Enem Cidadania - Caderno 06

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ENEM.COM Este fascículo é parte integrante do Nononoo onoo ooononoo - Fundação Demócrito Rocha I Universidade Aberta do Nordeste I ISBN 978-85-7529-626-4

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane)

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Fascículo

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ROSENDO FREITAS AMORIM e LINDALVA COSTA DA CRUZ


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A educação é a maior herança que os pais podem deixar para os filhos Platão

história da humanidade, entendida como a espécie homo sapiens, remonta há pelo menos seis milênios, quando aceitamos o critério historiográfico clássico que demarca o seu início a partir dos primeiros registros escritos. Nesse percurso, o ser humano produziu um volume imenso de saberes que foram sistematizados como conhecimentos. A Filosofia foi criada pelos gregos no século VII a.C. Antes da criação desse saber original, os gregos produziram uma rica cultura de mitos, alguns buscavam explicar a origem do cosmos, do mundo, enfim, da realidade. A expansão marítima grega permitiu um confronto entre seus mitos e os de outros povos, levando-os a superá-los através de uma atitude reflexiva diante da realidade, num esforço de compreendê-la racionalmente e não mais mitologicamente. Na verdade, a Filosofia surge da necessidade dos gregos em adquirir o que eles passaram a chamar de episteme, um conhecimento fundamentado (racional), para superar a doxa, a opinião. Esse conhecimento pretende ser o mais profundo (radical) possível sobre a realidade analisada.

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Quanto mais refletirmos sobre esta realidade, mais podemos compreendê-la, levantar questionamentos e sugerir soluções para os problemas relacionados a ela. Para tanto, a filosofia nos auxilia e nos conduz a entender que seu objetivo é nos permitir elaborar de forma racional uma concepção do universo por meio da autorreflexão. Os primeiros filósofos gregos, chamados de pré-socráticos (porque viveram antes de Sócrates) se ocuparam em compreender racionalmente o que era o cosmos, o universo, a natureza. Portanto, o mundo exterior a consciência. A grande reviravolta antropológica deu-se com Sócrates, conhecido principalmente pela sua obsessão para que cada pessoa buscasse se conhecer por meio da autorreflexão, daí ser o maior responsável pela popularização do lema “conhece-te a ti mesmo”. Sócrates exerceu uma influência marcante na juventude ateniense. Sua capacidade de levantar questões inquietantes e inusitadas despertou a ira dos conservadores, principalmente dos políticos corruptos de sua época. O receio de que o filósofo contaminasse a juventude ateniense com essa conduta crítica e questionadora levou as elites a armarem uma conspiração infame contra Sócrates, culminando com sua prisão e condenação à pena de morte. Quando estava preso, e durante o processo de julgamento, alguns dos inimigos de Sócrates tentaram convencê-lo de escapar para não morrer. Sua fuga seria facilitada com a condição de que ele fosse morar bem distante de Atenas e parasse de disseminar suas “ideias subversivas”. O criador da maiêutica, método que consistia em fazer o parto das ideias nos seus interlocutores, negou-se a fugir. Sócrates justificou sua resignação em aceitar o resultado do julgamento que lhe condenou à mor-


te pela ingestão da cicuta, um veneno altamente letal, por acreditar que renegar essa decisão dos poderosos da cidade seria uma forma de negar os valores éticos e morais que ele havia passado a vida ensinando aos seus discípulos. Ao se submeter às leis e à justiça da cidade, ele estaria colocando em cheque a alegação de seus inimigos de que ele insuflava os jovens contra a moral, os costumes, as instituições e as leis da polis (da cidade). A morte de Sócrates selou o fortalecimento da sua herança intelectual, materializada, sobretudo, na obra do seu discípulo mais brilhante, Platão. Sócrates não deixou livros, portanto, o que conhecemos sobre ele foi escrito por Platão. Certamente, a obra Apologia a Sócrates, de autoria de Platão, é o livro que mais revela elementos sobre a vida desse filósofo que, além de ter morrido por suas convicções, baseou sua trajetória no princípio da humildade gnoseológica: “Só sei que nada sei”. Platão herdou de seu mestre o compromisso de refletir sobre os valores e normas vigentes na Atenas de seu tempo. Inconformado com a ordem política e social vigente, frequentemente marcada pela corrupção ou por formas de governo vistas como impuras. É nesse contexto que o criador da Academia foi levado a passar a sociedade ateniense a limpo, propondo em sua obra A República uma cidade-Estado em que a organização política funda-se na ideia do bem e da justiça e na Sofocracia, um governo dos sábios, dos filósofos. Apesar do caráter idealista e utópico do projeto político de sociedade proposto por Platão, seus escritos e reflexões em diversas áreas da vida humana acabaram por constituir um legado que influenciou profundamente a Civilização Ocidental, principalmente no campo da Educação, da Política e do Direito.

Aristóteles, aluno de Platão, produziu uma vasta obra das quais podemos destacar as seguintes: A Lógica, A Metafísica, A Política e A Ética. Vamos buscar compreender um pouco do que ele apresentou na Ética a Nicômaco, que é o título completo do livro. Nicômaco é o nome do pai de Aristóteles, a quem ele dedicou essa obra. Em síntese, Aristóteles escreve como se fosse um pai dedicado e responsável, preocupado com a educação e com a felicidade do filho. Como aluno de Platão, ele aprendeu o valor do conhecimento verdadeiro e de como a educação é o melhor instrumento de transmissão do saber. Quanto à felicidade, eudaimonia em grego, era, segundo Aristóteles, a finalidade maior da vida humana. Entretanto, para alcançá-la, as pessoas precisariam aprender a se conduzir no mundo, necessitando refletir sobre suas ações e aprender a colocar a razão acima das paixões. Somente assim a felicidade coletiva e individual seria alcançada, pois o homem como animal político necessita que suas práticas e atitudes objetivem o bem comum.

[...] a moral é o conjunto de normas, princípios e valores que orientam o comportamento das pessoas nas diversas sociedades.

Ética e moral Segundo a Filosofia, a moral é o conjunto de normas, princípios e valores que orientam o comportamento das pessoas nas diversas sociedades. A moral que se origina em grande parte nos costumes é marcada por elementos socioculturais e históricos. Assim como os costumes, a moral tende a mudar de acordo com os valores predominantes em cada época. A Ética pode ser entendida como a reflexão crítica sobre a moral, guardando estreita relação com esta, no campo dos valores ou das virtudes, pre-

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ENEM.COM sentes no campo reflexivo e nas ações cotidianas. Nesse sentido, o senso e a consciência moral dizem respeito às relações que mantemos com os outros e, portanto nascem e existem como parte da nossa vida coletiva, da convivência com os outros (AMORIM, GOMES e MOURA, 2006). Nesse sentido, o campo ético é constituído por valores, normas e obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, principalmente das virtudes. De acordo com Aristóteles, a Ética compreende duas categorias de virtudes: as virtudes morais, fundamentadas na vontade, e as virtudes intelectuais, emanadas da razão. Como exemplo das virtudes morais, podemos destacar: a justiça, a coragem, a magnificência (bondade), a amizade e a doçura. Dentre as virtudes intelectuais, podemos enumerar as seguintes: a verdade, a inteligência, a sabedoria e a temperança.

Juventudes e escola Os tempos atuais são marcados por um conjunto de mudanças que afetam de forma marcante a vida de amplos segmentos sociais. Os jovens não constituem exceção a essa afirmação, e talvez esses tempos em que vivemos sejam particularmente identificados com a cultura juvenil, considerando que a juventude tem grande identificação com as mudanças e as transformações. Assim sendo, a escola, como ambiente de presença predominantemente juvenil, configura-se como um espaço marcado por tensões diversas, que ocorrem tanto em função do perfil transformador dos jovens, como do cenário incerto e agitado da sociedade atual. Nela, ocorre o encontro conflituoso entre diferentes culturas. A escola abriga desde as culturas dos variados grupos juvenis que passam todos os dias pelos espaços escolares à cultura “oficial” do currículo prescrito pelas políticas educacionais do Estado e a cultura normativa e disciplinadora, de base comunitária e dos costumes ligados aos bons modos, cultivados pela dimensão familiar dos projetos formativos. Um aspecto importante é que a escola pública se mantém como agência formadora e socializadora que, em função de seus vínculos com o Estado, cede primazia em seu processo

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O conhecimento e o aprendizado das virtudes objetiva fazer com que nossas ações no mundo sejam justas, e, para tanto, faz-se necessário que essas realizem o equilíbrio das virtudes morais e alcancem as intelectuais. Enfim, podemos afirmar que, para Aristóteles, o objetivo da ação moral é a realização da justiça, assim como a conquista da verdade é o objetivo da ação intelectual. Em síntese, podemos a firmar que agir de acordo com a justiça é objetivo maior da ação considerada Ética, observando que esta concepção de justiça exige um compromisso com valores como a igualdade e equidade. Nessa perspectiva, o campo ético coloca-se como um desafio ao ser humano, pois não nascemos seres éticos, precisamos desenvolver uma consciência ética. A necessidade de fazermos essa escolha: sermos ou não éticos, dá-se justamente porque somos livres para agir de acordo com

formativo à cultura dominante e ao seu desejo de colonização da cultura popular. Assim, a escola enreda-se num movimento de controle e disciplinamento dos jovens estudantes que por ali passam, buscando assegurar o status quo, para tanto, produz todo um aparato disciplinar que objetiva a produção de mentes e corpos dóceis, para assegurar as mentalidades e os corpos moldados às necessidades da sociedade. Não obstante o esforço da escola de homogeneizar os jovens estudantes, a dinâmica cultural do espaço curricular e escolar explicita um cenário marcado pela diversidade e pela diferença, típico da sociedade globalizada contemporânea, desvelando-se uma trama de mapeamento e ocupação desigual dos espaços escolares. Os diversos grupos, de acordo com sua aproximação ou distanciamento da cultura oficial dominante no currículo, vão ocupando os espaços escolares, desde os mais centrais até os mais periféricos. Em função dos ganhos simbólicos atribuídos aos estudantes, alguns grupos do cenário cultural da escola passam a defender os interesses e as necessidades da cultura oficial dominante, na escola. Alguns alunos reconhecem no disciplinamento alguns méritos, porém, em geral, existe uma percepção de que a escola, incluindo os professores, exageram na dose, supervalorizando a disciplina como condição fundamental para o sucesso dos educandos na escola e na vida.


os valores éticos ou agir de forma a ignorá-los. A necessidade da reflexão e do aprendizado da Ética decorre da nossa liberdade. Podemos matar, mas não devemos, podemos roubar, mas não devemos, podemos mentir, mas não devemos. A Ética nos ajuda a fazer escolhas justas e certas, pois nem tudo que eu posso fazer é bom para a minha vida. Nesse sentido, o campo ético é formado pelos valores e obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, especialmente das virtudes, as quais são realizadas pelo sujeito ético, que só pode existir preenchendo as condições de ser consciente de si e dos outros, ser dotado de liberdade, de vontade, de responsabilidade. Em termos éticos, a maturidade é alcançada sobretudo quando o indivíduo atinge o estágio ético, ou seja, na fase em que a pessoa, autônoma e livre, age de acordo com valores adequados ao seu modo de existir.

Ética e meio ambiente A Ética pode ser entendida como a reflexão sobre os valores e as normas que permeiam a conduta humana em sociedade, seria, portanto, a reflexão crítica sobre a moral. É nessa direção que temos que manter um perene pensar, uma reflexão constante e uma ação comprometida com a realidade que nos rodeia. A conduta ética constitui-se numa construção cultural e histórica necessária, exigindo que cada um reconheça que suas ações geram impactos positivos ou negativos na vida dos outros. Uma sociedade em que cada ser humano fizer o que lhe for conveniente, sem levar em consideração que o espaço do outro seja respeitado, com certeza produzira sérios problemas. Por essa razão, o homem tem que se apropriar desse saber ético para que

De outro lado, identifica-se que existem práticas, de natureza insubmissa, com caráter político, consciente e até mesmo articulado com questões sociais, políticas e educacionais mais amplas; constatamos também que, de forma preponderante, emergem aquelas que são menos “racionais” e até irrefletidas e inconscientes, e que são vinculadas aos interesses mais particulares de alguns grupos. Compreendemos que a totalidade destas atividades aparece como esforço de assegurar os espaços de manifestação e existência dos grupos subordinados culturalmente no terreno escolar e que intentam elevar suas possibilidades concretas de vida e expressão neste mesmo espaço. Em muitas ocasiões, ficava evidenciada a luta entre concepções diferenciadas de mundo, decorrentes das perspectivas culturais opostas, que envolvem, em boa medida, professores, direção e alunos. Os jovens, mediante linguagens diversas, defendem que a escola seja um ambiente dialógico e democrático. Este é um exercício que pode colaborar para transformações importantes na cultura escolar e na sociedade, e necessita ser iniciado. Sugerimos que tenhamos mais atenção à dimensão cultural na escola. Propomos que comecemos a pensar, paralelamente ao planejamento técnico-científico do currículo, em formas de políticas culturais que busquem qualificar nossa cultura e nossos valores.

Enfatizamos, por último, a ideia de que compreendemos a necessidade do disciplinamento numa sociedade como a nossa, entretanto, perguntamo-nos o que produzem as disciplinas? Pensamos, assim, que a educação não deve contribuir para a desumanização das pessoas, ao contrário, deve empreender modelos comprometidos com a autonomia e a liberdade. Assim, ela deve se desenvolver como a condição de possibilidade da conquista da humanidade dos homens e das mulheres, deve ter como horizonte a felicidade humana. Francisco José Rodrigues, filósofo e doutor em Educação

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“À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos”

possa de fato usufruir da sua liberdade e autonomia, reconhecendo até onde vão seus limites. Na relação sociedade/natureza isso não é diferente, pois o homem é parte do meio, não é um ser isolado, e mesmo necessitando da natureza para sobreviver, tem que ter a clareza de que esse meio é coletivo, e como tal, deve ser usado adequadamente para que todos possam ter parte nele, sem danificá-lo a ponto de destruí-lo. Mas como isso tem se constituído ao longo do tempo? É desse modo que o homem tem agido? Sobre este contexto, o Tema Transversal Meio Ambiente diz que: “À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos” (BRASIL, 2001, p. 173). Com o advento da industrialização, a exploração dos recursos naturais em busca da matéria-prima para os bens industrializados se intensificou visando atender as demandas mundiais, a ponto de comprometer os recursos naturais renováveis. Um trecho da Carta da Terra nos diz que: “Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando... O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social” (BRASIL, 2014, p. 94). Mas como manter a natureza preservada diante de tal contexto?

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Este documento argumenta ainda que para seguirmos em frente faz-se necessário reconhecer que mesmo diante da imensa diversidade de culturas e formas de vida, é necessário que a humanidade se sinta parte de uma única família e uma comunidade terrestre com um destino comum. E o que a Ética tem a ver com isso? A Ética entra nesse momento para nos ajudar a refletir sobre qual nosso papel nesse contexto. Ajuda-nos a pensar sobre nossas posturas, nossos valores e nossas atitudes e a necessidade de mudá-las no sentido de assumirmos compromissos e responsabilidades em defesa do nosso meio ambiente. A cada dia as descobertas científicas deixam mais evidentes que os problemas ambientais são de todos, que cada pessoa precisa contribuir fazendo a sua parte. Diante desse momento crítico pelo qual passa o planeta Terra, a humanidade precisa tomar consciência de que tem que escolher seu futuro, somando esforços na busca por alternativas mais sustentáveis de vida, onde a natureza e as pessoas têm que ser respeitadas. É necessário, portanto que os Povos da Terra declarem sua responsabilidade uns para com os outros, com a comunidade da vida e com as futuras gerações (BRASÍLIA, 2014).


Acreditamos, seguindo as reflexões de Leonardo Boff (2001), que nossa nave mãe, o planeta Terra, está a nos exigir uma Ética do cuidado, pois somente agindo com compromisso e responsabi-

lidade em relação ao meio ambiente, respeito ao próximo e às diferentes vidas, animais e vegetais do planeta teremos condições de sobreviver diante dos estragos cometidos.

É da sua Conta! Ética, juventude e protestos de rua Vem, vamos embora, que esperar, não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Geraldo Vandré

Os quase 20 anos que separam as mobilizações de rua pelas “Diretas Já” (1983/1984) da chamada “Revolução dos 20 centavos” ou “Primavera brasileira” foram mais do que suficientes para os donos do poder acreditarem que a juventude 2.0, ligada na internet e demais tecnologias da comunição digital, estivesse completamente apática em relação à política. Grande engano! O que se assistiu em junho de 2013 foi milhares de jovens usando as redes sociais para mobilizações e protestos de rua por conta da autorização do governo em liberar o aumento do preço dos transportes públicos ao mesmo tempo em que estimulava o consumo de automóveis e sinalizava gastos milionários com a infraestrutura para a realização da Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014. Os protestos de rua pegaram governo e políticos com as calças nas mãos. A visão de que os jovens da geração Y, afeita a computadores, jogos eletrônicos, smartphones e congêneres eram alienados politicamente desintegrou-se de forma tão dramática quanto instantânea. Há certo consenso de que os protestos de rua podem ser explicados em grande parte pelo acesso à informação, pela capacidade de mobilização dos jovens indignados com uma “classe política” e governos surdos aos apelos da população, que há anos vêm clamando por melhoria nos transportes públicos, segurança pública, por educação pública de qualidade, melhoria no funcionamento e atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre outras demandas.

Se de um lado assistimos ao surgimento e à expansão da classe C, por outro aumentaram tanto os casos quanto a denúncia e exposição destes na grande mídia e nos próprios canais de divulgação criados pelas instituições políticas, TV Câmara, TV Senado, TV Assembleia e similares. Nesse contexto, parcelas significativas da população, das mais diversas classes sociais confrontam-se com condutas baseadas em valores que são crescentemente criticados. O tal do “jeitinho brasileiro”, tentar resolver as coisas sem observância de princípios éticos, igualdade, honestidade, responsabilidade, dentre outros, bem como a abominação a condutas pautadas em ideias cabotinas, como a Lei de Gérson, que sugere que se deve levar vantagem em tudo o que se faz. Em última instância, as velhas práticas políticas começam a ser duramente criticadas pelos novos atores políticos, principalmente os jovens, que passaram a abominar práticas tais como familismo (privilegiar membros da família nas estruturas de poder e órgãos públicos estatais), clientelismo (favorecimento aos aliados políticos), nepotismo (favorecimento de parentes), mandonismo (o poder e o seu exercício mantêm-se restrito a uma parentela marcada pela posse do patrimônio).

Diante desse momento crítico pelo qual passa o planeta Terra, a humanidade precisa tomar consciência de que tem que escolher seu futuro, somando esforços na busca por alternativas mais sustentáveis de vida, onde a natureza e as pessoas têm que ser respeitadas.

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ENEM.COM Ética e consumo: um desafio aos jovens Se as sociedades modernas nos deixaram o individualismo como herança, as sociedades pós-modernas vêm construindo e fortalecendo valores eticamente questionáveis, tais como o consumismo, o narcisismo e o hedonismo.

Praticamente impossível viver alheio ao espírito do tempo, expressão do filósofo alemão Friedrich Hegel. Se afirmarmos, como muitos pais, os jovens de hoje são muito consumistas, provavelmente muitos sociólogos e antropólogos virão em socorro das novas gerações, argumentando que o comportamento dos jovens expressam as novas formas de sociabilidade, que eles estão inseridos na cultura de consumo, marca das sociedades pós-modernas. Se as sociedades modernas nos deixaram o individualismo como herança, as sociedades pós-modernas vêm construindo e fortalecendo valores eticamente questionáveis, tais como o consumismo, o narcisismo e o hedonismo. A juventude precisa ficar consciente dessa realidade e deve exercitar a reflexão sobre como esses “valores” impactam as suas vidas. Como cidadãos inseridos em qualquer comunidade, temos necessidades materiais a serem supridas. Precisamos de alimentos, moradias, es-

Eu etiqueta Carlos Drummond de Andrade Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente,

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colas, serviços de água e esgoto, de roupas etc. Numa sociedade capitalista, todas as coisas foram transformadas em mercadorias. O dinheiro transformou-se praticamente na única moeda de troca. A sociedade criou o termo “consumo” para explicar a necessidade de acesso aos bens que precisamos para viver.

Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, permência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda Seja negar minha identidade, Trocá-la por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser


Em termos da Ética, portanto, da nossa relação com os valores, o que está em jogo é estarmos “ligados”, ou seja, exercitar a reflexão no sentido de aprendermos a distinguir entre um comportamento de consumo consciente, responsável e outro de consumismo inconsequente. Muitas vezes, no mundo prático, não temos um manual que nos dê respostas fáceis e imediatas. Por isso, faz-se necessário exercitar a reflexão, pensar por si próprio, não se deixar levar por impulsos, propagandas, vendedores ou colegas. Nas últimas décadas, a valorização do corpo, da aparência e da imagem vem ganhando uma importância desmesurada. Esse fenômeno tem impactado a sociedade atual nas suas dimensões mais variadas. Entretanto, os adolescentes e os jovens têm sido influenciados de forma dramática e radical. A proliferação de academias de ginástica, de práticas corporais, de clínicas de estética comprova a obsessão pelo corpo e pela aparência perfeita. O narcisismo está na ordem do dia. Ser bonito nos dias atuais significa ser magro, malhado, esbelto, ter barriga de “tanquinho”, ou seja, ser gordo é um “pecado” mortal. A lipofobia, aversão à

gordura corporal, tornou a vida dos gordinhos um pesadelo. As consequências negativas para milhões de jovens que têm dificuldade em se enquadrar nos padrões de beleza da sociedade de consumo são variadas e complexas. De um lado, os meninos investem nos exercícios pesados, nos suplementos nutricionais, nos anabolizantes esteroides, com nefastos efeitos colaterais. Do outro, as meninas apostam nas dietas, as mais variadas e loucas possíveis, na frequência às academias e às clínicas de beleza. Chegamos num estágio em que, por conta das pressões para que as pessoas se conformem aos padrões de beleza idealizados pela sociedade de consumo e pela mídia, assistimos a um aumento assustador de cirurgias bariátricas, lipoaspirações e outras formas de cirurgias plásticas.

Eu que antes era e me sabia Tão diverso de outros, tão mim mesmo, Ser pensante sentinte e solitário Com outros seres diversos e conscientes De sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente.) E nisto me comparo, tiro glória De minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas, E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente,

Que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora Meu gosto e capacidade de escolher, Minhas idiossincrasias tão pessoais, Tão minhas que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tiram, recolocam, Objeto pulsante mas objeto Que se oferece como signo dos outros Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.

[...] por conta das pressões para que as pessoas se conformem aos padrões de beleza idealizados pela sociedade de consumo e pela mídia, assistimos a um aumento assustador de cirurgias bariátricas, lipoaspirações e outras formas de cirurgias plásticas. ENEM.COM CIDADANIA | ÉTICA

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Ética e Identidade Sexual: suicídio de jovens homossexuais nos EUA O adolescente não tem encontrado, no ambiente escolar, um espaço aonde as suas dúvidas quanto à sua sexualidade sejam esclarecidas. Via de regra, o estudante é levado a descobrir sozinho e com os amigos a sua própria sexualidade. Além disso, a falta de diálogo contribui para que a Escola seja um forte agente de construção e reprodução de conceitos e prejulgamentos contra as novas identidades sexuais e de gênero, e aos novos modelos familiares que têm emergido nas sociedades contemporâneas (FREITAS, 2014). Na escola é comum encontrarmos heterossexismo e homofobia nos livros didáticos, nas concepções de currículo, nos conteúdos heterocêntricos, nas relações pedagógicas normalizadoras. Surgem na hora da chamada (no furor em torno do número 24, sobretudo na recusa de se chamar a estudante travesti pelo seu “nome social”), nas brincadeiras e nas piadas consideradas inofensivas e usadas inclusive como instrumento didático. Estão nas rotinas de ameaças, intimidações, chacotas, moléstias, humilhações, tormentas, degradações, marginalização, exclusão etc. Nesse cenário, cabe perguntar qual a relação entre Ética e a formação da identidade sexual. Qual a relação entre sexualidade e Direitos Humanos? Se aceitarmos a definição de que a Ética é uma reflexão sobre os valores morais que normatizam as condutas humanas em sociedade, reconhecemos que discutir o direito de vivenciar a sexualidade pressupõe questionar valores, normas e comportamentos de forma aberta e democrática, longe de posturas fechadas, dogmáticas. Nas sociedades contemporâneas ocidentais assistimos a uma revolução nos costumes, principalmente em consequência das lutas por direitos das mulheres, dos negros e dos homossexuais. Desses três segmentos, o dos homossexuais, frequentemente expresso na sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros), tem sido aquele que mais tem encontrado resistências sociais às suas lutas. As dificuldades começam no direito elementar de assumir socialmente a sua orientação sexual, ou seja, o indivíduo encontra um conjunto de obstáculos sociais e culturais para ser o que ele é, em termos dos seus desejos sexuais. Quando ele consegue aceitar em algum nível a sua condição, esbarra nas resistências sociais para que ele concretize algum tipo de relação afetiva com alguém que compartilhe a mesma realidade que a dele, como uma união estável, por exemplo.

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Não há dúvidas que do ponto de vista legal algumas conquistas foram feitas, mas isso não significa que a sociedade e as famílias tenham incorporado essas novas realidades de forma pacífica. Na prática, mesmo nas sociedades ditas liberais, encontramos amplos grupos conservadores que renegam as mudanças e os novos costumes. As consequências dessa visão de mundo heterossexista, onde o “normal” é ser heterossexual e machista, marcada ainda pela dominação masculina, na vida dos adolescentes e dos jovens é devastadora, porquanto parte desses jovens apresentam reações negativas e depreciativas em relação a si mesmos, acabando por elaborar processos de autorrejeição, culpabilização e depressão. Recentemente o Presidente Barack Obama fez um pronunciamento, em cadeia nacional, de repúdio à violência contra pessoas da comunidade LGBT. A motivação do presidente foi o aumento de suicídio entre jovens homossexuais. Um dos casos que chamou a atenção da mídia nacional americana foi a onda de suicídios ocorridos nas escolas do distrito de Anoka-Hennepin, em Minnesota, nos Estados Unidos. Devido à gravidade do caso, a jornalista Sabrina Rubin Erderly escreveu uma chocante reportagem para a revista Rolling Stone intitulada “A guerra de uma cidade contra os adolescentes gays”, publicada em fevereiro de 2012. Com base nessa reportagem, apresentamos trechos do depoimento de Jeanne Callegari (http://blogueirasfeministas.com/2012/02/ bullying-anti-gay-e-suicidio/), cujo marido estudou numa das escolas desse distrito. Segundo ela, em 1997, quando seu marido terminou o colégio, o bullying escolar era muito forte. Não tão ruim, porém, como chegaria a ser no final dos anos 2000, quando nove adolescentes cometeram suicídio em um período de dois anos. Segundo Jeanne: “Samantha Johnson foi uma das primeiras a morrer. Ela era uma ‘tomboy’, termo em inglês para designar meninas pouco ‘femininas’, ‘machonas’. Ela estava no oitavo ano (8th grade), e era uma menina alegre, que aparentemente conseguia lidar bem com o bullying na escola. Quando as colegas de time de vôlei a barraram do vestiário, dizendo que ela era um garoto, ela simplesmente parou de frequentar as aulas. Sam também estava envolvida na organização de um clube da Gay Straight Alliance (‘Aliança entre Gay e Héteros’), um ponto de encontro para que os jovens pudessem falar abertamente sobre sua sexualidade. Brittany Geldert, de 13 anos, ela mesma uma ‘tomboy’, confiava na amiga Sam para ajudar a lidar com os comentários maldosos e os ataques que recebia todos os dias. Brittany mal pôde acreditar quando soube que Sam entrara na banheira e dera um tiro de espingarda na cabeça. Era o dia 22 de novembro de 2009. Antes de Sam, um garoto havia se matado em outra escola do distrito. E depois dela, viriam muitos outros. Dos nove estudantes mortos em dois


anos, quatro eram gays, ou percebidos como gays pelos colegas. Vários sofriam bullying. Um problema nacional nos Estados Unidos: a reportagem da RS traz o dado de que jovens lésbicas e gays tentam o suicídio quatro vezes mais que os héteros; um terço dos jovens gays tentou suicídio em algum momento (contra 13% dos héteros). E mesmo entre os jovens héteros, o suicídio dos colegas gera o efeito de epidemia. “Os garotos começaram a sentir que a resposta normal ao stress era tirar a própria vida”, afirmou o psicólogo Dan Reidenberg para a Rolling Stone. No livro O Poder das Conexões (Ed. Campus), o médico e pesquisador Nicholas Christakis fala das epidemias de suicídios entre adolescentes, um grupo social altamente suscetível a esse tipo de influência. Esse fato é conhecido como Efeito Werther, por conta da onda de suicídios causadas pela obra Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, no século 18. Os professores de Anoka viam os alunos gays serem abusados e provocados pelos colegas todos os dias. Eles, porém, não podiam se manifestar. Em 1994, o sobrinho de uma senhora americana chamada Barb Anderson teve uma aula de saúde e sexualidade na escola. A aula tratava da homossexualidade como uma coisa normal. Barb, uma ex-professora de espanhol, membro do grupo conservador Minnesota Family Council, ficou ultrajada. E entrou em uma cruzada pessoal anti-gays. Ela e mais quatro pais conseguiram entrar no comitê de revisão do currículo de saúde e sexualidade, que iria definir as diretrizes a serem seguidas pelas escolas públicas das 13 cidades que compõem o distrito de Anoka-Hennepin (nos Estados Unidos, as escolas públicas seguem as regras e as políticas determinadas por seu distrito). O grupo argumentou que qualquer forma de tolerância à homossexualidade era uma forma de promovê-la, transformando jovens héteros em gays. ‘Abram seus olhos, pessoal,’ ela escreveu para o jornal local. “E se um jovem de 15 anos for seduzido para o comportamento homossexual e então contrair AIDS?” Depois de sete meses de discussões, os conservadores venceram. Conseguiram aprovar uma diretriz dentro do currículo de saúde, em que a ‘homossexualidade não deveria ser tratada como um modo de vida normal ou válido [...]’. A política veio a ser conhecida como No Homo Promo, que foi transmitida sem muito alarde aos professores. Nada foi comunicado aos pais. As discussões sobre o tema em sala de aula foram diminuindo, até acabarem de vez. A posição de Barb e do MFC não é única. Na região de Anoka, grupos religiosos ultraconservadores têm muita força. “Para igrejas como a First Baptist Church of Anoka, a homossexualidade é uma forma de doença

mental causada por disfunção familiar, traumas na infância e exposição à pornografia – uma perversão curável por meio de terapia intensiva”, diz a reportagem da Rolling Stone. Eles têm o apoio da parlamentar Michele Bachmann, que representa o distrito no congresso americano. Bachmann estudou na Anoka High School, mesmo colégio de meu marido, e palco de alguns dos suicídios dessa história. Estaria tudo muito bem se as crenças dos grupos religiosos fossem mantidas em foro privado. Mas não é o que acontece. Uma das ações das igrejas conservadoras, por exemplo, é o Day of Truth (‘Dia da Verdade’), em que visitam as escolas para falar que homossexualidade é errado e convidar os jovens ‘pecadores’ a procurarem a cura. Distribuem camisetas e estimulam o diálogo anti-gay. Os grupos também criticaram duramente a criação dos Gay Straight Alliance Clubs, que chamaram de “clubes de sexo”. Ao pressionarem o conselho do distrito a não tratar de homossexualidade, os grupos religiosos e ‘pró-família’ mostraram sua força e ajudaram a selar o destino dos adolescentes que viriam a morrer anos depois. No sétimo suicídio, do garoto Justin Aaberg, de 15 anos, o distrito ficou em estado de alerta. Já não era possível fingir que nada estava acontecendo. Alguns professores começaram a desafiar as regras e falar do tema. Os estudantes ficaram chocados ao descobrir a diretriz que era a causa do silêncio anterior dos professores. A mãe de Justin, o adolescente que se enforcara em seu quarto com um cinto, ficou enraivecida. Tornou-se uma militante pelos direitos LGBT em Anoka, e fez uma petição pedindo a Michele Bachmann que denunciasse o bullying anti-gay nas escolas do distrito. Outros grupos LGBT tomaram conhecimento da questão, e o assunto começou a ser investigado. Finalmente, as coisas começavam a mudar.” Muitas vezes elaboramos o suicídio como resultado de enorme sofrimento psíquico do indivíduo e depositamos sobre o sujeito toda a responsabilidade do ato que cometeu. Contudo, o fundador da escola francesa de sociologia, Émile Durkheim, ensinou-nos que toda a sociedade, com seus valores e crenças, é responsável pelas mortes voluntárias que produz. De acordo com a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, jovens LGBT têm até cinco vezes mais risco de cometerem suicídio que pessoas heterossexuais. Dados como este, contribuíram para campanhas do tipo It Gets Better (algo como “ficará melhor”), que tem como objetivo conscientizar jovens LGBT contra o suicídio, obtendo apoio e participação da produtora Pixar, do Facebook e até do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

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O prazer imediato, e de preferência contínuo, tornouse a grande droga da atualidade.

Nesse contexto de uma cultura do narcisismo, que coloca em risco a saúde e a vida das pessoas, faz-se necessário o exercício da reflexão. Faz-se necessário confrontar valores sob o crivo da reflexão ética. Qual o mais importante: ética saúde ou aparência? Melhor um pouco de gordura a mais ou correr risco de adoecer ou morrer? Melhor esperar ficar forte obedecendo ao ritmo da natureza ou tomar drogas anabolizantes que podem destruir a saúde ou matar? A sociedade atual padece de outro mal valorativo, tão presente em nossa época, quanto pouco discutido: o hedonismo. Na contemporaneidade os jovens têm sido os sujeitos sociais mais impactados pela ideia de que a vida é um grande playground, onde não há espaço para o sofrimento e muito menos para a dor. O prazer imediato imediato, e de preferência contínuo, tornou-se a grande droga da atualidade. Mais correto seria afirmar que por conta da busca incessante pelo prazer, ou por coisas e experiências que possam produzi-lo, assistimos a escalada do consumo de drogas, do sexo irresponsável e do enfraquecimento de valores como responsabilidade e compromisso. Não se trata de defender o sofrimento, a tristeza e a dor. Pelo contrário, o prazer consciente e responsável insere-se no projeto maior da vida humana, que é a felicidade. A felicidade é uma conquista resultante de uma vida construída com os tijolos da sabedoria, com base nos erros e acertos que a experiência que é a vida nos oferece a cada dia. Quanto mais cedo aprendermos que nossa grandeza reside na nossa liberdade e que liberdade não tem preço, tem consequências, mais rapidamente compreenderemos que nossas vidas são resultados de nossas escolhas. O melhor da vida é que, na medida do possível, podemos recomeçar, refazer caminhos, ajustar rotas de acordo com as escolhas que fazemos, em qualquer altura da vida, sejamos jovens ou velhos.

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Ética, Política, Rebeldia e Democracia Em junho de 2013, na esteira de vários levantes ao redor do planeta, o Brasil foi sacudido pela ‘multidão’, ora festiva, ruidosa, sonhadora, ora conservadora, indignada, violenta. Em protestos gigantescos como há muito não se via, ruas e prédios foram ocupados, palavras de ordem, multivariadas e díspares, foram cantadas a pulmões plenos, prédios públicos foram atacados, entre eles o Palácio do Itamaraty, bancos e lojas foram depredados, naquele já histórico mês que seria seguido de um de ano de movimentações mais setoriais de rua, mais ou menos intensas, até desaguar, em junho de 2014, no já combalido movimento ‘Não Vai ter Copa’, que nem por isso deixou de preocupar as distintas esferas do governo, provocando-lhes reação desproporcional. A grande protagonista dessa inflexão política que pôs nossa incipiente democracia em xeque foi, uma vez mais, a juventude brasileira. A exemplo do que acontecia em outros países, milhões de jovens articularam-se pelas redes sociais de modo e velocidade inéditas e acorreram às ruas, inicialmente pelo problema da mobilidade urbana (não é só pelos vinte centavos), passando pelo já desbotado e estéril grito ‘contra a corrupção’, até chegar ao questionamento da democracia representativa enquanto tal na provocativa palavra de ordem: ‘sem partido’. A aurora da nossa mais longeva democracia foi marcada pelo ‘impeachment’ do primeiro presidente eleito no pós-ditadura de 64/85, quando a juventude (cara pintada) também teve papel de destaque. Um duro teste para as nossas instituições que se revelaram bastante sólidas àquela ocasião e que acabou por direcionar boa parte da esfera pública para a crescente ‘criminalização’ da política – o efeito colateral e reverso do movimento político e social de destituição legal do presidente. ‘Pela Ética na Política’ e ‘Contra a Corrupção’ são os mantras dominantes dessa criminalização da atividade política que passou a ser identificada, em princípio, com um jogo sujo de vantagens ilícitas tomadas de parte a parte, contra o interesse geral da ‘sociedade’. Em contrapartida, a moralidade da


Falta de Ética: Corrupção Desde o processo de redemocratização do Brasil, retomado com a Constituição de 1988, a sociedade brasileira vem expressando seu incômodo com a corrupção, principalmente na política e nas instituições públicas. Os frequentes casos de corrupção praticados por políticos e veiculados na mídia acabaram por desgastar a Política como espaço de solução pacífica de conflitos. É muito comum ouvir as pessoas comentarem que não gostam de Política, quando é provável que não gostem dos políticos. Esse clima de desvalorização da Política tem influenciado muitos jovens. Há indícios fortes de que a desilusão da juventude é com os partidos e a forma tradicional de fazer política, mas isso não significa que os jovens estão desengajados. Segundo matéria publicada no Correio Braziliense (12/08/2014), apesar da desilusão com a política tradicional, muitos jovens pretendem votar nas eleições de 2014. Vale a pena conhecer o posicionamento de alguns deles: Marina Serra dos Santos, 17 anos: “Na minha opinião, muitas pessoas não encontram representação [entre os partidos]. A juventude acordou, quer mudanças, mas não sabe identificar o que quer que mude. A política vai muito além do que está acontecendo na Esplanada [dos Ministérios]. Tem a corrupção em pequena escala, o ‘jeitinho’ brasileiro. [O apartidarismo] não é só característica das manifestações no Brasil. O Occupy [movimento Occupy Wall Street, iniciado nos Estados Unidos, contrário às distorções sociais, ganância e corrupção] era assim. A gente viu em junho [durante as manifestações] que não era só política [tradicional]. Tinha movimento LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros e transexuais] e muitos outros”, comenta.

João Felipe Amaral Bobroff, 17 anos, presidente de grêmio estudantil: “A juventude é politizada, mas apartidária. Política não é só partido. Temos um sistema eleitoral que só dá espaço para quem entra com muito dinheiro. Não é doação, é financiamento [de campanha]”, critica. Para João Felipe, as manifestações de junho reuniram “pessoas defendendo ideais”. “É isso que está faltando, e também viver esses ideais no dia a dia”, defende. Isabela Albuquerque, 16 anos: “A gente não viu esses partidos nascerem e hoje são tantos que a gente tem dificuldade de saber de que lado eles estão. Muitos da nossa geração acreditam pouco justamente por causa disso, do número de partidos, das alianças feitas”, avalia. (http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2014/08/12/interna_politica,441864/jovens-criticam-politica-partidaria-e-negam-rotulo-de-despolitizados.shtml.) Um estudo realizado em 2013 intitulado “Agenda Juventude Brasil: Pesquisa Nacional sobre Perfil e Opinião da Juventude Brasileira”, aplicou questionários a 3,3 mil jovens, com idade entre 15 e 29 anos, distribuídos em 187 municípios, incluindo capitais, interior, áreas urbanas e rurais, nos 27 estados brasileiros. Essa pesquisa revelou que a corrupção é o problema que mais incomoda os jovens brasileiros Ainda de acordo com uma pesquisa divulgada pelo governo federal na quinta-feira (08/08/2013), traçando um retrato do perfil e da opinião da juventude brasileira – em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude, a Secretaria-Geral da Presidência da República e empresas de consultoria, além de ter apontado que a corrupção aparece em primeiro lugar entre os problemas que mais incomodam os jovens no Brasil – tendo sido o problema número 1 escolhido por 36% dos jovens pesquisados, à frente da grande desigualdade entre ricos e pobres (20%), o poder dos traficantes (13%) e o racismo e outras formas de discriminação (10%). Vale destacar que o problema que mais preocupa o jovem brasileiro é a violência, mencionada por 43% dos entrevistados. O questionário foi aplicado entre os meses de abril e maio do ano de 2013, pouco tempo antes do início dos protestos de rua que marcariam a história política do país. Fonte: http://oglobo.globo.com/brasil/violencia-corrup cao-sao-os-maiores-problemas-do-pais-para-os-jovens-diz-pesquisa-9436726.

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O que eu consigo ver é só um terço do problema É o Sistema que tem que mudar Não se pode parar de lutar Senão não muda A Juventude tem que estar a fim, Tem que se unir, O abuso do trabalho infantil, a ignorância Só faz destruir a esperança Na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério Deixa ele viver! É o que Liga. Charlie Brown Jr.

A pesquisa “Agenda juventude Brasil: Pesquisa Nacional sobre Perfil e Opinião da Juventude Brasileira” revelou que para 45% dos jovens consultados, participar das manifestações, dos protestos de rua, é uma forma de melhorar o Brasil. Se levarmos em conta que a Ética é uma reflexão sobre os valores e as normas que orientam as ações humanas, podemos deduzir que as condutas dos indivíduos fornecem pistas para compreender o que leva as pessoas a terem condutas boas ou más, a se engajarem em ações que beneficiem ou prejudiquem a sociedade. O refrão da música do Charlie Brown Jr., “Na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério”, é bastante reveledor de como a sociedade brasileira contemporânea vem construindo uma imagem negativa sobre o jovem. É comum associá-lo à indisciplina escolar, à rebeldia, à deliquência, à criminalidade, à violência, à drogadição, ao sexo irresponsável etc. Entretanto, a realidade é bem mais complexa. Se nos dermos ao trabalho de olhar de forma crítica para a realidade, veremos que os jovens estão bastante engajados nas questões sociais e políticas. Podemos afirmar que os adolescentes e os jovens que têm participado do Fórum Mundial Social, criado em Porto Alegre (2001), são movidos pelo desejo de participar concretamente de mudanças sociopolíticas pautadas nesses encontros. Em 2010, o Fórum debateu a temática da juventude, reconhecendo a importância do protagonismo jovem na trajetória do FMS.

Foco nos jovens Outro ponto curioso é que a mudança de foco nos temas atraiu mais jovens para o Fórum. Essa foi a conclusão da pesquisa lançada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), a uma semana do evento. O levantamento mostrou que uma nova geração de ativistas procura espaço no evento, que mudou de perfil na última década. A pesquisadora do Ibase, Marina Ribeiro, explicou que o Fórum Social Mundial desse ano apresenta como característica nova uma mudança no perfil dos participantes. Segun-

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do ela, antes ele era representado por grandes movimentos tradicionai,s como sindicatos, empresas e ONGs, e hoje é composto por grupos de jovens ativistas que defendem várias causas sociais. O levantamento do Ibase entrevistou 2.262 participantes na edição do Fórum de Belém (PA), dos quais 64% têm entre 14 e 34 anos. Do total, 8% têm mestrado ou doutorado, 34% têm formação superior, 39% ainda não concluíram a faculdade, 15% têm entre 9 e 12 anos de estudo e os demais afirmaram ter até 8 anos de escolaridade. A pesquisa também constatou que 76% participavam do evento pela primeira vez, o que, segundo o texto, é “um indicativo de renovação”. Fonte: http://www.buscajovem.org.br/noticias/juventude-e-pauta-no-forum-social-mundial-de-porto alegre

Outro evento que engajou e mobilizou milhares de jovens, talvez milhões de brasileiros, foi a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) ocorrida no início de 2014 em solo brasileiro. Mais uma vez podemos identificar como significativas parcelas da juventude estão sensíveis aos problemas sociais, políticos, éticos e religiosos que afligem a sociedade atual. Sejam se engajando em movimentos políticos conservadores ou progressistas, há indícios de que esses jovens, com maior ou menor intensidade, vêm incorporando valores de uma sociedade democrática, tais como dignidade da pessoa humana, justiça social, ética, preservação da natureza, solidariedade, igualdade, liberdade, dentre outros. Aquém dos eventos de grande envergadura, os jovens têm cada vez mais procurado se engajar em luta por Direitos de segmentos socialmente vulneráveis, tais como as mulheres, negros, índios, LGBT, pessoas com deficiência etc. Entretanto, nenhum acontecimento político recente vem causando mais perplexidade entre os estudiosos dos fenômenos sociais, na sociedade e entre os próprios políticos como os protestos de rua.


gente comum, dos setores financeiro e empresarial, das igrejas, dos meios de comunicação, dos grandes proprietários rurais, não é severamente questionada, a menos que a ‘gente comum’ se organize em um movimento de protesto coeso e determinado, caso ilustre do ‘MST’ e mais recentemente do ‘MTST” (nesses casos, a criminalização se torna menos retórica e mais eficaz do ponto de vista policial e jurídico). A despeito das duas últimas décadas de avanços inequívocos-institucionais, jurídicos, econômicos e sociais, que viram se alternar no poder dois projetos políticos desenhados ainda no seio da luta contra a ditadura, e levados ao poder por uma militância também jovem e sonhadora, sobretudo no caso petista, não se conseguiu forjar para as novas gerações uma cultura política de afeto e zelo pela própria democracia da qual é a primeira beneficiária integral na história brasileira, posto que nascidas sob suas asas. O grito moral ‘sem partido’, antes de ser emancipacionista, pareceu apontar a direção oposta; não suprapartidário, mas apartidário, o que sempre se revelou retrocesso, estancamento de forças civilizatórias, como a história nos mostra fartamente. São tempos como esses - de crítica, crise, julgamento, deliberação -, de descida aos fundamentos das convicções da moralidade ordinária, disposta em suas multiversões conflitantes, característica incontornável da quase insustentável experiência

democrática, momentos de debates públicos acalorados sobre o que nos une e nos separa, da descoberta do lado em que estamos, do horizonte de vida que almejamos, do enfrentamento dos fantasmas do passado e, sobretudo, das causas comuns nas quais podemos nos engajar, são essas as únicas possíveis experimentações de uma vivência ética radical na esfera política. Os ‘inimigos íntimos’ da democracia não cessarão de criminalizar a política, decantando-lhe o caráter radicalmente conflitivo, ofuscando os interesses corporativos e de classe, e jogando ‘tudo o que aí está’ na vala comum do lixão, prospectando o sempre bem-vindo (a) ‘salvador(a)’ da pátria. À geração que atinge hoje as duas décadas de vida cumpre agora uma tarefa árdua: a descoberta de sua própria condição, de guardiões zelosos ou de carrascos da democracia. Que país entregarão aos seus filhos? Não ser apenas representado, mas também participar de modo permanente dos destinos de seu país, fortalecendo, radicalizando a ideia de justiça política e social, direitos fundamentais e humanos, cidadania e utopia. Só assim se põe ética na política. Sandra Helena de Sousa, filósofa especialista em Lógica Hegeliana

REFERÊNCIAS AMORIM, Rosendo Freitas, GOMES, Annatália Menezes de Amorim e MOURA, Escolástica Rejane Ferreira. O lugar da ética e da bioética nos currículos de formação médica. Revista brasileira de educação médica. 30 (2): 56 - 65; 2006. AMORIM, Rosendo Freitas e outros. Senso comum, ciência e filosofia - elo dos saberes necessários à promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 12 (2):501-509, 2007. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental. Educação Ambiental: Por um Brasil Sustentável ProNEA, Marcos Legais & Normativos. Brasil, 2014. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâ-

metros Curriculares Nacionais : Terceiro e Quarto Ciclos: Apresentação dos Temas Transversais Brasília: MEC/SEF, 2001. FREITAS, Sílvio Estênio Rocha de. O desafio da promoção da saúde na escola pública frente ao preconceito e à discriminação relacionados á construção da identidade homossexual. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade de Fortaleza (UNIFOR), 2014. SILVEIRA, Renê José Trenin. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – Brasilia: O Instituto, 1994. http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/estante/ etica-meio-ambiente-dale-jamieson-621166.shtml

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Bullying | Violência | Drogas | Pluralidade Cultural | Meio Ambiente | Ética ROSENDO FREITAS AMORIM | Possui doutorado em Sociologia (UFC), mestrado em Sociologia (UFC), especialização em Lógica Dialética e licenciatura em Filosofia e História (Uece). É assessor técnico da Secretaria de Educação do Estado do Ceará, professor titular e efetivo do mestrado em Saúde Coletiva da Unifor, onde é também professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Direito. Tem experiência na área de Direito, com ênfase no ensino e pesquisa jurídica, direitos humanos e política. No campo da saúde tem experiência com a socioantropologia relacionada à saúde, ao corpo, ao gênero e à etnia. LINDALVA COSTA DA CRUZ | É graduada em História (UFC) e em Pedagogia, com habilitação em Supervisão Escolar (Uece). Especialista em Tecnologias em Educação (PUC/RJ), mestre em Avaliação de Políticas Públicas (UFC), e é assessora técnica da CODEA/Diversidade e Inclusão Educacional/Educação Ambiental da Secretaria de Educação do Estado do Ceará. A68e

Amorim, Roseno Freitas Ética / Roseno Freitas Amorim; Lindalva da Costa Cruz. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha /Universidade Aberta do Nordeste, 2014. 16p.: il. Color (Coleção Enem.com Cidadania) ISBN 978-85-7529-620-2 ISBN 978-85-7529-626-4 1. Ética. I. Cruz, Lindalva da Costa. II. Título CDU 17

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Apoio

EXPEDIENTE FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência João Dummar Neto ¦ Direção Geral Marcos Tardin UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Coordenação PedagógicoAdministrativa Ana Paula Costa Salmin ENEM.COM CIDADANIA Coordenação Geral e Editorial Raymundo Netto ¦ Gerência de Produção Sérgio Falcão ¦ Edição de Design Amaurício Cortez ¦ Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Sérgio Fujiwara ¦ Ilustrações Rafael Limaverde ¦ Revisão Textual Milena Bandeira ¦ Catalogação na Fonte Kelly Pereira FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora - CEP 60.055-402 - Fortaleza- Ceará - Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 - www.fdr.com.br - fundacao@fdr.com.br Este fascículo é parte integrante da Coleção Enem.com Cidadania da Universidade Aberta do Nordeste, em decorrência do Convênio celebrado entre o Governo do Estado do Ceará, por meio de sua Casa Civil, e a Fundação Demócrito Rocha, sob o nº 90/2014.


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