-históricos, apresentando registos memoriais e patrimoniais das épocas romana e árabe. Embora as primeiras referências a Ansião datem de 1175, só em 1514 D. Manuel a eleva a vila, e lhe outorga foral. No entanto, a viagem pela história de Ansião pode começar milénios antes, com a existência de uma Anta na Atalaia, outra em Alto do Pisca e a localização de um castro da Idade do Ferro no Escampado de S. Miguel. Um tesouro de denários encontrado junto do castro de Trás de Figueiró e a possibilidade de a Via Romana, que se dirigia de Sellium a Conímbriga, atravessar estas terras, parece ficar provada em Santiago da Guarda. É naquela freguesia que se encontra o expoente máximo da romanização em Ansião: o Complexo Monumental de Santiago da Guarda. Único exemplar de arquitectura manuelina do concelho, aquilo que aparenta ser apenas uma torre medieval e um paço fortificado esconde, na verdade, uma vila tardo-romana dos séculos IV e V, descoberta em 2002. Do exterior visualiza-se a Residência Senhorial dos Condes de Castelo Melhor que, com a sua torre quatrocentista, conta muito
Complexo Monumental é o único exemplar de arquitectura manuelina do concelho
da história daquele lugar: as pedras da construção integram diversos materiais do tempo da dominação Romana, nomeadamente uma inscrição que indica a existência de uma aldeia que, ao tempo, deveria pagar os seus impostos ao município vizinho. “A assinalável presença romana no concelho de Ansião determina, por si só, o quão importante é este tipo de património cultural para o município, tornando-o num dos principais elementos de identidade cultural dos ansianenses”, refere o arqueólogo do mu-
nicípio de Ansião Rodrigo Marques Pereira. Entrar no Complexo Monumental é entrar numa ‘máquina do tempo’, já que os riquíssimos painéis de mosaico transportam qualquer um para os tempos dos romanos. A viagem no tempo leva o visitante a pensar na fundação da Nacionalidade e a descobrir a riqueza ainda presente em tradições que permanecem vivas nas Terras de Sicó. Moedas, mosaicos, mós e calçada romana são apenas alguns dos vestígios que compõem o es-
Mosaicos são expoente máximo Se a identidade de um povo é inerente à cultura de uma região, em Ansião é indissociável da romanização. Tomado pelos romanos no decorrer da conquista da Península Ibérica, entre 218 e 201 a.C., Ansião, anteriormente situado na fronteira ocidental do Império, foi em muito influenciado pela romanização. Os maiores vestígios da presença dos romanos naquele concelho são sobretudo visíveis na Rota Romana e no tão afamado Complexo Monumental de Santiago da Guarda. A Rota Romana inicia-se no Parque Verde do Nabão, a 500 metros da nascente do rio e no local que em tempos marcou o
Mosaicos encontram-se no Complexo de Santiago da Guarda
cruzamento do IC8 para a Constantina.Segue depois para Norte, passando junto à Casa da Amizade Ansião- Erbach e ao Estádio Municipal. O troço coincide com o Caminho Português para Santiago
de Compostela, que se abandona para descer para a Sarzedela, onde pode ser visitada a capela de S. João. A rota segue então por um caminho florestal que conduz às al-
26 | Batalha
Especial Aniversário
Mosteiro de Santa Maria da Vitória é um “monumento do mundo” Mais de 400 mil pessoas deverão passar pelo Mosteiro da Batalha até ao final do ano. Um número assinalável, se pensarmos que este monumento foi construído por uma promessa, foi transversal a vários reinados, passou pela mão de vários mestres, reuniu vários estilos, até tornar-se um património único, da UNESCO, com ligação afectiva à comunidade, que transparece para o mundo Foi uma promessa de D. João I como agradecimento à Virgem Maria pela vitória contra os rivais castelhanos na famosa Batalha de Aljubarrota que fez erguer o Mosteiro de Santa Maria, na Batalha. Património da UNESCO, o Mosteiro é visitado anualmente por milhares de pessoas dos quatro cantos do mundo, revelando uma identidade que já não é apenas nacional. Só este ano, há a previsão de alcançar as mais de 400 mil visitas. O património “único” e a “ligação afectiva que as pessoas e a comunidade com ele estabeleceram e estabelecem” jus-
tificam estes números. Monumentos como o Mosteiro da Batalha inscrevem-se nessa condição de património monumental cuja iniciativa de construção, explica o director, está na génese de criação de uma vila e posteriormente se constituiu como monumento da ‘identidade nacional’, “adquirindo, pela sua importância arquitectónica e valor artístico, projecção mundial”. Não admira, portanto, conclui o director do Mosteiro da Batalha, que o monumento, ainda hoje, “seja assumido pela população local como ’centro’ e ‘âncora’
da sua vila e essa mesma população mantenha com o monumento relações de particular afecto e de ligação afectiva”. Por outro lado, “ajuda a região a assumir-se, cada vez mais, como destino turístico de eleição, inscrito nos circuitos mundiais, fomentando, de imediato, o comércio local e a indústria turística e hoteleira, em geral”. Razões mais do que suficientes para o Mosteiro da Batalha ser, entre os 23 espaços tutelados pela Direcção-Geral do Património Cultural, o terceiro mais visitado de Portugal, logo a seguir ao Mosteiro dos Jerónimos e Tor-
Mosteiro é um dos monumentos mais visitados de Portugal
Batalha | 27 re de Belém. Mas, o número dos visitantes mostram a outra face da relação dos portugueses com o seu património que, no entender de Joaquim Ruivo, “é urgente debater”: “Dos mais de 400 mil visitantes do Mosteiro em 2018, pouco mais de 100 mil são portugueses”. “Por vários motivos, sendo dos monumentos ‘identitários’ por natureza, de visita obrigatória pelo menos uma vez na vida por cada português, acaba por ser pouco usufruído e conhecido da maioria. É um ‘défice de fruição cultural’, sintomático daquilo que a nossa cultura também é, na generalidade”, conclui o director, lembrando duas estratégias que têm sido implementadas para contrariar esta tendência, nomeadamente um programa cultural “coerente e de qualidade que apele à visita” ao monumento, desde exposições, concertos, ou espectáculos teatrais; e a valorização dos serviços educativos e a promoção das actividades educativas junto das escolas. Finalmente, o monumento assume-se, sobretudo após 1983, em que a UNESCO lhe atribui o estatuto de monumento Patri-
mónio da Humanidade, como “um monumento do mundo”. “E toda a estratégia de gestão tem que equacionar essa dimensão como prioritária, na sua relação com os media, bloggers, agências de turismo, cadeias de televisão”, assim como com os centros de investigação, “que criam e consolidam ligações na esfera do conhecimento”, defende Joaquim Ruivo, citando a realização de congressos internacionais, que atraem personalidades do mundo da investigação e da historiografia. No futuro próximo, “iremos ver um Mosteiro cada vez mais relacionado com o mundo, em intercâmbio com outros monumentos e serviços, não só europeus mas também do extremooriente”, conclui Joaquim Ruivo. Capelas Imperfeitas são um dos principais actrativos do mosteiro
Sobreposição de mestres contribuiu para construir monumento único Mas, se hoje é reconhecido mundialmente pela sua obra arquitectónica e a história por detrás das suas paredes, não é de esquecer os períodos de grande transformação que o monumento atravessou com a passagem de reis e mestres.
Havia um conjunto de dependências conventuais, mas foi pelas mãos dos frades pregadores que o mosteiro, tal como o conhecemos, começou a construído, corria o ano de 1388. Por essa razão, “não se sabe até que ponto a programação arquitectónica de base contou com a participação da comunidade conventual”, admite
Monumento assume-se, sobretudo após 1983, ano em que a UNESCO lhe atribui o estatuto Património da Humanidade
Pedro Redol, historiador técnico superior do mosteiro. “A tipologia arquitectónica é, no geral, comum à de muitas outras casas religiosas masculinas da sua época mas a da igreja, em particular, partilha o modelo adoptado em Portugal por franciscanos e dominicanos, a partir, ao que cremos, do exemplo exógeno, de raiz cisterciense, da igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar. Distinguem-na, no entanto, de tudo o que ali se fez no País, a escala e o facto de ser completamente abobadada, nisto emparelhando com as catedrais europeias que se vinham construindo havia mais de dois séculos”, explica Pedro Redol. Por outro lado, a sobreposição de mestres (Afonso Domingues e Huget) no estaleiro e a transmissão de conhecimento de Huguet aos seus sucessores, Martim Vasques e Fernão de Évora, “foi crucial, tanto para a conclusão da igreja e do claustro com as suas dependências, como para o devir da linguagem arquitectónica portuguesa do século XV, que, na obra maior da Batalha, alinha com as grandes realizações da arquitectura europeia e peninsular do seu tempo”.
28 | Batalha
Especial Aniversário
Monumento do País e da humanidade Património Mundial da Humanidade, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, tem no seu ‘ADN’ a luta decisiva para a consolidação da independência de Portugal. O monumento é um dos mais importantes roteiros turísticos da região de Leiria e do País, no que se refere ao património secular edificado, e dos mais visitados a nível nacional, só vencido pelo número de turistas que atrai o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa. Presença assídua no ‘pódio’ dos monumentos mais visitados – segundo dados da Direcção-Geral do Património Cultural -, são quase meio milhão de pessoas que anualmente visitam o Mosteiro da Batalha. Mas não fosse a batalha vitoriosa dos portugueses sobre os castelhanos em Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória não estaria erguido, assim como a vitoriosa batalha não estaria associada ao nome da vila ‘heróica’. As obras do monumento tiveram início três anos após a batalha ibérica, dando cumprimento ao voto feito
Mosteiro da Batalha é Património Mundial da Humanidade
por D. João I à Virgem Maria: dedicar-lhe um mosteiro caso derrotasse o invasor castelhano. Assim aconteceu, o que foi decisivo para a consolidação da independência de Portugal e para o aparecimento da nova Dinastia de Avis. Este Património Mundial da Humanidade – ‘título’ atribuído
pela UNESCO - enche de orgulho os portugueses e, em particular, os batalhenses e toda a região de Leiria. Edificado a dois quilómetros do local onde se travou a ‘famosa’ batalha com os castelhanos (S. Jorge), o monumento, de estilo gótico, foi dos primeiros onde se estreou a arte manuelina e uma das mais belas igrejas da
Europa no final da Idade Média, sendo um símbolo da arte do século XV. Na praça lateral do mosteiro encontra-se o Monumento Equestre do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, estátua edificada em 1968, que recorda o heróico comandante da Batalha de Aljubarrota, cujo exército era três ve-
zes menor do que o do inimigo. Mas outros motivos convidam à visita do monumento, como a Capela do Fundador, que guarda os túmulos de D. João I e da sua mulher, D. Filipa de Lencastre, assim como dos filhos, os infantes D. Fernando, D. João, D. Pedro e D. Henrique - o iniciador dos Descobrimentos. A nave da Igreja e os seus vitrais únicos e singulares, o Claustro Real, o Refeitório e a Casa do Capítulo, onde está sepultado o Soldado Desconhecido, com guarda de honra permanente, são outras razões de elevado interesse histórico que motivam uma visita, a que não ficam alheias as Capelas Imperfeitas, onde estão os túmulos de D. Duarte e D. Leonor. No ‘ADN’ do mosteiro também ‘correm’ as misteriosas, grotescas e ‘assustadoras’ gárgulas, exibidas como guardiãs do monumento. Localizadas no sistema de escoamento das águas pluviais do Mosteiro da Batalha, são um dos muitos motivos de interesse do monumento, que, como água para a vida, ‘respira’ património que é também do mundo inteiro.
Especial Aniversário
Bombarral | 29
Pêra Rocha tem identidade e um ‘mundo’ por explorar A Pêra Rocha é já uma marca de referência do distrito de Leiria, sobretudo na região Oeste, não só pelas suas características únicas, como pela importância que tem na economia. E a versatilidade da Pêra Rocha ainda tem um ‘mercado’ por explorar Tem mercado e é uma marca diferenciadora no distrito de Leiria. Falamos da Pêra Rocha, um fruto de Denominação de Origem Protegida (DOC), predominantemente produzida na região Oeste, um dos bastiões na colheita e distribuição daquele fruto, que actualmente tem cerca de cinco mil produtores associados. Desde há algum tempo que a Pêra Rocha deixou de ser consumida apenas como ‘fruto’ fresco de consumo isolado, nomeadamente através de sumos ou incorporando saladas e iogurtes, mas a sua utilização passa também pelo acompanhamento dos mais diversos pratos ou mesmo como ingrediente, sobretudo em criações culinárias dos novos chefes de cozinha. Com o poten-
História da Pêra Rocha começou a ‘desenhar-se’ no século XIX
cial que lhe está intrínseco e o espaço que ganhou no mercado – por ser um dos frutos apreciados não só no mercado interno com no externo -, Amílcar Malhó, formador na área da gastronomia, considera que “a versatilidade” da Pera Rocha “não está suficientemente explorada” na região, como seria desejável, como ‘marca distintiva no distrito de Leiria’ ou, se preferirmos, tendo em conta a Denominação de Origem protegida (DOP), na região Oeste”, sublinha. “Não sei de que forma se pode concretizar a associação deste fruto especificamente ao distrito de Leiria, embora se reconheça o contributo dos produtores deste território para o sucesso que, no seu todo, tem vindo a conhecer, embora esta realidade seja pouco
30 | Bombarral conhecida da maioria dos consumidores”, refere o mês responsável. Amílcar Malhó destaca a “grande capacidade de resistência aos trabalhos de acondicionamento e ao transporte” da Pera Rocha, mas também o tempo de conservação, “o que lhe confere características excepcionais como produto de exportação”. “Penso, no entanto, que é preciso fazer mais na divulgação da versatilidade deste fruto, explorando melhor as excelentes características que apresenta, para ser muito mais ‘explorada’ na área da culinária/gastronomia”, defende Amílcar Malhó, considerando que para projectar ainda mais o fruto, a Confraria da Pera Rocha do Oeste, criada em 2004 e a primeira do País alusiva a fruta, “poderia dar um contributo importante”. Segundo o formador na área da gastronomia, a Pêra Rocha tem também uma “importância reforçada do ponto de vista económico e social”, se se tiver “em conta “que a Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP) conta actualmente com cerca de cinco mil produtores associados”, que se traduz em 4.500 postos de trabalho anuais, chegando, durante a campanha, a empregar diariamente mais de 15 mil pessoas.
Especial Aniversário
A importância do fruto como marca do distrito, sobretudo da região Oeste, tem vindo a ganhar espaço nos últimos anos, não só pelo aumento da produção assente na “reconversão e/ou ampliação dos pomares”, com destaque para “o crescente aumento do consumo no mercado interno e o contributo económico das exportações, com 60% da produção a ser escoada para mais de uma dezena de mercados estrangeiros, nomeadamente o Brasil, que representa actualmente 25% do total”.
Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha conta com cerca de cinco mil produtores associados, que dão emprego a 4.500 pessoas “ A Associação Nacional de Pera Rocha tem vindo a desenvolver acções de promoção deste fruto com vista ao reforço em mercados externos, nomeadamente em parceria com a TAP, proporcionando a degustação desta variedade de fruta portuguesa aos passageiros da companhia aérea portuguesa”, salienta Amílcar Malhó.
Pêra Rocha do Oeste tem ‘sabor’ além-fronteiras Tem Denominação de Origem Protegida (DOP) e selo da União Europeia que certifica a qualidade e tradição de produtos alimentares e agrícolas. A Pêra Rocha do Oeste está na roda dos alimentos de muitos portugueses e é produzida maioritariamente entre Leiria e Mafra, sendo os concelhos de maior produção o Bombarral e o Cadaval. É um dos produtos agrícolas nacionais mais exportados, sendo o Brasil, o Reino Unido, a França, a Alemanha e Marrocos os cinco principais destinos. Mas o fruto prepara-se para chegar a outros mercados, nomeadamente ao asiático. A Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha já tem em curso esse objectivo, prevendo que a Pêra Rocha possa ser comercializada na China a partir do próximo ano. O Brasil continua a dominar o mercado internacional daquele fruto, uma vez que assegura um quarto das aquisições de Pêra Rocha no estrangeiro. A campanha da Pêra Rocha ar-
Pêra Rocha é um dos produtos agrícolas mais exportados
rancou em Agosto e os produtores do Oeste estimavam uma colheita de 200 mil toneladas. A Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha prevê que 60% da produção seja escoada para mais de uma dezena de mercados estrangeiros. Mas a história da Pêra Rocha começou a ‘desenhar-se’ há quase dois séculos. Na primeira metade do século XIX foi identificada no concelho de Sintra, na propriedade do Senhor Rocha, uma pereira diferente, com frutos de qualidade invulgar. Assim
começou a história deste fruto, que depressa se espalhou pela região Oeste. Quase 100 anos depois, no 2.º Congresso Nacional de Pomologia, a Pêra Rocha foi reconhecida oficialmente, como refere o arquivo dos trabalhos desse congresso, editado em 1932. A polpa da Pera Rocha do Oeste é caracterizada por ter cor branca e ser macia, granulosa, doce, não ácida, muito sucosa e de perfume ligeiramente acentuado e a sua produção obedece a métodos locais que se iniciam com a escolha dos solos e com a implantação e condução dos pomares. Não é por acaso que a Pêra Rocha é um dos principais ‘cartõesde-visita’ do Oeste, nomeadamente do Bombarral, e até dá nome à Confraria da Pêra Rocha, a primeira confraria dedicada à fruta, fundada a 25 de Maio de 2004. Promover e divulgar a Pêra Rocha do Oeste enquanto fruto de eleição, saudável e de alto valor gastronómico é o seu objectivo.
Especial Aniversário
Caldas da Rainha | 31
Bordalo Pinheiro: o génio da cerâmica que marcou as Caldas da Rainha Génio do desenho e da cerâmica, Rafael Bordalo Pinheiro deixou um imenso legado no concelho das Caldas da Rainha. Ainda hoje preservado e reconhecido, tem levado, cada vez mais, o nome de Portugal além-fronteiras Foi o criador do Zé-Povinho, mas também jornalista, caricaturista, desenhador, professor e ceramista. Falamos de Rafael Bordalo Pinheiro, figura incontornável da história das Caldas da Rainha, onde deixou um legado ainda hoje preservado e valorizado e cada vez mais forte a nível internacional. Embora natural de Lisboa, foi naquele concelho que encontrou o melhor material, o melhor barro e os melhores barristas, tendo assumido, em 1884, as funções de director artístico da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, com o propósito de revitalizar as artes tradicionais da cerâmica e do barro, cruzandoas com a modernidade de diversos estilos que anunciavam o futuro.
Bordalo Pinheiro assumiu, em 1884, as funções de director artístico na Fábrica de Faianças
“Bordalo Pinheiro era o génio do desenho, de espírito livre, que retratava, quase diariamente, o que se passava no nosso País ao nível político e social, tomando uma posição humanista e muito crítica sobre as injustiças sociais. Um perfeccionista que conseguiu uma perfeição na cerâmica nunca antes alcançada”, afirma Elsa Rebelo, directora artística da Fábrica Bordalo Pinheiro, localizada nas Caldas da Rainha. Chegado à cidade e rodeado de operários e de barro, Bordalo Pinheiro começou a produzir uma série de peças que reflectiam as suas fascinações: répteis e botânica, em especial legumes, couves, abóboras, pimentos, mas também andorinhas em voo, peixes e lagartos, muito presentes na memória dos caldenses.
32 | Caldas da Rainha Para além das peças de uso doméstico, o artista enveredou também pela criação de figuras muito peculiares, dando origem ao famoso Zé-Povinho e a Maria da Paciência, trazendo a intervenção política para a cerâmica. “Rafael era um talentosíssimo desenhador, uma personalidade extrovertida e espontânea, generosa, com uma rara capacidade de trabalho, tão intensa quanto a sua capacidade de entrega à própria vida. A obra de Bordalo é absolutamente singular. Ela exprime, como nenhuma outra, uma espécie de portugalidade, um entendimento de Portugal e dos portugueses que foi reconhecida como identitária. Talvez por isso, continua a ser reconhecida e aceite”, defende, por sua vez, o historiador caldense João Bonifácio Serra. Reflexo da qualidade e talento do artista é a Fábrica Bordalo Pinheiro, constituída em 1907 por iniciativa do filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, e que se mantém em funcionamento até aos dias de hoje com “o mesmo gosto naturalista”, segundo refere a directora artística da fábrica. Na fábrica existem três tipos de produção: a cerâmica de mesa de inspiração naturalista (couves, tomates, pimentos, beringelas, etc.), as peças decorativas mais recentes e as reproduções Arte Bordallo, com modelos de autoria de Rafael Bordalo Pinheiro e do seu filho. O edifício original onde funcionou a primeira Fábrica Bordalo Pinheiro dá hoje lugar à loja da fábrica e à Casa-Museu de São Rafael, sendo um testemunho do legado de Bordalo nas Caldas da Rainha e dos elementos decorativos únicos que remetem para o grande mestre da cerâmica.
“Na Casa-Museu São Rafael podemos encontrar peças originais da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, do seu filho Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro e de alguns dos seus seguidores, diplomas referentes a medalhas de ouro ganhas em exposições internacionais, experiências de cor, azulejos, bancadas, ferramentas e utensílios de fabrico da época”, conta Elsa Rebelo, também responsável por aquele espaço museológico. Constituída por mais de 20 figuras gigantes em cerâmica, espalhadas pela cidade, a Rota Bordaliana dá a conhecer as Caldas da Rainha através de obras que imortalizaram Bordalo Pinheiro. O conhecido Zé Povinho, a Saloia, o Padre Cura, rãs, gatos, sardões, caracóis, folhas de couve, entre outros elementos característicos da estética Bordaliana, estão espalhados pelas ruas da cidade, em fachadas de prédios e até penduradas em árvores. “As peças gigantes são incríveis, pelo equilíbrio escultural e o desafio técnico ao nível dos moldes, conformação, pintura, cozeduras, etc. Também os pratos gigantes são autênticos 'palcos' onde bichos terrestes ou marinhos interagem, ou ainda onde assentam troncos repletos de frutos e folhas, com uma perfeição fotográfica”, refere Elsa Rebelo. A Estação de Caminho de Ferro, a Câmara Municipal, Rua Padre António Emílio e o Terminal Rodoviário são alguns dos locais onde é possível encontrar réplicas do legado deixado por Bordalo Pinheiro. Motivos não faltam para visitar as Caldas da Rainha e conhecer o legado do homem e artista que marcou a cerâmica local, regional e nacional.
Especial Aniversário
O legado de Bordalo Pinheiro
Bordalo PInheiro criou, em 1875, a figura do Zé Povinho
Quem não conhece ou não ouviu já falar do Zé Povinho? A representação popular tornou-se num símbolo do povo português e Rafael Bordalo Pinheiro é o seu autor. Embora tenha nascido em Lisboa, o artista está intimamente ligado às Caldas da Rainha, nomeadamente à história das faianças. Um legado que deixou para sempre naquela cidade. No País, e depois de um período de decadência, a produção de faianças voltou à ‘ribalta’ com Rafael Bordalo Pinheiro. A louça das Caldas conviveu mesmo períodos áureos lado a lado com o termalismo. A faiança, fundamentalmente decorativa e inspirada em motivos naturalistas, era a principal indústria local. Não foi por acaso que pela mesma época, as Caldas da Rainha – quando ainda era vila - acolheu um dos primeiros estabelecimentos de ensino técnico no País, e onde deram aulas Rafael Bordalo
Pinheiro e vários docentes europeus. Mas voltemos atrás, ao início de tudo. Raphael Augusto Bordallo Pinheiro – nome de registo – nasceu a 21 de Março de 1846, em Lisboa. Autor de vários livros e publicações, foi desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, caricaturista político e social, jornalista, ceramista e professor. Mas o seu trabalho ficou ligado à caricatura portuguesa, à qual imprimiu um estilo próprio. Em 1875 criou a figura do Zé Povinho e nesse mesmo ano partiu para o Brasil, onde colaborou em vários jornais. Regressou a Portugal em 1879 e cinco anos depois, em 1884, começou a trabalhar o barro, cuja produção de louça artística ‘imprimiu’ na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Teve o apoio do amigo Ramalho Ortigão, da sua irmã Maria Augusta e de seu irmão Feliciano Bordalo Pinheiro.
O objectivo da empresa era o de "explorar a indústria cerâmica no ramo especial das faianças", e propunha-se a lançar no mercado, além de produtos de cerâmica ornamental e de revestimento, "objectos da mais fina faiança estampados com gravuras originais para usos ordinários, e louça ordinária para os usos das classes menos abastadas". A produção da fábrica agregava azulejaria e materiais de construção, cerâmica utilitária e peças decorativas, onde a ‘Art nouveau’ se viria a manifestar com a criação de uma galeria de personagens característicos da sociedade portuguesa do final do século XIX. Contudo, uma grave crise financeira levou à falência da fábrica, em 1907, e à sua venda, em hasta pública, dois anos após a morte do artista e empreendedor (23 de Janeiro de 1905). Posteriormente, o filho Manuel Gustavo, prosseguiu o trabalho de Bordalo Pinheiro e fundou, em 1908, a Fábrica de San Rafael. Após a sua morte, em 1920, um grupo de caldenses, juntamente com os operários, deram continuidade à empresa, que, em 2008 foi adquirida pelo Grupo Visabeira. Nas Caldas da Rainha, o Museu de Cerâmica, criado em 1983, tem representadas colecções de vários produtores cerâmicos, entre eles Rafael Bordalo Pinheiro e o filho Manuel Gustavo. Também a Casa Museu San Raphael, expõe obras da família Bordalo Pinheiro.
34 | Castanheira de Pera
Especial Aniversário
Praia das Rocas surge como “o principal vector” da economia e do turismo Praia fluvial em Castanheira de Pera recebeu, este ano, cerca de 92 mil pessoas, procurando formas de potenciar o espaço, atraindo mais pessoas e fomentando o turismo. É “o principal vector” da economia e do turismo no concelho Um lago com quase um quilómetro de extensão, com piscinas, uma albufeira, uma ponte secular, com palmeiras e uma plataforma amovível com sombrinhas, com a natureza a ‘pintar’ a envolvência. Este ‘paraíso’ fluvial é a Praia das Rocas, situada em Castanheira de Pera, infra-estrutura balnear que tem apostado na promoção de várias iniciativas para atrair pessoas àquele concelho do Norte interior do distrito de Leiria. “A Praia das Rocas é, actualmente, o principal vector e propulsor da economia e turismo no concelho de Castanheira de Pera. Alguns anos a esta parte, o modelo de desenvolvimento deste concelho assenta fortemente no turismo, desempenhando a Praia das Rocas um importante e crucial papel na atracção turística e como meio de comunicação e informação daquilo que são as valências de Castanheira de Pera nesta área e das potencialidades que este território tem para oferecer ao longo do ano”, explicou ao nosso jornal Pedro Dinis, administrador da Prazilândia, empresa municipal que gere a praia fluvial. De acordo com o responsável, “o crescimento que tem havido, fruto do investimento de privados, no surgimento de aloja-
Praia das Rocas abriu em 2005 em Castanheira de Pera
mento local”, é “um dos melhores indicadores” que comprovam o sucesso que a Praia das Rocas tem tido na atracção de pessoas. Apesar de, neste ano, o Verão ter tido condições meteorológicas atípicas, em que no mês de Agosto houve “vários dias com precipitação à semelhança dos meses antecedentes desta estação, o número de visitantes rondou os 92 mil”. “Recordo e comparo que tivemos zonas balneares com quebras na casa dos 40 por
cento e espaços no Norte do País semelhantes ao nosso, que encerraram diversos dias por não terem clientes devido à precipitação que se fazia sentir, o que felizmente não nos sucedeu”, referiu Pedro Dinis. “A afluência de pessoas à nossa praia está cimentada, tendo mantido um bom nível de visitantes ao longo dos últimos anos e no posicionamento que ambicionávamos”, sublinhou ainda o administrador da Prazilândia.
O responsável salienta que “a Praia das Rocas é um marco turístico nacional, regional e local”, referindo que, “ao nível da região de Leiria assume, sem dúvida, igual importância”, “pela diferenciação que esta acarreta na oferta turística da região, bem como pela notoriedade, diga-se muito, além-fronteiras, que lhe trás”. Os “principais investimentos recentemente concretizados na senda de melhorar e promover”
a praia fluvial passaram pela “criação de plataforma amovível sobre a Ribeira de Pera, vocacionada em primeira análise para a oferta de sombrinhas, concretamente com 48 novos lugares”, a par da “mudança de imagem, em particular do logótipo e slogan”. As “ondas artificiais”, o “leque de actividades” dirigidas para toda a família, o “alojamento”, o “bar” e a “restauração” são os factores apontados pelo administrador da Prazilância que distinguem a Praia das Rocas de todas as outras praias fluviais. Associado a isso, acrescenta, a praia tem “uma excelente localização, muito próxima do centro da vila de Castanheira de Pera, onde os turistas” que visitam aquele espaço podem usufruir da “gastronomia, alojamento e além disso conhecer e descobrir” a “história e pontos turísticos a serem visitados e explorados”. “Importa ainda salientar, que um dos factores que nos diferencia naturalmente é o nosso ‘microclima’, ou seja, na maioria dos dias em que as condições meteorológicas não são favoráveis nas praias, digamos mais naturais, na Praia das Rocas gozamos de bom tempo”, frisa Pedro Dinis. Contudo, o responsável considera existirem “melhoramentos a realizar em diversas componen-
Castanheira de Pera | 35
Especial Aniversário
tes, como a estrutural, com principal destaque para as acessibilidades, melhoria de balneários” e actualização “no processo de 'check-in’”.
Uma praia com ondas a 80 quilómetros do mar
Dinamizar a praia durante época baixa é objectivo A curto prazo, Pedro Dinis afirma ter “como objectivo dinamizar, durante a época baixa, a componente de desportos e actividades” que podem ser realizados na praia, “de forma agregada” com o “alojamento e potenciador da mesmo”. “Falamos em concreto da canoagem, paddle, slide e escalada, entre outros que se possam vislumbrar”, clarifica o responsável. “Depois, iniciar a melhoria das acessibilidades, com algumas obras estruturais que se imponham, bem como melhoria de algumas componentes actuais, que incluem os equipamentos, sem descurar pilares dos quais não abdicamos, como a segurança. Não menos importante, dotar o nosso alojamento de melhores condições, não perdendo o alcance do aumento da sua capacidade e eficiência ambiental, sendo que esta deve estender-se a toda a actividade da praia, seja ela na restauração ou outra”, acrescenta Pedro Dinis.
A 80 quilómetros da costa nasceu há 14 anos o maior espaço aquático com ondas artificiais. A Praia Fluvial das Rocas, em Castanheira de Pera, é um complexo de lazer, com quase um quilómetro de extensão, situado num lago no coração daquela vila do Norte do distrito de Leiria. Inaugurada oficialmente a 4 de Julho de 2005, a praia ocupa uma área de cerca de 10 hectares ao longo da Ribeira de Pera, onde se encontra uma piscina circular de 7.000 metros quadrados (m2) e uma piscina de ondas com 2.100m2, o que faz dela a maior do País. Num investimento de 2,5 milhões de euros, o nascimento da infra-estrutura teve como objectivo servir de âncora ao relançamento económico do concelho, abalado, com o passar dos anos, pela crise no sector têxtil e de uma forte desertificação.
Praia das Rocas atrai milhares de pessoas todos os anos
Do mesmo complexo, com um plano de água – na zona balnear – de mais de nove mil metros quadrados, faz parte uma ilha e restaurante e bares de apoio. Pode-se, ainda, desfrutar de um passeio em barco a remos ou em gaivota e per-
noitar num dos veleiros atracados na marina, deixando-se ‘embalar’ pelo suave balouçar da corrente fluvial, ou nos bungalows perfilados na margem da albufeira, com vista privilegiada sobre o enorme espelho de água.
Entre algumas infra-estruturas que o veraneante pode usufruir conta-se um restaurante e um bar, piscina infantil, parque de estacionamento, chapéus-de-Sol e espreguiçadeiras, e quiosques. A época balnear é assegurada por nadadores salvadores e vigilantes. As águas límpidas da Ribeira de Pera formam um local de encanto, onde palmeiras tropicais convivem harmoniosamente com a Serra da Lousã, que ‘espreita’ lá do alto. Em 2018, o complexo balnear atraiu mais de 110 mil veraneantes. Uma das novidades deste ano na Praia das Rocas foi a introdução de uma plataforma para a colocação de mais sombrinhas e a outros entretenimentos programados, como paddle, slide, canoagem, gaivotas, escalada, insufláveis, barquinhos, 'bumper boats' e animação de água, como hidroginástica e zumba quático.
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36 | Figueiró dos Vinhos
Especial Aniversário
José Malhoa colocou Figueiró dos Vinhos “no mapa da arte em Portugal” Figueiró dos Vinhos ‘respira’ o legado de José Malhoa, que viveu naquela vila até à sua morte, deixando um inquestionável legado artístico ao território que o acolheu Foi uma figura incontornável da arte em Portugal, e o seu legado perdura até aos dias de hoje. José Malhoa nasceu nas Caldas da Rainha, mas foi em Figueiró dos Vinhos que viveu os seus tempos áureos. Ali morreu, deixando um forte legado artístico e cultural naquele concelho do Norte interior do distrito de Leiria. “Figueiró dos Vinhos deu-lhe a inspiração, Malhoa deixou-lhe um legado, o Casulo, a eternização da região na sua obra e as memórias de um tempo áureo. Em termos de turismo cultural, falar de Figueiró dos Vinhos implica, assim, falar de José Malhoa, da sua obra e de todo o património associado”, afirmou ao nosso jornal a vereadora da Cultura de Figueiró dos Vinhos. De acordo com a autarca Marta Brás, “a vida e obra do pintor José Malhoa é de extrema importân-
Casulo é um dos principais legados deixados por José Malhoa a Figueiró dos Vinhos
cia para a valorização da cultura local, enquanto factor decisivo no desenvolvimento da actividade turística num território rural, promovendo a valorização, interpretação e conservação do património cultural, junto da comunidade local, nacional e estrangeira, mas, sobretudo, valorizar a obra de Malhoa, estimando o seu enorme potencial atractivo turístico”. “José Malhoa é uma referência nacional no que respeita à arte, em Portugal, e foi em Figueiró dos Vinhos que encontrou inspiração para muitos dos seus quadros. Tornou-se assim o pintor responsável por colocar a vila e a região no mapa da Arte em Portugal”, frisou a vereadora com o pelouro da Cultura. Marta Brás salientou ainda que a recuperação do Casulo, um “edifício histórico”, permitiu
38 | Figueiró dos Vinhos “conservar um património inestimável, que integra a história figueiroense e também um pouco da história da pintura em Portugal por via da projecção que tem a obra de José Malhoa”. “Actualmente, o Casulo apresenta um núcleo expositivo sobre a vida e obra de José Malhoa em Figueiró dos Vinhos, através de alguns objectos pessoais do artista”, disse a autarca. Desta forma, “a memória de Malhoa perdura através do seu Casulo, onde passava grande parte do ano e encontrava a inspiração para as suas telas”, bem como através “do Museu e Centro de Artes, onde é possível conhecer uma parte do espólio deste artista”, ou até mesmo através de obras que o pintor ofereceu a entidades locais. Projecto turístico-cultural mantém ‘vivo’ legado de Malhoa De acordo com Marta Brás, o município figueiroense tem levado a cabo “um projecto de desenvolvimento turístico-cultural” baseado na obra de Malhoa, que “tem vindo a ser fulcral no desenvolvimento cultural, permitindo um ‘resgate’ da história local e nacional e a consequente
Especial Aniversário
Presidente da República visitou traços artísticos de José Malhoa, no Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos, em 2018
revitalização do património, revelando ser um factor de atracção turístico-sustentável com efeitos positivos para as comunidades envolvidas, não apenas em termos económicos, mas também nos aspectos cultural e identitário”. Por outro lado, a autarquia tem vindo a desenvolver, nos últimos anos, “uma actividade intensa para a valorização do seu património cultural, com especial ligação à pintura e à escultura,
através da criação da marca Arte Viva, que identifica Figueiró como terra de artistas”. Segundo a autarca, foi criado o percurso ‘A Volta dos Artistas Uma Volta à Vila, à Volta dos Quatro Artistas’, “que percorre o centro histórico e periferia da vila e que revisita a vida em Figueiró dos Vinhos” de José Malhoa e de Manuel Henrique Pinto, que chegaram à vila a “convite do mestre e amigo José Simões d’Almeida Júnior, nascido em Fi-
gueiró dos Vinhos, “tal como o seu sobrinho José Simões d’Almeida”, “e onde é possível percorrer alguns dos lugares, memórias e paisagens que foram as deles”. A par do percurso, foi lançado o guia ‘A Igreja Matriz de Figueiró dos Vinhos – A História e a Arte’, “que faz também uma abordagem ao pintor José Malhoa, no âmbito da sua obra ‘O Baptismo de Cristo’, 1904, oferecida à igreja pelo próprio no mesmo ano e instalada no retábulo do altarmor”. “Por outro lado, a realização de actividades em que o enfoque esteja centrado em José Malhoa e na sua obra, implicou já da parte do município a edição de 'merchandising' alusivo, material que sendo do agrado dos interessados contribui também para a divulgação da sua obra. A dinamização e apoio a iniciativas de promoção cultural associadas a Malhoa contempla diversos vectores dos quais cumpre destacar a exposições no Museu e Centro de Artes e as actividades educativas em torno do mestre Malhoa, destacando a encenação teatral ‘Uma tarde no Casulo’”, evidenciou Martas Brás. Recentemente, a vila de Fi-
gueiró dos Vinhos acolheu o festival de arte urbana ‘Fazunchar’, uma iniciativa que, de acordo com a vereadora Marta Brás, “deu ênfase à figura de Malhoa”, e que foi promovido pelo município e pela Mistake Maker. O legado de Malhoa não é indiferente no ‘mundo’ dos artistas e a curadora da Mistake Maker, Lara Seixo Rodrigues, considera ser “impossível” negar ou esconder a “existência, a passagem de Malhoa por Figueiró dos Vinhos”. De acordo com a responsável, “não sendo conhecedora de todos os concelhos”, aquilo que percepcionou e compreendeu em Figueiró dos Vinhos com o festival, é que o legado de José Malhoa mostra-se como algo “especial”. “Uma aura que se poderá explicar mas, principalmente, se sente. Existindo uma inegável relação de Malhoa a este território, obviamente é um factor distintivo, que confere uma identidade própria a este local. O facto de passearmos por ruas da vila e podermos vivenciar os mesmos ângulos que inspiraram este e outros pintores algumas décadas antes, é só por ai uma experiência única”, conclui Lara Seixo Rodrigues.
Figueiró dos Vinhos | 39
Especial Aniversário
Malhoa deixou legado artístico em Figueiró dos Vinhos Nasceu em 1855 nas Caldas da Rainha, mas foi em Figueiró dos Vinhos que José Malhoa escolheu viver grande parte da sua vida, até à sua morte, no ano de 1933, mas não sem antes deixar um forte legado artístico naquela vila. Conhecido por pintar paisagens, de gosto romântico e cores escuras e, posteriormente, apostando nos quadros de ar livre, luminosos e de colorido mais intenso, as obras de José Malhoa são também conhecidas pelas suas cenas de género ou de costumes, retratos, nus, saltando entre diferentes sem ter preocupações ideológicas ou de estilo. Descrito como alegre e comunicativo, Malhoa criou, numa visão descontraída e optimista da vida, uma imensa obra que o popularizou. Dentro do espírito naturalista, o pintor começou o longo percurso de exaltação da cor e da luz de Portugal, que traçou numa linguagem muito própria. Foi em 1883, atraído pelo convite
Casulo de José Malhoa é uma ‘marca’ que o artista deixou em Figueiró dos Vinhos, onde viveu
do seu tio e antigo mestre, José Simões de Almeida Júnior, que José Malhoa descobriu a vila de Figueiró dos Vinhos, onde passou a residir boa parte do ano e onde, 10 anos mais tarde, começou a construir o seu Casulo, cuja planta é composta por dois corpos rec-
tangulares articulados em ‘T’, sendo o corpo mais baixo, originalmente de um só piso, corresponde à pequena casa térrea inicial que Malhoa ali mandou construir, possivelmente no ano de 1895. Aqui, fascinado pela luminosidade local, realiza grande parte das ce-
nas rurais que acabaram por o celebrizar. Anos mais tarde, em 1898, sob o traçado de Luiz Ernesto Reynaud, foi acrescentado um novo corpo, transformando-a numa verdadeira casa, onde a primitiva e pequena habitação é transformada
no ateliê de trabalho do pintor, recebendo uma grande clarabóia de ferro e vidro sobre a cobertura, há muitos anos já desaparecida. É de salientar, no seu interior, a pequena sala de jantar aberta para a varanda alpendrada, onde as paredes são revestidas a pergamóide, imitando couro lavrado e as duas sobre-portas exibem frisos floridos em tela pintada a óleo, originais do pintor António Ramalho Júnior. A mesa de jantar e, possivelmente, o candeeiro da sala serão ainda peças sobreviventes do tempo de José Malhoa. O tecto, em madeira, apresenta uns pequenos nichos que teriam pequenas obras de pintores amigos de Malhoa, que acabaram por desaparecer. Após a reabilitação de 1985, os nichos foram preenchidos com novas obras, produzidas e oferecidas por professores e alunos da Escola de Belas Artes de Lisboa. José Malhoa não ficou esquecido após a sua morte. Em toda a vila, são vários os traços característicos do género que o pintor adoptou para si, e onde reproduziu em diversas obras, motivando mesmo visitas ao casulo e festivais em sua homenagem.
40 | Marinha Grande
Especial Aniversário
Vidro catapultou indústria na Marinha Grande há 250 anos Já lá vão 250 anos desde que Guilherme Stephens reabriu uma fábrica outrora fechada. O motivo: ajudar a reconstruir Lisboa depois do terramoto. Estava lançado o sector vidreiro na Marinha Grande, indústria que ainda hoje movimenta milhões de peças e outros tantos milhões em euros Surgiu por força imperiosa de ajudar à reconstrução de Lisboa, depois do terramoto de 1755, mas a evolução da tecnologia e dos próprios moldes catapultaram a indústria vidreira, ainda hoje um dos principais sectores económicos da Marinha Grande, com futuro risonho, nas palavras do marinhense Gabriel Roldão. A história de como vingou a indústria do vidro no concelho marinhense conta-se em poucas palavras, e tudo começou com o terramoto de 1755. Lisboa ficou totalmente destruída, obrigando Marquês de Pombal a recorrer à edificação de uma série de indústrias novas em Portugal que pudessem ajudar à reconstrução da capital portuguesa. Surgiram as ‘reais fábricas’, entre elas, uma ligada ao vidro. “Ocorreu-lhe o facto de estar uma fábrica de vidros na Marinha Grande abandonada, que tinha sido fundada por um senhor irlandês John Bear, mas que acabou por fechar”, conta o investigador de história Gabriel Roldão. Ora Guilherme Stephens, que já mantinha negócios com Marquês de Pombal, reabriu a fábrica, corria o ano de 1769. “É esse o momento importante do início da indústria vidreira na
Arte de soprar o vidro pode estar em vias de extinção
Marinha Grande”, afirma Gabriel Roldão. Da Marinha Grande saíram as vidraças para ajudar à reconstrução de Lisboa, nomeadamente para todo o tipo de edifícios. Cumprida a missão, a fábrica de Guilherme Stephens começou a produzir vidro doméstico. De Inglaterra, França, Itália e Alemanha chegaram artistas para ajudar à produção. “Apressou o desenvolvimento artístico e técnico da fábrica. Como não tínhamos técnicos em Portugal, ele deitou mão aos conhecimen-
tos que tinha no estrangeiro e contratou pessoas que depois ensinaram os portugueses”, explica o investigador. Estava lançado o sector vidreiro na Marinha Grande. As exportações e o futuro risonho do sector Copos, castiçais, taças, jarras. Um sem número de artigos e objectos em todos os tamanhos, formas e cores, nasceram das mãos de centenas e centenas de trabalhadores. O sector viveu altos e baixos, sobretudo quando é
recordada a história de miséria que pairou sobre a casa de muitas famílias. O pós-guerra mundial também provocou “uma crise impressionante”. Mas, quando a Segunda Guerra Mundial termina, “explodiu o desejo de se construírem fábricas na Marinha Grande”. “Chegaram a estar 47 fábricas a trabalhar nessa altura, mas com estruturas económicas incipientes”, conta Gabriel Roldão. Para o investigador, “a guerra, se tem grandes pecados, tam-
bém tem grandes virtudes, porque permitiu o desenvolvimento tecnológico, que não foi acompanhado pela indústria vidreira”. Apareceu o plástico, associado à indústria de moldes que já existia na indústria vidreira. Inevitavelmente, “a parte tecnológica das indústrias evoluiu de tal maneira que se tornou obsoleto ter uma fábrica de vidros com gente a trabalhar manualmente”. Ainda assim, Gabriel Roldão rejeita que o sector vidreiro esteja em apuros. “Temos fábricas a produzir quase uma dezena de milhões de unidades por dia, desde garrafas, copos, frascos. O vidro está cada vez mais evoluído, e ultimamente têm sido feitos investimentos impressionantes na indústria vidreira na Marinha Grande por concentração de empresas”, afirma o investigador, lembrando o caso da Santos Barosa, adquirida pela espanhola Vidrala, que desta forma impediu que desaparecesse um pedaço da história do concelho. Por tudo isto, Gabriel Roldão não tem dúvidas ao afirmar que o futuro do sector vidreiro “é belíssimo”. “Com o conceito que está, não há mãos a medir actualmente”, afirma, lembrando o nível de exportações do concelho, que este ano, entre todos os sectores, poderá “roçar os mil milhões de euros” de volume de negócios. “O futuro é risonho, fantástico”, reforça. Arte de soprar o vidro m perigo Mas, se Gabriel Roldão assegura um bom momento na indústria vidreira, Alfredo Poeiras
Marinha Grande | 41
Especial Aniversário
mostra-se pessimista em relação à arte de soprar o vidro. Contam-se pelos dedos das mãos o número de mestres vidreiros que ainda hoje trabalham ou procuram passar o testemunho às gerações mais novas. É o caso de Alfredo Poeiras. É um dos poucos mestres vidreiros que ainda sopra vidro e cujas peças produzidas no ateliê que detém no Edifício da Resinagem, na Marinha Grande, podem ser adquiridas e levadas para casa.
Um sem número de artigos e objectos em todos os tamanhos, formas e cores, nasceram das mãos de centenas de trabalhadores Alfredo Poeiras tinha 10 anos quando começou a trabalhar no vidro. Cabia-lhe a responsabilidade de transportar as peças já fabricadas. Aos 14, já tinha a categoria profissional. Com 62 anos, é mestre vidreiro e formador e um dos ‘homens do vidro’ mais respeitados na Marinha Grande. Por isso, é com tristeza que encara o futuro do vidro artesanal e, embora se considere um optimista, admite algumas reservas.
História da Marinha Grande funde-se com o vidro Copos, castiçais, garrafas, taças, jarras. Basta um sopro… e a magia acontece. O vidro transforma--se em todos os tamanhos, formas e cores e, já com a ajuda mecanizada, origina dezenas, centenas e milhões de objectos e utensílios utilizados no dia-adia. Podia o mundo viver sem o vidro? Podia, e quase já vive, em resultado de outras opções, como os moldes – que curiosamente ‘deram a mão’ ao vidro –, mas não era a mesma coisa. E nada melhor que contar a história do vidro na ‘capital’: Marinha Grande. É lá que o Museu do Vidro conta a história difícil do sector, desde os grandes impulsionadores que permitem falar de uma arte única, aos episódios de gente trabalhadora. Inaugurado em 1998, o Museu localizado no antigo palácio dos irmãos Stephens, assume um peso de relevo para a população, na preservação da memória de um povo e de uma actividade
Museu do Vidro preserva a memória de um povo e de uma arte
secular. O espaço museológico reúne colecções que testemunham a actividade industrial, artesanal e artística vidreira portuguesa, como uma garrafa de seis vinhos produzida à mão para seis qualidades de vinho diferentes, hoje em dia, peça rara, sendo difícil de encontrar quem a produza. Foram muitos os altos e baixos que o sector vidreiro viveu, sobretudo quando é recordada a história de miséria que pairou sobre a casa de muitas famílias.
Mas, os seus impulsionadores e as condições favoráveis para, na Marinha Grande, estabelecerse esta indústria, permitiram que o sector vidreiro vingasse durante décadas. “Uma pessoa ficava uma vida inteira a trabalhar no vidro”, porque “era a única maneira de sobreviver”, uma vez que não havia outra actividade industrial, recordou o historiador marinhense Vitor Hugo Beltrão (já falecido). Mudam-se os tempos, alteram-se as necessidades. E, talvez
uma “falta de visão”, como analisou o historiador. Hoje em dia, contam-se pelos dedos das mãos as fábricas do vidro existentes no concelho, e os mestres vidreiros que teimam em não deixar morrer esta arte secular. Os moldes passaram a ser mais importantes do que o vidro. Fecharam pequenas unidades fabris que davam a conhecer ao vivo o fabrico do vidro artesanal. Há fábricas de portas abertas absorvidas por grandes grupos empresariais, como a antiga Santos Barosa, impedindo que desapareça um pedaço da história da Marinha Grande. E a arte de soprar o vidro só não está extinta graças a um punhado de mestres vidreiros, como Alfredo Poeiras, que vai mantendo o seu ateliê de portas abertas no Edifício da Resinagem, onde podem ser adquiridas verdadeiras obras de arte. O turismo também desempenha um papel importante, uma espécie de catalisador na promoção do vidro. Há visitas guiadas, actividades para os mais novos, ‘workshops’ e oficinas que contam como a história da cidade se funde com o vidro.
42 | Marinha Grande
Especial Aniversário
Moldes para vidro serviram para iniciar os moldes para plástico
E do vidro nasceram os moldes de plástico ‘Esculpir o Aço’, patente no Edifício da Resinagem contribui para preservar a memória colectiva da indústria dos moldes na Marinha Grande, um sector que tem vindo a aperfeiçoar-se e a conquistar o mercado internacional Corria o ano de 1920, quando os empresários ligados ao sector do vidro começaram a perceber a necessidade de ir buscar outro tipo de materiais e injectá-los na-
quilo que já eram os moldes para vidro. Os brinquedos foram as primeiras experiências. Não foi tarefa fácil para os trabalhadores, mas aos poucos, a
técnica foi-se aperfeiçoando. Evoluiu a sociedade, assim evoluiu o molde. As necessidades do diaa-dia ‘obrigaram’ à escolha de outro tipo de materiais, e a sabe-
doria de trabalhar os moldes para vidro acabou por ser introduzida nos moldes para plástico. Uma fotografia do empresário Aníbal Abrantes com uma boneca de plástico na mão, exposta no espaço ‘Esculpir o Aço’, patente no Edifício da Resinagem, marca o ‘nascimento’ do sector dos moldes na Marinha Grande. Bonecas, legos, carros. Estava lançado o molde e, com ele, as bases para o fabrico de outros produtos. Começaram a aparecer as primeiras varinhas mágicas, ferros de engomar, até à chegada dos telemóveis. Conta Joaquim Menezes, presidente do Conselho de Administração do Grupo Iberomoldes, na Marinha Grande, que a importância da indústria de moldes, para qualquer região e País, “é grande”, dadas “as características infra-estruturantes para a economia de que os moldes e toda a engenharia de desenvolvimento e processos, a montante e a jusante, implicam”. “Falamos de inovação, tecnologias avançadas, desenvolvimento de novos produtos, competências de produção”, entre outros, aponta. Curiosamente, os moldes iniciais não tinham como destino o mercado português. Grande parte dos artigos eram
exportados e havia mesmo países que acabavam por comprar o molde. Ainda hoje é assim. “Portugal tem um mercado demasiado pequeno para a capacidade e características das nossas empresas”, explica Joaquim Menezes. Segundo aquele responsável, estas limitações foram identificadas desde muito cedo por Aníbal Abrantes, que “desde os anos 60 iniciou esse processo de internacionalização dos seus moldes, os primeiros moldes portugueses que foram exportados”. Se famílias inteiras dedicaram a sua vida ao vidro na Marinha Grande, outras tantas passaram horas a trabalhar nos moldes, tal era a necessidade de responder à procura. Como em todos os sectores, a crise não passou ao lado dos moldes. Mas, ao contrário do vidro, por exemplo, conseguiram reinventar-se e, hoje em dia, são pioneiros nalgumas das mais avançadas tecnologias. Mas, o futuro desta indústria está assegurado não apenas no seu desenvolvimento tecnológico, mas no planeamento da produção e controlo de qualidade, para além da constante modernização dos equipamentos e no investimento na formação profissional. Aliás, a especialização tem sido uma das
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Especial Aniversário
mais importantes apostas deste sector. Para além da experiência, do ‘know-how’ que vem desde o tempo de Aníbal Abrantes, o controlo de qualidade, a competitividade e o investimento em alta tecnologia asseguram a continuidade do fornecimento de moldes portugueses aos mercados mais exigentes dos quatro cantos do mundo. O contínuo sucesso do sector dos moldes está, pois, na forma como se reinventa constantemente, também fruto da evolução da tecnologia e do konw-how. “As empresas têm que se reinventar todos os dias para fazer face à concorrência, que no nosso caso é internacional, e assegurarem o seu futuro e sustentabilidade pela competitividade nos mercados internacionais, os nossos clientes são globais”, aponta Joaquim Menezes. Para o presidente do Conselho de Administração do Grupo Iberomoldes, “o sector tem feito um caminho de sucesso e é nessa mesma direcção que se espera continue”. “Costumo dizer que a indústria de engenharia e moldes, é uma indústria de futuro, com futuro! Mantenho esta perspectiva, independentemente dos ciclos económicos, necessita-se desta indústria para os novos produtos e para a evolução da economia”, conclui.
Indústria de Moldes é um marco da economia da região Não é possível falar de indústria na região de Leiria sem uma alusão particular ao sector dos moldes, um dos principais impulsionadores da economia regional, cujos números associados assumem, também, particular expressão no contexto nacional. A indústria dos moldes é, desde há longa data, uma marca ‘made in’ Leiria, com particular incidência no concelho da Marinha Grande, que, a par com o de Oliveira de Azeméis (distrito de Aveiro), é o centro nevrálgico do sector, que actualmente exporta para 93 países, o que é representativo da dimensão internacional desta indústria. É em ambos os concelhos que estão concentradas 85 a 90 por cento das empresas da indústria de moldes do País. Note-se que as exportações do sector atingiram, em 2017, 675 milhões de euros, batendo recordes pelo sexto ano consecutivo, traduzindo-se no melhor
Indústria de moldes exporta para mais de 90 países
ano de sempre para esta indústria. Como anunciou este ano a Cefamol – Associação Nacional da Indústria de Moldes - com sede na Marinha Grande, “o ano de 2017 representou um aumento de cerca de 8%”, sendo que o valor total de produção rondou os 800 milhões de euros. “Quando comparados com o início da década, mais concretamente o ano de 2010, os valores das exportações representam
mais do dobro verificado nessa altura, o que é representativo de que Portugal, ao longo dos anos, tem demonstrado uma elevada capacidade de adaptação às necessidades dos seus clientes e à evolução, quer dos mercados, quer das tecnologias”, anunciou este ano a Cefamol. Por outro lado, na última década, a indústria de moldes recrutou “cerca de três mil novos quadros” O sector emprega, aproximadamente, 10.500 tra-
balhadores, tem mais de 500 empresas, a maioria de pequena e média dimensão, dedicadas à concepção, desenvolvimento e fabrico de moldes. Por tudo isto, a região de Leiria e, em particular, o concelho da Marinha Grande, estão associados a uma indústria que está entre os principais fabricantes de moldes a nível mundial, sendo Portugal o oitavo produtor do mundo e o terceiro a nível da Europa neste sector para a injecção de plástico, exportando mais de 80% da produção total. Por sua vez, a indústria automóvel é o principal cliente do sector em Portugal, representando mais de 80% da actividade. Mas o sector está presente noutras áreas industriais de grande importância para o desenvolvimento de novos produtos na economia mundial, e procura produzir para novas áreas e nichos empresariais, como a electrónica, a indústria aeronáutica, entre outras. A associação que representa o sector dos moldes tem mais 160 empresas associadas, muitas delas com ‘assento’ na Marinha Grande e na região de Leiria.
44 | Nazaré
Especial Aniversário
Depois do peixe, o mar da Nazaré continua a ser generoso com as suas gentes As ondas gigantes sempre existiram na Praia do Norte, mas apenas nos últimos anos se tornaram um fenómeno mundial, às custas de surfistas como Garrett McNamara e Rodrigo Koxa, actual detentor do recorde mundial Há muito se sabe que algo é diferente na Praia do Norte. Em dias especiais, com a combinação de vários elementos da Natureza, como se de uma conspiração se tratasse, a magia acontece. A presença do canhão da Nazaré cria condições especiais para a formação de ondas grandes. Ele vai separar a onda em duas, aumentar a velocidade da onda que percorre o canhão e fazê-la reencontrarse novamente. A corrente que vem da praia, em sentido oposto, também vai acrescentar mais alguns metros à onda, que já de si mete respeito até para quem está a ver de longe. Para nascer a onda gigante é importante juntar mais alguns ingredientes à receita. Essas condições são relativas ao período da onda, ao vento (idealmente fraco) e à direcção da onda (idealmente de Oeste ou Noroeste). Outro factor
Rodrigo Koxa é o detentor do recorde da maior onda surfada no mundo, o que fez na Nazaré, em 2017
muito importante é a ocorrência de tempestades no Atlântico Norte, no Outono/ Inverno, que tra-
zem uma ondulação considerável até ao canhão. Com todo este trajecto conturbado, uma ‘inocente
onda’ do Atlântico, com destino à Nazaré, pode ver a sua altura triplicar. Foi este fenómeno que
tornou a Nazaré famosa à escala mundial. Tão famosa que chamou a atenção do brasileiro Rodrigo Koxa, o actual surfista detentor do recorde da maior onda surfada no mundo, e nada melhor do que ele para explicar como tudo começou. Antes disso, o primeiro a colocar a Nazaré nas bocas do mundo foi Garrett McNamara que, em 2011, surfou uma onda gigante na Praia do Norte, que lhe deu direito a colocar o seu nome mo Livro dos Recordes. Uma façanha que chamou a atenção a Rodrigo Koxa, ainda para mais quando no ano seguinte o surfista brasileiro viu McNamara vencer o prémio XXL Biggest Wave, na Califórnia, nos Big Wave Awards, batendo o recorde mundial. “Eu na ocasião estava a participar na final na categoria ‘wipe out of the year’ e no anterior fiz a
Nazaré | 45
Especial Aniversário
final na categoria ‘biggest wave’ com uma onda surfada no Chile. Mas a onda da Nazaré ali nos vídeos mostrava um nova realidade para o surf de ondas gigantes. No ano seguinte ao ‘óscar’ e à premiação de McNamara, eu fui conhecer a Nazaré. E desde então fiquei obcecado pelo canhão”, contou Rodrigo Koxa.
Surfista brasileiro Rodrigo Koxa considera a Nazaré “um lugar onde os sonhos se realizam” Foi a 8 de Novembro de 2017, na Nazaré, que Rodrigo Koxa, surfista brasileiro de São Paulo, entrou no mar na Nazaré sem saber que meses mais tarde estaria nas bocas do mundo, por surfar a maior onda do ano, suplantando McNamara. Mas para ali chegar, Koxa teve um longo caminho a trilhar nas ondas gigantes. “Cheguei à Nazaré pela primeira vez no ‘swell’ histórico de 2013, e fiquei impressionado com a potência. Pareciam montanhas de água que se deslocavam em alta velocidade em
direcção ao farol. As maiores ondas vinham na reta do desfiladeiro e aquilo mostrou-me que era um lugar incrível, mas também muito perigoso. Logo vi a necessidade de formar uma equipa super treinada, para poder viver os meus sonhos naquele lugar”, explicou Rodrigo Koxa. E para se chegar ao recorde do mundo, foram precisas muitas quedas e braçadas de aprendizagem. “Faz parte do nosso desporto. Todo o atleta dedicado passa por momentos bons e difíceis. No caso da onda grande pode ser algo assustador. Em 2014 quase cheguei às pedras durante um ‘swell’ gigantesco e pedi para Nossa Senhora que me tirasse dali. Acabei conseguindo chegar a praia, após receber ondas enormes na cabeça. Uma sensação que considerei na altura aterrorizante”, contou o surfista brasileiro, acrescentando que chegou ao Brasil com “transtorno de stress pós traumático” e precisou de “dois anos” de trabalho intenso com a sua equipa, fazendo ainda um “trabalho psicológico” para “poder voltar com mais força que antes”. Apesar de todos estes sustos e percalços ao longo do trajecto,
Koxa diz que não há tempo para ter medo. “Em cima da onda a hora é de estar completamente presente no momento. O relógio não faz mais sentido, aquele momento é tudo o que importa. É o viver intensamente algo especial, é fazer a vida valer ainda mais a pena. É o presentear da minha alma, pois só faz o extremo quem ama o que está fazendo. Meus instintos ficam aflorados, meus sentidos ficam sensíveis a tudo e não há nada que se possa comparar com isso”, sublinhou o surfista. Nazaré: “um lugar de Deus” e “místico” Por tudo isso, Rodrigo Koxa olha para a Nazaré como um local especial. Aliás, a primeira coisa que faz quando chega à vila é visitar o Forte de S. Miguel Arcanjo. “Gosto muito de me energizar neste local, onde existe uma história por trás, e onde actualmente existe um museu com pranchas dos surfistas que vem surfando na Nazaré e onde a Câmara [Municipal] faz esse tributo a toda nessa comunidade de surfistas de ondas gigantes. Ali gosto de agradecer a protecção e pedir para Nossa Se-
nhora da Nazaré continuar a olhar por todos nós surfistas e que continue abençoando as nossas amadas ondas gigantes”, confessou. Assim, é fácil de perceber que Rodrigo Koxa considere a Nazaré “um lugar de Deus” e “místico”. “É um lugar onde os sonhos se realizam e onde o trabalho em equipa faz o toda a diferença. Ninguém faz nada sozinho na Nazaré. E viver nessa cumplicidade, sonhando e trabalhando com meus amigos, é a paz que encontrei para os desejos da minha alma”, declarou. Tendo isto em conta, não é de estranhar que Rodrigo Koxa esteja de regresso à Nazaré nos próximos dias. Aliás, amanhã (dia 15 de Outubro) o surfista já vai poder matar saudades da Nazaré e, quem sabe, bater o seu próprio recorde, apesar de o próprio admitir não estar obcecado com esse objectivo. “Continuo a treinar para surfar as minhas ondas gigantes, e como já surfei uma de mais de 24 metros, acredito ser possível eu pegar outra ainda maior. Mas sinceramente não estou obcecado por isso. Acho que estar em paz é um presente ainda melhor. E se vier outra maior será muito bem-vin-
da, assim como foi essa onda de 2017. Obrigado Nazaré”, rematou o surfista. E apesar de ser o actual detentor do recorde mundial, Rodrigo Koxa vê com normalidade o facto de um dia poder vir a perder esse estatuto. “Acredito que o recorde é uma evolução do desporto. Não estou pensando nisso, porque acredito que possa levar algum tempo. Essa é uma questão que cabe a Deus. Por enquanto estou vibrando na gratidão e extremamente realizado com tudo o que aconteceu”, disse. Acima de tudo, Rodrigo Koxa, à imagem do que já tinha feito Garrett McNamara, tornou as ondas da Nazaré num fenómeno à escala global, faladas em todos os cantos do mundo pela sua espectacularidade, atraindo turistas e surfistas. “Não consigo ver ondas maiores do que na Nazaré em nenhuma parte do mundo. Todos os anos as ondas da Nazaré são maiores do que os outros lugares. Todo ano é na Nazaré a maior onda surfada. É assim que vejo esse lugar, com muito respeito e onde surfistas e turistas do mundo inteiro querem ver as maiores ondas do mundo”, concluiu.
46 | Nazaré
Especial Aniversário
Ondas daI Nazaré nasI ‘bocas doI mundo’I
Surfista Grant Baker venceu o último ‘Nazaré Challenge’, em 2018
Temos um activo que mais ninguém tem no mundo, um canhão submarino que gera ondas com vários tamanhos”. A afirmação, recente, é do presidente da Câmara da Nazaré, Walter Chicharro. A vila, outrora essencialmente piscatória, sofreu uma
reviravolta turística e económica, sobretudo após 2011, ano em que as ondas gigantes da sua Praia do Norte ficaram nas ‘bocas do mundo’. O norte-americano Garrett McNamara surfou a maior onda do planeta, recorde que foi batido só no final de 2017, pelo
brasileiro Rodrigo Koxa (à data com 38 anos), ao atingir a marca oficial de 24,38 metros. Nas mulheres, o recorde mundial também tem as cores do Brasil, uma vez que pertence a Maya Gabeira. A notoriedade alcançada pelas Nazaré nas ondas gigantes colo-
cou a Praia do Norte no calendário do Circuito Mundial de Ondas Grandes (‘WSL Big Wave Tour’) desde 2016/2017. Em Novembro de 2018, o surfista sul-africano Grant Baker venceu a ‘Nazaré Challenge’, a etapa nazarena daquele circuito mundial. Numa final com condições ‘de sonho’, as maiores ondas aproximaram-se dos 15 metros, e foram milhares os espectadores que assistiram à prova. A presença regular de ‘Big Wave Rides’ (surfistas) internacionais na Praia do Norte já faz pate do quotidiano da Nazaré, contribuindo para dinamizar a economia do concelho ao longo do ano. Por outro lado, a vila é já uma ‘marca’ no estrangeiro. Há muito pouco tempo foi notícia no jornal norte-americano The New York Times, um dos mais conceituados diários do mundo. Aliás, a notoriedade, o mar, o surf e a economia nazarena têm vindo a ser fonte de notícias em múltiplas plataformas mundiais de informação, entre as quais o célebre ‘60 Minutos’, da CBS, ou na BBC Londres. As mesmas razões motivaram, no ano passado, uma campanha promocional do Turismo de Portugal na Times New Square, uma das mais di-
nâmicas avenidas comercias de Nova Iorque, nos EUA, onde a onda da Nazaré esteve duas semanas a ser promovida num ‘spot’ publicitário de 30 segundos, num painel LED em dois edifícios de Times Square, um dos quais com a dimensão da onda gigante nazarena. Por outro lado, a notoriedade das ondas grandes da Nazaré reflectem-se no número de turistas na vila, nomeadamente ao ‘surferwall’, espaço museológico na sala do paiol do Forte de S. Miguel Arcanjo, que acolhe pranchas de surfistas de ondas gigantes. Neste Centro Interpretativo do Canhão da Nazaré, dá-se a conhecer mais sobre as ondas e a Praia Norte. Não é por acaso que o Forte de S. Miguel Arcanjo bateu todos os recordes de visitantes em 2018, ao receber 250 mil turistas de 108 nacionalidades. Desde a sua abertura, em 2015, o monumento já recebeu a vista de mais de 650 mil pessoas. Como chegou a afirmar a entidade organizadora da ‘WSL Big Wave Awards’, “a Nazaré tornou-se numa atracção turística, afirmando-se, a nível internacional, como um dos mais consistentes locais de ondas grandes do mundo”.
48 | Óbidos
Especial Aniversário
Ginja: da tradição secular a produto com carimbo de certificação Depois da Ginja de Óbidos ter recebido o selo de Identidade Geográfica Protegida, o mesmo processo está a ser feito para o licor local, a ginjinha A vila de Óbidos tem uma diversidade na oferta cultural, histórica, natural e gastronomia com diversos destaques, mas apesar de toda esta diversidade, há dois produtos que estão interligados que acabam por representar todo o concelho pelo seu reconhecimento a nível nacional e internacional. Falamos, claro está, da ginja e do licor de ginja. A fórmula do licor foi gradualmente difundida com o passar dos anos, passando o licor a ser confeccionado a nível familiar por obidenses, orgulhosos de presentear ilustres hóspedes com a melhor das ginjas. Mais ou menos alcoólica, doce ou ácida, a ginja e a ginjinha são um ex-libris da vila que cede a fama a Óbidos. Um exlibris que tem impacto directo na indústria de transformação e num conjunto de produtores que “tinham até há uma década uma produção marginal”, enquanto hoje há em Óbidos “50 hectares de plantações novas de ginja”, conta Humberto Marques, que, para além de presidir à Câmara de Óbidos, é agricultor e responsável pelo pólo da ginja na Associação dos Produtores da Maça de Alcobaça. “Estamos a falar de uma produção evoluída do ponto de vista tecnológico, respeitando cadernos de encargos ao nível da sus-
lidade do produto. A ginja é apanhada entre Junho e Julho, quando estão maduros. Do pomar segue depois para a fábrica, onde é colocado em grandes cubas para macerar por um período mínimo de seis meses numa solução hidro-alcoólica, juntando ao fruto o álcool. Este álcool não pode ser vínico, pois isso iria dissuadir sabores e aromas indesejáveis ao licor. À parte é misturado o açúcar com a água, mistura que é aquecida para haver uma maior integração do açúcar com a água e ao qual se chama xarope. Ao resultado da maceração junta-se o xarope para baixar o teor alcoólico, equilibrar a acidez e adoçar o licor. Ginja de Óbidos remonta ao século XVII
tentabilidade, respeitando aquilo que se quer do ponto de vista de qualidade do fruto para depois dar origem à conhecida ginginha”, acrescentou. O processo de produção da famosa ginginha de Óbidos começa precisamente nos ginjais da região, principalmente na zona do Sobral, onde o fruto é colhido na fase certa de maturação. Após um processo de maceração que dura no mínimo um ano, é extraído o licor decorrente do processo sem recorrer a corantes ou conservantes artificiais.
Aliás, a recolha do fruto para posteriormente fazer-se o licor passou a ser uma tradição da região, que foi passando de geração em geração e que todos faziam em casa, misturando os ingredientes mais por hábito do que por conhecimento, cada um nutrindo a sua própria receita e passando-a à geração seguinte. Assim se preservou este licor e a ele se foi colando a imagem da icónica vila de Óbidos. Mas para muitos produtores o segredo de um bom licor começa precisamente no ginjal, na qua-
Produto certificado Por tudo o que representa para a região, a ginja tem igualmente um grande impacto ao nível turístico. “Estamos a falar de uma tradição que vem do século III, dos romanos. Foram eles que trouxeram esta ginja para esta costa para ajudar ao processo digestivo, porque eles gostavam de comer muito e desde então que se criou à volta deste fruto uma dimensão cultural e histórica. Óbidos está para a ginja como Roma está para o Papa. Ou seja, não se vai a Óbidos sem se beber a ginjinha como não se vai a Roma sem se ver o
Papa. Isto tem um impacto indirecto muito forte no comércio local ligado à venda da ginjinha”, refere Humberto Marques. O impacto é tão grande que o primeiro passo foi certificar a ginja de Óbidos, algo que foi conseguido recentemente, através da Associação de Produtores de Maça de Alcobaça, da Câmara Municipal de Óbidos e de um conjunto de produtores. “Iniciámos um processo de certificação com a criação de uma IGP – Identidade Geográfica Protegida para certificar o fruto. No fundo dizer o porquê de o fruto daqui ter características diferentes dos demais locais, num contexto nacional e europeu. Passámos por esse processo através de uma investigação que foi feita, cumprindo uma série de requisitos que eram exigidos, e durante sete anos passámos por esse crivo para certificar o fruto. Estamos a falar de um fruto agridoce com um conjunto de características medíveis do ponto de vista bio-quimico”, rematou o autarca. Depois desse caminho traçado, agora é a vez do licor de ginja de Óbidos seguir o mesmo processo. “Pretendemos que o nosso licor de ginja seja o mais autêntico possível, com medidas de certificação. Sabemos que há licor que é produzido sem a ginja local, porque a produção dos 50 hectares que temos não é suficiente para tanta quantidade de licor que o mercado pede, mas também não é nossa intenção acabar com este licor. O licor está enraizado culturalmente e historicamente com Óbidos. Há bons licores, há outros menos bons, há quem tenha mais cuidado, há outros que têm menos
Óbidos | 49
Especial Aniversário
cuidado, mas não me compete a mim julgar. O que nós queremos é que se crie um licor em que tenha o consumidor veja que tem um selo de autenticidade e que é estritamente ‘made in’ distrito de Leiria”, explicou Humberto Marques. Toda esta aposta no fruto e no licor tem como objectivo abrir os horizontes para algo maior. “A porta que se abre com a certificação da ginja (fruto) é a organização de um sector que agora tem um caderno de encargos para respeitar, o que permitirá a criação de um licor com determinantes características. A nossa ginjinha não é melhor nem pior, é diferente das demais e deve cumprir determinadas regras. Era possível calcorrear este caminho e é isso que estamos a fazer”, rematou Humberto Marques. Apesar do licor de ginja ser o ‘core’ do negócio de várias empresas na região, algumas delas decidiram alargar a sua oferta de produtos, tendo a ginja sempre como ponto de ligação. Falamos de doce de ginja, gomas de ginja, bolachas e biscoitos de ginja, pastéis de nata com ginja e infusões de ginja para fazer chá. Tudo produtos que fazem uma justa homenagem a um fruto tão característico de Óbidos.
A ginja que dá ‘sabor’ a Óbidos e ultrapassa as suas muralhas Há uma iguaria que ‘representa’ o concelho de Óbidos e que recebe reconhecimento nacional e internacional. A Ginja de Óbidos, ou ‘Ginjinha de Óbidos’, como é popularmente conhecida, remonta ao século XVII. Acredita-se que a origem deste licor é de receita conventual, da qual um frade terá tirado partido das grandes quantidades de fruto existentes na região. E foi sendo difundida por famílias, presentando convivas com a melhor das ginjas. Este licor tem um sabor forte, intensamente perfumado com o agridoce das ginjas, e apresenta duas variedades distintas: o licor simples e o licor com frutos (ginja) no seu interior. O processo de produção começa nos ginjais da região, principalmente na zona do Sobral, onde o fruto é colhido na fase certa de maturação. Após um processo de maceração, que dura, no mínimo, um ano, é extraído
O licor, de cor avermelhada, foi ganhando tradição
o licor decorrente do processo sem recorrer a corantes ou conservantes artificiais. E não há quem não tenha ouvido falar da Ginja de Óbidos. O licor, de cor avermelhada, bebe-
se em pequenos copos e a sua produção foi ganhando tradição e passando de geração em geração, tornando-se um produto ‘Made In’ Óbidos e associado à vila medieval.
A ginja é apanhada entre Junho e Julho, e do pomar segue depois para as unidades de fabrico. E para se saborear verdadeiramente todos os seus aromas, a Ginja de Óbidos deve ser consumida entre os 14 e os 15 graus e num copo de vidro. Consumido de preferência como digestivo, o licor de ginja pode ser acompanhado à sobremesa por umas tapas de queijo ou ser o ‘ponto final’ de uma refeição. Se degustado entre as muralhas de Óbidos, terá um ‘sabor’ especial. E por vezes o reconhecimento desta ‘iguaria’ chega além-fronteiras, fruto dos prémios que vai conquistando em concursos internacionais. Não faltam medalhas de ouro e de prata à Ginja de Óbidos, como as alcançadas recentemente no concurso SIP Awards e na Competição Internacional de Los Angeles. Neste caso, o ‘galardoado’ foi o Licor de Ginja d’’Óbidos Vila das Rainhas.
50 | Pedrógão Grande
Especial Aniversário
Barragem do Cabril é “pérola no Centro do País” Clube Náutico de Pedrógão Grande promove, ao longo do ano, várias iniciativas que atraem muitas pessoas à Barragem do Cabril, uma das ‘pérolas’ no Centro do País Tem 136 metros de altura, 290 metros de comprimento do coroamento, um perímetro de 280 quilómetros e é considerado um dos ‘ex-libris’ de Pedrógão Grande. A Barragem do Cabril ergue-se de forma ‘majestosa’ no Rio Zêzere, e separa os distritos de Leiria e de Castelo Branco, sendo um dos motivos de atracção de muitas pessoas, em busca de diversão ou de momentos de relaxamento. Um dos grupos que promove iniciativas local, com o intuito de dinamizar a barragem e a Albufeira do Cabril, é o Clube Náutico de Pedrógão Grande, que organiza diversas actividades aquáticas. Para os membros da direcção do clube, Nuno Conde e Pedro Serra, tanto a barragem como a albufeira são “uma pérola no Centro do País”, com as suas “águas cristalinas e as suas paisagens”, que consideram ser, por si só,
“As suas águas translucidas, cristalinas e toda a envolvente paisagística”, bem como “a sua localização no Centro de Portugal, a escassos quilómetros de boas vias rodoviárias e quase no centro da vila de Pedrógão Grande” são, frisam, os principais atractivos da barragem. Os responsáveis não hesitam em afirmar que barragem e a albufeira são “de clara importância para os concelhos ribeirinhos e para a região de Leiria”, pois, “para além de fornecer água para consumo humano e electricidade”, são “um ponto fulcral de turismo e lazer”. Barragem do Cabril é uma das maiores do País
“um excelente cartão-de-visita”. “O número de pessoas que nos visitam é sinónimo disso mesmo e, por isso, é claramente uma fonte de riqueza geradora de em-
prego e motor de diversas outras actividades económicas, como a hotelaria, a restauração e o comércio local”, afirmam os responsáveis.
Actividades náuticas atraem milhares Fundado em 1998, por um grupo de amigos, o Clube Náutico de Pedrógão Grande (CNPG) nasceu com o intuito de dar a conhe-
cer a região Centro como um território aprazível, através da prática de actividades náuticas e outros atractivos que a vila de Pedrógão Grande possui. Nos primeiros anos, o clube criou cursos para associados de formação de pilotos de motonáutica e organizou várias provas de motonáutica a nível nacional. De acordo com Nuno Conde e Pedro Serra tem havido, “todos os anos”, um “acréscimo de pessoas, muito pelo investimento” do CNPG e do município de Pedrógão Grande. Os membros da direcção do CNPG estimam que, nas suas actividades ao longo do ano, poderão ter usufruído dos seis “equipamentos e actividades cerca de 30 mil pessoas”. Os responsáveis clarificam ainda que o Clube Náutico de Pedrógão Grande promove, anualmente, iniciativas como “aluguer de kayaks, canoas, padlles, gaivotas e embarcações a motor”, realiza “passeios de barco pelo Rio Zêzere, promove, vigia e faz a manutenção da piscina flutuante e do ancoradouro, promove vistorias a embarcações, faz concursos de pesca embarcada ao achigã e potencia a região e as suas paisagens paradisíacas”.
Barragem é um dos ‘ex-libris’ de Pedrógão Grande Entre os distritos de Leiria e Castelo Branco, existe uma das maiores barragens portuguesas, uma obra construída em 1951 com o intuito de ser uma reserva de água doce, e que acabou por dar, também, lugar a um amplo espaço de lazer ao ar livre, ideal para os amantes da natureza, do lazer e da diversão. Falamos da Barragem do Cabril, situada no concelho de Pedrógão Grande, onde ‘navega’ o Rio Zêzere, e que se assume como um dos ‘ex-libris’ daquele território. A construção da barragem teve início em Abril de 1951, com a obra a cargo da Hidro Eléctrica do Zêzere e com projecto de Joaquim Laginha Serafim. A inauguração aconteceu no dia 31 de
Clube Náutico de Pedrógão Grande dinamiza várias iniciativas que potenciam a barragem
Julho de 1954 e contou com a presença do então presidente da República, o general Craveiro Lopes. A Barragem do Cabril é do tipo
arco abóbada, com uma altura de 136 metros e com 290 metros de comprimento do coroamento e o seu perímetro é de 280 quilómetros., sendo a capacidade do des-
carregador de 2.200 metros cúbicos por segundo. Acampar, caminhar, fazer um piquenique, jogar uma partida de ténis ou praticar actividades aquáticas são algumas das possibilidades para quem chega e quer ficar junto à Barragem do Cabril. Muito procurada para passeios de barco à vela, a motor ou a remos, para a pesca, em particular do achigã, para mergulhos e braçadas nas águas frescas do Rio Zêzere, a praia fluvial que ali se forma está rodeada de pinheiros bravos, eucaliptos, acácias e oliveiras que, além de purificarem o ar que se respira, formam, na aldeia de Pedrógão Grande, a zona do Pinhal Interior Norte, a maior mancha florestal da Europa.
Na albufeira, que resulta de uma das maiores represas do País, funciona também o Clube Náutico de Pedrógão Grande, que oferece passeios de barco, canoa ou caiaque. O local dispõe, também, de uma rampa de acesso a embarcações com capacidade para cerca de 20 barcos. Anualmente, A Barragem do Cabril recebe provas de competição de triatlo. Antes do acesso à piscina flutuante, perto da rampa de acesso, existe o Parque de Merendas do Cabril, onde se pode desfrutar de momentos de lazer com família e amigos, com o azul cristalino do Rio Zêzere na Barragem do Cabril e o verde dos pinhais que o envolvem a ‘pintar’ o cenário envolvente.
52 | Peniche
Especial Aniversário
Surfistas do todo o mundo colocam ondas de Peniche na moda Praias de Peniche parecem ter sido abençoadas pelos deuses dos desportos náuticos, atraindo milhares de patricantes anualmente. ‘Capital da Onda’ está na rota dos melhores do surf O mar continua a ser um dos principais pontos de interesse e desenvolvimento e as praias de Peniche são muito apreciadas. Se as baías da Consolação e do Baleal proporcionam um bom resguardo para dias de praia em família, as ondas desta costa Oeste, como as da Praia de Medão Grande, conhecida como Supertubos devido às suas grandes ondas de forma tubular, são muito procuradas por surfistas e bodyboarders de todo o mundo. Aliás, Peniche tem uma enorme variedade de recursos para agradar ao turista. As extensas praias ao longo da costa são consideradas ideais para a prática de todo o tipo de desportos náuticos e especialmente procuradas pelos surfistas e é por causa disso que se auto-denominou a ‘Capital da Onda’. Mas afinal o que é que isso
Praias de Peniche são um dos ‘expoentes’ máximos do surf em Portugal
significa? “Significa que Peniche tem de ter infra-estruturas de apoio às actividades de mar junto dos locais onde se praticam as modalidades, sistemas de apoio e de segurança de excepção, um serviço de excelência, etc. O posicionamento da marca 'Capital da Onda' tornou Peniche numa referência nacional e internacional e as características únicas do concelho permitemlhe manter todo esse referencial”, referiu Paulo Ferreira, presidente da direcção do Peniche Surfing Clube, acrescentando que em Peniche “existe sempre um local com ondas perfeitas”. “A diversidade da tipologia de ondas, que permitem que sejam usufruídas desde os iniciantes até aos profissionais, incluindo a onda de classe mundial, Supertubos, tornam Peniche num destino de eleição para os praticantes das modalidades de ‘surfing’ em todo o mundo”, conta o responsável. Por outro lado, o mar sempre foi muito importante para a actividade económica do concelho. Primeiro através da pesca e da indústria e comércio conexos, sendo a lota de Peniche ainda hoje umas das mais importantes da Península Ibérica. Contudo, há
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Especial Aniversário
uma nova realidade e a mudança de paradigma do ‘surfing’, que passou de modalidade desportiva quase marginal para um desporto sexy e que está na moda. Para a alteração deste paradigma, muito contribuiu a realização da etapa do mundial em Peniche. No âmbito desportivo, Peniche foi pioneiro (em 1977 recebeu o primeiro campeonato internacional de surf organizado no nosso País) e tem recebido ao longo dos anos as mais importantes competições desportivas, que culminaram na etapa do mundial de surf, o Rip Curl Pro Portugal e no campeonato Europeu de Stand Up Paddle (umas das modalidades aquáticas mais emergentes do mundo) que se realizou em Peniche em 2017. “Com o advento da primeira prova em 2009, tornou-se conhecida a uma outra escala global e junto de outros públicos, o que criou um 'boom' de visitantes e turistas para o concelho, tendo atraído investimento para este e outros sectores, dinamizando substancialmente a economia local”, admitiu Paulo Ferreira. Para o responsável, Peniche tornou-se “um destino mais
atractivo” e “de eleição para turistas de classes económicas mais favorecidas economicamente”, bem como para “novos nichos de mercado”, nomeadamente os ligados ao turismo de natureza e ambiental, bem como de amantes dos desportos náuticos. “O impacto directo e indirecto do Rip Curl Pro Portugal é brutal para economia não só do concelho, mas também da região e de Portugal enquanto destino de excepção para os praticantes da modalidade e para quem se pretende iniciar. A marca Peniche e a marca Supertubos, embora já muito valorizadas, ainda têm imenso potencial de crescimento”, rematou Paulo Ferreira. Anualmente e desde 2012, Peniche recebe um dos eventos mais importantes na Europa nas modalidades de Stand Up Paddle, Canoagem de Mar e Remo de Mar, o Berlenga Ocean Challenge, sendo o único evento que reúne estas três federações desportivas e que está integrado no Peniche Paddle Series. São milhares os ‘free surfers’ (designação dada às pessoas que praticam a modalidade de forma lúdica) que anualmente usufruem
do recurso das ondas de Peniche e cujo número tem crescido de ano para ano, pelo que a “notoriedade de Peniche enquanto marca, em muito contribui para este fenómeno”. Centro de Alto Rendimento Por tudo isso, é justo dizer-se que as ondas de Peniche formam autênticos campeões a nível local, nacional e internacional. Exemplo disso são os campeões nacionais e europeus de Bodyboard, de Surf, de Bodysurf e Stand Up Paddle. Uma estrutura importante para a afirmação de Peniche no mundo dos desportos náuticos é o Centro de Alto Rendimento (CAR) de Peniche que inicialmente não estava nos planos da rede de centros de surfing a construir no País, mas graças à pressão da comunidade local e ao forte empenho do município de Peniche foi construído e foi inclusivamente o primeiro a ser inaugurado em Portugal. O CAR tem como missão receber os estágios e treinos de atletas de alto rendimento e/ou atletas que estejam em formação, desde as fases de iniciação,
passando pela pré-competição e competição. Inicialmente pensado para a modalidade de surf, recebe hoje atletas provenientes das mais variadas modalidades náuticas, sendo o ‘surfing’ sempre prioritário. “O CAR está a passar por uma alteração ao modelo de gestão, que o tornará como um centro de referência nos desportos náuticos em conjunto com as várias associações do concelho e os seus parceiros estratégicos. Esta abertura à comunidade resultará numa relação ganha-ganha, que será extremamente positiva para a comunidade de desportistas náuticos”, referiu Paulo Ferreira. Para o presidente do Peniche Surfing Clube, o concelho ainda tem um caminho a trilhar para aproveitar melhor ainda o que o mar tem para oferecer, deixando várias sugestões, nomeadamente “a criação de legislação de forma ordenar a utilização do recurso natural, nomeadamente para os desportistas e para os banhistas; melhorar as infra-estruturas de apoio existentes; aposta em turismo sustentável e de qualidade em detrimento do turismo de massas; mais oferta
em alojamento, restauração e similares, mas sempre com aposta na sustentabilidade e qualidade; criação de eventos que primem pela diferenciação e afirmação do destino; não são necessários mais campeonatos de ‘surfing’; e apostar também na realização de eventos em outras desportos aquáticos não poluentes”. Como projectos de futuro para o CAR, Paulo Ferreira refere que num curto prazo será dado especial enfoque à concretização da academia de ‘surfing’ do clube, a Peniche Surfing Academy. “Esta academia vai permitir dar apoio ao estudo e ao alto rendimento para os atletas do Peniche Surfng Clube e outros externos; apoio técnico a equipas e selecções; manteremos o projecto de formação de atletas de alto rendimento com o nosso embaixador de Stand Up Paddle e um dos melhores atletas do mundo, o italiano Leonard Nika; transformar o CAR num centro de referência na medicina desportiva nestas modalidades”, referiu, acrescentando que o CAR tem como objectivo a médio-longo prazo criar condições para ter “atletas residentes”.
54 | Peniche
Especial Aniversário
Peniche: a ‘capital da onda’ Peniche ‘respira’ e ‘vive’ também do surf e não é por acaso que lhe chamam a ‘capital da onda’. Foi há 18 anos, em 2001, que a cidade balnear mais a Sul do distrito de Leiria acolheu pela primeira vez uma etapa da liga mundial de surf - o World Surf League – e dai em diante a repercussão daquela actividade desportiva teve um enorme impacto na localidade, inclusive ao nível da economia local. A competição costuma ter lugar em Outubro e reúne naquela cidade entre 130 e 150 mil pessoas. Peniche ganhou com os anos uma dimensão mundial no que ao surf diz respeito, e desde há uma década afirmou-se com a ‘capital da onda’. Passou a atrair mais turistas, mas também mais investimento estrangeiro e os penichenses adaptaram-se a uma nova realidade. Muita da actividade lúdica, desportiva e também económica passou a girar em torno do surf, culminando com a construção de um Centro de Alto Rendimento de Surf de Peniche. A infra-estrutura está vocacionada para o
Na Praia de Supertubos formam-se algumas das melhores ondas do mundo para o surf
treino e aperfeiçoamento técnico de selecções, equipas e atletas de elite e de alta competição. O edifício tem capacidade para alojar
cerca de 30 pessoas em simultâneo, entre técnicos e atletas, e está integrado na respectiva Rede Nacional de Centros de Alto Ren-
dimento. Por outro lado, acolhe ainda o Centro Interpretativo da Energia das Ondas. Por sua vez, a Praia de Super-
tubos é o ‘expoente’ máximo de toda esta realidade. Aí formamse algumas das melhores ondas do mundo para desportos náuticos e onde o encontro de diferentes nacionalidades faz parte do seu dia-a-dia. E como o desporto de mar faz parte do quotidiano penichense, foram criados, no âmbito do desporto escolar, dois centros de formação desportiva náutica, sendo que um dos quais especificamente para o surf. Poderá ser mesmo um passo para se formarem campeões. Mas não só do surf ‘respira’ o desporto náutico em Peniche. A cidade e as suas ondas já acolheram o Campeonato da Europa de Stand Up Paddle, uma modalidade que cresce a cada ano, a que se junta o bodyboard, entre outras actividades naúticas. Aliás, a prova do Circuito Nacional de Bodyboard da Federação Portuguesa de Surf (FPS) também costuma ter ‘assento’ numa das praias de Peniche, preferencialmente em Supertubos ou Baleal, o que acontece também no Outono, à semelhança das provas de surf.
Especial Aniversรกrio
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56 | Pombal
Especial Aniversário
Carvalho e Melo: figura ímpar na história de Pombal Praça Marquês de Pombal, antiga Cadeia e Celeiro são três das marcas deixadas em Pombal por Sebastião José de Carvalho e Melo, uma figura incontornável na história daquele concelho Considerado uma das figuras mais controversas e carismáticas da história portuguesa, Marquês de Pombal contribuiu em muito para o desenvolvimento do País. Embora natural de Lisboa, foi em Pombal que viveu os últimos anos da sua vida, entre 1777 e 1782. E foi também em Pombal que deixou um legado ainda hoje preservado e observável. A Praça de Marquês de Pombal, a antiga Cadeia, onde hoje se situa o Museu Marquês de Pombal, e o Celeiro são três dos grandes exemplares do legado de Sebastião de José Carvalho e Melo naquele concelho. Mas como surgiu Pombal na vida de Sebastião de José Carvalho e Melo? Remonta aos anos de adolescência daquela importante figura a primeira passagem pelo concelho quando, após a morte dos pais, foi viver para a Quinta da Gramela, propriedade do tio Paulo de Carvalho e Ataíde. Ali permaneceu durante dois anos, antes de regressar a Lisboa. Foi secretário de Estado do Rei Dom José I durante 27 anos, entre 1750 e 1757. Enquanto membro da equipa governativa, acabou por destacar-se como a figura-chave, especialmente a seguir à capacidade demonstrada de aplicar soluções para os problemas do País na sequência do terramoto de 1
Celeiro foi construído segundo as técnicas anti-sísmicas aplicadas nos prédios de Lisboa
de Novembro de 1755. “Carvalho e Melo era um homem determinado, muito trabalhador, que tinha um projecto de melhoramento, de progresso para Portugal à luz do ideário da razão iluminista. À boa maneira dos métodos usados pelos déspotas esclarecidos do seu tempo, esmagou e eliminou os que lhe tentaram fazer oposição”, refere o historiador José Eduardo Franco. Originário da baixa nobreza, as suas medidas reformistas em di-
ferentes domínios, desde a economia à administração central do Estado e das colónias, passando pela Educação e pelas Artes, até ao domínio da Igreja, valeram nobilitação por parte do Monarca a quem foi fiel até ao fim. Recebeu o título de Conde de Oeiras, em 1759, e o cimeiro título nobiliárquico de Marquês de Pombal, em 1769, ficando para a história com o cognome de Primeiro-Ministro de Dom José. “A nobilitação de Carvalho e
Melo com o marquesado pombalino enobreceu e enriqueceu o concelho de Pombal com a edificação e valorização de propriedades do Marquês”, conta José Eduardo Franco. Tanto é que, a Carvalho e Melo, se deve a ordenação e a requalificação da zona histórica de Pombal. “Foi uma marca muito forte em Pombal. Deve-se a ele a construção de edifícios monumentais, com muitas das fachadas a apresentarem uma linha pombalina”,
refere, por sua vez, o historiador pombalense Nelson Pedrosa. Marca do legado de Carvalho e Melo na cidade é a Praça Marquês de Pombal que foi, durante séculos, o centro social, económico e administrativo da antiga vila. Um local que viu nascer, por ordem de Marquês de Pombal, o Celeiro e a Cadeia Velha. E porque a obra e o legado das figuras mais marcantes da história de Portugal devem ser preservados, é o Museu Marquês de Pombal, instalado na antiga Cadeia, que apresenta a memória desse legado que pode ser promovido no quadro de uma rota pombalina de turismo cultural. O Celeiro é outra das marcas deixadas por Sebastião José de Carvalho e Melo em Pombal. De planimetria rectangular disposta longitudinalmente, o edifício divide-se em dois pisos. A fachada principal apresenta no piso térreo o portal rasgado ao centro, encimado pelo brasão do Marquês, ladeado por quatro grandes janelas de moldura ‘pombalina’. No espaço interior destaca-se a cobertura de madeira que suporta o telhado, que lembra o casco de um navio, tendo sido edificada segundo as técnicas anti-sísmicas aplicadas nos prédios de Lisboa construídos depois do terramoto de 1755. E como não poderia deixar de ser, dada a sua personalidade empreendedora, foi Marquês de Pombal o responsável pela produção dos primeiros chapéus em Portugal, ao ter fundado, a 24 de Março de 1759, a Real Fábrica de Chapéus da Gramela, a primeira indústria de chapelaria fina no País.
58 | Pombal Obra reúne documentos atribuídos ao Marquês E porque conhecer aqueles que marcaram a história de um País e de um lugar é conhecer a identidade dos povos e comunidades, está a ser preparada a edição da Obra Completa Pombalina, um projecto que “pretende reunir, através de uma investigação exaustiva e abrangente, em arquivos e bibliotecas públicos e privados, nacionais e estrangeiros, os escritos da autoria exclusiva do Marquês de Pombal e ainda as obras escritas em que participou como co-autor ou por ele directamente inspirados ou encomendados”, segundo explica José Eduardo Franco, coordenador científico do projecto. Num investimento que ascende a um milhão e cinquenta mil euros, a edição da obra justifica-se pelo “imenso legado escrito que se encontra submerso em arquivos e bibliotecas dos vários continentes”, refere o investigador. Também o investigador pombalense Nelson Pedrosa considera que, “condensar todos estes documentos numa única obra, é o reconhecer do trabalho de Marquês de Pombal”. “Foi uma figura que teve uma visão estratégica em todas as áreas e, portanto, é de louvar que o seu trabalho seja reconhecido e valorizado”, defende.
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Pombal: o legado do Marquês Pombal é terra de lendas, história e gente ilustre. Exemplo notável disso é Marquês de Pombal, que ali viveu entre 1777 e 1782, e a quem se deve a ordenação da parte baixa da vila. Nascido em Lisboa, em 1699, Sebastião José de Carvalho e Melo foi um importante político, diplomata, estadista e reformador. Ao concelho de Pombal manteve sempre uma forte ligação, fruto dos anos que ali viveu durante a adolescência, na Quinta da Gramela, propriedade do tio Paulo de Carvalho e Ataíde. Difícil é dissociar Sebastião José de Carvalho e Melo da cidade de Pombal, já que foi naquele lugar que deixou um dos mais importantes legados. Dos locais de interesse relacionados com a sua destacada personalidade sobressai a Praça Marquês de Pombal, situada na zona histórica da cidade. Então denominada Praça do Comércio, deve o seu nome ao grande estadista, Sebastião José de Carvalho e Melo. Durante sé-
Museu Marquês de Pombal está instalado na antiga Cadeia, construída por ordem de Carvalho e Melo
culos foi o centro social, económico e administrativo da antiga vila de Pombal, local onde também o Conde de Castelo Melhor optou para fixar a sua residência. Dominada pela Igreja Matriz de S. Martinho, a praça conheceu nova fisionomia com a construção do Celeiro e da Cadeia no sítio do antigo pelourinho, por ordem do Marquês de Pombal. Também denominado Celeiro da Quinta da Gramela, o celeiro
servia para recolher os rendimentos da Quinta, tendo sido edificado segundo o modelo pombalino criado para os edifícios da Baixa de Lisboa, aplicando-se ali a estrutura da gaiola. Construída também em gaiola foi a antiga Cadeia que, com dois pisos, apresenta no exterior um friso com as armas do Marquês de Pombal. A antiga Cadeia Velha de Pombal dá agora lugar ao
Museu Marquês de Pombal, com origem um trabalho de pesquisa, recolha e selecção de um pombalense, o antiquário Manuel Gameiro. O espólio primitivo tem sido complementado ao longo dos anos e, actualmente, o acervo do Museu dá ênfase à sua verdadeira identidade, sendo constituído por vários núcleos ligados a Sebastião José de Carvalho e Melo e à história nacional e local do século XVIII. Compõem ainda o acervo deste museu uma colecção de quadros e gravuras, que permite a todos os visitantes observar a história, facilitando o seu entendimento através da ilustração de modo de vida, dos costumes, das figuras, dos trajes e dos principais acontecimentos do século XVIII. A par disso, uma importante colecção de mobiliário da época, com particular destaque para obras pertencentes ao Marquês de Pombal e uma colecção de pintura, composta por óleos sobre tela, preservam e valorizam a memória e o legado daquela que foi uma das mais ilustres figuras da história portuguesa.
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Porto de Mós | 59
Arquitectura ímpar projecta Castelo portomosense além-fronteiras De estilo gótico e renascentista, marcado por uma arquitectura apalaçada, o Castelo de Porto de Mós assume-se como um ex-libris da vila e do concelho Ex-libris da vila e do concelho, o Castelo de Porto de Mós destacase pela sua implantação num morro com visibilidade de 360º e pela arquitectura apalaçada, marca do gosto renascentista de D. Afonso, IV Conde de Ourém. De características peculiares, apresenta uma evidente racionalidade arquitectónica, ao alicerçar-se numa planta pentagonal irregular, em estilo gótico e renascentista. A verdade é que entrar no Castelo de Porto de Mós é ‘mergulhar’ num conto de fadas, com os panos de muralhas a serem reforçados, nos ângulos, por cinco torres. As duas a Sul são encimadas por coruchéus piramidais verdes, apresentando-se as três restantes danificadas, marcas dos tempos e da história daquele monumento.
Castelo foi classificado como Monumento Nacional em 1910
“Naturalmente, as suas torres Sul rematadas com os conhecidos coruchéus tornam-no inconfundível dentro das tipologias de castelos que encontramos em Portugal. Neste caso, as influências arquitectónicas e artísticas, trazidas por D. Afonso, resultaram numa solução muito invulgar no País”, refere o funcionário responsável pelo Castelo de Porto de Mós, Jorge Figueiredo. A coexistência de estilos daquele monumento, classificado como Monumento Nacional desde 1910, é revelada pelas portas e janelas rectangulares e ogivais, bem como por outros elementos construtivos e decorativos, similares ao Paço de Ourém. Aquela que se apresenta como uma grandiosa obra arquitectónica com características originais, construída inicialmente como fortaleza de índole árabe, foi flagrante durante o período da conquista cristã. “Em vários momentos históricos, a sua localização estratégica torna-se evidente. O castelo é o guardião dos acessos que atravessam o Maciço Calcário Estremenho, por onde se processaram, ao longo de toda a história, im-
60 | Porto de Mós portantes contactos entre a bacia hidrográfica do Tejo e a orla costeira da Alta Estremadura. Esta localização é particularmente importante no processo da designada Reconquista”, explica Jorge Figueiredo. É então que, devido às suas particularidades, e após sucessivas guerrilhas entre portugueses e mouros, em 1148, D. Afonso Henriques, auxiliado por D. Fuas Roupinho, acaba por tomar a vila e vencer as tropas sarracenas, comandadas pelo rei Gámir de Mérida. É neste contexto que o Castelo foi posteriormente entregue a D. Fuas Roupinho, que se viria a tornar no primeiro alcaide da vila de Porto de Mós. Anos mais tarde, durante o reinado de D. Dinis, a fortaleza recebe importantes obras de beneficiação e, em 1305, é concedida a carta de foral à vila de Porto de Mós que, há data, já se tinha constituído concelho. Em 1385, o Castelo de Porto de Mós volta a desempenhar um papel decisivo naquele que veio a ser um marco na história de Portugal, a Batalha de Aljubarrota. “Um momento histórico marcante no percurso do castelo relaciona-o com a Batalha de Aljubarrota, sucedida a escassos quilómetros, já que, na véspera da batalha, as forças portuguesas foram aqui acolhidas”, conta Jorge Figueiredo. Após a morte de D. João I, o domínio do Castelo foi legado à sua filha e genro, os Duques de Bragança, e por hereditariedade ao seu neto D. Afonso, 2º Duque de Bragança, 4º Conde de Ourém e 1º Marquês de Valença, também neto do condestável Nuno Álvares Pereira. Foi então nas suas mãos que a estrutura medieval deixaria de ser uma atalaia para passar a ser
um palacete residencial. “Do ponto vista histórico e territorial, a fortaleza, que evoluiu para residência apalaçada, e, finalmente, referência cultural, contribuiu para dar centralidade ao concelho, um dos mais estáveis nos seus limites territoriais”, afirma Jorge Figueiredo. Durante a segunda metade do século XV, D. Afonso, homem culto e viajado, sob fortes influências renascentistas que começavam a despertar na Europa, inicia obras de recuperação no castelo, visíveis até aos dias de hoje, que posteriormente os seus descendentes conservaram e ampliaram.
Em 1385, o Castelo de Porto de Mós desempenhou um papel decisivo na Batalha de Aljubarrota No entanto, os abalos sísmicos sentidos em 1755 viriam a destruir uma parte do castelo, com a primeira intervenção de recuperação do monumento a ter lugar em 1936. Apontado como o símbolo máximo da identidade do concelho de Porto de Mós e o “orgulho” dos portomosenses, o Castelo está aberto a todos os interessados em conhecer e vivenciar um dos monumentos mais peculiares da região Centro. “Aqui é possível deslumbrar-se com os pormenores artísticos e com todo o enquadramento paisagístico. Parar um tempo para fruir é, neste local, simplesmente hipnótico. A metamorfose da paisagem entre o lado Norte, de vales férteis, e o lado Sul, de serras ressequidas, é aqui muito evidente”, remata Jorge Figueiredo.
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Um castelo ‘conto de fadas’ que ‘abraça’ a inclusão Portugal tem muitos castelos, mas o da vila de Porto de Mós destaca-se de muitas das fortificações medievais nacionais pela sua arquitectura e singularidade. O Castelo de Porto de Mós remete o imaginário para os contos de fadas e no local onde está edificado terá existido um povoado de origem pré-histórica, teoria que assenta na descoberta de alguns artefactos de olaria daquela época. O principal marco histórico associado ao monumento refere-se à oferta do Castelo e da vila de Porto de Mós a D. Nuno Álvares Pereira, uma recompensa de D. João I pela vitória que o Santo Condestável liderou na vitória da Batalha de Aljubarrota (em 1385), frente aos castelhanos. Contudo, séculos antes, foram os árabes que ampliaram o Castelo, que durante anos foi palco de sucessivas batalhas, que terminaram com a conquista da fortaleza aos mouros, no século XII, em 1148, sob as ordens de D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal. D. Fuas Roupinho foi o primeiro alcaide do Castelo de Porto de Mós, mas depois da sua morte o monumento voltou a ser atacado pelos mouros, ficando em muito mau estado. As reconstruções e ampliações de que foi alvo decorreram na época dos reis D. Sancho I e D. Dinis, cabendo ao reinado de Afonso IV, conde de Ourém, a
Castelo de Porto de Mós é um dos ícones do património da região
edificação da actual configuração palaciana. Actualmente, o Castelo de Porto de Mós, que foi classificado como Monumento Nacional em 1910, é um dos ícones da região de Leiria e também um dos monumentos mais conhecidos no País e recentemente foi alvo de profundas obras de reabilitação, nomeadamente ao nível de acessibilidade e inclusão, permite a visita de todos, sem excepção. O monumento reabriu ao público no passado sábado (dia 6), após um investimento de quase 250 mil euros. Entre as melhorias no acesso ao Castelo, constam obras a nível sensorial, permitindo a visita para cegos, num trabalho desenvolvido em parceria com o Instituto Politécnico de Leiria.
As intervenções permitiram ainda instalar plataformas, rampas de acesso e elevador, de modo a permitir a mobilidade a todos os que pretendam visitar o monumento. ‘D. Afonso, IV Conde de Ourém, Vulto Ilustre da História de Porto de Mós’ e a exposição permanente que passou a integrar o monumento, a cargo das fundações D. Manuel II e Histórico Cultural Oureana. Simultaneamente, integra, temporariamente, a exposição ‘Armamento da Batalha Real de Aljubarrota’. O monumento ‘guarda’ ainda um exposição fotográfica que retrata o Castelo entre os anos 1930 e 1960 e a mostra de achados arqueológicos, que foram retirados do monumento.
Ourém | 61
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Fátima: o “altar do mundo” A Capelinha das Aparições é o centro da atracção de milhares de peregrinos a Fátima. Como afirma o cardeal D. António Marto, o “‘altar do mundo’ define bem a dimensão universal do Santuário e da mensagem de Fátima” Os números são esclarecedores da dimensão de Fátima no mundo católico, e não só. Em 2018, o Santuário mariano registou “sete milhões de participantes nas celebrações”. “Só do continente asiático realizaram-se 481 peregrinações organizadas, dos 4.387 grupos organizados” que marcaram presença. “Neste bolo, 2.785 grupos são estrangeiros e 1.602 são portugueses, num total de 679.577 peregrinos, de 79 países”, revela o Santuário de Fátima. “‘Altar do mundo’ define bem a dimensão universal do Santuário e da mensagem de Fátima. No ano centenário estiveram em Fátima 9,4 milhões de peregrinos, de 105 nacionalidades”, sublinha o cardeal e bispo da Diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto. E “atrair cada vez mais peregrinos e levar cada vez mais longe a mensagem deixada por Nossa Senhora, que no essencial é a afir-
Santuário de Fátima é também um espaço de promoção da paz universal
mação de que Deus nos acompanha até ao fim da História, são os nosso objectivos”, adianta, por sua vez, o reitor do Santuário, Carlos Cabecinhas. Sobre a ambição do Santuário continuar a ser um centro para o diálogo inter-religioso e intercultural e um espaço de promoção
da paz universal, o prelado sublinha que Fátima “é um santuário católico, que acolhe crentes e não crentes e entre os crentes estão também peregrinos de outras religiões”. “Fátima afirma-se, naturalmente, como um centro para o diálogo inter-religioso e intercultural e um espaço de promoção
da paz universal, desde logo a partir da mensagem que aqui se veicula, uma mensagem de abertura a todos, de acolhimento na diferença, da demonstração às pessoas de todas as religiões que estão num lugar de paz e de respeito mútuo”, frisa Carlos Cabecinhas. Também D. António Marto sublinha que Fátima continuará “a oferecer acolhimento fraterno a peregrinos de outras religiões que visitam o Santuário e a formar os peregrinos católicos para este diálogo em ordem ao melhor conhecimento recíproco, ao que nos une para a convivência pacífica e a colaboração na paz entre os povos, na promoção da dignidade de cada ser humano, na solidariedade com os mais frágeis e necessitados”. Aliás, D. António Marto, sublinha a importância do Santuário de Fátima no desígnio da promoção de paz no mundo. “A paz é o tema central da mensagem de Fátima que permanece sempre actual e que toca fundo o coração dos peregrinos. Além da oração pela paz, há também a viagem da Imagem Peregrina pelo mundo que leva esta mensagem de paz e
contribui para o crescimento da consciencialização e do empenho na obra da paz no mundo. Basta dizer que a Imagem Peregrina já deu mais de 16 voltas ao mundo e percorreu 645 mil quilómetros”, sublinha. Por sua vez, o reitor do Santuário de Fátima considera, neste âmbito, que “vivemos, como há 100 anos, momentos difíceis. Os vários conflitos regionais, os novos egoísmos nacionalistas obrigam-nos não só a falar da necessidade de paz, mas também a rezar pela paz”. “As Aparições de Fátima oferecem, de resto, uma visão de paz e uma luz de esperança para a Igreja e para o mundo, num contexto particularmente difícil e que hoje, infelizmente, ainda que por outros motivos, permanece actual. Acresce, ainda, que Portugal, e Fátima em particular, é pela sua geografia e pela sua história ao serviço da evangelização, um local privilegiado para discutir as questões da paz”, salienta Carlos Cabecinhas. Fátima também é “uma ‘montra’ de Portugal” Que o Santuário de Fátima seja “um oásis de paz interior e um
62 | Ourém centro de evangelização e de espiritualidade da ternura e da compaixão”, porque “são estas as realidades de que o mundo ferido e fragmentado mais precisa”, são os votos de D. António Marto para aquele lugar mariano, e sobre o contributo que o Santuário de Fátima pode dar na ‘promoção’ da região e do País, o cardeal refere que “só o nome de Fátima é a melhor e mais universal ‘marca’ para a promoção do turismo religioso. E não é apenas uma amostra, mas também uma ‘montra’ de Portugal”. À pergunta se podem os católicos portugueses ambicionar nova vinda do Papa Francisco a Fátima, D. António Marto não acredita que possa acontecer. “Não penso que o Papa Francisco volte a Fátima. Ainda tem muitos países a visitar e dá preferência aos países mais periféricos e mais pobres”, afirmou. “Naturalmente que queremos sempre contar com a presença do Papa na Cova da Iria, mas também sabemos que nem sempre é possível”, diz, por sua vez, o reitor do Santuário de Fátima. Carlos Cabecinhas frisa também que “a relação entre Fátima e os Papas é profunda e está na própria mensagem. Fátima é o que é enquanto lugar porque os Papas também lhe deram visibilidade”.
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Milhões de peregrinos rumam à Cova da Iria O maior lugar de culto da Igreja Católica Portuguesa, símbolo da mensagem de Nossa Senhora, colocou o concelho de Ourém nas ‘bocas’ do mundo há mais de um século. Fátima criou um importante e forte ADN no mundo católico, que se traduz nos milhares de peregrinos que rumam ao Santuário mariano todos os anos. O ano passado, participaram nas celebrações de Fátima “sete milhões” de pessoas. Um número que vai ao encontro da “média de peregrinos” registada entre 2012 e 2018, que se cifrou entre os 5,5 e os 6,5 milhões, revela o Santuário de Fátima. O ano de 2012 “foi a excepção”, com 6,8 milhões de pessoas, exceptuando, naturalmente, o ano do centenário [2017], que registou 9,4 milhões de peregrinos”, frisa a mesma fonte. E se ainda “é prematuro avançar” sobre o número de peregrinos na Cova da Iria este ano, “os números mantém a tendência de 2018”, nomeada-
mente o “crescimento dos grupos da Ásia” e a “confirmação de que os portugueses continuam a ser os peregrinos maioritários do Santuário, seguidos dos espanhóis, italianos e polacos”, faz saber o Santuário de Fátima. Números que ajudam a explicar a dimensão religiosa e social de Fátima, cujo Santuário mariano acolheu seis visitas papais em 50 anos. O Papa Francisco – o argentino Jorge
Mario Bergoglio – foi o quarto e último Sumo Pontífice a marcar presença na Cova da Iria, por ocasião do ‘Centenário das Aparições’, a 12 e 13 de Maio de 2017. Nessas celebrações presidiu à canonização dos pastorinhos Jacinta e Francisco Marto. Foi também há dois anos, a 13 de Maio, que se assinalou meio século após a primeira visita de um Papa ao Santuário de Fátima. Paulo VI esteve na Cova
da Iria a 13 de Maio de 1967, nas comemorações dos 50 anos das ‘Aparições’. Já em 1982, de 12 a 15 de Maio, decorreu a primeira de três visitas do Papa João Paulo II ao Santuário de Fátima, onde agradeceu a “protecção maternal” da “Nossa Senhora”, que lhe “conservou a vida” no atentado do ano anterior, na Praça de São Pedro, em Roma. Em Fátima, sofreu nova tentativa de atentado, pelo padre Juan Khron, mas o Papa escapou ileso. João Paulo II regressou a Fátima, nove anos depois, de 10 a 13 de Maio de 1991. Seguiram-se outros nove anos até à terceira e última visita do Papa polaco, a 12 e 13 de Maio de 2000. João Paulo II compareceu em Fátima prestes a completar 80 anos e a sua visita de ficou marcada pela beatificação dos pastorinhos Jacinta e Francisco Marto. Por sua vez, a primeira e única visita do Papa Bento XVI [o alemão Joseph Ratzinger] a Fátima aconteceu entre 11 e 14 de Maio de 2010.
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Peniche | 55