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DISSONNETTO DA DISCIPLINA MENTAL [1423]
Perguntam-me si sou mesmo capaz de só pensar no horror de ter perdido a vista, emquanto chupo dum rapaz o penis e na bocca sou fodido. Respondo: muita differença faz si penso nisso e, lucido, regrido ao tempo em que enxerguei. Isso me traz a exacta sensação de estar punido. Tambem fallando o gajo se deleita, pois outra coisa importa: como o cara me tracta, emquanto a porra não dispara garganta addentro. A formula é perfeita: Sim, basta a quem, sorrindo, rolla e deita, dizer-me que estou cego por castigo divino e que, portanto, faz commigo aquillo que Deus manda e elle approveita.
DISSONNETTO DO THRONO QUE TEM DONO [1427]
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A historia litteraria dum paiz inteiro não é omnibus nem mesa de bar ou restaurante, onde quem quiz entrou, e onde ninguem tem bunda presa. Em prosa ou poesia, o que ja fiz garante-me o logar: basta a proeza dos mil, dois mil sonnettos, tantos “mis”, [sic] mantendo-lhes rigor, juncto à rudeza. Daquillo que compuz estou seguro. Captiva, permanente, é-me a cadeira, talvez na Academia Brazileira, ou só mesmo em compendios, no futuro. Mas certos desafforos não atturo, pois “a bolla da vez”, ou baboseira que o valha, é o pau no cu de quem me queira negar justo valor, e um pau bem duro!
DISSONNETTO DAS ONDAS E DAS PRAIAS [1428]
“De gloria seu minuto passará”, um optimo contista e romancista me disse, pois “a bolla da vez” ja seria outro poeta numa lista. Passada a peor decada, hoje está provado que meu nome à frente dista, quer seja do novato ou do gagá, quer como glosador ou sonnettista.
Veremos qual, emfim, é meu assento! Veremos, Trevisan, é o que veremos!
O barco rhumará conforme os remos que temos, e não como sopra o vento.
Vencer vou as tormentas que ora enfrento!
Você tem seu logar. Não precisava tentar desmerescer quem lucta trava, tão brava, contra a treva e o vão momento.
DISSONNETTO DA PROVA IMMATERIAL [1430]
Ninguem pode dizer que não tem medo de espectro ou de eskeleto! O scientista affirma que um não mexe nem o dedo e que outro só na idéa surja e exsista. Duvidam os incredulos. Eu cedo àquillo que o bom senso dicta: a mixta noção do que é evidente e o que é segredo. Si ha logica, ha o mysterio que a despista. Ninguem de experiencias taes se prive! À noite, o cemeterio nos comprova que o medo tem sentido: em cada cova, alem dos ossos, jaz algo que vive! Alguem quer performar o detective? Coragem ninguem tem de estar alli no escuro! E quem ja viu, como eu ja vi a Morte, está commigo onde eu estive!