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MÓVEIS COM ALMA
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Esteban Fidelis se interessa
Para Esteban Fidelis, design tem cheiro de lápis, tinta, madeira. Também traz impregnadas a literatura e a história da família, que está na quarta geração de criativos. “Durante a Guerra Civil espanhola, meu bisavô, que havia perdido muita coisa, começou a fazer objetos de madeira, caminhõezinhos e outros brinquedos, para vender nas feiras locais e, assim, sobreviver”, conta.
Ele diz que a avó sofreu muito durante esse período e que desembarcou no Brasil na década de 1950, fugindo dos horrores provocado pelo conflito travado entre 1936 e 1939 e que deu origem à ditadura franquista, que foi até 1975. “Ela era uma artista: pintava e escrevia. Minha mãe estudou artes plásticas na PUC.
Desde criança, me recordo de acordar e já correr para ver em que estágio estavam as telas que ela produzia. Aquele cheiro de tinta é algo muito forte na minha memória afetiva”. O pai do designer também era muito criativo. Publicitário, também gostava de fazer restauração de móveis, o que influenciou a escolha de Fidelis. “Tenho flashes e me vejo no estúdio dele, sentado, rabiscando na prancheta. Ainda sinto aquele aroma de ecoline e do lápis”, diz.
Além da relação afetiva com os materiais e o processo criativo, lembra que desde os 3 anos desenhava. Personagens em quadrinhos, ilustração e desenho anatômico fazem parte do background de Fidelis que, aos 13 anos, foi trabalhar em um escritório de arquitetura em Ribeirão Bonito, interior de São Paulo. “O que era hobby se transformou em ferramenta”, lembra. “Fora isso, aprendi Autocad, aprimorei o desenho técnico, fazia maquete 3D... e fui ganhando experiência em outras realidades criativas”.
Na época da faculdade, estava em dúvida entre arquitetura e design. Até que seu pai lhe mostrou um fôlder, que explicava sobre o curso de design, e disse que, talvez, tivesse mais a ver com o filho. “Quando li a descrição, entendi que era o que queria fazer. E acabei dando mais ênfase ao design de mobiliário, porque é onde me encaixo melhor: tem design, arquitetura e criatividade”, diz. “Nunca fui um estudante de grande destaque no curso do ensino médio, mas eu me encontrei totalmente na faculdade”.
Em 2013, Fidelis teve um empurrãozinho extra. Venceu o primeiro prêmio estudantil da Tok & Stock e decidiu mergulhar no universo do design mobiliário na Unesp de Bauru. No ano seguinte, recebeu uma bolsa para estudar durante um ano na UPC (Universidade Politécnica da Catalunha). “Foi muito importante: eu tinha uma visão da criação muito sem regras. Para mim, o processo criativo sempre foi instintivo. Mas, no curso, entendi que o design é reflexo de um processo. Na Europa, existe um entendimento muito forte disso, porque há indústrias produzindo design”.
Após essa bolsa, Esteban recebeu outra pela Fapesp e pôde desenvolver ainda mais o pensamento científico ligado ao design. Esses conhecimentos, somados à bolsa anterior e ao estágio em uma empresa de mobiliário de Barcelona, fizeram com que tivesse a visão total do design com propósito. Depois de formado, assinava peças com um sócio designer. Mas a grande guinada aconteceu em 2020, quando começou a desenvolver, em esquema de parceria, móveis para a Klie, empresa sediada em Santa Catarina.
A primeira coleção foi a Dunas, com DayBed e o Sofá Curvo. “Essa linha foi uma resposta à tendência de peças orgânicas”, afirma. A mais recente é a Léxico, que Fidelis classifica como ápice do equilíbrio entre conceito e produto. “São peças que têm alma e estão associadas ao storytelling, que está cada vez mais recorrente no mercado”, explica. Para criar essa série, o designer, que sempre teve grande admiração por Guimarães Rosa, se aprofundou no entendimento do autor e especialmente no livro O Léxico de Guimarães Rosa, em que a autora Nilce Sant’Anna Martins organizou o vocabulário do escritor, decifrando possíveis significados para palavras criadas pelo também poeta que foram usadas em suas obras.
A EVO, que tem significado expresso por tempo, idade e duração sem fim, direcionou a escolha de pedra e metal, materiais de durabilidade e resistência, e deu origem a uma mesa de jantar, um sofá e uma mesa de centro. A Riba, a uma estante, e a Linde, a uma mesa de centro. “O mais estimulante é que essa coleção pode ter muitas ramificações. E o mais interessante é conseguir, ao mesmo tempo, contar histórias e atender ao mercado”.