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MARCENEIROS? SOMOS TODOS
Nem Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim (Rio de Janeiro - 1927 / Nova York - 1994), nosso compositor maior, além de cantor, pianista etc., apostou apenas na própria música “Samba de uma nota só”. Gênio criativo, ele soube usar todas as notas… Mas a base, como o maestro afirma, é ou tem de ser necessariamente uma só?
Às vezes parece que o design brasileiro de mobiliário segue esse pensamento da letra da música ao se apoiar primordialmente em um só material, como é o caso do uso incessante da madeira, associada a poucos elementos – mais o couro e o tecido, e menos as fibras e as pedras. Mas, a princípio, a madeira – esperamos que certificada – serve como base da maioria dos “móveis de design” que criamos e produzimos contemporaneamente. Por onde andam o barro e o tijolo, a cerâmica, o cimento e o concreto, os metais? Somente nas mostras de decoração? E os materiais com base em novas tecnologias?
E surge aí outra pergunta que não quer calar: precisamos efetivamente – em tempos sustentáveis e, talvez por isso, mais artesanais e feitos à mão – de tantos novos modelos de bancos, cadeiras e poltronas, repetindo a fórmula tão quase que somente baseada nos mesmos materiais? Pressão da indústria e, por consequência, do grande varejo, que precisa produzir para vender, é uma resposta plausível. Falta de imaginação dos criativos nem soa como argumento, porque não é verdade. Temos muitos exemplos de excelentes profissionais, assim como estúdios, ateliês, oficinas e indústrias trabalhando muito – e bem – desde o tempo em que o design não existia como classificação para mobiliário. Tudo era móvel…
Então, por que nos inspiramos tantas vezes em congêneres do exterior? Não, por favor! Porque “yes, nós temos bananas!”. Ou será que definitivamente existe um zeitgeist universal compulsivo? Ou seria a tal da tendência?!? O fato é que continuamos copiando coisas que já existem lá fora… E aí tudo resulta indesculpável em um mundo chafurdado em informação rápida e barata na internet. Não tem jeito a dar? Tem! Talvez esteja se fazendo uma intenção confessa (homenagem, se explícita, okay!). Mas, se for camuflada (que bobagem, em qualquer caso), não podemos aceitar – vira um processo.
Aliás, ainda outra questão, talvez a mais importante de todas: por que hoje, em diversas ocasiões, como agora, reduzimos a criação e a utilização dos diversos setores de design somente na categoria do mobiliário, quando em nossa história temos ícones (pessoas e produtos) de design gráfico e industrial que não têm nada a ver com esse assunto específico que aqui abordamos por ser o queridinho do Brasil atual? Cases como o das Havaianas, com a releitura do século 20 para as sandálias da antiguidade chinesa, ou a clássica grega, e biquínis em ousadia maior brasileira, como o “asa-delta”, são dois itens que representam/representaram a moda nacional no binômio jeitinho brasileiro + indústria antenada com o território que habita, e até para exportação.
Na área gráfica, as cédulas de dinheiro de um Aloísio Magalhães, com todo o seu trabalho de moderno resgate do País tropical, e as peripécias eletrônicas de um austríaco Hans Donner na tela da potente Rede Globo por quase 50 anos, uma história eletrônica de nível internacional made in Brazil. No ar, os aviões que sobrevoam a Terra nas asas da Embraer também soam como grande exemplo.
Diante de tudo isso, é preciso – antes de mais nada – pensar, estudar (o que significa ler), pesquisar (o que significa também ver), experimentar e testar até oferecer ao mercado um produto efetivamente útil, adequado, justamente precificado, e que atenda a uma necessidade da sociedade, nem que seja seu uso por vaidade, com rima mesmo.
O importante é fazer o que se gosta e se sabe, mas sugiro: vamos dar preferência ao que o mundo precisa nessa hora turbulenta, onde todos queremos o melhor, sem desperdícios ou grandes arroubos (ou roubos) de criatividade, mas de adequação a um espaço de viver melhor para a humanidade. Com muito e cada vez mais necessário design.