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ECOSSISTEMAS “POWERED BY” TECNOLOGIA

A edição da Consumer Electronics Show (CES) de 2023 deixou clara a tendência para os “eletrônicos de consumo”: os ecossistemas.

Para aqueles que não conhecem, a CES é o evento de tecnologia mais influente do mundo e ocorre em Las Vegas. Ele marca o início do ano para o mercado de tecnologia de consumo e bens duráveis (T&D), e é o campo de provas no qual as inovações mais interessantes “sobem ao palco”.

Os números impressionam: na CES 2023, mais de 3.200 expositores exibiram suas inovações e ofertas, sendo que mil desses expositores eram novos. Mais de 115 mil pessoas estiveram presentes, sendo um terço deles de algum dos 140 países representados. Quase cinco mil profissionais de mídia de 69 países estiveram presentes, bem como 60% das empresas “Fortune 500”.

A GfK participou do evento com profissionais de vários países e especialistas em categorias de produto, com o objetivo de identificar os principais movimentos que moldarão o crescimento da tecnologia em 2023. Após o evento, um grupo se sentou para chegar a um consenso, e conto aqui os quatro grandes movimentos: 1) experiências imersivas, 2) ecossistemas domésticos inteligentes, 3) mobilidade eletrificada e 4) sustentabilidade e acessibilidade.

1. Experiências imersivas usando AR, VR e o metaverso

Como em 2022, o metaverso foi um grande tema visto na CES 2023. Se em anos anteriores houve muita discussão sobre a infraestrutura e o hardware necessários, este ano o foco esteve em acessórios, como headsets, luvas e roupas táteis, que podem proporcionar uma experiência “física” mais imersiva.

Os aplicativos já foram muito além dos jogos, em áreas que incluem treinamento de risco à vida (por exemplo, permitir que cirurgiões ou especialistas em desativação de bombas pratiquem a realização de procedimentos complexos em segurança) ou visitas a locais da vida real no mundo virtual (por exemplo, parques temáticos, lojas centrais ou shows), acompanhados por milhares de outros avatares. O “Magic Leap 2”, por exemplo, foi desenhado para otimizar cirurgias médicas virtuais. Outro conceito interessante foi trazido pela Lotte Data Communications, que apresentou um “show virtual” no qual mais de 65 mil avatares poderiam conviver.

Atuou em empresas de bens de consumo, como Phillip Morris, Mondelez e Unilever, no Brasil, Chile e México, até a posição de Diretor de Marketing. Em consultorias de data analytics, como a GfK, vem liderando empresas e unidades de negócio desde 2008, especializando-se em realizar processos de turnaround comercial, operacional e financeiro, bem como integração de empresas adquiridas. Felipe é membro do YPO (Young Presidents Organization) desde 2014 e atua em Conselhos de Empresas e Associações, além de palestrante frequente em eventos de tecnologia, varejo e comércio eletrônico, sendo investidor de startups nesses segmentos.

Outro ponto interessante da feira foi a aplicação do metaverso e da realidade virtual (VR) para fornecer um serviço mais inclusivo para os consumidores.

Os exemplos incluem óculos ou headsets de realidade virtual e instalações virtuais para fornecer acesso imediato, maior controle ou uma experiência mais rica para visitantes com dificuldade de mobilidade ou mesmo visual. O Vive XR Elite, da HTC, foi um dos destaques por sua versatilidade (pode ser um headset ou se transformar em óculos).

Não poderia deixar de falar de gaming, e a Sony chamou atenção com o Projeto Leonardo, que é um controle customizado para PS5 que facilita a interação para pessoas com deficiência. A mesma Sony, aliás, anunciou que lançará o PlayStation VR2 em fevereiro, com melhores funcionalidades do que o Quest 2, da Meta, além de 30 jogos que poderão utilizar a tecnologia.

Entre os “gadgets” profissionais, destaque para a “luva” de US$ 80 mil da HaptX (Gloves G1), que permite não apenas tocar coisas, mas também “sentir” essas coisas, além de movimentações com precisão milimétrica. O valor atual, no entanto, permite acreditar que o uso estará mais destinado a aplicações empresariais no início, mas, de qualquer forma, marca a “experiência aumentada” da realidade aumentada. Houve ainda roupas com experiência aumentada, como o Teslasuit.

2. Ecossistemas domésticos inteligentes para experiências perfeitas

Os ecossistemas domésticos inteligentes foram outro grande destaque, com foco na conectividade perfeita de dispositivo a dispositivo. Essa tendência se notava na IFA em 2022, outro evento importante do setor, realizado na Alemanha.

O ecossistema é o centro de tudo, acelerado por muitos produtos que suportam o protocolo Matter, que realiza a conectividade de produtos de diversas marcas - quase um “sistema operacional” do lar inteligente, porém “aberto” e seguro ao mesmo tempo.

Alessandro Kon, líder de R&D na Lloyd’s, foi bastante assertivo ao dizer que o Matter muda a visão de casas inteligentes, que passa de “compatibilidade” para “desenho de soluções baseadas em necessidades reais dos clientes”.

Isso derrubará as barreiras anteriores do usuário em casas inteligentes, permitindo que dispositivos de diferentes marcas funcionem juntos, tornando a experiência do usuário muito mais agradável e sem atrito. Além disso, abrirá parcerias diretas entre diferentes áreas - por exemplo, TV e iluminação.

Falando nessa possibilidade de parceria, a Signify anunciou o app “Philips Hue Sync” para televisões inteligentes da Samsung. Com ele, qualquer imagem que apareça na televisão reproduz diferentes matizes de luz na parede, incrementando a experiência significativamente.

Outra expansão de casa inteligente vista na CES é a segurança. Para além dos cuidados com o bebê, há agora uma aposta em áreas como o automóvel, com sistemas capazes de monitorizar o estado de alerta e o estresse do condutor e alterar automaticamente o volume do áudio, temperatura e iluminação do veículo, ou selecionar percursos mais relaxantes. O “Samsung Ready Care” foi o que vimos de mais completo nesse sentido.

Porém, os cuidados com o bebê seguem importantes, e o “Pixe Play & Friends” combinou câmera e entretenimento, tocando sons que acalmam o bebê quando ele acorda chorando. A companhia inclusive aponta que pode antecipar a razão do choro do bebê, algo fundamental para pais de primeira viagem.

Também foram vistos alguns avanços em aspiradores inteligentes, mas o cuidado com a casa acabou se expandindo para o “jardim”. Sistemas que identificam o PH da água e sugerem ajustes, para o melhor crescimento das plantas, estavam acompanhados de iluminações inteligentes, que variam de acordo com a luz do sol. Em relação a sistemas de irrigação, o “Rachio Smart Hose Timer” propõe transformar qualquer mangueira em sistema inteligente por US$ 100. Além de controlar e programar a irrigação pelo app, você pode utilizar o sistema de previsão de chuvas para dosar quanto de água necessita.

Esse sistema de alguma maneira representa um elemento um pouco mais destacado este ano, bastante importante para o Brasil, que é a criação de ecossistemas que reduzam gastos, tanto de energia como de outros elementos. A Schneider Eletric lançou um sistema de gerenciamento de energia, “Schneider Home system”, que inclui bateria reserva, inversor solar, luzes inteligentes e até carregador veicular - tudo controlado através de um app.

3. Mobilidade eletrificada

Não apenas conectada a fabricantes de carros, ainda que vários tenham demonstrado seus modelos elétricos mais avançados na feira, mas apareceram verdadeiras soluções de transporte para o futuro, como ônibus, caminhões e até tratores autônomos.

Isso não quer dizer que as montadoras deixaram de avançar suas propostas de carros elétricos e inteligentes. Os “SDVs” (software defined vehicles, ou carros que têm softwares “no controle”) estavam por toda parte, em modelos prontos, mas especialmente em carros-conceito.

O “BMW I Vision DEE” (Digital Emotional Experience, ou experiência emocional digital) tem seu lançamento previsto para 2025 e pode adaptar suas cores de acordo com o gosto do motorista. Além disso, conta com quatro níveis de interação digital, sendo o nível 3 a transposição de dados de navegação para o para-brisas, além de se poder visualizar mídias sociais.

Já a Honda se juntou à Sony para promover maior entretenimento e performance percebida através da integração com a tecnologia “Unreal Engine”, da Epic Games. O “Afeela” poderá ser encomendado a partir do primeiro semestre de 2025, mas só entregará produtos no final de 2026.

Entre as soluções comerciais, o caminhão “Waymo Freightliner Cascadias” recebeu finalmente a integração total do sistema de direção autônomo “Wayme Driver”. Imaginem o potencial de redução de seguros e o aumento de segurança e conforto para motoristas com essa solução.

Outro conceito, o “Cenntro’s LM864H” é um carro absolutamente automático, sem presença humana, que já traz células de hidrogênio como bateria e pode atingir 100 km/hora, com autonomia para aproximadamente 400 quilômetros. Algo assim poderia permitir o transporte de cargas entre São

Paulo e Rio de Janeiro durante a noite, com baixo risco.

4. Sustentabilidade e acessibilidade

Em vez de ser um tópico autônomo, a sustentabilidade agora está incorporada à experiência geral, é algo transversal e já incluído como um fator “higiênico” nas inovações e nos ecossistemas.

A digitalização do consumo gerou a possibilidade de personalização de hábitos e a otimização dos recursos através dos dados, algo que a inteligência artificial alavanca e democratiza.

O conceito de “Everyday Sustainability” (sustentabilidade todos os dias) foi largamente explorado pela Samsung, em especial na apresentação da VP Corporativa de Sustentabilidade, Inhee Chung. Como iniciativas reais, o “Samsung Smart Things AI Energy Mode” promete realizar pequenos ajustes em seus produtos, como aumentar um pouco a temperatura da geladeira ou reduzir a temperatura da água para otimizar recursos naturais. Outra iniciativa, em parceria com a marca Patagonia, promete reduzir a emissão de microplásticos no processo de lavagem de roupas em até 54% em modelos específicos a serem lançados na Europa.

Já a LG enfatizou a possibilidade de se fazer upgrades de funcionalidade dos produtos de maneira remota, estendendo a vida útil deles e, em alguns casos, gerando recomendações de assistência técnica. Outra iniciativa, o “Better Life Plan 2030” (plano para uma vida melhor em 2030) promete reciclar 600 mil toneladas de plástico até 2023, e coletar e reciclar oito milhões de toneladas de lixo eletrônico, além de atingir a neutralidade de carbono.

Muito além da pegada de carbono e de outros conceitos estáticos, o discurso se centra na economia circular e também na acessibilidade. A própria Samsung lançou o “Relumino”, que ajusta a imagem para melhorar a experiência de pessoas com limitações visuais. A Microsoft recebeu mais de oito mil visitantes em seu “Inclusive Tech Lab” (Laboratório de Tecnologia Inclusiva), o qual apresentou controles adaptados para Xbox e kit para adaptação do Surface que permitem melhor utilização tanto para indivíduos com limitações visuais quanto motoras.

Tudo hoje é baseado em “ecossistema”. E o seu varejo?

Em anos anteriores, as grandes sensações da CES eram os gadgets e as evoluções tecnológicas aplicadas a produtos específicos. Varejistas voltavam da feira e procuravam no mercado? Os marketplaces são o exemplo mais comum e tangível, porém agregar serviços e produtos complementares para os nossos “shoppers” tem o poder de agregar fidelidade e intensidade de compra.

Desculpem-me por falar da Amazon, mas o fato é que lançar uma assinatura de remédio “ilimitado” a US$ 5 por mês com certeza não gera dinheiro. No entanto, se esse serviço seus contatos na indústria de eletroeletrônicos para saber mais detalhes sobre prazos de lançamentos, preços, o impacto nos estoques e outras questões tradicionais. Este ano, o que se percebeu é que, também nessa indústria, os nomes do jogo são os ecossistemas e as experiências que eles estimulam ou incrementam.

O mesmo conceito se aplica à sustentabilidade, pois, se em feiras anteriores o foco estava em “produtos que gastam menos energia”, o foco atual está em “ecossistemas” para redução de gastos ou, ainda mais importante, para o aprimoramento de soluções para a economia circular.

Esta pergunta é importante para o varejo em si: de quais integrações necessitamos para ter sucesso em nosso posicionamento foi lançado para se conseguir dados para vender planos de saúde no futuro, bem como serviços preventivos de saúde, ele pode se converter em um ecossistema interessante.

Quanto à CES, não duvido nada que de “Consumer Electronics Show” se transforme em “Consumer Eco System” em alguns anos, expandindo o conceito da feira e, perdoem a redundância, gerando mais oportunidades de negócio para todo o ecossistema.

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