8 minute read
Anexo – Para não dizer que não falei da Pandemia��������������������������������������
164 Memorial Maria Paz Loayza Hidalgo
O Laboratório conta com um grupo que se reconhece como grupo que produz como grupo e isto foi fundamental durante os períodos mais difíceis de nossa história, onde juntou uma crise política, econômica e de saúde.
Advertisement
Aqui deixarei registrada a nossa última história.
Em dezembro de 2019, começamos a ver as primeiras notícias sobre um vírus, na China. Guilherme me disse: aposto que vai chegar na Europa. E chegou na Europa. Em março de 2020 chega no Brasil. Neste período Benicio Frey estava em uma estadia pelo PVE/CAPES. Imediatamente, ao saber do primeiro caso, adiantamos seu retorno para o Canadá. Antes que todas as fronteiras entre os países fechassem.
Tínhamos acabado de participar do último evento presencial no HCPA: a Jornada de Sono. Tinham vindo colegas de outros estados. E os sinais já apareciam. O anfiteatro já estava em um formato um pouco estranho, precisávamos deixar cadeiras sem ocupar. Foi neste momento que me veio o sentimento que seriam dias difíceis. E como em todos os momentos difíceis, precisaríamos crescer para não sucumbir.
A Luli decidiu que iria nesse final de semana para o Quilombo fazer a última coleta. Eu? Eu comecei a ter sintomas, como já tínhamos o primeiro caso no Hospital resolvi medir a temperatura e… febre!
Foi meu primeiro isolamento e após, meu primeiro PCR negativo. Digo primeiro, pois durante a pandemia fiz 8 viagens internacionais.
Meu filho, durante a pandemia teve de viajar sozinho para o Canadá, porque lá não aceitavam pessoas, como eu, que tinham sido vacinadas com CORONAVAC. E lá se foi ele…
Je vole (autor: Michel Sardou), cantada no filme La Famille Bélier Mes chers parents, je pars Je vous aime mais je pars Vous n’aurez plus d’enfant Ce soir Je n’m’enfuis pas, je vole Comprenez bien, je vole Sans fumée, sans alcool Je vole, je vole Elle m’observait hier Soucieuse troublée, ma mère Comme si elle le sentait, en fait elle se doutait Entendait J’ai dit que j’étais bien, tout à fait l’air serien
ANEXOS
Elle a fait comme de rien, et mon père dèmuni A souri Ne pas se retourner, s’éloigner un peu plus Il y à la Gard, un autre gare et enfim, l’Atlantique … J’me demande sur ma route Si mes parents se doutent Que mes larmes ont coulé Mes promesses et l’envie D’avancer Seulement croire en ma vie Tout ce qui m’est promis Pourquoi, où et comment Dans ce train que s’éloigne Chaque instant C’est bizarre, cette cage Qui me bloque la poitrine Je ne peux plus respirer Ça m’empêche de chanter
… Je vole, je vole Je vole, je vole
Portanto, para eu conseguir entrar no Canadá, precisava que o reforço da vacina me permitisse ter o passaporte vacinal. Fui para Santiago, fiquei os 10 dias em hotel sanitário em isolamento, totalizei os 14 dias necessários em outro país autorizado para ingressar nos Estados Unidos da América, voei para lá a fim de receber uma vacina que me possibilitasse ir a Montreal, já que meu filho está estudando na McGill.
Fui duas vezes a Montreal, sendo que em uma delas fui a trabalho em Hamilton. Uma viagem para a Alemanha para cumprir com as demandas do PROBRAL DAAD/CAPES. E três viagens a Santiago. Em cada ida e vinda, um PCR. Todos negativos.
Foi impressionante a primeira viagem. O mais parecido era o começo do filme Os 12 Macacos, em que o protagonista entra no museu deserto.
Foi assim que me senti entrando nos aeroportos. Todos desertos. Sem um local para comprar souvenir, nem um café! A sensação de solidão era imensa.
Mas vamos retornar ao início da pandemia. A primeira medida foi criar um grupo no WhatsApp, pois, se algum de nós fosse contaminado, poderíamos nos ajudar. Foi assim que surgiu o grupo CRONO_CORONA no qual nos mantemos até agora.
166 Memorial Maria Paz Loayza Hidalgo
Ali surgiram dúvidas como de que forma diluir a água sanitária, até questões sobre edital a aplicar. A Melissa Alves Braga de Oliveira nos organizou em duas salas em diferentes plataformas para ter certeza de que pelo menos uma funcionasse. Uma delas está ativa até hoje.
Luli retorna do Quilombo com actigrafos e me liga. Eu, em isolamento, já terminando de revisar três artigos.
Luli me pergunta: o que achas de fazermos uma coleta em quem está em isolamento?
Imediatamente me vieram à mente os trabalhos de Aschoff e dessa conversa surgiu o projeto guarda-chuva que nos manteve ativos durante os dois últimos anos.
Achávamos que poderíamos contribuir com o que tínhamos: capacidade de gerar informação confiável. Foi assim que, inicialmente, se organizou uma revisão de literatura sobre as consequências do isolamento e o que poderíamos esperar da situação de distanciamento liderada pelo André Comiran Tonon.
Concomitantemente o grupo CRONO_CORONA faz sua primeira publicação com o que tínhamos aprendido. Liderados pela Luli e pela Nati, organizamos uma série de recomendações para prevenir os sintomas de depressão, ansiedade e insônia.
ANEXOS
Pilz LK, Couto Pereira NS, Francisco AP, Carissimi A, Constantino DB, Caus LB, Abreu ACO, Amando GR, Bonatto FS, Carvalho PVV, Cipolla-Neto J, Harb A, Lazzarotto G, Marafiga JR, Minuzzi L, Montagner F, Nishino FA, Oliveira MAB, Dos Santos BGT, Steibel EG, Tavares PS, Tonon AC, Xavier NB, Zanona QK, Amaral FG, Calcagnotto ME, Frey BN, Hidalgo MP, Idiart M, Russomano T. Effective recommendations towards healthy routines to preserve mental health during the COVID-19 pandemic. Braz J Psychiatry. 2022 MarAbr;44(2):136-146. doi: 10.1590/1516-4446-2021-2109. PubMed PMID: 35262615; PubMed Central PMCID: PMC9041970.
Acordamos que, nesse grupo, as primeiras autoras seriam a Luli e a Nati e todos nós viríamos em ordem alfabética.
Além disso, fizemos, em colaboração com a Profa. Fernanda Amaral, a maior coleta de que tenho conhecimento de dados de atividade e repouso.
Enviamos o projeto para cinco editais. Ganhamos um deles. Com isso recebemos financiamento para desenvolver nosso primeiro aplicativo liderado pela Profa. Maria Elisa Calcagnotto e pelo Prof. Marco Idiart. O projeto ainda se encontra em fase de desenvolvimento.
Com esse edital incluímos mais dois alunos: o Bruno e a Fernanda.
Tivemos que fazer novas seleções para alunos de Iniciação Científica e agregamos 20 novos alunos com diferentes tipos de bolsas.
Mantivemos o programa de Iniciação Científica Jr. com a inclusão do Prof. Angelo Piato.
Concorremos ao edital de rede e nos organizamos em uma rede (a Redirecional).
Portanto, durante a pandemia, aumentamos o número de alunos, e os existentes se tornaram
168 Memorial Maria Paz Loayza Hidalgo
pesquisadores independentes. Dois alunos viajaram em intercâmbio (Nicoli Xavier e Adile Nexha), duas alunas foram completar a formação em universidades europeias, um aluno ingressou no Mestrado, três concluíram o Mestrado e uma terminou o Doutorado. Mas outros dois interromperam sua formação por dificuldades impostas pela pandemia.
E como tudo estava muito complexo, pedimos ajuda para a Universidad de Chile e estabelecemos uma colaboração com as Ciências Sociais.
Até casamento virtual tivemos.
Portanto, crescemos!
Mas sabemos que somos poucos os que cresceram. Também tivemos muitas perdas!
Atualmente vivemos além da rua Ramiro Barcelos: vivemos na nuvem.
Sabemos que o crescimento atingido precisa ser mantido. Mas o Laboratório nunca teve tanta identidade como agora.
Nos meus 55 anos, posso dizer que quero viver. E esse querer viver significa manter o entusiasmo, a paixão, a intensa busca por aprender, o risco por inovar e manter o pioneirismo, mas tudo com muita serenidade. Já não tenho tanta pressa. O passado está na memória, o presente é tão ínfimo que é impossível vivê-lo. Portanto, onde estamos? No futuro.
No futuro, o que fazemos será parte do currículo. No futuro, os locais de trabalho levarão em conta o tempo biológico. No futuro, a definição de trabalho incluirá a produção e a manutenção da vida com qualidade.
Portanto, nosso Laboratório se localiza em uma existência na Ramiro; em outras, em uma rede onde não há fronteiras; mas principalmente, no futuro.
Alcançada a serenidade posso dizer o que Violeta Parra cantava En volver a los 17:
Volver a los diecisiete después de vivir un siglo Es como descifrar signos sin ser sabio competente, Volver a ser de repente tan frágil como un segundo Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios Eso es lo que siento yo en este instante fecundo…
Mi paso retrocedido cuando el de ustedes avanza El arco de las alianzas ha penetrado en mi nido Con todo su colorido se ha paseado por mis venas Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
ANEXOS
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena…
Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente Nos aleja dulcemente de rencores y violencias Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes…
De par en par la ventana se abrió como por encanto Entró el amor con su manto como una tibia mañana Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín Volando cual serafín al cielo le puso aretes Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.
E assim termino este memorial para recomeçar uma nova história…
Concepção Maria Paz Loayza Hidalgo, com colaboração de Wolnei Caumo, Claudio Maria da Silva Osorio, André Comiran Tonon, Luísa Klaus Pilz, Melissa A. B. de Oliveira, Nicoli Bertuol Xavier. Criação de imagens: Fernanda Bonatto, Guilherme Amando Documentação: Mara Santos Revisão e padronização técnica: Maria do Horto Motta e Clair Azevedo Projeto gráfico e editoração: Ronald Souza