Enem Cidadania - Caderno 02

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Este fascículo é parte integrante da Coleção Enem.com Cidadania - Fundação Demócrito Rocha I Universidade Aberta do Nordeste I ISBN 978-85-7529-622-6

ENEM.COM Fascículo

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane)

Violência TO T U I ação A R c G bli

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RAYMUNDO NETTO

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Violência, vamos entender esse problema! Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Mahatma Gandhi

Aquele que presencia ou vivencia a violência não esquece Oi gente, meu nome é André. Tenho 16 anos e estudo em uma escola pública. Gostaria de dividir com vocês algumas coisas que tenho observado na minha escola e na minha cidade. Todos os dias a gente fala que a cidade está violenta. Sempre ouvimos alguém dizer que o vizinho foi assaltado, o Mané da esquina agora virou “aviãozinho”, o Zé, motorista da topic, foi esfaqueado e que o medo arrochou todo mundo e tomou conta de tudo e de todos. Quem é que aguenta assistir à televisão se mais parece filme de guerra e que nunca tem um final feliz? Aí me pergunto: mas o que realmente é esta tal de violência? Quem diz o que violência significa? É complicado definir violência em uma só palavra. E ainda é preciso dizer que a violência não é um problema só da polícia, da justiça, dos serviços de saúde ou da escola. É um problema que se torna responsabilidade de todos nós, da nossa sociedade, e vem de mui-

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to tempo seguindo a história da humanidade. Quem não se lembra da passagem bíblica sobre a morte de Abel por seu irmão Caim? É sobre isso que eu e meus amigos queremos conversar com você. A violência tem alterado muito a vida das pessoas, porque não se pode mais andar tranquilo e brincar nas ruas, praças e parques, usar sem medo os meios de transportes, e nem mesmo usar objetos livremente, por exemplo, atender um celular, dentre outras situações, como até mesmo dentro de casa. Sabia que eu nunca imaginei que a violência fizesse mal a saúde das pessoas? Ela causa ferimentos físicos e emocionais e lotam os serviços responsáveis pelos atendimentos das pessoas, principalmente nos serviços de emergência.

Tipos de Violência Para melhor entender a violência, que se manifesta de diversos tipos, ela foi classificada de acordo com as características dos atos violentos. Vou pedir aos meus amigos que me ajudem a explicar: ●

Violência autodirigida é aquela que a pessoa pratica contra si mesmo, como o suicídio, as tentativas de suicídio e a autoagressão.


Violência também a violência coVocê já parou letiva, que pode ser dividipara pensar sobre o que da em violência social, política ou econômica. é violência? Faz parte deste tipo de A Organização Mundial de Saúde (OMS) explica que violência é o uso intencional de força física ou poder real ou em ameaça, contra si próprio, violência a exclusão sociocontra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou possa econômica, a discriminação, o racisresultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado mo, entre outros. Esta pode ser praou privação. É um conceito muito amplo, e envolve não apenas os danos materiais e psicológicos, mas a ameaça que se faz às pessoas. É bom lembrar ticada pelas pessoas ou pelo Estado. ● Tem

Outro tipo é a violência interpessoal. Ela é praticada entre as pessoas, no âmbito da família (envolvendo crianças, adolescentes, jovens, idosos, companheiros) ou no âmbito da comunidade (envolvendo pessoas conhecidas ou desconhecidas). A violência interpessoal também acontece na escola.

que violência são os atos praticados pelas pessoas, mas também ameaças, abuso do poder praticados pelas famílias, comunidades e instituições.

ainda algumas violências que se manifestam e são perpetuadas na sociedade e trazem sérias consequências para a vida pessoal e social: a violência criminal, a estrutural, a institucional e a cultural.

● Há

Diz-se que há violência criminal quando se pratica agressão grave à pessoa, atentando contra a sua vida (ou aos seus bens), e esta agressão resulta em ações de prevenção ou repressão por parte da segurança pública: polícia, ministério público e poder judiciário. No Brasil temos problemas criminais graves: as gangues; o tráfico de drogas e armas; as redes de exploração sexual (principalmente crianças e adolescentes) espalhando-se pelo país; o tráfico de seres humanos; a exploração do trabalho escravo, infantil e juvenil. Existem “deliquentes” pobres e ricos, mas a sociedade “quer enxergar mais” as pessoas pobres como criminosas. A corrupção e a impunidade potencializam o aumento da violência criminal (SOUZA, 2007 p. 24).

(OMS, 2002; DAHLBERG e KRUG, 2006)

A violência estrutural diz respeito às mais diferentes formas de se manter as desigualdades sociais, culturais, de gênero, etárias e étnicas que produzem a miséria, a fome, e as várias formas de submissão e exploração de umas pessoas pelas outras (SOUZA, 2007, p.25). Sobre a violência institucional é a que acontece dentro das instituições por causa de suas regras, normas de funcionamento e relações burocráticas e políticas, reproduzindo injustiças sociais. Podemos também identificar este tipo de violência na oferta dos serviços públicos pela forma como são oferecidos à população, negados ou negligenciados. Presenciamos essas injustiças, muitas vezes, nos serviços públicos de educação, saúde, segurança, seguridade social, dentre outros (SOUZA, 2007). Por fim, a violência cultural abrange todas as formas de violência que são naturalizadas na cultura de um povo, de um grupo. A cultura é a forma de pensar, sentir e agir de uma sociedade, por meio da comunicação,

Vale a pena informar que o Ministério da Saúde (MS), em 2001, antes da OMS, criou a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências. O propósito dessa política é reduzir o número de lesões e mortes por acidentes e violências e orientar o setor saúde quanto ao número crescente de pessoas que chegavam aos serviços de urgência/ emergência por estas causas. (BRASIL, 2001)

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A violência de gênero é qualquer ameaça, ação ou conduta, baseada no gênero, que cause dano físico, sexual ou psicológico. É comum que aconteça dentro de casa, entre as pessoas da família, companheiros, conhecidos, mas também pode ocorrer em lugares públicos e com desconhecidos. É uma forma de opressão e crueldade nas relações entre homens e mulheres. Esta violência pode acontecer em qualquer classe social, em todas as raças, etnias e faixas etárias. A maior influência para essa violência é o machismo, visto como uma “situação natural” construída por homens e mulheres. As mais diversas formas dessa violência cometidas contra a mulher podem ser vistas nos assassinatos, estupros, abusos físicos, sexuais e emocionais, prostituição forçada, mutilação genital, violência racial e outras modalidades. Os violentadores são geralmente os parceiros (namorados, noivos, maridos, companheiros e ex-companheiros), familiares, conhecidos, estranhos ou agentes do Estado (GOMES et al, 2005). Com o avanço das políticas e após a Lei Maria da Penha da cooperação e da re(2006), a violência contra a mulher deixou de ser petição dessas ações. “segredo” do lar e passou a ser vista/reconhecida Essa violência discrimais frequentemente. Hoje, em “briga de minatória e preconceituosa marido e mulher, a lei mete a colher”. transforma-se em mitos, prejudicando, oprimindo e até eliminando os diferentes. Os chamados grupos vulneráveis, em nossa sociedade (crianças e adolescentes, Existem três tipos específicos de violência idosos, mulheres, homossexuais, deficientes físicultural que mostram o quanto é difícil para a cos e mentais, moradores de favelas, sem-teto, sociedade conviver com as diferenças: a violêndentre outros) são as principais vítimas dessa discia de gênero, a violência racial e a violência criminação e preconceito. contra a pessoa com deficiência.

André, você já ouviu falar sobre violência racial? Ela ainda existe!!! A violência racial é aquela que discrimina uma raça. No Brasil, a raça negra é a que sofre maior discriminação, influenciada pelo período da escravatura. Podemos dizer que ainda não estamos libertos dessa mazela. No nosso país, morrem mais negros e pobres, que moram na periferia, com pouca escolaridade, desempregados ou exercendo atividade no mercado informal. (MALTA; Silva; Barbosa, 2012)

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Natureza da Violência A violência, também chamada de abuso ou maus tratos, é classificada quanto à natureza dos atos violentos em: violência física, psicológica, sexual e negligência ou privação ou abandono. Vale a pena explicá-las: Violência física: constitui-se como o uso da força física para provocar lesões, traumas, feridas, dores ou incapacidades em outra pessoa. Violência psicológica: é aquela que acontece por meio de agressões verbais ou por gestos com o propósito de amedrontar, rejeitar, humilhar, diminuir a liberdade ou isolar a pessoa do convívio social.

Violência ● Abuso sexual pressupõe a utilização da violência, do poder, da autoridade ou da diferença de idade para a obtenção de prazer sexual. Esse prazer não é obtido apenas por meio de relações sexuais; pode ser em formas de carícias, de manipulação dos órgãos genitais, voyeurismo (obter prazer sexual observando situações íntimas das pessoas sem que elas saibam), ou atividade sexual com penetração vaginal, anal ou oral.

Exploração sexual comercial de crianças e adolescentes (Esca) é uma das manifestações de violência sexual e uma das revelações mais cruéis de exploração do trabalho de crianças e adolescentes.

● Pedofilia: atração erótica por crianças, podendo o pedófilo se satisfazer com foto, fantasia ou com o ato sexual.

Podemos ainda diferenciar “abuso“ de “exploração sexual“. Dê uma olhadinha no quadro a seguir!

Privação, negligência ou abandono: é o ato de omissão em providenciar as necessidades básicas para o desenvolvimento de uma pessoa, incluindo comida, casa, segurança e educação. Violência sexual: é todo ato ou jogo sexual que ocorre nas relações hetero ou homossexuais com intenção de estimular sexualmente a criança ou o adolescente, visando utilizá-lo para obter excitação sexual e práticas eróticas, pornográficas e sexuais, impostas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças. Exploração sexual e pedofilia são desdobramentos desse tipo de abuso. ENEM.COM CIDADANIA | VIOLÊNCIA

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# Pare e Pense

Chegando até aqui, após a sua leitura, eu pergunto: o seu pensamento sobre violência mudou ou permanece igual? Na sua cidade, no seu bairro, na sua escola ou no local onde você mora, quais são os tipos mais comuns de violência? E quais são a pessoas que mais sofrem com essa violência?

A percepção de que as drogas e o narcotráfico são a causa principal dos assassinatos de jovens, são construídas na sociedade com uma forte contribuição da mídia e das abordagens repressivas por parte da segurança pública. Colocados como motivos centrais para essas mortes, o uso de drogas e o narcotráfico parecem ocultar questões relacionadas à cultura machista, às questões étnicas discriminatórias e às precárias condições socioeconômicas que levam grande parcela da população jovem à exclusão. (SILVA, VALADARES, SOUZA, 2013)

Abuso sexual

Exploração sexual

Não envolve dinheiro ou gratificação.

Pressupõe uma relação comercial, na qual o sexo é fruto de uma troca financeira, favores ou presentes.

Acontece quando uma criança ou um adolescente é usado Crianças ou adolescentes são tratados como para estimulação ou satisfação sexual de um adulto. objetos sexuais ou mercadorias. É normalmente imposto pela força física, pela ameaça ou pela sedução.

Pode estar relacionada a redes criminosas.

Pode acontecer dentro ou fora da família. Fonte: <http://www.childhood.org.br/entenda-a-diferenca-entre-abuso-e-exploração-sexual>

O abuso sexual deve ser compreendido nos seus aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos e jurídicos. Essa violência pode ocorrer tanto no ambiente doméstico, na relação de convivência familiar entre vítima e agressor, quanto no contexto extrafamiliar, quando não há proximidade entre a vítima e o agressor (Unicef, 2006). No entanto, a exploração sexual comercial ocorre em redes de prostituição, pornografia, tráfico e turismo sexual. A situação de pobreza, a violência intra e extrafamiliar têm sido condições fundamentais para que crianças e adolescentes se transformem em grupos mais

expostos à exploração sexual comercial e a outros tipos de violação de seus direitos (UNICEF, 2006). Essas violências atingem “em cheio” as crianças e os jovens Dissemos que alguns grupos de pessoas encontram-se mais expostos às violências. Entre esses grupos se destacam os adolescentes e jovens com idade entre 15 e 29 anos. Você sabia disso? A violência, expressa nos homicídios, é a principal causa de morte de jovens. Pode-se pensar que essas mortes são associadas à participação de adolescentes e jovens em gangues que “dominam” o comércio das drogas e das

TIPOLOGIA DA VIOLÊNCIA Violência

Interpessoal

Auto dirigida

Comportamento Suicida

Auto-abuso

Família/Parceiro

Criança

NATUREZA DA VIOLÊNCIA:

Física

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Parceiro

Coletiva

Social

Comunidade

Idoso

Sexual

Conhecido

Política

Estranho

Psicológica

Privação ou abandono

Econômica


Violência armas nas cidades brasileiras. No Ceará, a situação não é diferente. Apesar de serem apontados como as principais causas dos homicídios, o consumo de drogas e o narcotráfico não podem ser considerados temas centrais para explicar este problema.

# Pare e Pense

Será que nós, enquanto sociedade, banalizamos as ações violentas que matam ou podem matar um adolescente ou jovem? Como estamos debatendo, vale à pena repetir que a maioria desses adolescentes e jovens pertence a famílias que não conseguiram concluir os seus estudos, não têm bom emprego, os pais fazem “bicos” para sobreviver e sustentar a família. Moram nas comunidades periféricas das cidades que, por sua vez, não oferecem uma estrutura necessária ao desenvolvimento pessoal e social dos cidadãos. Desse modo, esses adolescentes e jovens não têm uma educação de qualidade que seja atrativa e mantenha esse grupo “preocupado” com seus projetos de vida. Podemos acrescentar que esses locais também são carentes de espaços de cultura e lazer indispensáveis para construir relações interpessoais e desenvolver valores essenciais para uma boa convivência familiar e social. É importante lembrar que a violência não se resume à criminalidade. Em uma relação de namoro, ela também pode estar presente. Hoje se tem discutido o aumento de casos de violência entre os adolescentes e jovens iniciando na época do namoro. Estudo realizado com alunos do 2º ano do ensino médio na cidade de Recife (Pernambuco) mostrou que é comum a ocorrência de violência psicológica e física entre os namorados e que esta violência aumenta com o tempo de namoro (BARREIRA; LIMA; AVANCI, 2013).

Começando por mim Em uma roda de conversa com amigos, após discutirmos sobre violência, eu concluí que esse não é um problema dos outros, mas que cada um que faz parte da sociedade deve ajudar, inclusive os jovens, pois são um dos grupos mais afetados. Cada um deve fazer uma reflexão pessoal sobre a responsabilidade universal que possui, para a construção de fontes efetivas de paz no mundo. Eu disse no grupo que devemos primeiramente tomar conhecimento sobre as políticas públicas já existentes, que preconizam ações de prevenção e visam reduzir a vulnerabilidade dos jovens a situações de violência. Posteriormente, para minha surpresa, comecei a ouvir o relato das experiências de alguns colegas que estão engajados em colaborar para o enfrentamento da violência e promoção da cultura de paz. Isabela falou que se inseriu nos movimentos sociais que atuam no enfrentamento da violência contra adolescentes, participando de reuniões e audiências desde a esfera municipal, com representantes da gestão, à federal, por meio do Ministério Público. Essas reuniões visam contribuir para a efetivação de políticas públicas de prevenção da violência, e reforçou ao dizer que para que estas sejam eficazes é necessário além da mobilização do Estado, a atuação também da sociedade para a implementação e difusão de práticas inovadoras nessa área. Marcelo e Paula disseram que participam de um grupo na escola que atuam na disseminação de conceitos e informações sobre violência e estímulos às boas práticas. Através de rodas de conversa que são vivências participativas e coletivas e que através destas atividades serão identificados os conflitos e valores existentes, bem como formas e espaços de resolução através do diálogo e da convivência. Tiago e Mateus colaboram na associação comunitária do bairro onde moram. Com o apoio de grupos, Ong’s e movimentos ajudam na realização de ações em espaços coletivos que promovam os valores da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos e de outros valores universais, através de integração comunitária envolvendo crianças, jovens e adultos. E são exemplos de ações como estas que nos reforçam a ideia de que para construirmos um mundo melhor para se viver, é fundamental que cada um faça sua parte por meio de uma mudança de atitudes, valores e comportamentos que visem à construção de uma sociedade mais humana com princípios de tolerância, respeito à vida, aos direitos individuais e solidariedade. Cultura de paz. Info* Jovem, s.d. Disponível em: http://infojovem.org.br/infopedia/tematicas/cultura-de-paz/>; acesso em: 28-06-14. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Por uma cultura da paz, a promoção da saúde e a prevenção da violência. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

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# Pare e Pense

A quais condições você tem acesso na sua cidade, escola ou comunidade no que se refere à profissionalização, ao trabalho formal, à cultura, ao esporte e ao lazer? Como é a sua relação com o seu parceiro: namorado ou namorada?

Uma pesquisa desenvolvida pelo Observatório de Favelas em 2006 sobre a trajetória social de jovens inseridos no tráfico de drogas do Rio de Janeiro revelou que muitos adolescentes moradores de favelas e periferias deixam a escola entre 11 e 14 anos de idade, faixa próxima à da entrada no tráfico ou em outras redes ilícitas que concorrem para o aumento de sua vulnerabilidade. Esses casos também acontecem nos municípios cearenses. (Unicef - Brasil, 2010)

Caso Eloá No “caso Eloá”, foi evidente o esforço dos policiais na proteção da vida dos envolvidos naquela ocorrência. “Desde o início, como se tratava de um rapaz sofrendo de crise amorosa por uma adolescente de 15 anos, a política do Gate foi a favor da preservação da vida e a negociação. Foi descartada uma ação, a não ser que Lindemberg provocasse um tiro de comprometimento” (Folha de São Paulo, 2008).

Relembrando: O Caso Eloá Cristina se refere ao mais longo sequestro em cárcere privado já registrado pela polícia do estado de São Paulo, adquirindo grande repercussão nacional e internacional. Os números mostram uma triste e preocupante realidade da violência contra os principais grupos vulneráveis: crianças e adolescentes, mulheres e idosos. Numerosas pesquisas demonstram que a violência não se distribui por acaso nos territórios. Existem áreas dentro de um estado ou de uma cidade onde o risco de morrer por homicídio, por exemplo, é maior que em outras. Voltando ao assunto das mortes violentas de jovens, as trajetórias e os estilos de vida desse jovem que conduzem ao aumento do risco de morte por homicídio começam cedo. O Mapa da Violência 2013 chama atenção sobre a ocorrência dos homicídios da juventude no Brasil. Informa que não apenas os estados de Alagoas (o mais violento), mas também Goiás, Acre, Paraná, Ceará, Amazonas, Pará, Paraíba,

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Bahia, Rio Grande do Norte e Maranhão, dentre outros, observam seus índices de homicídios de forma acentuada e descontrolada, afetando, decididamente, as condições da segurança de seus cidadãos. Com características semelhantes às da população total, mas com níveis bem mais elevados, os jovens das capitais foram os focos prioritários e os principais alvos da violência homicida no país (WAISELFISZ, 2013). No Brasil, outro dado estarrecedor é o de que nos últimos 32 anos (1980 a 2011) morreram assassinadas 96.612 mulheres. Só neste século XXI (com 14 anos), morreram praticamente, a metade desse total (WAISELFISZ, 2013). Em relação às mortes dessas mulheres, os registros de atendimento por violências do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2011, mostram que foram atendidas 70.270 mulheres vítimas de violência física. Nesses atendimentos identificaram-se as seguintes características: 71,8% das agressões aconteceram no domicílio da mulher; em 43,4% dos casos o agressor foi o parceiro ou ex-parceiro, em 19,8% dos casos os agressores são os pais (nos primeiros anos de vida, essa proporção fica acima de 80,0%) e, em 7.5% são os irmãos ou filhos os autores das agressões (WAISELFISZ, 2012).

Conhecendo melhor sobre a violência contra Idosos A violência contra a pessoa idosa tem crescido no país, não acontecendo de forma diferente no Ceará. Com o aumento da expectativa de vida e dos conflitos entre as gerações, além da fragilidade dos valores familiares, parece que os mais jovens estão perdendo o respeito e o amor pelos seus idosos. Em muitas casas a convivência é difícil entre os mais novos e os idosos, inclusive nos lares em que a aposentadoria desse


Violência idoso pode ser, às vezes, o único recurso mensalmente garantido para a família. Nesse caso, a pessoa idosa passa a ser alvo da violência patrimonial. Outro tipo de violência comum entre os idosos é a negligência (abandono). O idoso encontra-se exposto, também, aos diversos tipos de violências já comentados anteriormente: física, psicológica, sexual, cultural, estrutural, dentre outros. Como podemos refletir, o problema que estamos descrevendo mostra um grande desafio para a sociedade e nos coloca diante de reflexões de como vamos nos organizar para enfrentar esses crimes contra o direito individual e coletivo de ir e vir, como também de crescer, desenvolver-se e envelhecer de modo saudável e podendo construir projetos de vida.

O Disque-Denúncia é um serviço para que a sociedade possa ter mais conhecimento sobre as violências O Disque- Denúncia Para que a sociedade coé um serviço de utilidade pública nheça os números dessas da Secretaria de Direitos Humanos que violências existem serviços recebe informações relativas a violações de que os contabilizam. As Direitos Humanos, em especial as que atingem informações podem ser encontradas em servios grupos mais vulneráveis, como: crianças ços do setor da saúde, e adolescentes, pessoas idosas, pessoas com educação, segurança deficiência, pessoas em situação de rua e outros, pública, justiça, dentre como quilombolas e índios. outros, e nos chamados Secretaria de Direitos Humanos disque-denúncia, nos http://www.sdh.gov.br/disque100/ouvidoria-disque-100 quais, destacam-se: Disque 100 (Alô Idoso), Disque 180 (mulher), Disque 100 (crianças/adolescentes) que recebem ligações de todo o país contra esse crime chamado “violência”. Curiosamente, o Disque-Denúncia é um serviço de combate ao crime, operacionalizado na maioria dos estados do Brasil. Foi criado no Rio de Janeiro, em 1995, quando a cidade vivia uma dramática onda de violência. A Movimento Rio de Combate ao Crime (MOVRIO), convidou um engenheiro civil que criou um serviço de atendimento telefônico para o cidadão registrar sua indignação contra o crime. Desse modo, qualquer cidadão poderia ajudar as autoridades a combater o crime, e a segurança públi-

# Pare e Pense

É preciso denunciar essas violências para enfrentá-las, preservar os direitos humanos e/ou até mesmo a vida da pessoa que está sendo acometida por elas.

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ca passa a ser uma questão não apenas de polícia, mas de cidadania. O nosso Disque-Denúncia exige: garantia do anonimato de quem denuncia, não pode ter interferência política (todos os funcionários são terceirizados) e há a garantia de que o pro-

É da sua Conta! Em uma determinada escola, os alunos do terceiro ano do Ensino Médio estavam organizando uma festinha para dar as boas-vindas aos alunos que estavam iniciando o primeiro ano. O evento foi bem divulgado entre os alunos, incluindo a participação de alunos de outras séries e jovens da comunidade, considerando que a festa seria em uma casa alugada, ou seja, fora do âmbito escolar. A festa seria no final do primeiro mês do ano letivo, porém desde o início era o assunto mais comentado pelos jovens, tanto nos corredores da escola, bem como nas redes sociais, seria “a festa do ano”. Chegado o dia do evento, que teve início pela manhã, ao final da tarde o que era previsto se cumprira: a casa estava lotada. Havia, na maior parte, jovens menores de idade, entre 13 a 17 anos, entre outras pessoas mais velhas que tinham sido convidadas. A festa seguia embalada por músicas, churrasco, bebidas alcoólicas e alguns jovens faziam uso de drogas (maconha, cocaína e crack). No finalzinho da tarde,“os anfitriões” da festa, os alunos veteranos e mais uns amigos que ajudaram a organizar o evento, convidaram os alunos novatos para irem para perto da piscina. Ao se apresentarem, os alunos novatos foram informados de que teriam que participar de algumas brincadeiras e que estas eram obrigatórias, eles não poderiam dizer não como resposta. Entretanto, um dos jovens, um rapaz de 15 anos, se negou prontamente, dizendo que não participaria de nenhuma brincadeira. Em seguida, um dos organizadores reagiu dizendo que ele estava estragando a festa e este foi espancado brutalmente por mais três rapazes. Em seguida, outro jovem saiu correndo, na tentativa de fugir, porém estava embriagado e caiu do muro ao tentar pular, machucando-se gravemente e sendo resgatado novamente pelos “colegas”. Na sequência, foi a vez de duas garotas receberem “o desafio” que as obrigavam a simular sexo oral com objetos enquanto eram filmadas.

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grama não seja subordinado à Polícia (Disque-Denúncia, 2014). Em sete anos (2003-2010) são 127 mil denúncias e mais de 2,4 milhões de ligações atendidas pelo Disque-Denúncia Nacional. Somente no primeiro semestre de 2010, o Disque 100 re-

Prontamente o vídeo com esse ato foi postado nas redes sociais. Outra atividade indicada para os demais foi pular na piscina, saltando de um escorregador, contudo alguns alegaram que não sabiam nadar, portanto não poderiam fazer isto. Sem dar ouvidos, em meio aos burburinhos, alguns pularam e outros foram jogados, como se não bastasse, para aumentar o nível de crueldade, alguns jovens pisoteavam as mãos de quem tentava sair da piscina. Esses atos eram percebidos apenas por alguns participantes que se misturavam entre os que riam da “zueira”, uma minoria que não concordava, mas também não demonstrava tanto a reação por medo, mas a maioria estava mesmo era curtindo a festa sem ligar pro que estava acontecendo. Foi quando, de repente, a polícia invadiu a casa! Através da denúncia de vizinhos incomodados pelo barulho e por tomarem conhecimento de que a festa teria a grande participação de menores, além da suspeita de presença no evento de traficantes locais procurados pela Polícia. Durante a invasão, a suspeita se confirmou: entre os presentes da comunidade, que foram convidados, estavam integrantes de uma quadrilha de tráfico e houve trocas de tiros. Começou uma correria entre os jovens, gritos, e, em meio a tudo isso, três adolescentes foram feridos. Alguns jovens conseguiram sair do local, outros foram levados para a delegacia e os que precisavam de atendimento emergencial de saúde foram levados pela ambulância chamada ao local. Posteriormente a essa situação, os pais tomaram conhecimento do ocorrido e, assim como a comunidade em geral e a escola, ficaram chocados. SANTOS, Fábio. Morte de calouro da USP completa 15 anos; acusados foram inocentados. Notícias Terra Online, 22-02-14. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/viver-sp/blog/2014/02/22/morte-de-calouro-da-usp-completa-15-anos/>; acesso em: 28-06-14. BRASIL, Felipe Moura. Dançarino Douglas sentia “saudades eternas” do traficante Cachorrão. De luto em janeiro, postou no Facebook que “o bico” ia “fazer barulho”, porque “os amigos” estavam “cheio de ódio na veia”. Veja Online, 24-04-14. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil/2014/04/24/dancarino douglas-sentia-saudades-eternas-do-traficante-cachorrao-de-luto-em-janeiro-postou-no facebook-que-o-bico-ia-fazer-barulho-porque-os-amigos-estavam-cheio-de-odio-na-veia/>; acesso em: 28-06-14.


Violência

alizou mais de 79 mil atendimentos e recebeu e encaminhou 13.247 denúncias. A região Centro-Oeste foi a que registrou os maiores índices de denúncias, com mais de 94 para cada 100 mil habitantes. Logo após, encontram-se as regiões Nordeste, Norte, Sul e, por último, a região Sudeste. Até 2010, os relatos de violência física e sexual são os mais frequentes na Central de Atendimento do Disque 100 (BRASIL, 2010b). Em 2011, o Disque-Denúncia recebeu 228.088 denúncias de violência contra crianças e adolescentes, aumentando para 266.953 em 2012. Foram feitas, em 2011, 35.653 denúncias de violência sexual e 37.803, em 2012 (BRASIL, 2014).

Um Ceará inundado pelo tsunami da Violência Os cearenses enfrentam os mais diversos tipos de violências e alguns dados mostram que a insegurança e a ocorrência desses casos estão presentes nos lares, nas escolas, nas comunidades e nas ruas das cidades cearenses. Não teríamos como enumerar os casos diários em todos esses contextos, mas apresentamos dados que podem refletir o grande desafio para se enfrentar esse problema. O Mapa da Violência publicado em 2013 mostra os dados relativos ao ano de 2011. Quando comparados com outros estados brasileiros, o Ceará apresenta uma taxa de homicídios de 32,7 por cada 100.000 habitantes, sendo maior do que a média nacional, que fica em 27,1/100.000 habitantes. Quando se olha para a capital, as taxas também são inaceitáveis. Fortaleza (129,7) registra uma taxa que ultrapassa os 100 homicídios por 100 mil jovens (WAISELFISZ, 2013).

O que Incomoda

Há poucos dias encontrei minha melhor amiga aos prantos e perguntei por que ela chorava tanto, demonstrando estar bem angustiada. Porém, ela me disse que entre os tantos segredos que ela me confidenciava esse era o maior e o pior da vida dela. Eu ofereci meu apoio e que ela ficasse à vontade. Foi quando me confessou o drama o qual ela vivia. Foi algo que me deixou chocada. Como pode tudo aquilo acontecer sem ninguém perceber? Talvez finjam não ver. Ela começou falando que o pai dela estava desempregado e era alcoólatra, e que, durante algumas discussões, ele agredia a mãe dela, e que essa situação tinha piorado nos últimos meses, porque antes era só verbalmente ou com empurrões, mas agora ele batia pra valer e ameaçava para sua mãe não deixá-lo. Ela disse que o seu irmãozinho mais novo, de apenas quatro anos, mesmo sem entender também estava sofrendo com isso, pois a mãe, com raiva do pai, às vezes, exagerava nos castigos com o menino, batendo nele fortemente com chinelos, cordas, ou com o que tivesse na mão, e que, quando ela presenciava, tentava parar a mãe dizendo “Para mãe, para, já chega!”, mas em outras vezes ele ficava bem machucado. A mãe os culpava pela persistência do relacionamento, como se os filhos fossem os culpados pela situação em que ela vivia. Ela relatou ainda que, quando o pai chegava embriagado, ela se trancava no quarto com o irmãozinho para que este não visse a briga e tentava disfarçar, porém, muitas vezes, era inevitável e escutavam os gritos e gemidos do sofrimento da mãe. Como se não bastasse esse sofrimento, o pior acontecimento da vida dela tinha ocorrido há duas semana. Foi quando confessou que vinha percebendo algo diferente em relação a um amigo de seu pai, que ele tinha passado a frequentar mais a casa dela nos últimos dias e que, quando andava por lá, sempre a olhava de um jeito estranho, mas ao mesmo tempo parecia ser uma pessoa legal, às vezes até levava presentinhos pra ela e para o irmão. Um dia, ele chegou e ela estava sozinha em casa. Ele pediu para entrar e aguardar na sala. Ela foi direto para o quintal, pois estava lavando roupas. Ele a seguiu, a ameaçou com uma faca, não gritasse, e a estuprou. Depois disso, falou que não contasse para ninguém senão ia matá-la. Desde então, ela vinha convivendo com esse terror, e eu fiquei incomodada de saber que pode acontecer tudo isso e ninguém fazer nada. Mas eu desejo aprender mais sobre isso, para poder ajudar minha amiga e a tantas pessoas que passam pelas mesmas situações. Não foi tomado por base nenhum caso ou reportagem específica, mas em situações percebidas no cotidiano. Caso de violência contra a mulher; Maus tratos contra criança; Violência sexual.

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Olhando para o grupo de mulheres, dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará (SSP-CE) registraram, em 2013, 9.980 casos denunciados de violência contra a mulher (OBSERVEM, 2014).

Mundo Insano A festa pelos 40 anos da escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, se transformou em tragédia no dia 7 de abril de 2011, quando o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 24, abriu fogo contra adolescentes e matou 12 estudantes entre 12 e 14 anos, dez meninas e dois meninos, e feriu outros 12, num massacre sem precedentes na história brasileira. Oliveira chegou à escola, que promovia um ciclo de palestras com ex-alunos, por volta das 8h30, fato que teria facilitado a sua entrada, além disso, há uma semana estivera lá pedindo um histórico escolar e disse ao porteiro que tinha voltado para buscar o documento. No primeiro andar, encontrou uma professora da sala de leitura que o reconheceu e chegou a cumprimentá-lo. Minutos depois, ele seguiu para uma sala de aula. Segundo o relato da professora, ele entrou dizendo que gostaria de fazer uma palestra. Antes de responder à pergunta da professora sobre qual assunto iria falar, faz vários disparos na direção dos alunos. Segundo policiais, muitos corpos estavam nas cadeiras ou caídos próximos a elas. Professores de outras salas montaram barricadas com carteiras e mesas a fim de impedir que ele entrasse. Alguns acharam que a escola havia sido invadida por criminosos. Vizinhos da escola também relataram momentos de terror. Disseram ter ouvido até 50 tiros. O massacre foi interrompido após duas estudantes escaparem e alertarem policiais que faziam uma blitz a duas quadras da escola. Um deles, o sargento Márcio Alves, atingiu Oliveira no abdômen quando ele subia para o segundo andar. De acordo com as autoridades, depois de ser atingido pelo policial, Oliveira se suicidou com um tiro na boca. Em uma cerimônia em Brasília, a presidente Dilma Rousseff chorou ao se referir ao massacre no Rio. O caso, que repete um

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Em 2010 foram denunciados 7.219 casos de violência contra os idosos em 141 dos 184 municípios cearenses, de acordo com o Mapa da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social do Ceará. Entre esses casos de violência contra os idosos

tipo de chacina frequente nos EUA e na Europa (no Brasil, não há precedentes) foi notícia de destaque nos principais veículos de comunicação mundiais. Caso semelhante aconteceu nos Estados Unidos, onde atirador mata 20 crianças e 6 adultos em escola. As autoridades afirmaram à imprensa local que o atirador foi identificado como Adam Lanza, de 20 anos. Ele era filho de uma professora que trabalhava na escola e também foi morta pelo atirador, segundo a imprensa local. O ataque aconteceu pela manhã na escola primária Sandy Hook, que tem cerca de 600 alunos entre 5 e 10 anos, e fica na cidade de Newtown. Lanza teria conseguido entrar na escola por ser conhecido pelos funcionários. Em entrevista à rede CNN, uma testemunha afirmou que ouviu tiros vindos do interior do prédio e que ela teria ouvido “cerca de 100 tiros”. Segundo o tenente Paul Vance, da polícia local, o atirador também foi encontrado morto no interior da escola, a imprensa americana afirmou que Lanza cometeu suicídio. Esse é o segundo pior massacre do gênero ocorrido nos Estados Unidos - atrás apenas do ataque que deixou 37 mortos na universidade Virginia Tech, em 2007. O ataque à escola Sandy Hook é também o terceiro grande episódio do tipo ocorrido no ano de 2012 nos Estados Unidos. Em julho, um criminoso matou 12 pessoas durante a exibição de um filme do Batman em um cinema no Colorado e, no mês seguinte, outro atirador matou seis pessoas em um templo sikh em Wisconsin. Em um discurso emocionado, o presidente Barack Obama chegou a segurar as lágrimas ao lamentar as mortes e apresentou suas condolências. “Precisamos nos unir e tomar ações significativas para evitar outras tragédias como essa”, afirmou. RÖTZSCH, R. et al. Ex-aluno entra em colégio, saca armas, atira em estudantes, mata 12 e se suicida. Folha de S. Paulo, 08-04-11. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0804201101.htm>; acesso em: 28-06-14. Atirador mata 20 crianças e 6 adultos em escola nos EUA. BBC Brasil, 14-12-12. Disponível em: < http://www. bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/12/121214_atirador_escola_lk.shtml>; acesso em: 28-06-14.


Violência destacam-se a patrimonial (1.983), a negligência (1.432) e a psicológica (1.166). (STDS, 2010) De acordo com registros da Secretaria de Direitos Humanos, em 2011, o estado do Ceará realizou (por meio do Disque 100), 1.199 denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes e, em 2012, 2.652. Especificamente sobre exploração sexual foram 405 denúncias, em 2011, e 759, em 2012 (BRASIL, 2014).

Diante do que debatemos até agora, é possível que você esteja se perguntando sobre a possibilidade de prevenir a violência.

Essa prevenção é possível sim!

É possível prevenir a violência construindo um novo mundo Apesar dos números crescentes, pode-se conter a violência fazendo com que as pessoas pensem e falem sobre esse problema e o mal que ele causa. Antes de tudo, temos que identificá-las de acordo com os tipos de violência sobre os quais conversamos no início desse texto. A conversa é muito importante para a prevenção e deve acontecer, em primeiro lugar, com a própria pessoa ao se questionar: como posso agir de forma mais gentil? Mais solidária? Como agir não pensando apenas em mim mesmo, na minha história? Ao encontrar respostas, a conversa alcança as famílias, pois famílias que resolvem seus problemas por meio do diálogo, cada um escutando o outro, respeitando o outro, entendem que não precisam resolver os problemas no tapa, iniciando uma briga, “xingando” e falando “palavrão” com o pai, com a mãe ou irmãos, jogando objetos nas pessoas, falando alto durante as conversas e/ou batendo no outro. Lembrando-se que situações que envolvem a presença de drogas, permitidas ou não,

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também contribuem para que as violências aconteçam. Conversas nas escolas e com as famílias sobre álcool e outras drogas são importantes fontes de prevenção do uso abusivo e de possíveis situações de violência. Na escola também podemos mudar realidades que, com certeza, não queríamos que exis-

tissem. Discutir sobre violência nas reuniões de pais, alunos e professores é uma boa pedida. Melhorar a qualidade do ensino, avaliar como estão as relações afetivas entre professores e alunos, como as famílias participam das atividades da escola são aspectos importantes para prevenir a violência intrafamiliar e escolar.

REFERÊNCIAS BARREIRA, AK; LIMA, MLC de; AVANCI, JQ. Coocorrência de violência física e psicológica entre adolescentes namorados do Recife, Brasil: prevalência e fatores associados. Ciênc. saúde coletiva, v. 18, n. 1, pp. 233-243, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências. Portaria MS/GM nº 737 de 16/5/2001. Brasília: MS, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Revista dos Direitos da Pessoa Idosa: o compromisso de todos por um envelhecimento digno no Brasil. Presidência da República; Secretaria de Direitos Humanos. Brasília/DF, 2011. DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde pública. Ciência e Saúde Coletiva, v. 11, p. 1163-1178, 2006. FOLHA DE SÃO PAULO, 2008. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ ult95u457690.shtml. Acesso em 28 de jun. 2014. GOMES, R.; MINAYO, M.C.S; SILVA, C.F.R. Violência contra a mulher: uma questão transnacional e transcultural das relações de gênero. In: SOUZA, E.R.; MINAYO, M.C.S. (Org.). Impacto da violência na saúde dos brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. p.117-140. MALTA, DC; SILVA, MMA da; BARBOSA, J. Violências e acidentes, um desafio ao Sistema Único de Saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. vol.17, n.9, p. 2220-2220, 2012.

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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre Violência e Saúde. Genebra, 2002. Disponível em http://portal.saude.gov.br/ portal. Acesso: jun.2014. SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS. (2013). Disque denúncia nacional de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes - 100. Disponível em: <http://www.disquedenuncia. org.br/>. Acesso em: 7 jun. 2014. SILVA, J.G, VALADARES, F.C, SOUZA, E.R. O desafio de compreender a consequência fatal da violência em dois municípios brasileiros. Interface – Comunic. Saude, Educ., v.17, n.46, p.535-47, 2013. SOUZA, ER de (org). Curso impactos da violência na saúde. Rio de Janeiro: EAD/ENSP, 2007. UNICEF. Índice de homicídios na adolescência: IHA 2006/organizadores: Doriam Luis Borges de Melo, Ignácio Cano. – Rio de Janeiro: Observatório de Favelas, 2010. UNICEF. Violência: relatório situação da infância brasileira. Brasil, 2006. Disponível em http://www. childhood.org.br/entenda-a-diferenca-entre-abuso-e-exploração-sexual. Acesso em 06 jun. 2014. WAISELFISZ, J.J. Mapa da Violência 2013. Prévia do Mapa de Violência. Homicídios e Juventude no Brasil, 2013. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Putting women first: ethical and safety recommendations for research on domestic violence against women. Geneva: WHO; 2001 (document WHO/FCH/ GWH/01.01).


Na vida em sociedade, não devo esquecer que, como eu, o outro também tem DIREITOS. Lembrese sempre que o enfrentamento da violência é responsabilidade de todos.

Violência

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Bullying ¦ Violência ¦ Drogas ¦ Pluralidade Cultural ¦ Meio Ambiente ¦ Ética Luiza Jane Eyre de Souza Vieira | Graduada em Enfermagem pela Universidade Católica do Salvador e em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza, mestre em Enfermagem Comunitária pela Universidade Federal do Ceará e doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. Professora titular do curso de Enfermagem e do mestrado em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza e do doutorado em Saúde Coletiva em associação ampla entre a UFC/Uece/Unifor. Trabalha no Instituto Dr. José Frota e tem experiência na área de Enfermagem e Saúde Coletiva, bem como no contexto da hospitalização (UTI-Pediátrica). Pesquisadora, há 16 anos, da temática família, acidentes e violência e repercussão na saúde individual, familiar e coletiva. É líder do Grupo de Pesquisa Violências e Repercussões na Saúde Individual e Coletiva (Diretório do CNPq). V673v

Vieira, Luíza Eyre de Souza Violência / Luíza Eyre de Souza Vieira. - Fortaleza: Edições Demócrito Rocha /Universidade Aberta do Nordeste, 2014. 16p.: il. Color (Coleção Enem.com Cidadania) ISBN 978-85-7529-620-2 ISBN 978-85-7529-622-6 1. Violência. I. Título. CDU 241.12

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