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DISSONNETTO FLATULENTO [0192]

O peido, mais que o arrocto, inspira o riso gostoso, desbragado, gargalhado, da parte de quem pode ter peidado, emquanto os outros fazem mau juizo. Com base no meu caso é que analyso, pois, mesmo estando a sós, enclausurado, gargalho appós os gazes ter soltado e adspiro meu fedor, feito um Narciso. Me ponho a imaginar a reacção de alguem affeito a normas de ethiqueta, do typo mais esnobe e mais ranheta, colhido de surpresa ante o rojão. Meu sonho era peidar fumaça preta na mesa dum banquete, desses tão formaes e, appós a explicita expulsão, deixar que a gargalhada me accommetta.

GAZES COMBUSTIVEIS [4581]

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Eu fico imaginando aqui: si o nosso fedido peido fosse fumacento, fogoso, até... Que sarro, hem? Nosso vento soltando a labareda... Que destroço! As calças virariam trappo... Posso até ver chammuscado o meu assento depois dum peido... E quando eu arrebento a colcha, até o colchão, si o peido engrosso? Estou vendo na mente: um estampido echoa no banquete! A mesa inteira assusta-se e suspeita! A fumaceira se expalha, preta, e deixa um ar fedido! Alguem viu, por detraz, minha cadeira querendo decollar, com seu ruido de rhoncho de motor, foguete erguido do solo... Mas não voa: appenas cheira!

MOTTE GLOSADO [7438]

Si não fede, si não cheira, não tem graça a poesia.

Si for rosa da roseira não é lama do chiqueiro. Ou é falso, ou verdadeiro.

Si não fede, si não cheira, não é verso que se queira portavoz da porcaria nem fugaz perfumaria.

Eu prefiro a fedentina! Sem um faro que a defina, não tem graça a poesia!

Poesia não é mera padaria nem é pura, multicor floricultura.

Si não ousa, nada altera.

Si não suja, odor não gera.

Si não fura, é voz macia.

Si não fere, é ducha fria.

Si não fode, é punheteira.

Si não fede, si não cheira, não tem graça a poesia.

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