Aniversário 35 anos DL

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Em 35 anos, muita coisa mudou na região, no país e no mundo. E 35 anos depois, quisemos assinalar o aniversário do Diário de Leiria dando voz a 35 protagonistas ligados às mais variadas áreas.

Este suplemento faz parte integrante da edição de hoje do Diário de Leiria, não podendo ser vendido separadamente

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Propostas para valorizar o território

Há 35 anos, o Diário de Leiria publicava a sua primeira edição. Um dia especial para o jornal, mas também para a região, que desde então passou a contar com um matutino, ainda hoje o único em todo o distrito.

Em 35 anos, muita coisa mudou na região, no país e no mundo. E 35 anos depois, quisemos assinalar o aniversário do Diário de Leiria dando voz a 35 protagonistas ligados às mais variadas áreas.

O leque destes 35 participantes é diversificado, enriquecendo um suplemento que também procurou ouvir as entidades que representam os municípios da região, neste caso, as duas Comunidades Intermunicipais de Leiria e Oeste, sem esquecer o testemunho importante do concelho de Ourém.

No suplemento que convidamos a ler, os 35 participantes dão a conhecer a sua visão de matérias tão importantes para a região como o ambiente, a saúde, a justiça, ou a educação. Escolas “mais humanizadas”, cidades “educadoras e amigas das crianças, jovens, adultos e idosos” podem ditar o futuro do território, que se pretende inclusivo e com “cidadania plena”.

No fundo, a educação e industrialização “são objetivos a cumprir”, sendo que a “condição primeira de um projeto credível para a região é haver consciência regional e liderança regional, coisas

que devem andar juntas”.

Criar uma Unidade Local de Saúde de Leiria, apoiar a inovação para atrair investimento, apostar nos projetos de investimento nas áreas da economia digital, “discutir e repensar a paisagem regional” são outras das medidas apresentadas para a região, que também deverá dar atenção à promoção do diálogo inter-religioso.

E porque Leiria tem também uma vasta experiência com associativismo e cultura, a região deve ser “acolhedora e multicultural” e promover “o entusiasmo no estudo e no trabalho para os nossos jovens, a progressiva modernização do parque empresarial, a habitação, a fruição cultural, a segurança e o apoio à saúde”.

“É urgente criar estruturas de apoio à

vítima” na região, assim como também é importante apostar “na reabilitação e integração social como futuro para a melhoria da qualidade de vida do cidadão portador de deficiência”.

As artes não foram esquecidas, num território onde a música assume especial relevância, e onde áreas como o cinema ou a dança começam a dar cartas no país e além-fronteiras. No fundo, importa reunir a comunidade “para fortalecer os setores ligados à cultura”.

Este ano, Leiria assume o papel de ser Capital Europeia do Desporto. Um motivo de orgulho para a cidade do Lis, que poderia aspirar a ser a ‘capital’ do atletismo, mas para isso, precisa de criar e melhores condições para a prática da modalidade.

Terra propícia ao turismo, é surpreendente o facto de, num raio de 40 quilómetros, se possa encontrar três monumentos classificados como Património Mundial pela UNESCO. Mosteiro de Alcobaça, Mosteiro da Batalha e Convento de Cristo, em Tomar, que destacam a riqueza da região Centro que, no entanto, não se esgota apenas nestes monumentos.

E se o Turismo é um dos principais motores de crescimento do país, do Centro de Portugal e, em particular, da região de Leiria, depois de anos muito difíceis, “tem agora pela frente novos desafios” e o caminho pode ser feito pelos operadores de mercado numa aposta clara no “turismo com mais valor acrescentado”.

Introdução | 03 Especial 35.º Aniversário
FICHA TÉCNICA Outubro 2022 Helena Amaro Director Adriano Callé Lucas Directores-adjuntos Miguel Callé Lucas e João Luis Campos Directora Geral Teresa Veríssimo Chefe de Redacção/ Coordenação Editorial Helena Amaro
Textos: Cristiana Bernardino, Helena Amaro, Inês Mendes, José Roque e Séfora C. Silva Fotografia Luis Filipe Coito, Arquivo, DR, CMPG
Coordenação Comercial Sandra Amarante Publicidade (vendas): Hélder Rocha, João Duarte, Micael Simões e Sandra Amarante Design Gráfico: Pedro Seiça Publicidade: Carla Borges e Rui Semedo Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A.

INVERTER O DECLÍNIO DEMOGRÁFICO É UM DOS PRINCIPAIS DESAFIOS DA REGIÃO

Aregião Centro é uma região muito heterogénea, com subregiões e municípios com características muito díspares entre si, quer em termos do seu dinamismo socioeconómico quer das especificidades das atividades económicas desenvolvidas ou dos problemas demográficos que enfrentam. Apesar de todo o território regional ter um elevado potencial de desenvolvimento, as estratégias e os planos de ação para cada uma das subregiões devem ser totalmente ajustados às suas especificidades, o que numa região com tamanha heterogeneidade é um grande desafio. Assim, as sub-regiões mais frágeis têm que ser objeto de programas específicos, baseados em primeiro lugar nas pessoas e recursos locais, mas também procurando tornar essas regiões mais atrativas para novos investidores e famílias.

Importa conhecer as potencialidades de cada território e daí tirar o maior e melhor partido para que se tornem mais competitivos e atrativos. No contexto da preparação do período de programação de financiamento europeu 2021-2027, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) coordenou o processo de definição da Visão Estratégica para a Região Centro

2030. Este exercício partiu das principais características da região, identificando os constrangimentos mais relevantes e os principais desafios que se colocam a este território.

Os desafios identificados na estratégia regional para o horizonte 2030 traduzem-se em cinco desígnios: 1) reforçar a sua competitividade nacional e internacional e consolidar um modelo de inovação territorialmente inclusivo; 2) promover a capacitação para a resiliência dos territórios; 3) liderar a evolução para uma sociedade mais sustentável; 4) aproveitar estrategicamente o seu sistema urbano; e 5) organizar a oferta de qualificações e competências.

De entre os desafios que se colocam à região, inverter o declínio demográfico é

seguramente um dos mais prementes, tendo em conta o crescimento natural negativo em boa parte da região. Exigem-se por isso abordagens integradas que respondam eficazmente às diferentes dinâmicas demográficas existentes no Centro, que por sua vez se interligam com as disparidades económicas, sociais e territoriais. Por exemplo, na provisão dos Serviços de Interesse Geral, os territórios mais densamente povoados, nomeadamente as cidades, encontramse desafiados pela pressão dos fluxos migratórios, afetando a qualidade da oferta; nas regiões de baixa densidade, nomeadamente nas áreas rurais de baixa densidade, a provisão é afetada com a perda populacional e a falta de massa crítica, questionando a racionalidade da oferta. Impõe-se, por isso, a

necessidade de capacitar os diferentes territórios para abordagens mais integradas, multissetoriais e inovadoras, assentes num modelo territorial flexível, capaz de agir à escala adequada e de se adaptar às mudanças e aos novos riscos, mobilizador dos vários atores locais e do trabalho em rede.

É, contudo, de realçar que os tempos atuais nos mostram que os processos de planeamento e de definição de prioridades devem ter elasticidade e flexibilidade de ajustamento. Efetivamente, todos os processos de planeamento estão a ser desenvolvidos num contexto adverso, combinando a pandemia por COVID-19 com a invasão inesperada da Ucrânia pela Federação Russa, com elevadas consequências visíveis no setor energético e alimentar.

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De entre os desafios que se colocam à região, inverter o declínio demográfico é seguramente um dos mais prementes, tendo em conta o crescimento negativo em boa parte da região

CIMRL: uma ‘família’ para potenciar e afirmar a região

Projetos ligados ao ambiente, urbanismo, saúde ou formação são apenas algumas das áreas onde os 10 municípios que integram a CIMRL têm apostado em conjunto, numa ação concertada para reforçar a identidade regional

“Articular medidas comuns” e “unir esforços” para reforçar a identidade regional é a chave para o sucesso da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), empenhada em tornar-se numa “referência de apoio à região” nas mais variadas áreas.

A CIMRL tem vindo a “ensaiar uma nova abordagem” ao desenvolvimento regional, “assente numa estratégia supramunicipal que, respeitando a autonomia política de cada município, permita uma intervenção mais forte” junto dos agentes de várias áreas de atuação, como económicos, sociais e culturais. O objetivo: potenciar os valores da região e afirmar o território no contexto nacional.

CIM LEIRIA | 05 Especial 35.º Aniversário

Mais recente, explica o presidente da CIMRL, Gonçalo Lopes, vários têm sido os desafios que se têm colocado à região, ao país e ao mundo, sobretudo, em cenários de pandemia, guerra e aumento do custo de vida, com taxas de inflação que poderão causar, a curto e médio prazo, dificuldades às famílias e empresas. Neste caso, a estratégia para minimizar o impacto destes acontecimentos tem sido uma total articulação com os 10 municípios que integram a CIMRL.

“A estratégia que a CIM da Região de Leiria assumiu, desde o início da pandemia e, mais recentemente, perante as circunstâncias do agrava-

mento da guerra na Ucrânia e a crise inflacionista que lhe sucedeu, foi a de articular medidas comuns de alcance social para o território e tornar-se uma Comunidade Intermunicipal de referência no apoio à região, em particular às dinâmicas social, económica e cultural, pilares fundamentais para a geração de riqueza e mitigação dos riscos da crise que vivemos”, explica Gonçalo Lopes.

Mas, não são apenas os desafios de enfrentar crises mundiais que a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria tem pela frente. O papel deste tão vasto território que compõe a CIMRL no panorama nacional tem sido igualmente uma das

CIMRL

‘bandeiras’ da Comunidade Intermunicipal, que pretende assumir, “de forma sustentada, um papel cada vez mais relevante na discussão com a Administração Central e o Governo sobre os principais desafios e expectativas da região”.

“Este diálogo nem sempre é fácil e eficiente na resposta às nossas ambições, pelo que o centralismo do investimento público nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, a par do preocupante desconhecimento de algumas realidades regionais, são alguns dos obstáculos que estamos determinados a ultrapassar e promovendo a coesão nacional”, revela Gonçalo Lopes.

Municípios ‘amigos do ambiente’

Eficiência energética, a descarbonização do território e a valorização dos designados corredores verdes são matérias prioritárias para os 10 municípios que integram a CIMRL.

Cada município tem a sua especificidade e desafios, mas em comum têm a ambição de implementar matérias, como “os desafios da eficiência energética, a descarbonização do território e a valorização dos designados corredores verdes, com recurso à mobilidade suave e energia verde”,

enumera o presidente da CIMRL.

Por outro lado, acrescenta Gonçalo Lopes, “a proteção da floresta e a requalificação urbana, a par de uma estratégia intermunicipal para as áreas da demografia, saúde, formação, transportes e captação de investimento” são alguns desafios que a CIMRL está a trabalhar em conjunto e que “terão efeitos em todo o território da região”.

A par dos projetos comuns entre os municípios, Gonçalo Lopes destaca ainda a missão “prioritá-

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Gonçalo Lopes, presidente da CIMRL
Potenciar os valores da região e afirmar o território no contexto nacional sãos os objetivos da CIMRL
pretende assumir “um papel cada vez mais relevante na discussão com a Administração Central e o Governo

ria” da CIMRL em “afirmar-se pela sua capacidade de resposta às necessidades dos municípios e da região e pelo ‘knowhow’, qualidade técnica e humana dos seus técnicos, originando nos seus associados um sentimento de credibilidade e confiança”.

A ‘família’ CIMRL

Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós fazem parte desta ‘família’ que é a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, criada sem fins lucrativos, dotada de autonomia administrativa e financeira, e cuja atuação

Alvaiázere, Ansião, Batalha, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Marinha Grande, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós fazem parte desta ‘família’ que é a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria

visa “o desenvolvimento integrado e sustentável de projetos e atividades de interesse comum aos municípios, contribuindo para a competitividade, coesão e economia de escala das intervenções do território”.

“É nossa convicção que é decisivo para o futuro da região uma ação concertada e construtiva com todos os agentes regionais de forma a unirmos esforços, concentrandonos no fundamental: reforçar a identidade regional e fazer da região de Leiria um território dinâmico e sustentável, com mais espírito empreendedor, mais coesão social e com mais qualidade de vida”, garante Gonçalo Lopes.

Oeste é “uma região onde ninguém é deixado para trás”

É na união e coesão que os municípios do Oeste assentam a sua estratégia que, entre outros desafios, foca-se na qualidade de vida e na ativação de cadeias de valor inovadoras e inteligentes

“Focada na qualidade de vida da comunidade e na ativação de uma economia com cadeias de valor fortes”, a Comunidade Intermunicipal do Oeste (OesteCIM) tem procurado conso-

lidar-se como uma “região global”, onde a união e a coesão marcam o passo de um caminho trilhado por 12 municípios.

É nos concelhos de Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos,

Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peniche, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras que a OesteCIM promove a sua missão enquanto entidade pública, no-

meadamente “contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável e a melhoria de qualidade da população”.

Por outro lado, assume-se como uma região preocupada

com a pegada ecológica e com a transição digital. A aposta numa economia com cadeias de valor fortes é, segundo a OesteCIM, alavancada “pela transição verde e combate às

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alterações climáticas, transição digital, inovação e gestão inteligente do conhecimento e inclusão social”.

É “uma região onde ninguém é deixado para trás”, assegura o presidente da Comunidade Intermunicipal do Oeste, Pedro Folgado, que assume como “desafio” o “processo de transição, seja ela ambiental, digital ou inclusão social que se prende com a mobilização de todos os atores, inclusive económicos e institucionais”.

“É preciso trabalhar em prol do apoio e coordenação de todos para que a transição seja bemsucedida”, afirma.

Contudo, a pandemia, a guerra e o aumento da inflação surgiram, muito recentemente, como desafios para os quais a OesteCIM teve e está a dar resposta. No caso específico da pandemia de covid-19, a pandemia mudou o mundo em que vivemos, levando os consumidores a repensar as suas decisões de compra. Neste sentido, a Comunidade Intermunicipal do Oeste implementou várias medidas de apoio a famílias e empresas da região: Oeste

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35.º Aniversário
Especial
A OesteCIM tem apostado na promoção da transição ambiente e desenvolvimento sustentável da região

+Mercado, Oeste +Famílias, Oeste +Emprego e Oeste +Empresas, distribuiu kits e criou uma Linha de Atendimento de Apoio às Famílias. “Foi preciso criar mais e melhores condições para acelerar a recuperação económica e preparar o tecido empresarial para as novas realidades do comércio eletrónico, da cooperação, da definição de cadeias de valor regionais e da utilização das melhores ferramentas de negociação”, afirma Pedro Folgado.

As estratégias da OesteCIM

A estratégia da OesteCIM foca-se na qualidade de vida e na ativação de cadeias de valor inovadoras e inteligentes, traduzindo-se em várias agendas estratégicas, desde logo criando uma região “inovadora e competitiva”, que engloba a promoção da competitividade empresarial e a sustentabilidade das economias rurais.

Por outro lado, assume-se com uma região “de excelência ambiental e patrimonial”, valorizando o património natural, os valores ambientais e paisa-

gísticos, e o património histórico cultural, assim como a prevenção e gestão de riscos e à adaptação às alterações climáticas.

A comunidade intermunicipal pretende ainda reforçar a sua posição como “região digital e de inteligência territorial” e, nesta matéria, tem procurado desenvolver um conjunto de ações que visam a transição e a transformação digital da região e em todos os setores ou a conetividade associada às redes.

O capital humano não é esquecido na estratégia de uma “região de talento e capacitada”, reitera o presidente da OesteCIM, apostando, nesse sentido, na qualidade do ensino, na adequação dos recursos humanos às exigências do tecido empresarial e na capacitação das instituições e territorial.

Por fim, pretende assumirse como uma região “coesa e conectada”, através de iniciativas que permitirão alavancar as dinâmicas de proximidade à Área Metropolitana de Lisboa do ponto de vista da atratividade residencial e empresarial e potenciar sinergias e ligações entre as três regiões.

A Comunidade Intermunicipal do Oeste é composta pelos concelhos de Alcobaça, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peniche, Sobral de Monte Agraço e Torres Vedras. Trata-se de um conjunto de 12 municípios diferentes, com realidades territoriais e demográficas diferentes, onde “a união e coesão dos municípios do Oeste é fundamental para melhorar e pro-

desenvolvimento integrado do território”. O objetivo, esclarece Pedro Folgado, passa por desenvolver “políticas de base territorial a vários níveis que proporcionem benefícios a todos os municípios do Oeste, apoiando o crescimento económico, a criação de emprego, a competitividade das empresas, o desenvolvimento sustentável e a proteção do ambiente”. Assim, a Comunidade Intermunicipal do Oeste tem apostado na promoção da transição ambiente e desenvolvimento sustentável da região, preparando o território para a adap-

tação e combate às alterações climáticas.

No âmbito do pilar estruturante da transição digital, inteligência artificial e análise de dados, a OesteCIM tem estado a trabalhar com a NOVA IMS na criação da “primeira região inteligente do país”, a Oeste Smart Region, que será “a primeira plataforma analítica integrada de inteligência territorial que, numa abordagem de big data e ciência dos dados, oferecerá capacidades de recolha, armazenamento, processamento e análise dos dados gerados pelas redes Wi-Fi públicas dos municípios que, combinados com dados provenientes dos sistemas operacionais e das redes de sensores municipais, permitirá alavancar a construção de uma região de turismo inteligente e sustentável”.

Outro dos pilares fundamentais de desenvolvimento da região é a inclusão social e para isso, a OesteCIM tem trabalhado em prol da promoção da igualdade de género e da conciliação da vida pessoal, profissional e familiar, assegurando que ninguém é deixado para trás.

Oeste vai ser a “primeira região inteligente do país”
OESTECIM | 11
Especial 35.º Aniversário Pedro Folgado, presidente da OesteCIM

O potencial cultural de Leiria ainda tem muito para explorar

artes performativas. Palestras, exposições, espetáculos poderiam decorrer em contínuo, com o espaço aberto ao público em determinado horário”, explica.

Acidade de Leiria já tem uma vasta oferta cultural, mas Abílio Febra, artista plástico natural da Maceira, considera que esta é uma região “com muito ainda para explorar”. Dada a “atividade cultural assinalável” do concelho, Abílio Febra pensa que a criação de “um espaço de residências artísticas” viria a contribuir para o aumento do potencial cultural de Leiria.

“Estes espaços estariam equipados com ateliers/oficinas de pintura, escultura,

Esta seria uma opção para o público, de qualquer idade, ter acesso livre à cultura, “aprendendo e participando”, acrescenta o artista, “seguro” que a cidade do Lis ficaria “mais rica culturalmente, promovendo assim um registo muito profícuo para o futuro”.

Entre as suas propostas para Leiria, o artista plástico pretende que o investimento na cultura se torne “mais uma âncora na área do turismo”, com o objetivo de trazer mais visitantes a Leiria, aumentando a identidade local e “fazendo de Leiria cada vez mais um ‘lugar central’” no panorama cultural.

Investir num Centro de Arte Contemporânea

Para Abílio Febra, é essencial o investimento num “grande Centro de Arte Contemporânea”. O artista deu vários exemplos de outras infraestruturas semelhantes, que contribuem para a dinamização as atividades culturais em várias cidades, como o Museu Guggenhien, em Bilbao, o Centro de Arte Moderna, na Fundação Calouste Gulbenkian, ou o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves.

Quando aos custos do projeto, que podem dificultar a criação deste centro cultural, Abílio Febra considera que é o investimento “que catapulta as cidades para a primeira linha”.

“Pode permitir eventos ao nível das artes visuais e performativas, com uma escala nacional e internacional, trazendo obras de artistas raros e interessantes, que nos enriqueceria ainda mais. Mas também promovendo e incentivando os nossos artistas locais”, acrescenta.

12 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Abílio Febra Artista plástico Srtista plástico quer Leiria num “kugar central” na cultura

Há 35 anos a desenhar o futuro

Ao longo das últimas décadas, Acácio Sousa tem sido uma figura de relevo na sociedade leiriense, como vereador e chefe de gabinete do executivo leiriense, diretor do Arquivo Distrital de Leiria, docente do ensino superior, presidente da ADLEI e do CEPAE ou presidente do Orfeão de Leiria|Conservatório de Artes. É também membro da Assembleia Municipal de Leiria.

Leiriense, intimamente ligado à vida da cidade, recorda-se do surgimento do

Diário de Leiria, memória que partilha: “Quando o ‘Diário de Leiria’ surgiu, estava a abrir na cidade a primeira Escola do Ensino Superior, a ESEL, antecessora da atual ESECS”. Esse foi um momento-chave de contacto com o novo jornal. “Fui chamado, nessa altura, para começar a organizar a biblioteca da Escola e como a imprensa tinha um lugar de destaque, melhor me fui apercebendo do impacto de um novo diário em Leiria, onde existiam dois semanários ligados à Igreja Católica e dois outros títulos, laicos, que ainda hoje se mantêm”, recorda.

E relembra ainda um outro aspeto: “Questionava-se muito se um diário seria viável, mas havia mais. Andavase em acesa discussão sobre a regionalização e um jornal que vinha de um grupo assente nas Beiras levantava reticências num território que já recusava a Beira Litoral e

contestava a dependência em relação a centros de decisão de Coimbra”, recorda.

A discussão sobre a regionalização, entretanto, “adormeceu” e muitas alterações aconteceram. Acácio Sousa passou a outras experiências profissionais e de intervenção cívica e “a cidade cresceu com extensas áreas periurbanas, a dinâmica económica e social em todo o concelho teve uma transformação abissal, o Politécnico abriu várias escolas”,

enumera. Neste 35 anos, recorda, “o ‘Diário de Leiria’ vingou e passados 35 anos a imprensa local continua a ser um pilar da informação de proximidade e uma alavanca de estímulo ao desenvolvimento”. “É aqui que se posiciona este Diário, um dos jornais mais lidos na região, tanto em casa, como nos cafés, nas lojas ou nos serviços”, define Acácio Sousa, considerando ainda que “o desenvolvimento continua”.

Na sua vasta experiência com associativismo e cultura, Acácio Sousa considera que Leiria “tem que continuar a ser uma cidade acolhedora e multicultural, promovendo o entusiasmo no estudo e no trabalho para os nossos jovens, a progressiva modernização do parque empresarial, a habitação, a fruição cultural, a segurança e o apoio à saúde”.

É desta forma, refere, que “a riqueza aumenta e é para isto que os poderes que nos representam devem continuar a garantir que nos sintamos bem como leirienses, tanto os que nascem no concelho como os que chegam de fora”.

E nesta proposta de futuro relembra, “no alerta e na informação, o ‘Diário de Leiria’ continua com um papelchave”.

PROPOSTAS | 13 Especial 35.º Aniversário
Leiria multicultural Acácio Sousa Membro da Assembleia Municipal de Leiria

As escolas devem tornar-se mais “humanizadas”

Os métodos de ensino têm sido, ao longo do tempo, alterados e adaptados, para tentarem corresponder às necessidades atuais das crianças e jovens. Adélia Lopes, diretora do Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel, no concelho de Leiria, considera que a escola, hoje em dia, enfrenta vários desafios, entre eles “contextos de ambiguidade, complexidade, instabi-

lidade e imprevisibilidade”, além da necessidade de se “valorizar os diferentes atores enquanto seres humanos com dimensão cognitiva”.

A diretora ainda acrescenta que a Escola precisa, ainda, de combinar “lógicas de ação, em termos pedagógicos e organizacionais” para que se torne um espaço mais humano, atento a todos os seus intervenientes.

Além destes aspetos, a Escola deve criar também “pontes com a comunidade, através de processos de tradução e de mediação, numa lógica ‘escola-cidade’”.

Adélia Lopes assume as diferentes características de cada aluno, e entende que “é preciso desenvolver processos de aprendizagem adequados aos seus interesses, necessidades e especificida-

des para que a escola inclusiva seja uma realidade e não, apenas, uma narrativa discursiva”.

E esta Escola “inclusiva” é atingida através da “redefinição de estratégias, do feedback de qualidade, do planeamento em função da especificidade de cada aluno” para obter “ambientes de aprendizagem que permitam a produção de conhecimento e não, apenas, o consumo passivo do mesmo”, explica.

O essencial é “cuidar das pessoas que são e fazem a Escola”, pessoas essas que desenvolvem um “trabalho colaborativo” e que “assumem particular relevância na produção e disseminação de conhecimento, fundamentais para a sustentação de práticas pedagógicas verdadeiramente inclusivas e inovadoras”, conclui.

(Re)organizar a escola

Adélia Lopes traça um caminho para a ‘humanização’ da Escola, que passa “pela capacidade de esta se (re)organizar, permitindo a voz a todos os que a (co)habitam”.

Enquanto que esta atitude se torna um desafio, também figura uma “oportunidade para definir, implementar, monitorizar e avaliar planos de ação preventivos e proativos que permitam a (re)construção de mais e melhores aprendizagens, através de modelos híbridos, flexíveis e criativos, inspirados na vivência da ética do cuidado”, concluiu.

14 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário

É urgente criar estruturas de apoio à vítima

Aviolência doméstica é, como sabemos, um fenómeno criminal de inequívoca gravidade, evidenciada pelo elevado número de inquéritos participados, de vítimas que provoca e de desfechos letais registados, constituindo, no panorama nacional, um “flagelo” social, de indiscutível relevância. Por tudo isto, Ana Rita Quaresma, Procuradora da República (Sub-

secção Especializada de Violência Doméstica do DIAP de Leiria) considera que há duas medidas urgentes na Justiça, na região. Por um lado, a implementação de uma Secção Especializada Integrada de Violência Doméstica, em Leiria. “Num momento em que se verifica um aumento dos casos de violência doméstica, muitos deles ‘silenciados’ durante o período da pandemia, sempre que haja notícia da existência de crianças presentes num contexto de violência doméstica e, independentemente de serem aquelas ou não destinatárias de atos de violência, com vista a uma maior eficácia no combate ao fenómeno, a SEIVD, composta por um Núcleo de Ação Penal e por um Núcleo de Família e Crianças, para além de uma investigação especializada no domínio da violência doméstica, teria um

alcance mais amplo e eficaz, reportando-se ao quadro familiar onde ocorreu o crime, agindo mais rapidamente em articulação estreita entre a área criminal e a jurisdição de família e menores, os órgãos de polícia criminal e as entidades responsáveis pela proteção das vítimas”, explica.

Por outro lado, considera ainda a Procuradora da República, seria também fundamental instalar um Gabinete

de Apoio à Vítima, no Palácio de Justiça de Leiria, com carácter permanente. Este Gabinete “seria constituído por uma estrutura de atendimento, apoio e acolhimento às vítimas de violência doméstica, com uma equipa especializada de psicólogos, técnicos de apoio à vítima, advogados com ‘Patrocínio Gratuito’, em articulação com o Magistrado do Ministério Público titular do respetivo inquérito”.

Justiça de mãos dadas com a informação

Ana Rita Quaresma considera uma das propostas importantes na área da Justiça seria a Criação de um Gabinete de Imprensa e Comunicação, no Palácio de Justiça de Leiria. Não pondo em causa a estrutura existente na PGR, este Gabinete seria destinado a casos mais mediáticos, em investigação ou na fase de julgamento na Comarca de Leiria. Desta forma, explica, “jornalistas especializados na área do Direito” poderiam ter acesso a uma “informação rigorosa, evitando lapsos e imprecisões técnicas que ocorrem na Comunicação Social, muitas vezes por ausência de fontes fidedignas”.

16 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Ana Rita Quaresma Procuradora da República (Subsecção Especializada de Violência Doméstica do DIAP de Leiria)

É necessário garantir a sobrevivência dos jornais regionais

dos media regionais é (…) um problema antigo que se tem vindo a agravar na última década”.

Os tempos têm vindo a mudar e os meios de comunicação social também têm sentido essa mudança. Com as novas tecnologias, vários setores da sociedade tiveram a necessidade de se adaptarem à nova realidade, e os órgãos de comunicação social não são diferentes dos demais.

Com cada vez mais projetos digitais e novas formas de adquirir informação na internet, Anselmo Crespo considera que “a sustentabilidade financeira

“A concorrência desleal das grandes tecnológicas, um tecido empresarial cada vez mais depauperado e gerações mais novas que procuram informação noutras plataformas –menos fidedignas, muitas vezes -, são tudo desafios difíceis de superar e que nos convocam a todos – jornalistas, acionistas, empresários e poder político – para uma reflexão sobre o nosso futuro enquanto sociedade”, constatou o diretor de Novos Conteúdos da TVI/CNN.

E a resposta para todos estes problemas começa, segundo o leiriense, nos próprios “jornalistas”. “É nossa obrigação reinventarmo-nos todos os dias para procurarmos as melhores histórias, a notícia que

ainda ninguém deu”, acrescentou.

O trabalho desenvolvido por cada jornalista, seja de imprensa regional ou nacional, torna-se uma peça do grande puzzle que é a sobrevivência do jornalismo. “Cair na irrelevância é matar o jornalismo”, constatou Anselmo Crespo.

Mas não é só de boas histórias que se faz o jornalismo. O jornalista ainda adiciona que os media “precisam de reinventar

o seu modelo de negócio”. O essencial será “encontrar novas fontes de receita, mas, sobretudo, (…) compreender que se o mundo mudou, os media não podem ficar parados”.

Para o jornalista, Leiria é um “exemplo nacional” da necessidade do jornalismo regional para criar “uma sociedade mais informada”. “São raras as regiões do país que têm um jornal diário, dois semanários – já chegaram a ser três – rádios, projetos digitais, que lutam todos os dias por um jornalismo de qualidade”, contou.

Mas, para garantir que esta exceção à regra se mantém, são necessários “investidores com visão”, mas que garantam que “o jornalismo é independente de todo e qualquer poder” e que continue a gerar receitas.

Media precisam de “visão” e “investimento”

Anselmo Crespo considera que os meios de comunicação “precisam de visão e de investimento” e de alguém que “tenha a coragem de ser disruptivo no modelo de negócio”. Mas, sobretudo, investidores que percebam que “os consumidores de notícias não são parvos e só estão disponíveis para pagar um produto que seja realmente bom, diferente de toda a oferta que há no mercado”.

O essencial é entender que o jornalismo inclui “o sentido de missão de quem está a prestar um serviço à democracia”.

PROPOSTAS | 17 Especial
35.º Aniversário

Apoiar a inovação para atrair investimento

Para António Poças, presidente da Nerlei –Associação Empresarial da Região de Leiria, as empresas são um pilar essencial do desenvolvimento de qualquer região. Nesse sentido, deixa propostas onde diz ser importante atuar para possibilitar que o tecido empresarial maximize o seu contributo, para o real desenvolvimento da região.

Uma das propostas visa apoiar e desenvolver as empresas já existentes, nomeadamente um apoio mais consistente ao investimento das empresas, com redução da carga tributária e simplificação dos processos de licenciamento aliviando as empresas de muita burocracia e consumo de tempo.

“É necessário apoiar o crescimento das empresas que já temos, seja por via da inovação ou da internacionalização. Para isso é vital simplificar a relação com o Estado e criar apoios efetivos em conjunturas complexas, como a que estamos a viver com a crise energética e de custos das matérias-primas. Só desta forma se estará a criar o ambiente favorável para que as empresas se concentrem na sua atividade produtiva e criem mais ri-

queza para os empresários, os trabalhadores e para a sociedade regional em geral”, sublinha o empresário.

Outra das propostas visa tornar a região cada vez mais atrativa, seja para investimento, seja para fixação de recursos humanos qualifica-

dos. Algo que pode ser conseguido através da criação de um gabinete (uma espécie de via verde) onde qualquer pessoa ou investidor, que quisesse viver ou investir na região, pudesse encontrar apoio e tratar de todos os assuntos necessários.

“É importante que a região de Leiria seja uma referência a ter em conta, para os investidores externos. Um dos requisitos importantes para que isso aconteça é que exista na região a mão-deobra necessária para esses investimentos se implantarem e crescerem. Só conseguimos garantir isto reforçando continuamente a qualidade de vida na região, tornando-a atrativa, ao nível da habitação, ensino, saúde, desporto, cultura, etc, para mais trabalhadores e suas famílias”, afirma.

Incentivar a criação de empresas inovadoras em setores diversificados

Apesar de a economia regional já ser bastante diversificada em termos setoriais, António Poças acredita que é sempre “prudente” promover a criação de novas empresas inovadoras em setores diferentes dos que já estão implantados e que tenham ambição e potencial de crescimento e internacionalização. Nesse sentido, o presidente da Nerlei acredita que se deve dar “mais destaque aos casos de sucesso que já temos, de forma a atrair novos projetos verdadeiramente diferenciadores”.

18 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário

Mais e melhores condições para o atletismo

Oatletismo é um dos maiores atrativos nos Jogos Olímpicos, competição desportiva mais importante do mundo, sendo a única modalidade com campeões olímpicos, como são os casos de Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nelson Évora e Pedro Pablo Pichardo. Contudo, para o presidente da Associação Distrital de Atletismo de Leiria (ADAL), num concelho como o de Leiria, com 128.000 ha-

bitantes, uma pista de atletismo “é muito pouco para umas das modalidades mais praticadas” no concelho. “A construção de uma pista de 200 metros, numa freguesia perto de Leiria seria muito bem recebida, até porque com muita facilidade se fecha o Estádio Dr. Magalhães Pessoa em prol de outras modalidades, deixando vários campeões nacionais e clubes, incluindo o maior clube de atletismo do país, sem condições de treino, tendo que se socorrer a concelhos vizinhos”, aponta António Reis. Para o responsável, em dias de chuva existe igualmente dificuldade dos progenitores em enviarem os filhos para os treinos, pelo que propõe a construção de “uma pista simplificada coberta no Estádio Dr. Magalhães Pessoa composta com uma reta de

seis corredores com 110 metros, com um setor de salto em comprimento e triplo salto, salto em altura e lançamento do peso”. António Reis considera que esta seria “uma zona de apoio à pista para

treinos e de aquecimento para competições e um complemento a um futuro centro de estágio”, onde fosse possível “receber jovens atletas, que viessem estudar para Leiria e fixar os leirienses”.

Para o presidente da Associação Distrital de Atletismo de Leiria, tendo em conta a importância do desporto escolar e considerando o atletismo como desporto base para outras modalidades, seria importante os centros escolares possuírem “uma zona de corrida, de saltos e de lançamentos”, para “um primeiro contacto com a modalidade” de atletismo e “incentivar os jovens alunos à prática do desporto”.

20 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Centros escolares com zona de corrida, saltos e lançamentos

Leiria: uma região cinéfila

Leiria e toda a região necessita urgentemente de uma aposta séria no Cinema e no Audiovisual”. A convicção é de Bruno Carnide, jovem realizador de Leiria, para quem, a região podia deixar de encarar o cinema como um nicho e encará-lo como uma “aposta séria”.

“Hoje em dia, não existe uma empresa, uma música ou um produto que não tenha um vídeo algures na internet como forma de cativar o público ou enrique-

cer o negócio. Poucos são aqueles que não acompanham alguma série (neste ponto auto excluo-me), e talvez não haja uma única criança que não assista a desenhos animados. É certo, que este tipo de conteúdos têm muito pouco de cinema, e uma das poucas coisas que os relaciona é a imagem em movimento”. Mas, se pensarmos nisto, Bruno Carnide encara como “um reflexo de que todos estamos atentos e despertos àquilo que as imagens em movimento nos mostram, às histórias que nos contam, o que em última análise faz com que o cinema não seja uma coisa de nicho (como muitas vezes se houve falar), mas sim algo transversal a todas as pessoas, das mais novas às mais velhas”.

“O que falta, para se deixar de pensar que é uma coisa de nicho, é de facto uma aposta séria, que volte a colocar o cinema como um hábito, que uma conversa no final de um filme seja algo banal e não alvo de preconceito ou de intelectualismos. Qualquer um de nós consegue dizer seja o que for no final de um filme, e isso torna-o acessível a todos, por mais que se pense que certos filmes não são para todos os públicos, isso só faz com que o público se afaste deles”, defende o jovem realizador.

A aposta séria em Leiria e na região poderia, no entender de Bruno Carnide, passar pela criação de uma Leiria Film Comission, “algo semelhante ao Instituto do Cinema e Audiovisual mas a nível local, numa forma de apoio e de impulso à criação, não só artística mas também de programação”. Seria “algo que incentive estudantes e profissionais a criar obras cinematográficas que pudessem ser rodadas na região, mas sem qualquer tipo de limitação artística”, explica o realizador, propondo ainda um “incentivo à criação de mostras ou sessões de cinema e formação para além das que já existem, algo que faça tornar a cidade cinéfila, assim como já o é para outras áreas artísticas”.

Segundo Bruno Carnide, no último ano, “o Leiria Film Fest exibiu filmes de qualidade inegável de dez realizadores regionais”. “Mas, pudemos questionar quantos deles filmaram na região, quantos irão voltar a filmar, ou quantos deles ainda vivem e fazem car-

reira na região”. “O que temos assistido nos últimos anos é um afastamento perpétuo de bons valores do cinema locais, que não encontram na cidade as oportunidades para aqui fazer o seu percurso”, lamenta Bruno Carnide, considerando que a criação de uma instituição deste género “seria preponderante para poder cativar todos estes valores”.

Assim, a proposta do realizador passa por “tornar Leiria numa cidade cinéfila” que “não depende apenas destas iniciativas, ou de conseguir muito público e interessados”. “Vai muito além disso, vai para lá da nossa limitação geográfica”. “A criação de obras ou eventos cinematográficos de renome que levem o selo de Leiria e que se tornem internacionalmente conhecidas irá fazer com que ao longo do tempo a cidade seja vista e se identifique com este sucesso. Até lá, vamos vendo todos estes valores abandonarem a cidade”, alerta Bruno Carnide.

PROPOSTAS | 21 Especial 35.º Aniversário
Criar uma Leiria Film Comission Bruno Carnide Realizador

É importante reunir a comunidade “para fortalecer os setores ligados à cultura”

Para fomentar o panorama das artes na região, o artista plástico leiriense, Bruno Gaspar, considera importante “fazer um levantamento bastante aprofundado sobre que artistas é que existem na região de Leiria”. Entre pintores, escultores ou ilustradores, Bruno Gaspar, acredita que “há muitos artistas que têm uma forte ligação com a região e com a cidade de Leiria”, e apesar de muitos deles não residirem no distrito “podem contribuir, e bastante, para o

panorama cultural local na cidade”, até porque “continua a haver um certo desfasamento da realidade”.

Na opinião do artista plástico, “continua a haver um certo desfasamento da realidade”, no que à cultura local diz respeito, e para contornar isso, Bruno Gaspar sugere o reforço da “ideia de comunidade”, para que a mesma se

reúna à volta de uma causa e, assim, “fortalecer os setores ligados à cultura, ao património e à própria criatividade da região”.

O leiriense destaca ainda a necessidade de “tirar proveito de todo o potencial das várias gerações”, que “têm muito para dar e para contribuir para o desenvolvimento da região”. Mas, para isso, o

artista defende “uma maior aproximação entre o público e o privado”. “Já temos bons exemplos de que o privado desempenha o papel de mecenato, por vezes até, com a cedência de alguns espaços que possam servir de ateliers para os artistas desenvolverem os seus projetos”, afirma, ressalvando, no entanto, que “a própria autarquia [de Leiria] “poderia criar essas condições com ateliers e outros espaços”, onde os jovens artistas possam ter um espaço para desenvolver os seus projetos, mostrá-los, ou até, eventualmente, vendê-los.

Bruno Gaspar considera igualmente importante não perder “mão de tudo o que vai sendo feito na agenda cultural” e não colocar tudo “na responsabilidade dos privados”.

Criar um acervo de arte contemporânea em Leiria

O artista plástico propõe, para a região, a criação de um acervo na cidade do Lis, para que, através dele, se consiga obter “uma visão mais próxima daquilo que se vai fazendo”, para assim, “os artistas começarem a criar o seu próprio acervo de arte contemporânea”. A ideia, explica, é que os jovens artistas de várias gerações criem ou reúnam uma coleção que represente a região de Leiria, e, consequentemente, “tentar cruzar o local, o nacional e o internacional”, para que se conheçam, partilhem ideias, para, posteriormente, serem avaliadas.

22 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário

Reflexões sobre o futuro de Leiria

podem nunca ser concorrentes, como não podem ser parceiros de faz de conta. As partes da região têm de ser complementares e é aí que se alicerça a consciência regional”, defende.

Condição primeira de um projeto credível para a região é haver consciência regional e liderança regional, coisas que devem andar juntas”. Ora, explica o professor catedrático Carlos André, “a consciência regional não se desenvolve se a coesão entre as partes da região for mais aparente que real, isto é, se os supostos parceiros vivem no receio do que faz o vizinho”. “As partes da região (os municípios) não

O também antigo governador civil de Leiria considera que “o esforço feito na candidatura a capital europeia da cultura foi um excelente exercício e pode ser exemplo (embora tivesse fronteiras demasiado alargadas e, portanto, falta de consistência e de coerência regional)”.

Este aspeto leva Carlos André a um segundo ponto: “a liderança regional”. “O sucesso de algumas regiões portuguesas deve-se muito ao facto de terem líderes aceites a nível regional e olhados como tal, sem ciúmes dos vizinhos. Leiria precisa de

ter lideranças regionais em que se reveja”, defende. Por outro lado, “um eixo fundamental de desenvolvimento tem a ver com as acessibilidades”. Para Carlos André, a acessibilidade ferroviária “continua a ser um claro obstáculo ao desenvolvimento da região”. “Está prometida a alta velocidade para Leiria, mas a experiência habituou-nos a desconfiar”. No seu entender, a região precisa de fazer duas coisas: “Precisa, antes de mais, de ser coesa na exigência do cumprimento das promessas. Os prazos apontados não podem ser ultrapassados; antes deveriam ser encurtados. E precisa de saber o que vai fazer com a alta velocidade. Isso implica definir a localização da paragem (estação), as ligações com os diversos polos da região, a definição de eixos intermodais que

Criar uma área de localização empresarial à escala regional

Por falar na dinâmica empresarial, reside aí um outro projeto que, no entender de Carlos André, “tem de ser mola impulsionadora do desenvolvimento”. “Leiria é uma região com um tecido empresarial dinâmico, inovador, arrojado. Mas não possui uma grande área de localização empresarial, com dimensão, bem estruturada, concebida nos moles da moderna economia, que tenha em conta a cooperação entre empresas, a economia circular, ganhos ambientais, sinergias”. Assim, defende o professor, “um projeto com essa dimensão não pode nem deve ser desenvolvido à escala de um município, mas tem de ser pensado e desenvolvido à escala da região”. “As partes da região, como neste texto são chamadas, ou, se se preferir, os parceiros, autarquias, empresas e instituições do setor educativo têm de juntar-se num projeto que se afirme pela sua dimensão, pela sua qualidade e pelo seu caráter inovador”, aponta.

PROPOSTAS | 23 Especial 35.º Aniversário
Carlos
A consciência regional não se desenvolve se a coesão entre as partes da região for mais aparente que real
Leiria precisa de ter lideranças regionais em que se reveja

façam da ferrovia um eixo central da acessibilidade, mas não um eixo isolado”.

Um terceiro ponto tem a ver com a educação. Para Carlos André, “a região tem um excelente politécnico, com cursos e projetos inovadores, com investigação de ponta organizada em unidades de investigação altamente classificadas e com provas dadas... mas não tem universidade”. “Mais que um nome, Universidade é tudo quanto ela simboliza e representa e é também a real capacidade de afirmação da região e a força motriz que pode alicerçar o seu desenvolvimento”, aponta.

Alcançá-lo passa, uma vez mais, pela coesão regional, defende Carlos André. “Todas as partes, sejam o poder autárquico, as ‘forças’ empresariais, os atores da cultura ou da educação, enfim todos, têm de se juntar numa só voz a reclamar a Universidade para Leiria”.

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35.º
Especial
Aniversário

Leiria poderá ser a capital do Atletismo

Leiria deu já bastantes provas de que tem clubes, atletas e treinadores capazes de elevar bem alto o nome de Leiria. O responsável técnico da Federação Portuguesa de Atletismo Carlos Carmino recorda nomes como os de Vânia Silva, que foi olímpica em 2004 em Atenas, em 2008, em Pequim, e em 2012 em Londres; e de Irina Rodrigues,

olímpica em 2012 e Tóquio 2020, tendo-se lesionado já na Aldeia Olímpica no Rio 2016. Mais recentemente Auriol Dongmo foi 4.ª nos Jogos Olímpicos (JO) de Tóquio e campeã do mundo em pista coberta em 2022. Evelise Veiga foi igualmente olímpica em Tóquio. Daniela Cardoso esteve nos JO do Rio. Este ano, o Leiria Marcha Atlética Clube esteve representado no campeonato da Europa com Joana Pontes e Hélder Santos.

“O suporte destes atletas tem sido os seus clubes e os seus treinadores. O Juventude Vidigalense tem tido regularmente jovens atletas a representarem Portugal. Mas para alguns deles chegarem às grandes competições internacionais, será preciso investir mais”, aponta.

Carlos Carmino recordou ainda que o concelho de Lei-

ria inscreveu na Associação Distrital de Atletismo de Leiria (consequentemente na Federação Portuguesa de Atletismo) na época 2021/22 um total de 511 atletas e 13 clubes (14 clubes e 609 atletas em 2019).

A Juventude Vidigalense é claramente a coletividade com maior número de atletas em 2022 com 245 (275 em

2019), seguida do Grupo Alegre e Unido - Bajouca, com 62 e a ADCR Bairro dos Anjos com 38 atletas, com Carlos Carmino a recordar ainda que Leiria tem três treinadores olímpicos: Paulo Reis, Cátia Ferreira e ele próprio. Assim, o especialista em marcha atlética acredita que “Leiria poderá ser a capital do Atletismo”. “Temos condições para o ser com alguns investimentos, nomeadamente através da construção de uma pista simplificada coberta no Estádio Dr. Magalhães Pessoa”, começa por exemplificar Carlos Carmino. Uma segunda proposta visa a construção numa das freguesias do concelho de uma pista com seis corredores e apetrechada para treinar e competir regularmente “o que não é possível na pista do municipal de Leiria”.

Criar um Centro de Estágios para Desportistas

Carlos Carmino acredita que se o concelho quer crescer e dar notabilidade ao atletismo deve apostar na criação de um Centro de Estágios para Desportistas em Leiria. “Neste centro de estágios poderá estar integrado um CAR (Centro de Alto Rendimento) de modo a que pudéssemos acolher alguns dos atletas jovens mais talentosos que viessem estudar para o Politécnico de Leiria e, principalmente, fixarmos os leirienses dos clubes da Associação Distrital de Atletismo de Leiria que têm talento para poderem representar Leiria em Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa”, propõe.

PROPOSTAS | 25 Especial 35.º Aniversário
Carlos Carmino Professor e diretor regional e nacional na Federação Portuguesa de Atletismo

Reforço da transversalidade da proteção civil regional e local

lada.

Ocomandante Distrital de Operações de Socorro de Leiria, Carlos Guerra, acredita que a proteção civil foi, e continua a ser, “uma área fulcral” na defesa e proteção de vidas humanas e de bens à escala global, mas é “tão ou mais importante a nível regional e local”, devido à sua proximidade com as populações, quando ocorrem fenómenos mais localizados que exigem uma estratégia mais muscu-

No âmbito da transversalidade e abrangência das competências da proteção civil, o responsável apela a um reforço da necessidade de proximidade com a população a nível regional e local. Assim, a um primeiro nível, Carlos Guerra acredita que é necessário “investir na investigação e inovação, com a disponibilização de ferramentas e tecnologias de informação para a proteção civil, capacitando a gestão dos meios e recursos, aliados aos saberes científicos, que reforcem a prestação de socorro, uma maior precisão na avaliação das ocorrências, uma melhor coordenação e mais apoios assertivos para a tomada da decisão operacional”.

Um segundo tema, e não menos importante e estrutu-

rante, passaria pela implementação de uma cultura de prevenção e autoprotecção. “As constantes alterações climáticas, que originam fenómenos meteorológicos extremos, estão a tornar-se mais frequentes, intensos e persistentes, razão pela qual se exige uma adaptação do

sistema de proteção civil às suas consequências - na prevenção, na preparação da resposta, na recuperação e no apoio às populações. E, nesta área, urge a necessidade de serem implementadas medidas mitigadoras a montante destes fenómenos, para que as consequências, a jusante,

Promover uma cultura de segurança

Independentemente do reforço de meios humanos, materiais e tecnológicos e o reforço da formação, Carlos Guerra acredita que se tem de incutir na sociedade a cultura que todos nós, sem exceção, somos agentes da proteção civil. “Entendo que promover uma cultura de segurança junto dos cidadãos e das comunidades é promover

uma cidadania ativa e consciente, e uma tarefa que deve ser partilhada e implementada por cada um de nós. Todos podemos, e devemos, ser agentes da proteção civil, participando no processo construtivo de uma comunidade mais resiliente”, resume.

O responsável assegura ainda que é fundamental que cada um de nós seja

não sejam tão nefastas. E, num passado recente, há, infelizmente, registo de alguns casos, que todos recordamos com muita tristeza”, recorda.

Garantir a disponibilidade dos meios e recursos. Para Carlos Guerra esta terceira medida passa, inevitavelmente, pela qualificação dos recursos humanos como fator de sucesso das intervenções operacionais, à semelhança do que se verifica em muitos países, em que a profissionalização e uma formação especializada de todos

capaz de se afirmar numa cultura de autoproteção e saber agir e interagir com os outros perante o risco.

“Educar as populações, apostando nas mais jovens, para construir uma cultura de prevenção e autoproteção, é fator nuclear para assegurar um futuro mais preparado, mais informado e mais resiliente”, conclui.

26 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Carlos

os agentes de proteção civil são uma realidade e com aptidão para intervirem em qualquer cenário mais dantesco. “Em Portugal já ocorreram fenómenos, alguns deles atípicos, que foram prontamente resolvidos devido à rápida prontidão dos agentes da proteção civil, nalguns casos sem os meios mais adequados e suficientes perante determinados cenários, que necessitavam de uma força mais musculada”, lembra.

“Mas não tenhamos dúvidas nem ilusões de que a qualificação e a profissionalização dos agentes da proteção civil, sem exceção, terão de ser uma realidade. Não por uma questão de visibilidade desses mesmos agentes da proteção civil, porque na realidade já a têm, mas por ser cada vez mais necessário a sua qualificação, para que possam dar uma resposta (ainda) mais cabal aos tais fenómenos extremos, que nalguns casos colocam a ‘olho nu’ algumas das nossas fragilidades”, acrescenta.

PROPOSTAS | 27
Especial 35.º Aniversário

“Cidades educadoras e amigas das crianças, jovens, adultos e idosos”

cas públicas locais, de modo a assegurar mais saúde física, mental, emocional e social”, assegura.

Para o professor na Faculdade de Motricidade Humana – Universidade de Lisboa, nunca foi tão importante um pacto de transição entre a vida no trabalho, a vida na escola e políticas pú-

blicas para a cidade. “Importa tornar o espaço público habitado e com condições de mobilidade humanizada e naturalista para se alcançar mais qualidade de vida para todos. Aprender através de um corpo em movimento que é o arquiteto do cérebro e ao mesmo tempo mediado por sentimentos, afetos e

emoções, dão sentido à nossa existência”, frisa. Segundo o professor teremos que equacionar “um novo conceito de qualidade de vida entre pais e filhos nas políticas habitacionais e espaços escolares” que passa por um equilíbrio nas experiências entre espaços interiores (indoor) e espaços

exteriores naturais ou construídos (outdoor).

“Devolver as ruas aos cidadãos como espaço público de encontro e interação permitirá perspetivar uma cidade mais humanizada e com maior mobilidade sustentável. Será necessário ainda assegurar mais tempo disponível dos pais para po-

Carlos Neto é um ‘pensador’ que não se cansa de lançar alertas para a sociedade para que ela nunca se esqueça da sua essência. Assim, uma das propostas do professor é a urgência de desenvolver famílias, escolas e cidades ativas. “Torna-se atualmente para todas as idades, um objetivo estratégico das políti-

Carlos Neto destaca a necessidade de um equilíbrio urgente entre dependência digital e uma consciência de mobilidade de um corpo ativo e em contato com o espaço natural e construído nos diversos contextos de vida.

“Numa sociedade exausta, cansada e no limite, temos observado um grande au-

mento de sedentarismo e inatividade física em todas as idades, provocado pelo aumento do número de horas que passamos sentados e a uma sedução inevitável pelos dispositivos digitais. O nível de mobilidade degradou-se assim como as possibilidades de ter um corpo ativo e contemplativo. Necessitamos com urgência de

desenvolver uma visão ecológica e sustentável da vida humana em sintonia com a preservação da natureza. É urgente novas políticas públicas para a gestão das comunidades, das escolas e das famílias para se evitar um agravamento da saúde física, mental, emocional e social”, alerta.

Para Carlos Neto, as relações

entre a literacia lúdica, motora, artística e desportiva, deve ser “equilibrada” com a literacia digital, “através de pais emocionalmente disponíveis para terem mais tempo para os filhos” e “um modelo organizativo das escolas em desenvolverem mais equilíbrio entre atividades formais e informais”.

28 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Equilíbrio entre a dependência digital e a mobilidade Carlos Neto Professor na Faculdade de Motricidade Humana – Universidade de Lisboa

Especial 35.º Aniversário

derem brincar com os seus filhos e poderem recuperar as suas memórias de infância, que progressivamente se ‘apagaram’ ao longo do tempo. Cidades educadoras e amigas das crianças, jovens, adultos e idosos (numa visão inter-geracional) são fundamentais num mundo em grande mudança e com um futuro incerto, imprevisível e desconhecido”, destaca.

Uma segunda proposta de Carlos Neto para a região diz respeito à necessidade de se redescobrir o prazer de voltar a brincar no espaço urbano, “para que seja possível voltar a ter esperança no futuro, neste mundo complexo, incerto, imprevisível e neurótico”.

Para o professor catedrático, a exclusão do corpo em movimento da cidade resulta de “uma drástica redução da autonomia de mobilidade de crianças e jovens”, associado a um declínio de oportunidades de brincar livremente no espaço urbano, o qual se encontra marcado por uma dominante cultural de vivência

do espaço público assente no uso do automóvel e de um ordenamento do território (urbanização) sem coerência e objetivos bem definidos.

“Esta ausência de cidade no corpo das crianças e jovens impede-os de se afirmarem enquanto atores praticantes do direito ao jogo, tempo livre e recreação (Artigo 31º) e do direito à participação (Artigo 12º), os quais são percursores do exercício do seu direito à cidade. A construção da cidade do futuro implica a existência de planos estratégicos municipais, assegurando a alteração de hábitos de vida mais saudáveis”, defende.

Devolver as ruas aos cidadãos como espaço público de encontro e interação permitirá perspetivar uma cidade mais humanizada e com maior mobilidade

PROPOSTAS | 29

Uma escola inclusiva é “fundamental para a inclusão e cidadania plena”

público comum, tornandoos acessíveis a todas as crianças/ pessoas através de equipamentos acessíveis”, constata.

A coordenadora do CRID considera que a cultura, desporto, turismo e lazer fazem parte da qualidade de vida, do bem-estar e do desenvolvimento pessoal e social de todas as pessoas, passando necessariamente pelo acesso às manifestações da cultura.

Atualmente, a escola inclusiva é onde todos os alunos e todas as alunas, independentemente da sua situação pessoal e social, encontram respostas que lhe possibilitam a aquisição de um nível de qualificação facilitador da inclusão social, é fundamental para a inclusão e cidadania plena”, afirma a coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão Digital da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria, Célia Sousa. Contudo, a também docente e investigadora do Politécnico de Leiria, assegura que as escolas da região “ainda estão aquém deste paradigma ao nível comunicacional nomeadamente na sua sinalética (identificação dos espaços escolares: salas, refeitório, ginásio, etc.) e respetiva comunicação”.

Célia Sousa propõe um desafio a todas as escolas da

região de todos os níveis de ensino, que passa por desenvolverem “sinalética adequada, em braille, Língua Gestual portuguesa, linguagem pictográfica e escrita fácil, para que todo o parque escolar da região possa estar acessível a todas as crianças e jovens independentemente das capacidades de cada

um”.

Para Célia Sousa, a região de Leiria tem vindo a demonstrar ao longo da última década “uma preocupação em disponibilizar modos alternativos de comunicação nos diferentes espaços culturais e educacionais, contribuindo assim para uma acessibilidade plena de todos

Um destino turístico para todos

Célia Sousa defende que a região de Leiria, na próxima década, poderia e deveria afirmar a sua posição, “colocando no seu ADN um destino turístico para todos, podendo mesmo diferenciar-se nesta área, tanto a nível na-

cional como internacional”.

“Contudo, para que tal seja realidade é necessário desenvolver uma aliança, entre as diferentes forças políticas, agentes culturais, a investigação e a ciência”, afirma ainda.

os cidadãos, colocando a região na vanguarda da inclusão, abordando a comunicação acessível através de vários olhares e em vários contextos”.

“Ainda estamos muito longe de ter uma região que seja pensada para todos os cidadãos e cidadãs”, e nesse sentido, a investigadora, desafia os agentes políticos da região a pensar em soluções para todas as pessoas.”Para caminharmos para uma sociedade equitativa, devemos trabalhar desde muito cedo a acessibilidade física e comunicacional, pelo que proponho que os municípios da nossa região, construam, remodelem os parques infantis, praças, e locais de uso

“Tendo a região de Leiria, uma abrangência geográfica significativa, deveria apostar numa cultura para todos, desenvolvendo uma estratégia de comunicação acessível nos diferentes contextos”, recomenda.

Após a análise dos diferentes tipos de barreiras, Célia Sousa conclui ainda que as barreiras intelectuais são o principal obstáculo no acesso às diferentes ofertas culturais por pessoas que “têm baixa literacia; não possuem conhecimento técnico e/ou científico especializado; têm deficiências ou limitações sensoriais como, cegos, surdos; com défice de atenção; com deficiência intelectual, com espectro de autismo, ou cuja primeira língua não é o português”.

“O desafio para a próxima década da região de Leiria será pensar a região para todos, respeitando a diversidade humana, independentemente de sua condição educacional, social ou cultural”, defende.

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Célia Sousa Coordenadora do CRID- Centro de Recursos para Inclusão Digital da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria

Região precisa de um bar dedicado ao estilo de música Jazz

Para o diretor artístico da Orquestra de Jazz de Leiria, César Cardoso, seria “muito importante” a existência de um bar dedicado apenas ao jazz na região, para que se realizassem “mais concertos, mais ‘jam sessions’ e mais contacto com o público em geral, que “levará naturalmente ao desenvolvimento de mais trabalho nesta área”.

Além disso, outra proposta deixada por César Cardoso, e que, na sua perspetiva, teria

“grande impacto em Leiria”, era a de tornar a Orquestra Jazz de Leiria numa orquestra profissional, “onde os músicos seriam contratados e disponibilizar-se-iam muito mais por terem um emprego a tempo inteiro”, afirma, realçando que “o grande problema dos músicos, e neste caso os de Jazz, são as condições precárias em que vivem, através de recibos verdes e de trabalhos pontuais”.Segundo o diretor artístico da Orquestra de Jazz de Leiria, “a fixação de músicos que se destacam a nível nacional é sem dúvida a única maneira de desenvolvimento nesta área”.

Tornar a Orquestra Jazz de Leiria numa orquestra profissional é um dos desejos do diretor

A Orquestra Jazz de Leiria já partilhou o palco com artistas de renome, como David Fonseca, Maria João, Herman José, Luísa Sobral, Áurea, Tiago Bettencourt, Pedro Abrunhosa, Ana Bacalhau, Camané, Sara Tavares, António Zambujo, Jorge Palma, Simone de Oliveira, Miguel Araújo e Salvador Sobral, e César Cardoso sublinha que era muito importante haver mais atividades na área do jazz “de modo a poder fixar os músicos na cidade e não os deixar ir para Lisboa ou Porto em busca de trabalho nesta área tão específica”.

PROPOSTAS | 31 Especial 35.º Aniversário
César Cardoso Mentor e diretor artístico da Orquestra de Jazz de Leiria
Fixar músicos do jazz para fomentar a área artística

Leiria precisa de um espaço de encontro para troca de ideias

ou outro lugar de convívio noturno”, mas que foi desaparecendo com o tempo.

Desde sempre associada à dança, Clara Leão, fundadora da Escola de Dança Clara Leão, acredita que a cidade de Leiria ainda tem uma carência.

Dada a fluidez de ideias que vários artistas experienciam ao longo da vida, Clara Leão considera que faz falta “um espaço de encontro” para troca de ideias e conversas entre agentes de cultura.

A artista mencionou que este espaço já existiu “num

Agora, faz falta “um lugar acolhedor e aberto onde se possa reunir, de forma informal e casual, quem goste de ouvir, quem tenha algo para dizer, quem precise de encontrar um eco para a sua criatividade, quem tenha uma ideia e procure com quem a pôr em prática”.

“Todas as práticas de criação artística, em todas as áreas, necessitam de cruzamento de ideias, de descobertas, de conhecimento próximo do trabalho criativo de outros artistas, e da sua discussão, para que as mentes criativas se mantenham desafiadas, e desafiadoras”, acrescentou Clara Leão.

Desta forma, este novo espaço pode proporcionar, até, a criação de novas ideias e

novos projetos, que iriam beneficiar a região de Leiria. Mas, para a artista, neste espaço também se poderiam refletir ações já desenvolvidas.

“O encontro é também necessário para que se pensem, se reflitam e se debatam as ações desenvolvidas, e se avaliem as carências e as lacunas percebidas no seio da comunidade, de modo que o trabalho dos criadores, totalmente diversificado e livre, vá consolidando uma identidade própria e única, a identidade da comunidade”, defende.

Clara Leão sente que este espaço faz falta à comunidade artística leiriense e que deverá ser posto em prática.

No fundo, o objetivo seria “pensar o trabalho de cada um, pensar o trabalho do outro e pensar a cidade para

que se possa aprofundar, aproveitar e potenciar o melhor de todos”.

Este espaço viria a beneficiar toda a comunidade artística, desde escultores a pintores, passando por atores e, até, dançarinos, como Clara Leão.

“um lugar de tertúlia”

Clara Leão propõe, por isso, a criação de um “espaço de encontros”, que seja acolhedor e independente, para que se possam cruzar ideias.

“Em suma, um lugar de tertúlia, para quem precise de crescer na vontade de descobrir, de criar e de fazer acontecer, juntamente com outros que procurem o mesmo”. Isto porque, muitas das vezes, é a partir de uma conversa ou de uma proposta inesperada “que nascem interessantes e originais projetos que conduzem a criações multidisciplinares, ou ao nascer de um evento em parceria”.

32 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Criar Clara Leão Fundadora da Escola de Dança Clara Leão

Internacionalizar os artistas Leirienses e as suas criações

uma vez que esta qualidade que encontra é algo que lhe dá “muita esperança para o futuro de Leiria e dos seus artistas”.

Desde que assumiu a direção artística da Leiria Cidade Criativa da Música - UNESCO, em Março deste ano, o pianista e compositor Daniel Bernardes contactou com centenas de pessoas ligadas ao setor das artes nas suas diferentes expressões. E, assume, nunca deixa de ficar impressionado com a quantidade e a qualidade do tecido artístico da região. Algo a que o músico atribui bastante importância,

Do ponto de vista prático, este responsável defende que “o município tem dado um contributo fundamental para a descentralização do país, com uma aposta veemente na cultura”. O que significa que tem vindo a ser alargando um circuito que, “durante demasiados anos praticamente se cingiu a Lisboa e Porto”, refere. Este trabalho tem ser-

vido para criar oportunidades nomeadamente “para que artistas oriundos daqui se apresentem em Leiria com mais frequência, mantendo viva uma ligação afetiva à cidade de onde partiram”.

Existe em Leiria “uma aposta política sustentada que criou no sector artístico os alicerces para um crescimento sustentável e que mereceu o reconhecimento da UNESCO com a atribuição do título de Cidade Criativa da Música”, relembra. Esse é um ecossistema que “devemos continuar

a estimular, fomentando a institucionalização e profissionalização administrativa de estruturas associativas que se revelaram, pela sua qualidade e longevidade, uma maisvalia para a cidade”.

Daniel Bernardes defende mesmo que “somos privilegiados por termos um movimento associativo local fantástico, que tem potenciado o enraizamento de artistas em Leiria”. O que apenas é possível porque se encontram por cá projetos estimulantes, “que lhes permitem um retorno financeiro e, mais importante ainda, um sentimento de realização artística”.

O futuro, através da Rede de Cidades Criativas UNESCO passa por “internacionalizar os artistas Leirienses e as suas criações, estimulando o diálogo intercultural”.

Firmar Leiria no mapa mundial da criação

Para continuar a ter um ecossistema artístico que funcione e atraia qualidade para a região, Daniel Bernardes defende que é “fundamental a promoção do diálogo interdisciplinar entre diferentes artistas e instituições através de encomendas que estimulem o ecletismo, tão fulcral à contemporaneidade”. Através da Rede de Cidades Criativas UNESCO haverá uma internacionalização dos artistas leirienses. Mas não só, pois no entender de Daniel Bernardes, será fundamental chamar a Leiria artistas dos quatro cantos do mundo, “para criarmos em conjunto, promovendo novas experiências de aprendizagem impactantes e enriquecedoras para todos, e que firmem Leiria no mapa mundial da criação contemporânea”.

PROPOSTAS | 33 Especial 35.º Aniversário
Daniel Bernardes Diretor Artístico da Leiria Cidade Criativa da Música - UNESCO

Trabalho em rede para o desenvolvimento cultural

UmaAceleradora Cultural na área performativa. Esta é uma das propostas ‘desenhadas’ por Frédéric da Cruz, diretor do Leirena Teatro - Companhia de Teatro de Leiria, referindo-se a um projeto que foi pensado em 2020 como um dos objetivos a concretizar pela companhia que dirige.

“Um espaço onde novos coletivos e artistas emergentes iriam dispor, num primeiro ano, de condições que facilitariam a criação e apresentação de trabalhos artísticos num ambiente que permitiria desenvolver e melhorar conhecimentos em áreas como a gestão, a comunicação e a utilização de meios técnicos (luz e som) e, principalmente, o contacto com o mercado cultural”, começa por dizer.

“Um projeto que procuraria não só captar e conquistar jovens empreendedores para a região, mas também apoiar

jovens criadores do nosso distrito, prestando-lhes o apoio necessário para o de-

senvolvimento de novos projetos artísticos”, acrescenta. Na opinião de Frédéric da

Frédéric da Cruz propõe o desenvolvimento de um gabinete de mediação cultural onde diversos agentes de várias disciplinas artísticas pudessem, em conjunto com o poder autárquico, refletir e desenvolver estratégias necessárias para a sensibilização e educação

para a cultura. “Não se trataria somente do desenvolvimento de projetos, mas traçar os meios necessários para que a cultura pudesse ser refletida por todos”, explica.

O diretor do Leirena reitera ainda que é importante referir que todos os

agentes de cultura que trabalham diariamente no terreno “são uma maisvalia para o crescimento da arte no concelho” e “todos sabem quais as dificuldades e as necessidades para que a arte possa crescer e evoluir no nosso território”.

tivo para diferentes processos, disciplinas e linguagens artísticas é também representativa de um espaço para a apresentação de trabalhos e de acolhimento de projetos artísticos. “Uma estrutura com as condições necessárias para que todos pudessem criar e assistir, sem as barreiras que muitas vezes impossibilitam o pleno usufruto da cultura e do seu desenvolvimento”, resume.

A segunda proposta visa o desenvolvimento de uma rede onde cooperariam agentes, programadores de salas de espetáculo, centros de artes, galerias, gabinetes de cultura e coordenadores do Plano Nacional das Artes dos 16 municípios que constituem o distrito de Leiria.

“Uma rede que teria a obrigação de facilitar e de encontrar as estratégias necessárias para desenvolver intercâmbios, promover a circulação de trabalhos artísticos locais e de projetos de intervenção comunitária, cooperar em projetos artísticos que envolvessem a educação e a ação social, combatendo as assimetrias culturais no território e permitindo que toda a comunidade tivesse melhor acesso à cultura”, sublinhoao responsável.

34 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Cruz, esta proposta, para além de se assumir como verdadeiro laboratório cria- Gabinete de mediação cultural Frédéric da Cruz Diretor Artístico do

A Educação e industrialização são objetivos a cumprir

escrito um texto alternativo em que defendeu que, “nas atuais circunstâncias da nossa economia apostaria todo o dinheiro da bazuca em apenas dois objectivos: educação e industrialização”.

capital, de muito baixa produtividade, sendo que o turismo paga salários baixos e não dá garantias de continuidade, apesar de ser o único destes sectores com dimensão e que exporta”.

Aregião de Leiria é industrialmente desenvolvida e os empresários, na generalidade, não precisam de grandes conselhos”, mas o empresário Henrique Neto não diz o mesmo sobre a governação do País, na medida que globalmente a economia portuguesa “se atrasa a cada ano que passa e os erros sucedem-se sem fim à vista”.

Desde o início que Henrique Neto não acredita no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), tendo mesmo

“Mas não um qualquer modelo de educação e de industrialização”, alerta.

“A economia portuguesa não cresce e não sai da cepa torta porque mais de 90% das empresas portuguesas são demasiado pequenas e são principalmente comerciais: feiras e mercados, cafés, pastelarias e restaurantes, cabeleireiros e minimercados, agricultura de subsistência, floresta que arde e pesca artesanal, limpezas e, finalmente, o turismo, bem como uma miríade de biscates”, constata o empresário, reportando-se a “empresas sem

As restantes empresas, nacionais e estrangeiras, que são na generalidade exportadoras, “são poucas e não criam os empregos suficientes para sustentar o conjunto da economia”. “São a parte da economia de maior produtividade, que concorre lado a lado com as empresas dos outros países e as empresas industriais superam o maior problema da nossa economia que resulta das baixas qualificações de metade da população portuguesa”, aponta o empresário, para quem “a indústria pode superar isso porque emprega muitos tra-

balhadores em operações repetitivas que necessitam apenas de uma formação mais rápida e mais barata”. “Ou seja, estas são as razões porque aposto na educação e na industrialização para o País, mas também para a região de Leiria”.

Para Henrique Neto, “haveria muito mais para explicar”, mas o empresário acredita que “gastar o dinheiro em mil projectos diferentes não vai alterar a situação descrita de uma economia dual” como a de Portugal, nem vai resolver o “maior problema” do país, que é “a baixa qualificação dos recursos humanos, nomeadamente para desenvolver uma economia exportadora e de elevada produtividade, que é a única forma de elevar o nível salarial”.

Na área da Educação, o empresário Henrique Neto propõe “resolver o problema numa geração, apostando num programa para uma rede de creches e de pré-escolar da maior qualidade, com instalações luxuosas, educadores qualificados, boa alimentação e transporte, de forma a garantir a assiduidade e os horários”.

Para Henrique Neto, “trata-se de interromper o círculo vicioso da pobreza e da ignorância que existe em milhares de famílias portuguesas, de forma a criar um ambiente de vida para as crianças que evite as desigualdades existentes à chegada ao ensino oficial e de forma a que os jovens quando chegarem aos quinze anos não queiram mais ser pobres”.

PROPOSTAS | 35 Especial 35.º Aniversário
Rede de creches

Turismo de massas tem “alguns riscos” e é importante contorná-los

patrimonial não se esgota, evidentemente, nem apenas nestes monumentos, nem apenas no património edificado monumental”.

Odiretor do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, não tem dúvidas em afirmar que é “surpreendente” o facto de, num raio de 40 quilómetros, se possa encontrar três monumentos classificados como Património Mundial pela UNESCO. Mosteiro de Alcobaça, Mosteiro da Batalha e Convento de Cristo, em Tomar, “destacam-se, assim, numa região Centro cuja riqueza

Joaquim Ruivo confessa que, para gerações de portugueses, os monumentos “acabavam visitados uma única vez na vida, como se, cumprido um ritual de peregrinação aos “monumentos pátrios”, ficasse também o dever cumprido”, acrescentando que, há 10 anos para cá, assistiu-se a um ‘boom’ turístico internacional, que tornou Portugal uma descoberta internacional como destino de eleição.

Contudo, “não se pode, é certo, ignorar o papel catalisador de Fátima, sendo o maior centro de peregrinação mariana católico”, uma vez que os monumentos Património Mundial da Huma-

nidade ganham ainda mais visitantes, “não exclusivamente pelos seus encantos artísticos e arquitetónicos, mas porque se enquadram maravilhosamente nesse circuito de eleição que sai de Lisboa, vai a Fátima, passa pelos monumentos e ainda tem tempo de ir à Nazaré com paragem em Óbidos, no seu regresso”. Para Joaquim Ruivo, este fator é “interessante e motivador” para quem gere os centros de atração turística, mas “é necessário ter em conta alguns riscos quando se fala em turismo de massas: a sua volatilidade conjuntural, o risco de ‘desgaste’ do mercado, a incapacidade para criar vínculos emocionais duradouros que criem o interesse e vontade de regressar novamente”.

Para além disso, “o tu-

rismo de massas está vocacionado para a ‘emoção’ do encontro rápido e não pela contemplação mais demorada”, constata ainda, acrescentando que o turista deseja, “como é natural, visitar o maior número de lugares no pouco tempo que o ‘pacote turístico’ tem a oferecer”.

O turismo de massas, esclarece Joaquim Ruivo, “não deixa de ser um pouco ilusório e até perigoso”, porque cria na sociedade “a perceção que o património vale sobretudo pelas receitas que encaixa e pela riqueza que cria: nos operadores turísticos, nos hotéis, nos restaurantes, nas lojas de recordações, nos profissionais do turismo. Cria-se até esta convicção que o património vale a pena ser conservado ou requalificado

pelo seu ‘valor de mercado’”, explica o diretor do Mosteiro da Batalha. “O Património é uma herança e, como qualquer herança, o seu valor reside na ligação emocional que com ele temos. É por isso que tem que ser protegida e garantida como coisa de futuro”, destaca.

O turismo de massas está vocacionado para a ‘emoção’ do encontro rápido e não pela contemplação mais demorada

36 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário

O grande desafio da estratégia promocional turística, “ultrapassado o sucesso dos mercados internacionais”, é, para Joaquim Ruivo, conseguir também, paralelamente, “atrair as novas gerações de Portugal ao conhecimento das suas riquezas patrimoniais, para que esses circuitos turísticos não sejam apenas preenchidos por seniores estrangeiros, mas também por jovens portugueses culturalmente despertos e conscientes da sua herança e da necessidade de preservá-la”. No fundo, o que Joaquim Ruivo sugere é “garantir a sustentabilidade”, conceito que, “por ser tão utilizado, começa a ser um ‘chavão’ sem sentido”, esclarece.

PROPOSTAS | 37
Especial 35.º Aniversário
Despertar as novas gerações de Portugal ao conhecimento da riqueza patrimonial

Promoção do diálogo inter-religioso

dade das populações”.

Vigário-Geral da Diocese de Leiria-Fátima, o padre Jorge Guarda é também uma figura habitual na comunicação social, tendo colaborado com o Diário de Leiria, semanalmente, com uma página, durante anos. Uma colaboração que recorda neste momento de efeméride, considerando que o nosso jornal “é uma publicação muito útil para conhecer toda a vitalidade da região de Leiria, nos vários âmbitos da vida e ativi-

Felicitações à parte, o pároco enaltece também o facto da pluralidade de informação do Diário de Leiria permitir dar, com regularidade, voz “às atividades da Igreja Católica na Diocese de Leiria-Fátima”, desejando que as notícias religiosas “sejam apresentadas sempre com boa qualidade e rigor de conteúdos, o que requer o melhor cuidado na consulta a fontes fidedignas e busca de conhecimentos fundamentados sobre a vida religiosa cristã por parte dos profissionais”.

Por forma a contribuir para o desenvolvimento da região na área religiosa, “com o apelo à atenção informativa por parte deste e de outros jornais”, o Vigário-Geral da Diocese de Leiria-Fátima propõe que se “promovam encontros de representantes das diferentes

religiões existentes em Leiria e na região com os jornalistas e outras pessoas, sempre que seja oportuno, para um conhecimento da diversidade religiosa e das suas propostas para a vida das pessoas”. Algo que permitiria transmitir às pessoas o sentido, valores e serviços que as diferentes religiões aportam às populações. E, acrescenta, o espaço apropriado para estes encontros poderia ser o Centro de Diálogo Intercultural, na antiga Igreja

da Misericórdia, em Leiria. Considerando que, “o património cultural material e imaterial, de natureza religiosa, é muito abundante na região”, o padre Jorge Guarda é da opinião que “os órgãos de comunicação têm um papel importante para o dar a conhecer e incentivar a realização de eventos e experiências que permitam o seu usufruto, em diálogo com as instituições proprietárias ou responsáveis por ele”.

Além da promoção do diálogo inter-religioso e da criação de eventos que conciliem a religião com a comunidade, o VigárioGeral da Diocese de Leiria-Fátima defende que, “no empenho informativo habitual”, é fundamental dar relevo aos acontecimentos religiosos, “como se faz com outras atividades da região”. E para isso, detalha, seria importante, na medida do possível, “ouvir mais o testemunho das pessoas e promotores de iniciativas”.

38 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Dar relevo aos acontecimentos religiosos
Jorge

Leiria deve saber acolher

Acidade de Leiria tem registado um crescimento nos últimos anos, a vários níveis, e Laura Esperança tem acompanhado este desenvolvimento de perto. A antiga deputada na Assembleia da República faz uma reflexão destes últimos anos na cidade do Lis e destaca alguns dos acontecimentos que marcaram este desenvolvimento da cidade e que se refletem nos dias de hoje.

Laura Esperança considera que a inauguração do Per-

curso Polis, em 2007, marcou um ponto de viragem na cidade, que nunca mais voltou a ser a mesma. “Para quem se lembra, os leirienses, de um dia para o outro, no dia da abertura ao público do Polis (…) passaram a andar na rua. Passámos a fruir um espaço, que existia, espaço esse que passou a ser acolhedor para todos, permitindo uma nova relação entre a cidade e o seu rio”, recorda.

Este percurso pedonal, que une Leiria ao rio Lis, provocou “uma alteração na vida quotidiana dos leirienses”, que começaram a aproveitar a cidade e, de certa forma, a redescobri-la.

A implementação do ensino superior em Leiria é também, para Laura Esperança, um momento a destacar. “O Instituto Politécnico de Leiria alterou exponencialmente o crescimento e desenvolvimento

de Leiria e é um atrativo indiscutível de pessoas e tudo o que lhe está associado, e que gera vantagens e oportunidades, no seu melhor sentido e em qualidade”, aponta. A antiga deputada parlamentar não tem dúvidas ao afirmar que, sem o Instituto Politécnico de Leiria, esta “não seria a mesma região”.

Mas Laura Esperança também notou as alterações menos positivas e que ainda hoje se repercutem pela cidade, “como por exemplo o esvaziamento da dinâmica do centro histórico”. Para esta situação, contribuíram “a mudança do mercado para uma zona, na altura periférica, e, mais tarde, com a abertura e o aumento do Leiria Shopping”.

“Não houve uma estratégia virada para as pessoas (habitantes, comércio e serviços), um apoio aos mais desprotegidos”, critica Laura

Esperança, acrescentando que se excluíram “alternativas para agregar culturalmente as pessoas e a história da cidade e hoje corre-se atrás do prejuízo”.

Mas a também antiga presidente da Junta de Freguesia de Leiria assinala que “continua a haver boas vontades, investimento público e privado e projetos que têm singrado, pela resiliência de quem estima aquele espaço”.

Olhando para o futuro, Laura Esperança sublinha a necessidade de se investir “nas crianças e nos jovens”. As atividades realizadas “só para quem pode pagar entradas” são, para Laura Esperança, insuficientes se o objetivo é apoiar a comunidade jovem. “Certamente que faria mais sentido aprender com a comunidade e com quem democraticamente é eleito valores de integração e de solidariedade.

Isso compete-nos a todos: democratizar e integrar, esse grande desafio a alcançar”, defende.

Apostar nas crianças e nos jovens

O futuro da cidade de Leiria passa, na opinião de Laura Esperança, pela aposta nas crianças e jovens. “O nosso foco é a preservação da nossa história e estamos a construir o futuro suportados na nossa identidade”, afirma.

“Refletindo sobre as potencialidades da região, deveremos apostar nas crianças e nos jovens, porque se não o fizermos, a oportunidade perder-seá”. É nisto que Laura Esperança acredita, nas potencialidades dos jovens que habitam a cidade do Lis.

O investimento nas camadas mais jovens, representa, para Laura Esperança, o investimento no futuro de Leiria. “Se a cidade não os souber acolher, não espere que eles a valorizem e se mantenham cá”, acrescenta Laura Esperança.

PROPOSTAS | 39 Especial 35.º
Aniversário
Laura Esperança Antiga deputada na Assembleia da República

Área da saúde carece de investimento

Aárea da saúde tem sido, nos últimos tempos, um tema fraturante na sociedade portuguesa, onde a falta de meios agrava a qualidade de vida da população. Leiria não é exceção e padece dos mesmos sintomas que as restantes regiões do país.

Licínio Carvalho, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Leiria (CHL), faz saber que “a região, à semelhança de praticamente todo o território nacional não garante, atualmente, uma cobertura de serviços de saúde suficientemente dimensionados para assegurar um nível de resposta ajustado às necessidades da população”.

Em termos de serviços essenciais, Licínio Carvalho considera que a região de Leiria está na linha da frente da inovação, visto que se tem afirmado “como uma das regiões do país com melhores indicadores de desenvolvimento a nível nacional”.

“São características comummente reconhecidas, o seu elevado índice de inovação, de empreendedorismo económico e empresarial, em particular, o que tem

permitido ter uma baixa taxa de desemprego” e que permite a fixação de mão de obra qualificada na região.

Sejam as “boas condições ambientais (…), de educação”, ou as “boas respostas estruturais e institucionais de natureza social, para apoio à família”, passando pela existência de “zonas verdes, espaços para atividades lúdicas, espaços culturais, sociais”, entre outros, Licínio Carvalho considera que Leiria completa “o cabaz de requisitos que fazem a diferença para as decisões de investimento (por parte dos empresários)

e subsequentemente as decisões de fixação de residência no âmbito do ‘projeto de vida de cada um’”.

Apesar de todos os benefícios que Leiria tem vindo a proporcionar, Licínio Carvalho reconhece que falta o

“essencial”, referindo-se à “existência de bons serviços de saúde, independentemente da natureza pública/privada/social das entidades prestadoras, bons cuidados de saúde, a começar nos Cuidados de Saúde

Criar uma Unidade Local de Saúde de Leiria

Como forma de colmatar os problemas na região referentes à área da saúde, Licínio Carvalho considera que “talvez seja a altura de se abrir o dossier da criação da Unidade Local de Saúde de Leiria”. Para o bom funcio-

namento de uma cidade e para o bem-estar social, o responsável acredita que é “inevitável e é crítica a existência de bons serviços de saúde”, algo para o qual a Unidade Local de Saúde de Leiria viria contribuir.

Primários, a continuar nos Cuidados de Saúde Hospitalares e terminar nos Cuidados Continuados”.

Entre os maiores défices registados na região, o presidente do Conselho de Administração do CHL assinala a falta de médicos de família, sendo que “na região de Leiria, cerca de 10% não têm essa garantia”. As listas de espera e as “dificuldades no acesso a várias dimensões da resposta diferenciada” também figuram o problema constante na região.

Estas dificuldades acabam por comprometer “claramente o desenvolvimento da região e o seu crescimento, quer em termos económicos, quer em termos sociais e culturais”.

Licínio Carvalho sublinha, então, que a região precisa “de investimento nos serviços de saúde, corrigindo desequilíbrios regionais que persistem ao longo do tempo”. O objetivo deve ser “aumentar a cobertura da população com médico de família, reforçar as estruturas hospitalares da região, nomeada e principalmente com mais médicos e técnicos de saúde”. O responsável acrescenta, ainda, que é crucial “a aposta em novas formas de organização, de gestão e de operação dos atuais serviços, procurando captar sinergias que alavanquem eficiência e boa qualidade da prestação, com mais acesso, melhor continuidade de cuidados e, no final, obtenção de ganhos em saúde”.

“Numa palavra, garantir um melhor nível de saúde da população”, aponta Licínio Carvalho.

40 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário

Apostar nos projetos de investimento nas áreas da economia digital

senvolvimento de um trabalho conjunto e de parceria como são o caso “as candidaturas aos Bairros Comerciais Digitais e Aceleradoras de Comércio Digital - projetos que promovem a digitalização da economiarealizados em conjunto com municípios e associações empresariais, respetivamente”.

OPresidente da Associação de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo da Região de Leiria (Acilis), Lino Ferreira, garante que a associação vai continuar a apostar nos projetos de formação profissional “para capacitação dos empresários e colaboradores”, nos projetos de “investimento nas áreas da economia digital” e no de-

Como associação representativa do tecido empresarial da região de Leiria, a Acilis tem como principal missão prestar serviços “úteis”, tais como, “a negociação do Contrato Coletivo de Trabalho para a Região de Leiria, formação profissional, programas de apoio, apoio jurídico, económico e administrativo, serviços médicos no âmbito da saúde curativa e preventiva, elaboração de propostas

junto das associações de cúpula em que estamos inseridos, esclarecimento e interpretação de legislaçãoque contribuam grandemente para os resultados alcançados pelas empresas, sendo um agente fundamental para o desenvolvimento da região”.

Nesse sentido, defende, “é imperativo que os apoios a disponibilizar pelo Governo assentem em pressupostos

que dinamizem as economias locais, numa base sustentável, e que os recursos disponíveis possam ser utilizados habilmente, para que as pessoas tenham interesse em ficar e investir”.

O trabalho em parceria e a colaboração com as diferentes instituições e organismos que tutelam as diferentes atividades que a Acilis representa são, para Lino Ferreira, fatores que a associação privilegia e que dão suporte à

Soluções sustentáveis

A Acilis garante a procura de novas soluções para os novos desafios e tendências associadas à automação, economia circular, transição energética e digital.

sua capacidade de desenvolvimento “de projetos mobilizadores e dinamizadores da atividade económica da região de Leiria”.

No futuro, Lino Ferreira garante que a Acilis continuará com o foco “na união, no trabalho conjunto e na partilha, indispensável para o desenvolvimento do comércio, indústria, serviços e turismo da área da Região em conformidade com os interesses das empresas”.

O presidente da Acilis congratula ainda o Diário de Leiria pelo seu pelo seu 35.º aniversário, que, segundo as suas palavras, “tem engrandecido e honrado” a comunicação social escrita”.

“Congratulamos este jornal por toda a informação partilhada, que é de uma enorme riqueza para a dinâmica da nossa região”, felicitou.

PROPOSTAS | 41 Especial 35.º Aniversário
Lino Ferreira Presidente da Acilis - Associação de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo da Região de Leiria

Aposta na reabilitação e integração social como futuro para a melhoria da qualidade de vida do cidadão portador de deficiência

quando a tendência “segue direta ao setor social”.

“O mundo em que vivemos, em pleno século XXI, é altamente contingencial, viciado em novas tecnologias, ferramentas importantes ao desenvolvimento pessoal e

estrategicamente utilizadas  profissionalmente”. É, portanto, “um mundo de oportunidades numa ‘selva’  demasiado grande para uma Instituição Particular de Solidariedade Social/lPSS”. “Está ao alcance

de todos, mas não é para todos”. Daí que Lúcia Luz aponte a “humildade, persistência e ambição” como “prioridades para quem sabe ser e fazer com  foco e visão”.

No caso da APPC-Leiria

fazem-se “omeletes sem ovos”. “São quase duas décadas a trabalhar com “forno a lenha”, aponta a responsável, destacando o trabalho dos dirigentes institucionais, técnicos e pessoal de apoio, que “trabalham com emo-

Inovação, estratégia e inteligência. São estas as três palavras chave que definem o futuro na opinião de Lúcia Luz. A presidente da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Leiria (APPC Leiria) espera que o seu testemunho possa servir de reflexão, sobretudo

Criar uma “incubadora  do sector social”, destinada ao  investimento de “produtos de apoio”, as chamadas ajudas técnicas é uma das propostas de Lúcia Luz. A ideia, explica, passaria pela “aquisição de diversos equipamentos de reabilitação para empréstimo ao cidadão portador de deficiência pelo tempo necessário

da sua reabilitação”. Segundo a presidente da APPC-Leiria, atualmente o tempo de espera de um produto de apoio pode ir até  12 meses em processo “dito  normal” com a segurança social.“Todos estes investimentos seriam da responsabilidade das autarquias, outros organismos,  empresas  e

doadores”, acrescenta, considerando o estádio Dr. Magalhães Pessoa o “espaço ideal para  a criação de diversas estruturas de apoio ao setor social”.Para Lúcia Luz, “é urgente salvaguardar e garantir o interesse, segurança e futuro destas famílias/cuidadores e seus filhos portadores de deficiência”. “A nossa região de

cara lavada nesta área, pioneira pela inovação e evolução, mais e melhores respostas sociais, mais e melhores apoios” seria “um bom exemplo a seguir para a qualidade de vida que todos merecem”.

Lúcia Luz aproveita para desejar os parabéns ao Diário de Leiria pelos seus 35 anos.

42 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Criar uma “incubadora do setor social” Lúcia Luz Presidente da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Leiria

Especial 35.º Aniversário

ção, lisura e transparência”. “É preciso saber olhar os problemas  não só com os olhos, mas saber olhar e sentir com o coração. É preciso ser mãe ou pai de uma ‘criança especial’ para sentir na pele tantas necessidades, dificuldades e injustiças. O mundo é injusto quando ainda se olha para o ‘deficiente’, o ‘coitadinho’.  A culpa é nossa, somos a sociedade que mais culpa tem nesta matéria”, admite Lúcia Luz.

“De boa vontade estamos todos”, mas “no mundo real  os problemas teimam em persistir, mesmo estando no bom caminho”, por isso, a presidente da APPC-Leiria aponta algumas ‘estradas’.

A obrigatoriedade de acessibilidades em todos os edifícios públicos e privados , que não passam só pelas rampas, mas elevadores, sinaléticas alternativas  ao alcance de todos é uma das propostas de Lúcia Luz, que defende ainda o aumento do número de estacionamentos

de acesso direto aos organismos públicos e privados, repartições finanças, loja do cidadão, instituições, farmácias, bancos, supermercados, entre outros, “garantindo as dimensões adequadas e obri-

gatórias de estacionamento”. “Está tudo na legislação”, assegura. A colocação de toldos nestes estacionamentos e em locais privilegiados da cidade, “seria uma resposta necessária em

tempo de chuva”.

E se um familiar/cuidador de uma ‘criança especial’ estiver doente? Alternativas, no imediato, “são poucas ou, raramente, nenhumas”. Criar bolsas de apoio com

famílias de acolhimento em situações pontuais, de doença, descanso do familiar/cuidador, e oportunidades  de habitação inclusiva para cidadãos portadores de deficiência, permitindo que o familiar/cuidador de idade já avançada,  possam coabitar com o seu filho” ajudam na inclusão. Saber investir mais em recursos humanos pode também contribuir.

“Existem milhares de desempregados, técnicos especializados que poderiam facilmente  ser o apoio destas famílias/cuidadores, mesmo quando os seus filhos estão doentes, permitindo-lhes de continuarem a laborar profissionalmente ou poderem simplesmente descansar, evitando as baixas, quebras de produção no trabalho, e todos os custos sociais inerentes”, explica a responsável, que propõe ainda a criação de linhas  telefónicas de apoio direto, durante 24 horas, para IPSS e familiares/cuidadores de cidadãos portadores de deficiência.

PROPOSTAS | 43

Atrair os jovens para a prática desportiva

veram muitos êxitos em varias modalidades”, contudo Manuel Sousa recorda que, presentemente, os clubes que ainda existem “fazem-no com muitas dificuldades”.

já colocou o seu lugar à disposição por várias vezes por se sentir cansado “mas ninguém quer assumir” essa responsabilidade.

Manuel Sousa é um campeão dentro e fora dos campos, pelo que é um exemplo para todos aqueles que fazem da resiliência uma forma de estar na vida. Além disso, também no desporto, neste caso adaptado, Manuel Sousa fala com propriedade das necessidades da região.

Na opinião do multi campeão de andebol e basquetebol em cadeira de rodas, a região está repleta de clubes que “ti-

“Falta de infraestruturas e apoios das entidades locais”, começa por dizer Manuel Sousa, acrescentando que uma das suas maiores preocupações é a dificuldade dos dirigentes em conseguir “atrair os jovens” para a prática desportiva.

“O problema é que o associativismo está em decadência. Ninguém quer assumir uma direção. Antigamente aparecia uma ou duas listas. Agora [os clubes] fecham porque não há quem queira fazer parte duma estrutura. Eu sei que os tempos são outros, mas terá que haver mais empenho”, relata Manuel Sousa, acrescentando que ele próprio

“Sinceramente, não sei o que fazer para atrair os jovens. Não há verbas. Para andar nisto é só por carolice. Mas também cansa. Eu que o diga. Já são trinta e tal anos”, conclui.

Um associativismo que capte os jovens

Tornar o associativismo mais atrativo pode ser uma peça do puzzle na construção de modalidades, também elas mais atrativas. No entender de Manuel Sousa, essa atração só pode acontecer com “mais empenho” de quem queira fazer parte da solução e captar mais jovens.

44 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Manuel Sousa Atleta de andebol e basquetebol em cadeira de rodas

Campus de Justiça resolveria problemas de acessibilidade e trabalho

A falta de lugares de estacionamento afeta qualquer cidadão que circule de automóvel pela cidade do Lis, incluindo os advogados.

mento reservado para os que aí têm de se deslocar”.

“A verdade é que os cidadãos, aí se incluindo, naturalmente, os advogados, que têm de se deslocar ao tribunal, seja ele qual for, têm de andar tempos, por vezes infinitos, à procura de lugar para estacionar o seu veículo, no qual transportam os seus ‘materiais’ de trabalho, como sejam o processo e a toga. Em dias de chuva é muito complicado”, explica Mapril Bernardes.

ciam de lugares reservados, que não se aplicam a todos os trabalhadores da justiça.

Para o advogado, o conceito de Campus de Justiça viria a solucionar parte do problema e iria criar melhores condições de acessibilidade, que Mapril Bernardes considera fundamentais. A cidade de Leiria, por enquanto, não é um exemplo no que toca a acessibilidades para pessoas com mobilidade reduzida.

treitas, etc…”, acrescenta.

Mapril Bernardes também nota falta de condições nos edifícios da justiça, que prejudicam o trabalho de todos os intervenientes. A propósito da criação de um Campus de Justiça, “aproveite-se para dar melhores condições de trabalho aos funcionários e magistrados, mas também aos advogados e aos demais utentes”.

Ocrescimento do número de habitantes na cidade de Leiria e, consequentemente, de veículos que circulam nas ruas tem sido notório para o advogado Mapril Bernardes.

“Pelo menos em anos atrasados, em todas as reuniões do Concelho Consultivo da Comerca de Leiria, um dos pontos permanentemente discutido era o do estacionamento para magistrados, funcionários e, também, naturalmente, e por acréscimo, dos advogados”, assinala Mapril Bernardes.

E o advogado reitera que “junto dos vários edifícios onde se encontram a funcionar tribunais não existe “estaciona-

Em estacionamentos adjacentes a tribunais, “os magistrados e funcionários gozam de um protecionismo de que não gozam os outros cidadãos que trabalham na zona” e benefi-

“Nos edifícios onde se encontram instalados os vários juízos (tribunais) a acessibilidade existe, sim, mas em moldes que muito deixam a desejar, desde logo pelas rampas de inclinação elevada, portas es-

Recuperar a ideia de um Campus de Justiça

Mapril Bernardes propõe o regresso da vontade de se construir um Campus de Justiça, que faça jus ao desenvolvimento que a cidade de Leiria tem vindo a registar. “Impõe-se que em Leiria (…) se recupere a ideia do Campus de Justiça e aí se crie um ver-

dadeiro local de justiça, com condições de trabalho para todos os operadores judiciais”. Sublinha a necessidade de se criarem zonas de estacionamento que sirvam “todos os utentes”, além de condições de acessibilidade e de trabalho adequadas.

“Em tempos houve o propósito de criar em Leiria um ‘Campus de Justiça’, onde seriam instalados todos os tribunais e demais serviços da justiça. Tal intenção acabou por se não concretizar, desconhecendo nós se foi decisão definitiva ou se apenas foi posta ‘na gaveta’ para mais tarde ser ressuscitada”, constata Mapril Bernardes.

Posto isto, “é imperioso que as salas de advogados estejam devidamente equipadas, que os cidadãos tenham locais de espera confortáveis, e que todos os espaços disponham, por exemplo, de wi-fi. Queremos Leiria na frente, também na Justiça”, adiciona o advogado.

PROPOSTAS | 45 Especial 35.º Aniversário

Escolas devem contribuir “ativamente” na divulgação da “microcultura”

Marco Horácio propõe na área da cultura para a região e, igualmente, para o país.

“Incluir o teatro como uma disciplina obrigatória no ensino preparatório e secundário” é outra das sugestões.

Oator e humorista Marco Horácio considera que as escolas devem contribuir para a divulgação da “microcultura”. “A cultura é uma parte fundamental da nossa identidade e postura perante o mundo, sendo que as microculturas devem ser preservadas e transmitidas em todas as freguesias para contribuírem para uma elevação cultural em todo o concelho e consequentemente em todo o distrito”, explica.

Segundo o humorista natural da Marinha Grande, “cada freguesia tem a sua história e microcultura de tradições e costumes” e as escolas devem contribuir “ativamente na divulgação da ‘microcultura’ aos seus alunos”. “Esta pode ser transmitida por um elemento formado, conhecedor da história e tradições da freguesia. Isto irá dar identidade, conhecimento e criar raízes nos mais jovens”. É este o caminho que

“A criação de uma ligação entre os artistas da terra, que alcançaram o sucesso nas suas áreas e a população mais jovem, através de palestras e ‘workshops’ nas escolas com o apoio da Junta de freguesia e da câmara Municipal” é, na perspetiva de Marco Horácio, uma forma de “parti-

lhar a experiência e o conhecimento” na área artística. “Uma vida dedicada ao Teatro ou à Arte acarreta sacrifícios, superações, vitórias e derrotas e também muitas alegrias e reconhecimento”, conta o ator, sublinhando que trilhar esse caminho e mostrar a forma de o encarar

primeira pessoa “cria um impacto e uma chamada á realidade a muitos destes jovens”. “Partilhar a experiência e o conhecimento. Amenizar as dificuldades e enaltecer a resiliência podem ser ferramentas fundamentais para os jovens que querem seguir esta área”, conclui.

“Criar um público, que desde cedo, cria uma aptidão espontânea de assistir a eventos culturais, alimentando a própria alma criativa, através da encenação de peças de teatro, escrita de texto e explorando os limites corporais e emocionais de cada um”, isto é, “brincar ao teatro”, reforça o ator.

Marco Horácio considera importante pôr fim aos espetáculos grátis, para que, perante a população, seja reforçada a importância da cultura “nas suas vidas”, uma vez que “esta acarreta custos” e é a “subsistência de muitos”.

“Os artistas não devem ser encarados como propaganda política, nem o público ser vendado com cultura”, justifica, acrescentando que o hábito de pagar nem que seja um euro, para ver um artista ou um espetáculo, “é a consciencialização de uma necessidade que devia ser básica para todos nós”. Marco Horácio felicitou o nosso jornal pelos 35 anos, desejando a continuação do Diário de Leiria “com reconhecimento, apoio e dinamização cultural”.

46 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
A ligação entre artistas da terra e jovens promissores

discutir e repensar a paisagem regional”

Oassunto das alterações climáticas está na ordem do dia e, para Mário Oliveira, a sociedade tem de se preparar para esse confronto e para a realidade energética. “A nova realidade climática e energética com que nos confrontamos realça erros graves em vários domínios e lança desafios de grande envergadura, sejam

pelos custos envolvidos nas eventuais soluções, seja por questões de exequibilidade técnica, entre outros fatores”, afirma o presidente da Oikos –Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria.

Para valorizar o património natural da região de Leiria, Mário Oliveira sugere “a criação de uma rede intermunicipal/distrital de geossítios que poderá garantir o conhecimento e valorização do património geológico, normalmente subestimado nas opções políticas ambientais”. Por exemplo, é tempo de conferir às minas da Guimarota “a importância que a comunidade científica nacional e internacional lhe reconhece”.

“Esta rede intermunicipal/distrital de geossítios deverá interligar-se à rede de pontos relevantes

para a biodiversidade, à rede de percursos pedestres, de ciclovias e trilhos de BTT, contribuindo para o desenvolvimento da imagem Região de Leiria – destino ecoturístico”, explica.

Segundo Mário Oliveira, urge ainda “discutir e repensar a paisagem regional e a articulação necessária entre a urbe e os espaços periurbanos e rurais, promovendo a criação de laboratórios de paisagem, estimulando o debate em torno do que se pretende para o futuro próximo, não perdendo de vista as profundas mudanças decorrentes do novo paradigma energético, bem como de mobilidade e acessibilidade em tempos de mudanças climáticas”.

Já em termos de mobilidade interurbana na região de Leiria, a opção pelo transporte coletivo elétrico “parece ser uma alternativa viável face às ligações necessárias na região, com destaque para os municípios mais próximos do litoral”.

Quanto à biodiversidade, Mário Oliveira considera ur-

gente “criar a carta multimunicipal/distrital das espécies invasoras”, que é a “primeira etapa no muito complexo e financeiramente exigente processo de contenção da sua instalação”. Face à elevada área florestal ardida, o problema associado à instalação das espécies invasoras “deverá ser agravado”, pelo que se impõe “a urgente implementação de um plano de contenção, remoção e monitorização das espécies em causa, nos distintos ecossistemas”.

Mário Oliveira entende, por outro lado, essencial “proceder ao cadastro da propriedade”, promovendo “a progressiva substituição da floresta monoespecífica por mosaico florestal de espécies autóctones adequadas aos ecossistemas em questão”.

“Esta mudança contribuirá decisivamente a melhoria da paisagem, aumento de biodiversidade, retenção de humidade no solo e impactes positivos na recarga de aquíferos e minimização do risco de fogo rural, entre outros benefícios ecológicos, sociais e eco-

PROPOSTAS | 47 Especial 35.º Aniversário
“Urge
A gestão dos recursos hídricos deverá “garantir um permanente consumo racional e sustentável
A implementação de uma estratégia regional de sensibilização ambiental poderia contribuir para a melhoria ambiental da região

nómicos”, justifica.

A gestão dos recursos hídricos, no contexto das alterações climáticas previstas e com destaque para a Bacia Hidrográfica do rio Lis, deverá, segundo Mário Oliveira, “garantir um permanente consumo racional e sustentável, realizando o cadastro e reais consumos de água, independentemente do fim a que se destina, bem como assegurar a quantidade e qualidade deste recurso para recarga dos respetivos aquíferos”. É também essencial “repensar o coberto vegetal existente, de forma a assegurar o máximo de infiltração de água pluvial, o que não se verifica com o coberto florestal existente”, e “urge resolver definitivamente

a vergonhosa situação relativa ao tratamento dos efluentes do setor da pecuária, monitorizando a qualidade da água e dos solos em que são lançados”.

Ainda associado aos recursos hídricos, Mário Oliveira reforça a importância de “recuperar e manter as galerias ripícolas.

“A implementação de uma estratégia regional de sensibilização ambiental, destinada à comunidade regional, a ser levada a cabo em contextos formais e não formais, coordenada pelo Politécnico de Leiria, poderia ser um contributo para a melhoria ambiental da região de Leiria e, por essa via, contribuir para um planeta mais sustentável”, recomenda.

“Porque não criar ‘Provedores do Ambiente’, em termos autárquicos, promovendo a desejável aproximação entre o poder municipal e o munícipe, e assegurando o reconhecimento da importância

do Ambiente no quotidiano de todos nós?”, esta é uma das muitas propostas que Mário Oliveira considera ser importante para a região, “já testada noutras cidades do país”.

48 | PROPOSTAS
Criar ‘Provedores do Ambiente’

Turismo com mais valor acrescentado

mais receita e atrair os melhores trabalhadores”, defende.

Turismo mais sustentável

OTurismo é um dos principais motores de crescimento do país, do Centro de Portugal e, em particular, da região de Leiria e, depois de anos muito difíceis, tem agora pela frente novos desafios”, defende Pedro Machado, presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal.

E, na ótica daquele responsável, o caminho que deve ser feito pelos operadores de mercado é a aposta clara no “turismo com mais valor acrescentado”. Para Pedro

Machado, “a elevada qualidade dos serviços que o Turismo proporciona a quem nos visita não tem gerado um valor acrescentado correspondente”. Pelo que, defende, “é fundamental que haja uma mudança de paradigma”. Pedro Machado explica que, durante muitas décadas, “Portugal atraiu visitantes por ser um destino barato, com serviços razoáveis”. Mas que, entretanto, houve um enorme salto qualitativo no produto que ofere-

cemos, “o que tem motivado muitos prémios e distinções”, refere ainda. No entanto, “essa melhoria não se tem refletido devidamente nos preços praticados”, considera. Por isso, sugere que os empresários não devem ter receio de corresponder nas faturas o valor e a qualidade que oferecem, durante todo o ano. “É altura de darmos um passo em frente e competirmos pela qualidade e não pelo baixo preço. Só assim as empresas conseguirão gerar

Outro dos aspetos que urge melhorar e é há muito debatido é o aumento de “portas de entrada” na região. O responsável pelo Turismo do Centro considera que “a região Centro de Portugal não dispõe das mesmas vantagens das concorrentes na captação de turistas internacionais”. Isto porque, sendo a mobilidade e a acessibilidade condições essenciais para o desenvolvimento da atividade turística, “a ausência de uma estrutura aeroportuária no território – Monte Real ou outra – é um travão ao desenvolvimento, uma vez que a esmagadora maioria dos turistas entra em Portugal por via área”. Pedro Machado admite que este “é um problema grave, que o país precisa de resolver, sob pena de as assimetrias regionais se agravarem”.

Além da sustentabilidade ser uma questão transversal e premente, nos últimos anos percebeu-se “as vantagens de se apostar numa oferta turística que assegure elevados padrões de sustentabilidade, em que o turista interage com as populações, respeitando as características dos territórios”, refere Pedro Machado.

Nesse sentido, este responsável destaca a importância da região apostar em “projetos turísticos sustentáveis, de qualidade, em territórios mais afastados dos centros”, que qualificam os destinos. E, claro, o valor gerado pela atividade turística “deve ter um reflexo positivo nas economias locais, de forma a melhorar a qualidade de vida das populações e a fazê-las sentir que são parte fundamental da operação turística”, justifica

PROPOSTAS | 49 Especial 35.º Aniversário
Pedro Machado Presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal

Crescimento do kartódromo para aproveitar todo o seu potencial

Omundo automóvel tem vindo, nos últimos anos, a sofrer profundas alterações. Quem o diz é Pedro Mendes Alves que, para além de um aficionado do universo das quatro rodas, é igualmente presidente do Núcleo de Desportos Motorizados de Leiria (NDML).

O responsável acredita que o forte desenvolvimento tecnológico, em que gadgets integrados economizam combustível, orientam e otimizam a condução, a transição energética e as responsabilidades ambientais e de segurança, são fatores que têm alterado o paradigma e de uma forma ou de outra, se têm refletido no desporto automóvel.

“Como se desenhará o futuro, como se desenrolará o confronto entre combustíveis

fosseis e as alternativas sustentáveis, ou como evoluirá este desporto, permanecem uma incógnita”, reconhece.

Independentemente de como vão ser os automóveis no futuro, o responsável do NDML, Núcleo com os seus 40 anos, “está atento” e “tem tido até aqui a capacidade de fazer parte da evolução, fazendo-a acontecer”.

Para além do ‘mix’ e número de provas que organiza (passeios, rallyes, rampas, circuitos, karting, etc.), introduziu em Portugal as provas destinadas a clássicos e, mais recentemente, as provas sem classificação. “A inovação, a

par do prazer da condução, aliado (ou não) à competição, estão, desde sempre no seu ADN a que, os amantes do desporto motorizado têm respondido de forma inequívoca, em número e em qualidade”, destaca Pedro Mendes Alves.

Desde os anos 90, o NDML tem no Kartódromo de Leiria a sua âncora. Para além de promover o turismo na região de Leiria, o kartódromo é uma estrutura “fundamental e vital”, no aparecimento de novos praticantes de várias modalidades, assumindo, também, “uma componente pedagógica”, sobretudo, no

que às camadas mais jovens diz respeito.

“Na perspetiva organizativa, acreditamos que o desporto automóvel será no futuro, tendencialmente, desenvolvido em espaços próprios, delimitados, onde, para além da comodidade do público, as condições de segurança e as responsabilidades ambientais são efetivamente controladas”, frisa, acrescentando que estes complexos, sejam Kartódromos, Circuitos de Rally-Cross, ou Autódromos, “terão cada vez mais peso no desporto automóvel, podendo, para além do mais, acolher outros eventos”.

Permitir o crescimento do Kartódromo

Em termos estratégicos, os objetivos passam “pelo crescimento do Kartódromo” de que o Núcleo de Desportos Motorizados de Leiria é proprietário, “dotando-o de uma pista de maior extensão”, num meio-termo “entre o seu tradicional conceito e o de Autódromo”.

“Uma estrutura deste tipo permite acolher motas, karts e automóveis em distintas provas. A esta multifuncionalidade, acresce o aumento da segurança face a um autódromo onde a velocidade é mais elevada, a inerente redução dos riscos e uma gestão mais eficaz dos recursos.

Não sendo novidade na Europa, estes complexos não existem em Portugal”, sublinha.

Para Pedro Mendes Alves, numa conjugação do ‘knowhow’ adquirido e da situação geográfica privilegiada da região de Leiria acredita que o NDML, mais uma vez, a seu tempo, “se destacará inovando, fazendo avançar o deporto automóvel em Portugal, seja na vertente desportiva, seja na turística”.

“É assim que vemos o futuro e é nisto que estamos a trabalhar”, resume.

50 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Pedro Mendes Alves Empresário e presidente do Núcleo de Desportos Motorizados de Leiria

Poluição sonora nas cidades necessita de atenção

da qualidade do ambiente sonoro nas zonas urbanas, tal como a cidade de Leiria”.

Este responsável da Quercus explica que “importa ter em consideração que atuar neste âmbito é, acima de tudo, agir em prol da salvaguarda da saúde humana e o bemestar das populações”.

urbanos das cidades, passa por exemplo, pelo desenvolvimento de uma estratégia forte de promoção dos transportes públicos junto da população, que necessariamente deverá ter como

Pedro Santos, presidente do Núcleo Regional do Ribatejo e Estremadura da QuercusAssociação Nacional de Conservação da Natureza, considera que neste momento há várias propostas de caráter ambiental “oportunas”.

Uma das que refere como fundamental é a “melhoria

Para este especialista, a poluição sonora é atualmente uma das áreas que mais atenção necessita e que maiores impactes potenciais tem no que respeita à capacidade e possibilidade de descanso das pessoas, “não sendo raras as vezes em que as pessoas se veem impossibilitadas de descanso e bemestar mesmo no interior de suas habitações”, relata.

Por isso mesmo, considera, “parte do caminho que é necessário fazer nesta matéria dentro dos perímetros

base a implementação de uma rede de paragens coerente no espaço e no tempo (com paragens bem localizadas e com horários que sirvam as populações, motivando deste modo a diminuição do uso do carro próprio das deslocações); a gratuitidade dos transportes públicos, à semelhança do que acontece em outras cidades europeias; e a intermodalidade dos diferentes transportes públicos, incluindo a compatibilização com mobilidade ligeira (bicicletas, trotinetes, e outros)”.

E, acrescenta ainda, “devem também ser criados instrumentos financeiros de apoio à troca de veículos de motor de combustão por veículos de uso de energias alternativas, uma vez que estes últimos são tipicamente menos ruidosos”.

Outra das áreas que Pedro Santos considera fundamental passa pelo reforço da sensibilização ambiental. E destaca a necessidade de passar a mensagem no que diz respeito “ao reforço da necessidade de separação dos resíduos valorizáveis, nas suas diversas fileiras, tendo em consideração as muito baixas taxas de valorização de resíduos que Portugal tem sistematicamente apresentado”.

Para o presidente do Núcleo Regional do Ribatejo e Estremadura da QuercusAssociação Nacional de Conservação da Natureza, este reforço da sensibilização ambiental deve começar junto das populações estudantis.

PROPOSTAS | 51 Especial 35.º Aniversário
É urgente separar e valorizar os resíduos
Pedro Santos Presidente do Núcleo Regional do Ribatejo e Estremadura da Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza

Apostar no comércio tradicional e na economia circular para promover o desenvolvimento de todo o concelho

riquecer a experiência de quem visita Fátima e quer vivenciar a sua história.

Apresidente da Direção da Associação Empresarial de OurémFátima (Aciso reconhece que as emergências climáticas e energéticas impõem novas abordagens ao território, devendo “ser assumidas, coletivamente, por todos, “rumo à criação de um concelho verde e energeticamente sustentável, inclusive no setor do turismo”. “A aposta no comércio tradicional e na economia circular, na mobilidade verde acessível a todos, numa boa cobertura de fibra ótica e numa boa oferta cultural”, são, na opinião de Purificação Reis, requisitos “fundamentais” para promover o desenvolvimento de todo o concelho, “tirando partido da procura crescente por territórios de baixa densidade nos quais se possa viver tranquilamente, com qualidade de vida, e trabalhar localmente ou à distância”.

Purificação Reis reconhece ainda que Fátima é “um destino de turismo religioso que capta turistas de todo o mundo, sendo um fenómeno único e diferenciador no panorama nacional que im-

porta preservar, aproveitar e promover”. A responsável destaca a “enorme” capaci-

Na visão de Purificação Reis, é necessário “fomentar e desenvolver o turismo durante o período de inverno”, e assim contribuir para a eliminação dos principais constrangimentos existentes, nomeadamente a “forte sazonalidade turística e a reduzida estadia média”.

Para o efeito, é “urgente” a muito reclamada construção

dade hoteleira instalada em Fátima (10.000 camas) e a sua grande qualidade, mas

de um Centro de Convenções/Congressos que possa captar eventos para a região, eventos empresariais, eventos culturais e eventos desportivos. “A localização central de Fátima, a capacidade de alojamento existente e a criação de uma boa oferta cultural facilitariam a captação de inúmeros eventos”, remata.

ressalva a urgência em dotar aquele território de infraestruturas que permitam tirar o melhor partido desta capacidade.

“Aprofundar o estudo etnográfico de Fátima/Aljustrel, centrado na época das Aparições aos três Pastorinhos e efetuar o levantamento dos hábitos alimentares dos Pastorinhos, recuperando alguns desses pratos, assumi-los e promove-los na gastronomia do concelho”, são alguns dos aspetos/ideias que, segundo a presidente da direção da Aciso, poderiam en-

Contudo, Purificação Reis, não esquece o norte do concelho de Ourém, que é, por sinal, mais rural, mas “com forte potencial”, dado tratar-se de um território “rico em água e com bons terrenos de cultivo, recurso que se tornará estratégico para a fixação de população, desde que se consigam criar condições atrativas para a fixação de empresas e criação de emprego, sendo necessário apostar em parques empresariais concebidos à luz das novas necessidades, devidamente infraestruturados, com condições atrativas para a instalação de empresas não poluentes”.

Ourém tem ainda a Ribeira de Seiça, “recurso natural a preservar e a valorizar, que poderá ser impactante na melhoria urbanística e paisagística do território”, uma vez que, reconhece igualmente, Purificação Reis, que é também importante “a preservação da ruralidade de muitas das aldeias do concelho”.

Para a presidente da direção da Aciso, a falta de um grande parque de lazer fazse sentir há muito, “quer por parte da população residente quer por parte dos turistas, devendo ser central e de fácil acesso a pé”. “A ligação urbana de Fátima a Ourém e a resolução dos problemas de acessibilidade ao castelo trariam uma nova e mais favorável dinâmica ao território”, destaca ainda Purificação Reis.

52 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Construir um Centro de Convenções/Congressos

Pensar na sustentabilidade alimentar e valorização gastronómica

mas a que Rui Lopes se refere, a nível local.

Traçar políticas locais de desenvolvimento agrícola

Ochef de cozinha Rui Lopes não tem dúvidas de que é cada vez mais necessário repensar a sustentabilidade alimentar e a valorização gastronómica dos produtos locais para atenuar os problemas relacionados com o excesso de consumo de produtos alimentares.

Baseando-se no estudo da Universidade de Aveiro ‘Portugal era o país com maior pegada ecológica alimentar do mediterrâneo em 2020’, Rui Lopes conclui que “se todos os habitantes do mundo consumissem como os portugueses, precisaríamos de mais de dois planetas Terra” para satisfa-

zer as necessidades da população.

Para Rui Lopes, que também é nutricionista, “os sistemas alimentares devem ser pensados na ótica das políticas de alimentação e segurança alimentar, de saúde pública, do desenvolvimento dos territórios e, particularmente, no âmbito das políticas locais”.

Desta forma, é cada vez mais importante promover os produtos locais, e dar-lhes preferência na hora de escolher os alimentos para a despensa de cada um.

E Rui Lopes considera que

“a gastronomia de base local é, provavelmente, o mais importante instrumento para reduzir a pegada ecológica alimentar, porque ela assenta nos produtos locais, nas cadeias curtas de produção e distribuição”.

Na cidade de Leiria, Rui Lopes dá o exemplo do Mercado Municipal, que alberga “cerca de uma centena de produtores locais, que dependem do consumo local para garantir a sua atividade”.

Mas a existência do Mercado Municipal de Leiria não é suficiente para mitigar os proble-

“Faltam programas de promoção da alimentação e gastronomia de base local, de valorização e integração dos produtos endógenos e da produção local nas cantinas escolares, nos lares, nos serviços públicos e na restauração privada”.

Em Portugal, já se realizam ações de sensibilização para alertar para o excesso de consumo, mas Rui Lopes confessou que estas iniciativas têm tido “pouco sucesso, segundo os investigadores”.

A valorização da gastronomia e dos produtos locais é um trabalho que deve ser desenvolvido por “todos nós”, defende o chef de cozinha, “com o auxílio das políticas e iniciativas do município, com a importante participação das associações, passando pela responsabilidade da restauração e da indústria na promoção dos produtos endógenos”.

Os bons exemplos na literatura

res nas escolas, fomentando o acesso à literatura por parte dos mais novos. “É um projeto muito interessante, no sentido em que promove também a divulgação de autores locais”, revela Tânia Bailão Lopes que já teve a oportunidade de ser protagonista desta iniciativa.

Aescritora e ilustradora leiriense Tânia Bailão Lopes é defensora do trabalho que tem sido desenvolvido pela Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira e pelo município de Leiria na área da literatura, nomeadamente através dos departamentos da Cultura e Educação. Por isso mesmo, não deixa propostas mas sim bons exemplos do caminho que está a ser trilhado nesta área.

Um desses exemplos são os Roteiros com Escritor, que promovem a visita de escrito-

A escritora enaltece ainda outras iniciativas de valor

“Temos ainda a Rota dos Escritores de Leiria, que é uma oportunidade criada pelo município para dar a conhecer uma importante faceta da cidade marcada por cinco grandes nomes da literatura nacional”, destaca Tânia Bailão Lopes, fazendo menção a nomes como Francisco Rodrigues Lobo, Acácio Paiva e Afonso Lopes Vieira, que nasceram

como a Biblioteca de Praia, que todos os anos dinamiza atividades tendo em vista a promoção da literatura no ambiente descontraído da praia do Pedrógão. Uma realidade que pode ser conferida durante a época balnear, de segunda-feira a domingo. “Naquele espaço estão disponíveis serviços de leitura, empréstimo de livros, internet

gratuita e atividades lúdicas e de animação como a Bebeteca”, recorda a ilustradora, acrescentando que se trata de um projeto de intervenção socioeducativo e intergeracional, com uma biblioteca dimensionada ao universo dos bebés dos 0 aos 36 meses.

Para Tânia Bailão Lopes, outro bom exemplo que como se pode promover a li-

Rui Lopes defende que se deve “pensar a região na perspetiva da sustentabilidade alimentar”. Para que isto aconteça, o chef propõe “traçar políticas locais de desenvolvimento agrícola, conducentes à diminuição das necessidades de importação e na incrementação das cadeias curtas de abastecimento alimentar”.

Para serem eficientes, estas medidas teriam que estar assentes “na tradição alimentar e gastronomia local, alinhado com uma estratégia nacional de diminuição de importações de alimentos e de estímulo ao setor primário”, isto porque um estudo da Universidade de Aveiro, em que Rui Lopes se baseou, estabelece que “73% do consumo alimentar nacional depende de países terceiros”.

E a sustentabilidade alimentar começa a nível local, através de “empresas de pequena e micro dimensão”, capazes de garantir a “sustentabilidade”, dando-lhes a possibilidade de distribuir “a riqueza gerada no setor agroalimentar”.

em Leiria, e Eça de Queiroz e Miguel Torga, que viveram na cidade, e que “são agora carinhosamente relembrados pelo município, que quer partilhar, através da Rota dos Escritores de Leiria, a vida e obra destes homens que tiveram também um papel muito importante na divulgação de Leiria com a sua obra literária”.

Trata-se de uma iniciativa que decorre no segundo sábado de cada mês, em que os interessados poderão participar nestas visitas que terão início às 16h00, junto à Sé de Leiria. O percurso, que inclui 25 pontos de interesse, tem a duração de cerca de duas horas e será acompanhado alternadamente por técnicos do município.

teratura é o Trokaiosque –Cabine de Leitura. Trata-se de uma cabine telefónica antiga que foi transformada numa microbiblioteca dedicada à troca de livros, bem no centro da cidade de Leiria. O espaço, que resulta de uma parceria entre a Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira e a Fundação Portugal Telecom, tem como objetivo promover a leitura, permitindo, neste caso, um acesso mais direto aos livros. Qualquer pessoa pode entregar livros e receber outros em troca, pelo que é possível esperar que se contribua a partir de agora para uma efetiva troca de experiências e convívio em torno da leitura. Com este equipamento, são criadas igualmente condições para que todos os leitores possam reciclar as leituras, trocando os títulos já lidos por outros que desconhecem.

54 | PROPOSTAS Especial 35.º Aniversário
Tânia Bailão Lopes Escritora e ilustradora Rota dos Escritores dá a conhecer vida e obra

E A FAMILIARIDADE” COM LEIRIA PROMOVEM ESTRATÉGIAS COMUNS

OMunicípio de Ourém não abdica do seu papel ativo, enquanto impulsionador do desenvolvimento do Concelho e da própria região que o envolve. Embora administrativamente ligado a Santarém, a proximidade e a familiaridade com o território de Leiria, promove o desenvolvimento de estratégias comuns, nas mais diversas áreas, com benefícios e múltiplas vantagens para a comunidade em geral.Enquanto Município ativo e dinâmico, Ourém encara o desenvolvimento como um factor absolutamente decisivo para a melhoria da qualidade de vida dos nossos munícipes. Foi precisamente deste contexto que nasceram medidas sociais de relevo, que hoje fazem deste nosso

Concelho um dos mais atrativos de toda a região.A Taxa de Desemprego em Ourém situa-se, normalmente, nos 2 por cento, a cada avaliação revelada pelas entidades competentes. É um número meramente residual, que resulta de uma estratégia sustentada, através da qual o Município tem conseguido apoiar o tecido empresarial, ao mesmo tempo que também tem revelado capacidade para cativar novas empresas, promovendo a respetiva instalação nos nossos parques industriais.Precisamente neste contexto, já está em curso a construção da Área de Acolhimento Empresarial de Freixianda, que resultará, seguramente, em novas oportunidades de negócio, através de 23 lotes que iremos disponibilizar a curto prazo, com possibilidade de ampliação e criação de novos lotes, se houver necessidade, como acreditamos que haverá, tendo em conta a procura registada até ao momento.Trata-se de um investimento na ordem dos 5 milhões de euros, que resulta precisamente desta aposta do Município em cativar empresas e contribuir para a criação de emprego e geração de riqueza como ponto de par-

tida para a fixação de famílias e o combate ao êxodo rural. Paralelamente, temos trabalhado empenhadamente na requalificação das zonas industriais já existentes, contribuindo para o fortalecimento de uma economia local em franco crescimento.Em Ourém, assentamos a nossa estratégia em medidas que se interligam entre si, contribuindofavoravelmente para o desenvolvimento social de todo o Concelho. O programa de apoio à natalidade e à infância, que lançámos em 2018, tem sido um verdadeiro sucesso, contribuindo,também, para que as famílias oureenses tenham ainda melhores condições para continuar entre nós, resistindo à tentação de procurar os grandes centros urbanos.Também em prol do desenvolvimento económico do Concelho de Ourém, mas no contexto das taxas de IMI e Derrama, o Município aplica os valores mais baixos da região, quando comparado com outros concelhos de igual dimensão.Além das estratégias de desenvolvimento a pensar nas zonas interiores do nosso Concelho, oMunicípio de Ourém está fortemente empenhado na renovação das nossas ci-

dades. Neste contexto, encontra-se em fase final de revisão o Plano de Urbanização de Fátima, estando emfase de elaboração o Plano de Urbanização de Ourém. Estamos perante dois documentos queconsistem em duas ferramentas absolutamente cruciais para o desenvolvimento de todo oConcelho, à boleia da adaptação de Ourém e Fátima às novas realidades que envolvem asgrandes cidades.

OPINIÃO | 55 Especial 35.º Aniversário
“PROXIMIDADE
Enquanto município ativo e dinâmico, Ourém encara o desenvolvimento como um factor absolutamente decisivo para a melhoria da qualidade de vida dos nossos munícipes

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