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A FLORESTA DE PÉ
Para além da maior biodiversidade do mundo, a Amazônia ostenta grande potencial cultural e econômico ligado à produção artesanal das comunidades tradicionais que vivem no território. São peças de mobiliário e objetos de decoração feitos com matéria-prima genuinamente brasileira, como fibras naturais, folhas e frutos da floresta. Tudo extraído de áreas de preservação e manejo sustentável.
POR JÔ MASSON
Esse mix de produtos inclui acessórios, fruteiras e luminárias com formas contemporâneas, criados por comunidades ribeirinhas em parceria com renomados designers; vasos com a história tapajoara entalhada no barro; cestos tramados com fibras tingidas naturalmente; redes produzidas em tear manual com os incríveis grafismos das artesãs Huni Kuin, entre outros.
“A Amazônia é mais que um tapete verde, os imensos rios e sua natureza exuberante. Para além da sua diversidade natural, a região tem saberes ancestrais e patrimônio cultural riquíssimo, que precisa ser conhecido e valorizado para ser preservado”, afirma Jô Masson, diretora executiva da Artesol, organização fundada há 23 anos pela antropóloga Ruth Cardoso para valorizar o artesanato brasileiro.
Além dos elementos naturais, os diversos objetos criados em meio à floresta tropical têm inspirações colhidas do entorno, o calor humano de quem as executou, o olhar atento dos artesãos para as formas da paisagem, o modo de vida que se entrelaça ao fazer artesanal e a potência criativa que nasce a partir da fusão do artesanato com o design.
Para mapear essa produção diversa e cheia de potencialidades, a Artesol atua na capacitação dos artesãos tradicionais e no mapeamento, na documentação, no fomento à comercialização e na divulgação do artesanato tradicional brasileiro para todo o mundo.
O Maior Mapeamento De Artes Os
Uma das principais iniciativas da ONG, o projeto Rede Nacional do Artesanato Cultural Brasileiro (Rede Artesol) envolve artesãos de todo o território nacional. A cada ano, a organização pesquisa e documenta o trabalho desenvolvido pelos artesãos brasileiros e produz conteúdo qualificado sobre eles.
Para isso, os consultores do projeto viajam para comunidades em pequenas cidades, reservas, aldeias indígenas e vilas de rendeiras em muitos cantos do País, fazem a documentação do trabalho e divulgam um perfil de cada grupo com história, imagens, produtos e contatos atualizados em uma moderna plataforma digital traduzida em 57 línguas. É o maior mapeamento do artesanato brasileiro.
Ao todo, cerca de 5 mil artesãos já integram essa rede. São artesãos individuais ou organizados em associações e cooperativas, artistas populares e mestres, além de lojistas e programas de fomento. “A ideia é revelar o valor cultural dos produtos artesanais e criar uma conexão entre os consumidores e os artesãos, fortalecendo a atividade artesanal”, afirma Jô Masson.
Embora o projeto tenha abrangência nacional, o impacto em regiões mais distantes dos grandes centros comerciais – como a Amazônia – é muito significativo, porque, de forma geral, os grupos localizados em comunidades mais isoladas têm pouco acesso ao mercado. Por isso, integrar a Rede Artesol, vender seus produtos por meio das ferramentas on-line ou mesmo participar dos eventos promovidos pela organização faz grande diferença em seus negócios.
Essa valorização econômica que acontece a partir da relevância cultural da produção artesanal contribui para que as comunidades sejam independentes financeiramente, preservem o ambiente do entorno e exaltem a essência de sua identidade
O artesanato tem se tornado um caminho para fortalecer o empreendedorismo e o desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal. “Por isso, o território foi tema do festival que realizamos no Centro Cultural São Paulo - CCSP”, explica Sonia Quintella, presidente da Artesol.
O evento contou com uma exposição dedicada a objetos tradicionais e conceituais criados em parceria entre designers e artesãos da Amazônia, um seminário para debater o patrimônio cultural do território, uma série de oficinas e uma feira, onde os artesãos puderam comercializar diretamente seus produtos com o público.
“A gente fica muito feliz de vir pra São Paulo, porque aqui o artista e a sua obra são valorizados”, afirma Jefferson Paiva, ceramista de Santarém (PA). “Além disso, foi muito interessante produzir as peças em parceria com um designer, porque ele levou o conhecimento técnico dele para se somar ao nosso conhecimento tradicional”, conta o artesão sobre a experiência de criar peças exclusivas para a mostra em parceria com o designer Antônio Castro. “Isso é muito bom, porque a cerâmica tapajônica, embora seja histórica, não é uma coisa do passado, não. A gente continua produzindo e a gente fica muito feliz de poder inovar, de criar coisas novas”, complementa o artesão, que também é estudante de arqueologia.