Maria Só Edição de Autor
Título original “Janelas da Alma” Autora Maria Só (Milú)
Capa Diva Almeida © Crédito Fotográfico gMoura ©
Paginação e Arte Final Divalmeida Atelier Gráfico Impressão e Acabamento Tipografia Rápida de Setúbal, Ld.ª
Tiragem 250 exemplares Edição de Autor 1.ª Edição | Janeiro 2010 Depósito Legal 304119/09
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AGRADECIMENTO
Por tudo que me foi dedicado, a todos que colaboraram e possibilitaram a realização deste sonho, e porque não encontro as palavras certas, deixo o meu profundo sentir. A gratidão sente-se. Maria Só
DEPOIMENTOS
Pelo Projecto Cultural “Poemas do País da Vida”: O Poema sai quando a gente o sente e o quer libertar; Depois de liberto, o Poema pousa na mão que o segura e entra no olhar que o abraça; Desta forma, o Poema percorre o Tempo do Passado, do Presente e do Futuro. Para a Milú, toda a Amizade M.ª José Almeida
Pelo Atelier Gráfico: Este é um grande sonho realizado. Uma janela da alma aberta ao mundo, partilhando os sentires de uma longa vida de luta, de sonhos, fracassos e conquistas. Aproveito a mesma janela para que esvoace através dela o meu mais profundo louvor a esta senhora que aos 84 anos, ainda que tão sofrida e debilitada, mantém uma invulgar e extraordinária vontade de aprender, tentando a todo o custo, mesmo nos momentos impossíveis, e livre de qualquer preconceito, saciar a sede de conhecimento, deixando-nos a todos um legado inesquecível. “O acto de entender é vida”
(Aristóteles)
“Conhecimento: uma pequena luz que ilumina a escuridão” (Textos judaicos) Diva Almeida
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Depoimentos
O Reitor e professores da Oficina de Poesia da Uniseti têm o grato prazer de testemunhar à querida Milú toda a admiração que por ela sentem e o imenso carinho e afecto que lhe dedicam.
Pelo Reitor da Universidade Sénior: Conheço a poetisa Maria Só há muitos anos. Trata-se de uma senhora, de idade avançada, que revela uma sensibilidade fantástica na expressão de sentimentos, ideias e convicções através das palavras. Sabe escrever, memorizar e dizer Poesia como poucos. Aqui presto homenagem a esta grande mulher das Artes e felicito-a pela edição de “Janelas da Alma”. Brissos Lino
Pelos Professores da Oficina de Poesia: Deve ter sido lindo o dia em que nasceu… Um Sol radioso terá afastado todas as nuvens para lhe dar, como tem, um coração cheio de calor humano; uma brisa suave certamente a inundou de delicadeza, tolerância e simpatia; a Lua, discreta, terá oferecido de presente a magia e o sonho; sobretudo Deus tê-la-á distinguido com um Amor sem medida que lhe reconhecemos na relação com as pessoas que com a Milú têm o prazer de se cruzar e, particularmente, no seu diálogo com a Vida. Tudo o resto, que é muito, que é a própria Vida, a si se deve. É mérito seu. Parabéns! Eduarda Gonçalves
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Na nossa passagem pela Vida, neste entrelaçar de caminhos, no decorrer de todo o tempo que nos é permitido viver, há sempre encontros com alguém que nos impressiona de tal forma, que no nosso coração fica de imediato um lugar cativo que lhe é destinado. Foi o que aconteceu quando conheci a Milú, esta MULHER extraordinária, que simboliza bem a grandeza ímpar de todos os grandes valores de um grande ser humano. Agradeço a Deus tê-la colocado no meu caminho. Alexandrina Pereira
Nasce o sol, nasce no lugar onde tudo nasce, onde nasce a paz, onde nasce o amor, onde nasce a amizade. Foi assim que sempre começámos as aulas da Oficina de Poesia, onde a Milú, sempre na primeira fila, nos oferece com amor e com a “ciência” de ter Deus, poemas ditos de cor. Para si, Milú, deixo, com uma verdadeira amizade, um bem-haja pela sua colaboração e paixão pela escrita. Para que nunca esqueçamos o que nos deve mover sempre que escrevemos: “escrever para habitar o amor” Fernando Paulino
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Depoimentos
Para a Milú, com muito, muito carinho e a sincera amizade de todos os colegas da turma de Oficina de Poesia.
Guerreira de Amor e Coragem, serena e doce no trato, te felicito e abraço. Suzete Pereira
Força, nada é impossível às mulheres de coragem. Glicínia Portela
Na Fé e na Esperança a Paz se alcança. M.ª de Lourdes P. Alves
Mesmo no Outono da Vida, permanece na Primavera. M.ª Helena Barata
Como a SOLIDARIEDADE não é uma palavra vã, demos as mãos para atenuar a solidão. Viriato Horta
O Inverno é frio, mas o calor da amizade aquece a alma, conforta o coração e dá coragem… Filomena Lopes
A alegria e a emoção cabem em teu coração. Anna Netto
O teu olhar semeia ondas de ternura. M.ª do Carmo Branco
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A força de VIVER anula tudo o mais… Conceição Portela
Paira no ar a Poesia. A poetisa cria Magia. Inácio Lagarto
Grande valor poético e humano. Memória prodigiosa. Constantino
Para a Milú, o tudo é pouco para agradecer o que me dá. Obrigada, Amiga! Idalece Rocha
Mulher-Coragem, Senhora que tudo faz bem, tudo de bom para ela. Adelaide Palmela
Milú, volta depressa ao nosso convívio; o teu lugar está vazio na sala, mas preenchido no nosso coração. Célia Abreu
Cheira numa flor a inocência de uma criança. Deolinda da Conceição
A poesia une-nos na amizade. Lucinda Neves
A Poesia é a ponte que liga o Homem às Estrelas. Natália
Quanta luz irradia da sua Poesia! Sara Monteiro
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Depoimentos
Poesia… nada é mais forte que a doçura de uma palavra. Custódia Procópio
A ternura de um sorriso pode apagar uma dor. Henrique Mateus
Pomos toda a força no desejo de que a blicação do seu Livro, que foi o sonho da vida, lhe traga a energia vivificadora que propicie, por muitos anos, o privilégio da agradável companhia.
pusua nos sua
Fátima e João Santiago
Para a Poetisa e Mulher a minha profunda admiração. Berta
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PREFÁCIO
“Os poetas são pessoas que conservaram os olhos de criança”
(A. Daudet)
“Eles são, para as gerações futuras, o eco das vozes e dos pensamentos do seu tempo” (Valtour)
Apresentação Não é mais um livro de poesia. Daqueles que aparecem, por capricho ou para cumprir programa, ou apenas por gratificação pessoal. Não precisaria disso quem tem nome feito, antes de qualquer livro publicado. Esta obra, ao nascer, é já uma Antologia preciosa, duma escritora bastante conhecida e apreciada que, quer em jornais, revistas, ou colecções de diversas associações culturais ou até em gravações radiofónicas, se tem imposto a um meio não muito restrito, que a não dispensa, como colaboradora ou apresentadora de sessões e espectáculos dos mais variados, sempre ricos de conteúdo e acção. É, de facto, uma Antologia indispensável, toda feita de sensibilidade rara, de arte e de imaginação, de carinho e de mensagens fora do comum, porque plena de vivências profundas duma vida de entrega aos outros, por imperativo de consciência e ao mesmo tempo de devoção. É uma imposição do público que conhece o valor da autora, de nome simples, poético, qual violeta escondida e recatada de agreste ambiente, para melhor expandir o seu perfume: Janelas da Alma
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Maria Só! É este nome mágico e empolgante que damos hoje a conhecer à grande plateia, como um brinde de valor raro, que não pode ficar no silêncio. As suas poesias são rendilhados de arte, sem artifício, de colorido que não fere, de sabor especial que não se confunde com mais nenhum. Desde o ano em que começou a ser conhecida, num Concurso de Quadra Obrigatória a Mote, com a timidez natural de dois poemas, alcançou, logo em primeira mão, duas menções honrosas, e o seu estro nunca mais parou. Continuou a escrever no silêncio, como gosta de dizer, “e a mostrar raramente a amigos que me diziam para publicar livro, mas não havia hipóteses.” Com certeza, por falta de um mecenas, o que era normal no seu tempo e ainda agora, mas também porque talvez o silêncio fosse, no seu caso, a única condição de sobreviver em paz, no campo social e ou familiar. Por isso confessa que “uma certa indiferença, que me rodeava, me levou a criar o pseudónimo de Maria Só”, acima referido. Escrevia, mas para a gaveta… “Só mais tarde, em 2003, é que a poetisa D. Maria José Almeida me convidou a participar no seu Projecto Cultural “Poemas do País da Vida”, onde através da publicação de colectâneas de poesia e dinâmicas pensantes se partilha a essência humana. Tenho 10 dessas pequenas colectâneas!”- afirma, com um certo júbilo de quem se sente, não só reconhecida, mas sobretudo aceite, por distinção e merecida deferência – o que é verdadeiro! Uma das características desta escritora é a improvisação fácil, em que os poemas lhe saem espontaneamente, para definir situações ou apresentar personalidades que urge realçar, em momentos de homenagem ou de festa. São momentos inesquecíveis vê-la, a declamar aquilo que viveu por si mesma e depois re16
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viveu e saboreou, sem ser por encomenda, o que poderia soar a artifício oco ou insípido. Não vai nesse jogo, como artista que busca o genuíno e que se lhe entrega pelo caminho da simples e natural inspiração. Também não se alimenta de citações, para valorizar o que diz: - é o seu sentir que está em causa, definido a seu gosto, como uma bordadeira ou tecedeira original que cria os seus estilos e impõe as suas ideias, ou como o pintor, sempre sequioso de pincéis, telas e cores sadias, nunca experimentadas, que cria a diferença dos modelos. Criar não é fácil, mas, para quem tem alma de originalidade inventiva, o acto de criar é o seu ambiente natural, é jogar em casa, como o filho que, apenas nascido, sabe onde está a fonte do alimento. Senão, vejamos a riqueza e a abundância dos temas variados e assumidos, ao longo dos cerca de 100 poemas, saídos desta preciosa concha de surpresas, desde a fonte da sua inspiração, a que chama, ora Silêncios… gritantes sem ter voz/ feitos de angústias, saudades, solidões…/ Na crista das montanhas/ Queimando como lava de vulcões/… ora apenas Estados de Alma, ora simplesmente Poesia, à qual pergunta, em título, Quem és Tu? e que a seguir define carinhosamente como aquele brinquedo necessário “que lima as arestas da amargura” ou “o raio de sol que aquece o coração” ou a encantada “varinha de condão, sonho, magia…/ que me procuras, me sentes e me vives, dia a dia!”. Destacamos esta sextilha, como exemplo mais completo: “Poesia é sentir o peito a arder, Cantar o sonho, o amor, cada momento, Em cada esquina da vida oferecer Um hino à Paz e à Liberdade Que brota no meu ser e oiço ao vento, No poema constante que me invade”. Janelas da Alma
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A riqueza do seu temário pode impressionar, não apenas os principiantes, mas até aqueles que já fizeram história, antiga ou recente e se impuseram no meio literário, porque desde muito cedo que Maria Só era fã desse íntimo arcano, a muitos vedado ou até desconhecido. Falando de si própria, o que só revelou muito tarde aos amigos mais chegados, por modéstia e humildade inconfessáveis, mesmo em família, assim ela escreve, acentuando: “Quanto à poesia, amei-a, desde criança. Guardo ainda um caderninho, já amarelado, com poemas dos nossos clássicos. Decorava-os e recitava-os nos aniversários da família” E pouco mais poderia fazer, a avaliar por aquilo que acrescenta e por aquilo que fica por dizer, mas se adivinha… Mas, voltemos, ainda que superficialmente, ao temário que vínhamos seguindo. Não é de admirar que os temas mais usados sejam os familiares: -a Mãe, “esse farol cintilante/ essa luz vigilante/ feita de renúncia e perdão”…; -a Mulher, “o ombro amigo que a família tem/ toda doação/ e vitória de amor/ na palma da tua mão; -a Criança, “toda vestida de esperança/ onde o sonho não tem fronteiras; -a Filha, “Quando nasceste, ó meu Deus, / pus o Céu nos braços meus!...”; -a Amizade, “Tão forte como o amor, mais leal que a paixão/ Como afecto de mãe é fiel no coração…/ ela resiste ao tempo e à idade”; -o Amor, “Sem o amor que era a vida?/ Se ele é quem reina e dá flor/ num anseio sem medida!”; -a Mulher Mãe, “Ela é garra, ela é seda, ela é flor…/ Se em seu ventre novo ser vai ter guarida/ Então é sol, é fogo, é mel, luz, ideal/ Centelha divina a ilumina, doce bem/ Quando, ainda para além de ser mulher, é Mãe!” -sem esquecer os Avós, “esse elo de ligação/ apoio e sabedoria/ Entre cada geração” 18
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Esta é uma pequenina amostra dum temário que nos é familiar e que Maria Só modela, recria e entretece como poucos. Mas nunca ninguém pode esquecer a sua infância, adolescência e juventude e os lugares, secretos ou conhecidos, onde deixou pedacinhos de vida, que nunca mais morrerão. É o caso do seu Poema a Setúbal, “minha cidade de gente alegre e hospitaleira/ orgulhosa de seus filhos/ que a honraram mundo fora/ como o poeta Bocage e Luísa Todi, a cantora…/ por belas praias famosa/ De Albarquel à Figueirinha,/ Até à Arrábida formosa/ que o poeta Gama amou…/ Jóias da cidade minha!” … e que refere de várias formas, ainda quando canta o Meu Rio Azul (O Sado), “a navegar num cruzeiro de magia sem ter fim; ou a ilha de Tróia, “linda pérola de poesia/ namorando a nossa cidade/ Já desde os tempos romanos/ beijada por dois rivais,/ o rio Sado e o Oceano”. É longo e sempre matizado do colorido da vida, qualquer dos assuntos, que poderíamos citar, sem enfado, porque no seu variegado rol nos perderíamos, a gosto, fazendo-lhe companhia, como num rosário que desfia aos nossos olhos, com pormenores que nos deslumbram, seja na descrição -do Social, como os poemas sobre a Paz e a Guerra, A Palavra, Amigos, A Separação…, -do Religioso, que vive intensamente, num caminho da Fé, como o Poema da Criação ou do Arquitecto Divino, Glória, Noite de Natal ou o da invocação pessoal, Ajuda-me, Jesus! etc., -ou pura e simplesmente na paz dos campos ou no silêncio da natureza, como os poemas: Sonhos de Abril, A Ver o Mar…, -ou de índole literária, tais como os poemas dedicados a Bocage, a Sebastião da Gama, O Livro, Quero Aprender Contigo…, -ou nos mistérios do ser humano, que apelidamos de psicológicos…, em que se distinguem Janelas da Alma
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estes: Estados de Alma, Magia, Iguais e Diferentes, etc., -ou, quando se aproxima da gente humilde, mais de perto e descobre As Mãos do Povo / “calejadas e trigueiras/ generosas, carinhosas,/ mãos que salvam e sabem embalar/ força viva dia a dia,/ sabem criar mais valia/ Mãos do povo, Mãos Poesia!” Por isso, está sempre desperta, de janela aberta ao mundo. Isto é, à janela da alma! JANELAS DA ALMA é exactamente o feliz título deste livro, escolha bem significativa da autora, que a si mesma se define deste jeito: “Sou uma mulher sensível, sofrida, mas lutadora, que tem enfrentado grandes problemas, sempre com coragem, para tentar superá-los” “Depois do Curso de Iniciação à Biodinâmica, passei a colaborar na Revista CONTACTO, pertença do Movimento”. Como várias vezes lhe temos ouvido, foi a partir deste Curso de Dinâmica de Grupo (Biodinâmica), que a sua Janela se abriu mais à luz da relação humana, onde terá descoberto, na profundidade do Ser, novos olhos, adquirido outras mãos e outros pés, que lhe imprimiram asas, para poder voar mais além, ao encontro da sua criança adormecida e ler um mundo que lhe faltava ler, talvez o de uma nova infância ou adolescência, não experienciadas, e do aqui e agora que quis aprofundar, a outros níveis, ainda não atingidos, porque só em grupo se pode lá chegar. E de que maneira! É por isso, que ela não perde um Encontro ou uma Reciclagem do Grupo e é primeira, entre as primeiras, no falar, no agir, no poetar ou até representar. Foi, na verdade, no encontro com Maria Isabel Cruz Ferreira, do seu Curso, que começou a pensar a sério em levar a sua mensagem poética ao grande público, pois foi esta colega que, se20
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gundo afirma, pequeno livro. emas e fez o todo artesanal.
“instou para que eu criasse um Foi ela quem me digitou os podesenho da capa. Um trabalho Já lá vão onze anos!”
A partir daí, cada dia que passa, as solicitações desta artista são um crescendo contínuo, como uma mina que se descobriu, a tempo de cada um poder aproveitar o seu quinhão, além do que ela reparte generosamente, hoje sem peias nem falsa modéstia, mas com a simplicidade de quem sabe que “é dando que se recebe sempre mais.” Atentemos na última parte do seu documento escrito: “Depois de criada a UNISETI (Universidade Sénior de Setúbal), logo ingressei nela e passei a colaborar com notícias e poemas no nosso jornal Minerva. Escrevo também no Mensageiro da Poesia, no Seixal. Tenho 5 Colectâneas daí e 4 do Canto do Poeta. Também na Cadeira de Poesia da Universidade, já publicámos 3 Colectâneas. Na participação de vários Concursos, já ganhei menções honrosas no Algarve e possuo uma medalha. Tenho ido a muitos recitais e já enchi uma gaveta, só com diplomas. Gravei um CD na Rádio Azul local, onde vou semanalmente ler poemas e outro CD gravado, nas noites de Música e Poesia, no Bar D. José. E eis o meu percurso de amante da Poesia!” Este depoimento, cheio de simplicidade e também de muito amor e gratificação pessoal, reflecte bem a caminhada que se lhe seguiu e que nunca mais teve paragem, como confessa no seu poema Talvez, em que refere sem saber donde lhe vem: /“esta ânsia incontida de me dar/ a alma posta a nu, a revelar/ emoções que a invadem/ Será pudor ou timidez?/ Que se passa?/ É como uma mordaça/ que me sufoca/ silencia e causa dor./ Janelas da Alma
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Mas vencerá como for/ Meu fiel coração/ me libertará desta prisão/ desatará todos os nós/ e os meus versos andarão/ de mão em mão/ e vos dirão meu Eu/ minha verdade/ a todos vós”. O que acabamos de citar foi apenas uma breve amostra de parte do mundo interior que habita Maria Só e que talvez não tenha dado a imagem que os leitores esperavam da autora… Como não poderia ser de outra forma, porque, na realidade, só poderá conhecer o Convento quem entrar lá dentro, como diz o povo. É esse o caminho que falta percorrer. Aconselho a fazê-lo com calma, meditando, silenciosamente, página a página, verso a verso, palavra a palavra, à luz das janelas da alma de cada um, como ela o fez, nesse adejar suave como a brisa, a que a Poesia nos convida, na descoberta dos caminhos por fazer. Deixo por aqui os estimados leitores, na esperança de ter contribuído, na medida do possível, para a fruição de alguma horas lazer, entregando este valioso brinde nas suas mãos. Felicitações à autora e parabéns aos leitores que tiverem a sorte de poder desfrutar deste seu mundo, às janelas da alma desta apreciada Antologia, que nasce adulta, no tempo, de recorte quase senhorial e nobre, como um desafio de homenagem à sua merecida juventude. Venham mais janelas! Sá Vieira* Lisboa, Maio/2009
*Professor, psicólogo e escritor, autor dos seguintes livros de poesia: No Silêncio do Verbo (Beiras); O Tecido da Esperança (Angola); Passaporte Visado (Lisboa) e mais de 20 títulos, que vão da História à Psicologia, com 14 Obras prefaciadas.
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Janelas da Alma Abertas de par em par, convidando-vos a conhecer-me.
MIRAGEM
Quisera poder ir por esse mundo Quão caprichoso vai meu pensamento Ora ligeiro e ledo, ora profundo Deter-me aonde o bem fosse fecundo Passar pelo mal mais rápida que o vento. Aspirar do amor todo o prazer Sem ressaibos de dor nem amargura E na fonte da vida conhecer Onde alegria e rosas só beber Ignorando a tristeza, a desventura. Aguardar sem receios o porvir E pelo céu ser sempre protegida Sem ter porque chorar, apenas saber rir E alheia às leis do tempo possuir A minha mocidade toda a vida. - 1942
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MENINA
Menina só sem carinhos Órfã de afagos de mãe Mas tal como os passarinhos Para sonhar asas tem. E o sonho não tem fronteiras Toda vestida de esperança Tenta derrubar barreiras Crendo que quem espera alcança. Menina a florescer, já ama, já é mulher. Traz no seu olhar profundo Toda a beleza do mundo Que quer dar e receber. Menina, vive feliz Tua doce primavera Que o tempo veloz não espera Procura a felicidade Canta um hino à alegria Que a vida passa e um dia Já só te resta a saudade. - 1943
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UM SONHO
Declina o dia, lenta, lentamente Na hora que convida a meditar E eu sinto que me invade tristemente Profunda angústia e quedo-me a cismar Tudo em redor de mim é dor e crueldade Batem-se o mal e o bem já contundidos No firmamento há guerra No mar há tempestade Em que lutam os bravos Mas são por fim vencidos Foi renegada a fé e corta o coração O luto e a orfandade Sem peito a que se arrime Porque um feroz egoísmo e a ambição Os seres dominaram levando-os ao crime Da minha alma ao céu sobe uma prece Para que entre os homens nasça a irmandade Reviva a paz que quase já perece E lavre a Luz da Fé, Esperança e Caridade Como por milagre, ao triste pôr do dia Sucede-se uma aurora radiosa e deslumbrante De paz, de luz e pão, respira-se alegria E soa das crianças o riso radiante O céu é todo azul, o sol é de ouro O mar é calmo, voltou a Fé perdida Reina no mundo o amor, doce tesouro Bendito Deus, que bela que é a vida! Mas, oh desilusão, quando acordada Expulsa das paragens irreais Constato com surpresa, magoada Que fora um sonho apenas, nada mais... - 1945
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PEL A PAZ
Naquele lar humilde e desolado Em que a desgraça suas garras ferra A dolorosa mãe de olhar angustiado Chora a perda do amparo abençoado Morto na guerra Enquanto noutra casa em que a ventura O seu lugar cedeu à dor que aterra A esposa aniquilada p'la amargura Chora o companheiro amado com ternura Morto na guerra E na escola ao recreio, dos outros afastado Um quadro oferece que só tristeza encerra Um petiz não brinca, o olhar magoado Chorando com saudade o pai tão adorado Morto na guerra Quantos exemplos, quantos, como este Todos os dias lavrou por sobre a terra Gerando a morte, o luto, a fome, a peste Esse dragão que com o mundo investe E que se chama guerra
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Maria Só
E agora que das suas crueldades Por toda a parte o rasto é bem visível E se empenham p'la paz boas vontades Que 'inda haja quem prepare hostilidades Parece incrível E recruta-se a ciência p'ra matar Como se não bastasse a destruição E valores que melhor fora aproveitar Em prol da humanidade irão lançar Maior devastação Portugueses irmãos Se é matadouro humano A guerra infernal Aos céus roguemos E juremos lutar P'ra que sempre a paz possa reinar No nosso Portugal - 1946
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A FLORISTA
Na praça movimentada A todos dava nas vistas De flores emoldurada Graciosa e perfumada A mais linda das floristas Das rosas tinha a beleza Como os lírios era pura Da violeta a singeleza Possuía, e concerteza Todas ganhava em frescura E entre as flores que vendia Por todos era benquista Como a flor da alegria E toda a praça sorria No sorriso da florista Até que um dia o amor Tocou o seu coração E um terno olhar sedutor Implorante mas traidor Seu peito encheu de paixão Deu-se em amor e beleza Ao leviano egoísta Que roubou sua riqueza A alegria e a pureza E abandonou a florista E a multidão apressada Vendo-a triste não entende Que já não sorri, coitada Porque é flor abandonada Entre as flores que hoje vende. - 1947
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A AMIZADE
Sabe quem viveu a desventura Encontrando uma afeição sincera e pura Que é como em rude temporal achar abrigo Nas horas tristes, um coração amigo. Quantas almas que a dor já condenara A mergulhar no caos da desesperança Foram salvas por essa chama rara Que conforta e restitui a confiança. Tão forte como o amor Mais leal que a paixão Como afecto de mãe é fiel no coração Constante, ela resiste ao tempo e à idade É dádiva de Deus aos filhos seus Seu nome é a AMIZADE. - 1948
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S AUDADE
Saudade, és bem portuguesa atinges profundamente a alma da nossa gente sempre que há separação veste de mágoa e tristeza pelo bem que está ausente nosso luso coração Saudade, sofrimento ‘inda maior se parte para sempre alguém não há regresso, há só dor morreu a esperança d’amor é como morrer também principalmente se for no coração duma mãe Saudade, tu dóis mais suavemente se está prestes a chegar o amor que esteve ausente e breve se vai beijar... Mas a que meu peito invade e ainda não compreendi é esta estranha saudade dum Bem que ainda não vivi - 1948
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MAGIA
Ai se eu pudesse pintar Com paleta de magia Onde a vida era sombria Pintava um sol de esplendor Que iria transformar O frio em luz e calor. A uma menina tristonha Pintava-lhe no colinho Uma boneca risonha E na mãozinha rosada Um bombom muito docinho E ela sorria encantada. A um menino doente Que não tem com quem brincar Pintava-lhe um carrossel Onde ele a rodopiar Já sozinho se não sente De olhar feliz a brilhar. A jardins abandonados Pintava-os de mil cores Lindos tão cheios de flores Que os velhinhos voltariam A passear e recordar Quando em novos lá iam De mão na mão namorar. E para mim… que decidir? Talvez pincelar o meu nariz Para que ao ver todos a rir Julgasse que era feliz. - 1949
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AJUDA-ME, JESUS
Neste mundo em que vivemos Sob o olhar do mesmo Deus Como é crível que ignoremos Tanta dor em filhos seus? Se é tão grata esta certeza De um só gesto de carinho Poder curar a tristeza De quem cruza o meu caminho Como é que não vejo então Quem sofre perto de mim Abre bem meu coração Ó meu Jesus p'ra que assim Não peque por omissão Ajuda-me a ser bordão Ajuda-me a sarar dor Ser paz, justiça, perdão Bondade a cada momento E ao seguir teu mandamento Que é mandamento de amor Seja amar minha missão - 1953
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Maria Só
EU VOU PEL A VIDA
Eu vou pela vida buscando a tua luz Vacilo e tropeço, tu sabes, Jesus Nos rudes atalhos que a vida contém Me firo, me rasgo, mas nada detém Este anseio louco de ir mais além Escolhi o caminho, vou p'la porta estreita À beira do abismo o pecado espreita Mas sei que contigo eu encontrarei O fim da jornada em que me empenhei És misericórdia, meu Jesus, eu sei Tira dos olhos o pranto e a dor P'ra que eles contemplem Todo o teu esplendor Cegos para o mal sigam só tua luz Pois pobre que sou de matéria impura Como ascender à tua altura Se não me estenderes tua mão, Jesus? - 1955
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MINHA FILHA
Quando nasceste, o meu Deus Pôs o céu nos braços meus Deslumbramento, alvoroço Sentir os bracinhos teus À volta do meu pescoço. Os teus risos e os teus prantos Ri e chorei-os também No meu coração de mãe Como dói se amando tanto Eu não sei amar-te bem. Nas horas duras, querida Quis sempre poupar-te a dor Talvez que mal sucedida Mas ver-te feliz na vida Foi o meu sonho maior. Vou rezar p'la vida fora Todos os dias, meu bem P'ra que te guie hora a hora A Mãe das Mães, a Senhora Que é Mãe do meu Deus também. - 1956 / 60
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CRIANÇA
Um hino de glória vai subindo ao Céu Quando a mãe cansada e deslumbrada (mas ainda dorida) Acolhe nos braços seus Essa dádiva de Deus… Um filho! Escreveu-se o poema mais belo da vida. Depois, anseios dobrados, angústias, cuidados E tanta noite perdida Um passinho inseguro uma mãozinha estendida Apontam-nos o futuro Dão novo sentido à vida. Crianças, crianças, são sóis bem quentinhos Que aquecem Invernos, velhinhos, mas ternos De seus avozinhos Belas, adoráveis, por vezes implacáveis Não haja ilusões Julgam sem piedade, exigem verdade E dão-nos lições. Crianças, crianças, da vida o melhor Criança é amor E eu sei, graças ao Senhor Que fui mãe também E essa emoção, sentida Sofrida como hora maior Jamais é esquecida Crianças, crianças, benditas crianças Sois bragal de esperanças, na arca da Vida. - 1960
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OBRIGADA, MEU DEUS
No esplendor do sol Trina o rouxinol Sinto a mão de Deus Soutos e valados Nascentes, ribeiros Planuras e outeiros Vejo a mão de Deus Nos vales e montes No cantar das fontes Na seara que se agita Na seiva que palpita Na águia que grita Sob o azul dos Céus está a mão de Deus Plantas a brotar Vida a germinar Dunas, areais Fragas e ilhéus O imenso mar E a prata do luar São obra de Deus Beleza em orgia Os sons e os odores Na festa das flores Numa sinfonia que me inebria E me faz quedar muda, extasiada Por tanta grandeza da Mãe Natureza Milagre de amor do Pai Criador E minha alma enlevada Só sabe dizer Meu Deus, obrigada. - 1965
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Maria Só
MÃE
Mãe silenciosa calma Quantas vezes perdida de cansaço Mas o amor vibrando em sua alma De mãos suaves, serenas Abre o acolhedor regaço E nele sara feridas e suaviza penas. Mãe, farol cintilante Se um filho errante O Norte perdeu Sua luz vigilante Traz o mareante Ao refúgio seu. Mãe, renúncia, perdão Em paz e amor Dá-se dia a dia E a luz que irradia Do seu coração É pura POESIA. - 1975
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TE ESPERAREI
Eu sei que chegarás E todo o mundo então tu mudarás Já uma vez vieste e todo a nós te deste Na Cruz p'ra nos salvar A Cruz que ficou sempre a te lembrar Oh, meu Jesus de paz Eu sei que voltarás Cada Natal o aço duro abrandarás E o mais vil em puro tornarás Porque é Natal Cada Natal, meu menino Jesus Virás trazer aos homens nova luz E aos famintos de amor, justiça e paz Eu sei que chegarás Pelas crianças que sofrem, pelos velhos Te peço de mãos postas de joelhos Pela paz, pelo amor, pela união Por cada irmão E a teus pés te ofereço As alegrias que tenho e nem mereço Por que a dor e o sofrimento tem um preço E às vezes desespero Mas porque te venero e creio em ti, Jesus Eu sei que a perdoar virás E então com a dor e o amor Que há em meu coração Num grito te direi Eu sei que chegarás, oh! sim, eu sei Jesus te esperarei. - 1975
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SONHO DE ABRIL
Na alvorada da esperança Sonho primaveril Corações batendo forte Numa manhã de Abril Que iria mudar a sorte. Raiar da liberdade Que ficou na historia Como bela memória Da façanha viril Dos Capitães de Abril. Vivem no coração Belas canções ecoando Vitória, Liberdade Depois, desilusão De cravos murchando E hoje, saudade. E fica escrito aqui Que só do exemplo de amor Que dermos à criança Na justiça, no valor e na verdade Irá surgir o Bem, a Paz e a Esperança Abril de um mundo novo, vem daí. - 1976
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PENS AMENTOS
Quem não ama a Natureza um sorriso ou um carinho é infeliz com certeza pois vai ficando sozinho A razão e o coração devem sempre equilibrar-se se só impera a razão o coração vai fechar-se Não há maior vitória que mesmo em horas más vivermos a glória do coração em paz Na madrugada dum novo dia surgem na Natureza sinais de que tudo se renova da dor pode surgir a beleza e a alegria Quando erramos somos julgados por três tribunais diferentes o da nossa consciência tolerante o do mundo implacável e o do nosso Deus infinitamente misericordioso A força do coração está na verdade na justiça, no perdão e no amor sem medida nem idade - 1979
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Maria Só
A VER O MAR
Do mar me abeirava e olhava quantas vezes? Já não sei! Junto àquela imensidão dei asas ao coração e ele voava, voava e a minha prece elevava; ali junto ao mar chorei olhei o céu e rezei quantas vezes? Já não sei! Do mar me abeirava e olhava quantas vezes? Já não sei! Fitava o céu e então pedi ao meu coração que voasse por favor bem alto até vós, Senhor levando a minha oração; quantas vezes lhos roguei quantas vezes? Já não sei! - 1980
Janelas da Alma
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MARIA SÓ
Se há sol e flores, crianças a brincar O mar imenso e noites de luar Se Deus criou tanta beleza, então Porquê tanta tristeza? Porque vive em mim Tamanha solidão? No deserto perdida, sonhos feitos em pó Eu caminho vencida, sem esperança na vida Uma Maria só, tão só… Mas eis que me desperta, voz firme mas calma Que toca a minha alma E me deixa alerta… E escuto Mulher, põe-te de pé Lembra essa Graça que te dei A Fé. Se sabes perdoar e tens no coração Algo de bom para dar Ajuda o teu irmão Terás para viver uma razão. Arrependida, ao céu peço perdão A Voz em mim calou, a Voz ideal Das trevas surgiu luz Afinal não sou Maria só, não sou. Comigo, está Jesus. - 1980
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Maria Só
A PRIMEIRA COMUNHÃO
Como avezinhas de asas abertas À descoberta do Teu Amor Com alegria em tão lindo dia Somos oferta para Ti, Senhor Nossa promessa que nunca esqueça Aqui depomos aos pés da Cruz O coração dar a cada irmão Como ensinaste, meu bom Jesus Somos crianças, Tuas esperanças Faz dos botões que serão flor P'la vida fora em cada hora Por Tua Graça frutos de amor. - 1982
Janelas da Alma
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ESTADOS DE ALMA
Quando eu partir não me lamentem até pode ser libertação que vale uma vida em solidão como entre tanta gente os sós se sentem! Se quem semeia cria, onde é que errei? Se me dei toda, toda! O que encontrei? Se mal amada ainda e sempre amei diz-me porquê, meu Deus, eu não sei. Condenada a caminhar hoje vencida dos sonhos que sonhei desiludida com secura e frieza ao meu redor faminta sou de amor. E agora a esperança já me abandonou quanto mais aspirei a vida me negou Deus sabe que lutei, pobre de mim só tenho certo o fim. O meu refúgio é somente a minha fé. - 1984
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Maria Só
TESTEMUNHO DE UMA CATEQUISTA
Faz tempo, foi a chamada Tudo se mobilizou Nós, os pais e a criançada Deu-se início à caminhada E o Senhor nos ajudou Quase um ano assim ficámos Companheiros de viagem A Jesus nos confiámos Vivemos e partilhámos Sua Palavra e Mensagem Nos corações das crianças Cresceu a Fé em Jesus Nos nossos vive a esperança De alcançar a semelhança Dos seus caminhos de Luz E é finda a nossa jornada Mas nada aqui terminou Após esta caminhada Com Jesus na mesma estrada Mais Amor em nós ficou Amor que anunciaremos Jesus viveu para amar Graças pelo Amor que demos Perdão p'lo que não soubemos Mas quisemos também dar Cá estaremos novamente Para ano haja o que houver Mais unidos certamente Diremos todos presente Será como Deus quiser. - 1986
Janelas da Alma
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QUE É DO MEU SONHO?
Que é desse sonho tão lindo Que um dia habitou em mim E era sol quente florindo O meu coração abrindo Em radioso jardim? Que é do sonho desfolhado? Mergulho em mim, onde está? Foi pássaro destroçado De encontro ao muro farpado Da solidão que em mim há. No meu jardim de ternura Só há pétalas no chão E um vendaval de amargura Bem irmão da noite escura Cresce no meu coração. Mas eis o sol que abençoa Primavera a ressurgir A vida torna a sorrir Cai semente em terra boa Meu jardim volta a florir. - 1985 / 89
Janelas da Alma
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ATÉ QUANDO?
Já vem dos meus sonhos de criança A ânsia do direito à esperança No livro da vida todos pudessem ler E os vazios de justiça e de afectos Não fossem mais analfabetos A abater fora da balança. E vou-me perguntando Enquanto o mundo avança Porque há excluídos e eleitos Se todos devem ter iguais direitos Porque suam tantos numa luta inglória Valores a que negam a vitória Rosas a desabrochar que vão pisando Até quando? Até quando? - 1985 / 90
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Maria Só
POESIA
Vestida de esperança, qual criança Numa nuvem voei, em liberdade Quase o céu alcancei, era magia Quando acordei, chorei saudade E só a dor se acalma Quando em minha alma Sinto a poesia Poesia é sonho, ansiedade Ais que se soltaram Da alma num grito É pranto de adeus Num mar infinito De dor e saudade Onde se afogaram Pobres sonhos meus Num país de poetas vou vogando No peito um coração que não comando Vai-me levando em clima de emoção E assim vivo entre o sonho e a ilusão Perguntando pela vida, dia a dia Donde me vem a essência da poesia Poesia é sentir o peito a arder Cantar o sonho e o amor cada momento Em cada esquina da vida oferecer Um hino à paz e à liberdade Que brota do meu ser e iço ao vento No poema constante que me invade - 1985 / 90
Janelas da Alma
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TALVEZ
Talvez não saiba bem donde me vem Esta ânsia incontida de me dar A alma posta a nu a revelar Emoções que a invadem, mas por vezes Não sei se é pudor ou timidez Que se passa? É como uma mordaça Que me sufoca, silencia e causa dor. Mas vencerá meu coração Libertar-me-á dessa prisão Desatará todos os nós Meus versos andarão de mão em mão E então dirão Eu e a minha verdade A todos vós. - 1985 / 90
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Maria Só
SÓ
Sem piedade, sem dó A morte veio e partiste Para sempre nos separou E a minha alma ficou Ainda mais só e triste. Amigo, amigo amado Amigo que já perdi Como dói termos estado Quantas vezes lado a lado Perto e tão longe de ti Lamento, hoje é verdade Silêncios que não quebrei Profunda mágoa me invade E agora tenho saudade Dos beijos que te não dei. - 1989
Janelas da Alma
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POEMA A SETÚBAL
Setúbal minha cidade Tens encantos sem igual E eu tenho muita vaidade De ser daqui natural. Urbe de trabalhadores Operários, pescadores Na faina buscam seu pão Valentes fazem-se ao mar Que nem sempre os vai poupar E arriscam a vida então Mas depois vem a bonança E até onde a vista alcança O rio azul é esplendor O céu também gosta dele E ao reflectir-se nele Deu-lhe esta famosa cor. Gente alegre, hospitaleira Que nos Santos populares Dá largas aos seus cantares À roda duma fogueira. Orgulhosa de seus filhos Que a honraram mundo fora Como o poeta Bocage Ou Luísa Todi a cantora.
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Maria Só
De belas praias famosa De Albarquel à Figueirinha Até à Arrábida formosa Que o poeta Gama amou E lá viveu e a cantou Jóias da cidade minha. Para melhor a contemplar Subo ao velhinho castelo A ver o rio azul tão belo Nossa cidade beijar. E por fim ao admirar Os extensos areais As águas mansas e puras Da nossa Tróia tão bela Maravilhosa aguarela No intenso azul a brilhar Para o céu lá nas alturas Sobe a minha prece ardente Meu Deus de infinda bondade Protege a minha cidade E abençoa a sua gente. - 1992
Janelas da Alma
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A POESIA S ABE QUE A PROCURO
Sonhos ansiedade Nostalgia saudade Embalam minha alma E anseio na poesia A seiva que me acalma Busco verdades que não vejo E estão na ternura dum beijo fugidio. Quando o dia é mais sombrio No meu rosto molhado Corre o pranto magoado Só, no meu canto em desencanto Como cega busco a luz Onde está? Quem me conduz? O que persigo, que me seduz? A poesia sabe que a procuro Porque não vem morar aqui comigo? E atarei as pontas do meu sonho Com fitas de alegria e esperança Cantarei bem alto um hino à criança Onde reside a aurora dum porvir risonho De paz de amor e esperança E acontecerá POESIA. - 1995 / 97
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Maria Só
ETAPAS
Era a esperança, Alvas madrugadas Poentes rosados, prata no luar Sonhos e desejos, afectos e beijos Risos de criança, o sol a brilhar A fé e o amor, flores em botão No altar da vida que é o coração. O tempo mudou, o mar se encrespou E surgiu a dor Lutas tempestades, angústias, saudades Dum bem que passou e jamais voltou Solidão maior, ausência de amor. E o ensinamento que ano após ano Com o desengano a vida nos traz É a sabedoria da aceitação Na consciência do eu Que gritou sem voz Até descobrir através do irmão A essência da paz cá dentro de nós. - 1995 / 97
Janelas da Alma
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SER MULHER
Ser um sol que aquece o coração dorido Em vendavais de dor, porto de abrigo Quando perdida a fé e há desencanto Ser ombro amigo para secar o pranto. Ser amanhecer de um novo dia Mensageiro de paz e harmonia Ser amar, amar sua razão de ser Esquecida de si mesma, não esquecer. Ser estrela que dá luz à sombra escura Essência de renúncia e de ternura Um beijo de doçura onde estiver Ser assim é… ser MULHER. - 1995 / 97
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Maria Só
A PAL AVRA
Palavra é comunicação Um complemento importante O elo de ligação Com o nosso semelhante Uma palavra somente De amizade e esperança Leva apoio e confiança Se a solidão está presente Palavras boas, abraços Doces beijos de ternura São fortes, apertam laços Desfazem muita amargura Guerra, egoísmo, maldade Tiranias, maldições Invejas e ambições Palavras de crueldade Dádivas, sonho, criança Sorrisos, beijo, flor Renúncia, perdão, esperança lindas palavras de amor E há uma breve singela A maior que o mundo tem Está num altar, a mais bela A doce palavra mãe - 1995 / 97
Janelas da Alma
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ACÇÃO DE GRAÇAS
Foi um sonho acarinhado Longo tempo acalentado Dentro do peito da gente Fazia falta uma Igreja Verdade, verdade seja Fazia falta, era urgente. O tempo foi decorrendo O nosso anseio crescendo E um dia se fez projecto Perfeito, delineado Com toda a dedicação E os fieis contribuindo Para a sua execução. Lançou-se a primeira pedra Espaço já oferecido Mas faltava ainda tanto P'ra o sonho ser convertido. Houve ajudas de valia Promessas, empenhamentos Também houve impedimentos Demoras e contratempos Quanto problema surgia… Mas se alguém desanimava São Paulo nos recordava Tudo posso, tudo posso Naqu'Ele que me dá força E a esperança persistia E o Padre não desistia Quantos passos ele deu Quantas cartas escreveu A Igreja bem mereceu.
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Maria Só
Quando o projecto vingou E a obra se iniciou Que alegria benfazeja Paredes foram subindo E o sonho tornou-se Igreja. Surgiu finalmente o dia Radiante de alegria, pleno de felicidade Eis aqui a nossa Igreja Tornada realidade. Linda, bela, acolhedora Sobre o Altar abençoado Está Cristo Ressuscitado Tem seu Patrono São Paulo E a Virgem Nossa Senhora. Hoje a Igreja de São Paulo Resplandecente de luz Vestiu galas adornada Para ser abençoada Pelas Graças de Jesus. Parabéns Padre Gusmão Há festa em seu coração E em toda a comunidade Parabéns pela sua Igreja Sobe aos Céus nosso louvor Bendito e Louvado seja O Bom Jesus Deus de Amor. - 1997
Janelas da Alma
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A VIDA
Anseios, desilusões Projectos, sonhos, miragens Cobardias ou coragens Esperança ou dor nos corações. Horizontes de esplendor Ou uma viela estreita Onde não cresce uma flor Onde a beleza não espreita E a esperança já perdida São os contrastes da vida. Nesta amálgama de dons É que o homem se caldeia. E faz as suas opções Por isso há os maus e os bons Coabita o vil e o génio À beira de outro milénio. Há o que usa astúcia e manha E o que por bem se norteia Que sobe a pulso a montanha E o fraco no vão esperneia. Mas só encontrou vitória Aquele que foi leal Não subiu pisando o irmão Mas antes lhe deu a mão. E é esta a moral da história História da vida afinal. - 1998
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Maria Só
PROVAVELMENTE ALEGRIA
Se amanhece um lindo dia Se meu irmão está sorrindo Se os sons trazem melodia A minha alma está sentindo Serenidade e harmonia. Ao ver crianças brincando Em folguedos no jardim Com as flores despontando O quadro é belo, é encanto Que penetra fundo em mim. E então, pergunto ao meu coração Que sonha com a paz no mundo Numa ânsia desmedida Que vislumbro lá no fundo? Realidade ou fantasia? Se o sonho mudasse o mundo Provavelmente… alegria. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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ESCREVO PORQUÊ E PARA QUÊ?
Escrevo porque me é grato passar Ao papel as minhas emoções Escrevo para assim vos revelar Das horas boas ou más as sensações O sonho é lindo, a esperança me invade Sinto o sol, o brilho e a beleza Mas se do Bem que anseio há só saudade Nuvens velam minha alma de tristeza E assim da dor e do amor brotam rimas Pois és tu, Poesia, que me animas De comandar meu ser tens o condão Nestes voos buscando Paz e Amor em cada dia O espírito se eleva em sintonia Escrevo e abro assim meu coração - 1998 / 04
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Maria Só
NUVENS ROS ADAS
Por vezes, ao pôr do sol Nuvens transparentes, rosadas Iluminadas sob um lindo e azul lençol Fazem lembrar almofadas Macias… a convidar... A quando o dia terminar Nelas se vá reclinar. A sensação que me invade É de doce serenidade. Mais tarde, o dia já repousado Novamente irá raiar Envergonhado, já se escondeu o luar Tudo ganha um tom rosado E as nuvens transparentes, rosadas Iluminadas no Céu Têm tanta, tanta beleza Que a madrugada fica acesa E este poema, nasceu. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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SOMOS PEREGRINOS
Quem na vida não foi peregrino Em busca de um bem ainda quimera Numa ansiedade sem definição O próprio coração em desatino… Ciclicamente a natureza se renova E assim revivemos Em manhãs de primavera E o sonho continua sem ter fim No canteiro da vida fui colhendo Risos e prantos, dores e alegrias Fiz um ramo com amor Pus-lhe uma fita de cor E aqui o estou oferecendo Todo envolto em poesia - 1998 / 04
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Maria Só
SEBASTIÃO DA GAMA
Arrábida majestosa Foi a musa gloriosa Do Poeta Gama amado Nela viveu deslumbrado E a chamou de Serra Mãe Enamorado fiel Lá viveu feliz noivado E a elegeu para sua lua de mel. Ventos da serra gemendo Nascentes cantando Auroras rosadas Poentes dourados Nos falam de si E lá em baixo O mar azul murmurando Nos estão lembrando Que continua vivo ali Sebastião da Gama Tudo nos diz que foi ali Que foi feliz, feliz, feliz. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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MÃOS DO POVO
Mãos do povo, calejadas e trigueiras Lutam em grandes canseiras Malham ferro, enfrentam o mar bravio Com a vida por um fio Nas obras, constroem um mundo novo Mãos do povo, na luta pelo seu pão São versos de uma canção. Semeiam, amassam pão Que vai a cozer no forno E à noite no leito morno Sabem acariciar E semeiam novas vidas Mãos do povo na batalha Por vezes sem uma migalha Em esperanças mal contidas. Mãos do povo, generosas, carinhosas Mãos que salvam e que sabem embalar Força viva dia a dia Sabem criar mais valia Mãos do povo, mãos Poesia. - 1998 04
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Maria Só
SONHOS
O mundo dos meus sonhos não existe A realidade hoje é tão brutal… Dos quadros tristes, o mais triste São armas nas mãos duma criança Que vai crescer assim sem paz Sem esperança Sem amor, sem Natal. O pranto molha o meu rosto Enrugado de desgosto Mas temos todos que lutar De qualquer jeito… Com a força da Fé que nos anima As crianças poderão realizar Muitos sonhos de encantar Como foram os meus sonhos de menina. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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O MAR
Nasci perto do mar Por isso ele me atrai Na sua beleza e majestade Como ele meu pensamento vai Ora sereno e doce em calmaria Ora em vagas alterosas, tempestade. É sortilégio? É magia que o mar tem sobre mim? Selvagem, belo e altaneiro Quem sabe me leva um dia Todo sonho e fantasia Num cruzeiro De feitiço sem ter fim - 1998 / 04
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Maria Só
QUEIXUMES
Não vinham de longe não Mas que doía, doía Queixumes, inquietação Donde me vinham então Os queixumes que sentia? Como do vento gemendo Ou sons de sinos plangendo Era triste, muito triste Qual lamento de criança Ou sopro de adeus à esperança Que em minha alma não existe. Era bem perto, era aqui Numa dor sempre presente… De súbito estremeci O enigma decifrado Esses sons que então senti Era a batida dolente Do meu coração magoado. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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O QUE NOS MOVE
Uma fé profunda, inabalável Uma força maior que nos conduz Na luta pelo bem admirável Onde encontramos paz, justiça e luz. Sentir na alma o céu duma alvorada Saborear a chuva a deslizar no rosto Contemplar a beleza do sol-posto E o mar bravio que admiramos. Abraçar amigos, criar esperanças É isso que nos faz sentir alguém Fazer nascer sorrisos nas crianças É a nossa glória, contra o mal lutamos. E se alcançamos a vitória Com um sorriso, um beijo ou uma flor O que nos move… é o AMOR. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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UMA SEARA SE AGITA
Ondulante em movimento a seara se agita em murmúrios são os segredos do vento? Ou dos ceifeiros o lamento na sina de quem trabalha sem ter ninguém que lhe valha? Ela se agita e palpita o murmúrio é mais profundo como mulher que se dá e mata a fome ao mundo. Cai a noite e ao luar estrelas a vêm beijam. O sol nasce e vem dourá-la e as papoilas a enfeitá-la são um hino à Natureza como uma reza agitada pelo vento a seara é um altar pão e vida em movimento. - 1998 / 04
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Maria Só
POETA
O poeta, homem só, não pode ser Pode sangrar de cansaço Pode morrer de tormento Mas se alcança num abraço Estrelas no firmamento É glória nesse momento Nascente sempre a correr. Com as sombras do passado Tece um soberbo bordado Intemporal obra de arte E que melhor companhia Iça ao alto o seu estandarte Que é a força da poesia. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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SETÚBAL EM POESIA
Arrábida, a Princesa Festival da natureza Verdes e azuis em orgia Contempla altiva, encantada A nossa Tróia tão bela Maravilhosa aguarela Lá do alto, assiste deslumbrada Ao noivado do Céu com o rio Sado Dessa boda abençoada Nasce este azul de magia E com a urbe enamorada Eis Setúbal em poesia. - 1998 / 04
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Maria Só
SILÊNCIOS DENTRO DE NÓS
Há silêncios gritantes sem ter voz Feitos de angústias, saudades, solidões Numa revolta surda, imensa, atroz Na crista das montanhas Das nossas ilusões Queimando como lava de vulcões Silêncios que habitam fundo em nós E há silêncios que revelam a vitória Do amor, da tolerância e do perdão Sobre o egoísmo, o ódio e a vingança E ainda que tremendamente sós Inundando de Paz o coração São silêncios de glória que há em nós Por entre beijos não dados E afectos amordaçados O sonho corre veloz Anseios mudos e prantos Silêncios habitam tantos Gritando dentro de nós. - 1998 / 04
Janelas da Alma
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UMA VIDA
Nas asas do vento Livre o pensamento Bem alto voei Pelo sol beijada De luz inebriada Um dia… sonhei, sonhei. Na minha ilusão O mundo na mão Seguro julguei Coração sem freios Em loucos anseios Um dia… amei, amei. Mais tarde o sabor Amargo da dor Bem fundo provei Espinhos da vida Deixaram-me ferida Um dia… chorei, chorei. E agora no fim Pedaços de mim Por aí deixei Pelo que dei à vida Lembrada ou esquecida Um dia… serei, serei. - 1999
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Maria Só
O ARQUITECTO DIVINO
Se os homens dessem as mãos Solidários como irmãos Num ideal de paz e amor Gerando felicidade Como a vida era melhor Quanto melhor na verdade E Deus foi tão generoso Deu-lhes alma, inteligência E um mundo maravilhoso Para com arte e ciência Tornarem mais precioso Mas o homem na ambição desmedida De mais ter que ser na vida Usa essas capacidades Constrói pontes, catedrais Estradas, barragens, cidades Mas não pára, não pára para sonhar
Janelas da Alma
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E o sonho é que doira a vida E o coração faz vibrar Vendo uma flor a brotar Uma noite de luar Ou um sorriso de criança Doce mensagem de esperança De nova aurora a raiar Se essa emoção já perdeu Pobre homem em desatino A pensar não se detém Que o Arquitecto Divino No dia da criação Tudo pôs na sua mão P'ra viver em paz e bem Só que ele não entendeu Deus por muito nos amar Ainda nos mandou Jesus Para assim nos guiar Nos seus caminhos de luz E para sempre nos lembrar Que o importante é amar Amar, sempre amar. - 2000
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Maria Só
O LIVRO
O livro é um amigo precioso Indispensável nas horas de lazer Com ele sonhamos e realizamos Viagens que não vamos esquecer. Através desse professor amigo Conhecemos novos povos e culturas E assim penetramos sem perigo Em longínquas paragens e aventuras. E há o livro que todos folheamos Dia a dia com derrotas e conquistas Vivências fortes que enfrentamos Horas felizes ou de dor sofrida Sendo leitores e protagonistas Do Grande Livro da Vida. -
2000 / 04
Janelas da Alma
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MULHER MÃE
Foi criança, foi esperança, candura Botão a abrir para o mundo que a espera É sonho, mistério, ternura Desabrochando numa primavera. Mulher é esteio forte no Lar Rosa brava na hora de lutar No mundo do trabalho é um pilar Coração sempre aberto a ajudar Ela é garra, ela é seda, ela é flor Ao dar-se ao companheiro no amor E tornar-se-á berço de vida, Se em seu ventre nova flor vai ter guarida. E então é sol, é fogo, é mel, luz ideal Expoente máximo da dádiva total Centelha divina a ilumina Doce bem Quando além de ser Mulher É MÃE. - 2001
82
Maria Só
À DISTÂNCIA
À distância do meu sonho Tão longa, tão sem medida Um sonho belo e risonho Que persigo pela vida. Por entre cortinas de água Meus olhos rasos de mágoa Em busca dessa quimera Tem pela frente a distância Ai… vencê-la quem pudera. E lá vai meu pensamento Como águia bela a pairar Soltando penas ao vento Bem alto no azul do céu E eu vou com ela a voar Deixem-me sonhar, sonhar Escuta esse sonho, meu Deus. - 2003
Janelas da Alma
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NAVEGANDO
Se a alma é criança Encontra na esperança Força de gigante Navega em bonança Não teme, não treme Mão firme no leme O porto é lá adiante. Mas o tempo avança Implacável, duro E nada o detém É como um tornado Leva em turbilhão Com a ilusão O sonho naufragado, O barco virado E o leme também. E o desencanto Fundo se instalou Já tarde, bem tarde Na curva da vida Surge ainda um lampejo Que traz o desejo E a força perdida De lutar e amar Cantar e chorar Sorrir e sentir, Viver e ser. - 2003
84
Maria Só
CAMINHANDO
Era Primavera, alvas madrugadas poentes rosados, prata no mar sonhos, desejos, afectos e beijos risos de criança e o sol a brilhar rosas em botão no altar da vida que é o coração. E o tempo mudou, o mar se encrespou e surgiu a dor nuvens, tempestades, angústias, saudades dum bem que passou e jamais voltou solidão maior, ausência de Amor E o ensinamento que ano após ano com o desengano a vida nos traz e a sabedoria da aceitação e a consciência do Eu que gritou sem voz até descobrir através do irmão a essência da Paz cá dentro de nós - 2003
Janelas da Alma
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AVOZINHOS
Que boas recordações A palpitar fundo em nós Das ternuras e emoções Do amor de nossos avós. O elo de ligação Apoio e sabedoria Entre cada geração Na Família os avós são Fonte de paz e alegria. Trabalho de casa feito Com ajuda do avozinho Diz cingindo o neto ao peito Vais ao futebol comigo. E a neta pede sorrindo Com ternura à avozinha Fazes um vestido lindo Para a minha bonequinha? Já na hora de deitar Depois de histórias contar Entre mimos e beijinhos A avó fica a rezar Como um anjo a abençoar O sono dos seus netinhos. - 2003
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Maria Só
A TI
Queria pintar uma tela Com cores feitas da luz Do arco-íris, tão bela… Oração viva em louvor, Para no Natal a depor Aos pés do doce Jesus. Com vermelhas pinceladas, Sangue rubro a palpitar No coração dos mortais Dele só brotasse amor, O ódio e a dor, jamais. Outras verdes são a esperança Que há na alma da criança Ai não a faça chorar Que no seu olhar tão puro, Traz promessas de futuro Que não lhe podem negar. A cor branca é a Paz Asas de anjo, pureza Que faça sentir tristeza Ao homem pela crueza Do mal que aos Homens faz. Pus-lhe a cor azul do céu Que é doçura e faz sonhar E amarelo a cor do ouro E do amor doce tesouro Que vá no mundo imperar. Neste Natal pus assim Na tela a Ti dedicada Prece da Fé que há em mim Meu Jesus aceita-a sim Não vou pedir-te mais nada. - 2003
Janelas da Alma
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VOLUNTARIADO
O hospital de S. Bernardo Tem um canteiro perfumado De florinhas amarelas As voluntárias são elas Que ali estão a apoiar Os doentes e a tornar As suas vidas mais belas Sob as batas amarelas Há almas boas, singelas Que se dão aos doentinhos Em ajuda e em esperança Para aliviar seu mal Fazem surgir confiança E coragem dia a dia Doando apoios e carinhos Mudam tristeza em alegria Com valor e sem cansaço Se entregam num abraço Todo alma e coração Ajudar é seu preceito Merecem muito respeito E a nossa gratidão - 2004
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Maria Só
SEPARAÇÃO
Num adeus de despedida Mágoa dum lenço que acena Vestem-se as almas de pena Saudade é já desmedida Se em cada sonho há uma estrela Que p’los namorados vela Surgirá o dia do regresso É a vitória do amor que não tem preço E mal chegarão os beijos Para selar tantos desejos Nessas horas de alegria Vence o amor da beleza E essa força, essa certeza É o milagre da Poesia - 2004
Janelas da Alma
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O AMOR
Sem amor o que era a vida? Se ele é quem reina e dá flor Então, de alma florida Num anseio sem medida Vamos render-lhe louvor. Mas o maior em qualquer lado O melhor que a vida tem É esse amor encantado No altar iluminado Que é um coração de mãe. E os parzinhos que com ardor E num enlevo sem fim Arrulham o seu amor Sob o olhar protector Do seu Santo Valentim. - 2004
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Maria Só
NAMORADOS
Sempre que vejo um parzinho De mãos dadas namorando Olhos nos olhos sonhando Sinto por eles carinho Vem-me logo ao pensamento Os tempos de encantamento Que há muito também vivi E o sonho me vai levando. E quando em louco desejo Trocam um inflamado beijo Peço ao Santo Valentim Os deixe sempre sonhar Que os mantenha sempre assim. E encantada Me invade tanta saudade… Solteira e até já casada Ai Jesus, como era bom namorar. - 2004
Janelas da Alma
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QUEM ÉS TU?
Desbravas as florestas da minha solidão Limas as arestas da amargura És raio de sol que aquece o coração Catedral de estrelas luzindo em noite escura. Mudas a sombra em luz Farol que me conduz ao ideal Quem és tu afinal? Varinha de condão? Sonho? Magia? Perguntas-me quem sou! Queres que te diga? Então, se me procuras, me sentes, me vives Me respiras dia a dia Não vês que sou a tua grande amiga? Eu sou a POESIA! - 2004
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Maria Só
LOGO QUE NASCI
Logo que nasci, chorei Tinha que ser... Para viver Ou então já pressenti Que a luta iria doer. Desde que embarquei Nesta aventura renhida Fui aprendendo pela vida Que há horizontes ideais Onde há amor e ternura Mas também cruéis punhais Ferindo em dor e amargura. Eu sei porque amei Quase o céu alcancei, fui mãe A maior vitória, o maior bem Mas também há derrotas e fracassos Pisando espinhos vacilaram meus passos Até à beira do cais em que fiquei A ver partir aqueles que amei E no mesmo cais Minha ilusão em vão esperou Um bem sonhado que jamais chegou. E é por isso, eu sei Logo que nasci, chorei. - 2004
Janelas da Alma
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UM CORAÇÃO PRECIS A DE SOL
Quem não sentiu algum dia A saudade e a solidão Vestindo o coração Numa imensa nostalgia? Ansiedades reprimidas Tornaram as nossas vidas Em tempestade e agonia. Mas, um abraço, uma flor Um sorriso de criança Trazem de novo a esperança E a alma se aquece então Olhai só quanta beleza Existe na natureza O sol raiou e afastou Essas nuvens de tristeza Pousou em meu coração Fê-lo sonhar e sorrir E quentinho irá florir. - 2004
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Maria Só
QUERO CANTAR
Quero cantar, cantar Antes que a morte Para sempre corte Os ecos do meu canto Cantar, cantar ao mundo E à própria sorte Cantar, cantar bem alto Para abafar bem fundo o pranto. - 2004
Janelas da Alma
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FL AMINGOS
Sempre que flamingos vejo Com sua esbelta beleza Um quadro feliz revejo Que ficou no coração E é hoje de certeza Saudosa recordação. Num passeio à tardinha Vi flamingos elegantes De pescoços ondulantes Num charco molhando os pés. Minha filha pequenina Na idade dos porquês Logo ficou expectante. Após ter contemplado Me diz, “Mamã po qui é Alguns só têm um pé Po qui têm também Uns bicos tão gandes e encanados?” Lá expliquei como sabia Aquela curiosidade Era bebé, hoje é sénior Hoje recordo esse dia Com tanta, tanta saudade. Por isso agora aos vê-los Sinto-me enternecer E quem me irá responder? Flamingos esbeltos e belos Porque gosto de vos ver? - 2004
Janelas da Alma
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ARRÁBIDA
Arrábida majestosa Foste a musa gloriosa Do nosso poeta Gama Tuas belezas cantou E amou como ninguém Em seus livros te citou Que deixaram tanta fama E te chamou Serra Mãe. Flora luxuriante Composta de raridades Deslumbra o passeante Que ao partir leva saudades Tuas fragas, teus penedos As fontes a murmurar Guardam decerto segredos De magia a recordar. E assim bela te revês No mar azul a teus pés Em cada canto um encanto Olhai só quanta beleza Foi dada aos mortais por Deus. Lá no alto Olhando a serra e o mar Quisera saber pintar, como a rezar Deslumbrada e extasiada Estou mais pertinho dos Céus. - 2004
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Maria Só
TRÓIA
Quem vê nossa Tróia bela Tão maravilhosa tela No rio azul a brilhar Fica preso na magia Do encanto que irradia Jamais o pode olvidar. Do outro lado do rio Enfrenta a nossa cidade Namoram há muitos anos Já desde os tempos romanos Tróia conta a sua história Desde essa idade com brio E nos enche de vaidade. Beijada por dois rivais O Oceano e o rio Sado Suas dunas, seus areais E as camarinhas docinhas Nas horas de calmaria São delícia dos banhistas E assim a todos conquistas És um tesouro encantado Admirado, cobiçado Linda pérola de poesia. - 2004
Janelas da Alma
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NOITE DE NATAL
Noite de Amor, Paz e Esperança Tudo nos diz vamos amar Que o bom Jesus feito criança Vem dar o exemplo, vem-nos salvar Nos corações há mais amor Esqueceu-se o ódio e a má vontade Pois veio ao mundo o Deus de Amor Pequeno e pobre em humildade Tremia de frio a Estrela Maior Para nós nasceu, aos homens se deu Sob o olhar de Céu da Virgem Sua Mãe Como é possível alguém esquecer Lá no Presépio sua presença E haver guerra fria descrença Quando ele por nós se deixou morrer Oh! Homens! Pensem nesta verdade Não há no mundo valor maior Partilha paz fraternidade O sonho, o bem que gera o Amor. - 2004
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Maria Só
AS MÃOS
As mãos são eloquentes transmissoras Podem esculpir, pintar, ninar Amassar pão, semear flores Em cada gesto, tanta beleza criar. Mas também há mãos monstruosas Que torturam crianças inocentes Mãos dementes, criminosas, repelentes Que só merecem algemas. E graças a Deus há mãos de Glória Que em carícias escrevem a vitória Do amor sobre o egoísmo e a indiferença Mãos que abençoam, que perdoam Suaves, doces, serenas São MÃOS POEMAS. - 2004
Janelas da Alma
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FUI EU
Fui Fui Fui Fui Fui
eu eu eu eu eu
que pelo sonho altiva e forte desafiando a pr처pria sorte que ent찾o errei na vida que chorei arrependida que a minha dor gritei ao vento.
Fui Fui Fui Fui Fui
eu eu eu eu eu
que senti Deus nesse momento ao mergulhar bem fundo em mim de cardos e tojo fiz jardim que sem medida ent찾o me dei que enfim humilde a paz ganhei.
- 2004
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Maria S처
A BOCAGE
Foi decerto o rio Sado Com seu azul tão cantado Que o nosso vate inspirou E Bocage e seu talento De poeta afamado Setúbal tão bem honrou. Pelo mundo foi notado E em Macau, Timor, Brasil Das musas enamorado Depois de aventuras mil Deixou seu nome gravado. Figura mor da Cultura Portuguesa A membro da Arcádia se guindou Por mérito genuíno com certeza Tornou-se Elmano Sadino E a cidade o consagrou. Setúbal onde nasceu Tem seu nome numa praça Onde uma estátua lhe ergueu Como preito à sua raça Digno orgulho da cidade Ficou para a posteridade Manuel Maria Barbosa du Bocage. - 2005
Janelas da Alma
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PERGUNTEI
Perguntei ao vento Para onde levara a minha ilusão Perguntei ao mar Porque pôs em minha alma sua tempestade Perguntei ao sol Porque não aquece o meu coração Perguntei à lua Porque não me ilumina sua claridade Perguntei ao céu O que fizera de anseios meus O céu respondeu Ama, reza e confia Eu rezei, amei, ai se amei e confiei E o que mais aspirei a vida me negou Porquê? Não sei aonde errei Na solidão do meu desencanto Calo o meu pranto Se eu visse nos olhos seus Um pedacinho sequer Do imenso amor que há nos meus Então, eu tocaria os Céus - 2005
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Maria Só
SE
Se eu fosse uma flor em perfume e cor Pétalas de seda luminosas Belas, atraindo abelhas Que o néctar sugando transformam em mel Quem sabe levariam também o fel Que está morando no meu coração Se eu fosse uma folha dourada de Outono Tão bela e caída no chão ao abandono Levada pelo vento e sem um lamento Iria pelo ar, quem sabe lá deixar Este meu tormento Se eu fosse uma nuvem rosada Transparente, iluminada Deslizando sobre o mar até o vento mudar Quem sabe se a chuva é o pranto Que há no meu desencanto E se vai perder no mar Se eu fosse uma ave linda Voando em liberdade Bem alto no azul dos céus Trinasse mais alto ainda Quem sabe tão alto Que Deus pudesse escutá-la E à minha prece - 2005
Janelas da Alma
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SE HOUVESSE DEGRAUS NA TERRA
Creio que há degraus na Terra Que nos conduzem ao Bem Subida dura que encerra Risos, prantos, mel e dor Escolhos que a vida tem. Sem vermelha passadeira Nem plantas ornamentais É rude, tem degraus falsos, percalços Pisando espinhos de mais Subo-a com o abismo à beira. Vencida pelo cansaço A esperança me dá o braço Alcanço outro patamar Coragem não vai faltar Para um dia a meta alcançar. E quase ao fim da jornada Para baixo digo adeus Meu Credo é o amor, e então Com ele no coração Numa ânsia desmedida Pela paz apetecida Meus olhos procuram Deus. - 2005
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Maria Só
IDADES
Ser jovem é viver em plenitude Alvorada de sonhos e de esperança Não há limites para a fantasia Festival de adrenalina e alegria Cantam-se hinos ao amor, à confiança. Juventude é a Glória. Falta-lhe porém a experiência Que na minha já longa existência Nos baldões da vida fui ganhando… Saber envelhecer é uma virtude Em qualidade de vida Dia a dia construída Em serena atitude. Não é viver apenas de saudade, Dos fracos não reza a história, É construir, ser útil, sorrir, sonhar Sentir na alma ainda juventude Escrever numa nuvem, paz, coragem E à andorinha que voa em liberdade Cantar essa mensagem. E eis a verdade, é a Vitória. - 2005
Janelas da Alma
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MOCIDADE
Jovens da minha Nação Tendes missão a cumprir Com valor no coração Na justiça e na união Fareis a esperança florir. E se no vosso caminho Surgir uma encruzilhada Olhai o alto e confiai O timoneiro que é Pai Vos dirá qual é a estrada. Segui nela com coragem Não olheis a tentação Do comodismo que ilude Lutai com fé e a virtude Vos guiará na viagem. Tereis para vos aquecer Sol em orgasmos de luz E miríades de estrelas Virão ao anoitecer Iluminar noites belas O farol que vos conduz. Sois o vento de mudança Na paz e na liberdade Fareis um mundo melhor Com mais partilha e amor Alcançareis felicidade Assim confiamos nós. Mocidade, mocidade Nossa esperança está em vós. - 2005
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Maria Só
A NOSS A AUL A DE POESIA
Quem é atento e nos anima A fazer desabrochar? O sonho que se vive em cada rima E nesta aula cada momento Livre o pensamento Com a beleza anda no ar? Flores tímidas, hesitantes Quem ajudou a despontar? Professor Paulino e Alexandrina Com carinho vigilantes A Poetisa, com seu sorriso a recordar Teve o condão de tornar a nossa aula Num perfumado jardim E assim lembraremos Com gratidão e alegria no coração Neste jardim das flores As cores são a emoção Cavalo à solta, dia após dia E o seu perfume é a essência da Poesia - 2005
Janelas da Alma
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UMA DÁDIVA DE AMOR
Quantas vezes desfeitas pelo vento As nossas ilusões, perdida a esperança Em busca de um porto de bonança Enfrentam mar bravio, violento O mal de que sofremos não tem cura Sem fé, fugida a alma p’ra lutar Numa agonia iremos naufragar Como presas fáceis da loucura Mas eis que surge ainda um novo dia Quando tudo é perdido, por magia Volta a bater o coração com ardor Foi apenas um gesto, um beijo, um olhar E eis o milagre que se vai chamar Uma dádiva de Amor - 2005
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Maria Só
A NOSS A CAS A
Enquanto a vida corre em turbilhão Enfrentam-se angústias e ansiedades Encontra-se no lar, na sua intimidade Refúgio para todas as tempestades Que adoça e pacifica o coração. Nele uma família foi criada Berço de filhos, sonhos e afectos Um gato a ronronar numa almofada Flores na mesa, na gaiola Canta um passarinho E numa moldura dourada O carinho e o encanto Do sorriso dos netos. Lar, ternura aconchegante Colo a sarar penas do dia a dia Viveiro de valores, e a poesia Do Amor a vibrar em cada instante A nossa casa, o lar ideal O nosso ninho, o nosso Céu A nossa Catedral. - 2005
Janelas da Alma
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MEU RIO AZUL
O rio que amo é tão azul, tão belo O céu lhe deu aquela cor sem par Nasci, cresci a vê-lo A banhar-me na sua luz ao luar. No sonho me deixo embarcar E navego a um golfinho abraçada Com o sol ou as estrelas sobre mim No Sado me sinto deslumbrada Cruzeiro de magia sem ter fim. - 2005
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Maria Só
QUERO APRENDER CONTIGO
És exemplo de coragem E caminhas pela vida Não uma causa perdida Mas antes bela mensagem De esperança mal contida. Se fico triste por ti, por nós É que me falta a tua valentia Pois sempre que amanhece um novo dia Soltas um grito, sem ter voz Em que há lições de força e alegria. Não te chamo deficiente Apenas… diferente! Enfrentas com bravura A vida que é dura Com rasgos de doçura e de valor E porque muito te respeito, amigo Quero aprender contigo A aceitar-te como és, com amor! - 2005
Janelas da Alma
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DESPERTAR
Numa nuvem baloiçando Fui sonhando, fui sonhando E era lindo o meu sonhar O arco íris tão belo Verde, azul, rosa, amarelo Era luz a deslumbrar A nuvem desfez-se em chuva Por pouco não me afoguei Ai Jesus, Avé Maria! Dei um salto e acordei Começava um novo dia. - 2005
Janelas da Alma
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PESCADOR DE TRISTE FADO
Oh pescador! Pescador de triste fado Nas ondas azuis do Sado À faina buscas teu pão Mas o mar teu companheiro Às vezes é traiçoeiro E arriscas a vida então. Tua mulher em aflição Sente triste o coração Reza à Senhora do Cais Para que afaste os vendavais Mas tu, na sina que é dura Metes-te ao mar com bravura E um dia não voltas mais. - 2005
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Maria Só
SIM
Sim, eu creio no amor Moram no meu coração Esperanças belas e então Remo contra a indiferença Maré alta, que não vença Remo com todo o ardor. Como o mar altivo e forte Quisera ser para vencer Investidas da má sorte A amizade meus irmãos, é a semente A espalhar urgentemente Neste mundo conturbado. Das cinzas renasçam vidas Se os homens derem as mãos lado a lado A Paz volta de mansinho A sarar todas as feridas Do presente e do passado.
Janelas da Alma
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Olhai só a natureza Que Deus criou com certeza Para os mortais deleitar O Sol dourado a brilhar As estrelas e o luar. As aves a chilrearem As fontes a murmurarem Uma tarde doce e calma Que penetra nossa alma Sim, apetece cantar. E as crianças a brincar Nos jardins em flor Um rosto franco a sorrir Rosas vermelhas a abrir Tanta evidência para amar Sim, eu creio no AMOR! - 2005
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Maria Só
GLÓRIA
O apóstolo da paz que sempre defendeu Sem desfalecer, peregrinou, lutou, sofreu Pela justiça e humana dignidade Na liberdade e união, pediu perdão Agigantou-se em humildade e amor Devoto de Fátima, a seus pés orou E na juventude que o seguia Confiou a esperança De um amanhã melhor. João Paulo II nos deixou Mas a Aura deste Papa não se esvai Creio que quando sua alma se elevou Jesus o acolheu e conduziu ao Pai Face a face, João Paulo ajoelhou E Deus com o Sinal da Cruz abençoou Ouve-se dos Anjos o seu canto Aleluia! No Céu há mais um Santo. - 2005
Janelas da Alma
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A MINHA RUA
Minha rua é uma avenida Longa, bela e colorida Vai do Estádio do Bonfim Até perto à nossa Igreja… Pequeno jardim de vida! Tem vivendas floridas E um Centro Comercial Frente ao antigo Liceu A seguir, a Academia Música, sons e harmonia Alegram o espaço seu. Bancos, cafés, restaurantes Servem bem minha avenida Ela se agita e palpita Há pregões, carros, peões E grupos de estudantes Passam estuantes de vida. Mesmo em frente aonde moro Há uma loja de flores Cuja beleza namoro Festival de aroma e cores.
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Maria Só
Mas a nota de ternura Vem do infantário, a meio Donde saem a passeio Como bando de avezinhas Bibes presos nas mãozinhas Num palrar todo doçura. Pardalitos a saltar De manhã no meu jardim Vão à tarde a esvoaçar Para os ninhos, anunciar Que o dia chegou ao fim. Quando chega a noite e eu vou Fechar as minhas janelas Olhando o céu e as estrelas Ao bom Jesus eu imploro Paz e Bem e lhe agradeço Mais um dia que passou Nesta rua aonde moro. - 2005
Janelas da Alma
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AMIGOS
Se nos pesa a solidão e a vida castiga Ai como o coração pede voz amiga Calor de amizade o maior tesouro Escrito em letras de ouro no livro da vida Amigos que tenho será que os mereço? Não têm, não têm preço Em sentida prece minha alma agradece E a Jesus peço: “Põe-nos de mim perto que a vida sem eles é como um deserto gelado e sem luz” - 2005
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Maria Só
POEMA DA MINHA ESPERANÇA
Quando se é criança vive-se na esperança De tudo alcançar Mas se o ocaso chega, se instala e se nega A colaborar Procura-se um esteio para resistir. Meu pássaro azul não sejas miragem Faz que o Sol brilhe no meu horizonte Para iluminar A ponte que eu quero encontrar Para a outra margem. Onde há sons de crianças a rir Rosas vermelhas a abrir Onde há sonhos, promessas e esperança Vou contornar saudades que a memória traz Quero cantar, sorrir, sentir, vibrar em mim Como outra vez criança A vitória do Amor e da Paz. - 2006
Janelas da Alma
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IGUAIS E DIFERENTES
Eles vão pela vida Não causa perdida Mas luta e coragem Valente e audaz Também sou capaz É sua mensagem. Bem fundo no coração Têm sonhos, ilusões Companheiros de aventura Mas seguem olhando em frente Dizendo sempre presente Na caminhada que é dura. Com empenho e sem cansaço Só precisam de um abraço Forte de apoio constante. Não lho neguem por favor Que seu olhar confiante Dá-nos lições de valor E apenas nos pede amor. - 2006
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Maria Só
PÉS DESCALÇOS DA MEMÓRIA
Pé ante pé, silenciosamente Ela penetra em nós, é a verdade Vai ao fundo do nosso consciente Julga-nos sem dó nem piedade Quanto havia p'ra fazer e não foi feito Pela justiça, pela paz, pela verdade Quantas vezes negamos o direito A que vingasse o bem e a felicidade E esse torpor que foi nosso pecado Amarrando-nos à cómoda indiferença É varrido como por um tornado E o arrependimento é já presença Uma nova madrugada faz promessa De luta, de coragem e valor De agora em diante nada nos impeça De defender os ideais belos do amor Os pés descalços da memória Conquistaram a vitória? Que queremos afinal neste Natal? Para mim para ti, p'ra todos vós? Que nos tenha abanado bem a sua voz Grite bem alto o vento de mudança Semeando a justiça, a paz, a esperança E haja no mundo Natal de Amor Todos os dias com Jesus, o Bem Maior. - 2006
Janelas da Alma
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SOLIDARIEDADE
Aos que vão pela vida sem ninguém, sem pão No pó da estrada já perdido o Norte E se entregam sem luta à própria sorte Eugénio da Fonseca abre o coração E a força que Deus lá pôs na sua mão. Aponta caminhos à dignidade Na luta contra a adversidade Em busca de um mundo mais capaz Suas mãos generosas e bondosas Emprestam coragem, esperança e paz. Com seu abraço amigo se vai despertar Num rosto tristonho o nascer de um sorriso Se um ser se levanta e luta pela vida Mais uma vitória e é quanto é preciso Para que ele sinta a missão cumprida. Espalhando em redor sementes de amor É este o seu prémio, Professor Eugénio Esquece o cansaço e dá-se num abraço Que Deus o ajude e lhe dê saúde. - 2006
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Maria Só
MULHER
Filha, irmã, tia, avó, esposa ou mãe És o ombro amigo que a família tem Mesmo incompreendida Mal amada ou mãe sofrida És o esteio do lar Sempre pronta a ajudar. E até cá fora Se o dever te chama Deixas os filhos e o calor da cama E cumpres porque és um pilar Atenta para actuar Médica, professora ou costureira Telefonista, operária ou engenheira És toda doação A vitória do amor Na palma da tua mão. Hoje é o teu dia Mas a luz que irradias É renúncia, paz, perdão Sorriso, beijo, flor Dádiva de amor MULHER, todos, todos os dias. - 2006
Janelas da Alma
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ADEUS AOS AÇORES
Com saudades na lembrança digo adeus Aos Açores de encantar, ai, ai, ai, Levo na alma a luz da esperança e a fé em Deus Em que um dia hei-de voltar, ai, ai, ai, Paisagens de maravilha, encantos em cada ilha Que nos fazem deslumbrar ai, ai, ai, Olhando tanta beleza, milagre da natureza A Deus tenho de louvar. Adeus amigos, foi bom estar convosco Em franca amizade Adeus amigos, digo-vos com gosto Já levo saudade. O azul maravilhoso desse mar Que há no Pico e no Faial, ai, ai, ai, Vinhas nascidas em pedra de vulcão São a nossa admiração ai, ai, ai, Lagoas, furnas, caldeiras e os tapetes de conteiras Em S. Miguel são magia ai, ai, ai, As hortênsias em orgia, plantas raras de encantar E um cozido a recordar. Adeus amigos, foi bom estar convosco Em franca amizade Adeus amigos, digo-vos com gosto Já levo saudade. (Para ser cantado com a música da Maria Papoila) - 2006
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Maria Só
A TEUS PÉS
No silêncio da tarde Contemplo Tua cruz E a dor que em mim arde Te ofereço, Jesus. Faz que ela se torne oásis em flor No deserto enorme Dos sós sem amor. Se só em Ti esperamos A Paz e o Perdão Penas Te ofertamos Por reparação A Teus pés, Jesus Que através da cruz Foste Redenção. - 2006
Janelas da Alma
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RESSURREIÇÃO
Um dia, meu Senhor, foste julgado Condenaram-te à morte numa Cruz E tu nem sequer tinhas um pecado Só sabias amar, amar, doce Jesus Ninguém merece, eu não mereço Um preço tão cruel p'ra nos julgar E num último gesto que não esqueço Ao Pai pediste p'ra teus verdugos perdoar Nesta Páscoa a teus pés vou implorar Perdão por todo o mal que suportaste E depois do Credo de Amor que nos deixaste Os homens continuam a odiar Venceste a morte e toda a tua Glória Jesus, Jesus te louvo em devoção Hossana a tão grande vitória Na nova Aurora da Ressurreição - 2007
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Maria Só
S AUDAÇÃO À UNISETI
A menina Uniseti faz hoje uns bons 5 aninhos… Merece, então, parabéns e também muitos carinhos. É briosa, é caprichosa como bem se pode ver: tem mais salas p’ra cantar, p’ra pintar… P’ro ano, se Deus quiser, mais surpresas vai haver. Nesta linha de progresso e de sucesso queremos continuar sem parar… Reitor Professores Alunos Colaboradores Que família tão unida está hoje em dia de festa… Para ela Parabéns e muitas Felicidades. Viva a UNISETI! - 2008
Janelas da Alma
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GRATIDÃO
Esperança é chama A ter sempre acesa Hora a hora, dia a dia Não nos deixemos vencer Mesmo que surja tristeza A dor ou melancolia Lá estão para vos acolher As fadas boas, as tais Florinhas amarelas Animosas, carinhosas Que vos apoiam e guiam Para o fundo nunca mais… Dão-vos ajuda e então Venha um abraço e magia A esperança lá está florindo Bem fundo no coração Em gratidão e alegria. - 2008
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Maria Só
ANO NOVO
Na alvorada da esperança Deste Ano ainda criança O que nos vamos propor? Com fé, com garra e valor Nada, nada nos impeça Fique aqui nossa promessa De lutar, sempre lutar Para um mundo com amor. É só seguirmos Jesus E o seu Rasto de Luz Olhando à nossa volta Com olhos de coração Na partilha, na união O Bem andará à solta E em vez de fazer guerra Se trabalhará a terra Que dá o ouro do pão. Que os homens dêem as mãos Como irmãos E o mundo será capaz De acolher na sua mão A doce pomba da Paz E na justiça e na verdade O Novo Ano será lindo Como criança sorrindo De Amor e Felicidade. - 2008
Janelas da Alma
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POEMA DE JANEIRO
Em Janeiro as manhãs são tão geladas Que parece esse gelo entrar em nós Não consegue, porém, não estamos sós Vive ainda no nosso coração a Luz E o doce calor que nos deixou Jesus E ao chegar da rua fria Que bom ligar o aquecedor Sentir este conforto, este calor Mas lembro os sem abrigo nesse dia E um frio diferente entra comigo Neste Ano Novo a despontar Urge ainda tanto para mudar Mãos nas mãos, temos de lutar Meu Jesus, que Teu Natal seja luzeiro Que acenda os corações do mundo inteiro Em justiça, paz e Amor verdadeiro É este o meu Poema de Janeiro - 2008
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Maria Só
TRISTEZA
Como são tristes as pessoas Que não sabem amar Cujas vidas nunca deram flor Nem foram iluminadas Pelo rasto luminoso De uma amizade verdadeira, nobre e bela… A tristeza de nunca ter sido Envolvido num abraço de um amigo… A tristeza de nunca ter sido absorvido Pelo mistério impenetrável do amor… Porque um momento de verdadeiro amor … vale uma vida. Não há dúvidas de que A ciência de viver é a arte de amar. Como são vazias estas vidas sem amor Estes corações áridos, secos Cheios de espinhos Sem uma única flor que neles abra E perfume o ambiente… Sem a maravilhosa sensação De experienciar um louco amor Pela humanidade Mergulhado no oceano da vida… Do espírito … Da vibração… E da comunhão… - 2008
Janelas da Alma
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QUEM SOU EU
Que importa aquilo que sou Se tudo o que me resta É esquecer o que não presta E usar a minha pena Escrevendo no papel, serena Medos que habitam em mim Pedaços de sofrimento Entre farrapos de esperança. Os sonhos são só quimera Terei alma de criança? É tão gostoso sonhar Ter cheiro de primavera Açucenas e jasmim E ver surgir numa tela O sol risonho a brilhar. Ter estrelas e o luar E madrugada e sol-pôr Um rio correndo para a foz E um barco baloiçando Com as velas bem erguidas A minha tela é tão bela Ela tem alma, tem luz Tem tudo que me seduz. Ser poeta é erguer a voz Contra o ódio, contra a dor Então eu serei poeta Essa é a minha meta Paz, Amor e seus ideais Quem sou eu? Poeta e nada mais! - 2008
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Maria Só
PARTILHA (QUADRAS SOLTAS)
Na partilha em alegria Se cimentam amizades Eis o amor e a harmonia Na vida as grandes verdades. Em cada rosto sorrindo Há uma mensagem de amor Tal como flores abrindo Em aroma, luz e cor. Vão versos de mão em mão Numa risonha viagem Abram bem o coração Para captar a mensagem. Se nos pesa a solidão Basta um abraço, um sorriso E nada mais é preciso Para aquecer o coração. O sol é para todos nós Eu sei daquilo que falo Brilha em mim e em todos vós É preciso é agarrá-lo. São cravos, são rosas, benditas crianças Hoje em botão, amanhã flor São sóis, os faróis da nossa esperança Dádiva de amor.
Janelas da Alma
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Venham para a festa Ponham de parte a tristeza É esquecer o que não presta Num abraço à Natureza. Sonha minha alma cheia de esperança A Paz, o Bem, o Amor e a Alegria Não cortem as asas aos sonhos da criança E surgirá em pleno a Poesia. A fonte quando não canta Menos cruel que tu é Que possuis frescura tanta E eu morro de sede ao pé. Às ondas do mar profundo Eu comparo os olhos teus Verde abismo, lá no fundo Estão afogados os meus. Procuro fazer sorrir Alguém que me procurou Para que possa partir Mais feliz do que chegou. Não há maior vitória Que mesmo em horas más Vivermos a glória Do coração em paz.
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Maria Só
Com dois palmos de tecido Vestem-se as Evas de agora Porque não? Se para vestido Bastou a folha à de outrora. Lembras jovem viuvinha Sem amor e sem carinho Uma andorinha sozinha Pousada triste no ninho. Quanto mais doce é o vinho Mais fica a cabeça louca Não hei-de eu andar doidinho Se bebo da tua boca. Em negar fazes questão Mas sei que gostas de mim Não digas que não, que não Se os teus olhos dizem sim. Uma lágrima, uma dor Logo após beijos trocados São artes do Deus Amor Arrufos de namorados. A razão e o coração Devem sempre equilibrar-se Se só impera a razão O coração vai fechar-se. - 1950 / 2009
Janelas da Alma
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JANEL AS DA ALMA
Meus poemas têm sido vida fora Janelas da alma a revelar Se o meu coração dorido chora Ou se alegre esperança o faz vibrar. O Credo que me rege é o amor Sem princípio nem fim, é tudo Mesmo quando amar me cause dor Continuo a amar, não mudo. Vai-se escoando o tempo Virá o momento Quando o longe do meu ser For só saudade. Ao chegar a paz serena e fria Tudo valeu a pena Porque na fonte da poesia Eu bebi minha verdade. - 2008
Janelas da Alma
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ÍNDICE
5
AGRADECIMENTO
7
DEPOIMENTOS
15
PREFÁCIO
25 26 27 28 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 49 50 51 52 53 54 56 57 58
MIRAGEM MENINA UM SONHO PELA PAZ A FLORISTA A AMIZADE SAUDADE MAGIA AJUDA-ME, JESUS EU VOU PELA VIDA MINHA FILHA CRIANÇA OBRIGADA, MEU DEUS MÃE TE ESPERAREI SONHO DE ABRIL PENSAMENTOS A VER O MAR MARIA SÓ A PRIMEIRA COMUNHÃO ESTADOS DE ALMA TESTEMUNHO DE UMA CATEQUISTA QUE É DO MEU SONHO? ATÉ QUANDO? POESIA TALVEZ SÓ POEMA A SETÚBAL A POESIA SABE QUE A PROCURO ETAPAS SER MULHER
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59 60 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 73 74 75 76 77 78 79 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 97 98 99
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Maria Só
A PALAVRA ACÇÃO DE GRAÇAS A VIDA PROVAVELMENTE ALEGRIA ESCREVO PORQUÊ E PARA QUÊ? NUVENS ROSADAS SOMOS PEREGRINOS SEBASTIÃO DA GAMA MÃOS DO POVO SONHOS O MAR QUEIXUMES O QUE NOS MOVE UMA SEARA SE AGITA POETA SETÚBAL EM POESIA SILÊNCIOS DENTRO DE NÓS UMA VIDA O ARQUITECTO DIVINO O LIVRO MULHER MÃE À DISTÂNCIA NAVEGANDO CAMINHANDO AVOZINHOS A TI VOLUNTARIADO SEPARAÇÃO O AMOR NAMORADOS QUEM ÉS TU? LOGO QUE NASCI UM CORAÇÃO PRECISA DE SOL QUERO CANTAR FLAMINGOS ARRÁBIDA TRÓIA
100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 115 116 117 119 120 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 141
NOITE DE NATAL AS MÃOS FUI EU A BOCAGE PERGUNTEI SE SE HOUVESSE DEGRAUS NA TERRA IDADES MOCIDADE A NOSSA AULA DE POESIA UMA DÁDIVA DE AMOR A NOSSA CASA MEU RIO AZUL QUERO APRENDER CONTIGO DESPERTAR PESCADOR DE TRISTE FADO SIM GLÓRIA A MINHA RUA AMIGOS POEMA DA MINHA ESPERANÇA IGUAIS E DIFERENTES PÉS DESCALÇOS DA MEMÓRIA SOLIDARIEDADE MULHER ADEUS AOS AÇORES A TEUS PÉS RESSURREIÇÃO SAUDAÇÃO À UNISETI GRATIDÃO ANO NOVO POEMA DE JANEIRO TRISTEZA QUEM SOU EU PARTILHA (QUADRAS SOLTAS) JANELAS DA ALMA
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