Mostra - Acervo do Museu do Catetinho (SNCT2019)

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mostra do acervo




O Catetinho, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), foi a Residência Provisória da Presidência da República entre novembro de 1956 e junho de 1958. Nele, o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) pernoitava e trabalhava quando em visita às obras de construção da nova capital. O Palácio de Tábuas, como era chamado, foi levantado na área desapropriada da Fazenda Gama, onde também foi construída uma pista de pouso e instalada a estação de rádio da Panair e da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil - NOVACAP. Em maio de 1957, foi construído um segundo edifício, maior, ao lado do Catetinho, para abrigar os convidados em visita ao canteiro de obras da nova capital. Com a inauguração do Palácio da Alvorada em junho de 1958, o Catetão deixou de ter razão de existir e foi desmontado logo depois. Seus vestígios ainda podem ser identificados na área que hoje serve de local para piquenique. O Catetinho e o Catetão receberam, além de JK, grande número de funcionários envolvidos com a construção de Brasília, além de personalidades internacionais, como o então Presidente de Portugal, General Francisco Craveiro Lopes, e Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Em 21 de julho de 1959, com o Catetinho já desocupado, JK solicitou o tombamento do edifício. Nessa época, a quase totalidade dos móveis que o compunham já havia sido removida. A ambientação do museu, tal como se encontra hoje, foi recomposta com originais, móveis de época (sobretudo do Brasília Palace Hotel) e objetos cenográficos, para sugerir como era a vida quotidiana no palácio, na década de 1950.



mesas As mesas de madeira ainda são as originais da época de Juscelino Kubitschek. Elas eram usadas para servir o café da manhã da equipe responsável pela construção de Brasília: pão com manteiga, bolacha de sal e café com leite. Em seguida, JK partia com o engenheiro Israel Pinheiro (1896-1973) para supervisionar a edificação da nova capital. O presidente fazia questão de estar no canteiro de obras às seis horas da manhã.


quarto JK Aqui, JK repousava ao retornar de suas constantes visitas às obras de Brasília. Com frequência, Juscelino chegava de avião, após o encerramento do expediente no Palácio do Catete, sede da Presidência da República no Rio de Janeiro. Desembarcava no meio da noite, sempre acompanhado por ministros e políticos. O presidente deitava-se tarde, às vezes após a meia-noite. Antes mesmo de o sol nascer, já estava de pé. De hábitos simples, dispensava o terno e saía em mangas de camisa e botas. A primeira-dama, Dona Sarah Kubitschek (1908-1996) frequentava o Catetinho nos feriados, acompanhada das filhas e de amigos. Longa tradição assegura que o pijama de seda Lanvin rosa e o chapéu de couro de lebre marrom pertenceram a JK.


quarto Ernesto Silva Ernesto Silva (1914-2010) foi o primeiro diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil – NOVACAP, empresa pública criada por JK para conduzir as obras de construção da cidade. Sobre a construção de Brasília, contava: “A gente trabalhava demais, e acordava cedo, às seis da manhã, com o vento frio entrando pelas frestas na tábua, mas o trabalho era bom, porque a gente se esforçava para terminar a cidade até a data marcada para a inauguração”. Ele foi o responsável pela criação do Hospital de Base, das Escolas Parque e do Clube de Unidade Vizinhança da 108 Sul. Era um apaixonado pela cidade.


sala de despachos O cômodo foi o primeiro escritório do presidente no Planalto Central. No dia da inauguração do Catetinho, 10 de novembro de 1956, JK despachou daqui, assinando atos referentes à construção de Brasília e examinando o esboço do Palácio da Alvorada ao lado do arquiteto Oscar Niemeyer. Durante as obras, realizou cerca de 300 viagens a Brasília. Nessas ocasiões, a Sala de Despachos tornava-se, então, o escritório onde o presidente exercia suas funções e deliberava com os diretores e engenheiros da NOVACAP.

O aspecto distintivo da sala é a presença de móveis e objetos da década de 1950, em característico estilo modernista. O mobiliário, o telefone e o quadro do pintor Firmino Saldanha (inspirado no traço do Plano-Piloto de Lúcio Costa), são originais e foram restaurados em 1997. A mesa de reunião é de autoria de Joaquim Teneiro; a Poltrona Costela é de Carlo Hauner e Martin Eisner (projeto para a empresa Forma) e o aparador é possivelmente de Hauner.



quarto Bernardo Sayão Bernardo Sayão (1901-1959) foi um dos primeiros diretores da NOVACAP. “Quem olhasse o local onde estava sendo iniciada a construção de Brasília, sempre o veria: chapelão na cabeça; rosto queimado de sol, suando em bica. Estava em toda a parte e sempre em atividade. Reservava para si as tarefas mais árduas e perigosas e as executava com seu inextinguível bom humor. À beleza viril do físico privilegiado aliava-se invejável formação moral. Era bom por natureza e bravo por instinto”, afirmou Juscelino anos depois.

Apaixonado pela construção de estradas, foi designado por JK para abrir a rodovia BelémBrasília. Durante as obras, em plena floresta amazônica, uma árvore enorme foi cortada e caiu exatamente sobre a barraca em que estava. Sayão foi fatalmente atingido e morreu no mesmo dia, foi a primeira pessoa a ser enterrada em Brasília, em 1959, antes mesmo da inauguração da nova capital, no cemitério Campo da Esperança, local que ele mesmo demarcara havia menos de dois anos.


Este espaço serviu como bar durante a época de ocupação do Catetinho. A cachaça Pirassununga 29 que aí está é famosa na região desde a época da construção de Brasília e ainda hoje é produzida no Estado de São Paulo.

sala dos trajes de gala A sala abriga os trajes usados pelo Presidente Juscelino e por Dona Sarah Kubitschek no Baile de Inauguração de Brasília (21/04/1960). O vestido é um modelo de Mena Fiala, comprado na casa Canadá. A casaca foi executada pelo alfaiate Trota, do Rio de Janeiro. Os itens foram doados por Maria Estela Kubitschek, filha do casal. Brasília foi cenário de grandes festas, bailes e banquetes mesmo antes de sua inauguração. Muitos desses eventos ocorriam no Brasília Palace Hotel, pelo qual JK tinha particular apreço. O Catetinho guarda peças da prataria e da louça do hotel.

bar


quarto Israel Pinheiro Israel Pinheiro (1896-1973) foi homem de confiança de JK e o primeiro Diretor Presidente da NOVACAP. O engenheiro considerava a mudança da capital para o interior do país um projeto estratégico para o desenvolvimento econômico do Brasil. “Sem Israel, jamais eu teria construído Brasília”, disse certa vez JK.

Foi ele quem recebeu a missão de construir Brasília dentro do prazo de três anos e dez meses – mesmo tempo que restava ao mandato de Juscelino. Como presidente da companhia, Israel Pinheiro mudouse para o Catetinho com sua esposa dona Coracy e residiu aqui durante todo o período das obras. Após a inauguração da cidade, foi nomeado seu primeiro prefeito. A presença constante do casal provavelmente justifica a razão pela qual o cômodo possui as mais amplas prateleiras e cabideiro do Palácio.

quarto Panair A decisão de construir Brasília ensejou a abertura de duas novas pistas na região do Distrito Federal, sendo a menor aquela que viria a servir o Catetinho, terminada ainda em 1956. Nesse mesmo ano, a companhia aérea Panair do Brasil, instalou os serviços de radiotelegrafia e radiofarol para auxiliar nos pousos e decolagens e na comunicação com o Rio de Janeiro.



anexo do catetinho O Anexo abrigava, originalmente, espaços de serviços do Catetinho, com múltiplos usos, como depósito de mantimentos ou ferramentas, além de cozinha e lavanderia. Os painéis instalados apresentam relatos dos funcionários da FERTISA que participaram da empreitada de construção do palácio. O Museu conserva, até hoje, ferramentas originais do Catetinho, como rastelos, pá, foice, picaretas, cavadeira manual, enxada e carrinho de mão.


sala de música O Catetinho recebeu diversas visitas célebres, entre elas alguns dos artistas mais importantes da cena musical brasileira. Dilermando Reis (1916-1977), compositor e violonista, acompanhava as comitivas oficiais e animava serestas para JK e seus convidados. Na inauguração do Catetinho, o grupo reunido no Palácio de Tábuas foi agraciado com a apresentação do Canto da Nova Capital, primeira música composta em Brasília. Era um samba: letra de Bastos Tigre que Dilermando musicara durante a construção do Catetinho e executava naquela noite para o grupo de convidados.

A estadia no palácio também inspirou os hóspedes Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (19131980). Os dois compositores haviam sido convidados por JK para compor a Sinfonia da Alvorada, a ser executada na cerimônia de inauguração da nova capital. Vieram de fusquinha do Rio de Janeiro e ficaram hospedados por alguns dias no Catetinho. Conta a lenda que, ao experimentar das águas cristalinas da nascente que se encontra ao lado do edifício, criaram a música Água de beber, cujo famoso refrão canta:

Água de beber Água de beber camará Água de beber Água de beber camará


lavanderia Neste espaço funcionava a área de serviço do Catetinho, com os tanques para a lavagem das roupas do Presidente Juscelino e dos demais ocupantes da casa. Na década de 1950, a presença de eletrodomésticos como lavadoras de roupa apenas começa a se popularizar, sendo o serviço de lavadeiras ainda essencial para a rotina dos lares e instituições.

cozinha O tamanho da cozinha, um dos maiores cômodos do palácio, demonstra sua importância para os pioneiros que trabalhavam em Brasília. A chama das lamparinas era mantida com óleo ou querosene, essenciais naquele contexto, já que às 22h todos os habitantes do Catetinho tinham que desligar as luzes elétricas, as quais eram alimentadas por um pequeno motor. O ambiente foi reconstituído cenograficamente com objetos de época e reproduções, comidas artificiais (pães, queijos, bolos, linguiças e outros) e réplicas de produtos de época. O armário de mantimentos foi feito pelas mãos de Luciano Pereira, primeiro zelador do Catetinho.


churrasqueira Em 1º de novembro de 1956, o “Palácio de Tábuas” estava pronto para ser habitado. Engenheiros e operários se reuniram para um churrasco de comemoração em torna da churrasqueira, construída com economia de recursos – uma simples estrutura de alvenaria protegida por cobertura com telha de zinco. Nesse dia de festa e satisfação, Dilermando Reis sugeriu que o Palácio de Tábuas recebesse o nome de Catetinho, em alusão ao Palácio do Catete, sede do Governo no Rio de Janeiro.

catetinho e o meio ambiente O Museu do Catetinho situa-se na Área de Proteção Ambiental Gama e Cabeça de Veado, criada por decreto distrital de 1986. Localizado em uma região de significativa biodiversidade de flora e fauna, dois tipos de vegetação do Bioma Cerrado podem ser vistos na área do museu: a Mata de Galeria, em torno da nascente; e, o Cerrado sentido restrito, caracterizado pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas. Atualmente, há, além do bioma natural, espécies exóticas plantadas em data desconhecida. Entre os animais presentes, destacam-se os macacos, pássaros e répteis.



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