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TIRADENTES OURO DE MINAS

A cidade histórica, chamada de berço da Inconfidência Mineira, também é reconhecida por seus saberes e fazeres manuais, tornando-se palco de importantes festivais, como a Semana Criativa de Tiradentes, que atrai arquitetos e designers de todo o País

TTiradentes é uma pepita de ouro na região conhecida como Campo das Vertentes, em Minas Gerais. Não mais pelo metal precioso em si – este não se vê por lá há alguns séculos –, mas por outras preciosidades, como os seus moradores. São pessoas com encantadoras habilidades manuais que fazem maravilhas no artesanato e na cozinha. Parece que para ser mineiro é preciso nascer sabendo fazer com as mãos. Soma-se a isso o jeito de receber, um jeito de quem gosta de ver a casa cheia, um jeito de quem está sempre preparado para receber mais um

O conjunto arquitetônico da cidade é outro bem dos mais preciosos. Remonta do início do século 18 e se encontra preservado, graças ao seu tombamento pelo então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 1938. Andar por suas ruas é uma aula sobre arquitetura colonial e entendimento de expressões que usamos até hoje, como “sem eira, nem beira”, “pé-rapado” entre tantas outras, que estão sendo catalogadas pelo guia turístico Fabricio Rodrigues, um dos mais requisitados da cidade por justamente fazer o trajeto nada previsível por seus becos. Becos que hoje esbanjam charme e beleza, mas que, no passado, serviam como a única via possível para os escravos, que não podiam circular nas ruas centrais.

Tiradentes, considerada em 2019 a cidade mais bonita do Brasil pela revista estadunidense Departures, tem lá suas questões. Por trás de tamanha beleza do casario, da hospitalidade das pessoas e da exuberante natureza, que abraça a cidade com a Serra de São José – importante refúgio de libélulas do Brasil –, esconde um passado sombrio de exploração e escravidão. Um passado que é relembrado pelo capitão do Congado, o mestre Prego, que volta e meia passa em cortejo pelo centro histórico, batendo tambor e cantando os lamentos do povo preto.

O conjunto arquitetônico em estilo colonial mantém-se preservado graças ao atento cuidado do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

Centro histórico que nos faz voltar no tempo. Que no início da semana, quando não há turistas, se cala às sete da noite. E só se ouvem o sino da igreja e o perambular de cachorros e gatos. Tiradentes é um portal, que nos faz voltar no tempo. Um condado onde nenhum mal ou problema parece nos alcançar.

Terra onde se cozinha no fogão a lenha, onde se faz doce no tacho, onde se produz o queijo, a cachaça, a marcenaria da casa.

É nesse cenário encantador que surgiu, em 2017, a Semana Criativa de Tiradentes. Um misto de projeto social e festival com o propósito de divulgar e valorizar saberes de tradição. O festival, que atrai arquitetos, designers de interiores, designers de produto, paisagistas e artesãos de todo o País, é realizado sempre no mês de outubro, mas a mágica acontece meses antes

A artesã Lilia Fonseca mantém a tradição de colocar cruzes nas fachadas das casas de Tiradentes. Ao lado, Raimundo Nonato seguiu os passos do pai e produz ferragens coloniais, chaves, cravos e outros objetos em ferro forjado com o projeto que reúne a cada ano um grupo de designers e de artesãos de Tiradentes e região. Essas pessoas se encontram em vários processos imersivos com o objetivo de trocar informações. Se os designers vêm com suas experiências acadêmica e de mercado, os artesãos esbanjam conhecimento profundo em saberes antigos, passados de geração para geração, que não se encontram mais nas grandes cidades. Esculpir em pedra-sabão, entalhar a madeira, aplicar técnicas de ourivesaria na lata... Uma verdadeira união do contemporâneo com a tradição. Desses encontros surgem produtos trabalhados a muitas mãos, que são expostos durante o festival. Este, uma maratona de conteúdo com palestras, batepapos, oficinas, exposições, instalações, visitas guiadas, mercadinho e tudo o que possa imaginar para proporcionar um verdadeiro mergulho nas nossas raízes, na nossa cultura e história.

Expedito Jonas de Jesus vem de uma família de escultores em pedra-sabão. Desde criança, aprendeu a esculpir relógios de sol, que eram vendidos aos turistas na escadaria da Igreja Matriz de Santo Antônio

Jango é um mestre santeiro, um dos mais importantes de Tiradentes. Apesar da habilidade em esculpir anjos e santos em madeira, não gosta de ser chamado de santeiro e diz: “quem sou eu para fazer um santo?”. Infelizmente, sua produção tem ficado cada vez mais rara e algumas de suas obras podem ser encontradas na Loja da Semana

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