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COMO SERÃO OS CARROS DO FUTURO?

Especialistas mostram que eletrificação e busca por eficiência vão determinar o design dos veículos

Lançado em 1982, o filme “Blade Runner” mostrava um futuro surpreendente no ano de 2019, com clones, telas sensíveis ao toque e, claro, carros voadores de linhas arrojadas. A data chegou e passou. Muitas dessas tecnologias, de alguma forma, estão entre nós, embora nem todas em larga escala.

Mas como será a aparência dos veículos do nosso futuro? Segundo especialistas do setor, o design dos carros é e será cada vez mais definido por dois fatores: a acelerada evolução da tecnologia e mudanças significativas na forma como o consumidor entende e utiliza os automóveis.

“A evolução do design anda de mãos dadas com o progresso tecnológico e o futuro certamente será elétrico. Por isso, a eficiência é a chave para o design do futuro”, avalia Evandro Bastos, chefe de Produto de Automóveis da Mercedes no Brasil.

José Carlos Pavone, chefe de Design da Volkswagen para a América Latina, concorda que o caminho da eletrificação influencia a arquitetura básica dos veículos, o que amplia as possibilidades do design. “Sem precisar mais de todo o espaço que o motor de combustão normalmente ocupa e com as baterias fornecendo energia, o interior pode ser maior, privilegiando o espaço interno e o conforto dos ocupantes”, explica.

De acordo com Daniel Gerzson, chefe de Design Exterior da Stellantis na América do Sul, a ampliação do espaço interno permitirá criar veículos mais versáteis pela redução ou pelo deslocamento de componentes. “Pense num carro de quatro metros em que um terço era somente motor. Em alguns anos veremos novas possibilidades, em que será possível aumentar a capacidade de levar pessoas e objetos ainda mais confortavelmente”, resume.

Por outro lado, o design também cumpre um papel decisivo para auxiliar o desempenho de novos modelos elétricos. “No exterior, o design pode influenciar nessa nova era da eletrificação, trazendo mais funcionalidade, sendo um agente importante na melhoria da aerodinâmica, para que o veículo consuma menos energia e aumente sua autonomia em distâncias percorridas”, completa Pavone.

Esses novos parâmetros no desenvolvimento tendem a se traduzir em formas mais arredondadas, pneus mais estreitos e materiais mais leves. Além dos contornos, das cores e texturas, o design também terá a possibilidade de introduzir materiais mais sustentáveis, dentro de todo o ciclo de construção do veículo. Afinal, a preocupação com o ambiente é cada vez mais forte entre os jovens e, consequentemente, os futuros consumidores dessa indústria.

Outra demanda importante dos clientes que afeta o design é a busca por conectividade. O carro precisa ser visto como a extensão do smartphone e outros dispositivos, facilitando a condução, o trabalho e poupando tempo em contexto de vida cada vez mais atribulado.

O designer Vitor Bedani, que atua no 1961 Design Studio do Instituto Mauá de Tecnologia, desenvolveu o Nano Home, um carro autônomo que não necessita de motorista, o que possibilita que os passageiros realizem outras tarefas durante o trajeto desejado.

“A introdução de sistemas interface e experiências com o usuário de última geração também abriu um mundo totalmente novo para nós. O nosso sistema de entretenimento MBUX (Mercedes-Benz User Experience) estabelece padrões em todas as áreas: tecnicamente, em termos de facilidade de uso e também de design, é o nosso maior trunfo no campo do luxo digital, que se tornou cada vez mais importante e uma necessidade absoluta quando falamos em buscar o melhor. O luxo digital é crucial quando se trata de pensar o luxo do amanhã e criar desejo”, afirma Bastos.

Para Pavone, o consumidor de carro está cada vez mais exigente, principalmente em relação às tecnologias de segurança e dirigibilidade, além de estar muito focado em opções de multimídia e sua interface com o usuário. Ou seja, o tamanho da tela e a funcionalidade dos sistemas são essenciais, fatores que passarão a ser cada vez mais considerados no desenho do interior.

Em conjunto com a eletrificação, a expansão dos serviços de compartilhamento já está influenciando o design de carros e deve ser um quesito ainda mais forte nos próximos anos. Pesquisas recentes indicam que o consumidor está mais disposto ao uso pontual e sustentável dos veículos. Programas de aluguel curto ou “car sharing” já estão disponíveis em cidades como São Francisco, Londres, Paris, Berlim e Tóquio.

1964

Volkswagen ID Buzz

O mais novo elétrico da VW é uma releitura moderna da Kombi e mostra que o design de carros, assim como a moda de roupas, também dá suas voltas.

“O compartilhamento pode ser pensado como se o carro não fosse uma propriedade, mas um objeto coletivo em que a personalização pode ser dada pelas configurações dos usuários de maneira digital ou até mesmo por plugins que podem ser adaptados conforme a sua utilidade”, explica Gerzson.

O uso comum, porém, pode despertar necessidades de personalização entre os clientes desses serviços, o que seria um diferencial a ser fornecido pelo design. “Nesse tempo de mobilidade com veículos compartilhados, o consumidor que quer ter a mobilidade individual também busca cada vez mais que o acabamento dos interiores e as formas do exterior comuniquem um caráter cada vez mais exclusivo”, avalia Pavone.

Porsche 911

Nada é tão icônico quanto às linhas de um Porsche 911, que até hoje muda e se moderniza sem perder as suas características-chave.

O modelo mudou o segmento de SUVs de luxo e revitalizou a Land Rover. Inovou com dianteira invocada, janelas estreitas e traseira de queda acentuada em carroceria de duas portas.

Autom Veis Voadores

No cinema, o design do carro do futuro é sempre muito caracterizado pela capacidade de voar. Na ficção, veículos já tomavam os céus do 2019 de “Blade Runner” ou até mesmo em 2015, com “De Volta para o Futuro”. Na prática, ainda estamos longe de um congestionamento nos ares.

“Essencialmente, os carros ainda utilizam o mesmo conceito criado em 1886: um veículo com rodas e um motor de combustão interna. Para o futuro em curto prazo, os automóveis serão, além de elétricos, cada vez mais autônomos, assumindo tarefas até então dedicadas ao condutor. Se eles irão “voar” como nos filmes, ainda é cedo para afirmar”, opina Bastos.

Emblemático e um sucesso no Brasil, o Beetle foi fabricado até 2003 e é o segundo carro mais vendido no mundo.

Lançado em 1997, o carro passou a ter um design condizente com o futurismo da propulsão apenas em 2016

Para Pavone, a regulação ainda é o principal entrave. “Já existem vários estudos de mobilidade individual que inevitavelmente vão chegar ao ‘carro voador’ e certamente ele será elétrico, mas isso também vai envolver muita regulamentação. Se já é complicado a regulamentação do carro autônomo, imagine voando”, avalia.

Já Gerzson acredita que os carros serão desenhados para entregar cada vez mais diversão ao volante e ainda tornar a vida das pessoas melhor, independentemente da capacidade de voar. “Acredito que o carro tem a função de encontrar soluções para a nossa rotina e, nas horas de lazer, proporcionar momentos e experiências incríveis”, diz. “Pode não parecer, mas grandes transformações já estão acontecendo e os times de design, imaginando tudo o que a gente vê em filmes por aí. Basta somente as tecnologias serem mais democráticas e viáveis que naturalmente veremos tipos de veículos para cada experiência imaginada, desde os pequenos autônomos para o dia a dia como os que serão a extensão da nossa casa, trabalho e muito mais’”, completa.

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