Histórias Vividas Tecidas de Amor II (excerto)

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Antonieta Vilhena

Histรณrias Vividas tecidas de

mor




Título Original: “Histórias vividas tecidas de Amor” Autora: Antonieta Vilhena Capa: Diva Almeida Ilustração: Diva Almeida (baseada em fotos da autora)

Execução gráfica: Atelier Gráfico, Setúbal www.ateliergrafico.com.pt Encadernação e acabamentos: MJ Real Imo www.mjrealimo.info

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Antonieta Vilhena

Histรณrias Vividas tecidas de

mor



Os álbuns dos meus netos foram vida com sangue a correr, nas minhas veias cansadas. Em cada um está o meu amor, o meu tempo, a minha alegria de viver. São álbuns de histórias das vidas que eu amo em cada minuto, das melhores horas da sua infância, correndo no tempo, das suas gargalhadas, do seu choro, dos seus encontros, dos seus dias de festa, do infantário, da Escola, dos recreios, da praia, das festas escolares. Foi muito bom ter podido fazê-los e relê-los a cada instante, enchendo as minhas horas de solidão, com tanta alegria. Avó Eta



_ Junho/93

Ao meu neto(a) Antes de Nascer É já tarde para mim A tua vinda Mas eu espero-te ansiosa Sonhando com o teu sorriso, Com os teus olhos, azul violeta Fruto da minha raiz Sonho sentir-te nos meus braços Junto ao meu coração. Ouvir as tuas doces gargalhadas Ou as tuas primeiras palavras Ver dar-te os primeiros passos Caminho da vida em flor. Levo os dias a sonhar Nessa hora sagrada De te sentir junto a mim. Terei tempo? Tempo de vida? Tempo de te contar histórias A do Capuchinho vermelho Ou de fadas encantadas Com a sua varinha de condão? És a criança dos meus sonhos De todas as minhas noites Vejo-te a brincar na praia Com a tua pazinha amarela Vejo-te a saltar no baloiço Ao encontro do destino Fazendo danças de roda Ou jogando ao berlinde. Eu vou esperar a tua vinda Prometo que estarei contigo Quando vier o Outono Estarei também na doce Primavera E quando eu não estiver Hás-de saber quanto te amei Mesmo antes de saber como tu eras.

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_ Novembro de 93 Ao João Francisco Eu vi, eu ouvi. Eu vi como teus pais transformaram a sua casa de jantar num quarto lindo, para receber o seu filhinho. No dia 27 de Outubro eu vi com que ansiedade teu pai te esperava e como ficou feliz quando pôde ver-te de pertinho. Eu vi-te, com o teu avô Celestino e a tua tia Leonor, através dos vidros, chuchando no dedinho, quando acabavas de nascer. Eras tão pequenino, tão indefeso, mas tão cheio de vitalidade, mexendo as mãozinhas, como quase a querer falar-nos. Ouvi a tua mãe falar-te com muita doçura, como se tu pudesses entender tudo o que dizia. Vi a alegria enorme dos teus avós maternos, vaidosos do menino lindo que tu és. Vi a comoção da tua bisavó e o amor dos teus tios maternos. Vi a tua mãe colocar-te ao peito com muita ternura, ajudada pela avó Maria, dar-te o leitinho branco da vida. Vi o amor a explodir no coração do teu avô materno. Ouvi teu pai contar-te histórias que ele inventava: “Era uma vez duas rãzinhas uma em cada mãozinha”. Vi-o mudar-te as fraldinhas, dar-te o banho, ouvir contigo música suave. Vi como ele ensinava a Zara a amar-te e a não te fazer mal. Vi os filmes que o teu avô paterno e o teu pai fizeram, para que um dia mais tarde tu pudesses ver como eras em bebé. Vi-te sorrir, ainda tinhas só meia dúzia de dias. Que pequenina e bem feita era a tua boquinha. Vi quando falavas com as mãozinhas, sem perceber o que querias dizer. Ouvi o teu choro forte mas vi como era suave o teu dormir, como tinhas um ar calmo de menino bom.

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_ 11/11/93 Hoje vi um filme em tua casa e tu tinhas soluços. Era tão engraçado ver-te soluçar, sempre sem parar. Vi a tua tia Alice oferecer-te um patinho amarelo com meiazinhas iguais. Amanhã vens um bocadinho para a minha casa, enquanto os teus pais vão ao Jumbo fazer compras. Parece que vamos ter o nosso 1º grande encontro. Eu hoje ouvi o teu pai dizer que te dá banho, muda as fraldas e nunca aparece no filme porque é ele sempre que está a filmar. _ 12/11/93 Afinal não vieste para a minha casa mas eu fui estar contigo. Foi o nosso primeiro encontro. Nós e a cadela Zara. O teu pai colocou uma música muito linda e ali ficámos os três muito sossegadinhos, sentindo a presença de cada um. Primeiro fazias uma carinha muito aflita como se tivesses uma dorzinha na barriga. Mas depois adormeceste. Tão calmo, tão bonito! Havia uma ligação entre nós muito suave, muito ténue, que nos dava uma grande paz. Foi um momento muito lindo. Tu não falavas, porque não sabias e eu não falava contigo porque estava muito emocionada e não queria perturbar-te. No silêncio, apenas quebrado pelo som harmonioso da música, tivemos o nosso primeiro grande encontro. _ 13/11/93 Ouvi dizer que saíste à rua com os teus pais. O que terias sentido a olhar o mar azul de Albarquel? Grande mistério este de saber o que tu pensas ou o que tu sentes. Quando falo com o Síris ou com a Zara fico sempre também a pensar o que sentirão eles.

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Ouvi dizer que o João Pedro te tinha ido ver. Quero que saibas do entusiasmo dele e da Ana quando te viram. Tive de lhes dar uma foto tua. A Joaninha só fala em ti. Que feliz ela vai ficar quando vir a tua fotografia, de boquinha aberta quase como a querer falar. Tão amado que tu és, João Francisco. Tão deliciosamente esperado por todos. Sentir no jeito de cada um que te olha, a ternura, o calor, o afecto, a dádiva, deve ser muito bom. Será que registas tudo isso? Ou ficas indiferente, chuchando no teu dedinho minúsculo? Jamais poderemos saber destes grandes mistérios da vida. _ 16/11/93 Hoje vieste fazer uma visitinha aos teus avós. Nós não estávamos. Tínhamos ido a Lisboa, mas os teus pais esperaram muito tempo até que viéssemos. O avô Celestino esteve contigo ao colo e parecia que olhavas para ele com muita atenção. Se tu te pudesses queixar havias de dizer que fazíamos muito barulho a falar. Também cá estava o tio Alberto. Tu chuchavas na tua chuchinha, sem ligar nenhuma à barulhada que fazíamos. _ 23/11/93 João Francisco, sabes que hoje fomos a tua casa para o teu avô Celestino ajudar o teu pai a pendurar um armariozinho dos seus tinteiros? O avô fez dois buracos grandes na parede e não conseguia pendurar o armário. O teu pai estava triste pois gostava muito do seu armariozinho. Depois de muito trabalho lá apareceu tudo feito. E tu sempre a dormir, indiferente ao que se estava a passar. Mas estava na hora do banho e a mamã, docemente,

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foi acordar-te com a musiquinha do teu “aparelho de televisão”. Então o avô lá te filmou a tomares o banhinho. O papá lavava-te com muito cuidado e a mamã segurava-te a cabecinha e tu todo encantado. Quando te tiraram do banho choraste, pois só te apetecia estar dentro de água. _ 27/11/93 Joãozinho Hoje fizeste um mês de vida e vieste visitar os avós. Os teus pais foram fazer compras e a tua prima Joana ficou a olhar por ti. Estiveste sempre a dormir. Às vezes chuchavas na língua. O teu pai comprou-te um lindo elefante e pôs-se a conversar contigo e a brincar com dois bonequinhos. Veio visitar-te um amigo dos teus pais e a mulher que é enfermeira. É o Raposo, que tem uma livraria. Apareceu também a tia Leonor que fica sempre encantada contigo. A tia Ana Maria e o João Pedro também te vieram ver. És um menino muito amado. O Doutor Alpendre disse que vais ter olhos cinzentos e eu fiquei muito vaidosa em pensar que vais ter olhos da cor dos meus. A Joana pegou em ti com muito medo de te deixar cair e eu tirei-vos uma fotografia. Vamos ver se ficará boa. Eu gostava muito que ficassem bem bonitos, os meus dois netos queridos. _ 28/11/93 Hoje fui ao supermercado e encontrei a tua mãe e ela disse que estavas no carro. Vim a correr ao teu encontro mas estavas a dormir. O teu pai estava contigo.

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_ 29/11/93 Hoje o avô Celestino fez 68 anos e tu vieste dar-lhe os parabéns. Trazias um casaquinho azul escuro que te ficava muito bem. O pai disse que era fato de cerimónia para festejar os anos do avô. Fizemos muito barulho mas tu não acordaste. Só quando o Síris ladrava é que te mexias. A Ana Maria trouxe-te uma vaquinha muito linda que fazia um barulhinho. E tu dormindo, dormindo um sono repousado de menino feliz. De novo tivemos um encontro muito bonito. Eu fui a tua casa para ficar um bocadinho contigo enquanto os teus pais foram às compras. Pensei ser muito fácil ir a pé, mas a tua casa fica lá muito longe e cheguei cansada. Teu pai deixou-nos uma linda música e foi muito agradável o nosso encontro a três. Sim, porque a Zara também lá estava. Eu descalcei os sapatos e ela foi-me aquecendo os pés com o seu pelinho quente. Depois, já estava escuro e eu não queria acender a luz para não te ferir a vista. Ficámos assim às escuras até o avô Celestino chegar. Voltaste então para o quarto dos papás que chegaram nesse momento. E tu já tinhas fominha, por isso ficaste contente de ver a tua mamã que foi logo dar-te leitinho morno que sai correndo do seu peito. Hoje fui passear com os teus avós maternos que são muito simpáticos. Fomos tomar café a um barco que está parado no rio e se chama Évora. Tu foste passar uns dias a Albufeira com os teus pais e os teus avós ficaram em tua casa, a cuidar da Zara. O avô Celestino lembrou-se de fazer uma brincadeira e telefonou para o Inatel de Albufeira pedindo que chamassem ao telefone o menino João Francisco Moreira mas

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