Trinta e Oito Poemas Para Uma Amiga (excerto)

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Trinta e Oito Poemas para uma Amiga

Prefácio O ser humano tem capacidades de superação que nos espantam a cada dia. Pequenas grandes realizações que despertam para o milagre da vida. Que dão alento para prosseguirmos o caminho com a certeza de que virão sempre melhores dias. A seguir à escuridão da noite segue-se o alvor que nos abre para a luz do dia. Depois da nudez dos ramos das árvores virá o renascimento das folhas e flores que nos dirigem o olhar para novos futuros. Perseverando na conjugação do verbo acreditar que não permite desistências a meio do percurso. Ou da missão. Porque ainda há estrada para andar. Mesmo que os passos sejam titubeantes. Poucas são as vezes em que o autor do livro que tem em mão sai à rua. Quando o faz é, sobretudo, para ir a uma consulta médica ou fazer algum exame de rotina. Não consegue caminhar sozinho. Mesmo em casa, a autonomia é limitada. A doença de Parkinson e outros problemas de saúde, aos 83 anos, impedem-no de fazer coisas que para muitas pessoas são consideradas simples e normais. Visto assim de longe, até parece que Raimundo Serrão tem pouco para dar à sua existência e à nossa. Visto de perto surpreende pela efervescência interior. Quando o visito está sempre ocupado em leituras ou nos escritos ou, ainda, a rezar o terço. Pondo nas mãos da presença materna os seus dias. Num período mais difícil, Apeiron Edições

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Raimundo Serrão

ainda não há muito tempo, estava acamado, tentando comunicar com um sorriso tímido ou balbuciando algumas palavras que mal se percebiam. Pensou-se no pior. Quem mantinha viva a esperança era a irmã, Marina, que ficou cega e que partilha a casa com ele. Marina via aquilo que outros não avistavam. Pacientemente, esperava por um pequeno milagre. O teólogo checo Tomáš Halík escreveu que fé é ter paciência com Deus. E ela cantava músicas de outros tempos para animar o irmão. Rezavam juntos de mão dada. Era comovente olhar para aquele quadro de amor fraterno. O tempo foi passando. E o estado da doença não dava sinais de alteração. Há coisas em que só alguns parecem acreditar, quando a esperança parece escorregar entre os dedos de quem pensa que já não há muitas mãos que o podem curar. Enganámo-nos. Menos a frágil Marina que sempre confiou que o irmão poderia melhorar. O meu Querido Professor Raimundo melhorou a olhos vistos. Voltei a vê-lo, embora já não com a energia humilde de quem nos ensinava Inglês na Escola Secundária de Gil Vicente, em Lisboa, porém, com vontade de continuar a fazer o que tanto gosta, como ler e escrever. Fiquei surpreendida quando soube que, no primeiro semestre de 2016, soltou pensamentos, palavras, actos e emoções em cada verso que nos presenteia neste livro de poemas. Quando ia lá a casa via-o sempre atento na leitura e na escrita à mão. Tinha dificuldades em pegar na

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caneta. Mas insistia. Insistia. Insistia. Uma lição de vida para quem o observava. Hoje sou uma pessoa melhor, porque o Professor Raimundo continua a ensinar-me o essencial. Que nunca percamos a capacidade de nos espantarmos com o bem que as pessoas ainda podem fazer no crepúsculo da vida, quando tudo nos diz que já nada mais há a fazer. Afinal, há tanto caminho a percorrer. Os Trinta e Oito Poemas para uma Amiga revelam que há luz e música, beleza e doçura, sempre que se renova a natureza. É sempre possível que se façam “novas todas as coisas”, como ensina o Evangelho. Este livro que nos refresca, numa tarde quente de Verão, mostra que as palavras também dão vida. Muito obrigada por esta lufada de ar fresco, Prof. Raimundo. Sílvia Júlio Jornalista

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