Rito grupo de teatro
Hamlet Envenenado ou o Gosto do Azedo Cena 01 Mulher do Povo: Já casando? Não acredito! Se o finado dela esperasse um pouco mais para morrer, era capaz de assistir ao casamento. Olha lá, está de branco! E pode uma coisa dessas? Rainha: O que é que é? Mulher do Povo: E pode isso, gente? É bem capaz que ela tenha “voltado” a ter cabaço! Rainha: Gentalha invejosa! Vai pro quinto dos infernos, vai! Beija o Rei, que está dançando e se preparam para tirar uma foto (lambe-lambe)! Hamlet: Eu sou aquele que quer partir. Aquele que fracassou, e que nem se quer conseguiu ser máquina. Um bobalhão! O filho da puta, sobrinho do rato e filho do Rei - coisa que não me vale mais nada. Meu pai agora é um lençol, maculado pela volúpia incestuosa de um rato assassino. Rei Rato: O rato roeu a roupa do Rei! O Rei de raiva roeu a Rainha! Hamlet: Que mãe – conjeturo eu – te deu como herança metade do Canal? Que mãe te deu como herança a margem do Jordão, a areia, o petróleo e Golã? Aquele que violentamente usurpa um direito deve resguardar o seu próprio quando a balança se move. Saem os noivos, bailando! Soldado: Senhor - eu vim para velório de seu pai. Hamlet: Ou seja; veio para casório da minha mãe.
Soldado: É verdade senhor, foram logo em seguida. Hamlet: Economia, soldado! Meu pai acaba de morrer, meu tio e minha mãe aproveitam para se casar, assim os canapés do velório puderam ser servidos na festa de casamento. (pausa) Meu pai - estou vendo meu pai, soldado! Soldado: Seu pai? Onde, senhor? Hamlet: No pensamento. Na memória. Soldado: Senhor, eu acho que o vi ontem de noite. Hamlet: Viu quem? Soldado: O Rei, seu pai! Entra o os atores (Rei e Rainha) e cobrem o soldado com um lençol. O fantasma do Rei morto surge diante dos olhos de Hamlet! Hamlet: Meu Pai! Rei Lençol: E disseram seus olhos, apagando-se: Enterrai-os sem cantos. Com fero resistir, eternizai-os. Emprazamos que brotem capulhos de luz nova. Oh, Hamlet! De todos os ataúdes das vítimas se erguerá uma bandeira que diga: Detende-os! Detende-os! Não continueis rebaixando-vos! Já saldaste a dívida das tormentas e a sombra caiu. Oh, meu filho roubado. Não poderemos dormir enquanto fique uma tumba em ti, e fique noite. Hamlet: Meu Tio! Rei Lençol: O sangue derramado não se vende. O sangue derramado pede que resistamos. E resistamos! Hamlet: Enquanto eu possuir meu Pai, um pedaço de terra, enquanto eu possuir uma oliveira, um limoeiro, um poço, uma recordação. Enquanto o teu nome ainda for falado no folclore e na poesia, travarei em face dos meus inimigos, em nome dos livres – trabalhadores, estudantes e poetas – uma guerra devastadora contra os inimigos do sol!
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Rei Lençol: Atravessar, lançar-se. Vencer! Hamlet: Vingar! O Rei lençol gira o pano e atira o mesmo sobre Hamlet. Quando este se livra do pano o Rei já foi embora! Hamlet: Meu pai! Minha raiz, meu tronco e meu nome! Hamlet sai gritando. Cena 02 Ofélia: De criança brincávamos de esconde-esconde. Ainda se lembra de nossos jogos? Todos se escondem, um espera. O rosto contra uma árvore ou parede. As mãos sobre os olhos, até que o último encontre seu lugar, e quem for descoberto, tem de correr do pegador. Se chegar primeiro na árvore, está livre! Se não, fica parado no lugar como se bater a mão numa árvore ou parede, o pregasse ao chão como pedra sepulcral. Ele não pode se mover ate que o último seja encontrado. E às vezes o último por estar tão bem escondido, não é encontrado. Então todos esperam, petrificados, cada qual, seu próprio monumento, pelo último. E às vezes acontece morrer um. Seu esconderijo não é encontrado, não há fome que o faça escapar de sua morte. Aquela que o encontrou fora da fila. Os mortos não tem mais fome. Então não há ressurreição. O pegador revirou cada pedra quatro vezes. Agora só pode esperar, o rosto contra a árvore ou parede. As mãos sobre os olhos, até que o mundo tenha passado por ele. Você percebe seu andar. Ponha suas mãos sobre os olhos, irmão. Os outros, que o pegador pregou ao chão, ao bater a mão numa árvore ou parede não correram depressa de seu esconderijo que não era bem seguro. Eles agora não têm mais sobre seus olhos as mãos, não mais podem se mover e também os olhos não
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mais podem se mover e também os olhos não podem fechar. De acordo com a regra de jogo. Como pedras no cemitério esperam eles. Com os olhos abertos para o último olhar… Hamlet: Em seguida, Ofélia, deixe-me comer o teu coração que chora as minhas lágrimas? Ofélia: Queres comer o meu coração, Hamlet? (ri e sai correndo) Hamlet: O vento arrasta o pólen e a nossa terra sacode-se de noite nos tremores do parto. E o carrasco se engana a si mesmo, cortando a si mesmo a história da incapacidade. A história da ruína e dos escombros. Jovem manhã nossa! Conta ao teu carrasco como são os tremores do parto; conta-lhe como nascem as margaridas da dor da terra, e como levanta-se a manhã do craveiro do sangue das feridas! Nascemos eu e tu, a loucura de quem sabe viver a lucidez e não soube operar eficácia nesta existência! Cena 03 Rainha: Quando a lua cai, como espelhos partidos, cresce a sombra entre nós e morrem as lendas. Não durmas, meu amor, que nossa ferida já se tornou medalha e fogo sobre a lua. E atrás de nossa varanda se anuncia uma manhã, e um braço satisfeito de enlaçar-me e voar. Para que me imagine como uma mariposa, nas candeias da flor de laranjeira. E uns lábios distantes me falem sem palavras. Não durmas, meu amor que atrás de nossa varanda se anuncia a manhã, e as rosas caíram sem perfume de minhas mãos. Não durmas meu amor, que matam os pássaros quando a luz cai, e como espelhos partidos, vamos tratando nossa ferida!
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Hamlet entra carregando um saco negro de cadáver e usando luvas vermelhas – sangue! Hamlet: A minha mãe, a noiva! Os seus seios um roseiral, o ventre um ninho de víboras. Esqueceste teu texto mãezinha. Eu sopro! LAVA-TE DO ROSTO O ASSASSINATO, MEU PRÍNCIPE! Rainha: O que há neste saco de cadáver minha criança? (abrindo o saco negro, fica horrorizada!) Hamlet: Vou fazer de ti novamente uma virgem para que o teu Rei tenha núpcias de sangue. O ventre materno não é uma via de mão única. Agora eu te amarro, as mãos às costas, pois me dá asco o teu abraço, com teu véu de noiva. Rasgo agora o vestido de noiva. Agora tens de gritar! Rainha: Polônio está morto! Me solta com essas mãos vermelhas de Lady MacBeth. Hamlet: Agora lambuzo os farrapos do teu vestido de noiva com a terra em que meu pai se transformou, com estes farrapos o teu rosto, o teu ventre e os teus seios. Rainha: Polônio está morto! Me solta com essas mãos vermelhas de Lady MacBeth. Hamlet: Agora eu te levo, minha mãe, no seu invisível rastro, no invisível rastro do meu pai. Sufoco o teu grito com os meus lábios. Reconheces o fruto do teu ventre? Agora vai às tuas núpcias, puta, aberta ao sol que brilha sobre vivos e mortos. Rainha: Você está morto! Me abraça com essas mãos vermelhas de Lady MacBeth. Hamlet: Pior é viver com um assassino covarde fazendo amor com o salteador do império e do poder em lençóis ensebados… Eles se abraçam, Hamlet se solta e sai carregando o saco de cadáver e a Rainha fica gritando pelo Rei, que entra correndo!
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Rainha: Meu Rei! Meu marido! Hamlet matou Polônio, seu futuro desejado sogro. Pai de Ofélia, teu conselheiro e meu estimado amigo! Rei: Motivo. Eu quero um motivo! E seja ele qual for, tomarei uma decisão! Rainha: O que está tramando para amanhã? Derramar meu sangue e apagar a luz dos meus olhos? Rei: É uma decisão acertada! Somos mais profundos que o mar e estamos mais altos que as estrelas. Rainha: O que está tramando para amanhã? Rasgar a bandeira do meu nome e abrir feridas na minha carne? Apunhalas meus sonhos. O que está tramando? Rei: Dá-me uma corda, um martelo, uma barra de aço que construirei uma forca. Entre meu povo, alguns ainda hesitam, alimentam-se na minha vergonha e caminham de cabeça baixa. Vamos esticar seus pescoços! Como podemos conservar entre nós alguém que lambe toda folha de palmeira que encontra? Rainha: O que está tramando para amanhã? Rei: Cavalheiros! Cavalheiros de todos os rincões, com gravatas em pleno meio-dia e excitantes polêmicas. Que pintais, diz-me neste tempo? Deixai ir seu capricho a lua dos macacos e vinda para cá. Por que eu faço perder as pontes a este mundo. Meu sangue está amarelo, meu coração caído no lodo dos votos. Cavalheiros de todos os rincões! Que seja peste minha afronta, e serpentes minha tristeza! Reluzentes sapatos de todos os rincões! Grita mais a minha vingança do que minha voz. O tempo é um covarde. E não tenho mãos! Rainha: O musgo já me crescendo no coração. Como dizer para a filha, a ausência do Pai, morto por engano pelas mãos vermelhas do nosso filho.
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Rei: Teu filho! Rainha: O sobrinho também é um filho. Rei: Carrega sozinha esse fardo parido. Ou o deixa comigo. E uma nuvem se dissipará no nosso reino e voltaremos a sorrir como o fizemos na nossa recente núpcia! Rainha: Na solidão dos aeroportos, eu respiro aliviada. Eu sou uma privilegiada. O meu nojo é um privilégio, protegidos por muralhas, arame farpado e prisão. Rei: Hamlet partirá! Vai-te embora desterrado Romeu, louco em devaneios... Vai desgraça genética, some dos meus olhos, filho do morto. Sossega e alivia esse coração real cravejado de espinhos de roseira. Cena 04 Ofélia: Mon père! Mon père! Volta para a casa Paizinho! Rainha: Son père! Está morto! Foi morto! Foi enterrado em uma vala comum, abrigo de vermes - casa úmida buraco de putrefação! Sem um cântico para guiar seus passos, uma reza para dizer-lhe que valeu a pena ter caminhado na terra. Ofélia grita desesperadamente, gira e cai no chão. Rainha corre desesperada e com medo. Ofélia: Eu sou Ofélia. Aquela que o rio não conservou. A mulher na forca. A mulher com as veias cortadas. A mulher com excesso de dose SOBRE OS LÁBIOS NEVE a mulher com a cabeça no fogão a gás. Ontem deixei de me matar. Estou só com meus seios, minhas coxas, meu ventre. Rebento os instrumentos do meu cativeiro – a cadeira, a mesa, a cama. Destruo o campo de batalha que foi o meu lar. Escancaro as portas para que o vento possa entrar e o grito do mundo.
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Despedaço a janela. Com as mãos sangrando rasgo as fotografias dos homens que amei e que serviram de mim na cama, mesa, na cadeira, no chão. Toco fogo na minha prisão. Atiro minhas roupas no fogo. Exumo do meu peito o relógio que era o meu coração. Vou para rua, vestida em meu sangue. Cena 05 Hamlet: Não aguento mais ir em busca de novas bacias para lavar as mãos! Por mais que eu faça, esta mancha não sai. Vai-te mancha maldita! Vai-te, digo! Estas mãos nunca ficarão limpas? Sinto ainda o cheiro do sangue: nem todos os perfumes da Arábia poderão fazê-lo desaparecer desta mão pequenina. Polônio está enterrado, não pode sair da cova. O que está feito, não pode ser desfeito. Atravessou-se sobre minha vingança, velho Polônio meu sogro. Inocente Polônio. Chamaram à noite, em todas as nossas portas. Em todas as nossas portas. Em todas as nossas portas. Pediram que não lançássemos pó sobre o sangue valioso. Pelo sangue do meu Pai, retiro a terra comedora e invoco o teu DNA chicoteando na minha cara o teu nome real. Vocês roubaram meus vinhedos e a terra que eu costumava lavrar. Não deixaram nada para meus filhos, exceto as rochas; E ouvi dizer que seu governo vai expropriar até as rochas. Bem, então registre primeiro: não odeio ninguém, nem roubo de ninguém. Mas quando me fizerem ter fome, então comerei a carne do meu opressor. Cuidado, cuidado com a minha fome e a minha raiva.
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Cena 06 Rei e da Rainha, comemorando a partida de Hamlet. Rei: Repetem as duas margens. Em minha pátria, o ciclone, as chuvas e os trovões, e os passos do iracundo vento. Repetem comigo: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Rainha: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Rei: Liberdade! Liberdade! Liberdade! Vai minha rainha, balança esse traseiro e me espera no leito aberta como as portas do Hebron fragoso e imenso! O vento nas montanhas entrelaça a fumaça e por caminhos de noite e tempestades, chovem rochas e pedras: nas cinzas negras: na fumaceira negra! Olha a cara de Hamlet! Na certa é o espectro da sua morte! “Aqui jaz Hamlet, o retardado, abobalhado e débil enteado, sobrinho e odioso homem.” . Cena 07 Ofélia delirando. Ofélia: Às vezes entre a noite e a manhã, vejo os cães rodearem-te. Cães com os dentes à mostra! E tu deitas as mãos às suas patas e ris nos seus dentes. E eu acordo a transpirar de medo. E sei que te amo. Aquele que não mais conseguiu sair da pedra. Sob o punho dos Bórgias, assolado por parasitas. Na pele do maltratado sua cara torta. Amou outra matéria mais do que a pedra. O sexo no mármore. A morte se veste de pedra, com escritos tristes.
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O CÃO, LÍRIO, A COXA, A SOMBRA, OS DENTES E O PÚRPURA, A CARNE VERDE, BEIJO, O PÃO, O SAGRADO, O HOMEM E O SEU CACETE, A MULHER E SUA SOMBRINHA, A SAIA, CASA, PANELINHAS DE BRINCAR NO BARRO, A BONECA E O DESENTUPIDOR DE PIA, BEBEMOS LAXANTE PARA EVACUAR O EXCESSO, O PESO, RENDINHA DA BARRA DA SAIA DE MINHA AVÓ DELICADA, O VÉU DA VIUVA NA MISSA, O PINHEIRO E O JUNÍPERO, A FORÇA E A ROSEIRA BRAVA, UMA ESTRELA E QUATRO LUAS, BEBIDA DE HOMEM, CAMA PARA A MULHER, O TERNO NEGRO DO VELHO, MARGARIDAS, E ARRUDA PARA TODOS NÓS. Ofélia segue delirando. Cena 08 Entra a Rainha. Suspeita que Hamlet morreu. Rainha: Núncio de morte, pavoroso vibra o som terrível do clarim romano!... Oh, cessa de tocar! Cessa, inumano, que o coração me rasgas, fibra a fibra! Ofélia entrega um ramo de arruda para a rainha e diz: Ofélia: Calmai vossa dor, Rainha! Rainha: Que minha dor eu calme?!... Pede ao Eterno que ao sol radiante que apague seu fogo intenso, que em gelo torne a lava dos vulcões, que ele pode às estrelas apagar o brilho, pode os rios secar, secar os mares, não os olhos da mãe que perde um filho! Saem, Ofélia delirando e a rainha atrás.
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Cena 09 . Rei: Eu sou o anjo do desespero. Com as minhas mãos distribuo a embriaguez, o atordoamento, o esquecimento, o prazer e o sofrimento dos corpos. O meu discurso é o silêncio, o meu cântico o grito. Na sombra das minhas asas habita o medo. A minha esperança é o último fôlego. A minha esperança é a primeira batalha. Eu sou a faca com que o morto abre o seu caixão. Eu sou o que há-de ser. O meu voo é a revolta, o meu céu o abismo de amanhã. Sou o incestuoso dono do mundo, assassino, filho da puta. Sou um exímio contador de dinheiro, gosto do sangue e do veneno. Gosto do sexo sujo, de prostitutas, de bebidas e jogos de cartas. Uso terno negro e sapatos lustrosos combinando. Uma boa goma nos cabelos e escuto a boa musica nazifascista. Votem em mim, por gentileza! Bebemos o vinho do veneno!! Cena 10 Suicídio de Ofélia. Ofélia: Correntezas, agora é meu passo. O salgueiro contará aos outros, o que cúmplice de mim testemunhará a morte da filha louca, o nada da tola apaixonada, ou as flores do meu cabelo. Aqui fala Electra. No coração das trevas. Sob o sol da tortura. Para as metrópoles do mundo. Em nome das vítimas. Rejeito todo o sêmen que recebi. Transformo o leite dos meus peitos em veneno mortal. Renego o mundo que pari. Sufoco o mundo que pari entre as minhas coxas. Eu o enterro na minha buceta.
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Abaixo a felicidade da submissão. Viva o ódio, o desprezo, a insurreição, a morte. Quando ela atravessar os vossos dormitórios com facas de carniceiro, conhecereis a verdade. Me assassinaram! Me assassinaram! Me assassinaram! Me assassinaram! Ofélia vai repetindo a frase: “Me assassinaram!” Até mergulhar no lago. Ela se cobre com um tecido, é o túmulo que será visitado por Hamlet. Cena 11 Hamlet: Não sou Hamlet. Não represento mais nenhum papel. As minhas palavras não têm mais nada a dizerme (…). O meu drama já não se realiza. Atrás de mim monta-se a cena. De pessoas a quem o meu drama não interessa, para pessoas a quem ele não diz respeito. A mim também ele já não interessa (…). A montagem cênica é um monumento. Apresenta, cem vezes aumentado, um homem que fez história. A petrificação de uma esperança. O seu nome é (…) [substituível]. A esperança não se concretizou. O monumento encontrase por terra, demolido três anos depois do funeral de estado, esse que foi odiado e venerado pelos seus sucessores no poder. Um farrapo de Shakespeare, no paraíso das bactérias. O céu é uma luva caçando mascarado de nuvens de arquitetura desconhecida. Descanso na árvore morta. As irmãs papa-defunto! Ai, flor no peito dos campos! Se conhecesse o segredo da árvore! Se enterrasse todas as palavras já mortas! Se tivesse a força da tumba silenciosa! Se escrevesse a minha história. Oh mão envergonhada que pulsa essas cinquenta cordas! Digo: te amo, Ofélia desiludida.
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Cena 12 A Mãe suicida. Rainha: Um pouco de mel ficou em teu prato. Espanta as moscas, e protege teu mel. Tua casa ainda possui uma esteira na porta. Fecha a porta e protege teus filhos do vento frio. É um vento muito frio, e teus filhos precisam dormir. Ainda te resta lenha para fazer fogo, café e um pouco de chama. Melhor que a palavra marido, é a palavra filho! Palavra que com a boca colérica, repito: filho! Sob as balas e no meio do fogo; Atrás da qual ainda corro, apesar de ter os pés travados; Cujas pegadas sigo, apesar da noite na maré da cólera ainda carregada. Combato gritando: meu filho! E as pontes e o rio sacrossanto repetem: meu filho! Rainha bebe o vinho da garrafa e morre envenenada. Cena 13 Entra o Rei. Rei: Gertrudes! Teu filho está vivo! Minha esposa! Fala comigo. Fala comigo mulher, imbecil, fracassada, suicida! Fala comigo mulher, a quem eu deixei escapar vergonhosamente o único amor que senti. Não chores minha rainha. Teu Hamlet está vivo. Aquela continuação torta e linda do meu irmão. Câncer incurável. Tivesse morrido no ventre quente desta tua mãe. Ah, infeliz. (para a rainha) Alcoólatra insaciável, por que bebeu o vinho? O meu revolver líquido e escarlate. Tudo foi premeditado para encerrar aquele galho perfeito dessa árvore genealógica. Egoísta. Morreu e deixou aquele fruto podre e nojento para que eu me desfaça. Entra o Hamlet.
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Hamlet: Minha mãe. Ofélia é morta! (olhando o corpo da mãe) Mãe, o que aconteceu aqui? Rei: Gertrudes também é morta. Um ataque fulminante! Meus pesares meu filho Hamlet. Hamlet: Não me toca, assassino. Filho da puta! Ladrão. Monstro. Miserável. Rei: Meu filho. Filho do meu irmão. Hamlet: Ramos estendidos! Somos da mesma árvore... Para ambos os lados do caminho. Estou enamorado de minha morte. Ao tempo de minha entrega redentora. Estou enamorado de minha morte, sob a tua sombra vermelha submergida. Rei: Por que fala de morte? Venha comigo e beba um gole de vinho meu querido! Hamlet empurra o Rei e o obriga a beber do vinho. Hamlet: Bebe o veneno e segue minha mãe. Meu Pai está vingado. Minha mãe está vingada e Ofélia está vingada! Apenas eu não estou vingado... Rei: Maldito filho do meu odioso irmão. (morre) Hamlet: A humanidade promove um licor, um caldo grosso que nos embriaga e as vistas turvam. Um violento "gosto do azedo”! Hamlet caminhando entre os corpos. Hamlet: Agora eu devo morrer também! Mas não farei isso por Ofélia e por mim mesmo. Isso tudo que vocês acabaram de presenciar é pura encenação. Um enredo, que trouxe tragédia cotidiana vivida a cada segundo pelos quatro cantos do mundo. Morte. Corrupção. Assassinato e filha da putisse! A mulher usada pelo homem. O homem se deleitando na carne alheia. O sexo sujo. O dinheiro em pencas. Um desrespeito ao próximo.
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Gostaram de ver desgraça? Gostaram de ver a morte de Ofélia? A mamãezinha bêbada? O egoísmo dos poderosos? Então todos vocês me olhem! E se possível me ajudem a responder. (pausa) Ser ou não ser? Eis a questão! Hamlet cai sobre os joelhos e chora.
Este livreto foi publicado pela
Editora Educadora Ecoaecoa somdecaixa@gmail.com ecoaecoa.org