Uma Ponte Para o Infinito (excerto)

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Uma Ponte Para o Infinito... JoĂŁo Firmino



Ficha técnica

Título original “Uma Ponte Para o Infinito” Autor João Firmino Revisão de texto pelo Autor Capa Arranjo gráfico de Diva Almeida com base em foto do Autor Impressão Atelier Gráfico artes gráficas & plásticas Setúbal | graphorama@gmail.com Paginação, encadernação artesanal e acabamentos MJ Real Imo Editora Setúbal | realeditora@gmail.com ISBN: 972-8670-54-0 Edição do autor 2005



Uma Ponte Para o Infinito... JoĂŁo Firmino



Prefácio

Quando nasce um livro de poemas, nasce simultaneamente a autonomia em relação ao seu Autor, que só lhe fica com a essência que qualquer um pode ou não atingir. É uma ave que se solta e que se afasta ao nosso olhar enquanto lhe asseguramos a liberdade do voar porque não lhe foi cortada a dimensão das suas asas. Nesta obra, o Poeta nada perde, tudo ganha, porque no florir da dádiva recebe a maturidade dum sentir sempre renovado. É um “Verde” permanente em perpétua Primavera a desfazer incertezas do ontem, do hoje e do Amanhã até chegar à consumação perfeita deste ideal feito “Uma Ponte para o Infinito”.

Maria José Almeida MJ Real Imo Editora



Nota explicativa e Agradecimentos

Na segunda metade da década de 90, iniciei um percurso profissional onde contactei com uma inesperada realidade para mim totalmente desconhecida, um Centro de Acolhimento e de Formação para jovens duplamente castigados pela deficiência mental e ausência de um comportamento juridicamente ajustado. Foi um tempo de imensa aprendizagem e de um olhar para a dureza de uma realidade inimaginável. Nesse Centro conheci a Drª Ofélia Bomba, médica Psiquiatra, e com ela aprendi a ver o poético, a dor, o silêncio do sofrido, a mútua compreensão entre o saber técnico e o saber humano e, sobretudo, ir e voltar com um sentido de grande humor. No final dos anos 90, integrei-me num Projecto Cultural de Poesia “Poemas do País da Vida”, onde um grupo de poetas já partilhava esta forma de sentir, quer em encontros culturais específicos quer através de colectâneas de temas genéricos, tendo participado na primeira colecção organizada, desde o primeiro volume ao vigésimo quinto (número de fecho da mesma). Estas obras, assim como outras, são editadas pela MJ Real Imo Editora. Neste Projecto pude transmitir muitos estados de alma que a nova realidade me provocava. Há cerca de um ano, foi dada expressão a uma ideia que já vinha em gestação, por um grupo de eborenses, de criar uma rede de poesia na Net, utilizando, os que se associassem, os seus e-mails para enviarem e receberem poemas originais ou outros. A Maria João e o Alberto Frazão quase me empurraram para o grupo das partilhas poéticas. Participei. “Um poema por dia” era o mote do “Circulo de Poesia” para nos incentivarmos mutuamente. O grupo foi crescendo, os poemas partilhados também. Na maioria, só consegui enviar poemas originais, que o vício da escrita há muito tomou conta de mim. Mas aprendi a ler poesia, a partilhar com outros a essência de um interior definitivamente voltado para o exterior e enriqueci-me com tantas palavras que não conhecia.


A realidade agora era outra, mesmo a nível profissional. Os tsunamis e furacões de grau 5 estavam a tomar conta da humanidade. Os poemas tomaram a forma dessa actualidade. À medida que o tempo passava, sentia que as trocas de palavras e a própria construção dos poemas eram a expressão de uma viagem de ida e volta. O sentido da poesia era o resultado do andamento que estávamos em conjunto a criar. E o movimento, a expressão de uma harmonia sublime entre todos. Após alguns meses, o José Manuel Chorão (um dos que deu a “cara” para a construção do Círculo) coloca-me um aliciante desafio: “porque não editas e dás a conhecer a mais gente a tua poesia?”. Recuei. Assustei-me. Lembrei-me de momentos passados, profundamente vexatórios, quando andava com palavras na mão de editor em editor e a escutar as suas “realidades” sobre o panorama comercial português no que toca à leitura de poesia. Dizia-me um dos editores que contactei: “Em Portugal não se lê poesia e os que lêem menos são os próprios poetas… mas de poetas todos se intitulam”. Obviamente que nada mudou nessa realidade, bem antes pelo contrário. Mas no final de um caminho há sempre uma infinidade de caminhos e nunca uma ausência de caminhos. A pouco e pouco a publicação começou a fazer sentido. Lembrei-me da MJ Real Imo Editora. Uma possibilidade de edição de autor. Fazia sentido. Como se a edição fosse uma prenda de aniversário ou de Natal para amigos e familiares que de perto e há muito me acompanham. Agora, fazia todo o sentido. Agradeço a todos, que de perto ou de longe, directa ou indirectamente, contribuíram para a construção dos poemas e sua publicação. Para todos e todos em um! João Firmino


Depoimentos

No florilégio de poesias com o título “Poemas do País da Vida” composto por 25 livros e editado pela MJ Real Imo, João Firmino participou com 25 poesias. Seria prolixo, apesar de tentador, falar de todas. Por isso, vou só citar o primeiro verso da primeira poesia do primeiro livro e o último verso da última poesia do último livro. Penso que diz muito sobre o João Firmino!... “Breve Adeus” “Tenho aberta uma caixa de tesouros que em mim deixaste.”

João Farelo (Poeta participante no Projecto Cultural sem fins lucrativos “Poemas do País da Vida”)

Pedem-nos um apontamento para um livro de poemas a ser editado por um amigo. Será que se pode escrever sobre os poetas? Não estão os poetas definidos nos seus poemas? Que nos pedem que digamos? Que o poeta se faz todos os dias? Que se rega com cada verso? Que cresce um pouco mais com cada poema? Um poeta é uma obra inacabada que se aperfeiçoa com o ritmo das palavras. Isso sabemo-lo nós.


Estas palavras que aqui se alinham nasceram dum desafio. Trocar poemas seus ou de outros, num grupo que foi crescendo. Daí o primeiro poema “Um poema por dia”. Foi uma intenção. Ir escrevendo, reflectindo sobre o dia-a-dia. E os poemas foram nascendo. Agora darão um sentido, serão agrupados como um conjunto de reflexão e de partilha. Tudo dá um poema, podemos nós dizer. A vida é um poema que se compõe verso a verso. Ou talvez paixão a paixão. Paixão pela vida! Viver sempre com intensidade todas as coisas que faz e todas as relações que mantém com os outros! São estas as ideias que imediatamente nos vêm à mente quando pensamos no João Firmino e é também isso que se revê na sua poesia. O João é um amigo de longa data com o qual temos tido a oportunidade de partilhar muitas das aprendizagens mais importantes que temos feito ao longo da vida. Muitas delas foram o resultado de experiências óptimas, mas muitas outras surgiram na sequência de momentos bastante difíceis e dolorosos. Uma certeza temos: todas foram importantes, mas estas últimas foram talvez as melhores, porque foram as que nos obrigaram a parar, a pensar e a tentar encontrar um sentido para a vida. O caminho de descoberta da razão e do sentido a dar ao percurso de cada um de nós está ainda em construção. Continuamos a segui-lo em conjunto.

Maria João Figueira Alberto Frazão (Amigos de longa data e construtores da síntese entre a ciência e a poética)


Mãos no fundo dos bolsos, chuva no rosto, olhar inquieto a desvelar uma alma em ânsia: assim caminha o poeta pela margem desse rio que é a vida, assim respira as palavras que ele próprio criou e com que se inventa (e dos que passam não há quem veja nas suas costas as asas do sonho imenso?). Cada poema é uma pincelada que acrescenta; é mais um tom, uma cor, uma nota na pauta; assim constrói a beleza, a harmonia, assim partilha o sonho de outro horizonte. Poderíamos viver sem este livro? Certamente. Mas com ele a vida tem mais sentido. São poemas ou é a vida que é assim como ele a diz? Do alto da sua descreve, então ler e caminhar, somos mais nós ele caminhamos.

imensa alma ele vê outro horizonte: então revela que podemos ir por aí, que podemos virar cada página como outro dia em que mesmos. Porque o lemos e sentimos e com Obrigado, João. Pela partilha.

José Manuel Chorão (Poeta e dinamizador do Círculo de Poesia)

Percorro, vezes sem conta, “uma ponte para o infinito” de João Firmino. Leio e releio os seus poemas. Encantada. Feliz. Surpreendida. Com a emoção indescritível da descoberta de um grande poeta. Ofélia Bomba (Poetisa, autora dos livros de poemas “Poemas do Rato Morto”, “A Porta da Reixa” e “ Para ti”)



Dedicado à Vida.



um poema por dia

Pedem-me um poema Ora esta! Um poema por dia... Mas que julga o pedinte a quem pede? Um poema por dia? E vá lá porque não também A meio da manhã ou da tarde? Uma pausa para o café E dois ou três dedos de conversa? Pensando bem, fico-me por aqui A alinhar mais um poema… Sorvo de um trago Um gole de palavras Quentes e macias… Ah!... Neste Inverno as palavras andam à solta. E pronto. Um poema a meio da tarde Ou quem julga o pedinte que o poeta é? Um fazedor de palavras diárias, por encomenda? Não! Nada disso! O poeta só é poeta Porque faz do dia um ror de palavras à solta E de cada segundo uma fonte sem torneira.

(29 Dezembro 2004)

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a linguagem da orquestra da manhã

Manhã Manhã Manhã Manhã Que Que Que Que

de Sol, de frio e de seca de Inverno, de bonança entre dois infernos mansa, de espera e de esperança de sono, ao ritmo de um lento acordar.

notícias navegam hoje nos multimédia? previsões revelam os trânsitos planetários? novas descobertas os cientistas terão publicado? ciclo se segue afinal, o do aquecimento ou da glaciação?

Mas no mais mansinho do fim do tempo Entre o Natal e o começo do Ano Novo A onda assassina deslizava entre cânticos E como mil sereias tudo arrasou num abraço Manhã de silêncio, de escuta e de pesar Pelos homens que não ouviram o rosnar da natureza Manhã constrangida de três minutos de silêncio Pelos mortos de espanto, vivos de pranto Que Que Que Que

ouvimos quando nos calamos três minutos? vemos quando fechamos os olhos para o silêncio? cheiramos quando saímos à rua em massa pelas vítimas? sentimos quando tocamos no inesperado desse encantamento?

Manhã Manhã Manhã Manhã Manhã

de de de de de

sons, de silêncio, da orquestra do mundo respirações, de correntes e andamentos passos, de carros e de murmúrios calados sinais, de consciência, abandonos e rupturas canções, de poesia e de colectivas pinturas

Voltaremos a escutar todas as manhãs a orquestra do silêncio?

(6 Janeiro 2005)

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