Coleção RPG Comunativo

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Coleção RPG Comunativo

O Vulcão, a Cobra e a Pedra Sagrada

Esta história foi construída coletivamente como vivência da Ciranda (escola itinerante do MST) durante o encontro do Levante da Juventude, realizado na sede da Via Campesina nos fundos da Ocupação Urbana Casa Rosa, no dia 6 de junho de 2006. Foi escrita pelos seus próprios personagens como relato literário da vivência do jogo RPG Comunativo proposto pela educadora popular Alissa Gottfried nos cenários do Parque da Redenção (Farroupilha) em Porto Alegre.

Editora Editora Ecoaecoa

Porto Alegre, 2014


As colegas Hariná e Rebeca estudavam e moravam na Escola Casa Rosa. As duas eram “nerds” e não eram muito ligadas em moda, por isso, Natana, a colega patricinha, sempre debochava delas, principalmente pela maneira como se vestiam. Mas na hora de apresentar os trabalhos, Natana geralmente passava vergonha, pois as nerds faziam os melhores trabalhos. Na Escola Casa Rosa estava acontecendo uma feira de ciências. Para essa feira as nerds fizeram um vulcão que entrava em erupção de verdade. Para representar a lava usaram tinta vermelha. E quando foram mostrar o seu trabalho só não avisaram a Natana, que ficou toda manchada com a tinta vermelha que espirrou na erupção simulada. Isso deixou a patricinha irada. Quem fazia a dupla com a Natana era o Eduardo, um playboyzinho. O trabalho deles foi baseado na história que a avó dela contava sobre a “Cobra e a Pedra Sagrada”. Eles levaram a pedra que a avó da Natana mostrava quando contava essa história. Mas ao apresentarem para a turma todos começaram a rir e disseram que como a dupla não conseguiu fazer o trabalho estava tentando enganar a todos com essa história de pedra sagrada. A dupla disse então que aquele era só um pedaço dela e que a pedra verdadeira estava na Argentina onde havia uma espécie rara de cobras que era uma mistura de todos os tipos de cobras. Ninguém levou a sério esta história, menos as nerds que foram pesquisar na internet e acabaram descobrindo, para a surpresa até da Natana e do Eduardo, que a história da Cobra e da Pedra Sagrada realmente existia na Terra do Fogo, no sul da Argentina.

Eles ficaram super empolgados com a descoberta e quiseram ir até lá. Natana então ligou para sua amiga argentina, a Alissa. Elas conversaram sobre a pedra, que Alissa conhecia pois ela ficava numa cidade próxima da sua e os convidou para irem até lá conhecer o segredo da pedra. Eduardo e Natana foram até Buenos Aires de jatinho encontrar a Alissa e lá esperaram as nerds que foram de carona até Montevidéu, onde pegaram a barca para Buenos Aires. Quando já estavam chegando na costa da Argentina, Natana as buscou com um jet ski que tinha alugado. Depois disso, pegaram o avião em direção ao sul. No lugar que eles deveriam descer o avião não podia pousar por causa do planalto dos Andes, com muitos vulcões e colinas. O jeito foi descer de paraquedas e felizmente todos chegam bem no chão. Procuram as coordenadas do mapa na trilha e quando acharam que estavam perdidos encontraram a pedra que era alta e pontuda. Enquanto a turma procurava a cobra, Rebeca e Alissa tentavam descobrir o ensinamento da pedra e nisso a nerd achou um mapa desenhado na pedra indicando o caminho para um vulcão onde a cobra estaria. As duas então foram avisar os outros que estavam dentro da floresta. Eles seguiram o mapa e descobriram uma civilização desconhecida. Eles chegaram no lugar indicado no mapa e perceberem que ele ficava em outra dimensão, cuja a pedra sagrada era o portal de acesso. Eles saíram caminhando


procurando a cobra num tipo de parque encantado onde as pessoas andavam em navezinhas e faziam malabarismos. Rebeca encontrou o vulcão e chamou os outros para escalarem até o topo, pois o mapa mostrava que a cobra estava lá em cima. Mas quando chegaram não encontraram cobra nenhuma. Foi então que se deram conta, ali em cima, no cume do vulcão, que a cobra era um símbolo. Ela representava o fogo que vem do centro da Terra, sai pelo vulcão e vira pedra, a Pedra Sagrada. Este era o conhecimento, a Cobra, uma sabedoria sagrada. Após esta descoberta eles desceram do vulcão e encontraram um portal, o Portal do Fogo. Como eles já tinham a sabedoria do fogo conseguiram passar e lá encontraram a Terra – simbolizada por um gordinho sentado e sorridente. Isso fez com que eles se dessem conta que estavam em outro planeta. Acharam que estavam em Marte. Sentiram então muita saudade do planeta deles e como não sabiam como voltar saíram em busca de um mapa. Cruzaram pontes onde havia guardiões e observaram como a meio ambiente e as pessoas ali eram diferentes – elas faziam malabarismos com seus filhos e andavam em umas navezinhas de pedalar. Continuaram procurando a passagem secreta de volta para o planeta Terra e então se depararam com um enorme espelho no chão, que parecia uma piscina. Quando a Natana quis chegar perto, Alissa teve uma intuição e alertou que aquilo era um teste: se olhassem no espelho poderiam ficar hipnotizados com suas próprias imagens e assim caírem dentro do espelho para serem engolidos por areia movediça. Era o teste pra voltarem para a Terra e todos passaram, menos a patricinha. Quando a Natana caiu todos se uniram para trazê-la de volta, até que conseguiram. Isso só aconteceu por que ela se deu conta do valor da amizade. Eles seguiram a caminhada até chegarem numa pracinha, onde testaram todos os brinquedos: o vai-e-vem, o gira-gira, os balanços; achando que algum deles os levaria de volta para casa. Mas estava demorando para encontrar o portal. Nesse momento, um mestre ancião nativo dessa outra dimensão apareceu e falou para eles que a passagem poderia ser feita através de uma árvore. Sugeriu então que eles abraçassem a de mãos dadas a maior árvore que havia ali. Mas também não era essa a passagem de volta pra casa. Foi quando chegou outro nativo em uma navezinha de pedalar oferecendo alimento. Eles dividiram a comida entre todos, confiando no alienígena que se chamava Adriano. Depois que comeram ele disse que esse alimento dava superpoderes e que ele podia levá-los de volta pra Terra, já que sabia o caminho porque já esteve algumas vezes estudando o planeta Terra. Antes de partirem Adriano perguntou qual era o superpoder de cada um. Natana – que deixou de ser patricinha depois da experiência com o espelho – disse que o dela era se comunicar com os animais e fortalecer as plantas. O Eduardo tinha o poder do laser (fogo), e que tanto quebrava quanto consertava as máquinas e coisas feitas de ferro na Terra. A Rebeca ganhou o poder do ar, e podia afastar as coisas com o vento. Já a Hariná tinha o poder da água, ela conseguia purificar a água suja dos rios, mas não podia


impedir que continuasse sendo poluída. E a Alissa o poder da intuição. Então todos se prepararam para voltar para a Terra com a nave do Adriano. Para isso eles tinham que segui-lo até outro portal. Este portal era parecido com o da Argentina, que deu acesso àquele mundo. Também era comprido como um obelisco, mas ao invés de pontudo era todo arredondado. Quando eles viram o portal ficaram muito contentes e chamaram o Adriano para ir com eles para a Terra. Ele aceitou o convite e ao chegarem se depararam com uma floresta toda enjaulada. A Alissa se desesperou ao ver isso e gritou: - Nãão! O que fizeram com a natureza da Terra?!!! Todos os animais estão presos em jaulas e está tudo cercado! Mas o Eduardo lembrou a todos os poderes que receberam e que o poder do laser ou do fogo poderia destruir todas aquelas jaulas e grades. Enquanto ele quebrava os cadeados e correntes e colocava fogo em todas aquelas grades a Natana se comunicou com os animais, dizendo para eles que agora estavam livres e precisavam se acostumar com isso, achando meios de se adaptarem longe de quem os prenderam. Ela deu uma força para as árvores e plantas da região, fortalecendo o poder regenerador e reprodutor delas. A Hariná nutriu a terra e os animais com água mineral de rocha. Continuaram andando dentro da floresta em direção à cidade. Antes de chegarem encontram um labirinto vegetal. A Alissa logo percebeu que se tratava de mais um teste. Eles entraram e logo se perderam, até que encontraram uma fonte quase seca. Era a Fonte da Sabedoria. A Alissa disse então que todos deveriam beber daquela fonte para poderem voltar pra cidade. Depois de beberem eles logo encontraram a saída do labirinto e chegaram perto de uma das ruas da cidade Portal Alegre. Nessa hora todos se assustaram com a quantidade de carros e a pressa dos motoristas. Ficaram impressionados com tantas mudanças que foram percebendo no caminho. Tantos fios, prédios, lixo jogado pelas ruas. Alissa intuiu que havia passado mais tempo para as pessoas na Terra do que pra eles em Marte. Talvez uns 50 anos. No caminho de volta para a escola Eduardo quis comprar umas frutas, mas o dinheiro que eles tinham já não valia mais. Isso fez com que eles pensassem como fariam para conseguirem dinheiro. Então o Adriano, que já não sentia mais nada familiar na Terra teve uma ideia: juntar latinhas jogadas nas ruas para servir da matéria-prima para a construção de brinquedos. Um pouco antes de chegarem eles se deram conta que se já se passara tanto tempo as pessoas que moravam com eles na escola estavam, no mínimo, 40 anos mais velhas e a maioria possivelmente já teria morrido. Isso foi um choque, pois estavam com muita saudade de todos, tanto que chegaram cantando: – Saudosa maloca, maloca querida, din-din donde nós passemo dias feliz de nossas vidas! Quando entraram viram que todos que estavam morando na escola eram filhos dos amigos que estavam estudando, morando e trabalhando antes com eles, alguns até


tinham nascido lá. Eles ficaram loucos querendo saber o que tinha acontecido com todos os seus amigos dali, os pais de seus novos amigos. Contaram as aventuras da viagem que fizeram e escreveram os ensinamentos sagrados que receberam para que todos pudessem ter acesso a eles. Faltou dizer qual eram os super poderes do Adriano: ele podia multiplicar os poderes das pessoas, fazer brinquedos e gerar renda com sucata. E qual é o seu?


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A VILA PINTO VAI À ÁFRICA História construída com o jogo de RPG comunativo na Vila Pinto/Bom Jesus em Porto Alegre em 2007 realizado pela Educadora Alissa Gottfried, integrante da Ecoaecoa Coletivo com apoio da Descentralização da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre. Editora Editora Ecoaecoa

Porto Alegre, 2014 Na grande Casa das Artistas da Vila Pinto, Isabela, Wellinton, Jéssica, Ingrid, Karoline, Mauro, Larissa, Alissa, Washington, Guilherme, Itiela, Mirian, Lilian, Allan, Rafaela, Jeferson, estavam reunidos


assistindo a TV Comunitária quando chegaram a Suelen e a Paula que os convidaram a construir um balão para irem todos juntos para a África. Naquele dia fazia frio então eles acenderam uma fogueira e se reuniram ao seu redor para conversar sobre como fariam para irem à África. Um ano depois eles produziram várias coisas para conseguir o dinheiro para a viagem de balão. Uma delas foi um livro sobre a saia­saia (planta nativa da Vila Pinto que da nome a reserva ecológica da comunidade) que vendeu bastante. Eles descobriram que a saia­saia era uma flor da família bombacaceae mesma família do Baobá, que é nativo da África. A história sobre a saia­saia passou a ser escrita pela comunidade da Vila Pinto e acabou sendo lida por muita gente. Quando o balão finalmente ficou pronto eles fizeram uma grande festa. O Guilherme tocou violão e a galera tocou tambor e cantou. A festa estava bem divertida, teve teatro também. No momento da partida promoveram um abraço coletivo que virou uma roda bem grande em volta do balão. Lá de cima eles jogaram bilhetinhos para os amigos que ficaram fazendo malabares de fogo. A noite da viagem foi linda! As janelinhas das casas lá embaixo refletiam como estrelas. Navegaram todo o Oceano Atlântico e chegaram à África. Antes do balão descer alguns pularam de paraquedas. Eles mergulharam numa comunidade africana chamada Kibera. Lá tocaram tambor na chegada e isso atraiu muita gente bonita. Nessa Comunidade a banana era a base da economia local e eles comeram muita banana que compravam na feira de economia social Babacana. Foram bem recebid@s e convidad@s a fazer o caminho das sagradas árvores avós gigantes. O caminho foi acompanhado por cada uma das árvores e cada árvore era uma história. Depois de algum tempo perceberam que a natureza da África era bastante peculiar. Tinha borboletas tão coloridas que até brilhavam no escuro. Tinha frutas diferentes também, gostaram muito de uma chamada Piuí. Na África eles conversaram muito com as comunidades sobre a saia­saia, e foi uma surpresa quando descobriram que essa fruta nascia de uma flor parecida com a saia­saia. Por lá, ouviram muitas histórias sobre a Piuí. Uma das lendas sobre a planta é que dentro da flor mora uma fada que só aparece para algumas pessoas. Quando a fada quer passear ela vira uma borboleta. Eles escreveram todas essas histórias para lançar outro livro sobre a saia­saia. Dessa vez contada pelos africanos. Seguiram viagem e conheceram muitas outras cidades e comunidades. Aprendiam tanta coisa na viagem. Visitaram uma comunidade onde todas as pessoas faziam e usavam colares muito coloridos.A Suelen aprendeu a fazer colares para ensinar quem quiser aprender na Vila Pinto. Eles quiseram ver a África do alto então o Wellington convidou o pessoal para irem ao Egito de balão. Viram muitos bichos, girafas, zebras, elefantes... E ficam impressionados com tantas pirâmides no meio do deserto.


Durante a viagem no balão o Wellington foi contando muitas histórias sobre os faraós, as múmias e o Enigma da Esfinge. Até que foram atraídos por luzes coloridas que eram refletidas próximo de uma das pirâmides. Foram até lá pensando que era uma festa, mas foram surpreendidos ao descobrirem que se tratava de uma nave especial que tocava um tipo de musica eletrônica. Eles desceram lá de balão, dançaram e conheceram muita gente legal do Egito. Os extraterrestres que estavam colocando o som na festa gostaram tanto do balão que convenceram a turma a vendê­lo para eles. Com o dinheiro puderam voltar para o Brasil. Quiseram viajar de submarino para conhecer o fundo do oceano Atlântico. Foi impressionante! Viram enormes polvos e baleias. Muitos tipos de peixes e cemitérios de embarcações, algumas da época dos piratas. A Isabela ficou um pouco preocupada quando estavam passando perto do Triângulo das Bermudas. Ela sempre ouvia histórias de que os barcos sumiam lá. Mas o capitão explicou que no fundo dos oceanos tem muitos mistérios e dá para conhecer muito da história do planeta navegando de submarino. Ele desviou um pouco o caminho e passou por uma cidade submersa que tinha uma arquitetura muito diferente. Parecia uma cidade do futuro. Alguns dias depois chegaram no Brasil, foram de ônibus para Porto Alegre e chegaram na Vila Pinto com mais um monte de histórias, conhecimentos e presentes para a comunidade. Para reunir a comunidade eles organizaram o primeiro acampamento dos artistas comunitários. O acampamento foi na reserva ecológica Saia­saia. Lá eles mostraram as fotos da viagem e um desenho animado que o Mauro fez na casa dos artistas sobre a viagem de balão. Para mostrar o filme eles montaram um cinema no pátio da entrada da reserva. Todos gostaram muito do desenho e compraram cópias que o Mauro tinha feito para quem quisesse. Fizeram também muitos programas para a TV Comunitária na Produtora da Escola Comunitária sobre as coisas que aprenderam na África. Eles agora estão esperando a visita dos amigos que fizeram na viagem e que combinaram de conhecer a Vila Pinto e a Casa dos Artistas.



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Rádio Pipa Este livro foi produzido pela Arte Educadora Alissa Gottfried, na atividade RPG Comunativo, realizada na Residência Artística Realidade Diminuída EME >> Estúdio Móvel Experimental, na Comunidade Esqueleto do Jardim Gramacho em Duque de Caxias/RJ, próximo ao maior Lixão da América Latina nos dias 6 a 18 de setembro de 2010. Editora Editora Ecoaecoa

Porto Alegre, 2014


Na comunidade Esqueleto, no Jardim Gramacho muitas famílias foram beneficiadas pelo programa da casa própria: “Minha Casa, Minha Vida”. Isso aconteceu depois de uma tempestade que deixou muitas famílias sem abrigo. Pra conseguir esse recurso as famílias do Esqueleto se organizaram com a Associação de Moradores pra fazer o pedido do recurso para a casa própria. Muitas precisaram de ajuda da Prefeitura, pois precisavam ter documentos de identidade ou registro de nascimento de todas as pessoas da família. Por causa disso Karen não conseguiu receber o benefício. Isso por que não consegue encontrar sua mãe que foi morar em outro estado e nunca registrou a filha. Luana recebeu o recurso, mas não quis montar sua casa própria, ao invés disso chamou seu irmão Leandro que também foi beneficiado e juntos construíram um prédio de 3 andares para ali realizarem o sonho de Luana: desenvolver um projeto de escola comunitária com os jovens do Jardim Gramacho. O nome escolhido para este projeto foi Escola Cooperativa.Nessa escola eram oferecidos cursos para a comunidade se desenvolver com mais autonomia. Entre os cursos oferecidos estavam os de: ­ Politica e Direitos Humanos: para apreenderem a se organizar e lutarem por melhorias na comunidade; ­ Saúde e Meio Ambiente: para se protegerem e cuidarem dos acidentes na Rampa e conseguirem aproveitar melhor os materiais além de evitar doenças respiratórias com a queima de materiais por exemplo; – Comunicação Comunitária e Gestão de Projetos: para articularem­se e realizarem seus próprios projetos. Por meio do professor Luisinho quatro estudantes da UERJ se tornaram parceiros da Escola: Alissa, Felipe, Silvia e Adriano. Com ajuda do Adriano e da Silvia a Luana e Leandro construíram uma antena de Rádio na Escola para transmitir as aulas da escola na rádio que ganhou o nome de Rádio Pipa. A rádio ganhou esse nome por causa do projeto de arteducação ambiental que a Alissa e o Felipe desenvolveram com a colaboração da professora Karine, da Igreja do Nazareno. Juliane e Marceli também dão aula com Karine nessa Igreja alfabetizando crianças da comunidade. Bola e Vitória são educandos da Escola Cooperativa. Os dois descobriram que são artistas participando dos projetos da escola. Eles contaram que desde criança gostavam de desenhar, mas não tinham incentivo nem acreditavam que pudessem trabalhar com arte. Agora estão apreendendo a captar recursos para desenvolver projetos de arte escrevendo para editais da FUNARTE. O projeto que estão escrevendo agora é para dar aula de animação e arte gráfica na Escola Cooperativa. Luana e Karen passaram a trabalhar juntas na Rampa (Aterro Sanitário Jardim Gramacho) fazendo coleta, seleção e venda de materiais. Além disso são colegas à noite no ProJovem. Luana estudava bastante pois quer ser advogada para defender as causas das mulheres, principalmente casos de violência de pais e maridos dentro de casa. Conversando com a colega ficou sabendo do seu problema de moradia. Então convidou Karen para ir morar e colaborar na Escola. Karen aceitou na hora e se propôs a cuidar da limpeza do prédio além de dar aula no curso de saúde, pois, está estudando para ser médica. Na comunidade ela é uma das únicas pessoas que cuida dos ferimentos causados por acidentes na Rampa. Pra fazer os curativos ela tenta pegar os


materiais e remédios no Posto de Saúde, quando não tem ela mesma compra se a pessoa não tiver dinheiro. Kaiane é irmã de Kevin e Karen, gosta muito de animais e por isso cuida dos animais da comunidade. Além disso, colabora na Escola Cooperativa dando aula de saúde com a irmã e desenvolvendo vários projetos de educação ambiental. Um deles é sobre a questão dos porcos na comunidade, alertando sobre a Tênia (parasita que pode se alojar no corpo das pessoas que comem carde de porco mal passada). Criou um projeto com o Aterro Sanitário, o projeto “Mangue pede socorro”, onde pesquisa os animais que vem apresentando mutações genéticas causadas pelo lixo tóxico, inclusive petróleo. Esses animais são motivo de pânico na comunidade e muitos boatos correm sobre isso. Algumas pessoas dizem ter visto esses animais falam que são como dinossauros azuis, outros que são “galinha d´água”. Há uma outra hipótese para o surgimento desses animais, levantada pelo Luisinho que é professor de Genética da UERJ. Ele diz que essas aberrações teriam sido causadas por uma contaminação de lixo radioativo na água da Baia de Guanabara. Luisinho também é parceiro da Escola Cooperativa onde desenvolve e assessora projetos de educação ambiental com a comunidade. Como ele é professor de Biologia na nessa universidade em Duque de Caxias encaminha vários de seus orientandos para fazer estágio na Escola Cooperativa. O último projeto que vem colaborando é a Rádio Pipa. Vitor é mestre de obras e já construiu várias casas na comunidade, inclusive o prédio da Escola Cooperativa. Ele estuda para ser engenheiro e quer desenvolver vários projetos de construção para o Jardim Gramacho. Seus outros dois amigos que moram com ele, Luan e seu xará Vitor, trabalham na Rampa e são pedreiros. Os três trabalham juntos em algumas construções usando materiais recicláveis. Uma delas foi uma praça com brinquedos feitos com pneus e garrafas PET´s. Na Rampa Luan trabalha vendendo e comprando material. O outro Vitor é guarda da Rampa assim tem contato de todos os compradores, por isso faz a comunicação entre os recicladores e os vendedores. Atualmente ele está conversando com o Vitor, mestre de obras, para construírem um galpão de reciclagem. Leandro, irmão de Luana é encanador. Ele entende tudo de rede hidráulica. Foi ele que cuidou dessa parte na construção do prédio da Escola Cooperativa. Ele também estuda no ProJovem pois quer ser bombeiro. Ele está preocupado com a situação da água na comunidade, pois de quinta a segunda acaba a água encanada e então as pessoas tem que comprar água do Caminhão Pipa do Kévin. O esgoto também é outro descaso do governo do RJ, que parece não se importar com os moradores da comunidade Esqueleto. Isso faz com que Leandro tenha problemas nos trabalhos de hidráulica nas construções que trabalha.



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História Cantada Memória Animada

Este livro foi produzido pela Arte Educadora Alissa Gottfried, na atividade RPG Comunativo, realizada no projeto RPG Comunativo ­ Produção Literária com MetaReciclagem. Prêmio aprovado do edital Interações Estéticas em Pontos de Cultura, na Comunidade na comunidade do Ponto de Cultura Som das Comunidades no complexo de favelas do Morro do Turano ­ Bairro Rio Comprido no Rio de Janeiro de fevereiro a julho de 2011. Editora Editora Ecoaecoa

Porto Alegre, 2014


Dia de sol na Praça do Rio Comprido, zona Norte do Rio de Janeiro. Mais um sábado de feira onde empreendedores em diversas banquinhas ocupam boa parte da praça expondo roupas, estampas, bolsas e bijuterias que eles mesmos produzem. Além dos feirantes reunem­se nesse local artistas, sambistas e compositores do Turano, como Samuel que toca em seu violão, um presente do professor Luis do Ponto de Cultura O Som das Comunidades, sambas de sua autoria que agradam tanto o público e ainda acaba ganhando um dinheiro no fim da tarde. Vários músicos e amigos aparecem para cantar com ele nas rodas de som na praça. Samuel é um dos compositores mais conhecidos da comunidade Matinha no Complexo de favelas do Turano. As irmãs Luciene, Luciana e Ingrid adoram os sambas de Samuel. Elas também têm uma banca na feira expondo as roupas da grife que elas mesmas criaram como cooperativa, onde Luciene é quem desenha e cria os modelos, Luciana costura e Ingrid faz a divulgação promove desfiles com apoio dos colegas, do amigo Emerson e do bazar da Terezinha na ONG GEFEP. Nessa tarde o movimento na praça está ainda maior pois é época de carnaval e faz muito calor Rio de Janeiro. As irmãs Bruna e Janaína, frequentam a roda de samba que acontece todos os sábados. Entre uma batucada e outra elas acabam comentando com os amigos, Ingrid e Emerson, sobre nunca terem ido na Sapucaí ver os desfiles ao vivo pois seus pais não gostam de carnaval. Emerson então propõe ao grupo de amigos ali reunidos de ir juntos naquela noite ver o desfile das Escolas de Samba na Apoteose. Chegando na Sapucaí foram logo tentar comprar os ingressos, mas estava tão caro que mesmo juntando todo o dinheiro que tinham não teria como pagar nem o lugar mais barato; mesmo assim puderam assistir a entrada das escolas em uma arquibancada popular montada pela prefeitura bem na frente do Canal do Mangue, que é um esgotão no meio da avenida Presidente Vargas no centro do Rio. Durante os desfiles, Thaís que é uma das produtoras do jornal Amigos do Bairro da comunidade Matinha, aproveita para registrar tudo que está vendo com fotos e publicar uma reportagem do carnaval carioca em sua coluna. Eles se divertem muito durante toda a noite e na volta para casa Emerson diz sempre ter sonhado trabalhar em uma escola de samba. Ingrid então pergunta: ­ Porque nós mesmos não criamos uma escola de samba no Rio Comprido, sendo que em nossa comunidade existem vários talentos artísticos que poderiam ajudar a realizar esse sonho? Todos ficaram muito empolgados imaginando o que cada um poderia fazer para começar a realizar essa ideia e que dificuldades encontrariam. Thaís prometeu escrever sobre o sonho de Emerson na matéria que irá publicar no Jornal, ainda sem saber muito bem como poderiam transformar o plano em realidade. A maioria dos jovens desse grupo terminou já faz algum tempo o Segundo Grau e nunca conseguiu uma oportunidade de continuar os estudos, pois não conseguem pagar um cursinho tampouco a universidade particular localizada na comunidade em que moram.


Taís como é educadora popular na comunidade, sugere ao grupo de ir conversar com a Dona Terezinha na ONG de Educação Popular GEFEP. Por sua vez dona Terezinha os orienta a organizarem a divulgação da proposta para mobilizar os jovens e entidades da comunidade, que queiram assim como ela, apoiar a construção dessa Escola de Samba no complexo do Turano. Após vários cartazes e reuniões na ONG GEFEP, o grupo percebeu que vinha aprendendo bastante com o movimento gerado pela busca de realizar um objetivo comum de idealizar a Escola Comunitária. Assim, o grupo fortalecido planejou promover uma assembleia geral para apresentar suas ideias na comunidade. Para essa assembleia o jornal Amigos do Bairro, a Associação de Moradores do Rio Comprido, a Biblioteca comunitária, a UPP, a comunidade acadêmica da Universidade Particular Estácio de Sá, a secretária de cultura da prefeitura, músicos e compositores que ensaiam no estúdio do Ponto de Cultura Som das Comunidades, os educadores populares, os feirantes da Praça, toda a comunidade e principalmente os jovens que estão sem estudar foram convocados. Enquanto faziam a divulgação da assembleia na praça, conheceram o professor de biologia chamado Lucas e a estudante de jornalismo chamada Gisele, ambos da Universidade Estácio, que faziam uma coleta de material no chafariz da praça e no esgoto da avenida Paulo de Frontin, que um dia foi um rio e podia se nadar nele, vindo então à dar o nome ao bairro do Rio Comprido. Eles procuravam focos de mosquitos da dengue devido ao aumento dos casos de moradores contaminados na região. Taís conversando bastante com eles, tomou nota de todas as informações importantes sobre a de dengue e as formas de evitá­la para poder alertar a comunidade através do jornal. Chega o dia da assembleia! A assembleia aconteceu no único espaço que conseguiria abrigar todo o público presente: A quadra da Matinha. Esse evento teve uma cobertura jornalística feita em equipe, onde Gisele filmou e Janaína foi a repórter e Bruna com a ajuda de Emili fotografou a assembleia. Tudo transmitido ao vivo pela rádio poste que a comunidade montou na quadra da Matinha. Os temas e assuntos que foram abordados na assembleia foram sugeridos no início do evento para que todos os presentes pudessem dar suas opiniões e debater sobre as demandas apresentadas pelos próprios moradores das comunidades do Turano. Muitas pessoas da comunidade estavam presentes junto com professores e diretores da universidade Estácio de Sá e representantes das secretárias da Cultura e da Educação do estado. Todos puderam entender os objetivos da assembleia e as dificuldades da comunidade para se desenvolver, principalmente o problema que os jovens vinham enfrentando para continuar os estudos. Houveram também as manifestações em relação aos direitos da população quanto a educação pública e de qualidade, exigindo uma política de cotas que assegure vagas gratuitas para os moradores da comunidade e a proposta de criação de uma Escola de Samba do Rio Comprido. Até quem não estava presente na quadra da Matinha podia ouvir de casa tudo o que era dito na assembleia com a transmissão pelos difusores da rádio poste. Ao término da assembleia, professores da Estácio sugeriram que todo o vídeo e o áudio gravados fossem editados pelos alunos da universidade e enviados para o canal aberto da tv comunitária do Rio de Janeiro sendo transmitidos para todo o estado.


Muita gente viu essa notícia na televisão, inclusive alguns turistas estrangeiros que estavam no Rio, assim como Beni e Sofia, um casal de universitários da Alemanha, que ficaram muito impressionados com a força do movimento jovem da comunidade do Rio Comprido e decidiram ir conhecer a Escola Comunitária e a ONG GEFEP. Chegando no GEFEP onde também é sede do Ponto de Cultura O Som das Comunidades, conversaram com o professor Luis que falou das atividades do Ponto e da ONG para eles. Logo depois Terezinha apresentou a eles os espaços da casa, nisso viram Janaína que estava escolhendo um livro na biblioteca. Ela foi reconhecida por Sofia por ter sido a repórter na assembleia, destacando­se bastante durante a reportagem na TV. Quando conversaram com Janaína ela falou sobre as atividades que a Escola Comunitária estava organizando e convidou­os à participarem do movimento pela conquista de vagas nas universidades para a comunidade. Depois desse convite acompanharam o grupo nas reuniões com os representantes e professores por todas as universidades localizadas no Rio Comprido. Depois da reunião na universidade Estácio, Sofia falou que poderia ajudar o grupo à conseguir algumas bolsas para intercâmbio em escolas profissionalizantes em universidades na Alemanha, para que o grupo de jovens e a comunidade possa buscar apoio em outros países para a construção da Escola de Samba. Depois de muitas manifestações as vagas foram aprovadas e a Escola Comunitária organizou uma festa no quintal do GEFEP onde vários jovens fizeram uma batucada com Luis e Valerinho, um italiano que é parceiro da ONG. Durante a festa que também foi uma despedida para Bene e Sofia, Antônia que é uma das educadoras populares do GEFEP, pergunta para o grupo que curso cada um deles vai escolher. Todos responderam que seria o curso mais ligado a atividade que desempenhariam na Escola de Samba. Emerson quer ser carnavalesco e escolheu o curso de história. Janaína fará letras para continuar escrevendo poesias e ser tornar escritora. Bruna, artes visuais, pois pretende trabalhar na escolha dos matérias para as fantasias e os carros alegóricos, buscando sempre materias alternativos comprados em cooperativas de triagem de lixo. Luciene está na dúvida entre moda, design e artes visuais, pois pretende melhorar seus desenhos e desenvolver mais sua criatividade para criar as fantasias. Ingrid acha que o melhor curso para ela seria produção e organização de eventos, mas como não tem essa opção pensou em publicidade e propaganda para saber divulgar e promover os eventos e as festas que produzir com a Escola Comunitária e para a Grife. Taís sempre teve certeza do que queria, e como o jornal que criou está fortalecendo bastante o movimento pensou que fazer o curso de jornalismo para ajudar a propagar mais longe as ações e as dificuldades da comunidade documentadas pelo jornal Amigos do Bairro. Como os outros não responderam, Luis pergunta para Samuel que curso ele irá escolher. Samuel responde que não conseguirá a vaga pois ainda não concluiu o ensino fundamental. Antonia sabendo do problema de Samuel lhe oferece aulas particulares afirmou que dedicando­se poderá fazer as provas do ENEM no fim do ano. Samuel empolgado com a ideia aceitou a ajuda de Antonia na hora, pois quer seguir o exemplo de seu professor Luis e fazer o curso de musicoterapia. Já Iran, que gosta muito de mecânica acabou interessado em trabalhar na construção dos carros alegóricos. Mesmo depois de saber que poderia conseguir entrar no curso de engenharia mecânica, pediu aulas para o senhor Mendes mecânico do bairro e com a ajuda dele Iran teve a ideia de reaproveitarem as peças e carcaças dos vários carros abandonados nas ruas da Matinha, e com isso construir os carros alegóricos.


Todos gostaram muito de saber que Iran e o senhor Mendes já estavam iniciando o trabalho para fazer os carros alegóricos, mas disseram que estão precisando de várias ferramentas e instrumentos de trabalho, pois estão tendo que trabalhar na rua porquê seu Mendes perdeu o espaço da sua Mecânica. Isso preocupou o grupo e eles pensaram que tinham que conseguir um lugar grande para trabalharem e também servir de sede para a escola da samba. Bruna que sabe da existência muitos sobrados históricos que antigamente sediaram clubes e saraus e agora encontram­se abandonados virando ruínas no bairro, sugeriu então que poderiam tentar ocupar algum, até como forma de ajuda na preservação da história do Rio Comprido. E foi o que fizeram. Combinaram ali mesmo de saírem juntos para procurar e pesquisar um desses sobrados que pudesse servir de sede para a Escola Comunitária desenvolver seus projetos e construir uma escola de samba além de poderem morar juntos. Dona Terezinha, que estava por ali, não pode deixar de ouvir a conversa sobre a ideia de ocupação mas não falou nada. No dia seguinte ao entardecer quando começavam a se reunir na rua próximo ao GEFEP, Terezinha os chamou para uma reunião. Disse que queria conversar com eles sobre a questão da sede para o grupo. Por ter recebido a doação de uma casa que ainda está sem uso e precisa de alguns cuidados, decide sede­la para que eles organizassem atividades de educação e cultura com a comunidade. A turma não acreditou no que ouviu, e logo imaginou que a casa deveria ser velha ou longe dali, mas pelo contrário, a casa que ela estava oferecendo para elesfazerem a sede da Escola Comunitária era enorme, bonita, conservada e no mesmo quarteirão do GEFEP, ao lado do projeto Casa da Árvore que eles frequentavam quando criança. Além do espaço para a escola tem também uma enorme garagem na frente para Iran e seu professor Mendes guardarem as ferramentas e as peças dos carros abandonados que querem reciclar. No mesmo dia que dona Terezinha mostrou a casa para eles, iniciaram o mutirão de faxina e conversaram muito sobre a proposta de uso da casa, como se organizariam ali, que atividades e em quais espaços poderiam desenvolver cada oficina e quando seria a abertura da casa para a comunidade. Thaís então teve a seguinte ideia: ­ Poderíamos organizar aqui nessa casa um curso de Educação Popular para envolver mais pessoas no movimento E a partir desse curso organizarmos diversas frentes de trabalho como oficinas de arte, fantasia, costura, música, mecânica, alegorias, além de comunicação comunitária com a equipe do Jornal Amigos do Bairro com a montagem de um Laboratório com computadores reciclados. A ideia foi aprovada por todos, e Bruna no dia seguinte já começou a produzir os cartazes e com a ajuda de Camila e Valério no GEFEP criaram o blog da Escola Comunitária divulgando a programação e as pesquisas que vinha fazendo com os livros que Terezinha emprestou para o Grupo e reuniu no blog todos os vídeos e matérias que vinham sendo feitas com o jornal Amigos do Bairro. E foi assim que Alissa e Felipe, educadores populares de Porto Alegre, ficaram sabendo do curso. Pesquisando na internet viram as propostas de atividades e oficinas no blog, e mandaram um e­mail mostrando estarem interessados em fazer o curso e ajudar o grupo na montagem do metalab (laboratório de Metareciclagem feito com computadores reciclados) tornando­se colaboradores na Escola Comunitária.


Bruna conversou com grupo sobre o interesse deles em participar do curso e então respondeu não só convidando­os a integrar a equipe, mas também oferecendo hospedagem para ficarem por algum tempo hospedados na nova sede da Escola junto com os estudantes do movimento. Por meio ano Alissa e Felipe colaboram com a Escola Comunitária e conviveram bastante com o grupo, menos com Iran e Luciana, que conseguiram fazer um intercâmbio para Alemanha com ajuda de Bene e Sofia. Quando Iran estava com tudo certo para ir pra Alemanha incentivou Luciana para ir também, pois Sofia havia conseguido vaga em um curso de alta costura para ela. Antes deles partirem foi feita uma reunião da Escola de Samba e em seguida uma grande festa na quadra da Matinha. Assim como na assembleia, tudo foi transmitido pela rádio poste com a colaboração de todos, e uma matéria escrita por Thaís saiu no jornal Amigos do Bairro divulgando ainda mais o projeto, e as ideias da escola de samba e a festa que irá acontecer na escola comunitária organizada pelo coletivo. Ainda durante a assembléia, ficou decidido as atividades que cada um se encarregou de desempenhar dentro do projeto. Os jovens com a ajuda dos moradores da comunidade decidem então organizar uma festa mensal para arrecadar fundos para instrumentos e a construção dos carros alegóricos. Toda comunidade ficou sabendo através da transmissão ao vivo da reunião que a escola a partir desse dia passaria a ser chamada de ACADÊMICOS DO RIO COMPRIDO e que o tema do samba enredo para o primeiro ano da escola de samba, que foi ideia do Emerson, seria HISTÓRIA CANTADA / MEMÓRIA ANIMADA. No fim da reunião, Samuel foi convidado à escrever a letra do tema junto com o grupo. Ele ficou tão contente com o convite que compõe ali mesmo uma música. Terminada a reunião Samuel mostra a música para Felipe, Luis e Valério, que juntos puxaram a batucada cantando o samba enredo e a festa começou, com todos arrastando as cadeiras e ocupando a quadra para cairem no samba cantando a o Samba enredo da Escola de Samba Acadêmicos do Rio Comprido: HISTÓRIA CANTADA MEMÓRIA ANIMADA UM DIA DE SOL TODO RIO COMPRIDO MÚSICA NA PRAÇA VITRINE CONTRA OPRESSÃO ESCOLA DE SAMBA GESTO DE COOPERAÇÃO FEITO NO BRASIL VOCÊ MENTE ABERTA FORÇA JOVEM DETALHE SOCIAL ESCOLHA DE VER A NOSSA POLÍTICA NÃO VIRAR SÓ CAR­NA­VAL! Luis ficou muito empolgado com a festa e propôs ao grupo de organizar um festival de compositores do Complexo de Favelas do Turano ali mesmo na quadra. O pessoal achou uma ótima ideia e Alexandra, uma intercambista que veio dos EUA para pesquisar a cultura musical das periferias


do Rio de Janeiro decidiu ajudar na organização do evento. Quando começou o curso de Educação Popular da Escola Comunitária, depois de ser bastante divulgado, surgiram algumas doações de computadores velhos e um grupo de moradores da ocupação Chiquinha Gonzaga e do Pontão de Cultura Digital da ECO/UFRJ apoiaram o grupo na montagem do Metalab. Enquanto ajudavam na montagem do Metalab Alissa e Felipe, ficaram tão empolgados com a vivência toda que estavam tendo no Rio Comprido que tiveram vontade de escrever um livro sobre a convidaram Janaína e Bruna para escreverem um livro onde poderiam relatar não só o processo de organização política dos jovens mas também toda riqueza cultural que vinham tendo contato. Pra isso convidaram todos os colegas do curso de educação popular mas quem se propor a formar a equipe pra esse projeto com eles foi a Janaína, a Bruna, Luciene e Thaís. E começaram o trabalho pesquisando a história, geografia e entidades do bairro depois selecionaram alguns músicos, artistas, educadores e jovens para serem entrevistados. Durante as entrevistas essa equipe reuniu, várias poesias e letras de músicas que inspiraram o grupo a fazer outro livro que chamou: Um Dia Se Foi o Rio. Este outro livro é um livro urbano publicado nos pilares do viaduto Paulo de Frontin. Dessa forma muita gente leu o livro de poetas do bairro que tiveram sua arte valorizada e reconhecida pela comunidade. Luis e Alexandra organzaram o festival de compositores do bairro e planejando com a equipe do livro decidiram fazer na Praça do Rio Comprido junto com o festival o lançamento dos dois livros que a Escola Comunitária publicou durante o curso de Educação Popular onde todos aprenderam a publicar seu próprio livro assim outros livros ainda poderiam surgir. O festival foi um sucesso, teve transmissão da rádio poste, o lançamento dos dois livros, desfile de fantasias, entrevistas pro jornal Amigos do Bairro, cobertura da festa para a TV Comunitária do Rio e no final batuque da bateria. Durante o evento a Ingrid teve a ideia de pedir as letras das músicas que estavam sendo lançadas no festival e junto com seus colegas reuniram todas, levaram pro Metalab e lá editaram, imprimiram e montaram mais um livro que foi vendido no ultimo dia do festival e todos puderam aprender as músicas cantadas no festival. Assim muita gente ficou sabendo da história dessa turma de jovens que tem um sonho e lutam para realizá­lo. Pessoas de várias partes do mundo que visitavam o Rio de janeiro conheceram o projeto do Turano e várias quiseram ajudar propondo parcerias, fazendo reportagem para serem transmitidas outros paises e surgiram convites outros os jovens fazerem intercâmbio para fortalecer o processo da escola e conseguirem apoio com profissionais desses países. Além disso o curso de educação popular ganhou vários novos integrantes e realizam vários novos projetos enquanto Luciana e Iran não voltam voltam. Na alemanha Iran conheceu a Elisa que estuda engenharia mecanica e se interessa muito em ajudar na construção dos carros. Ela decide ir com eles para o Brasil e quando eles voltam fazem uma reunião com todos que querem começar as produções para os carros alegóricos e Luciana organiza os grupos que vão aprender a fazer as fantasias com ela. Quatro meses depois Alissa e Felipe tiveram que voltar para Porto Alegre para continuar os estudos na faculdade mas ao chegar o próximo carnaval puderam


ver na TV o desfile da Escola de Samba Acadêmicos do Rio Comprido no desfile reencontraram todos seus colegas vêendo­os na TV: Elisa e Teresinha desfilavam num dos carros alegóricos. Bruna era a Porta Bandeira. Ingrid estava trabalhando como repórter pro jornal Amigos do Bairro. Luciana e Luciene estavam na bateria. Emili e Antonia desfilalam na ala das baianas. Samuel cantou o enredo e Emerson foi o mestre sala. E você, pensa que a história terminou por aqui? Tão logo lhe digo que não. Muitas já foram e outras tantas virão. O povo unido que cultiva suas memórias, não padece ao tempo. É música ao vento. É inspiração.


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