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PROPRIEDADE DE EXPRESSÃO [4404]

Um padre não diz “Ui!”, siquer um “Ai!”. Jamais exclama “Porra!” nem “Caralho!”, siquer numa afflicção, num acto falho. São taes interjeições offensa ao Pae!

Será mais impensavel dizer “Vae p’ra puta que o pariu!”, mesmo si o ralho for contra, entre os pestinhas, o pirralho que empurra a estatueta, e o sancto cae. No exacto instante, um padre só diz “Oh!”, que, alem de ser euphonico o tal brado, é termo mais solenne e mais sagrado, quer seja de alegria, dor ou dó! Diria o padre Sylvio, o padre Amado, ou mesmo o Julio um “Oh!” discreto, um só, que vem de la, de dentro do loló, si fosse no local massageado.

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FATAES NATAES [3089]

Natal! Que desejar, sendo sincero, a alguem que considero? Peço então que aquelle homem do sacco vermelhão penetre no buraco, dizer quero, da sua chaminé! Que ganhe, espero, algum peru carnudo e, pelo vão, lhe venha a pomba! Vão das pernas? Não! Da telha! E agoure sorte à hora zero! Emfim, neste Natal, eu lhe desejo, affora que Noel não seja avaro, exguichos, gritos, risos! Fique claro, refiro-me à champanhe! E vale o ensejo: Pendure a meia usada! Assim, meu caro, que a noite escurescer, eis o que almejo: trocar por nova a sua! Ahi, festejo cheirando a que ganhei, um mimo ao faro!

FELIZES DESLISES, PERIGOSO GOZO [3383]

Fugir à temptação é tentativa inutil, si o peccado nos diz sim. Pudera! De Satan ninguem se exquiva!

Não ha mysterio nisso, para mim.

Malgrado um crucifixo, uma agua benta, Satan temptar-nos tenta, e elle consegue!

Quem tenta se exquivar, si o Demo o tempta, percebe onde admarrou, ja tarde, o jegue!

Por mais que esteja attento ao attemptado mortal que nos expreita em todo cantho, não tarda e, da sereia, attende ao canto aquelle que exquivar-se tem tentado.

Nenhuma norma sancta se sustenta!

Um cego asceta, mesmo que renegue a tactil temptação, suja e nojenta, irá para o Diabo que o carregue!

Não ha, para quem pecca, alternativa: poupar-se de peccar é que é ruim!

Ou prova o que deprava, ou só se priva aquelle que prevê do mundo o fim.

ORAÇÃO DO PAGÃO [4117]

Satan, que estaes no Inferno, seja o vosso prophano nome egual a zero e esteja bem longe o vosso reino desta egreja na qual rezo, desfeita, ja, em destroço! Pão fresco, todo dia, não vos posso pedir, que não me venha, de bandeja, aquelle que admassastes, nem cereja no bollo pedirei, Padrasto Nosso! Tambem não vou pedir que perdoeis as dividas que temos pactuado ha seculos, por meu antepassado, tamanha a temptação que offeresceis!

Só peço, ó Satanaz, estar zerado: livrar-me de cumprir as vossas leis; trocar, por meia duzia, seis seis seis; quitar, ficando cego, o meu peccado!

EXAME DE CONSCIENCIA [5280]

Pae nosso, que no Inferno estaes, que nome vos posso dar? De sancto, não, é claro! Não venha o vosso reino a nós, meu caro Papae, si infernal fogo vos consome!

Vontade, caso seja a vossa fome de sadicas vinganças, eu declaro que tenho medo della! Não é raro topal-a pela frente! E o bicho come! Aqui na terra, a gente pede pão e leva pau no rabo! Eu devo o cu e os olhos, propriamente, em termo cru, mas, quando vos imploro, choro em vão!

Cahir em temptação virou tabu!

Peccar não tem siquer a redempção! Que faço, então? Vos peço algum perdão?

Ou mando-vos dar rabo a Belzebuth?

DISSONNETTO SOBRE UM LAÇO LASSO [2881]

Eu te amei como pude, feito gente. Fui inteiro, metade, fui ferida e faca, fui a volta, fui partida, fui tudo e nada: o opposto, simplesmente. Opposto presuppõe, logicamente, confronto. Entre dois sexos, appellida o coito dum casal, que convalida aquillo que se goza e que se sente. Mas, si por monosyllabos os dois parceiros dialogam, o sentido ficando vae menor, diminuido, estreito, e faltam nomes para os bois. Laconicos, succinctos, eu duvido que tenham mesmo amado a tempo, pois a vida muito curta foi. Depois de tudo, nada resta, aptado, unido.

Agua que a chuva empoça no telhado e cria o mosquitinho que nos picca...

Agua que, mal brotando la da bicca, aqui ja chega suja, e a bebe o gado...

Agua fedendo a lodo que, cagado no corrego, o empesteia e por la fica...

Agua residual de quem fabrica venenos e agrotoxicos ao lado...

Agua que a gente bebe da torneira, insipida, mas, caso a gente observe, com cheiro de alga podre e que não serve siquer para lavar uma lixeira...

Agua que, mesmo quando a gente ferve, nos sabe a mau sabor, que mal nos cheira, que aquella da latrina até ja beira e irriga, no meu verso, o verme e a verve...

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