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A CAMELÔ QUE SE DIGITALIZOU

Vendedora de acessórios femininos migra de barraca de camelô para o e-commerce e potencializa suas vendas

Por Giuliano Gonçalves, da Redação do E-Commerce Brasil

VVocê sabia que o apresentador (e bilionário) Silvio Santos iniciou sua carreira empreendedora como camelô? Você pode até não acreditar, mas, por volta de 1946, o empresário - ainda aos 14 anos - observou um homem vendendo capinhas para guardar título de eleitor e decidiu entrar para o ramo. Sua voz diferenciada chamou a atenção nas ruas do Rio de Janeiro, o que o levou a ser convidado para fazer um teste de rádio e, anos depois, tornaria-se um dos empresários mais bem-sucedidos do Brasil.

Toda essa curiosidade apresentada acima tem um motivo: a história do dono do SBT é muito parecida com a de Flávia Barros. Afinal, ela também é carioca, trabalhou como camelô nas ruas do centro do Rio de Janeiro por um tempo e, hoje, faz o maior sucesso à frente do seu negócio online. Antes disso, porém, muita coisa aconteceu em sua vida…

Do escritório para as bijuterias

Há cerca de dez anos, Flávia trabalhava em um escritório, recebendo por volta de um salário mínimo. Num certo dia, ela saiu para almoçar com as amigas e, no caminho, comprou uma bijuteria em uma barraca. Quando voltou para o escritório, ela pegou aquela peça e pensou: “Eu consigo fazer isso”.

Flávia então foi atrás dos materiais para a confecção dos produtos, começou a produzi-los em casa e, ao final do expediente no escritório, vendia para as amigas do trabalho. Com o tempo, conseguiu reunir uma quantidade maior de produtos e passou a dobrar sua rotina de trabalho: saía do escritório às 18h e ia direto à rua 7 de Setembro, no centro do Rio de Janeiro, onde montava a sua barraca e ficava até tarde da noite, quando retornava para casa para produzir mais peças para vender no dia seguinte.

À medida que o valor arrecadado nas vendas dos produtos superou seu salário no escritório, Flávia deu um passo maior e investiu sua força somente na venda dos produtos. Por aproximadamente nove anos, então, esta era a rotina da empresária: produzia colares, pulseiras, brincos e uma série de outros produtos e, tal qual Silvio Santos, gritava a plenos pulmões no centro do Rio de Janeiro. Isso até chegar a pandemia e a empresária precisar colocar sua barraca dentro de uma plataforma online.

Da barraca de camelô para a internet

Foi o e-commerce, aliás, que salvou (e impulsionou) o negócio de Flávia na pandemia.

“Precisei me reinventar da noite para o dia e, literalmente, reaprender a vender”. Além de todo o problema de adaptação da nova “plataforma de vendas”, ela lembra que muitas pessoas passaram a comercializar esse tipo de produto na pandemia. “Foi ali que eu percebi que teria de fazer algo diferente para me destacar”.

Para isso, Flávia encarou quatro cursos de marketing para tirar proveito da sua marcaque de cara lhe rendeu uma repaginação da loja Flávia Barros Acessórios. Outro aprendizado nesse meio tempo foi preencher a lacuna do contato físico da venda presencial. “Foi uma das maiores dificuldades que passei, pois sou uma pessoa falante, que ama o contato físico e precisa abraçar e beijar as clientes”.

Todo aquele contato físico, calor humano e trocas de experiências agora seriam redirecionados para o atendimento online - nesse caso, sua página do Instagram. Se antes formava-se uma roda de mulheres em torno da barraca, agora a atenção muda de figura: Flávia precisa dar um retorno para um perfil no Instagram com mais de 30 mil seguidoras. “No início da pandemia, eu tinha aproximadamente quatro mil seguidoras, o que mudou muito depois das técnicas que aprendi nos cursos. Hoje, faço questão de responder a cada uma delas para preservar esse relacionamento tão bom”.

Peculiaridades que o e-commerce traz

A plataforma utilizada pela empresária para trazer o seu negócio para o mundo digital foi a Nuvemshop. Para ela, apesar de estar longe do ambiente ideal para sua loja, o modelo é fácil e intuitivo de se trabalhar, o que ela desejava muito. “Não tinha experiência alguma com e-commerce, então nesse ponto o modelo me ajudou muito. Sou sincera em dizer que não conheço outra empresa que poderia me ajudar mais no meu dia a dia”.

Outra mudança drástica em relação à venda física, segundo Flávia, está em relação à quantidade de produtos comercializados atualmente. Se antes ela vendia dezenas de produtos na semana, hoje a capilaridade do e-commerce elevou essa conta para centenas de pedidos. “Trabalho com peças exclusivas, produzidas por artesãos que esculpem a marca Flávia Barros Acessórios. Por isso preciso ter uma gestão cuidadosa para não perder a mão nas vendas”.

Justamente por se tratar de produtos exclusivos, a empresária tem uma vantagem em relação ao estoque e ao prazo de entrega. Isso porque os acessórios são produzidos de acordo com a demanda e, no caso da logística, ela garante a entrega de três a cinco dias úteis após a aquisição. “Por essas e outras, eu preservei as minhas clientes da época da barraca e conquisto, a cada dia, esse universo de novas amigas”, orgulha-se.

Instagram como marketing do produto

Assim que migrou da sua barraca para o comércio eletrônico, Flávia utilizou o Instagram também para vender. No entanto, a demanda do site aumentou exponencialmente, e a saída, segundo ela, foi concentrar o negócio somente no e-commerce. “Hoje, eu tenho tanto o Instagram como o WhatsApp como centrais de atendimento da loja”.

Por falar em Instagram, é nessa rede social que toda a mágica do marketing digital acontece. Lá, Flávia toma a frente de toda a produção apresentada. “Criação da peça, fotos, vídeos… Sou eu quem faço tudo isso sozinha”, orgulha-se, dizendo que já tentou usar uma pessoa para essa tarefa, mas o seu perfeccionismo a colocou à frente de tudo novamente.

Basta acessar a página no Insta pra entender o tamanho do empenho da empresária nos bastidores. “Eu sempre coloco a minha cara na rede social, seja com fotos, Reels… É a forma que encontro para ‘humanizar’ ao máximo essa falta de contato físico do qual o universo digital sofre”. Como já dito, é a própria empreendedora que faz questão de responder a cada pergunta no Instagram. “Pode até ser que demore um pouco, mas sempre respondo, porque faço questão de estar presente na vida das minhas clientes”.

Dicas de ouro para expandir o negócio

Segundo o SEBRAE, o setor de micro e pequenas empresas brasileiras foi responsável por 99% dos empreendimentos brasileiros no ano passado. Além disso, criou 72% dos empregos no primeiro semestre e garantiu 30% do PIB no país.

Lucrar dentro dessa categoria, porém, é um desafio diário. “É preciso muito foco para expandir o negócio, assim como abrir mão de muitas coisas e entender o mínimo de administração”, diz. Outro ponto ressaltado por Flávia está em saber separar os custos entre empresa e pessoa física. “Eu tenho que ter o meu salário e a empresa tem que ter o capital de giro dela. Não é fácil, mas é aí que se demanda todo o foco. Até hoje, eu abro mão de muitas coisas pensando no futuro”.

Hoje, Flávia já consegue sonhar com algumas novidades da sua empresa num futuro próximo. “Não penso em ter uma loja física, mas sim um showroom, com uma parte do ateliê aberta ao público. Mostrar a essência dos meus produtos sempre foi o DNA da minha marca, e isso sempre andará lado a lado. Não dou um passo sequer sem planejar o futuro da minha empresa. Meu e-commerce deu tão certo que se tornou definitivo para mim”.

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