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DISSONNETTO THEOLOGICO [0176]

Si exsiste Deus, de onde é que vem o mal? Si não exsiste, de onde vem o bem?

Resposta: exsiste o Demo, e Deus tambem, e aqui reside o poncto principal.

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Divide-se o poder de egual p’ra egual e omnipotente ja não é ninguem.

Colloca-se o dilemma: orar a quem?

Quem vae nos proteger do seu rival?

O jeito é accender vella para os dois, uma p’ra cada um, sinão dá briga, e piccuinha a gente não instiga.

O resto a gente deixa p’ra depois.

Na hora do suspiro, é fazer figa, orando sem dar nome, em vão, aos bois, p’ra que o placar nos seja dois a dois e que ninguem de fora faça intriga.

CONTO PACTUADO [0480]

Um bruxo, recemvindo de Turim, me trouxe este enveloppe, que ‘inda guardo fechado, e ja me sinto um felizardo por ter Satan mandado a charta a MIM! Agora posso abril-o, porque vim a ser galardoado como bardo e o texto que preenche o papel pardo em versos dicta as regras do festim!

Emfim sou o maior poeta vivo!

Si caro foi o preço, paciencia!

Nos obitos famosos incentivo eu acho! Consciencia? Se dispense-a!

De todos os remorsos eu me exquivo!

Só falta eternizar a precedencia: Si algum novo desponcta no meu crivo, Satan fará que morra com urgencia!

DISSONNETTO CADAVERIDICO [0514]

Aqui jaz um zumbi que, com veneno, espada, faca, forca ou guilhotina, a turba em furia cuida que extermina, mas volta a si e respira a pulmão pleno. À morte não serei eu que o condemno, mas dizem que elle proprio se incrimina, fingindo aguda a dor mais pequenina, tornando enorme o gozo mais pequeno.

Na lapide inscreveram um poema: “Não creia no sorriso da caveira!

Duvide da visão mais verdadeira!

Visões phantasmagoricas não tema!”

Da tumba o zumbi zomba e, mal se exgueira, de novo seu despojo a turba crema e um novo midiatico dá thema.

Maior poeta vivo? Crê quem queira!

DISSONNETTO ACCAREADO [0567]

Peor será ser cego ou invisivel? Não sabe o cego quando alguem o espia e estoutro é gatto pardo em pleno dia: ignoto, nem é lindo, nem horrivel. Ao cego, a luz é negra; o escuro, niveo.

Ao ser phantasmagorico, a agonia é ver que pode entrar na cova fria e della sahir sem que um olho crive-o. Phantasmas e zumbis a mim eu sommo, mas somos todos sobrenaturaes.

Por isso os invisiveis vagam como somnambulos, capazes de actos taes de cuja culpa exima-se o mordomo: Esperam que, num flagra, algum ser mais extranho que elles mesmos, seja um gnomo ou seja um cego, os veja como eguaes.

DISSONNETTO DA BANALIDADE [0770]

Um dia, perguntaram ao poeta como é que, de improviso, elle commenta o cheiro da sujeira mais nojenta e um ar que, perfumado, desinfecta. “Contraste entre a sargeta, tão abjecta, e a pia do hospital (outra se adventa: a sacra, baptismal) não representa la muita coisa!”, accode o bardo, e objecta:

“Com tudo se accostuma. O que me expanta é o pasmo das pessoas ante a puta e a fria indifferença ante uma sancta, havendo differenças quem discuta.

Ao vate é natural tudo o que canta. Banal me sae o verso quando lucta com tanta intolerancia, e se allevanta quando um benevolente o lê e me escuta.”

DISSONNETTO DIFFERENCIAL [0862]

Em ouro, pratta ou bronze todo athleta quer ver-se medalhado. O brazileiro está mui raramente no primeiro logar, mas marca olympica ‘inda é meta. Num campo nosso craque se projecta

-- a bolla -- mas no estadio verdadeiro

-- o grego -- faz papel piffio e fuleiro o medico, o gymnasta, e até o poeta. Em medicina, a poncta é só da faca. Na quadra, o podio bem de longe é visto. Vanguarda, em poesia, é pedra ou caca. Algum genio que surge é como um kysto, mas palmas todos battem ao babaca. Excepto um accidente ou imprevisto, ninguem no pantheão seu nome emplaca nem Glauco ou Piva algum será bemquisto.

DISSONNETTO IMPARCIAL [0867]

Alguem disse dum livro: “por seu nivel, não pode simplesmente ser deixado de lado; deve ser arremessado com toda a força, o mais longe possivel...” Me livre Zeus que ao meu esse alguem crive-o de criticas tão asperas! Mas dado que tenho um preconceito assemelhado accerca de obra alheia, sinto allivio.

“Não li e não gostei!”, diria o Oswaldo, mas quero ser mais justo e pelo menos olhar e na leitura ter respaldo, embora deschartando uns vãos venenos.

Até que positivo foi o saldo.

Si “ver com olhos livres” aos pequenos dá chance, minha pelle salvo e excaldo pois sou dez, comparado aos mais amenos.

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