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NOTA INTRODUCTORIA

Aos que me chamam de poeta “marginal”, “maldicto” ou “postmoderno”, respondo que prefiro o rotulo de “postmaldicto”. Mas à fama de br uxo calo e consinto. Nada commento, tampouco, quando me attribuem predicados demoniacos. Appenas admitto influencias kardecistas e exsistencialistas, implicitas na “missão” do cego sadomasochista, fetichista, sonnettista, desilluminista e deshumanista.

Neste livro se synthetizam os ingredientes que alimentam a lenda duma persona litteraria, ou “eu lyrico”. Originalmente publicada em 2007 pelo sello Demonio Negro de Vanderley Mendonça, em tiragem de bibliophilo, a collectanea foi posteriormente ampliada para postagem na nuvem e, nesta versão, accrescida de dissonnettos ineditos. Todo o contehudo, por signal, é composto de dissonnettos, reestrophação do sonnetto em quattro quartettos, com ou sem entrelinhas.

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Thematicas sobrenaturaes e satanistas não haveriam de faltar numa selecção attinente à saga do cego estigmatizado, alem ou aquem. O accrescimo de dissonnettos mais recentes preserva essa optica do “bardo bastardo” e do “deficiente clarividente”. Outros livros exploram themas affins, como RHYMAS DE HORROR, INSPIRITISMO e TESTAMENTO SATANISTA.

OBJECTIVO ADJECTIVO [4131]

Chamaram-me de tanta coisa, até maldicto e marginal, que “postmaldicto” não basta a um postmoderno e ja nem cito tal rotulo, sinão me falta um “pré”. Sou meio “barrockista” porque fé professo no barroco e noutro mytho, o contracultural. Jamais ommitto que sou “pornosiano” e affeito ao pé. Mas “desilluminista” tambem não explica esta cegueira, como nem por ser “deshumanista” encarno o Cão. Talvez “zen-desbuddhista” sirva bem. De rotulos jamais será questão. “Anarchomasochista” bem tambem me serve... Outros, por certo, servirão, si escuta a mente cega a voz do Alem.

QUEM DIABO É DEUS? [0003]

é deus antimateria? não. tambem não é deus antichristo. não é chaos nem kosmo. é deus magnifico entre os maus? magnetico entre os bellos? deus é quem? do povo a voz? do papa a paz? alguem tem delle nojo ou odio? quaes os graus possiveis que mensuram alguns paus divinos e alguns cus terrenos? hem? podia ser deus tudo, ser podia sapão no seu brejinho ou ser sapinho, perdido pelo meio do caminho, alli no seu brejão, por um só dia. quizesse, e deus seria. mas, mesquinho, birrento (omnipresente, essa mania), prefere nem siquer ser quem me enfia na cara o pé, na bocca o pau: neguinho.

DISSONNETTO MAGICO [0090]

Os bruxos, como eu, soffrem, e bastante, pois o onus do esoterico é um estigma, assim como o poeta é preso à rhyma e o peregrino tem destino errante. Compendios pegam pó na minha estante. Papyros emboloram logo accyma. Caminhos, de Sodoma a Hiroshima, esperam pelo pé do caminhante. Mas ja não posso ver tanto mysterio. Meus olhos se appagaram duma vez, punidos pela sadica torquez. O mago agora é cego, triste e serio. Um unico lazer será, talvez, abrir a cella deste monasterio ao mundo futil, torpe e deleterio para lamber o pé de um de vocês.

DISSONNETTO HYGIENICO [0143]

Si, anal, um orificio é um olho cego, que pisca e vae fazendo vista grossa a tudo que entra e sae, que entalla ou roça, trez vezes cego sou. Que cruz carrego! Porem não pela mão me prende o prego, mas pela lingua suja, que hoje coça o cu dos outros, feito um limpa-fossa, e as pregas, como esponja escrota, exfrego. O “beijo negro” é um ultimo degrau desta degradação em que mergulho, maior humilhação que chupar pau. Vestigios com a lingua alli vasculho, em busca dalgo analogo ao cacau. Subjeito-me com nausea, com engulho, ao paladar fecal e ao cheiro mau e, juncto com a merda, engulo o orgulho.

DISSONNETTO DEMONOLOGICO [0175]

Alguem tem dom de pôr o crente em panico. É o Anjo Mau; é o Bode; é o Belzebuth; É o Lucifer; é o Principe; é o Exu...

Como denominar o Ente Satanico?

Diversos gestos teem poder xamanico.

Diversas liturgias são tabu. Mas no Sabbath se beija bem no cu, que é o poncto donde sae o odor titanico.

Fazendo a algum bom senso ouvido mouco, as bruxas ao inferno vão de Dante.

Do “beijo negro” ja fallei ha pouco, um acto que envilesce o executante, mas deixa quem o ganha quasi louco. A propria fellação, sempre excitante, capaz de provocar gemido rouco, não é, para Satan, tão importante...

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