1 minute read
“Somos vários países em um só.”
EFilho de artesã, o arquiteto e designer Gabriel Fernandes tinha uma questão logo que começou a fazer seus primeiros projetos. “Eu achava que não conseguia ser contemporâneo, porque sempre colocava uma almofada feita pela minha mãe e outros itens de artesanato”, lembra. “Até que entendi que esse era meu estilo e decidi pesquisar novas culturas e conhecer tipos de artesanato diferentes das minhas referências locais”.
Assim surgiu, em 2020, o projeto “Brasis Que Vi”, livro que Gabriel está preparando a partir de viagens que tem feito para vários cantos do País, ainda sem previsão para publicação. “Estou, por enquanto, postando alguns trechos desse trabalho no meu Instagram”, diz ele que, ao sair em campo para fazer esse projeto, se surpreendeu com a variedade cultural brasileira. “Somos vários países em um só. Existem trabalhos sendo feitos por pessoas que não estudaram por falta de oportunidade e viraram pescadores."
Influenciado pela mãe artesã, Gabriel tem o artesanato como marca registrada do seu trabalho
"Do mesmo modo, tenho encontrado gente que concluiu a universidade, mas optou por se tornar artesão ou criador de ostra”, conta. “Em Brasília, a Maria do Barro ensinou outras mulheres a fazer cerâmica, e hoje elas vivem desse trabalho. No Sul, um estilista largou a moda e também faz cerâmica. Então, existem diferentes abordagens e são de uma riqueza enorme”.
Entre os destinos visitados, Gabriel destaca o Maranhão. “Ali, eu conheci uma senhora que mora no pé das dunas. Ela e outros que vivem por lá já se acostumaram a se deslocar de acordo com o movimento das dunas. Para quem é de lá, isso é normal”, explica. “Eu perguntei se ela não pensava em se mudar para outro local mais estável. Mas a senhora me disse que não, que gostava do lugar. Então, entendi que costumamos medir as coisas pela nossa régua, mas que está errado. Cada um deve usar a própria. Foi um aprendizado e tanto, que trouxe mais significado para meu trabalho”.
Quando o arquiteto iniciou o projeto do livro, ele pretendia desvendar uma identidade brasileira na arquitetura e no design artesanal. “Descobri que isso não existe. Não há uma casa verdadeiramente brasileira. O que temos é uma grande mistura de estilos, que reflete a diversidade cultural”, afirma. “A partir de então, percebi que, ao contrário do que imaginava no início da minha carreira, esse mix de estilos é que é contemporâneo. Até porque, hoje, com a globalização, também trazemos outros olhares para esse mix. O que faz a diferença é como cada um faz sua mistura”.
Acima casa da Juliana Pinheiro e abaixo, casa do Leo Veneza, visitadas pelo arquiteto em Salvador para o livro "Brasis Que Vi"