guarda-corpos, de linhas geométricas, lembram os grafismos das cerâmicas marajoaras, arte da civilização pré-colombiana que viveu nessa região e resiste até hoje”, diz Alcantarino. Outro elemento que se destaca na arquitetura local é o trapiche, de onde partem as embarcações. Mas não só: essas estruturas são usadas ainda para secar roupas e sementes e até como espaço de lazer para reunir amigos. Na cidade de Afuá, conhecida como a Veneza paraense, as casas coloridas também convivem com bicicletas e barcos, os principais transportes da comunidade. “As casas ribeirinhas precisam ter cores para serem identificadas à distância. Na falta de ruas, esquinas, calçadas e placas de sinalização, a cor tem a função de comunicação visual, além de estética”, afirma Samia Batista, do Letras que Flutuam, um projeto que pesquisa e divulga o saber dos artistas conhecidos como “abridores de letras”.
Pintar embarcações é um ofício passado de pai para filho – gerações que aprenderam a nomear os barcos com letras repletas de detalhes, códigos cromáticos e tridimensionalidade. “O que se sabe é que os artistas ribeirinhos se apropriaram da tipografia do século 19, também chamada de letra vitoriana, que aportou por aqui com a economia da borracha, e a partir desses modelos desenvolveram a pintura de letras, compondo a diversidade que atualmente colore nossos rios”, diz a designer gráfica Fernanda Martins, coordenadora, como Samia, do mesmo projeto. Em Caboclos da Amazônia, entre as várias salas, a das Letras está dedicada ao assunto, cuja curadoria é assinada por Fernanda. Ritmos musicais e artesanato completam a mostra de Alcantarino, inaugurada em maio, em Belém, e que pretende revelar para o país os encantos desse Brasil distante.
©LETTERING: RENAN CORAZZA / FOTOS: DIVULGAÇÃO / FOTO BARCOS: AQUIVO LETRAS QUE FLUTUAM
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