Histórias Vividas Tecidas de Amor (excerto)

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Antonieta Vilhena

Histรณrias Vividas tecidas de

mor




Título Original: “Histórias vividas tecidas de Amor” Autora: Antonieta Vilhena Capa: Diva Almeida Ilustração: Diva Almeida (baseada em fotos da autora)

Execução gráfica: Atelier Gráfico, Setúbal www.ateliergrafico.com.pt Encadernação e acabamentos: MJ Real Imo www.mjrealimo.info

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Antonieta Vilhena

Histรณrias Vividas tecidas de

mor



Os álbuns dos meus netos foram vida com sangue a correr, nas minhas veias cansadas. Em cada um está o meu amor, o meu tempo, a minha alegria de viver. São álbuns de histórias das vidas que eu amo em cada minuto, das melhores horas da sua infância, correndo no tempo, das suas gargalhadas, do seu choro, dos seus encontros, dos seus dias de festa, do infantário, da Escola, dos recreios, da praia, das festas escolares. Foi muito bom ter podido fazê-los e relê-los a cada instante, enchendo as minhas horas de solidão, com tanta alegria. Avó Eta





Concebida pelo mistério da vida, na alegria, no amor e na verdade, num gesto feito luz, entras no mundo, envolvida em simples sorrisos de paz, tecidos de rosas brancas. Foi Deus que te deu a vida, te guardou dias sem fim num calor d'estrelas feito. Foi berço d'ouro o teu ventre, mulher chamada de mãe, onde o mistério foi verdade. Esperamos-te com muita ansiedade e muito amor. _ 19.10.96 Hoje tivemos uma grande alegria pois vimos uma fotografia tua, ainda na barriguinha da mamã. Ainda muito pequenina ou pequenino, muito frágil, mas já a verem-se os bracinhos e as perninhas. O teu pai dizia que ouvia o teu coraçãozinho e dizia isso com muita alegria. A tua irmã Joana vive com muita felicidade toda esta história e só queria mexer na ecografia como se pudesse já mexer em ti, com todo o seu carinho. _ 6.12.96 Hoje fomos buscar-te a Alvalade Sado, à Escola onde a tua mamã dá aulas. Ela vai de carro e tem de percorrer 217 km por dia. É muito violento, mas ela vai sempre sorrindo, porque leva o seu bebé muito escondidinho, dentro da barriguinha dela. _ 13.01.96 Hoje a mamã foi ao médico e tirou uma fotografia ao seu bebé e todos ficámos a saber que é uma menina. Estamos desejosos que a menina saia cá para fora, para lhe darmos muitos beijinhos. _ 23.02.97 Já estás muito grande, ainda escondidinha na tua mamã. A Rita quis tocar na barriguinha, casinha do faz de conta, onde tu estás guardada e deste-lhe um grande pontapé na mão. Nós rimo-nos muito.

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_ 17.03.97 Viram as tuas mãozinhas, os teus pezinhos e a tua carinha na nova ecografia e todos ficaram felizes. A Joana quer que te chames Teresa. A tua avó Arlete ficou muito feliz por ir ter outra netinha, pois gosta muito de meninas. O avô Amílcar estava encantado. _ 18.05.97 Eis que chega o grande dia e dia muito grande mesmo, pois a tua mãe esteve à espera que tu nascesses, desde manhã cedo, até quase à noitinha. Foi tão lindo ver-te mesmo de fugida e contemplar o teu rostozinho bonito! Um fio de vida Num raio de luz Tão escondidinha Em berço d'ouro. Num grito só Sais para o mundo. Bendita sejas Teresa menina Doce mistério Sagrada hora Da tua entrada Na nossa vida Hora tão mágica Cheia de sons De luz e cor Caminha lesta Ao grande encontro Do nosso amor. Nasceste com 3,9 kg e és muito alta. A irmã da tua mãe, o teu tio, o teu primo, os teus avós maternos, a tia Leonor, o tio Nelson, a Madalena, o Zé, o João Francisco, a Rita, a Joana Isabel e nós, teus avós paternos, esperamos-te, com muita alegria.

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_ 21.05.97 Hoje fui fazer a tua matrícula num infantário, perto da tua casa. É muito bonito. Tem lá muitos meninos e meninas pequeninas como tu e as senhoras são muito simpáticas. Só vais para lá quando tiveres três meses e a mamã começar a trabalhar. Hoje mamaste muito bem e quando te fomos visitar dormias muito descansadinha. O pai disse logo: - Não façam barulho, pois podem acordar a menina. _ 24.05.97 Hoje caiu o umbiguinho da Teresa. Ela gosta muito do leitinho da mamã e não se cansa de chupar com sofreguidão o biquinho do peito, donde sai o alimento da vida. _ 18.06.97 A Teresinha hoje fez um mês e a Joaninha convidou-nos para irmos lá a casa comer um bolinho, para festejarmos o mês da irmã. A Teresa dormia regaladamente e a Joana e a Antonieta iam comendo o bolinho feito pela mãe Ana. O João Pedro também fez honras ao bolo e a Joana dizia: - Se o “dad” come, eu também quero. E vá de comerem à porfia. Sabes que hoje li uma redacção muito linda, feita por uma menina de 8 anos, de Genebra. Quando um dia souberes ler vais achar muito engraçada. Eu passo a transcrever-ta: “Uma avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros. As avós não têm nada que fazer, é só estarem ali. Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as folhas nem as lagartas. Nunca dizem despacha-te. Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem atar-nos os sapatos.

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Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior. Uma avó de verdade nunca bate numa criança, zanga-se mas a rir. As avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes. Quando nos lêem histórias, nunca saltam bocados e não se importam de contar a mesma história várias vezes. As avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo. Não são tão fracas como elas dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós. Toda a gente deve fazer o possível por ter uma avó, sobretudo se não tiver televisão.” (In “Enfants de Partout”) Nós agora vamos passear ao Bonfim, no carrinho, pois já estás a começar a choramingar e tu gostas muito de passear ao ar livre. Sabes que mudei de música, para dormires. Aquela era muito suave e parece que gostaste mais desta do Jean Michel Jarre. Eu estou a abanar-te o berço com uma mão (hábitos da tua irmã) e a escrever com a outra. _ 02.07.97 Não fomos só ao Bonfim. Demos uma volta à cidade e todas as pessoas minhas conhecidas diziam: - Ai que linda menina! Sabes que eu já faço umas coisas esquisitas pois não me lembro bem de como era com os meus filhos. Pus-te a fralda ao contrário, com os bonequinhos para trás. No meu tempo não havia fraldas destas. Eram de pano e tinham que se lavar à mão. Ontem quando fomos ao Bonfim, ia-me a custar muito empurrar o carrinho. Parecia que estava pegado ao chão. Então, encontrei uma pessoa amiga que ao ver-me tão aflita me disse que eu levava o carrinho travado.

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_ 02.07.97 Hoje tivemos um encontro muito bonito, Teresinha. Estivemos muito tempo de mão dada e senti o bater do teu coraçãozinho. Estavas dormindo, mas a vida palpitava na tua mãozinha tão pequenina. Depois abriste os olhinhos muito devagarinho e havia tanta luz nos teus olhos! Que mistério tão grande este, desta ligação entre nós, sem tu saberes quem eu sou. Quando o pai chegou, pareceu-me que já conhecias os seus passos, o som que saía do instrumento que ele estava tocando, uma flauta. Será que tudo isto é como eu penso? O que sentirias tu assim caladinha? Quando choras, o som do teu choro é tão lindo, tão meigo, tão pouco violento. Espero que venhas a ser uma menina muito meiguinha, para nossa alegria. A tua irmã Joana também é muito meiga. Quando sai comigo dá-me sempre o braço e eu fico feliz. _ 04.07.97 Hoje fui a uma grande feira de artesanato em Lisboa. Vi lá na feira um carrinho de madeira feito à mão e comprei-o, para quando fores mais crescidinha. _ 08.09.97 Acabei de ler um livro muito lindo que se chama “Vai onde te leva o coração”. De todo o livro, registei muito a parte final. É de uma avó já muito velhinha, que escreve muitas cartas à neta e lhe deixa esta mensagem: “Quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te e vai para onde ele te levar.”

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