A Guerra dos Cristeros

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A GUER R A DOS CR ISTEROS


Nossas próximas publicações: O Catolicismo no Brasil Padre Júlio Maria de Moraes Carneiro, C.S.S.R. (Coleção Pensamento Católico no Brasil)

A Ordem Natural Carlos Alberto Sacheri (Coleção Doutrina Social da Igreja)

Matrimônios Santos: Os Santos Casados como Modelos de Espiritualidade Conjugal Thomas Kevin Kraft, O. P. A Última Superstição: Uma Refutação do Neo-ateísmo Edward Feser Tu Serás Rei Anacleto González Flores Uma Breve Vida de Cristo Fulton J. Sheen Sentir com a Igreja Antônio Royo Marín (co-edição com a editora Ecclesiae)

A Fé da Igreja: Em quê Deve Crer o Cristão de Hoje Antonio Royo Marín (co-edição com a editora Ecclesiae)

O Pensador Completo: A Maravilhosa Mente de G. K. Chesterton Dale Ahlquist


enrique mendoza delgado

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A GUER R A DOS CR ISTEROS

Belo Horizonte, 2013


Impresso no Brasil, Maio de 2013 Os direitos desta edição pertencem a Edições Cristo Rei (Luíza Monteiro de Castro Silva Dutra CNPJ: 17.400.216/0001– 47) Rua Costa Rica, 90, Apto. 202, Bairro Sion CEP: 30320–030, Belo Horizonte, Minas Gerais E-mail: contato@edicoescristorei.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Delgado, Enrique Mendoza A Guerra dos Cristeros / Enrique Mendoza Delgado; tradução Guilherme Ferreira Araújo – Belo Horizonte: Edições Cristo Rei, 2013. 128 pp. isbn: 978-85-66764-00-0 1. História da Igreja 2. Cristiada 3. Cristo Rei 4. Mártires I. Título II. Enrique Mendoza Delgado cdd – 270

Editor Guilherme Ferreira Araújo Tradução Guilherme Ferreira Araújo Revisão Davi James Dias Projeto Gráfico e editoração João Toniolo Capa Marina Vianna (contato: ninaahviana@gmail.com) Imagem da capa Blessed Father Miguel Pro, pintura de Neilson Carlin, 2007, Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, La Crosse, Wisconsin.


ÍNDICE Cronologia................................................................................... 9 Apresentação................................................................................ 15 Antecedentes................................................................................ 21 A Revolução................................................................................. 25 A Luta das Facções....................................................................... 29 A Perseguição............................................................................... 37 A Resistência Pacífica.................................................................... 47 A Resistência Armada................................................................... 55 a) Seus protagonistas................................................................. 55 b) A guerra.............................................................................. 60 Os “Acordos”................................................................................ 75 Depois dos “Acordos”................................................................... 81 Conclusão.................................................................................... 87 Anexos......................................................................................... 89 O Nosso Número...................................................................... 91 O Apostolado........................................................................... 93 Para que Cristo reine................................................................ 97 O Trabalho de Hoje.................................................................. 101 Os Católicos de Hoje................................................................. 105 Fotografias.................................................................................... 109



Cronologia resumida1 1924 Dezembro

Começa a presidência do general Calles.

1925 Fevereiro

Tentativa de cisma religioso e fundação da Liga.

Março

No dia 27, ocorre uma confusão sangrenta em San Marcos, Aguascalientes.

Maio

Atentado contra Calles.

Junho

Crise entre México e Estados Unidos, em razão da questão petroleira.

Dezembro

No dia 31, adota-se a lei que regulamenta a pertença do petróleo à nação.

1. Essa cronologia refere-se apenas à chamada primeira Cristiada, que ocorreu entre 1926 e 1929. Alguns dados referentes à segunda Cristiada encontram-se no capítulo “Depois dos Acordos”.

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1926 Fevereiro

Supostas declarações do arcebispo da Cidade do México contra a Constituição. Fechamento dos templos, seminários e escolas. Motim na paróquia da Sagrada Família, no Distrito Federal.

Março-Abril

Prepara-se a regulamentação do artigo 130 e dos outros artigos constitucionais que dizem respeito à religião.

Maio

Motim em Guerrero. Prisão do bispo de Huejutla.

Junho

Agrava-se a crise entre México e Estados Unidos. Calles aprova a lei regulamentar (chamada Lei Calles) no dia 14.

Julho

O conflito petroleiro continua se agravando até dezembro. No dia 31, entra em vigor a Lei Calles. A Igreja Católica suspende os cultos públicos. Começa o boicote organizado pela Liga.

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Agosto

Primeiros motins, confusões e rebeliões armadas. O general Enrique Estrada fracassa em sua tentativa de tomar Tijuana. No dia 21, Calles se reúne com os bispos Pascual Díaz e Ruiz y Flores.

Setembro

O Congresso rechaça a petição católica de reforma constitucional. Multiplicam-se as rebeliões. A Liga escolhe a via armada.

Outubro

Ultimato às companhias petroleiras.

Dezembro

A Liga convoca uma rebelião geral para janeiro de 1927.

1927 Janeiro

Grande rebelião em todo o centro-oeste do país.

Março

Calles entra em contato com o presidente dos Estados Unidos para resolver a questão petroleira.

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Abril

Bispos mexicanos são expulsos do país. Melhoram as relações com os Estados Unidos. Ataque ao trem de La Barca.

JulhoAgosto

Obregón negocia com os bispos na fronteira. O exército cristero atinge o número de 20.000 solados.

Outubro

Fuzilamento dos generais Gómez e Serrano.

Novembro

Chegada do embaixador Morrow.

1928 Janeiro

Morrow se encontra com prelados mexicanos em Cuba. O exército cristero chega a 35.000 soldados.

Março

Acordo sobre o petróleo.

Abril

Calles se reúne em segredo com o presidente Burke.

Maio

Calles se reúne em segredo com o arcebispo Ruiz y Flores, que viaja para Roma.

Julho

O acordo permanece suspenso. Obregón, eleito presidente, é assassinado no dia 17.

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AgostoSetembro

Suspensão das negociações. Calles controla a situação. Portes Gil fica como presidente interino. Intensificação dos combates.

1929 Janeiro

A maior ofensiva contra os cristeros fracassa. Já são 40.000 o número de cristeros.

FevereiroMarço

A rebelião de Manso e Escobar é rapidamente aplastada. Ofensiva cristera em toda a região centrooeste. Os cristeros tomam Durango.

Abril-Maio

Morrow e Portes Gil retomam as negociações. Vasconcelos entra em campanha presidencial. Ofensiva federal contra os cristeros.

Junho

Os bispos Ruiz y Flores e Pascual Díaz viajam para o México. Firmam-se os acordos no dia 21. Os cultos são retomados. Paz imediata.

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Apresentação

É com imensa alegria que as Edições Cristo Rei trazem ao público católico a primeira publicação brasileira sobre a Guerra Cristera, ou Cristiada, que ocorreu no México entre os anos de 1926 e 1929. Trata-se de um dos episódios mais importantes de toda a história da Igreja e, também, do século xx. Porém, infelizmente ele ainda permanece desconhecido para a grande maioria das pessoas de cultura média ou até mesmo elevada. Mesmo o filme For Greater Glory (Cristiada), de produção mexicana e norte-americana, lançado no ano passado, não conseguiu tornar tal acontecimento tão conhecido em nosso país, até porque ele sequer foi lançado no circuito nacional. Também nos Estados Unidos e no México, onde teve recepção bastante favorável, não conseguiu destruir completamente a muralha de silêncio que oculta da população em geral evento tão importante. Mas o que foi a Guerra Cristera? E por que esse evento 15


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foi tão importante? O leitor, naturalmente, terá oportunidade de conhecê-la de modo introdutório mas consistente por meio deste belo livro de Enrique Mendoza Delgado. Porém são oportunas algumas breves considerações sobre esse acontecimento já nesta apresentação. Basicamente, a Guerra Cristera foi uma rebelião popular liderada por fiéis católicos mexicanos (contou também, como ficará claro ao longo da leitura, com o apoio de uns poucos bispos e diversos sacerdotes) contra a tirania e a opressão de um governo de inspiração maçônica que pretendia simplesmente varrer a presença da Igreja Católica do território mexicano. O governo de Plutarco Elías Calles decidiu aplicar à risca a Constituição revolucionária de 1917,1 que curiosamente é estudada até hoje (por exemplo, em cursos de Direito) como um modelo de constituição democrática! O texto dessa Constituição previa tudo aquilo que de fato ocorreu quando o governou resolveu aplicá-la: a violenta perseguição e opressão da população mexicana, de raízes profundamente católicas, dado o grande trabalho de evangelização feito pelos espanhóis e, principalmente, por causa das aparições da Virgem Maria a São Juan Diego.2 A aplicação da Constituição de 1917, dita demo1. O papa Pio XI condenou a Constituição mexicana na encíclica Iniquis Afflictisque (versões em inglês, italiano e latim podem ser encontradas em: http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/ index_po.htm). 2. As aparições da Virgem, bem como o manto milagroso deixado por ela ao santo catequista indígena, foram responsáveis pela conversão de aproximadamente 9 milhões de habitantes locais, após um período de

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crática, foi, portanto, um ato completamente autoritário e abusivo, que visava atacar principalmente a Igreja. Foi daí que explodiu a revolta do laicato mexicano, que decidiu pegar em armas para defender sua fé, sua pátria, seus costumes e, em última instância, a liberdade de professar a verdadeira religião. Tratava-se de uma verdadeira situação de guerra justa. As quatro condições3 para que se pudesse justificar a reação armada foram completamente preenchidas, como ficará claro a partir da leitura do livro. E por que damos tanta importância a tal evento? Primeiramente, porque foi um exemplo de como os governos modernos podem assumir posturas completamente hipócritas e contraditórias. Como pode um governo autoproclamado democrático e esclarecido tentar eliminar, por meio da violência, aquilo que então era central na vida da maioria mexicanos: a Igreja Católica? Como Delgado grandes dificuldades no trabalho de evangelização que vinha sendo realizado. Esse fenômeno sobrenatural, portanto, foi responsável pelos fundamentos cristãos do povo mexicano, que, malgrado o intenso processo de secularização que se vive hoje em seu país e em todo o mundo, ainda continua sendo substancialmente católico. 3. Diz-nos o número 2309 do Catecismo da Igreja Católica que essas condições são as seguintes: “(1) o dano infligido pelo agressor à nação ou à comunidade de nações seja durável, grave e certo; (2) todos os outros meios de pôr fim a tal dano se tenham revelado impraticáveis ou ineficazes; (3) estejam reunidas as condições sérias de êxito; (4) o emprego das armas não acarrete males e desordens mais graves do que o mal a eliminar. O poderio dos meios modernos de destruição pesa muito na avaliação desta condição. Estes são os elementos tradicionais enumerados na chamada doutrina da ‘guerra justa’”.

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mostra em seu livro, e também o mostram as muitas outras publicações a respeito desse tema, a grande maioria da população mexicana não concordava com a postura do governo! Se se tratava de um governo verdadeiramente democrático, no qual devia prevalecer a vontade popular, por que então a população não foi escutada? Em segundo lugar, a história da Cristiada nos ensina que um laicato bem formado, organizado e comprometido é capaz de enfrentar a mais brutal das tiranias. Movidos pelo ideal de Cristo Rei, os leigos católicos mexicanos não se acomodaram, não se conformaram com um catolicismo de laboratório, teórico, quase platônico. Conscientes de que se tratava de uma afronta à Religião e à Pátria, organizaram-se e, de modo muito inteligente, conseguiram combater, mesmo com parcos recursos, as insídias do governo Calles, que também recebia apoio formal do governo norte-americano (com dinheiro e armamentos). Esperamos que a leitura deste livro possa suscitar nos católicos brasileiros um amor ainda maior por sua Religião, pelo Reinado Social de Cristo, pela Igreja, bem como um desejo ardente de procurar influir de modo positivo e coordenado na sociedade, como a Igreja nos tem pedido insistentemente4 nas últimas décadas. É ób4. Cf.: A encíclica Quas Primas, sobre a instituição da festa de Cristo Rei (publicada no Brasil também pelas Edições Cristo Rei); o decreto Apostolicam Actuositatem, sobre o apostolado dos leigos, do Concílio Vaticano II; o no. 40 da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Ecclesia in America, do beato João Paulo II; a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christifideles Laici, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no Mundo, também do beato João Paulo II. O papa Francisco,

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vio que a situação vivida na Guerra Cristera foi extrema e, portanto, não pretendemos de modo algum incitar os leitores a pegarem em armas ou a fazer qualquer coisa semelhante! Importa aqui o sentimento e o espírito que moveu os cristeros: a fidelidade à Religião, o patriotismo, a luta pela liberdade. É isso o que nos deve inspirar, especialmente em uma época como a nossa, em que o horizonte tem se mostrado não tão animador (do ponto de vista meramente humano) para os católicos em muitas partes do mundo, particularmente nas regiões de intensa perseguição (Oriente Médio, vários países da África, China, Índia, Paquistão, etc.) Que o exemplo de coragem dos cristeros possa, então, nos animar a preencher de conteúdo aquele grito que se tornou tão famoso em todo o mundo católico: Viva Cristo Rei! Os editores. quando ainda era cardeal de Buenos Aires, em uma entrevista dada à agência argentina aica, reproduzida no portal Zenit, disse sobre o apostolado dos leigos: “Nós, os padres, tendemos a clericalizar os leigos. Não nos damos conta, mas é como contagiá-los com o nosso estilo. E os leigos, não todos, mas muitos, nos pedem de joelhos para clericalizá-los, porque é mais cômodo ser coroinha do que ser protagonista de um caminho leigo. Não podemos cair nessa armadilha, é uma cumplicidade pecadora. Nem clericalizar, nem pedir para ser clericalizado. O leigo é leigo e tem que viver como leigo com a força do batismo, que o habilita para ser fermento do amor de Deus na própria sociedade, para criar e semear esperança, para proclamar a fé, não de cima de um púlpito, mas a partir da vida cotidiana. E carregando sua cruz de cada dia, como todo mundo. E a cruz do leigo, não a do padre. A do padre, o padre que carregue, que Deus deu ombro suficiente para o padre carregá-la”.

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