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COMO NASCEM AS CORES
Grupo multidisciplinar desenvolve cartelas com tons que possam traduzir o mood coletivo do momento com base em diferentes fatores estudados
POR MARTA DE DIVITIS
Tdiosos buscam, por meio de estudos de comporta mento, as tonalidades que serão eleitas a cor do ano e devem traduzir o mood, o humor coletivo do mo mento. A maior parte desses bureaus trabalha com observadores, em diversas partes do mundo, objeti vando encontrar as tendências de comportamento, baseando-se inclusive em estudos científicos e rela tórios técnicos de consumo, entre outros fatores. Daí as cartelas cromáticas desenvolvidas irão nortear empresas tanto de arquitetura como de design de interiores e de moda. Segundo Márcia
Holland, diretora de Pesquisa e Inovação do Por tal de Tendências e professora doutora do Institu to Mauá de Tecnologia, cada empresa utiliza uma
A Pantone Color Institute©, serviço de consul toria da Pantone© nos Estados Unidos, elegeu em 2022 a Pantone 17-3938 Very Peri. “O Very Peri lem bra os espaços coloridos do Metaverso. Esse tema no universo virtual foi tão impactante que a Pantone© optou pelo azul violáceo.
Valentino na coleção de inverno 2022 trouxe não apenas as roupas, mas todo o ambiente no mesmo tom: Pink PP -Pink. A cor representa criatividade, amor e liberdade
Porém, a Valentino, em sua coleção Inverno 2022, criou o Pink PP – Pink. Pierpaolo Piccioli, estilista criativo da marca, afirmou "que a cor representa o amor, a liberdade, a curiosidade e a criatividade”, explica Márcia. “Mas afinal, o que o violeta e o rosa têm em comum? Talvez a resposta esteja no desfile da coleção Inverno 2022 de Dolce & Gabbana, que simulou o próprio Metaverso em plena passarela real. Versace também não escapou do tom de rosa-choque e das tonalidades digitais”, justifica.
Isso revela que o Metaverso influenciou desfiles pelo Planeta, incluindo as grandes marcas de alta costura. E vale lembrar que as passarelas influenciam observadores e formadores de opinião. De acordo com a especialista, cada segmento tem o próprio ritmo relacionado a hábitos e tendências.
“Observando relatórios de cores do setor automotivo, as movimentações são muito mais lentas do que o de moda: os tons comuns são branco, preto, vermelho e cinza, além das nuances metálicas. Nos últimos anos, no mercado brasileiro, observamos a perpetuação da cartela de cinco cores básicas. Já a do mercado asiático difere das do Oriente Médio e da Europa”, explica.
No segmento mobiliário, as empresas se baseiam nos hábitos de consumo. “A cor do ano é muito mais voltada à criação de inspirações, de forma que as matizações são muito bem aceitas, possibilitam diversas combinações harmônicas e entendem que o espaço é composto por planos, superfícies, cores e luzes, dentre outros elementos. Portanto, dificilmente a cor do ano proclamada por uma empresa terá aplicação universal, e esse é o motivo que cartelas de diferentes segmentos elegem livremente a cor do ano”, conclui.
As Escolhidas Para 2023
Após praticamente três anos de isolamento, de perplexidade e das emoções mais variadas, muitas desconexas entre si, devido à pandemia, as pesquisas de comportamento que norteiam a escolha de cores buscaram tonalidades que “abracem” as pessoas e tragam uma energia mais positiva – elas revigoram e ao mesmo tempo tendem a acalmar essas emoções.
Especialista da WGSN – empresa de tendências de comportamento e consumo –, Nicole Silbert explica que a cor escolhida pela empresa foi a “Digital Lavender”, que se aproxima de um lilás. A escolha se baseou na percepção e análise de que, em 2023, os consumidores estarão com ar de otimismo renovado, à medida que o mundo se ajusta novamente às consequências vivenciadas por conta da pandemia.
Meu Caminho, o neutro rosado eleito pela Sherwin-Williams, é um tom meditativo que convida à reflexão e conexão com o mundo ao redor
Calmaria é cor do ano da Eucatex, que tem o poder de relaxar
Saiba como a Silêncio de Inverno foi escolhida a cor do ano pela Coral
Com as prioridades e percepções alteradas, os consumidores buscarão se conectar com tons que ofereçam a sensação de esperança e harmonia. Acredita-se que os roxos – tradicionalmente ligados à espiritualidade e associados ao chacra coronário – tragam esse equilíbrio.
“Com o consumidor interessado em ofertas holísticas e restauração, o bem-estar digital ganha espaço em um momento em que as pessoas priorizam o autocuidado. Raramente encontrada na natureza, a cor ‘Digital Lavender’ oferece o vislumbre de outras realidades. Essa cor sensorial, que evoca calma e serenidade, deve transitar com desenvoltura entre o mundo virtual e o físico”, justifica Nicole.
No segmento de moda para calçados, acessórios e mobiliário, o Núcleo de Design do Inspiramais, coordenado por Walter Rodrigues, não elege uma cor apenas, mas 30 tons, que se utilizam de uma metodologia de pirâmide. A base é composta pelas tonalidades que já se encontram no mercado. O topo é formado por somente três cores e representa a vanguarda, o que está por vir – de acordo com dez designers (incluindo Rodrigues) que formam a equipe de coolhuntings.
Diferentes Tons Definem O Humor
As cores têm o poder de nos influenciar emocionalmente. Ao olharmos para um jardim bem cuidado, com as diferentes nuances de verde e outras tonalidades, podemos ter sentimentos tranquilizadores, apaziguados. O mesmo efeito pode nos causar uma praia deserta, com as cores do mar e da areia, do céu ensolarado. Ou, como diz o designer Walter Rodrigues, mudar o mau humor matinal ao vestir uma camisa branca. “O branco ilumina!”, diz ele.
O fato é que as cores – compreendidas por nós de forma subjetiva – causam efeitos em nossas emoções, influenciadas por nossa experiência de vida, por nossas memórias, pelo nosso humor. Estudadas pela neurociência, as tonalidades são item de suma importância na arquitetura, no urbanismo, no design de interiores e na moda. Segundo o arquiteto Márcio Lupion, o mais importante para falar de cor é que ela se adapta à luminância (luz refletida sob uma superfície, que vem para os nossos olhos). “Onde tem mais luz, tem mais cor. Onde tem menos luz, as cores ficam mais pesadas e o humor das pessoas se altera por conta dessa dificuldade de perceber a luz”, ensina. E isso explica porque o conselho do designer Walter Rodrigues, de usar uma camisa branca em dias ruins, funciona.