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DISSONNETTO DA FIGURINHA CARIMBADA [1460]
De novo? O tal trophéu premia o cara de sempre, a mesma e cynica figura que a mesma companhia publicara nos annos anteriores! Quem attura? Precisa ser, demais, de pau a cara de quem, na commissão, decide e appura! Podiam variar agora, para nos dar uma impressão de haver lisura!
Será qu’inda preciso de mais linhas? Será que o premiado não se toca que faz papel ridiculo essa troca de votos e favores nas lettrinhas?
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É claro que se toca! Não são minhas, appenas, as denuncias! Mas se presta ao circo que prepara, faz a festa e imputa o malestar às “piccuinhas”.
DISSONNETTO DO REPENTE PERMANENTE [1470]
Perguntam-me: “Mas Glauco, quanto dura fazer um dissonnetto?” Eu lhes diria que é coisa de minutos: a factura sae logo, quando a idéa não exfria. Não tenho “inspiração”, a mera, pura “verdade” revelada: a poesia será sincera appenas quando cura feridas, ou, ao menos, allivia. Occorre isto não só na lingua lusa. A dor é o principal, urgente prazo que mede este processo, e não o acaso, o cerebro, o chronometro, uma musa. Espero não passar noção confusa. Passou mais que um minuto da pergunta, mas, desde que a memoria disso assumpta, talvez a toda a vida se reduza.
DISSONNETTO DA CASA DOS MEUS SONHOS [1472]
Casinha acconchegante, aquella! Embora sobrado seja, minima ella é: o alpendre; a janellinha que, de fora, cortinas deixa ver; a chaminé; o quadro que a salleta, oval, decora, se expreme entre as poltronas! Qual chalé tem tanto encanto? Quem será que mora alli, duma collina verde ao pé?
À noite, a coisa muda, todavia: não acho a habitação tão boa assim. Dos olhos da mansarda alguem espia os vultos que se movem no jardim. Na trepadeira, aranhas teem caminho até o segundo andar! Ficou ruim! Reviro-me no leito: o castellinho se torna um pesadello para mim.
DISSONNETTO DA ABBADIA, DE DIA [1482]
Estive na abbadia, do Big Ben bem proxima. É menor, a gente nota, que Notre Dame. Identica, porem, no poncto onde o turista perde a ropta. Passagens labyrinthicas e sem sahida: a crypta à grutta nos connota. Si por alli, sem rhumo, for alguem, verá que o subterraneo não se exgotta. Que indicios alguem nota do terror? Ao alto, alguns vitraes, bombardeados durante a guerra, foram ja trocados por vidros transparentes e sem cor. Mas algo poderemos, ja, suppor. Abbaixo dessas naves, tudo é preto. Ninguem percebe quando um eskeleto passeia, mesmo si de dia for.
DISSONNETTO DA MANIA DE MIDIA [1487]
Poeta não tem nada que “ser visto”, ter “visibilidade”! Isto é negocio de actor ou de politico e, alem disto, de quem quer que num cargo alguem emposse-o. Algum publicitario, alguem malquisto bollou essa bobagem! Mesmo em ocio, com “visibilidade” um bobo, insisto, não passa dum “visivel” que é beocio. Quer vendas? Va fazer commercial! Quem quer apparescer é quem se vende!
O meu logar na historia não depende de luz, “bolla da vez” ou peta egual! Como é que quer ser visto quem vê mal? Qual “visibilidade”, qual caralho!
Si alguem quizer saber quanto é que eu valho, que veja quem me leu e deu aval!
DISSONNETTO DA VISIVEL CREDIBILIDADE [1488]
A tantos idiotas que meu justo valor excammoteiam e outro auctor promovem, simplesmente apponcto Augusto e apponcto, de lambujem, o Millôr. Me bastam esses dois, e ja degusto o que pensa de mim um bom leitor, alguem qualificado que, sem custo nem preço, tem mais credito ao depor. Não quero nem saber de quem só posa! Si quero, como quero, ser lembrado por ter, principalmente, sonnettado de forma rigorosa e volumosa, não tenho que invejar gente famosa! Preciso, não de midia ou duma feira, mas sim de quem não fede, porem cheira e duma fama justa sempre goza.