Lunar / Fotografia na Bahia Agora

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L UNA R NO F E R R Ã O A exposição Lunar – Fotografia na Bahia Agora é resultado de uma frutífera parceria entre o Museu de Arte Moderna da Bahia, que dá continuidade a um importante trabalho de fomento a artistas contemporâneos, estendendo a atuação para além das suas dependências, e a Galeria Solar Ferrão, que se consolidou como um dos principais espaços de difusão de produções atuais no Centro Histórico. Lunar traz um panorama significativo da fotografia baiana atual, com 18 trabalhos de 11 fotógrafos que vêm se destacando com a utilização de diferentes técnicas e aproximações com a performance, o desenho, a gravura, as artes literárias e filosóficas. Suas obras apresentam um universo temático bastante diversificado, que inclui as relações entre arquitetura, tempo e espaço, geometrias urbanas, expressão pessoal, solidão, melancolia, fragilidade, vida íntima e movimentos sociais. Aqui, o público tem a oportunidade de conhecer trabalhos fotográficos destes artistas baianos, cujas imagens transcendem a realidade, mostrando que nem sempre o cotidiano é representado pelo óbvio. Ao ocuparem uma galeria situada no Pelourinho, seus olhares contemporâneos e deslocados de suas origens também oferecem uma interlocução e, ao mesmo tempo, um contraponto às imagens de aspectos culturais tradicionais da Bahia, tão abundantes nessa região da cidade. Ana Liberato Diretora de Museus do IPAC Fot ograf i a n a Bah ia Ag o ra

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A M ENS A GE M DA L UA A exposição Lunar – Fotografia na Bahia Agora, resultado de um projeto colaborativo entre a Diretoria de Museus (DIMUS), o Solar Ferrão e o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAMBA), volta-se para a resposta a uma determinada questão, que é na verdade o fantasma permanente que assombra a fotografia: qual é a mensagem da imagem fotográfica? E agora, além: o que emite uma nova geração de fotógrafos e artistas que pensam seus registros a partir da experiência e da perspectiva baiana? A mensagem fotográfica. Antes, um recuo histórico. Trata-se de técnica, de evolução da técnica, do domínio do instrumento e de todo o processo que envolve a imaginação, a mente e o corpo na produção de um sentido que se realiza, por fim, na criação a partir da captação do real – ou ao menos de uma ideia de um real possível. Mas, neste sistema, outros elementos se inserem, entre eles a cadeia de transmissão. A imagem fotográfica é a mensagem, e a exposição seu meio de transmissão.

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Lunar transmite. Aceita a autonomia estrutural do campo fotográfico, mas recusa sua limitação inicial. O que a exposição emana não é a documentação ou uma tentativa de aprisionamento do real. Isso porque em Lunar não há o real. O que existe são diferentes versões de uma realidade que se descola e se desloca para além do tempo presente, localizando um mundo, e uma Bahia, libertos da repetição incessante de suas próprias imagens. Breve, uma exploração: como é a terra vista da lua, pela primeira vez? Como é a Bahia vista do mundo, e de que modo esta imaginação local absorve e devolve este mesmo olhar? Qual a viagem, qual o percurso? Em Viagem à Lua (1865), ficção científica clássica, Julio Verne escreve: “Em certas cabeças bem dispostas, mas um tanto duras, custava a entrar, à primeira, que a Lua voltava invariavelmente a mesma face para a terra, durante a sua revolução (...) Mas a estes dizia-se: ‘Entrai na vossa casa de jantar, e dai uma volta completa à roda da mesa, olhando sempre para o centro d’ela; quando tiverdes completado o vosso passeio circular, tereis feito um giro perfeito sobre vós mesmos, visto como o vosso olhar há de ter percorrido sucessivamente todos os pontos da sala. Ora pois! A sala é o céu, a mesa é a Terra, e a Lua sois vós!’ ”. Assim é Lunar. MAM-BA

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O EXTR E M O P OS S Í V E L DOS O BJET OS Mas eu não sei, não mesmo, quem é o espectador. Essa questão poderá ser feita quando não tivermos mais o direito de supor que existe um espectador? (...) Não seria o espectador a própria máquina, de certa maneira? Nessa condição, quando se vai ao cinema, não se iria, por entre tantas coisas, pela consciência do reflexo? Não estaria essa questão justamente aqui, quando se leva em consideração a criação de um dispositivo complexo da qual o espectador faz parte?... (...) Eu não creio que toda essa vestimenta psicanalista possa produzir qualquer outra coisa que sua própria estranheza. O horizonte da análise se apoia, de todo jeito, sobre a ficção de um sujeito e na articulação de suas instâncias. Sua invenção também é uma anulação da distância do que constitui um homem experimental. (...) Parece a mim que toda a questão seria entender os novos processos e entendê-los a partir de seus excessos, em seu caráter extremo. É preciso então dar conta do extremo possível dos objetos. Não ver mais as imagens tombarem, uma após a outra, mas observar qualquer coisa nelas que se desmonta, que é uma estrutura adquirida antes, que foi antes possível, que foi antes dolorosa, e que está talvez ligada a nós – trata-se de produção de sentido e de linguagem. (...) Tudo isso impõe uma humanidade nova. Menos “ideal” do que estritamente impossível, e que começa a existir ou existe em um além absoluto, cotidiano, como um fantasma, em toda nossa vivência social. Trecho de “Images Mobiles” (Imagens Móveis, 1999), de Jean-Louis Schefer. 6

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E D EP OI S M OR R I TRANQUI L A M E NT E , D EN T R O DA NOI T E CA L M A Aos dezesseis anos matei meu professor de Lógica. Invocando a legítima defesa - e qual defesa seria mais legítima? - logrei ser absolvido por 5 votos contra 2, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris. Deixei crescer a barba em pensamento, comprei um par de óculos para míope, e passava as noites espiando o céu estrelado, um cigarro entre os dedos. Chamava-me então Adilson, mas logo mudei para Heitor, depois Ruy Barbo, depois finalmente Astrogildo, que é como me chamo ainda hoje, quando me chamo. A primeira mulher que possuí foi sob a ponte do Sena, em pleno coração do meu Paris imaginário; e ainda me lembro de que ela me sorria com uns dentes que refletiam as estrelas e as lâmpadas do cais adormecido, e dizia-me coisas numa língua que eu não conhecia. Paguei-lhe à vista, e subi eufórico em direção a uma rua de onde vinham sons de uma mandolinata inenarrável, e que se esvanecia à medida que eu me aproximava, e que acabou por desaparecer de todo. Sentei-me no chão, aturdido, acendi um cigarro e deixei que ele fumasse por si mesmo, e depois morri tranquilamente, dentro da noite calma.

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Quando despertei, já um gari me estendia o último jornal da tarde, e pude ler então que uma grande hecatombe havia acontecido sobre a cidade de Melbourne, na Austrália, justamente enquanto eu dormia. Lavei meu rosto com o pranto, entreguei o jornal a um menino cego e saí correndo pela primeira rua que encontrei pela frente, até deparar com a estátua do marechal Joffre montado a cavalo. No dia seguinte, como a guerra houvesse rebentado, apresentei-me a um general de divisão que encontrei espairecendo pelo Bois de Bolougne, e ele foi muito gentil para comigo, dando-me uma corneta e cinco mil francos para comprar um uniforme. Com a corneta toquei o Danúbio Azul, mas em surdina, e com os cinco mil francos fui a uma sessão de cinema (um filme de Clara Bow, se não me engano) e dei o resto a um mendigo que me pareceu mais honesto do que os outros - do que eu, pelo menos. À margem do Sena pus-me a pensar sobre as incertezas da vida e o absurdo da guerra recém-deflagrada entre o Japão e a China, até que o sono me jogasse de novo de encontro às pedras, as mãos espalmadas como as de um cadáver. Trecho do romance “A Lua vem da Ásia” (1956), de Campos de Carvalho (1916-1998).

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BIO G R A F I A DOS ARTIS TA S Alex Oliveira – Graduando em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, desde 2009 desenvolve representações imagéticas que envolvem relações entre corpo e arquitetura, lugar público e privado, vida íntima e performance, investigando possibilidades de utilização da fotografia em diferentes suportes e plataformas. Em agosto de 2011 realizou sua primeira exposição individual, intitulada Aurora Descoberta. Um ano depois participou dos Salões de Artes Visuais da Bahia 2012. Bianca Portugal – Graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia, ministra cursos e oficinas para instituições como o Museu de Arte Moderna da Bahia e Centro Cultural da Caixa. Trabalha principalmente com fotografia analógica, seus processos experimentais e históricos, investigando a relação entre fotógrafo-câmera-imagem captada. Fernanda Sanjuan – Formada pela Escola D´Art i Disseny Serra i Abella (Barcelona-Espanha). Dentre os seus projetos pessoais, destaca-se o 10

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trabalho com fotografia de espetáculo, as experimentações de criações de contrarrealidades com fotografias de objetos em miniatura e imagens abstratas, as fotorreportagens de caráter social com o Movimento Sem Terra, e os estudos fotográficos dos ângulos das geometrias urbanas em diversos países. Ivã Coelho – Graduado em Direito. Em 2009, produziu o livro-exposição itinerante África em Nós, com curadoria de Walter Firmo, e, em 2012, participou da XI Bienal do Recôncavo, em São Félix (BA). Alicerça seus trabalhos em questões diuturnas através de diálogos com as vertentes visuais contemporâneas e com as artes literárias e filosóficas. Karla Rubia – Graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia, em seus trabalhos questiona a sexualidade, alteridade e opressão feminina, criando diálogos entre fotografia e diferentes linguagens. Em 2011, foi premiada no Salão de Artes Visuais da Bahia. Lia Cunha – A artista desenvolve projetos de arte colaborativa, interferência ambiental e arte postal. Em sua pesquisa fotográfica, através da apropriação ou produção de ima-


gens, trabalha com diversos suportes (como vidro, espelho, cerâmica e papel, entre outros) na construção de objetos e instalações. Participou do Circuito das Artes - Jovens Fotógrafos Baianos, em 2009. Nos anos seguintes, integrou a X e XI Bienal do Recôncavo (2010/2012) e os Salões de Artes Visuais da Bahia, em 2011. Nicolas Soares – Mestrando em Artes Visuais pela Universidade Federal do Espírito Santo, pesquisa a abordagem do íntimo e os processos criativos na fotografia contemporânea. Trabalha com fotografia desde 2006 e participou de diversas exposições coletivas nas principais galerias de Salvador, assim como nos Salões de Artes Visuais da Bahia, e 15º Salão da Bahia. Patricia Almeida – Atua com fotografia desde 2007. Inicialmente, voltado para o registro arquitetônico, seu trabalho passou a explorar as relações entre tempo e espaço. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia, realizou parte dos seus estudos na Universidade do Porto, em Portugal. Desenvolve trabalhos com o coletivo Gruna. Em 2012, realizou a sua primeira exposição individual, intitulada Patrícia Almeida – Olhar em repouso. Fot ograf i a n a Bah ia Ag o ra

Rogério Ferrari – Trabalha como fotógrafo independente, desenvolvendo o projeto Existências-Resistências, que retrata a luta de alguns povos e movimentos sociais por autodeterminação. É autor dos livros: Ciganos, Sahraouís, Curdos - Uma Nação Esquecida, Palestina e A Eloquência do Sangue, além de ser co-autor da produção Zapatistas – A Velocidade do Sonho. Sabrina Pestana – Iniciou seus estudos em fotografia na Escola Panamericana de Artes. Em 2004, ingressou na Faculdade de Artes Plásticas da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), concluindo o curso de Bacharelado em Artes. Desde 2008, atua como assistente do fotógrafo e master printer Valdir Cruz. Em 2010, realizou sua primeira exposição individual, em homenagem a Mario Cravo Neto. Valéria Simões – Graduada em Artes Visuais, é fotógrafa profissional desde o início dos anos 1990. Participou de inúmeras exposições individuais, coletivas, salões e festivais no Brasil, além de França, Peru e Canadá. Assina a fotografia de cena de seis filmes. Atualmente, desenvolve ensaios autorais.

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Alex Oliveira S/ Título. Da série Ritos de Passagem. 2012 Fotografia digital Bianca Portugal S/ Título. 2012 Fotografia pinhole Fernanda Sanjuan S/ Título. Da série Ângulos Urbanos. 2010 Fotografia digital Ivã Coelho Nº I. Da série Em alguma parte alguma sede. 2010 Fotografia digital Nº X. Da série Em alguma parte alguma sede. 2010 Fotografia digital Karla Rubia S/ Título. Da série Submersos. 2011 Fotografia digital Lia Cunha 1091 (1968). 2012 Litogravura, chumbo Nicolas Soares Esta subversão infantil. 2010 Fotografia digital S/ Titulo. Da série Esta Aporia. 2012 Fotografia digital Patricia Almeida S/ Título. 2010 Fotografia digital Rogério Ferrari S/ Título. Da série Saara Ocidental / Saarauís. 2008 Fotografia analógica

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S/ Título. Da série Palestina / Palestinos. 2002 Fotografia analógica Sabrina Pestana Saltando o Impossível. 2011 Fotografia analógica Valéria Simões S/ Título. Da série Lugar de Ausência. 2008 Fotografia digital

ATIVIDA DE E DUCAT I VA Oficina de Pinhole A oficina proporciona uma experiência prática do uso da fotografia como meio artístico. Através da construção de uma câmera fotográfica artesanal, é possível entender seu funcionamento, e como se dá a sensibilização do olhar a partir da relação entre aquilo que se vê e o resultado. Quando: 9 a 11 de julho, das 14h às 17h Onde: Solar Ferrão, Rua Gregório de Mattos nº 45, Pelourinho. Inscrições: 71 3116-6740 Limite de 20 participantes Gratuito

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Governo do Estado da Bahia Jaques Wagner Secretaria de Cultura do Estado da Bahia Antônio Albino Canelas Rubim Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia Frederico Mendonça Diretoria de Museus Ana Liberato Museu de Arte Moderna da Bahia Marcelo Rezende Solar Ferrão Osvaldina Cezar Soares LUNAR – FOTOGRAFIA NA BAHIA AGORA Curadoria MAM-BA Artistas Alex Oliveira Bianca Portugal Fernanda Sanjuan Ivã Coelho Karla Rubia Lia Cunha Nicolas Soares Patricia Almeida Rogério Ferrari Sabrina Pestana Valéria Simões Apoio Museológico Janete Santos Jorma Souza Conservação Marcos Brito Josiceles Pereira (apoio) 14

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Produção Cristiano Cardoso (coordenação) Ketsia Figueiredo Maria Carolina Lima Acompanhamento de Produção Equipe MAM-BA: Carmen Palumbo Noemi Fonseca Montagem Agnaldo Sales Antônio Moreira Antônio Portela Joselito dos Santos Roberto Feitoza Acompanhamento de Montagem Equipe MAM-BA: Daiane Oliveira Lia Cunha Marina Alfaya Ação Educativa Ayana Campos Diogenísia d’Oliva Marcilene Almeida Marília Pereira Assessoria de Imprensa Lina Magalí Edição de Textos Equipe MAM-BA: Cátia Milena Albuquerque Thaís Seixas Assistente Designer Equipe MAM-BA: Luma Magalhães

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Projeto Gráfico Dinha Ferrero LUNAR Fotografia na Bahia Agora ABERTURA 17 de junho de 2013 (segunda-feira) às 18h VISITAÇÃO Solar Ferrão 18 de junho a 04 de Agosto de 2013 de terça a sexta das 12h às 18h sábado, domingo e feriado das 12h às 17h ENTRADA GRATUITA

Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra, 1957. 16

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Co-Produção

Realização

SOLAR FERRÃO Rua Gregório de Matos 45, Pelourinho / Salvador, Bahia. Tel. 71 3116 6743


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