Enem Cidadania - Caderno 03

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3 Drogas

Este fascículo é parte integrante do Nononoo onoo ooononoo - Fundação Demócrito Rocha I Universidade Aberta do Nordeste I ISBN 978-85-7529-623-3

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane)

Fascículo

TO T U I ação A R c G bli

pu ser Esta pode da. não rcializa e com

FRANCISCA LUCÉLIA RIBEIRO DE FARIAS


Conversando sobre drogas A mais nobre missão do ser humano é prestar auxílio aos seus semelhantes por todos os meios ao seu alcance. Sófocles

A

adolescência é uma fase de transição, caracterizada por conflitos de ambivalência, que se originam dos desejos de progredir e amadurecer, simultâneos aos de regredir à infância. Em nossa sociedade, a adolescência permite a interpretação de um renascer, de um sentimento de encontro da novidade e da busca do “eu”, como diz Becker (1997), citado por Sanchez (2004): “Então, um belo dia, a lagarta inicia a construção do seu casulo. Este ser que vivia em contato íntimo com a natureza e a vida exterior, se fecha dentro de uma ‘casca’, dentro de si mesmo e dá início à transformação, que levará a um outro ser, mais livre, mais bonito (segundo algumas estéticas) e dotado de asas que lhe permitirão voar. Se a lagarta pensa e sente, também o seu pensamento e o seu sentimento se transformarão. Serão agora o pensar e o sentir de uma borboleta. Ela vai ter um outro corpo, outro astral, outro tipo de relação com o mundo.” Você se sente assim? Todos nós passamos por esta fase. Nesta fase, problemas de angústia, indefinições, sexualidade, as expectativas com relação a conseguir alguma coisa na vida, mudança no comportamento, as relações familiares e com os amigos constituem os aspectos mais signifi-

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cativos do desenvolvimento psicossocial na adolescência neste período. Essas inquietações não são típicas só da adolescência. Elas podem até ser mais fortes nesta fase, mas pode acreditar, acompanha o ser humano em toda a sua vida. Na adolescência, o adolescente pode passar a vivenciar diferentes formas de comportamentos no processo de construção da autonomia e do fortalecimento da personalidade. É neste contexto que o intenso interesse pela relação com colegas passa a ter importantes funções, visto que permite maior segurança na busca da independência familiar. No entanto, além dos aspectos positivos da vinculação com outro adolescente ou com um grupo, para promover sua integração social ocorre também o aumento de autoestima, ser aceito pelo grupo, ”enturmar-se” pertencer a uma “galera”. Neste momento, acreditando no grupo e querendo fazer parte dele, começa a seguir as determinações que o grupo impõe. Justamente nesse período, em que o grupo de amigos atinge importância social principal, os adolescentes começam a apresentar conflitos familiares, fazendo com que os pais percam um pouco do seu poder de controle, pois o adolescente busca a imagem de adulto independente, forte e destemido no


Drogas

grupo de amigos no qual está inserido, é uma tendência natural dos adolescentes. É principalmente nesse período de crise da busca por uma identidade que o álcool e outras drogas entram na vida dos adolescentes. No Brasil, o início do consumo de drogas ilícitas, aquelas proibidas, começam a ter seu uso mais cedo, acontecendo entre 10 e 12 anos, conforme pesquisa com estudantes da rede pública de ensino (GALDURÓZ ET AL 1997).

O consumo de drogas entre adolescentes brasileiros

Só por Hoje! Não use Drogas

(reuniões de N.A)

No Brasil, o início do consumo de drogas ilícitas está cada dia presente na vida de grande parte de crianças e adolescentes brasileiros. Até o início da década de 1980, os estudos epidemiológicos não encontravam taxas de consumo de drogas alarmantes entre estudantes. Em 1987, o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), vinculado à Universidade Federal de São Paulo, deu início a uma série periódica de levantamentos epidemiológicos deste consumo entre estudantes de 1º e 2º graus (hoje Ensino Fundamental e Ensino Médio) em 10 capitais brasileiras. O IV Levantamento, referente ao ano de 1997, com uma amostra de 15.503 estudantes, constatou uma tendência ao aumento do consumo de maconha e cocaína/ crack em quase todas as capitais estudadas. O dado mais alarmante refere-se à proporção de uso na vida de qualquer droga (exceto álcool e tabaco), que beira os 25% da amostra. Estudos com adolescentes têm demonstrado que este uso deve-se à busca de viver momentos mágicos e de aliviar o desconforto gerado pela timidez, insegurança, desestrutura familiar, bem como a distância da cidadania em sua plenitude, são alguns dos aspectos que envolvem o elevado consumo de drogas entre esses jovens.

É da sua Conta!

O consumo de drogas cresce consideravelmente a cada dia, pois ela não escolhe religião ou nível social. Está presente em todos os lugares e realidades desde muito tempo. Esse aumento pode ser atribuído a vários fatores, principalmente aos que se referem na forma em que é transmitida a informação sobre a droga e quem a recebe. A prevenção do uso indevido de drogas é fundamental para a sensibilização sobre os riscos e perigos causados por elas. As ações de prevenção ao uso de drogas nas escolas não deveriam ser isoladas ou tratadas fora do contexto de uma prática pedagógica. O papel da escola é de formar cidadãos participativos e capazes de analisar o que é bom ou não para si, de fazer suas escolhas se o assunto lhe é questionado e de refletir como isso afetará ou não a vida de outras pessoas. Por isso, tal assunto não foge do contexto escolar. Trabalhar formas de prevenção nas escolas ao se tratar de assunto relacionado às drogas (licitas/ilícitas), de uma maneira que venha a contribuir com informações necessárias a ser passadas a nossos alunos, instituição e sociedade em si é uma maneira de sensibilizá-los em um ambiente próprio. A escola é parte da sociedade, por isso a importância de se desenvolver tal assunto neste ambiente. Este texto vem como intuito de contribuir e se fazer refletir sobre o que está se fazendo com o assunto “drogas” nas escolas e como podemos auxiliar nossas crianças e adolescentes na sua formação enquanto sujeitos, mostrando que prevenção é o caminho necessário para se coibir o uso/ consumo de drogas. Educação e Prevenção: a questão drogas na escola, por Adriana Dias. http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/educacao-prevencao-questao-drogas-nas-escolas.htm

O consumo de drogas vem se expandindo mundialmente e constitui, hoje, uma ameaça à estabilidade das estruturas e valores econômicos, políticos, sociais e culturais das nações. O abuso de drogas entre jovens tem sido uma das questões que mais afligem a sociedade contemporânea. [...] A escola encontra-se diante de um novo desafio e, nesta circunstância, educar para prevenção apresenta-se como a melhor alternativa para o enfrentamento do consumo de drogas entre estudantes. Prevenção significa dispor com antecipação, impedir ou pelo menos reduzir o consumo. [...] Cabe à instituição escolar promover um estilo de vida saudável nos alunos, desde crianças bem novas até o jovem adulto. [...] No caso dos estudantes que já consomem drogas, a função da escola é prestar auxílio ao aluno na procura de terapia, apoiar a recuperação e reintegrá-lo na escola, no grupo de amigos, na família. Vale advertir que não compete à escola o tratamento, mas sim, encaminhar adequadamente o caso. Como prevenir o abuso de drogas na escola?, por Marília Saldanha da Fonseca. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-85572006000200018&script=sci_arttext

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Não se drogue por não ser capaz de suportar sua própria dor. Eu estive em todos os lugares e só me encontrei em mim mesmo. John Lennon

Resultados de uma pesquisa com adolescente constataram que entre os jovens pesquisados foram observadas diferenças de gênero (75,5% do sexo masculino e 24,5% do feminino), idade (52,2% entre 10-14 anos e 47,5% entre 15-18 anos), situação escolar (41,7% havia parado de estudar e 2,5% nunca havia estudado), tempo em situação de rua (69,5% estava em situação de rua há mais de um ano), vínculo familiar (68,8% relatou estar morando com família e 31,2% relatou não estar). Os principais motivos atribuídos para a situação de rua foram: busca de brincadeira/diversão (58,9%), busca de sustento (37,7%) e relações familiares ruins (26,6%). O rompimento do vínculo familiar foi o fator que apresentou maior associação com o uso diário de drogas (20 ou mais dias no mês que antecedeu a pesquisa). Entre os jovens que, apesar de passar grande parte do tempo nas ruas, estavam morando com suas famílias, o uso diário de drogas (inclusive álcool e tabaco) foi mencionado por 19,7%. Em contrapartida, esse índice foi de 72,5% para aqueles que haviam rompido o vínculo familiar. Esses dados reforçam o importante papel da família como fator de proteção ao uso abusivo de drogas, bem como apontam a relevância do trabalho preventivo junto às famílias. As drogas consumidas em maior intensidade (uso diário) foram o tabaco, os solventes e a maconha. O consumo diário de tabaco foi mencionado por 29,5% dos jovens, solventes por 16,3% e maconha por 11,2%. Esse perfil foi relativamente semelhante entre as capitais, exceto em relação ao tipo de solvente predominante (variando entre thinner, cola, loló, entre outros). Para as bebidas alcoólicas, o consumo diário foi mencionado por 3,0%, mas 43% dos jovens haviam consumido no mês (ao menos uma vez no mês que antecedeu a pesquisa) com intensidade variando predominantemente

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entre 1 a 19 dias/mês. O uso no mês de derivados da cocaína foi mencionado por 12,6%, mas em frequências variadas (2,4% com uso diário). A comparação dos dados de 2003 com os levantamentos anteriores (1987, 1989, 1993, 1997) apontam poucas mudanças no panorama geral de consumo. Essas poucas mudanças foram predominantemente em relação ao tipo de droga usada. Por exemplo, o consumo de crack nas capitais do Nordeste, que era pequeno até a década de 90, ganhou relevância em 2003. Em São Paulo, o consumo de cola (alto na década de 80), que havia sido substituído pelo esmalte na década de 90, volta a ganhar destaque no levantamento de 2003. Essas constatações sugerem que as políticas adotadas nas décadas anteriores, predominantemente de enfoque repressivo e de controle da disponibilidade de drogas, não tiveram a eficácia esperada. Há necessidade de trabalhos preventivos para o uso indevido de drogas nas escolas, família e comunidade.


O que precisa o adolescente Identificou-se fatores protetores contra o consumo de drogas, segundo a ótica de jovens pertencentes a uma população de risco, averiguando quais fatores seriam importantes como forma de prevenção. Foi realizada uma investigação profunda que esclarecesse certas dúvidas, tais como: “Quais seriam os fatores que adolescen-

Drogas tes de baixo padrão socioeconômico, usuários e não usuários, julgariam como fundamentais na proteção contra o uso de drogas?”. Apesar da importância de estudos anteriores e destes terem contribuído de forma determinante na compreensão do uso de drogas psicotrópicas entre adolescentes, pouco se sabe sobre fatores protetores, ou seja, respostas que possam justificar, na visão do próprio adolescente, o porquê de jovens que pertencem a grupos de risco em relação ao uso de drogas, não fazem uso delas.

Mundo Insano

Justin Bieber

Preso em Miami Beach por dirigir sob efeito de álcool e drogas, o cantor Justin Bieber pode ser usuário de um entorpecente caseiro. Sites de celebridades, como TMZ e Radar Online, trazem relatos de que o ídolo teen consome drogas com frequência alarmante – em especial, uma mistura batizada de sizzurp. “Essa droga virou febre nos Estados Unidos e está afetando o Brasil. É um problema crescente na saúde pública”, afirma o psiquiatra Ivan Braun, doutor pela Faculdade de Medicina da USP e especialista no tratamento de usuários de drogas. Um levantamento feito em 2005 mostrou que quase 2% dos brasileiros já haviam utilizado o xarope pelo menos uma vez na vida para fins recreacionais. A droga é feita com xarope para tosse, refrigerante e balas dissolvidas, para melhorar o sabor. O tipo de xarope utilizado tem como principal princípio ativo a codeína – um derivado do ópio, como a morfina. O medicamento ainda contém anti-histamínicos como a prometazina, um antialérgico com efeito tranquilizante. A mistura gera uma sensação de euforia e bem-estar e, assim como outros tipos de drogas, pode causar dependência. “O usuário passa a necessitar de doses cada vez maiores, e quando fica sem a medicação, tem síndrome de abstinência”, diz Braun. “Outro problema é que, com frequência, há associação com outras drogas, o que aumenta chances de comportamentos de risco.” Em doses elevadas, a bebida pode causar redução da respiração e levar à morte”.

Não preciso me drogar para ser um gênio; não preciso ser um gênio para ser humano; mas preciso do seu sorriso para ser feliz. Charles Chaplin

Ator de Glee, Cory Monteith, morre aos 31 anos O espetáculo acabou para Cory Monteith. O ator canadense de 31 anos, conhecido por interpretar Finn Hudson, na série musical Glee, da Fox, foi encontrado morto em seu quarto de hotel em Vancouver, no Canadá, na noite de sábado, 13. Voce conhecia esse ator? Segundo informou o site The Hollywood Reporter, Monteith deu entrada no Fairmont Pacific Rim Hotel no dia 6 de julho e tinha reserva feita até ontem. Como ele não deixou o hotel na hora marcada, membros da equipe resolveram ir até o quarto do ator e o encontraram morto. Ainda de acordo com o site, Monteith foi visto saindo na companhia de um amigo na noite passada, mas câmeras de segurança confirmam que o ator retornou ao quarto mais tarde. A polícia acredita que ele estava sozinho no momento da morte. Ele morreu? De quê? Procure discutir essa situação e reflita. Cory Monteith namorava a colega de elenco, Lea Michele, e tinha histórico de dependência em drogas. Em abril de 2013, ele chegou a ser internado em um clínica de reabilitação voluntariamente (ele já havia sido internado aos 19 anos). A causa da morte ainda é desconhecida. Era um ator de sucesso, estava em destaque, porque será, então, leitor, que ele precisava usar drogas? O que aha?

Amy Winehouse Amy Winehouse foi conhecida cantora e compositora. Morreu de overdose com droga e álcool em julho de 2011. Era artista talentosa e não teve carreira longa, considerando o fato de que morreu aos 28 anos. Como ela, vários outros. Por quê?

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[...]

PORCENTAGEM DE ALUNOS QUE USARAM DROGAS PELO MENOS UMA VEZ*

a curiosidade pode também levar um

jovem a se drogar,

pois a adolescência é a época das

descobertas, e o

adolescente quer conhecer tudo. É

preciso entretanto, saber diferenciar a

boa curiosidade da

curiosidade nociva,

e querer conhecer o mundo das drogas, é, de fato uma

curiosidade ruim, já que sabemos

efetivamente que

as drogas fazem mal à saúde, alteram o

pensamento e mudam o comportamento das pessoas. Outro fator

que pode induzir um jovem a se drogar é a incapacidade de

enfrentar problemas. Principalmente

aqueles que sempre tiveram tudo e

nunca passaram por

frustrações e tristeza mais sérias.

Içami Tiba

DROGA

PORCENTAGEM DE ALUNOS

Álcool Tabaco Solventes Maconha Ansiolíticos (calmantes) Anfetamínicos (estimulantes)

5,9%

15,5%

24,9%

65, 2%

4,1%

3,7%

* Dados extraídos do V Levantamento Nacional sobre o consumo de Drogas Psicotrópicas entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino nas 27 capitais brasileiras, realizado pela Senad em parceria com o CEBRID, em 2004.

Este mecanismo de recusa à droga, processado pelo adolescente, ainda não está esclarecido. Os valores que ele invoca para proceder dessa forma são ainda desconhecidos. O consumo de drogas psicotrópicas é considerado um problema de saúde pública, que se estabelece como grave devido à população de risco situar-se entre a faixa etária da adolescência, onde os problemas inerentes dessa fase da vida constituem-se nos próprios fatores de risco que podem levar a esse uso. Qualquer esforço para a prevenção do consumo de drogas na adolescência parte de estudos que permitam o entendimento amplo da natureza e evolução do problema nesse grupo, permitindo o conhecimento de sua etiologia. Com o objetivo de buscar um entendimento que envolva toda a realidade do fenômeno do uso de drogas, procuramos esclarecimento de pontos como: Quais os mecanismos de defesa utilizados por adolescentes que conseguem sobreviver sem o uso de drogas? Que motivação permite que neguem a experimentação quando esta é propiciada? A resposta a essas perguntas coloca-nos uma outra forma de visão do problema, na qual parte do sucesso alcançado por alguns quando da tentativa de não usar drogas, abandonando, ou pelo menos não considerando como único, o modelo que privilegia o risco e o insucesso nesse esforço de não consumir drogas.

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As poucas pesquisas realizadas no Brasil, enfocando as motivações ao não usam de drogas, apresentam caráter quantitativo e acabam por generalizar o comportamento de alguns em detrimento de aprofundar padrões e motivações específicas de uma determinada classe social ou de risco específico. O quadro acima mostra a porcentagem de estudantes que já fizeram uso de cada uma das drogas pelo menos uma vez na vida. Os dados são resultados de uma pesquisa realizada em 2004, com estudantes de ensino fundamental e médio em vinte e sete capitais brasileiras*.

Uma historinha bem legal... O motivo ou os motivos que levam algumas pessoas a se utilizarem de drogas variam muito. Cada pessoa tem necessidades, impulsos ou objetivos diferentes que as fazem agir de uma forma ou de outra e a fazer escolhas diferentes. Se fôssemos fazer uma lista, de acordo com o que os/as especialistas dizem sobre esse assunto, veríamos que as razões são muitas e que nossa lista ainda ficaria incompleta: por curiosidade; na tentativa de fuga dos problemas, do tédio, das frustrações ou insatisfações; para disfarçar


Drogas O que Incomoda Conheci maconha com meu namorado, aos 13 anos “Conheci maconha com meu namorado, aos 13 anos. Ele era mais velho e a gente estudava na mesma escola. Ele já tinha repetido várias vezes. Na primeira vez que a gente saiu junto, a gente tava numa praça e, de repente, eu vi ele tirar um cigarro que eu não conhecia e perguntei o que era, e ele disse : é maconha. E me deu pra experimentar. Eu experimentei porque, na hora, fiquei com medo de perder ele. Qual é o maconheiro que vai querer namorar com quem não fuma? E eu passei a fumar bastante maconha” conta na Campanha da Jovem Pan, uma garota bonita, delicada, charmosa, que todos que conhecem definem como “capa de revista”. Uma moça de classe média, filha de executiva de São Paulo. “Depois da maconha, fumei no narquilé, tomei ecstasy e cheirei cocaína. Era cocaína todo dia. Gastava muito dinheiro com droga. Eu comprava de colegas meus.” Uma garota de 20 anos com duas internações involuntárias pela dependência de maconha, ecstasy e cocaína. Impressiona no seu depoimento a facilidade para conseguir drogas em São Paulo: “Comprava dos meus colegas. Não tinha coragem de ir na favela comprar droga.” Para a mãe, executiva de São Paulo, foi um choque quando descobriu que a filha usava droga. Mas, forte, trocou o desespero pela ação e não teve dúvida ao chamar o Resgate e levar à filha involuntariamente para o tratamento. Depois, houve uma recaída. E a mãe, mais uma vez pelo amor à filha, internou sua menina involuntariamente. E nunca desistiu de ver a filha recuperada. Para a recuperação, paga psiquiatra, psicólogo e, junto com a filha, frequenta as reuniões do “Amor Exigente” ( grupo de ajuda mútua). Foi o coordenador do “Amor Exigente”, Miguel Tortorelli, que indicou a moça à Campanha.

a timidez e a insegurança; por acreditar que certas drogas aumentam a criatividade, a sensibilidade e a potência sexual; por insatisfação com a qualidade de vida; em busca do prazer; no desejo de correr riscos; na necessidade de experimentar emoções novas e diferentes; para ser do contra; na procura pelo sobrenatural; porque não vê perspectivas para o seu futuro etc. Por esta lista dá para perceber que quem se utiliza de drogas está sempre buscando uma experiência diferente, algo “novo”. Só que, se o jovem estiver bem com ele mesmo, tiver foco, objetivo naquilo que está querendo, se gostando e se cuidando, seguramente estas emoções vão surgir sem precisar de nenhum aditivo, sem necessitar de substâncias de fora para ter prazer e satisfação. Caminhadas, jogos, ginástica são algumas das atividades que liberam endorfinas, adrenalina, que conferem sensação de prazer, aumentam a autoestima e dão alegria.

Lembre-se: Prevenção e repressão não são a mesma coisa!

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Enquanto isso, na escola... Na Escola Recanto do Saber, havia quatro amigos inseparáveis: Tim, Naná, Israel e Jó. Certa manhã, Israel chegou muito tenso à escola, dizendo para dona Ritinha, a professora, que seu colega de turma, o Jó, há dois anos usava maconha, cocaína, anabolizantes, crack e até chá de fita cassete. A professora, muito aflita, perguntou: “Que é isso, Israel ? Chá de fita cassete?” “Sim”,

disse Israel, “é uma ‘droga’ que os dependentes usam para aguentar as crises de ‘abstinência’. A senhora sabe o que é isso? Abstinência?” “Eu sei, eu sei!”, diz Naná se aproximando deles. “Eu sei o que é abstinência, sei o que é droga e também o que é ser dependente. Já li na internet!” Assim, Naná pegou um pincel azul e começou a escrever no quadro branco o que tinha aprendido:

O que são drogas? Daí, após escrever, Naná colocou todos os colegas em uma grande roda e começou a falar: “As drogas são substâncias que, ao serem ingeridas, causam mudanças no comportamento, no grau de consciência e no estado emocional das pessoas. As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características da cada pessoa que as usa, e também varia de acordo com a droga escolhida, da quantidade de droga utilizada, a frequência com que faz esse uso, das expectativas e das circunstâncias em que é consumida. Quando falamos em drogas, incluimos os produtos ilegais (cocaína, maconha, ecstasy, heroína, etc.) e também os chamados ‘legais’, como bebidas alcoólicas, cigarros e vários remédios, apesar de haver restrições em sua comercialização, por exemplo: é proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade, mesmo assim, a compra ou o uso delas vai depender do entendimento do adolescente sobre esse comportamento. Como nós, adolescentes, entendemos essa proibição legal? Vamos pensar, colegas? Sabiam que cada droga ao ser usada pode produzir um efeito? Os efeitos da droga dependem basicamente de três fatores: (1) da substância usada ou seja da droga, (2) do usuário e (3) do meio ambiente.

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Drogas

Cada pessoa, com suas características físicas (biológicas) e psicológicas, reage de modo diferente. O estado emocional do usuário e suas expectativas em relação ao que espera da droga, vai influenciar bastante o resultado do uso. O ambiente onde a droga é usada tem um significado para quem usa, ou seja, se um ambiente de uma festa, uma roda de amigos, etc.“ Depois de ouvir o que a Naná falou, a professora decidiu procurar Jó para saber como tudo isso começou. Jó lhe disse que iniciou a história ainda em sua casa. Sua mãe usava anfetamina para emagrecer. Seu pai bebia cerveja diariamente. As amigas de sua mãe, quando iam para sua casa nos finais de semana, fumavam e bebiam bastante. Dona Ritinha ficou boquiaberta com aquela história. Foi quando ela falou: “Jó, eu soube que você também usa outras drogas. Quais são e por quê?”. Meio encabulado, Jó explicou: “Sabe, professora, eu estava me sentindo muito mal por que eu não conseguia arranjar namorada nas festinhas que eu ia, então,

um amigo meu me disse que se eu fumasse um ‘baseado’, eu perderia a timidez e ficava tudo mais fácil. Para ficar mais fácil ainda, decidi fazer musculação. Mas como queria ficar logo ‘saradão’, passei a tomar anabolizantes. Sentia-me cansado, chegava em casa, via o sufoco de meus pais e queria esquecer aquilo. Então, comecei a usar cocaína. Já estava ‘viajando’, de boa, mas me apresentaram o crack, dizendo que a viagem era maior ainda. É assim, professora, a gente fica testando uma coisa ou outra, achando que pode parar quando quiser. O certo é que eu comecei a ficar o tempo todo ‘noutra”, numa viagem sem fim. A professora Ritinha, depois dessa conversa, decidiu ajudar Jó e, ao mesmo tempo, evitar que outros alunos entrassem no caminho das drogas. Pediu a seus alunos que pesquisassem sobre as drogas mais usadas. O resultado foi esse:

Refletir e posicionar-se sobre a questão do uso das drogas é parte integrante do processo educacional. A escola é espaço privilegiado para a execução do trabalho de enfrentamento e prevenção ao uso das drogas. É preciso que os professores se preparem e que sejam preparados para esta missão.

Maconha Começou a sabida Naná: “Todos sabem que a maconha é uma substância proibida por Lei. No entanto, seu uso maior é entre jovens de 18 a 24 anos de idade, atingindo a porcentagem de 17% nessa faixa etária. Na faixa de adolescentes, entre 12 a 17 anos, é de 4,1%. Quando a pessoa, sob efeito de maconha, decide dirigir, caminhar numa rua escura e movimentada ou relacionar-se sexualmente pode correr diversos riscos. O próprio uso da maconha já traz alguns riscos bem comuns.

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O Relatório Mundial sobre Drogas 2013 alerta: em seis anos, o consumo de cocaína no Brasil DOBROU, enquanto reduziu na América do Norte, na Europa e em diversos outros países do mundo.

Vou citar alguns: ● Prejudicar sua memória e habilidade de processar informações complexas; ● Irritar seu sistema respiratório, pela constante presença de fumaça nos pulmões;

Aumentar suas possibilidades de desenvolver câncer de pulmão, uma vez que a maconha tem o mesmo teor de alcatrão que os cigarros de tabaco. ●

“Quem usa maconha por muito tempo, tem dificuldade de parar de usá-la”, enfatizou a Naná. O Tim, então, perguntou: “Dizem que quem usa muito a maconha, quando tenta parar é muito difícil. É verdade?” “Depende do usuário, mas algumas pessoas chegam a apresentar sintomas físicos, dentre as quais, irritabilidade, perda de apetite, distúrbio do sono e ansiedade.”

Cocaína Israel levantou-se, pediu a palavra e começou: “A cocaína é uma substância extraída das folhas da coca. Durante o século XIX e o início do século XX, foi vendida nas farmácias como anestésico local e como tônico, para dar mais energia. Depois, tornou-se uma substância ilegal, em grande parte devido aos efeitos danosos causados a seus usuários. O uso de cocaína no Brasil varia bastante, conforme sexo e idade: situa-se em 5,4% entre homens e 1,2% entre mulheres. A faixa etá-

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ria de maior uso ocorre entre 25 e 34 anos de idade, na qual atinge a porcentagem de 5,2%. Entre os adolescentes de 12 a 17 anos, 0,5% dizem já terem experimentado essa droga, que causa dependência. O seu uso abusivo desenvolve compulsão (dependência) pela droga e os usuários sofrem de intensa depressão quando ficam sem ela.” “Muito bem”, aclamou a professora, agora é sua vez, Tim. Você vai falar sobre o quê? “Sobre crack, professora!” Então, ele começou:

Crack “Crack, gente, é a ‘grande droga da vez’, que, na verdade, é apenas um novo jeito de se preparar e usar a cocaína. Tornado popular nos meados da década de 1990, o crack é denominado de ‘pedra’ pelos usuários brasileiros e consumido por via oral (fumado em cachimbo). A ‘pedra‘ unitária tem o seu preço mais acessível do que a cocaína em pó, dando a impressão de que o usuário economiza quando troca o modo de consumo.


Drogas

Mas essa economia é ilusória, pois a ‘pedra’ tem uma quantidade mínima de substância ativa, muito menor do que o ‘pó’. Seus efeitos, porém, são mais fortes, porque a cocaína, por meio dos pulmões, cai diretamente na corrente sanguínea. Aí que mora o perigo. Vocês sabem quem usa o crack? Pois bem, menos de 1% dos brasileiros já teve algum contato com ele. Estive vendo na Internet que, em uma pesquisa realizada em 2001, 0,4% das pessoas falam já ter usado crack pelo menos uma vez na vida. Homens experimentaram crack mais do que as mulheres, 0,7% e 0,2% respectivamente. A maior porcentagem de uso se encontra na faixa etária de 25 a 34 anos, entre homens. O crack ganhou popularidade em São Paulo. Lá, encontramos um lugar chamado “Cracolândia”, onde se juntam pessoas que usam a droga, tanto homens quanto mulheres. Nos Estados Unidos, o crack já foi usado por 2% das pessoas. É muita coisa, gente!” Foi quando d. Ritinha começou a distribuir a letra de uma música para cada um dos seus alunos, pedindo que cantassem com ela:

Fuma demais o peito dói. Esta é a história de um bad boy que se foi. Cheira demais a cabeça corrói/ bate na mãe a família destrói, triste fim. Ecstasy, haxixe, crack...

Alucinado não conseguiu dormir Olha o que ela fez com ele. Olha o que ela fez. “Craque”, sim mas de futebol . Não seja burrinho diga que não tá afim Olha o que ela fez com ele. Olha o que ela fez. Conheceu uma bad girl, se perdeu na transa e olha só no que deu. Da camisinha não quis saber, e foi premiado com o HIV. Olha o que ela fez com ele. Olha o que ela fez. Overdose, convulsão, um ataque fulminante parou seu coração.

Querendo conhecer a letra na íntegra e ouvir a música, acesse: http://letras. mus.br/ alexandrepires/113703/

(“Diga não às drogas”, de Alexandre Pires e Cláudio Rosa)

“Vocês gostaram da música?”, perguntou Ritinha. “Tim, do que a letra da música fala? Pois muito bem, é isso mesmo. Queria também mostrar para vocês um álbum com figuras que eu organizei. O tema é alcoolismo. Vai ser legal falarmos sobre isso, porque nesta semana teremos uma grande festa aqui na escola e, bem, a gente vai se entendendo... Mas, primeiro, gostaria de perguntar se alguém tem em sua família quem consuma bebidas alcóolicas. Na sua casa, Naná, quem bebe?” “Minha mãe e meu irmão mais velho, professora”, respondeu. “O

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Os efeitos dos

inalantes duram

pouco, mas se usados repetidas vezes os

efeitos se prolongam e se assemelham com os

sintomas de depressão do Sistema Nervoso

Central causada pela ingestão de álcool.

meu pai bebe todos os dias”, levantou a mão o Jó, que já vinha com uma carinha melhor. “Lá em casa, só o papai e o vovô”, contou o Israel.

Solventes ou inalantes Quem usa?

Cerca de 6% dos brasileiros já inalaram algum produto solvente ou inalante (cola, benzina, éter, gasolina, acetona). Esse dado varia conforme o sexo e a idade: entre homens, 8,1% já usaram e entre mulheres, 3,6%. Os solventes ou inalantes são, muito comumente, a primeira droga usada por adolescentes, depois de álcool e tabaco. O preço acessível e a grande disponibilidade também tornam os inalantes muito usados entre crianças e adolescentes em situação de rua. Os jovens adultos tendem a usá-los na forma de lança-perfume ou “loló” (mistura de éter com aromatizantes). São produtos fabricados com o intuito de

serem usados para obter alterações de consciência, e sem nenhuma utilidade industrial ou combustível. O Brasil não dispõe de dados mais antigos para saber se o uso de inalantes está estável, diminuindo ou aumentando na nossa população. Pesquisas mostram, no entanto, que entre estudantes da rede estadual de ensino, pesquisados regularmente em dez capitais do país, o uso tem permanecido estável entre 14% e 15%, desde 1987.

O que são inalantes? Os inalantes são, na sua maioria, produtos industriais, combustíveis ou de limpeza, que são inalados com o propósito de sentir algum “barato”. Quase todos os solventes ou os inalantes se tornaram drogas de uso recreativo, embora não tenham sido fabricados com esse propósito. No Brasil, alguns inalantes são também fabricados clandestinamente ou contrabandeados, para fins de abuso, como é o caso do lança-perfume e do “cheirinho da loló”. Todos esse produtos têm em comum alguma substância volátil (ou seja, que se evapora muito facilmente, sem precisar de aquecimento). Essa substância volátil, aspirada pelo nariz ou pela boca, é o componente responsável pelos efeitos que os usuários de inalantes buscam. Na tabela abaixo, são descritos os principais produtos que são inalados como drogas e seu produto volátil.

PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS ENCONTRADAS NOS “INALANTES” MAIS COMUNS

Solventes voláteis Tolueno, hexano, acetato de etila, benzeno, tricloroetileno, diclorometano

Colas, vernizes, esmaltes, tintas, removedores, líquidos corretivos, gasolina, tinta spray, fixador de cabelos, desodorante

Gases Butano, propano, freon

Gás de isqueiro, cozinha, geladeira

Éter, clorofórmio, óxido nitroso

Anestésicos

Éter, clorofórmio, acetato de etila (*) Lança-perfume, “cheirinho da loló” (*) esse dado não é preciso, uma vez que esses produtos são produzidos e/ou comercializados ilegalmente.

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Os efeitos dos inalantes Os efeitos do uso de inalantes aparecem e desaparecem muito rapidamente. Poucos segundos após a aspiração, os efeitos já são sentidos, uma vez que passam diretamente dos pulmões para a circulação sanguínea, atingindo o cérebro e o fígado, órgãos com maior volume de sangue no corpo. A inalação desses produtos, inicialmente, provoca euforia, caracterizada por cabeça leve, girando, e visões fantasiosas que parecem reais. Essas sensações acabam em poucos minutos e essa é a razão pela qual os usuários habituais de inalantes colocam o produto num saco plástico para cheirarem durante mais tempo.

Quais são os riscos de se usar inalantes? Apesar da pouca atenção que esses produtos recebem dos meios de comunicação de massa, em comparação com drogas de menor consumo por nossa população, o uso de inalantes é uma prática muito arriscada. Muitos jovens morrem quando usam inalantes, alguns deles usuários novatos, num fenômeno chamado “morte súbita por inalação de solventes”. Muitas vezes essas mortes ocorrem quando alguém que inalou o produto repetidamente é submetido a algum exercício ou stress inesperado. Nessas situações, a morte é causada por falência cardíaca associada à arritmia cardíaca acentuada. Outra forma frequente de morte por inalação de solventes dá-se por sufocamento: o usuário desmaia com o saco plástico na boca e nariz, e morre por falta de ar. Outras consequências, menos trágicas, mas também muito sérias, são danos ao fígado e rins,

Drogas perda de peso, ferimentos no nariz e na boca. Em usuários muito pesados e crônicos, os inalantes podem também causar danos irreversíveis no cérebro.

Inalantes causam dependência? Alguns usuários de inalantes desenvolvem dependência desses produtos, tendo muita dificuldade de abandonar o hábito. Frequentemente, no entanto, o uso de inalantes é uma atividade de grupo, passageira, ou fruto de curiosidade de alguns pré-adolescentes que resolvem experimentar sensações novas com produtos disponíveis dentro de suas próprias casas. Mas os acidentes podem acontecer mesmo em uso ocasional.

Medidas exageradas e radicais podem levar o usuário de drogas a ficar mais tempo nesse universo.

PARA REFLETIR

Todas as informações apresentadas

neste caderno têm fundamento em

pesquisas e estudos científicos e podem

nos ajudar a refletir sobre os nossos

comportamentos e

a avaliar os riscos

a eles associados.

Ter liberdade não significa poder

fazer aquilo que queremos, a

qualquer hora, mas ter consciência dos efeitos e

consequências de nossos atos para

poder tomar decisões responsáveis.

Mas o que fazer quando mesmo uma atitude mais dura da família não é suficiente? Em 2005, a funcionária pública Sônia (nome fictício) descobriu que seu filho mais novo, então com 13 anos, era usuário de drogas. Sônia, o marido e outros dois filhos viviam num condomínio de classe média alta no interior paulista. O caçula havia começado a fumar maconha aos 11 anos, com amigos. Seu rendimento escolar despencou, ele trocou de amizades e se distanciou dos irmãos. “Achei que era um problema da idade, da adolescência”, diz Sônia. “Só percebi que eram as drogas quando antigos amigos dele me falaram que ele estava andando com uma turma barra-pesada.” Sônia procurou ajuda onde

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O debate em torno das drogas exige cada vez mais abrangência. Além de ser fator prejudicial à saúde dos usuários, o desenvolvimento da sociedade fica prejudicado. Pouco se vê campanhas que despertem para as temáticas sociais, familiares, profissionais, psicológicas e espirituais que são afetadas no aumento do uso dessas substâncias. No Brasil, o cenário torna-se ainda mais agravante quando pesquisas revelam que o crack, por exemplo, está relacionado também ao aumento em diferentes níveis de violência contra as mulheres.

pôde. “Pesquisei na internet, em serviços públicos, procurei psicólogos, terapias, até a igreja”, disse. A família decidiu tirar o filho da escola para distanciá-lo das amizades e vigiá-lo de perto. Ficava sob os cuidados do pai, vendedor de joias, que o levava até nas viagens de negócios. Em 2007, Sônia internou o filho em uma clínica para dependentes ligada a grupo religioso. O tratamento era baseado mais em ações espirituais do que terapêuticas, e não teve resultado. “Foi um tiro no pé. Havia gente mais velha, e ali ele aprendeu tudo sobre as drogas.” Sônia decidiu então mudar de cidade. “Queria afastá-lo de tudo o que havia acontecido.” No começo, a estratégia deu certo: o filho passou um ano sem se drogar, começou a trabalhar em um pet shop e pensava em voltar a estudar. Mas teve uma recaída. Hoje, aos 17 anos, o caçula de Sô-

nia está internado. Pela segunda vez, ele tenta largar o vício. Os resultados distintos das experiências de Sônia e da família no combate às drogas mostram que não existe um método infalível. A maior parte das pessoas faz uso consciente de drogas ilícitas da mesma forma que muitas pessoas usam álcool. O uso de drogas como válvula de escape aumenta na proporção da incapacidade dos jovens de aceitar a frustração. Mas muitos usuários não percebem o quanto a droga se tornou parte de sua rotina até que tenham se tornado dependentes. Cada situação é uma situação. Cada jovem pode analisar sua situação diante das drogas, podendo entender que temos capacidade de resolver nossa situação de cara limpa, nos responsabilizando pelos nossos atos.

Começando por mim Ex-viciado em crack supera vício, passa em concurso e tenta vestibular Sem dinheiro e sem casa, ele foi parar na Casa de Acolhida, em Goiânia. Eduardo se casou e sonha em ser psicólogo: ‘Quero ajudar outras pessoas’. Após viver 10 anos no mundo das drogas e ir parar nas ruas de Goiânia, o auxiliar de serviços gerais, Eduardo Matos, de 30 anos, é exemplo de superação. Além de se livrar dos vícios, ele passou em um concurso público, se casou e agora quer entrar na universidade. A mudança de sua vida começou no lugar onde passam, diariamente, dezenas de sem-teto e moradores de rua: a Casa de Acolhida, um albergue mantido pela prefeitura de Goiânia. Em cinco meses como albergado, trocou a rotina de usuário de drogas por grupos de recuperação para dependentes químicos. Hoje trabalha no local que o acolheu como auxiliar de serviços gerais. Antes, “usava de tudo. Comecei com maconha, depois fui para a cocaína e o crack. Estava mesmo no fundo do

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poço”. Sem dinheiro para continuar pagando o hotel onde estava, no Setor Campinas, ele deixou o local e procurou uma igreja, em busca de ajuda. No mesmo dia, conseguiu, com ajuda da paróquia, abrigo no albergue municipal. Decidido a ter uma vida diferente, Eduardo começou a frequentar um grupo de ajuda a dependentes químicos e pensou em se internar. Mas em vez de passar nove meses em uma fazenda de recuperação de drogados, preferiu se matricular no programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em um ano, conseguiu terminar o 2º grau. Paralelamente às aulas no EJA, o auxiliar de serviços gerais começou, por conta a própria, a estudar para o concurso de educador social da prefeitura de Goiânia. Foi aprovado e aguarda ser chamado. Enquanto isso, trabalha meio período, faz curso de técnico em eletrotécnica no Senai e divide o restante do tempo entre os estudos e a atenção à esposa [...]


Drogas A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Charles Chaplin

Uma matéria diferente na escola: competência para viver! Autogerenciamento | Ajuda estudantes a analisar sua autoimagem e os efeitos dela no seu comportamento, determinar objetivos pessoais de vida, monitorar progressos, identificar comportamentos e decisões cotidianas que foram influenciadas por outras pessoas, analisar essas situações e aprender a avaliar consequências de determinados comportamentos antes de adotá-los. Habilidades sociais gerais | Ajuda os estudantes a superar a timidez e a dificuldade de se comunicar e a obter firmeza na comunicação verbal e não verbal, tanto na recusa quanto na aceitação de convites, assim como trabalhar com o reconhecimento de alternativas viáveis à passividade ou agressividade diante de situações difíceis. Habilidade de resistir às drogas Ajuda os jovens a reconhecerem os mitos e concepções equivocadas, disseminadas socialmente, em relação ao cigarro, álcool, medicamentos e drogas ilícitas, assim como lidar com a pressão dos meios de comunicação de massa e dos amigos para usá-lo.

REFERÊNCIAS NOTO, ANA REGINA. Uso de drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua nas capitais brasileiras. Disponível em: http://www.antidrogas. com.br/mostraartigo.php? Acesso em 06 de junho 2014. Psicóloga, mestre em Psicobiologia, doutora em Ciências, professora afiliada e orientadora de Pós-graduação do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Fatores protetores de adolescentes contra o uso de drogas com ênfase na religiosidade, Ciência & Saúde Coletiva, 9 (1): 43-55, 2004.Venda

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ENEM.COM UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane)

Bullying ¦ Violência ¦ Drogas ¦ Ética ¦ Pluralidade Cultural ¦ Meio Ambiente FRANCISCA LUCÉLIA RIBEIRO DE FARIAS | Enfermeira, graduada pela Universidade de Fortaleza, com mestrado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo. É especialista na área de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental e também em Sexualidade Humana, com experiência com dependentes químicos e portadores de doenças de Alzheimer. É membro da Diretoria da Associação Brasileira de Enfermagem ABEn-CE e da Associação Brasileira de Alzheimer ABRAZ-CE. Atualmente, é tutora e professor titular do curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza.

F225d

Farias, Francisca Lucélia Ribeiro de Drogas / Francisca Lucélia Ribeiro de Farias. - Fortaleza: Edições Demócrito Rocha / Universidade Aberta do Nordeste, 2014. 16 p. il. color (Coleção Enem.com Cidadania) ISBN 978-85-7529-620-2 ISBN 978-85-7529-623-3 1. Drogas. I. Título CDU 615.32

Copyright © 2014 by Francisca Lucélia Ribeiro de Farias

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EXPEDIENTE FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência João Dummar Neto ¦ Direção Geral Marcos Tardin UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Coordenação PedagógicoAdministrativa Ana Paula Costa Salmin ENEM.COM CIDADANIA Coordenação Geral e Editorial Raymundo Netto ¦ Gerência de Produção Sérgio Falcão ¦ Edição de Design Amaurício Cortez ¦ Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Sérgio Fujiwara ¦ Ilustrações Rafael Limaverde ¦ Revisão Textual Milena Bandeira ¦ Catalogação na Fonte Kelly Pereira FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora - CEP 60.055-402 - Fortaleza- Ceará - Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 - www.fdr.com.br - fundacao@fdr.com.br Este fascículo é parte integrante da Coleção Enem.com Cidadania da Universidade Aberta do Nordeste, em decorrência do Convênio celebrado entre o Governo do Estado do Ceará, por meio de sua Casa Civil, e a Fundação Demócrito Rocha, sob o nº 90/2014.

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