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DISSONNETTO DUMA ACCUSADORA LEITORA [5303]
Não entendo a minha musa! Ella, às vezes, me perdoa, outras vezes só me accusa de ser pessima pessoa! Lhe dedico algo que abusa da chulice e que appregoa violencia? Ella confusa se revela e me magoa! Ora falla que mal fiz, que fui sujo trovador, que o poema era infeliz, sem proposito ou valor...
De repente, ella relê tudo e falla, sem pudor: “Seu fodão! Amo você!”
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Que mais posso, então, suppor?
DISSONNETTO DUMA FÉ DE MENOS [5343]
Eu rezei, ja, certa vez, quando ainda visão tinha. Implorei, vejam vocês, pela graça da sanctinha! De orações fiquei freguez e a fazer promessas vinha. Mas a propria vida fez que eu mudasse depressinha. O glaucoma se aggravando, em quem tantos males barra eu ainda creio, quando a cegueira, emfim, me aggarra!
Crente a gente teima em ser no que a Biblia sempre narra, mas Satan tem o poder de meu olho abrir na marra!
DISSONNETTO DUM MARTYROLOGIO MUNDANO [5345]
Na folhinha todo dia tem um sancto e todo sancto padesceu duma agonia, que dó causa em qualquer cantho. Quando joven, eu só lia de martyrios caso tanto para olhar como soffria cada sancto, com expanto. Admirava-me a assumida penitencia, que commento tantas vezes, de quem lida com o proprio soffrimento. Hoje assumo: sou masoca. Disso faço assumpto bento. Si me pisam, lambo, em troca, mas ser sancto eu jamais tento.
DISSONNETTO DUMA CAUSA INADDIAVEL [5384]
Que é que eu faço? Estou afflicto!
Donde tiro esse dinheiro?
Perco o emprego? Me demitto?
E meu carro? Encontro inteiro?
Candomblé? Não accredito!
Mago? Bruxo? Feiticeiro?
Chamarei Sancto Expedito!
Esse é mesmo milagreiro!
Admanhan, si não me enganno, delle é dia, meu irmão!
Com fervor, aqui me irmano aos fieis que pedir vão.
Não! É hoje! É para agora!
Corra! Faça-lhe oração!
Quem adjuda não demora!
Quem demora adjuda ao Cão!
SOGRA QUE LOGRA [5511]
Não posso accreditar! Então exsiste um dia para a sogra? Quem será que teve tal idéa? Algum gagá? A delle, fallescida, o deixou triste? Em vida, rabugenta, dedo em riste, a velha admeaçava. Agora, dá saudade a voz daquella bruxa má, coitada, sempre victima dum chiste. Talvez seja injustiça o que ja della fallaram: delirava, ardia em febre, surtava... Quem propoz que se celebre seu dia, tem razão, e ao senso appella. Jamais foi bruxa. Nunca num casebre morou, nem fez feitiço. Ainda bella, por cyma, foi, mas tarde se revela. Tabus, ha quem os lembre e quem os quebre.
CADA MALACO NO SEU MALHO [5554]
É vario o vicio: em pinga ha quem se affogue. Rockeiro que se preza ama a maconha.
Não passa um bom pornographo sem bronha.
Absintho deixa um bardo meio grogue.
Ainda nos cavallos ha quem jogue.
Nos bichos quem apposta sempre sonha.
Nenhum anarcho achei que não se opponha.
Um hacker tem perfil falso e tem blogue.
Não joga dominó quem joga dado. “Teenager”, nos taes “games”, ninguem batte.
Não sabe ser masoca quem é sado.
Jamais um torcedor engole empatte.
TV tem fan que vê só seriado.
Chocolatras adoram chocolate e, emfim, no dissonnetto é viciado o cego que, na insomnia, virou vate.
EM PENTA PINCTA A PONCTA [5555]
Scarlatti fez quinhentas e cincoenta e cinco sonatinhas para cravo.
Eu quero a mesma marca, mas aggravo o exforço, si addiciono mais um penta. São cinco, cinco, cinco, cinco! Aguenta alguem tanto algarismo? Eu, cego, travo combatte em dissonnetto, o bruto e bravo conflicto, desde os nove dos noventa.
Foi, quando comecei, aos poucos, quasi utopico, impossivel, tal recorde.
Agora superei aquella phase, mas faltam muitos ponctos que eu abborde. Relogios haverá que eu não attraze?
Missão cumprida? Resta que eu engorde ainda mais de dados esta base?
Não creio. Como Milton, clamo: “Oh, Lord!”
PENNIPOTENTE MITHRIDATISMO [5559]
Bobagem! Invejoso, eu? Imagine! Inveja nunca tenho, de ninguem! Mas, para ser veraz, pensando bem, só tenho da Renata Pallottini... Talvez do Antonio Cicero, tambem, a ter uma ponctinha até me incline, pois, desde os velhos tempos de fanzine, eu ja me questionava: Quem não tem?
Qualquer auctor que entrar p’ra Academia Paulista ou Brazileira me provoca inveja, mas benefica, si, em troca, fé faço que tal vaga lhe cabia.
Rancor só sinto quando se colloca la dentro algum politico que allia vaidade e incompetencia à villania. Cadeira de immortal não é baldroca!
CONCUPISCENTE EXORCISMO [5564]
Foi sadico! Foi tetrico! Foi tão erotico, grottesco! Foi funesto!
Peor que um fratricidio, que um incesto!
Foi hallucinação! Foi possessão!
Delirio. Pesadello. Uma sessão espirita. No leito, o mortal resto fodendo-se, fedendo de indigesto banquete diabolico, ou pagão.
Erecto cajadão. Funebre foice.
Carnal, lubrico, lugubre caixão.
Cadaver. Eskeleto. Assombração.
Sepulchro. Tumba. Cova. Alcova. Alcoice.
Um corpo. Um corno. Um caso. Um casco. Um coice. Maccabra gargalhada. Voz dum cão.
Um ai! Um eia! Um murro. Um urro. Um não.
Me venho! Vou gozar! Finou-se! Foi-se!
TREZ DESEJOS [5565]
Ouvi de meu demonio: “Tu possues direito a trez desejos!” Da primeira vez, classico pedi para ser. Crus calões poz-me Satan na penna arteira. Pedi, pela segunda vez: “Jesus, som quero nos meus versos, com inteira orchestra philharmonica!” Fiz jus ao peso dum rockeiro na pauleira. Restou-me um só pedido. Ja deduz alguem que aos céus pedi que de maneira nenhuma me cegassem. Urubus mais sorte teem, visão teem mais certeira. Castanhos os meus eram. Os suppuz azues, si cor pedido for: “Zeus queira!” Quiz Juppiter: meus olhos são azues, opalla, mas opaca, na cegueira.