REVISTA DE COMUNICAÇÃO VISUAL
ESPECIAL ARTE NO FEMININO joana vasconcelos TRANSFIGURAÇÃO DA ARTE
luísa ferreira | rita barros FOTOGRAFIA MULTIFACETADA
benedita feijó
DESIGNER | ILUSTRADORA EMERGENTE
PRIMAVERA | EDIÇÃO 06 € 9,95 | PRIMAVERA| 2010 | EDIÇÃO 06
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índice
exposição
08 Joana Vasconcelos - Transfiguração da Arte
passaporte
24 Rita Barros e Luísa Ferreira - Mulheres na Fotografia
portfólio
30 Benedita Feijó - O risco criativo 38 Liliana Lourenço – No mundo da ilustração infantil
artigo
56 Annie Leibovitz - A força na criação da imagem 60 Pictoralismo Português #3 66 IP Solutions: Propriedade Intelectual
novos talentos
68 Design - Diana Jung 76 Ilustração - Vera Costa 84 Fotografia - Telma Russo
tutorial
92 Photoshop - Perfeição Imperfeita, por Alberto Plácido
Capa – Marilyn, 2009 - Joana Vasconcelos “Há mulheres que fazem arte dentro do universo da feminilidade. As melhores são aquelas que conseguem, dentro desse universo, passar a outra dimensão”. Joana Vasconcelos Fotografia por DMF, Lisboa.
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editorial
Neste número estamos a honrar e celebrar o melhor amigo do homem; não… não são os nossos amigos caninos. Estou a referir-me, claro, à nossa cara metade… as mulheres. Continuando a missão da directarts de promover o talento nacional, dedicamos todas estas páginas a uma força criativa específica, as nossas mulheres artistas. Através da história as mulheres têm sido uma inspiração intemporal na arte, não apenas como musas mas também como protagonistas criativos. Caterina van Hemessen (1528-1587) era uma pintora renascentista flamenga com um corpo de trabalho considerável. Artemisia Gentileschi (1593-1656) era uma pintora barroca italiana, hoje considerada uma das mais conceituadas da geração influenciada por Caravaggio. Artemisia foi a primeira mulher pintora a tornar-se membro da Accademia di Arte del Disegno em Florença. Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun (1755-1842) uma pintora francesa, é reconhecida como a pintora mais famosa do século XVIII. Berthe Morisot (1841-1895) era membro do círculo de pintores parisienses que se tornaram conhecidos como Impressionistas. Dorothea Lange (1895-1965) foi uma influente fotógrafa documental e fotojornalista. Georgia O’Keeffe (1887-1986), uma artista americana com um papel central ao trazer o estilo artístico americano para a Europa quando a maioria seguia no sentido contrário. E a lista continua: Artemisia Gentileschi, Mary Cassatt, Diane Arbus, Frida Kahlo, Louise Bourgeois, Tracey Emin, Paula Rego, Judy Chicago, e claro, Annie Leibovitz, de quem Manuel Pessoa fala nesta edição. Assim, vamos dar as boas vindas a algumas das mulheres artistas influentes na comunidade portuguesa. Espero que goste do inspirador trabalho conceptual de Joana Vasconcelos, da visão fotográfica imaculada de Luísa Ferreira e Rita Barros, das divertidas ilustrações e design de Benedita Feijó, ou do ensaio documental de Marina Ramos, que mais uma vez colaborou com a directarts com a terceira e última parte da história do pictorialismo fotográfico em Portugal. Aqui têm a nossa “homenagem ao sexo forte”. Sim, forte. Afinal de contas elas são a fonte da vida; a consciência racional e pragmática quando os homens procuram conselhos ao final do dia. A nível profissional e doméstico elas demonstram a sua resistência como se de uma maratona se tratasse, e que nós homens apenas podemos observar à distância, com uma admiração despegada. Se pensarmos bem, tecnicamente as mulheres não precisam de nós homens, excepto talvez para aquele tiro no escuro no acto da procriação. Teoricamente as mulheres gostam de sexo, mas nós homens precisamos de sexo… logo aí estamos em desvantagem. Eu acho que as mulheres sabem instintivamente muito mais sobre a condição humana do que deixam transparecer. É por isso que vão à casa-de-banho em grupos, é o único local onde os homens não têm acesso e onde elas podem determinar o destino da nossa humanidade. Há um ritual mais sagrado nessa actividade do que em qualquer ritual de passagem Maçónico. E assim elas continuam a nutrir e inflamar os nossos egos masculinos quando nós pateticamente precisamos de exercitar os nossos músculos Neandertais, porque vocês mulheres sabem que nós não temos hipóteses contra toda a vossa poderosa irmandade. Dito isto, elas continuam a ser as nossas mães, irmãs, filhas, amantes, esposas, parceiras, melhores amigas e sim, nossas colegas na arte. Assim vamos celebrá-las, por estes motivos e muitos mais. Até à próxima…
CMAD – Centro de Media Arte e Design, LDA. Rua D. Luís I, Nº6 1200-151 Lisboa, Portugal Telefone: 213 942 548 - Ext.250 Direcção Editorial/Criativa Carlos Duarte carlos_duarte@directarts.com.pt Direcção Adjunta Editorial/Criativa Lia Ramos lia_ramos@directarts.com.pt Direcção de Arte Alexandre Santos santos.alexandre.design@gmail.com Redacção Catarina Vilar catarinav.directartspt@gmail.com Revisão de texto Helena Sanhudo helenasanhudo@gmail.com Direcção Publicidade Helena Rodrigues helena_rodrigues@directarts.com.pt Direcção Marketing & Comercial Raquel Vilhena raquel_vilhena@directarts.com.pt Circulação e Assinaturas assinaturas@directarts.com.pt www.directarts.com.pt info@directarts.com.pt anunciantes@directarts.com.pt
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Carlos Duarte
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POR NÓS, PARA NÓS É designer, fotógrafo, criativo de qualquer uma das áreas que encontra na DIRECTARTS? Então temos uma proposta a fazer. Que tal uma visita ao nosso fórum para deixar comentários , opiniões ou críticas ( nós aguentamos !). Está a dar os primeiros passos na profissão? Esperamos pelo portfólio. Somos uma revista que pretende
divulgar os trabalhos dos nossos leitores e talentos , os novos e os já estabelecidos .
Contacte-nos em: www.directarts.com.pt ou info@directarts.com.pt
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exposição Joana Vasconcelos
JOANA VASCONCELOS Transfiguração da Arte
Entrevista por Catarina Vilar/ Pesquisa por Lia Ramos
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Rodeia-se de objectos que a inspiram, pois gosta de absorver a realidade, transformando-a numa forma de expressão. Na sala que funciona como seu escritório no vasto atelier ribeirinho encontramos galos de Barcelos, nazarenas das sete saias, um poster da procissão de Nª Sr.ª da Agonia ou os típicos corações de Viana. Destaque especial tem um mapa-mundo, a preencher o espaço onde antes estava uma parede vazia. É aqui que Joana Vasconcelos desenha no seu fiel bloco de esquiços e conversa com a Directarts. Um pouco por todo o lado no seu espaço frente ao Tejo, a equipa multidisciplinar trabalha em novos projectos. Neste local de arte nascem obras que mais tarde dão os seus passos visíveis mundo fora. Foi no atelier que durante mais de um ano se preparou Sem Rede, a exposição antológica que o CCB acolhe desde Março de 2010, dezasseis anos depois de a artista lisboeta ter exposto o seu trabalho pela primeira vez. Como e onde levar a seguir esta mostra que reúne algumas das suas principais obras é o assunto que se estuda. Simultaneamente, novas ideias exploram-se e novas peças começam a tomar forma, porque a criação não deixa de fluir.
Agora que a exposição no CCB está inaugurada, fica a sensação
O CCB funciona como uma boa porta para o estrangeiro?
de missão cumprida?
Sim, e há poucos sítios em Portugal assim. Serralves e o CCB são óp-
É uma sensação um bocado ambígua, porque por um lado é uma missão
timas plataformas para exportarmos pelo menos algumas peças da ex-
cumprida pois há muitos anos que imaginava esta exposição e a queria
posição. É óptimo para poder mostrar que temos um corpo de trabalho,
fazer, mas agora estamos na fase em que a queremos levar a outros
que as coisas estão bem montadas, e é um voto de confiança do país e
locais. É preciso alguma distância para avaliar de que maneira esta ex-
de uma instituição que tem representatividade internacional.
posição tem importância para mim e para o atelier. A verdadeira repercussão não se sente logo, tem que se deixar passar algum tempo para
E internamente também traz visibilidade à obra.
ver o que daqui advém. Claro que é fantástico termos as peças todas
Mais do que visibilidade, que no fundo já eu tinha, o que faz é reorgani-
no sítio, restauradas, o catálogo pronto, tudo foi um trabalho incrível.
zar a ideia que as pessoas tinham de mim. Uns achavam que era aquela do croché, outros que era a das panelas, ou aquela que só faz coisas
Apesar de ainda estar ligada à exposição, já está a trabalhar nou-
sobre Portugal. Eu estava muito enfiada numa certa gaveta. Não tinham
tros projectos?
uma perspectiva mais alargada da obra nem do conjunto, e esta exposi-
Num certo sentido a exposição está fechada, por isso já estou a traba-
ção de alguma forma rectifica pontas soltas, pois as pessoas percebem
lhar noutras coisas. Já resultaram convites, mas agora é que começa no
que a minha obra não é só aquela peça que viram, mas sim um conjunto
fundo a acontecer a sua divulgação, e estamos mais perto da itinerância
que cria uma rede entre si. Assim preenchem-se os vazios que tinham
que gostava que ela tivesse.
em relação a mim, desconstrói e reconstrói outra identidade para mim. 01
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A partir de agora sinto que me vão passar a conhecer melhor e a ter uma
tura mais dinâmica e abrangente, outros não. Os miúdos atiram-se logo
noção mais real do meu trabalho.
para cima da peça, por exemplo. No Brasil há logo uma grande interacção, mas esse é um país em que os aspectos sensoriais, tácteis, são mais
Foi buscar para a exposição obras do início da sua carreira. Teve
evidenciados. Já em França é muito diferente.
a preocupação de mostrar como tudo começou? Podia ter ido buscar outras, mas foram os diálogos que se estabelece-
As reacções em relação às peças variam muito de acordo com a
ram entre as peças que foram importantes. As peças que estão ali têm
cultura onde estão inseridas.
pertinência no percurso da exposição. Os espanadores (Flores do Meu
Isso quer dizer que as peças são suficientemente abertas para comuni-
Desejo) criam por exemplo uma ligação com o sapato (Cinderela); já
car com culturas diferentes. Se tivermos um discurso muito fechado, só
o Sofá Aspirina e a Cama Valium só foram mostrados uma vez juntos,
do nosso país e cultura, é tudo mais limitado. O facto de as peças terem
e fazem sentido.
capacidade de comunicar com outras culturas, de viajarem e terem um discurso mais internacional permite que tenha mais públicos e mais
As suas peças exigem a interacção do espectador?
críticas. Enriquecemos o nosso património cultural quando o confron-
As minhas peças precisam muitas vezes do espectador. Se não se subir
tamos com outro. Se em Istambul vêem A Noiva e ninguém sabe o que
para cima dos secadores de cabelo (Spin) a peça não tem conclusão, ou
é um tampão, em França todos acham muito chic o lustre, que identifi-
se não se andar no carrossel (Ponto de Encontro) não se percebe que é
cam com Versalhes. Se uns identificam só com o tampão em si, outros
difícil… Há uma série de coisas que tem a ver com o passar pela peça.
só pensam em lustres. É isso que é extraordinário.
Se não andarmos por cima da Contaminação só a contemplamos, daí a interacção ser um dos pontos importantes da minha obra.
Nas suas obras o espectador precisa de entender necessariamente o significado com que foram feitas?
Sente que ainda há algum pudor na interacção com as peças, há
Não, nada disso. Uma vez uma senhora em Espanha dizia que os co-
quem não se sinta à vontade para as tocar?
rações (Coração Independente) são a dilaceração, sangue, a carne, o
Depende muito dos sítios, dos países, das pessoas… Uns têm uma cul-
esventrar, e depois disse-me que era mulher de um cirurgião plástico!
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Identificava-os apenas com operações, quando no fundo estão relacio-
recente, não tem nem cem anos. Na verdade, a tradição artística é a arte
nados com o fado! É fantástico como as pessoas podem encontrar sig-
no masculino. Mesmo Espanha, que sempre teve grandes artistas que se
nificados diferentes daqueles que eu criei para a obra. O que é difícil é
inscreveram na história da arte mundial, desde Goya, a Velásquez ou a
ter uma obra com um discurso suficientemente aberto para se conseguir
Picasso, mas são sempre homens. São séculos e séculos de homens nas
encontrar essas outras interpretações. O facto de as pessoas reinventa-
artes, daí ainda ser estranho falar de arte no feminino.
rem significados para a obra é que é incrível. Há a tendência para generalizar e encaixar as artistas todas na Faz sentido falar numa abordagem feminina na arte?
mesma categoria da arte no feminino?
A arte no feminino é uma grande discussão. Há quem diga que as
Na verdade há pessoas que sentem a necessidade de evidenciar a arte
mulheres artistas estão sempre a bordar, que fazem coisas de mulhe-
no feminino, é uma questão de afirmação. As tecnologias, os saberes,
res, e isso existe. Há mulheres que fazem arte dentro do universo da
os gostos, a maneira de olhar são diferentes no feminino. Há muitas
feminilidade. As melhores são aquelas que conseguem, dentro desse
artistas que salientam isso, e porque não? É como com os homens: para
universo, passar a outra dimensão. Claramente que a Paula Rego não
uns isso é um ponto de partida e para outros não. Felizmente chegámos
é homem, mas isso não quer dizer que a obra dela tenha essa tónica.
a um ponto em que as pessoas podem fazer como quiserem.
Mas o Richard Serra não podia ser mulher, e não se fala de arte no masculino. Tudo isto porque, na verdade, as mulheres artistas ainda são
A Joana foi buscar algumas artesãs para a ajudarem no seu tra-
em minoria em relação aos homens. Basta pensar em quantas artistas
balho, nomeadamente para fazer as rendas. É importante man-
estão expostas no Louvre, ou no MoMA. Se formos a ver, 95% são ho-
ter algumas tradições que se estão a perder?
mens. A quantidade de mulheres artistas ainda é muito menor, porque
Hoje em dia as mulheres pertencem menos à vida doméstica e estão
a mulher tinha uma condição social e humana que não lhes permitia
mais ligadas à sociedade, o que faz com que uma série de tecnologias,
expressarem-se através das artes. O facto de sermos mulheres artistas
às quais estavam confinadas e que eram a sua única forma de expressão,
ainda é uma novidade, agora já muito menor, mas a arte no feminino é
tenham caído em desuso. Em relação a isso não há volta a dar, mas tam-
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exposição Joana Vasconcelos
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bém há mulheres que decidiram que essas tecnologias são uma forma
depressa que eu. Hoje em dia já não faz sentido sermos o artista que
de expressão, continuando a fazê-las por escolha, não por imposição da
pega num bloco de pedra e estarmos a vida inteira a trabalhá-la, che-
sociedade. Antigamente não havia escolha, eram impostos os lavoures,
gando depois o dia em que fazemos algo muito bem, pois estivemos a
agora já é uma escolha. Eu dou valor a isso e encontro algumas pessoas
vida toda a desenvolver apenas uma técnica segundo um material. Na
que sentem o mesmo, por isso o que faço é ir à procura de algumas mu-
rapidez dos nossos dias não faz sentido nenhum ficarmos apenas pre-
lheres que escolheram, com toda a liberdade, continuar estes saberes.
sos a uma técnica e a um material. Já ninguém usa os mesmos sapatos
Claro que se não houver pessoas que o façam acabam por desaparecer,
durante cinco anos, nem temos o mesmo móvel de sala de jantar a vida
e isso acontece quando as coisas deixam de fazer sentido. Não sou a
toda… Hoje em dia o que faz sentido é sermos mais versáteis, mais
defensora dos lavoures ou do artesanato, porque cada coisa dura aquilo
rápidos, trabalhar bem a ideia e ir buscar quem faça bem determinada
que tiver de durar. Claro que se poderia estudar mais o nosso patrimó-
técnica. Se fosse fazer todos os crochés não fazia mais nada. A mim já
nio, documentá-lo, isso é fundamental. Temos pouca tradição de dar
não é a técnica em si que interessa.
valor ao nosso património, seja ele os bordados ou a obra de Bordalo Pinheiro.
E que ideias pretende explorar a seguir? Trabalho muito à volta da ideia do consumo, nas suas diferentes ver-
Actualmente tem de delegar algumas tarefas na execução das
tentes e aspectos, e uma das ideias que ando a tentar desenvolver e em
suas obras, como funciona esse processo?
que vou agora pegar relaciona-se com o consumo gastronómico, de que
Eu não abro mão de nada, nem delego coisa nenhuma, não posso é ser
forma nós consumimos a comida, a questão dos produtos biológicos…
eu a fazer as horas todas de croché que às vezes é necessário. Não quer
No fundo qual é a qualidade da comida: a aparência? De que forma con-
dizer que não diga como se faz e que as pessoas não façam como eu
sumimos pelo olhar e não pela realidade. Já explorei o consumismo em
quero. Uma coisa é a ideia da manualidade, de que a mão e o toque do
relação à roupa, aos medicamentos, e agora será em torno da comida.
artista é que vale, outra é pensar que o que vale são as ideias, sendo que o artista se mantém também aqui ligado ao processo de execução.
E que próximos passos quer dar na carreira?
Há coisas em que penso que os meus assistentes fazem melhor e mais
Uma das ideias é tentar levar partes desta exposição a outros países.
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“Serralves e o CCB são óptimas plataformas para exportarmos pelo menos algumas peças da exposição. É óptimo para poder mostrar que temos um corpo de trabalho.” 15
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exposição Joana Vasconcelos Depois de um esforço de mais de um ano para produzir esta exposição,
Já lhe foi dada a oportunidade de colocar as suas obras em al-
não a exportar é quase absurdo. É isso que andamos agora a discutir. Já
guns monumentos. Sente que os está a vestir, adornar, reinter-
estão alguns contactos feitos, mas agora temos de estudar tudo.
pretar à sua forma? Fiz projectos muito diferentes. O que interessa é criar um objecto que
Ter uma antológica no CCB aos 38 anos aumenta a fasquia?
faça sentido para aquele local. A Ponte D. Luiz é um monumento do
É tudo um bocado relativo, porque as pessoas estabelecem umas bi-
Porto com uma forte presença sobre o rio Douro e no fundo aquela
tolas: os primeiros dez anos, a idade… Nem podemos falar da idade,
toalha está ali como se a procissão fosse passar. É preciso interpretar as
porque Bach aos 9 anos a compor dá cabo de todos nós! Todas essas
características de cada local, mas nem penso nisso como um conjunto.
tentativas de explicar o fenómeno são ridículas, porque ou trabalhamos ou não. Eu criei um bom corpo de trabalho. Realizo obra desde
Onde gostava de expor a sua obra, tem algum local de referên-
os tempos em que andei no Ar.co. Chegou o momento em que já tenho
cia?
tantas peças com qualidade que se justifica fazer uma exposição como
Onde quer que as pessoas dêem valor ao meu trabalho. Se isso aconte-
esta. Não é a quantidade, é a qualidade. Ao ter um corpo de trabalho
cer em Loulé, então é lá que gostaria de mostar o que faço. Claro que
com qualidade para estar num museu, devo fazê-lo. Há artistas que só
se vir a minha obra num museu carismático do mundo fico orgulhosa,
fazem uma peça por ano e não é por isso que são melhores ou piores.
mas esse não é um objectivo. Só quero estar onde me queiram, porque
A quantidade ou a idade não servem para qualquer tipo de aferição, em
isso significa que é onde dão valor ao meu trabalho.
nada tem a ver com a qualidade da obra. Joana Vasconcelos – www.joanavasconcelos.com
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“Se em Istambul vêem A Noiva e ninguém sabe o que é um tampão, em França todos acham muito chic o lustre, que identificam com Versalhes.” 17
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entrevista Joana Vasconcelos
10 01) WashAndGo,1998. 02) Contaminação, 2008. 03) Jardim do Éden, 2009. 04) Victoria, 2008. 05) Marilyn, 2009. 06) Cama Valium, 1998. 07) Sofá Aspirina, 1998. 08 - 09) A Noiva, 2001. 10) A Jóia do Tejo, 2008. 11) Varina, 2008. 12) Sr. Vinho, 2010. 13) Coração Independente, 2004/2006.
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entrevista Joana Vasconcelos
Sem Rede
Spin, 2001
Um grupo de adolescentes rodeia a peça Néctar, que desde 2006 está
cados e comentados a cada passo que dão. Duas raparigas divertem-se a
à porta do Centro de Exposições do CCB. O objectivo é serem foto-
apontar para pentes e alguns dos tecidos mais coloridos que não acham
grafados por uma colega que tenta, com pouco êxito, instalar alguma
“nada discretos”. Indiferentes à presença ruidosa do entusiasmado gru-
ordem no retrato. Daqui, passam por baixo da Donzela, a toalha em
po, um grupo de três amigas que há muito deixaram a adolescência ob-
croché que adorna a passagem para o Jardim das Oliveiras, e param em
serva a arte do croché. Comentam a desconstrução dos lavoures e a ex-
frente ao Sr. Vinho, a obra em ferro forjado que agora tem vista para o
plosão de cor que Joana Vasconcelos conseguiu com este polvo em que
Padrão dos Descobrimentos e o Museu de Arte Popular (ou o que resta
apetece tocar. “Esta parte parece um bebé a nascer, olha as mãozinhas”,
dele). E as fotos em frente ao enorme garrafão não se fazem esperar. É
diz uma. “Não… é um elefante”, remata outra. A terceira abstém-se de
assim que estes estudantes de Setúbal terminam a sua visita à exposição
interpretações mais subjectivas, mas não se remete ao silêncio: “Tenho
Sem Rede. Mas as obras de Joana Vasconcelos prosseguem dentro de
uma gaveta cheia destes naperons em casa!”
portas, e a negra Victoria, que paira junto às bilheteiras, é observada atentamente por espectadores de 3 e 4 anos. “É um monstro!”, grita um
Fui às Compras é um vídeo que nos mostra o percurso que a artista faz
pequeno e determinado apreciador.
dentro de uma Piaggio APE50. Aqui a emoção é partilhada. “Deve ir para Loures”, “Não vai nada, olha o aeroporto”, discutem duas irmãs. “Será
Antes de descerem os degraus que levam às restantes obras, um casal
que não teve medo de conduzir em Lisboa ali dentro?”, interroga-se uma
admira A Noiva, mas é a Plastic Party, onde os tupperwares dominam
senhora que há pouco comentava Contaminação com as amigas. Cada
e não os tampões que lhes prende a atenção e trocam impressões sobre
curva de Joana Vasconcelos é comentada por algum dos espectado-
o propósito da artista. O raciocínio é constantemente interrompido pela
res, que transformam a experiência numa espécie de GPS participado.
presença de um grupo de estudantes do 11º ano que se deixa conquistar
Quando se apercebem que do outro lado da parede está a mesma moto-
pela Contaminação. Os tentáculos de croché e tecidos coloridos são to-
reta, desta vez com figuras brilhantes de Nª Sr.ª de Fátima na traseira,
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Passerelle, 2005
na peça www.fatimashop, há quem não resista a um comentário: “Está
de imediato para carregar no pedal transformado em carrasco. “Não
um bocado sinistro…”
dá para ser mais rápido?”, pergunta um mais afoito. “Coitadinha da Lassie”, lastima uma colega.
Sofia tem 4 anos e fica fascinada com o seu multi-reflexo ao entrar na guarita de Spot Me. Os farolins brilhantes e a música de Frank Sinatra
Na sala seguinte, Cinderela – da colecção do recente Tróia Design
que ecoa pela sala vinda da obra Strangers in the Night não distraem
Hotel – enche o espaço. Quem a rodeia parece estar familiarizado com
a sua atenção. Algo de mágico está naquele espaço apertado, e só a
a obra, e ouvem-se comentários ao facto de Marilyn, desta feita um par
voz da mãe a distrai do encantamento. E não são crianças da idade de
de sapatos feito de panelas e tampas, ter sido vendida em leilão por
Sofia, mas outras já na dita pré-adolescência que invadem as cadei-
mais do triplo da sua estimativa, ultrapassando o meio milhão de euros.
ras de Ponto de Encontro. “Ajuda Ana, isto é difícil”, pede uma delas
Depois do susto que a Burka – que associa o pano muçulmano às sete
enquanto tenta rodar este divertimento imprevisto. Mais um grupo de
saias das nazarenas – provoca em duas senhoras ao cair abruptamente
crianças explora a exposição, destacando-se pelo bom comportamento
do alto da estrutura, a sala negra onde os Corações Independentes es-
e andando dois a dois em fila indiana. Mas ao chegar perto de Spin, a
tão expostos ajuda a relaxar. Aqui troca-se a filigrana pelos talheres de
peça onde os secadores de cabelo se ligam com a aproximação, as re-
plástico, mas o material menos nobre não merece menor atenção que
gras tantas vezes enumeradas pela professora desaparecem. Por serem
o ouro por parte de quem os circunda e aprecia. Afinal de contas, o
demasiado pequenos, não conseguem fazer accionar o mecanismo que
exemplar dourado – encomenda para o restaurante Eleven, em Lisboa
lhes porá os cabelos ao vento, por isso esticam-se, põem-se em bicos
– foi leiloado em 2009 na Christie’s, com um valor final que dobrou a
de pés, até que um deles descobre a solução: “Professora, pode pegar-
base da licitação.
-me ao colo?” O breu instala-se e somos guiados apenas pelas pequenas luzes de Uma turma de estudantes de design tem direito a visita guiada, e senta-
Jardim do Éden, um labirinto hipnótico onde não são os cheiros que
-se em volta de uma das peças mais provocatórias e inquietantes na
nos inebriam. “Não me largues a mão!”, ordena alguém na quase total
mostra. Em Passerelle os cães em faiança estão presos por coleiras pelo
escuridão. É que nunca se sabe onde um misterioso labirinto nos pode
pescoço a um mecanismo que, uma vez accionado através de um pedal,
levar.
os faz avançar, chocar e partir. A uns incomoda, outros oferecem-se
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passaporte Fotografia
Rita Barros e Luísa Ferreira Mulheres na fotografia Entrevistas por DirectArts
O Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, acolheu em 2009 a exposição Au Féminin / Women Photographing Women, comissariada por Jorge Calado, com obras de mais de cem mulheres fotógrafas dos séculos XIX, XX e XXI. Entre nomes como Cindy Sherman, Francesca Woodman ou Diane Arbus encontravam-se obras das portuguesas Maria Lamas (na primeira vez que o seu trabalho sobre a condição da mulher portuguesa no final dos anos 40 foi exposto), Luísa Ferreira, Brígida Mendes, Helena Almeida, Rita Barros e Ana Telhado. Cada uma, à sua maneira, influenciou a linguagem da fotografia, e foi para destacar a importância das suas visões que Au Féminin surgiu, tornando-se a primeira grande exposição totalmente dedicada ao feminino, pois quer o sujeito quer o objecto das fotografias é a mulher.
Eram 140 obras que iam de 1850 a 2009, oriundas dos cinco conti-
deveria ser no campo das mulheres na arte. “Há uns anos fiz para um
nentes, com diferentes géneros fotográficos, para se escrever com ima-
trabalho de licenciatura uma pesquisa e em Portugal (do início do
gens uma história da fotografia com um foco especial na feminilidade.
século XX) algumas mulheres eram donas de estúdios de fotografia
As idades da mulher, Algumas mulheres, Maternidade, Em casa, No
mas mantinham o nome do marido ou pai porque a elas não davam
exterior, Trabalho e lazer, Moda e shopping, Estrelas e deusas, Ficções
crédito. Mas as coisas têm evoluído, felizmente.” Na exposição da
e metáforas e Natureza formavam as diferentes secções da exposição.
Gulbenkian em Paris (que infelizmente não chegará a Portugal) a fotó-
A citação escolhida por Jorge Calado para introduzir a mostra é da
grafa surpreendeu-se: “A própria Maria Lamas tem um bom trabalho e
fotógrafa americana Imogen Cunningham, que diz: “A fotografia não
poucos sabem quem ela é. Até eu, quando fui à abertura da exposição
tem sexo.” Sem política ou guerra de sexos à mistura, o curador quis
a Paris, descobri fotógrafas de quem nunca ouvi falar, e há trabalhos
apenas contribuir para o “equilíbrio de géneros, numa arte geralmente
muito interessantes.”
limitada ao masculino”. Em todo o debate em torno da luta de sexos na arte, restam incertezas:
Rita Barros
“Há uma condição feminina, com tudo o que isso implica, e há fotografias muito masculinas, mas isso não quer dizer que não haja mulheres
Sentada na Galeria Pente 10, em Lisboa, onde até Abril mostrou o seu
que as podem fazer. É difícil distinguir entre feminino e masculino na
trabalho intitulado 3X3, Rita Barros recorda como foi participar num
fotografia, pois há toda uma camada de diferentes tonalidades de cin-
marco importante com duas obras suas. E esta é uma história em que
zento.” E acrescenta: “Curiosamente, a moda é feita mais por fotó-
a surpresa domina. “Foi o professor Jorge Calado que fez a selecção
grafos masculinos, e de facto funciona, mas isso não é uma regra.”
das fotografias, de dois trabalhos meus. É uma recolha monumental da parte dele fazer um apanhado daquilo que as mulheres trouxeram à
Se houve algo sempre presente e no qual aposta continuamente nos
fotografia”, reconhece, tendo a noção de que nem tudo é ainda como
seus trabalhos são as narrativas. “Sempre funcionei em termos de nar-
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passaporte Fotografia
“Para mim ser o objecto da minha fotografia é algo muito natural” Rita Barros
rativa, seja ela óbvia ou não, mas há sempre um fio condutor no que
imagem e já ninguém quer saber, mas foi engraçada toda esta atenção.
faço.” Isso está bem patente nas duas imagens de Rita Barros que foram
São momentos especiais. Estou sempre a trabalhar, mas há coisas que
escolhidas para a mostra Au Féminin. A primeira, em que se vê um
as pessoas não vêem, outras que recordam sempre e outras a que não
vulto feminino quase indefinido, saiu de uma série que fez para o Porto
ligam. Isto foi um incentivo para continuar, porque se guardarmos as
Capital da Cultura 2001. E segue-se a sua narrativa. “Curiosamente, o
imagens em caixas lá em casa não há dinâmica.” Mais do que tudo
apartamento onde vivo em Nova Iorque foi onde o filme 2001: Uma
gosta de mostrar a carga emocional de cada momento, de cada local, de
Odisseia no Espaço foi escrito, primeiro como guião de filme e só
cada objecto, que só depois de vivenciado adquire, na perspectiva da
mais tarde como livro. Peguei nessa inspiração e fiz uma série de 9
fotógrafa, a dimensão que tanto lhe interessa registar.
livros, cada um contando uma história dentro do apartamento, numa espécie de homenagem a este espaço. Essa fotografia faz parte de um
Como fotógrafa, habituou-se a fazer testes de luz, de máquinas, e
desses livros que contavam narrativas pessoais, com base na explo-
tornou-se habitual fazê-los em si. “Para mim ser o objecto da minha
ração de um tema. Os primeiros livros eram todos com fotografia ana-
fotografia é algo muito natural e para estas séries, como era algo que
lógica e os últimos já eram uma mistura do analógico com o digital.
estava a testar, preferi fazer sobre mim própria, porque estava habi-
Acompanhando assim a minha aventura com as novas tecnologias.”
tuada, sei exactamente aquilo que quero… funciona melhor assim.” É
Com esta aura de exploração do espaço, seja ele sideral ou de um apar-
portanto natural que seja ela o objecto e o sujeito destas duas imagens.
tamento, a imagem tomou forma e foi escolhida para ajudar a desenhar
Amante confessa das narrativas, saliente-se que há um fio condutor
a história da fotografia no feminino.
entre a imagem do último cigarro e a sua próxima exposição em Portugal. Foi uma união criada pelo destino, o acaso, tanto faz, mas que
A imagem de Rita Barros a fumar um cigarro tomou vida própria
está unida, não restam dúvidas. “Há sempre um cruzamento em tudo.
depois de estar exposta em Paris. De repente apareceu em revistas
A exposição já estava agendada há um ano e meio, antes de toda esta
especializadas, jornais, e tornou-se um exemplo retirado das 140 ima-
projecção, e é a versão integral do livro O Último Cigarro. Mostra todo
gens do colectivo para ilustrar o acontecimento. “Não sei o porquê
o lado do exorcismo, do ritual de fumar o último cigarro e apreciá-lo
disso ter acontecido, mas às vezes as coisas aparecem num momento
como algo irrepetível. Naquela altura deixei de fumar durante um ano
em que fazem sentido a muita gente. A imagem transmite o problema
e meio… mas depois pronto… a vida continua! Mas as pessoas vinham
de se fumar, e muita gente fuma, não é algo de nicho. Sofre-se com a
ter comigo para perguntar se eu tinha parado mesmo, o que mostra que
dinâmica de deixar de fumar, de levar com o fumo dos outros… Esta
este é um assunto que toca muita gente.” E é esta série que vai estar
imagem é de uma série que reflecte uma tentativa de deixar de fumar, e
patente a partir de dia 4 de Junho na Ermida (do século XVII) de Nª
é uma linguagem que abrange muitas pessoas. Além disso tem um lado
Sr.ª da Conceição, em Belém. Uma oportunidade de vermos não só um
com sentido de humor”, adianta a fotógrafa portuguesa radicada em
momento, mas todo o processo por que Rita Barros passou com o seu
Nova Iorque há três décadas. “Se calhar daqui a um ano olha-se para a
(ainda que temporariamente) último cigarro.
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Luísa Ferreira “Mostrei algumas imagens ao Jorge Calado, em áreas a que me sinto
vai desde o início da fotografia até aos nossos dias, passa pelas várias
agora mais ligada. Há muitos anos que já não trabalho em fotojor-
fases”, considera.
nalismo, mas mesmo quando o fiz, sempre estive ligada à fotografia mais autoral. Sempre tentei trabalhar nas duas áreas em paralelo,
Ambas as fotografias que Luísa Ferreira teve em Paris fazem parte de
contar as minhas ideias e a percepção que vou tendo do mundo. Em
projectos que pretende expor em breve. Uma delas é da série Vermelho,
alguns momentos do trabalho estes registos podem tocar-se, mas é
tirada na discoteca Lux na passagem de ano de 2008. “É essencialmente
raro”, recorda agora no seu atelier em Lisboa. Foi desta forma que
braços e uma pulseira grande, com brilhantes; sente-se que há um cui-
Luísa Ferreira acabou por ver duas das suas imagens na exposição Au
dado com a moda, com o que se usa. Trabalho para o Manuel Reis há
Féminin. Considera desde logo que em nada esta iniciativa quis preterir
muitos anos, ainda nos tempos do Frágil, princípio dos anos 90. Claro
os homens, faz sim sentido na óptica de uma homenagem do seu comis-
que é uma encomenda, mas ao mesmo tempo sempre o encarei como
sário a uma mulher, Maria do Carmo Vasconcellos, Coordenadora dos
um trabalho pessoal. Tenho todo o gosto de o fazer para a pessoa que
Projectos Culturais do Centro, que agora se retira das funções. Um pre-
é, porque tem trazido muitas coisas interessantes a Lisboa, mostrando
sente de despedida pleno de significado.
outra forma de estar na cidade.” E a fotógrafa garante: “Não gostaria de fazer outras festas, nem me imagino a fazê-lo, não me interessa. Aqui
No dia em que se abria as portas em Paris, a fotógrafa não pôde lá
consigo ir mais fundo dentro da questão da moda, é um registo de como
estar, visto ser a véspera de uma exposição sua em Portugal, a Aurora
cada um a usa.”
dos Caminhos. Sendo assim, foi lá mais tarde, e ficou encantada com o que viu. “Para mim é muito bom estar incluída nesta história de foto-
Está por trás da câmara em vários acontecimentos no Lux e Frágil e
grafia de mulheres. Todas as exposições que o Jorge faz de certa forma
guarda registos documentais preciosos. “Nos anos 80 assisti a grupos
contam uma parte da história da fotografia. Esta é muito forte porque
de pessoas que tinham um culto da noite e a moda era muito influen-
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“Há muitos anos que já não trabalho em fotojornalismo, mas mesmo quando o fiz, sempre estive ligada à fotografia mais autoral.” Luísa Ferreira
ciada por revistas que chegavam de fora. As coisas aqui começavam a
de alguma forma não me era apenas suficiente fotografar o sítio só por
abrir, a ser menos cinzentas do ponto de vista do corte de cabelo, da
si. Quis interagir com o local, daí a necessidade de ter um participante.”
roupa que se usava e até de assumirem a sua sexualidade. Foi uma fase
Dentro do projecto regista ainda algumas situações de objectos dei-
de viragem e as coisas têm evoluído. Pessoalmente não vivo muito o
xados na paisagem ou construídos lá, como tanques de água ou cabanas
mundo da moda, mas gosto de observar e de ver o que se usa.” É por
de observação, terraplanagens, intervencionadas pelo homem.
isso que achou que esta seria uma imagem com direito a espaço próprio
Esta não foi a primeira vez que fotografou pessoas com intervenção
numa exposição de e sobre o feminino. “Diz muito sobre a mulher, que
na paisagem, já o tinha feito no final dos anos 80, mas na cidade de
ao longo da história tem usado muitos objectos bonitos, grandes. É uma
Lisboa, em locais que considerava importantes. “A partir do momento
marca, um elemento muito feminino.”
em que pomos alguém no local, ele passa a ter outro significado. Já não é um sítio qualquer, passa a ter um signo, uma traça.”
Uma outra perspectiva e visão são exploradas na segunda fotografia que teve na mostra Au Féminin. Interessa-se bastante pelo urbanismo,
Na série Nós fotografa em formato panorâmico, com planos muito
mas gosta de vivenciar outros locais, por isso andou pela Serra da
abertos. “Nesta fotografia que esteve em Paris a pessoa está lá mas não
Lousã e do Açor, no distrito de Coimbra, e explorou-as durante muitos
é o primeiro plano, está apenas dentro da floresta. Tudo passa por tea-
anos sem nunca as fotografar, apenas para tentar perceber a sua riqueza
tralizar a paisagem. Umas vezes o elemento humano dissolve-se nela,
e tranquilidade. Depois começou a sentir necessidade de trabalhar
noutras há um diálogo, ou até pode estar quase a atacá-la.”
sobre estes locais com uma atitude interventiva; começou assim em 2006 o projecto pessoal Nós, e é um dos seus registos que foi para Paris. “É uma intervenção na paisagem normalmente com pessoas a quem tenho alguma ligação próxima, como a família. Comecei a fotografar em locais mais naturais porque viajo bastante naquelas serras e
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Rita Barros – www.ritabarros.com Luísa Ferreira – www.luisaferreira.com
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portfólio Design / Ilustração
Benedita Feijó O risco criativo Entrevista por Catarina Vilar/ Pesquisa por Lia Ramos
Nike, Compal ou Absolut Vodka são alguns dos clientes da InteractCreative, uma agência que nasceu no Porto pelas mãos de Benedita Feijó e Michael Andersen, dois jovens determinados que sabiam que podiam deixar o seu cunho criativo na publicidade que hoje se faz. São ambos designers, ele industrial, ela gráfica. Agora aliam as suas qualidades e pretendem marcar a diferença. Juntam o design web e gráfico ao som e ao vídeo, apostando numa agência onde a multidisciplinaridade reina. Tudo no percurso de Benedita Feijó tem tido uma veia de risco, experimentação, de estar um passo à frente, sem receio de ser ousada. Dez anos depois é um nome que já tem lugar de destaque entre os talentos criativos nacionais.
Sei que estudou design gráfico e viveu em Londres. Como foram
De regresso ao Porto, como foi o trabalho freelance?
esses tempos?
Ao princípio muito mau, muito complicado, mas insisti e enviei o meu
Maravilhosos, a aprender cada dia que passava, a aproveitar, a ver,
trabalho para tantos sítios que eventualmente comecei a ter respostas e
a estudar, a viver o mais possível, só de falar dá-me uma saudade
feedback positivo.
imensa, apesar de não querer voltar. Criou então uma marca de acessórios. Gosta de explorar vários Essa foi a primeira grande aposta no mundo do design?
interesses?
O curso em si sim, foi a minha primeira aposta no mundo do design.
Sem dúvida alguma. A b_nice packs foi um projecto a meias com a
Fiz design gráfico e hoje em dia é o que menos faço, apesar de gostar
minha prima Maria e foi um challenge para as duas e para o começo de
bastante, mas prefiro abraçar também outras áreas e a dedicação
uma vida profissional. Na altura deu-nos imenso gozo, fomos copiadas,
exclusiva ao design gráfico, sabe-me a pouco...
e recopiadas, roubadas... ainda hoje vejo as malas por todo o lado e dá-me vontade de rir. Mas sim, adoro explorar vários interesses e áreas, nunca é tarde para começar algo.
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portfólio Design / Ilustração E abriu uma galeria de fotografia no Porto. Foi um risco?
Até criarem a InteractCreative experimentou e trabalhou em vá-
Foi. Não havia nenhuma. A Common Gallery foi a primeira galeria que
rias áreas. Isso ajudou a definir o que gostaria de fazer no futuro?
só expunha fotografia. Na altura ninguém em Portugal queria saber de
Ajudou a enriquecer a experiência em diversas áreas e estar mais à
fotografia, era uma área menosprezada, estupidamente... e a ideia da
vontade em cada uma delas.
galeria era expor boas imagens, fortes, bonitas, únicas, diferentes, de acesso a qualquer um, para o que percebe ou que pura e simplesmente gosta! Daí o nome, Commom... Adorei a experiência enquanto durou, foi interessante o papel de curadora, de seleccionar os fotógrafos, de ver os portfólios... gostei imenso. E é a responsável, com o Michael Andersen, pela campanha do oitavo e novo sabor Absolut Vodka: Ruby Red. Como foi esse
Apostaram nesta agência em 2006 e desde então já receberam prémios, têm cada vez mais clientes e reconhecimento. Qual é o factor que vos torna distintivos? É sermos diferentes e não fazer mais do mesmo. Inovar. É uma agência de new media que pretende criar propostas inovadoras. Ainda há espaço para inventar, criar algo novo? Há sempre espaço para algo novo, todos os dias surge algo novo.
processo? Foi maravilhoso, desde que começámos até que acabámos o processo. Tudo correu às mil maravilhas, de um profissionalismo nunca visto,
Como é trabalhar em dupla com o Michael, que é designer indus-
excelente. O processo foi simples, depois de escolhidos como os
trial?
criadores da imagem do oitavo sabor da Absolut tudo se desenrolou
É óptimo. O que eu não tenho ele tem e vice-versa, o conjunto
naturalmente e com muita diversão à mistura, chegámos ao final muito
complementa-se a 100%.
contentes com o resultado.
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01) Ilustração Pocketful Magazine. 02) Absolut Pears - Dif Magazine. 03) Notebooks Camélias. 04 ) Notebooks Untitled. 05) Toalhete Compal Light. 06) O2. 07) Ilustração Almofada. 08) Laga Green - Museu Serralves. 09) Ilustração Almofada.
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Acha que só arriscando se consegue fazer algo que marque a
Aposta muito na ilustração, esta é uma paixão antiga?
diferença?
Não é antiga, fui desenvolvendo um carinho especial por ilustração,
Sem qualquer ponta de dúvida, arriscar e não ter vergonha de mostrar
colagem..
o que se faz. Se temos trabalho, e mesmo que não acreditemos a 100% nele, não o podemos deixar na gaveta só porque o que vem nas revistas
Que projecto gostava de fazer agora?
e livros não é igual. Se esses trabalhos estão nas revistas e livros é
Uma campanha publicitária para a Coca-Cola!
porque são únicos. E renovar a imagem da Compal com o seu traço, como foi? Foi o trabalho mais interessante que a InteractCreative teve em Portugal. Foi mais uma vez muito divertido, profissional, aliciante, excelente, deu-nos imenso gozo tudo o que foi criado para a Compal. Sente a competição no mercado do design e publicidade em Portugal? Sim, um pouco, não muito. Há pouca gente a fazer bom trabalho, diferente, inovador, mas claro que há concorrência. Mas sentimo-la fora de Portugal.
Já provou que a partir do Porto consegue fazer campanhas mundiais. Isso torna a sua decisão de deixar Londres e voltar a Portugal acertada? A minha vinda para Portugal não foi porque quis mas porque eu era simplesmente uma num milhão a querer a mesma coisa e aqui achava que poderia marcar uma diferença, nem que demorasse dez anos, o que literalmente foi o quanto demorou.... Trabalha com o Museu de Serralves, a Fundação Gulbenkian, como é já estar nos locais certos? É óptimo. E espero continuar...
E a inspiração para os seus trabalhos, de onde vem?
Desde cedo tem trabalhos com o seu cunho próprio espalhados por diversos locais. Já conseguiu o seu lugar num mercado tão
Do dia-a-dia. E cada trabalho único, não é fácil nem perceptível saber
competitivo?
de onde vem a inspiração, é natural.
Penso que sim, de uma forma ou outra sim, posso dizer que sim.
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Benedita Feijó – beneditafeijo@interactcreative.com www.interactcreative.com
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“(...) adoro explorar vários interesses e áreas, nunca é tarde para começar algo.”
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Liliana Lourenço No mundo da ilustração infantil Entrevista por DirectArts
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Há dois anos que o desenho para os mais novos lhe preenche o dia e a noite. Foi já em Maio que conseguiu realizar um sonho que não era esperado, mas que veio consolidar um percurso que há muito se iniciou. Como qualquer sonho que se preze, chegou sem aviso prévio.
Entre um chá, uma garrafa de água e os eléctricos amarelos tipicamente
O mais recente capítulo do seu percurso pelo mundo da ilustração, que
lisboetas a passar ao lado de um recanto alfacinha, Liliana Lourenço
fala do tal sonho inesperado, foi escrito já em 2010, mas para explicar
abriu o livro da sua vida à directarts. Poderá um dia ilustrar esta
como tudo teve início temos de recuar uns anos no calendário. “Fiquei
conversa com as recordações que a imaginação lhe trarão, mas por
surpreendida quando me perguntaram se queria fazer as ilustrações de
agora falou de como interpreta com traços e cores as palavras alheias.
um livro da Alice Vieira, o Livro Com Cheiro a Banana, porque isto
Já ilustrou livros infantis, a capa da Agenda Cultural de Lisboa e da
para mim é uma vitória. Só sou ilustradora há dois anos e é um grande
revista Musicbox, diversos manuais escolares, incentivou crianças
desafio.” Mas nada acontece por acaso… “Quando era mais nova não
da Escola Alemã a dar asas à imaginação a partir de uma frase e fez
gostava muito de ler, e lembro-me de o meu pai me ter dado no Natal,
uma exposição individual na escola Restart, em Lisboa. Postais, flyers,
quando tinha uns 12 anos, o livro da Alice Vieira Chocolate à Chuva.
livros, um pouco por todo o lado encontramos o seu traço.
Adorei, de tal forma que voltei a ler uns anos mais tarde. Um dos
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portfólio Ilustração primeiros posts no meu blog foi sobre esse livro, que continua a ser um
preocupações artísticas, e sempre esteve ligada à área das artes, sempre
dos meus favoritos. Passados todos estes anos tenho oportunidade de
sem pensar muito no futuro. Entrou para a faculdade em Portalegre e
ilustrar um livro dela. É muito curioso…” A ilustrar, Liliana Lourenço
resolveu tirar Design de Comunicação, mas sentia que não era bem
sente-se como um peixe na água, e encara a ilustração infantil como
aquilo que a preenchia. “Tinha uma insatisfação, mas não sabia bem
outro sonho que realiza diariamente. “Assim tenho a oportunidade de
porquê. No último ano escolhi uma área específica, que foi a ilustração.
ser de novo criança. Posso brincar com as imagens, as cores, é muito
Ia com medo porque não sabia ao certo o que me esperava. Nunca
criativo. No caso do livro da Alice Vieira tive total liberdade para
tinha pintado nada com tintas, guaches, porque sempre desenhei no
desenhar. São nove contos e interpretei-os à minha maneira, não tive
computador, mas segui na mesma esse caminho. A partir do primeiro
de seguir nenhuma direcção”, conta a ilustradora. Parte do seu trabalho
trabalho percebi que estava no sítio certo e que era mesmo aquilo que
passa por ilustrar materiais didácticos, mas aí há regras mais rígidas,
queria fazer,” explica, confirmando assim a questão da não existência
com indicações definidas a seguir.
de coincidências.
A caminho da ilustração
Depois de terminar o curso de cinco anos decidiu parar um ano para pura e simplesmente ter férias. Além de precisar de descansar, queria
Lá está, nada acontece por acaso, e Liliana Lourenço acredita
fazer uma pausa entre o estudo e o mundo laboral. Depois veio o
que ter seguido o rumo da ilustração estava destinado. Passava os
trabalho como designer de comunicação, mas com ele não chegou a
tempos livres a desenhar, desde pequena, na altura sem quaisquer
realização que pretendia. “À noite ligava o computador e ilustrava, por
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“À noite ligava o computador e ilustrava, por pura satisfação pessoal.”
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portfólio Ilustração pura satisfação pessoal.” Acabou por se dedicar então em exclusivo
Um diário gráfico
à ilustração. “Trabalhava com a editora Lidel na ilustração de livros didácticos, e continuei. Há dois anos que trabalho com eles. Viver
Há ilustrações que faz apenas para si, que não têm de passar pela
como ilustradora é complicado, porque existe muita competitividade e
aprovação de ninguém, e limita-se a colocá-las no seu blog. “É quase
concorrência, e não é um trabalho certo, mas eu sou optimista e não me
uma necessidade. Mas não encaro a ilustração como trabalho, é uma
preocupo com isso. Se realmente nos esforçarmos por fazer aquilo de
paixão, como um hobby. Preciso da ilustração para me sentir bem:
que gostamos, acabamos por conseguir. Não nos podemos é acomodar
quando estou triste ou alegre vou ilustrar, e os desenhos ilustram o
só porque nos dizem que é difícil, temos de arriscar.”
estado de espírito. Gostava de explorar mais as ilustrações que faço para mim, que são de um estilo mais livre. É uma espécie de ilustração
A sua inspiração vem do que acontece no dia-a-dia, vem em sonhos,
infantil, mas as figuras aparecem estropiadas. A ideia não é chocar,
pensamentos, ou pode estar a ver um filme e ouvir uma palavra que
mas exprimir sentimentos como a solidão, entre outros. Gostava de um
a remete para uma imagem. “Algo que leio também me inspira…
dia as poder usar profissionalmente, porque nesse trabalho me liberto
Claro que depois as ideias são transformadas, mas quando olho para as
totalmente.” A ilustradora gosta de salientar o seu lado mais infantil e
ilustrações consigo identificar de onde vêm. Se calhar muitas pessoas
inocente na ilustração infantil, mas também tem prazer em explorar a
têm interpretações diferentes das minhas, mas isso é também o lado
vertente mais feminina, de mulher, e também muito mais frágil, que
bom deste trabalho: dar a oportunidade aos outros de descodificarem
podemos ver nos seus projectos pessoais. “O meu blog é um diário
aquilo que lhes ofereço. Cada um tem liberdade de interpretar à sua
gráfico, funciona como uma partilha com as pessoas que o lêem.”
forma, de acordo com as suas vivências”, adianta Liliana.
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01) Brobletas - Sim, brobletas e não borboletas. Existe uma grande diferença entre estas duas espécies. Eu explico:
04) Anémona - Gosto de estar quieta numa varanda a ver as pessoas a passar. E enquanto observo, é assim que eu vos levo comigo: Sempre. ** (ano 2010)
- As borboletas não servem para nada senão para enfeitar os jardins. Andam por ali, abanam-se, e apesar de tudo é sem dúvida alguma muito giro de se ver. - As brobletas por sua vez são bastante perigosas!! Temos que nos afastar delas porque quando menos se espera elas entram para dentro da barriga, pelo umbigo! É só para isso que o umbigo serve! Ah não sabiam??! Pensavam que o umbigo era a marca de ligação entre mãe e filho e que simbolizava a vida e etc??! Tretas! Mas continuando, quando as brobletas chegam dentro do estômago e começam a nadar muito aflitas, ficamos imediatamente apaixonados!!! E pronto! Agora que já estão todos avisados, vamos lá a subir essas cinturas das calças e ter muito cuidado! ** (ano 2008) 02) Uma das ilustrações do Livro ‘Um Coelho cheio de Sorte’ - Autor: Dr. Ivo Dias de Sousa - Editora: Lua de Papel - Ano: 2009 03) lalaralala.
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05) Mar - Agora faz de conta que ela tinha naufragado numa ilha totalmente deserta. - Até quando? - perguntou-lhe o Mar. - Até que me afunde inteiramente na areia.. para que aos poucos me venhas buscar. - Sem ansiedades? - Sim.. sem ansiedades. ** (ano 2009) 06) Hoje Vamos apagar juntos os silêncios que vêm de mim. Vou tocar-te aqui e ali.. vais fazer amor comigo e.. no fim, vou deixar que adormeças dentro de mim. ** (ano 2010) 07) I am Terrified ‘’I think too much’’. ** (ano 2010) 08) Pingualim (ano 2009)
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portfólio Ilustração / Fotografia Prefere trabalhar com o computador, gosta mais em termos estéticos,
Ilustrar, ilustrar, ilustrar
mas isso não a impede de por vezes rabiscar; no entanto o papel é mais usado para escrever ideias. “Escrevo num bloco e no telemóvel.
Não lhe mete medo ter de trabalhar com timings apertados, pois assim
As minhas ilustrações partem muito de ideias, frases, pensamentos, e
fica focada, não se dispersando do objectivo principal. Não querendo
escrevo-os, para lá voltar mais tarde e me inspirar. Às vezes estou a
viver fechada na sua própria criação, espreita com regularidade o
dormir, tenho ideias e escrevo-as no telemóvel, que está sempre à mão.
trabalho de outros ilustradores. “Passo muito tempo a ilustrar, mesmo
De uma frase ou ideia pode surgir mais tarde uma ilustração. Tenho de
nos tempos livres. Faço isso com tanto gosto que até nas pausas de
aproveitar essas inspirações.”
um trabalho que estou a desenvolver paro para desenhar. É isto que realmente gosto de fazer... Eu expresso-me através da ilustração. Nem
A primeira coisa que faz quando acorda é ligar o computador e abrir
nas férias deixo de desenhar!”, desvenda assim que a ilustração é, além
o fiel programa de desenho. Ás vezes passa horas sem lhe tocar, mas
do trabalho, o seu principal passatempo.
gosta de saber que se quiser desenhar não tem de esperar nem um minuto. E quando tem de pegar na caneta digital para dar azo a um
Trabalha em casa e reforça que tem toda a disciplina a viver como
novo projecto, segue um ritual. “Á medida que vou lendo o texto vou
freelance. “Fico com a minha música, o incenso e sempre muito
logo pensando em imagens, depois começo a trabalhar e inspiro-me
sossegada. Abrir a janela de casa agora na Primavera e ter o meu gato
nas coisas mais simples, como na cor de uma parede que pode ser boa
por perto é óptimo, mas também trabalho muito à noite, quando está
para um vestido, e vou construindo a história na minha cabeça. No final
tudo mais calmo.” Longe do caos, vem a inspiração.
tenho de gostar do que faço, para me sentir bem com o trabalho. Sou muito perfeccionista e chego a mudar muita coisa no desenho.” Para
O maior elogio que podem fazer ao trabalho é que as suas imagens
absorver tudo o que a imaginação transformou em desenho prefere
marcaram alguém, ou que o facto de as terem visto tornou o dia mais
deixar os trabalhos em repouso, a marinar, e “no dia seguinte volto a
agradável. “É óptimo, porque eu trabalho também para os outros, não
olhar para ele, já com outro olhar. Isto quando tenho tempo!”
é só para mim. Estabelecer este diálogo é muito bom.” No futuro quer essencialmente uma coisa: “Acho que o ideal é as pessoas olharem para uma ilustração minha e de imediato identificarem o meu traço, e que se sintam bem ao ver o meu trabalho. Não me imagino a fazer mais nada, é assim que me sinto feliz.”
Liliana Lourenço – http://vai-mas-volta.blogspot.com vai.mas.volta@gmail.com
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09) É difícil É difícil de explicar, porque a congelei assim... no teu pensamento. ** (ano 2009)
Porque é no estômago que sinto, as saudades que tenho. E é do estômago que saem, os sentimentos que mastigo. * (ano 2010)
10) ‘Amor Peludo’ ‘Gosto de ti mesmo quando não tiras o buço. E quando não depilas as pernas todo eu fervo por ti. Mas gosto ainda mais de ti, quando não rapas os pêlos debaixo dos braços.’
16) Sonha-me Porque o que importa é que só com uma mão, consigo embalar o teu respirar nervoso. E por isso, não tentes mudar nada. Tudo o que houver para corrigir, o Universo encarrega-se disso. ** (ano 2010)
Silenciosamente feliz ela pensou: ‘Isto sim, é Amor.’ ** (ano 2009)
17) Lecool (ano 2009)
11) Dia da mulher – Postalfree (ano 2009)
18) Neste Natal .. Vou ‘dormir-vos’ a todos, um bocadinho. Vou entrar sem pedir licença na vossa escuridão bonita, quer vocês queiram, quer não.** (ano 2009)
12 ) Love_piu_dog. 13) Rosa «Agora estais vós formosa, como a rosa (...)» ** (ano 2009) 14) Feliz Dizem que foi infectada com a alegria dos outros e assim ficou a arder em febre, a morrer.. de tão feliz. ** (ano 2009) 15) Ritual Todos os dias de manhã, assim que me levanto, vomito carinhosamente as pessoas de quem eu mais gosto.
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19) Livro com cheiro a Banana Já vos tinha dito que não há nada que me faça mais feliz do que ilustrar? ;).. ** (ano 2010) 20) Triumphadora (ano 2008) 21) Capa para Musicbox (ano 2009)
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“O meu blog é um diário gráfico, funciona como uma partilha com as pessoas que o lêem.”
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artigo Informação
Annie Leibovitz: A força na criação da imagem Texto por Manuel Pessoa
Nascida como Anna-Lou Leibovitz a 2 de Outubro de 1949, em
adaptou a sua técnica para fotografia a cores. Entre os que fotografou
Waterbury, Connecticut, Annie Leibovitz ingressou no San Francisco
nesse período estão Bob Dylan, Bob Marley e Patti Smith. Também
Art Institute para estudar pintura. Foi apenas quando viajou para o
foi a fotógrafa oficial da tourné mundial dos Rolling Stones em 1975.
Japão com a mãe no Verão depois do segundo ano que descobriu o
Quando estava na estrada com a banda fez os seus icónicos retratos
seu interesse pela fotografia. Quando regressou a São Francisco nesse
a preto e branco de Richards e Mick Jagger, sujos e sem camisa. Na
Outono iniciou os seus estudos nesta área.
Rolling Stone, Leibovitz desenvolveu a sua técnica própria, que envolvia o uso de cores primárias arrojadas e poses surpreendentes.
Em 1970, Leibovitz dirigiu-se a Jann Wenner, editor fundador da Rolling
Wenner deu-lhe crédito fazendo muitas capas coleccionáveis da Rolling
Stone, revista que recentemente tinha lançado. Impressionado com
Stone com as suas imagens, com destaque para uma edição com um nu
o seu portfólio, Wenner atribuiu a Leibovitz o seu primeiro trabalho:
de John Lennon.
fotografar John Lennon. O retrato a preto e branco de Leibovitz do Beatle chegou à capa da revista do dia 21 de Janeiro de 1971. Dois anos
A 8 de Dezembro de 1980, a Rolling Stone enviou Leibovitz para
depois era editora de fotografia da Rolling Stone.
fotografar John Lennon e Yoko Ono, que tinha recentemente lançado
Quando a revista começou a imprimir a cores, em 1974, Leibovitz
o álbum “Double Fantasy.” Para o retrato, a fotógrafa imaginou que os
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artigo Informação
“(...) as suas imagens serão sempre uma inspiração e estabelecerão uma fasquia para criadores de imagens consagrados e em processo de aprendizagem.”
dois iam posar juntos nus. Lennon concordou, mas Yoko Ono recusou
Metaphors. “Lembro-me de ir jantar com ela e de transpirar porque
tirar as roupas. Annie tirou uma Polaroid e os três souberam logo que
não conseguia dizer nada”, disse Leibovitz numa entrevista ao The New
aquilo era algo profundo. O retrato final mostra Lennon nu e aninhado
York Times no final do ano passado. Sontag disse-lhe, “és boa, mas
numa totalmente vestida Ono. Algumas horas depois, Lennon foi
podias ser melhor.” Apesar de manterem apartamentos separados, a sua
morto em frente ao seu apartamento. A fotografia foi a capa da edição
relação durou até à morte de Sontag no final de 2004.
comemorativa de Lennon na Rolling Stone. Em 2005, a American Society of Magazine Editors considerou-a a melhor capa de revista dos
A influência de Sontag em Leibovitz foi profunda. Em 1993 Leibovitz
últimos 40 anos.
viajou para Sarajevo durante a Guerra nos Balcãs, uma viagem que admite que nunca faria sem o incentivo de Sontag. Entre o seu trabalho
Annie Leibovitz: Photographs, o primeiro livro da fotógrafa, foi
dessa jornada, destaque para a imagem Sarajevo, Fallen Bicycle of
publicado em 1983. No mesmo ano, Leibovitz juntou-se à Vanity
Teenage Boy Just Killed by a Sniper, uma foto a preto e branco de uma
Fair e tornou-se a primeira fotógrafa da revista. Na Vanity Fair ficou
bicicleta caída num pavimento cheio de sangue. Sontag, que escreveu
famosa pelos muitos iluminados, encenados e provocatórios retratos
o ensaio que a acompanhou, também concebeu o livro de Leibovitz
de celebridades. Uns dos mais famosos foram de Whoopi Goldberg
Women (1999). Este incluía imagens de pessoas famosas entre outros
deitada numa banheira de leite e Demi Moore nua e a agarrar a sua
desconhecidos. Celebridades como Susan Sarandon e Diane Sawyer
barriga grávida. (A capa com Demi - que a então editora Tina Brown
partilhavam o espaço com mineiras, soldados em recruta e as showgirls
inicialmente hesitou em fazer - foi votada a segunda melhor capa dos
de Las Vegas com e sem fatos.
últimos 40 anos.) Desde então, Leibovitz fotografou celebridades de Brad Pitt a Mikhail Baryshnikov. Fotografou Ellen DeGeneres, o
O livro mais recente de Leibovitz, A Photographer’s Life: 1990-2005,
gabinete de George W. Bush, Michael Moore, Madeleine Albright e
inclui a sua imagem de marca de retratos de famosos, nas também
Bill Clinton. Fotografou Scarlett Johannson e Keira Knightley nuas,
contempla fotografias pessoais da sua vida: os pais, irmãos, sobrinhas e
com Tom Ford de fato; Nicole Kidman com vestido de gala e spotlights;
sobrinhos e Susan Sontag. Leibovitz, chamou à colecção “uma memória
e, recentemente, o mundialmente ambicionado primeiro vislumbre de
em fotografias,” reuniu-as na morte de Sontag e do seu pai, a semanas
Suri Cruise, junto aos pais Tom e Katie. Os seus retratos apareceram
de distância. O livro até inclui fotos da própria Leibovitz, como aquela
na Vogue, The New York Times Magazine e The New Yorker, e em
que a mostra nua e grávida de oito meses, à semelhança de Demi
campanhas de publicidade para a American Express, Gap e Milk Board.
Moore. Essa fotografia foi tirada em 2001, pouco antes de Leibovitz dar à luz a filha Sarah. As outras duas filhas de Annie, Susan e Samuelle,
Entre outros feitos, Leibovitz é Commandeur des Ordre des Arts et des
chamadas assim em honra de Susan e do pai de Leibovitz, nasceram
Lettres pelo Governo francês e foi considerada uma lenda viva pela
num tumultuoso 2005. Em 2007 começou a trabalhar na Dream Portrait
Library of Congress. A sua primeira exposição, Photographs: Annie
Series, uma campanha publicitária da Disney que retratava celebridades
Leibovitz 1970-1990, teve lugar em 1991 na National Portrait Gallery
como personagens da Disney. Os feitos de Annie Leibovitz e as suas
em Washington, D.C. e andou em tourné mundial durante seis anos.
imagens serão sempre uma inspiração e estabelecerão uma fasquia para
Na altura ela era a segunda fotógrafa viva e a única mulher a fazer
criadores de imagens consagrados e em processo de aprendizagem.
uma exposição nesta instituição. Em 1989 Leibovitz conheceu Susan Sontag, quando fotografava a escritora para o seu livro AIDS and its
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artigo Pictoralismo / Marina Ramos
Pictorialismo Português: O Salonismo Parte III/III
Texto por Marina Ramos
Marina Ramos nasceu em Lisboa, onde vive e trabalha. Está há vários anos ligada ao ensino de Fotografia, trabalhando também em restauro de pintura. No campo da formação, tirou o curso de Marketing e Publicidade, no IADE, assim como o de Conservação e Restauro de Pintura de Cavalete, no Instituto Rainha D. Leonor. Fez uma pós-graduação em Estudos de Fotografia, também no IADE e o ciclo de estudos na escola Maumaus. Participou em diversas exposições de fotografia, entre elas: Jóias em Fotografia, Galeria Contacto Directo, Lisboa, 1994; Exposição de Fotografia, Centro Cultural da Malaposta, 1994; Siemens+Maumaus Photoproject, Lisboa, 1995; Peninzulares, Valencia, Espanha, 1996; Exposição de Fotografia, seleccionados do Prémio Pedro Miguel Frade, CPF, Casa das Artes, Porto, 1999; Concurso Jovens; Criadores 1999, Fotografia, Braga; Onze projectos, Palácio Pombal, Lisboa, 2002 e Exposição de Fotografia, SNBA, Lisboa, 2003.
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Verificou-se, assim, que a consagração institucional de Domingos Alvão
Mais um aspecto a salientar consiste em que as exposições individuais
se deu quando foi convidado para único fotógrafo oficial da I Exposição
foram escassas e pouco publicitadas.
Colonial Portuguesa, em 1934, que o seu estilo muito próprio teve grande influência na produção salonista. Esta, pouco depois, instalou-se no
Muitos dos participantes no movimento salonista tinham um percurso
ambiente fotográfico acarinhado pelo regime Estado Novo, tanto ao ní-
formado pelo cinema apoiado pelo Regime:
vel dos temas escolhidos, do aspecto pictórico da composição como dos títulos dados aos trabalhos.
Planície Heróica; Canção de Lisboa; Maria do Mar; A Severa, etc. Um argumento apresentado por Manuel de Oliveira, de tema autobio-
O movimento salonista traduziu-se numa série de iniciativas de expo-
gráfico, em que um jovem fotógrafo se apaixona por uma prima, morta,
sições colectivas de pequena dimensão, patrocinadas por instituições
a quem a família tinha pedido que fotografasse, foi recusado por ser
do Estado ou por empresas com ele relacionadas e, mais tarde, disse-
um tema mórbido, ou seja, pouco saudável como exemplo do “espírito
minando-se duma forma tal que qualquer pretexto servia para fazer um
português”.
salão fotográfico sem nenhum critério. Alguns dos grupos ligados ao salonismo foram o Grupo Câmara, a Associação Fotográfica do Porto
No final dos anos 30, aparece a revista Objectiva, a publicação “oficial”
ou o Fotoclube 6x6.
no que à fotografia diz respeito, privilegiando a fotografia salonista e cortando raso tudo aquilo que não interessava ao Regime. Um peque-
Por norma, as fotografias entravam isoladas – não pertenciam a nenhum
no exemplo da mensagem por ela difundida: “A arte fotográfica, como
corpo de trabalho – e ficavam sujeitas a uma pré-selecção.
toda a Arte, há-de ter um fim para ser digna do nosso esforço: servir, na
Estas pré-selecções garantiam que as imagens a entrar nas exposições
Beleza, a Verdade – a verdade da Vida, verdade do homem, a verdade
pertenciam aos temas caros ao espírito português ou que, pelo menos,
da Pátria, a Verdade de Deus.”
eram inócuas em relação a esses temas. Também Rosa Casaco, fotógrafo oficial de Salazar e elemento da PIDE, Outra característica deste período consiste em que a mesma imagem
era um salonista.
podia ser repetidamente usada em diferentes exposições, escolhendo um enquadramento ligeiramente diferente, e que a maioria dos exposi-
Só no decorrer dos anos 50 o movimento fotográfico salonista – de te-
tores mandava fazer as suas impressões nos mesmos sítios (quase nin-
máticas do “espírito português”, impressões homogeneizadas, imagens
guém teria laboratório pessoal ou acesso a um), o que homogeneizava
plagiadas, repetição de imagens apresentadas, júris viciados - começa
os resultados de tal maneira que alguns salões pareciam exposições
a degradar-se, porque a promiscuidade chega a tais extremos que a si-
individuais.
tuação é denunciada, nomeadamente pelo próprio Grupo Câmara, par-
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artigo Pictoralismo / Marina Ramos
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ticipante no movimento salonista nacional, no seu Boletim: “...Todos
O momento de ruptura ter-se-á dado com a exposição “6 fotógrafos”
conhecemos provas, expostas em Salões de responsabilidade, que estão
na galeria Grafil, em 1978, conforme se pode ler no texto do catálogo:
sob a alçada desta palavra deprimente: “Plágio!” ”...Raros são as vezes e os sítios onde podem ser vistos os trabalhos A inconsciência dos seus autores (copiadores) ao trazer a público es-
desta geração. A fotografia em Portugal ainda não saiu dos clubes ou
ses trabalhos não tem desculpa, mas menos desculpa tem o júri que as
exposições em que se serve da ilustração a qualquer tema; ainda não
aceita.”
surgiu das lojas de retratos bem amanteigados [...] Uma verdadeira orgia de óleo cromado invade os clubes e as reimpressões «geniais» e
Este movimento salonista era tão vicioso e de circuito tão fechado e
«artísticas» em grossos grãos pastosos. [...] Tiveram o mérito de fazer
auto-repetitivo que ainda veiculava o mesmo tipo de mensagem da fo-
nascer um contra movimento, a «objectividade nova».[...] Nos Estados
tografia protagonizada por Alvão, 30 anos antes. Continuam as imagens
Unidos, e na mesma ordem de ideias, interveio a «straight photogra-
do espírito português, dos seus usos e costumes, de cariz naturalista
phy» uma técnica sem desvios, baseada no negativo normalmente am-
mas agora mais dramatizadas, o enfático dos títulos (a auto-satisfação
pliado em brometo de prata.[...]Esta falsa autenticidade visual quer ser
das imagens de Alvão dá agora lugar a imagens do espírito português,
eliminada por um«novo»olhar, um olhar directo. Pedimos desculpa ao
mais ligado ao fatalismo da condição portuguesa), como é o caso de
respeitável público, contagiado por «artistas fotográficos» e não só,
Jorge Coutinho e João Martins ou António Paixão tendo continuidade
mas não encontrará aqui expostos negativos esquartejados, com separa-
nas imagens de Eduardo Gageiro, fotojornalista ligado à tradição salo-
ção de tons, ou solarizados”
nista, ainda empenhado na captura das tradições, usos e costumes do povo português e do seu dramatismo – este ambiente salonista viciado
Esta exposição procurava manifestar-se a favor do uso do negativo
manteve-se até aos anos 70 em Portugal.
integral e contra a prepotência com que editores fotográficos reenquadravam as imagens a seu bel-prazer ou por imperativos de edição,
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desrespeitando a questão autoral. Mas não só: era ainda a denúncia do
Também o final de século português foi contaminado, com relativa ra-
estilo salonista, perpetuado por fotógrafos e técnicas pictorialistas ou
pidez, por tendências do que se passava lá fora.
decorrentes do pictorialismo. As heresias pioneiras de Paulo Henry Plantier foram expostas na monÉ delirante que este movimento de ruptura mais marcante só tenha che-
tra da sua loja, no ano seguinte ao da morte de Julia Margaret Cameron
gado a Portugal quase nos anos 80, quando por exemplo, nos Estados
(que só se iniciou como fotógrafa depois dos quarenta anos).
Unidos ele se implantou a partir dos anos 20 - cerca de 60 anos depois. É igualmente curioso e sintomático que só tenha vindo a acontecer de-
Várias personalidades portuguesas, ou instaladas em Portugal, desen-
pois da queda do Estado Novo.
volveram a fotografia portuguesa pela sua paixão e pelo espírito inovador, tanto nos finais do século XIX, como nas primeiras duas décadas do século XX.
Claro que outras propostas, muito mais interessantes, tinham surgido paralelamente e fora do circuito, mas representavam “outros olhares”,
Os apoios à fotografia disseminavam-se, tanto através de publicações
mais ou menos marginais, e contra corrente em relação à visão institu-
de qualidade, como por intermédio de estabelecimentos que comerciali-
cional – casos de Victor Palla/Costa Martins, Gérard Castello Lopes ou
zavam produtos fotográficos e se encarregavam da importação de livros
Sena da Silva.
e publicações estrangeiras.
Para concluir, traçamos, brevemente, um paralelismo entre a situação
Associações fotográficas, grémios, etc., patrocinavam concursos e ex-
portuguesa e a internacional.
posições e, apesar de pouco relevante, deve referir-se a participação portuguesa em concursos internacionais.
Em Portugal, o início da fotografia deu-se quase paralelamente ao seu aparecimento.
Com a mudança de regime para a 1ª República, havia o plano – embora gorado - de instituir a fotografia como disciplina na escola primária.
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artigo Pictoralismo / Marina Ramos
Os paralelos deixam de se estabelecer quando, entre os anos 20 e 30, as jovens tendências europeias e americanas (futurismo, dadaísmo ou,
Excertos de textos e imagens retirados da seguinte bibliografia:
mais especificamente, a straight photography) falham em chegar e em
Arquivo Fotográfico/C.M.L. : Provas Originais – 1858 – 1910
se implantar. Portugal estava num período conturbado, 1926, ano da
C.P.Fotografia : ersatz (publicação periódica do C.P.F.)
ditadura militar. Em 1928, Salazar assume a pasta das finanças num
E.F.Coimbra/ Instituto do vinho do Porto: O Douro de Domingos Alvão (cat.)
país economicamente muito debilitado e, em 1933, é instituído o Estado
Frizot, Michel : A New History of Photography.
Novo que se fundamentava, entre outras coisas, num serviço de censura
ImagoLucis : O Vinho do Porto (cat.)
e fiscalização que velava pela pureza doutrinária das ideias expostas e
Porto Editora : Diciopédia 2002
pela defesa da moral e bons costumes.
Sena, António: História da Imagem Fotográfica em Portugal 1839 – 1997, Porto Editora.
Este regime salvaguardou a sua sobrevivência impedindo a exposição a valores externos, o que se traduziu, em particular, no caso da fotografia, numa auto-suficiência viciosa e viciante. Este estado de marasmo, protagonizado pelo movimento salonista, prolongou a estética naturalista/ pictorialista muito para além do que seria normal, e o ambiente só se renovou com a queda do Estado Novo e a exposição regular a livre a Marina Ramos - marinaramosramos@gmail.com
influências de fora.
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01) Domingos Alvão Póvoa Varzim, 1923.
06) Eduardo Gageiro, capa de O Século Ilustrado, 1965.
02) Jorge Coutinho no livro Portugal Romântico, 1955.
07) Sena da Silva, 1956.
03) Rosa Casaco, 1954.
08 Gerard Castello Lopes, Lisboa 1957.
04) Rosa Casaco, Prelúdio da noite, 1957.
09) Costa Martins e Victor Palla 1956-59.
05) Eduardo Gageiro, capa de O Século Ilustrado, 1963.
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Ai que a Apple tem coisas tão giras e com design! Texto por André Guerreiro Rodrigues + Marco Alexandre Saias (IP SOLUTIONSTM)
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E também esse design é um Activo e um Direito de Propriedade Intelectual!
E por esse cada vez maior investimento, há que encarar a figura dos Desenhos e Modelos como não apenas a forma de proteger contra as infracções, mas como uma forma de monetizar uma componente cada
Vejamos: uma empresa tem um produto (novo ou velho, é indiferente)
vez mais importante dos produtos.
e desenvolve um design que é inovador, único, arrojado, algo que transforma a aparência do produto criando um forte desejo apelativo, etc.
Um produto vale não apenas pelas suas funcionalidades. Vale igual-
etc., e que por si só é q.b. para muita gente querer comprar o produto.
mente pela capacidade de entrar no mercado, ou mercados. Vale pela
Essa empresa pode querer ter um exclusivo sobre o mesmo.
paixão que suscita. Pela marca que traz associada. Pela capacidade de se distinguir dos demais.
Isso por várias razões: é um activo, excluir concorrentes, forma de estar única no mercado, o design é um sinal distintivo, etc. etc.
Uma das mais-valias do iPod ao aparecer foi o seu design arrojado. O mesmo com o iPhone.
Há que recorrer então à figura do Desenho ou Modelo e registar esse design novo e seu.
A Adidas e a Nike ao promoverem a Investigação e Desenvolvimento
E quem diz uma empresa diz um indivíduo!
dos seus produtos, focalizam grande parte dela em matéria de Design.
Assim, fica-se com uma protecção sobre as características (linhas, for-
Assim, temos esta conclusão: inovação não é apenas ciência e tecnolo-
mas, cores, materiais, etc, etc.) seja da aparência, da totalidade ou ape-
gia. Pode ser Design. O elaborar de uma cadeira mais ergonómica junta
nas de parte de um produto.
várias ciências e pensares. E cabe no final ao design elaborar o produto.
Isto serve para uma série sem fim de produtos que são objecto cada vez
Uma fonte pode ser a marca distintiva de um jornal: o El País usa uma
mais de estudo e desenvolvimento de matéria de design:
fonte exclusiva feita por um português.
telemóveis, impressoras, mobiliário, monitores, embalagens, garrafas, etc. etc.
Acabou o tempo em que o design não contava. Isso já nós sabemos.
E interessa muito aos leitores: até as fontes tipográficas!
Passamos agora para o tempo em que o design é parte geradora de valor de toda uma cadeia, com o seu próprio valor autónomo enquanto
Como referimos, cada vez mais se investe no desenvolvimento do de-
intangível.
sign dos produtos:
• para serem apelativos aos segmentos A+B;
• para se demarcarem da concorrência;
• para serem ergonómicos;
• para melhor cumprirem novas funcionalidades;
• para ficarem melhor na estante;
• etc.
IP SOLUTIONS™ Consultoria em Propriedade Intelectual geral@ipsconsultoria.com www.ipsconsultoria.com
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novos talentos
Design
Diana Jung Designer Gráfica (Viana do Castelo) Idade: 23 anos Contactos: graphicdesign.gd@gmail.com
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Diana Jung tem 23 anos e é natural de Viana do Castelo, onde
dos avós, a fim de completar o 12º ano na Escola Secundária de
ainda reside grande parte do tempo. Aqui ficou até aos cinco
Santa Maria Maior, em Viana do Castelo. Ingressou de seguida
anos, altura em que se mudou para Ludwigsburg, na Alemanha,
na ESAD – Escola Superior de Artes e Design, em Matosinhos,
fixando-se depois na cidade de Trier com os pais. Estudou nesse
estando neste momento a concluir o Curso de Design de Comu-
país até completar o 9º ano na Waldorfschule, tendo como língua
nicação.
base o Alemão. Regressou com essas bases a Portugal, para casa
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novos talentos
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novos talentos
Design
01) Europe Poster - Concebido para o Concurso “Europe Day 2010” . 02) Feira Medieval - Concebido para VianaFestas. 03) Martin Scoresese - Concebido no âmbito Académico. 04 - 06) Mirror People - Concebido no âmbito Académico para Rui Maia 07 - 08) O Zahir - Concebido no âmbito Académico. 09 - 10) Um dia no Parque - Concebido no âmbito Académico.
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novos talentos
Ilustração
Vera Costa Ilustradora (Lisboa) Idade: 20 anos Contactos: v-paints.blogspot.com
veracostaa_@hotmail.com
Tem 20 anos e é natural de Lisboa, onde reside. Estuda na Fa-
surfista e artista. Começou por pintar pranchas de surf, depois
culdade de Belas Artes e frequentou alguns cursos de desenho
skateboards e outros suportes. Mais tarde surgiu um convite para
no ARCO. Actualmente Vera Costa está em Londres, onde fica
pintar o interior de um espaço, onde teve mais de 4 metros de
durante um mês para estudar pintura. Durante dois anos integrou
parede por onde viajar. Faz ilustrações para a revista FreeSurf
a Selecção Portuguesa de Surf e competiu durante muitos outros,
desde o início de 2009 e em Fevereiro de 2010 fez a sua primeira
o que lhe trouxe a oportunidade de viajar bastante, conhecer mui-
exposição de pintura em Cannes, com o apoio da Volcom.
tos e diferentes locais. Agora é patrocinada pela Volcom como
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Ilustração
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09 01) Don’t look at me, 2010. 02) Untitled, 2010. 03) Pipa’s Board, 2009. 04) Volcom Lets the kids ride free. 05) Fly, 2009. 06) Volcom World, 2009. 07) Untitled, 2010. 08) Untitled, 2010. 09) Volcom dream, 2009. 10) Untitled, 2010. 11) Untitled, 2010. 12) Untitled, 2010.
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Fotografia
Telma Russo Fotógrafa (Lisboa) Idade: 23 anos Contactos: http://photographyfashionmaniac.blogspot.com/
www.facebook.com/pages/Telma-Russo_-Photographer/357626380937?ref=mf
gabaorusso@gmail.com
telma_russo@hotmail.com
Telma Russo, tem 23 anos e um apetite especial pela Imagem
João Bacelar no Backstage da MODA LISBOA para o Daily site
(Fotografia, Cinema, Moda, Pintura, Design, etc...) No curso de
e Blog da própria moda Lisboa.
Coordenação e Produção de Moda (Magestil), teve o primeiro
O que mais a fascina na idealização de uma imagem é não apenas
contacto com a fotografia... amor à primeira vista!
o resultado final, mas sim toda a sua composição e realização
Concluiu mais tarde, o curso Técnico de Fotografia (ETIC), após
quer em produções de moda, quer em trabalhos fotográficos mais
este estagiou como assistente com os fotógrafos Mário Príncipe,
conceptuais onde tenta explorar novas linguagens ou formas de
Sérgio Santos e recentemente fez uma pequena especialização
abordar a fotografia.
em Fotografia de Moda (University of the Arts London - Cen-
Em poucas palavras idealiza, realiza, fotografa, compõe e cria as
tral St Martins). As últimas colaborações foram com o fotógrafo
suas imagens e por “consequência” os seus trabalhos.
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01 - 02) Metamorfose Box - L’agence Luis Stoofell & Ines Lapa. 03 - 07) Lucy sem deleite. 08 - 10) Dazed & Confused. 11) Metamorfose Box. 12 - 14) Cinderella 21th Century - Karacter Model’s & C’es Fantastique.
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tutorial Photoshop
Perfeição imperfeita Texto por Alberto Plácido - albertoplacido01@gmail.com
Frequentemente as imagens, a fotografia neste caso específico, têm o poder de nos satisfazer os caprichos mais íntimos. Entram num canto da nossa mente que, apesar de a fotografia não ser mais do que um plano bidimensional que representa, à sua maneira, uma realidade, é nesse canto da nossa alma que acreditamos ser real uma imagem, é aí que nos deixamos levar por uma satisfação, que foge à lógica de uma análise superficial. Refiro-me ao facto de, por exemplo, não poucas vezes nos satisfazermos com a transformação, da figura humana numa fotografia.
Aperfeiçoar virtualmente aquilo que na realidade existe tem um grande
Tentando desmistificar alguns dos enigmas que se escondem por detrás
impacto sobre nós.
do método de realizar transformação radicais num retrato (ex. emagrecer, alterar as proporções de um rosto, ou partes deste, etc.) resolvi
Ao retirar as rugas, emagrecer, alterar as proporções de uma pessoa
desvendar algumas técnicas que, no Photoshop, permitem realizar pre-
retratada, provoca normalmente efeitos que raramente se verificam ao
cisamente estas transformações. Entre elas uma ferramenta se destaca,
realizar essas transformações numa paisagem, ou a uma rocha.
pela sua potencialidade de alterar radicalmente (e de forma fidedigna se utilizada com perícia) a fisionomia de uma pessoa retratada. Refiro-me
O Photoshop, julgo, em muito deve a sua fama milagreira a esta capa-
ao filtro “liquify”.
cidade de realizar transformações “realistas” numa imagem, em muitos casos com grande qualidade e perícia, por forma a alterar radicalmente
Este, apesar de parecer complexo na forma como se apresenta é, se
a fisionomia de uma pessoa.
assim se pode dizer, rudimentar na sua aplicação, é uma ferramenta muito potente que requer alguma prática para que se obtenha resultados
Se a fotografia que nos retrata não é a realidade (é uma representação
convincentes.
de uma realidade), porque é que nos dá tamanha satisfação e emoção a tentação de remover aquilo que detectamos como “defeitos” na busca
Quando se usa (e abusa) esta ferramenta, as feições de alguém estão nas
de um resultado “perfeito”, divino?
mão de quem realiza esta transformação, podendo, em ultima análise, o operador reconstruir um rosto ao ponto de o tornar irreconhecível (em
Será que, porque olhamos para uma imagem que nos “espelha”, consi-
relação ao original), ficando esta transformação dependente da perícia e
deramos de alguma forma que esta reflectirá o sujeito real? Sendo um
das decisões tomadas por quem efectua a edição.
processo mental, será que ao nos revermos numa fotografia esta passa a influenciar a forma como nos revemos a nós próprios? Altera a imagem
É óbvio que, para quem utilize o Photoshop regularmente e dele te-
que temos de nós?
nha algum conhecimento técnico, sabe que nunca é apenas com uma ferramenta que se chega a um resultado satisfatório. Salientei apenas
Questões complexas que encontrarão resposta não num, mas segura-
o “Liquify” como um filtro capaz de realizar tais transformações, mas
mente numa multiplicidade de factores.
não é apenas deste que dependem tais resultados. Uma infinidade de
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01) “Retrato original” Imagem original sem alterações.
técnicas estão disponíveis para que se transforme uma fotografia mas,
imagem minha, nem tão pouco tive essa tentação. O facto de o realizar
neste caso, dada a potencialidade deste mesmo filtro, e a complexidade
regularmente no âmbito profissional mostrou-se útil na forma de abor-
que uma transformação num retrato pode ter, optei por salientar uma
dar a imagem, como se de outra pessoa se tratasse. O problema é que
ferramenta que, com pouco, poderá ser responsável por grandes trans-
não é de outra pessoa que se trata.
formações. Não que seja um problema em decidir de antemão que deverá de ser Tinha como objectivo inicial dedicar este artigo apenas à técnica de
alterado (decisões que convém tomar antes de abordar a edição de uma
edição e tratamento de retratos mas, durante a sua realização deparei-
imagem), já o tinha realizado demasiadas vezes para que tivesse duvi-
me com um obstáculo inesperado, obstáculo esse que alteraria a inten-
das. As técnicas de retoque de um retrato são muito especificas e em ge-
ção primária radicalmente, transformando um artigo que se pretendia
ral dependem da forma como cada um utiliza o Photoshop. Neste caso
de cariz técnico numa demanda pessoal.
era simples desenvolver um processo de edição que sempre realizo recorrendo a Layers e de uma forma evolutiva, criando um novo Layer
Por falta de quem se dispusesse a ceder a sua imagem para ser publi-
para cada transformação e recorrendo o mais possível a Adjustment
cada, com a transformação que pretendia realizar no Photoshop, acabei
Layers, bem como Layer Masks. Este processo tem a grande desvanta-
por tomar a decisão desesperada de me utilizar a mim próprio, a partir
gem de aumentar exponencialmente o peso em Mb da imagem de edi-
de uma fotografia tirada por uma amiga (que optou pelo anonimato),
ção, mas tem a vantagem de preservar os passos dados de forma linear
sem que tivesse dado conta de que estava a ser fotografado e achando
(que podem ser refeitos posteriormente) e preservar os pixeis originais
esta uma imagem satisfatória para o objectivo que me propunha, pus
intactos, no Background Layer (que nunca altero), funcionando não
mão à obra (já que poucas fotografias minhas tenho por não gostar de
apenas como informação que se poderá utilizar durante o processo de
ser fotografado).
edição mas, já que está incluído nesta imagem de edição e intocado, como mais um backup da fotografia original.
Embora já tenha realizado este processo de retoque/alteração de uma fotografia de retrato inúmeras vezes, nunca o tinha realizado com uma
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02)“Retrato editado” Fotografia Editada e alterada com “Liquify”.
As ferramentas que utilizei para tratar a pele foram 90% de Patch Tool
para este novo ser que estava a nascer em frente dos meus olhos, resol-
e 10% de Clone Stamp. Um Layer foi utilizado para realizar um peque-
vi dar-lhe um toque final, que foi o de alongar a imagem na vertical,
no Blur na pele (com uma máscara que seleccionava apenas as zonas
pouco, mas o suficiente para tornar o retrato mais esbelto e elegante. É
pretendidas) e, como não poderia deixar de ser, o “Liquify”. Nesta altu-
estranha esta sensação. Este que vejo na imagem final ainda mantém
ra a imagem está já bastante alterada e em nenhum momento tive duvi-
os traços essenciais para que se identifique comigo, mas é muito mais
das do que tinha a fazer, se bem que durante este processo nunca olhei
novo. A questão é que, mesmo quando era novo, não era assim. Este é
realmente para o retrato, um defeito que advém de o ter realizado tantas
um novo, realmente novo, eu. O problema agrava-se quando o comparo
vezes, tornando-se automático. Até este ponto limitei-me a retirar rugas
com a fotografia original, aquele que retrata o eu “original”. É absolu-
e manchas na pele, a fisionomia e os contornos do retrato estão intactos,
tamente terrível.
apenas com uns bons anos a menos. Quando, ao tomar a decisão de utilizar o filtro “Liquify”, tudo se altera. Nesta altura terei que tomar uma
Em poucas horas, durante a edição da fotografia, rejuvenesci na nova
decisão de identificar o que é que alteraria na fisionomia desta cara que
imagem e envelheci na que lhe deu origem.
tenho à frente, a minha. Como que a discordar com aquilo que a mãe natureza me reservou.
Parece que, afinal, o que potencialmente alteramos não é apenas um retrato, mas também o real. Se realmente olharmos para uma fotografia
Por fim, e depois de muito meditar, resolvi identificar apenas o “defei-
editada e alterada, por comparação à imagem original, aquilo que, de
to” mais saliente na fotografia, se bem que não o tivesse sentido quando
alguma forma, alteramos é a percepção de nós próprios ou, pelos me-
me olho ao espelho, e altearei o nariz, reduzi a largura do nariz e não
nos, da nossa imagem como a fotografia nos “vê”. E ela, ao que parece,
resisti à obvia tentação de me tirar uns quilitos. Ainda olhando apenas
vê mais do que nós.
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03) “Layers” Layers utilizados para a alteração da fotografia. Este é um processo de edição que serve apenas como referência, já que este pode alterar de pessoa para pessoa e as características da imagem, bem como o resultado pretendido. 1 - Background Layer - fotografia original sem alterações. 2 - Coloração das manchas na pele. 3 - Desaturar a zona branca dos olhos (normalmente retirar vermelho). 4 - Gaussian Blur (por vezes é bastante eficaz utilizar o “Surface Blur”). 5 - Ligeiro Sharpen apenas na zona dos olhos e barba (recorrendo a máscara para aplicar apenas nestes locais). 6 - Shadow/Highlight para aumentar contraste dos meios tons e Unsharp mas para recuperar textura da pele (Amount -10 / Radius - 200 / Threshold - 0). 7 - Adjustment Layer para clarear apenas os olhos (utilizando uma máscara para aplicar apenas nessa zona). 8 - Liquify (Filter/Liquify) - Este filtro funciona apenas em Layers com Pixels pelo que é necessário nesta fase fazer Flatten Image. Neste caso o Flatten image foi aplicado a um Layer usando Edit / copy merged e Edit / Paste. 9 - Clone stamp na zona da orelha. 10 - Remoção de manchas de pele, pintando com cor da pele e colocando o Layer no Blending Mode “Color”. Foi reduzida a opacidade do Layer. 11 - Limpeza da pele usando Patch Tool e Clone Stamp (90% Patch Tool). 12 - a partir da imagem original foram seleccionadas apenas as baixas luzes (sombras que incluem a textura da pele e outras texturas que se perderam quando se realizou o Blur). Para o fazer, a partir do Layer Background, utilizou-se a ferramenta Color Range (Select / Color Range). 13 - Adjustment Layer para clarear a imagem. 14 - Layer com a imagem final (merge) que foi transformada, através do Free Transform, para aumentar na altura apenas, esticando a imagem ligeiramente.
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destaques GOOGLE TV A Google juntou-se à Sony e à Intel, e as três empresas vão lançar a Google TV. Este projecto de televisão ainda está a ser definido, mas alguns pormenores já se sabem. A GTV está baseada no Android OS e terá os canais de televisão normais, mas também, Hulu, YouTube e outros sites de vídeos, assim como jogos e acesso às redes sociais. A Google já pensou em algumas ferramentas e a Logitech parece já ter sido contactada para fazer as colunas e um comando com teclado incorporado.
Cloak Bag O Cloak Bag (€40) é um saco para a câmara fotográfica que lhe permite tirar fotografias enquanto ela ainda está lá dentro. Foi desenhado para manter a câmara protegida e longe da vista, mas tem uma forma fácil de a manejar e disparar. Uma correia substitui a alça da câmara e a própria mala prende-se a velcro e ganchos para prender um tripé. Os fechos do fundo do saco abrem-se quando quer fotografar. Fechado parece-se com qualquer mala de ombro.
Polaroid O filme para as câmaras Polaroid já está disponível para venda. Apesar de ser oficialmente da Polaroid, isso não impediu as mentes do The Impossible Project de recriar o filme para voltar a vender aos entusiastas. Os filmes, desenvolvidos com a ajuda da Harman Technology, vão custar no Reino Unido 16 libras por um pacote de 8 folhas. “Tornamos o impossível possível” dizem os fundadores do projecto. Revela-se a partir de uma cor azul, antes de se tornar numa imagem a preto e branco, ao contrário dos originais, que começavam num castanho amarelado. O The Impossible Project planeia lançar o filme a cores ainda este ano. E as novidades não acabam, pois os mais ligados às novas tecnologias poderão ter uma Polaroid que fotografa em digital e permite imprimir na altura a fotografia, que sai directamente num papel autocolante.
Air Umbrella Eis um conceito de design de um chapéu-de-chuva inconvencional. O Air Umbrella não usa um tradicional pano para manter a chuva longe de si, mas sim um sistema de ar que sai de um tubo para manter a chuva afastada. Possibilita também regular a área que protege, de acordo com a necessidade de cada um. Será interessante ver se consegue gerar poder suficiente para travar as chuvas mais agrestes e os ventos fortes…
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Elvira Fortunato
Um arco-íris de possibilidades artísticas
É difícil perceber se Miró ou Picasso achariam piada ao ver uma das
do Prémio BES Revelação, em 2007, e agora trabalha com a cientis-
suas telas mudar de cor, após estarem horas de pincel em punho a deci-
ta. “Foi através de um programa de residências artísticas resultante de
dir qual a tonalidade certa para exprimir a inspiração em Constelações
uma parceria entre a Ciência Viva e a Direcção Geral das Artes, que
ou a angústia em Guernica. E será que Van Gogh não iria cortar outra
possibilita que os artistas desenvolvam projectos artísticos em laborató-
orelha ao ver os seus Girassóis tornarem-se rosa choque à distância de
rios científicos e em conjunto com cientistas, tornando possível realizar
um toque? Por outro lado, os tempos mudam. Questiona-se o efémero
projectos que empreguem as potencialidades da ciência e tecnologia”,
da arte, fala-se da cada vez maior volatilidade dos tempos, tendências
explica o artista. E aqui o seu papel passa por fazer objectos artísticos e
e gostos.
reflexões artísticas utilizando o potencial tecnocientífico desenvolvido
Sabemos que a época dos Descobrimentos está amplamente estudada
no laboratório “que, diga-se, é espantoso, mas também muito recente.
e o devido crédito é dado nos livros de história ao papel dos portugue-
Existe à partida um projecto que irá ser executado que tem como título
ses na exploração de novos mundos. E o que tem isto a ver com arte?
Novas Cartografias do Olhar”. E este refere-se aos novos mundos que
Tudo. É que, ao contrário do que se possa pensar, o cantinho lusitano
se encontram fora do alcance do olho humano e que agora nos são da-
continua a dar cartas na entrada em novos mundos, de tal forma que
dos a ver através dos dispositivos tecnológicos e científicos e a novas
continuamos a suscitar a atenção de outros povos. E são eles que agora
descobertas, “referindo-se também às transformações que acabam por
viram os olhos para nós, pois daqui, de um local insuspeito no Monte
ocorrer na forma de olhar e construir o mundo, no fundo proporciona-
da Caparica, saem verdadeiras caravelas tecnológicas.
das por estes”.
Nem só praia a margem Sul do Tejo tem para oferecer. É por lá que
Como se pode imaginar, as aplicações de uma descoberta que possibili-
uma equipa nos surpreende com descobertas que parecem saídas de um
ta a mudança imediata de tonalidade nos materiais abre uma imensidão
filme de ficção científica. Não há naves espaciais, é certo, mas e que
de possibilidades na arte, “tal como a outras áreas e outros campos do
tal um transístor electrónico que muda a cor de uma superfície onde é
conhecimento, na medida que potencia novas formas de fazer, ver e
implantado? Quem o inventou foi Elvira Fortunato e Rodrigo Martins,
estar no mundo”. E nesta ligação entre dois mundos apenas aparente-
dupla de cientistas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Univer-
mente são opostos, Ivo Andrade acredita que a ciência e a arte se vêem
sidade Nova de Lisboa. Mudar a cor dos materiais vai passar assim a
forçadas a olhar de outra forma para elas próprias. Para além desta resi-
ser muito, mas muito simples. Papel, metal, vidro, cerâmica, plástico,
dência, ele lecciona na ESAD de Caldas da Rainha, está a preparar uma
borracha, ecrãs de computador, TV, telemóvel… Tudo isto pode ser
exposição para Maio em Aveiro e a realizar umas ilustrações para um
alvo de mudanças de aparência com ajuda da ciência. É só deixar a
livro. E a mostrar como não podemos virar costas às potencialidades
imaginação fluir.
criativas que as descobertas científicas proporcionam. É que estas são
Em 2008, Elvira Fortunato, docente do Departamento de Engenharia
como duas vizinhas que só têm a ganhar com a convivência e a com-
dos Materiais, cientista e directora do Centro de Investigação de Ma-
panhia da outra.
teriais (Cenimat) da UNL, substituiu o silício pelo papel (mais barato
Assim, peguemos em exemplos tão próximos que podem ser vistos nes-
e flexível) como suporte de um transístor, e venceu uma das Bolsas
ta mesma edição. Joana Vasconcelos não teria de fazer três versões dos
Avançadas do European Research Council no valor de 2,25 milhões de
seus Corações Independentes: um preto, um vermelho e um dourado.
euros, uma distinção sem precedentes para Portugal. É uma mulher das
Bastaria apenas um, que mudava de cor. Já na sua publicidade para a
ciências, sem dúvida, com horizontes bem abertos. Na verdade, o seu
Absolut Ruby Red, Benedita Feijó abria uma porta para uma multipli-
doutoramento acaba com uma frase de Einstein: “A imaginação é mais
cidade de abordagens à cor. Enfim, o limite é mesmo o da imaginação,
importante do que o conhecimento”.
mas não só do artista. O espectador que visita a galeria, o coleccionador
Foi em Dezembro passado que o percurso de Ivo Andrade se cruzou
de arte, o apreciador, todos podem reinterpretar a obra. Prós e contras?
com o de Elvira Fortunato. Ele foi um dos vencedores da 3ª edição
Claro, como em tudo. Potencialidades? Infinitas.
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Portfólios, artigos, novos talentos e muito mais...
Próxima Edição Verão
A não perder tudo o que espera da directarts...
Passaporte - Yves Callewaert - Fotógrafo belga faz carreira em Portugal.
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