Produtor de Maracujá

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produtor de

maracujĂĄ

Geraldo Correia de AraĂşjo Filho | Marconi Seabra Filho | Francisco de Assis Castro


Copyright © 2003 by Luís Alfredo Pinheiro Leal Nunes e Petrônio Emanuel Timbó Braga

Fundação Demócrito Rocha (FDR)

Instituto Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC)

Presidente João Dummar Neto

Diretor Presidente Francisco Férrer Bezerra

Diretor Geral Marcos Tardin

Diretoria de Extensão Tecnológica e Inovação Afonso Odério Nogueira Lima

Edições Demócrito Rocha (EDR)

Diretoria de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação Afonso Odério Nogueira Lima

(Marca registrada da Fundação Demócrito Rocha)

Editora Executiva Regina Ribeiro Editor Adjunto Raymundo Netto

Diretoria Administrativo-Financeira Antônio Elder Sampaio Nunes Convênio institucional entre Fundação Demócrito Rocha e Instituto CENTEC Secretaria da Ciência e Tecnologia e Educação Superior do Ceará - Secitece

Gerente de Produção Sérgio Falcão Editor de Design Amaurício Cortez Coordenação Editorial Eloísa Maia Vidal Revisão Textual Miguel Leocádio Araújo Capa Welton Travassos Editoração Eletrônica Cristiane Frota Ilustrações Welton Travassos, Elinaudo Barbosa, Leonardo Filho e Erivando Costa Fotos Banco de Dados O POVO Catalogação na Fonte Kelly Pereira

Araújo Filho, Geraldo Correia de Ar15p Produtor de Maracujá/ Geraldo Correia de Araújo Filho; Marconi Seabra Filho; Francisco de Assis Castro. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha; Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC, 2014. 40 p.: il. color. - (Coleção Formação para o Trabalho 2)

ISBN 978-85-7529-646-2

1. Maracujá - Produção. I. Seabra Filho, Marconi. II. Castro, Francisco de Assis. III. Título. CDU 582.842.7

Todos os direitos desta edição reservados a:

Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora, Fortaleza-Ceará - CEP 60.055-402 Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 Fax: (85) 3255.6271 www.fdr.com.br


Sumário Apresentação..........................................4

Lição 5

Lição 1

Pragas e seu controle...........................26

Aspectos botânicos, clima e solo...........5

Lição 6

Lição 2

Doenças e seu controle........................32

Propagação............................................9

Lição 7

Lição 3

Colheita, rendimento e coeficientes técnicos.............................37

Instalação do pomar.............................12

Lição 4 Tratos culturais.....................................22

Referências...........................................40


Apresentação O

A casca e as sementes do maracujá, como subprodutos da industrialização do suco, podem ser processadas para fabricação de rações, óleos comestíveis, adubos, etc. O Brasil destaca-se como o primeiro produtor mundial de maracujá e um dos principais exportadores de seu suco ao lado da Colômbia e do Equador.

maracujá é uma planta nativa da América Tropical – provavelmente do Brasil – e hoje é cultivada em diferentes partes do mundo (Austrália, Quênia, Ceilão, Havaí e outros). A primeira referência ao maracujá no Brasil, data de 1587, na obra Tratado Descritivo do Brasil como “erva que dá fruto”. Porém, foi Nic Monardis quem, em 1569, descreveu a primeira espécie do gênero Passiflora, a saber P. incarnata L., mas sob o nome de Granadilla. O maracujá tem mais de 150 espécies nativas no Brasil e, devido às suas propriedades terapêuticas, possui valor medicinal. Seu uso principal, no entanto, está na alimentação humana, na forma de sucos, doces, geleias, sorvetes e licores. É rico em vitamina C, cálcio e fósforo. Na década de 70, a comercialização do produto baseava-se apenas no mercado in natura. Nos anos 80, as indústrias extratoras de suco estimularam a expansão da cultura e o mercado do produto industrializado. Na década de 90, a cultura apresenta

sua maior expansão como uma alternativa agrícola mais atraente para a pequena propriedade. O retorno do capital investido é rápido e permite ao produtor dispor de um capital de giro durante quase o ano todo, variando esse período de acordo com o local de produção, podendo ser de doze meses no Pará, dez meses na Bahia, sete a nove meses em São Paulo e assim por diante. Segundo os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a área plantada no País, em 2010, superou os 62.000 hectares, com volume de produção de 920.158 toneladas. A região Norte participou com 5,35% da produção, a Nordeste com 75,99%, a Sudeste com 13,85%, a Sul com 1,80% e a Centro-Oeste com 3,01%. O Estado que mais produziu maracujá no ano de 2010, segundo o IBGE, foi a Bahia com 461.105 toneladas, seguido do Ceará, com 159.886 toneladas. Este manual tem o objetivo de orientar os produtores de maracujá na busca por uma maior produtividade.

Este projeto conta com a parceria do Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC, que por meio de convênio interinstitucional com a Fundação Demócrito Rocha, assegura a elaboração dos textos visando trabalhar com a formação profissional básica para a população cearense. Este manual tem como objetivo disponibilizar material de baixo custo e alta qualidade técnica, editorial e pedagógica criando condições para que cidadãos tenham acesso a educação para o trabalho, com vistas à inclusão social, criando um ambiente propício para geração de emprego e renda.

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá


Lição 1

Aspectos botânicos, clima e solo

O

maracujá é o fruto do maracujazeiro, planta trepadeira, lenhosa, perene e originária da América do Sul. É muito cultivado para produção dos frutos, que são industrializados, principalmente, na forma de suco.

Aspectos botânicos O maracujá pertence à família dos Passifloraceae, apresentando 14 gêneros com cerca de 580 espécies. São exploradas comercialmente as seguintes espécies: ■■Passiflora edulis - maracujá roxo. ■■Passiflora edulis f. flavicarpa Deg – maracujá amarelo.

■■Passiflora

alata Ait – maracujá doce. O maracujazeiro é uma planta que tem crescimento vigoroso e contínuo, podendo atingir 10 m de comprimento. O caule na base é lenhoso e bastante lignificado, diminuindo o teor de lignina à medida que se aproxima do ápice da planta. Na axila de cada folha trilobada existe uma gavinha, uma gema florífera que irá originar uma flor e uma gema vegetativa dando origem a um ramo.

O maracujá apresenta na sua composição elevado teor de açúcares, ácidos orgânicos, sendo ainda um dos frutos mais ricos em Riboflavina (vit. B2), Ácido nicotínico (vit. PP), bom teor de ácido ascórbico (vit. C) e caroteno (vit. A).

Banco de Dados/O POVO

Qual a família e as espécies do maracujá que são exploradas comercialmente?

A flor do maracujá tem uma aparência muito bonita

As flores do maracujazeiro são hermafroditas e protegidas por brácteas foliáceas, possuindo um colorido atraente, com abundância de néctar, ocasionando forte atração

aos insetos polinizadores. O principal agente polinizador do maracujazeiro no Brasil é mamangava, uma “abelhona” preta do gênero Xulocopa, que vive nas matas.

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O que é auto –incompatibilidade? Esse fenômeno é bom ou ruim para o maracujazeiro?

As folhas e raízes do maracujazeiro possuem a maracujina, a passiflorina e calmofilase, princípios farmacêuticos muito usados como sedativos, antiespasmódicos, anti-inflamatórios, depurativos e suas sementes atuam com vermífugos.

Observações importantes ■■Nas

espécies Passiflora edulis Sims e Passiflora edulis f. flavicarpa Deg., as flores abrem-se a partir do meio-dia e fecham-se à noite, uma única vez, razão pela qual as pulverizações devem ser realizadas pela manhã para não prejudicar a polinização. ■■O maracujazeiro apresenta o fenômeno da autoincompatibilidade,

ou seja, a fecundação só ocorre quando uma flor de uma planta é fecundada com o pólen de outra. ■■O fruto do maracujazeiro tem o tamanho e o formato diferenciados conforme a espécie. O rendimento de suco varia entre 30 a 40% em relação ao peso do fruto nas espécies popularmente conhecidas como maracujá roxo e maracujá amarelo ou azedo. ■■O sistema radicular do maracujazeiro é do tipo pivotante, com as raízes distribuindo-se uniformemente em toda a camada superficial do solo, nos primeiros 30 cm de profundidade. Edson Pio

O fruto do maracujazeiro pode ser encontrado nas feiras livres e supermercados

Variedades Até pouco tempo atrás, não havia nenhum cultivo comercial de maracujá, uma vez que a sua multiplicação só tem sido feita por meio de sementes. Esse processo impede a manutenção das características genéticas de uma variedade, devido ao fenômeno da autoincompatibilidade e da grande variação genética da cultura.

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

Existe grande heterogeneidade entre plantas vindas de sementes de um mesmo fruto. Ocorrem também diferenças no tamanho, conformação e variação quanto à cor, aroma, sabor e quantidade de suco. Depois de anos de pesquisa, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lançou híbridos de maracujá amarelo. Os híbridos Série IAC 270 (IAC-273, IAC-275 e IAC-277) foram selecionados pela qualidade de fruto e produtividade


Observações ■ ■O

maracujá-amarelo é a espécie mais cultivada por ser mais vigorosa e mais adaptada aos dias quentes e apresenta frutos de maior tamanho com peso entre 43 e 250 g, maior produção por hectare, maior acidez total e maior rendimento em suco. ■■O maracujá-roxo é mais indicado para regiões de maior altitude e climas mais frios. Os frutos apresentam pesos entre 32 e 220 g, maiores percentagens de açúcares e maiores teores de sólidos solúveis totais (Brix), quando comparados com o maracujá-amarelo. ■■O maracujá-doce é destinado ao mercado de frutas frescas onde alcança bons preços. Seus frutos são ovais ou piriformes e pesam entre 80 e 300 g. As flores dessa espécie são grandes e pesadas, abrem-se nas primeiras horas da manhã e fecham-se ao anoitecer. ■■Os frutos dos três híbridos das cultivares produzidas no IAC são bem semelhantes entre si: o IAC277 apresenta frutos maiores e mais alongados; o IAC-275 tem maior proporção de frutos com polpa de coloração alaranjada intensiva, extremamente atrativa e aromática. IAC-273, por sua vez, é o de maior produtividade.

Clima O maracujazeiro, sendo uma planta tropical, não se adapta a regiões sujeitas a geadas e ventos frios que afetam o florescimento, interferindo no vingamento dos frutos. Em baixas temperaturas, os maracujazeiros são menos vigorosos e os frutos são de qualidade inferior. Devem ser evitadas também áreas sujeitas a ventos quentes e secos, pois causam o mur-

chamento das folhas, diminuindo a quantidade e qualidade dos frutos produzidos. Essa planta frutífera se desenvolve bem em regiões com altitudes entre 10 e 900 m, temperatura média em torno de 26 ºC, umidade relativa baixa e precipitação pluviométrica entre 800 e 1.750 mm, bem distribuídas durante o ano. Em áreas onde o período seco é prolongado, o uso de irrigação é indispensável para compensar a falta ou irregularidade de chuvas. Precipitações intensas durante o período de floração são prejudiciais, uma vez que os grãos podem, em contato com a água, romperemse, diminuindo assim a produção. No período chuvoso, geralmente ocorre diminuição nas horas de luz, reduzindo o florescimento e ocasionando queda na produção. Um dos aspectos importantes que devem ser observados no cultivo do maracujá é a luminosidade. Para que haja frutificação abundante e de qualidade, é necessário que a planta esteja exposta aos raios solares.

Fale sobre as variedades de maracujá.

Solo O maracujazeiro se adapta aos mais diferentes tipos de solo. Entretanto, não é recomendável implantar a cultura em solos pesados, com pH inferior a 5,0 e sujeitos a encharcamentos. Os solos muito arenosos também devem ser evitados, pois perdem umidade com rapidez, levando as plantas a um déficit hídrico com muita facilidade. Por outro lado, os solos mal drenados favorecem ao ataque de micro-organismos que causam podridões nas raízes. A cultura do maracujá deve ser implantada, de preferência, em áreas com solos leves, férteis, profundos e bem drenados, com pH compreendido entre 5,0 a 6,0 e topografia plana ou ligeiramente inclinada.

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pH: é uma escala de medida que varia de 0 a 14 e serve para determinar se uma substância é ácida, básica ou neutra. pH de 0 a 6,99 ⇒ ácido, pH = 7 ⇒ neutro, pH de 7,01 a 14 ⇒ básico, portanto, é considerado próximo à neutralidade quando o pH está em torno de 7,0.

Qual o pH ideal para o plantio do maracujá?

De maneira geral, os solos para o plantio do maracujazeiro necessitam de adubação para que a cultura se desenvolva. A área para o plantio deve apresentar declividade suficiente para não empoçar água, ter boa drenagem e estar livre de vegetação que possa servir de hospedagem a pragas e doenças que provo-

cam danos fitossanitários nos maracujazeiros, principalmente durante o processo de frutificação. O solo é um dos elementos essenciais aos seres vivos. Por este motivo deve ser conservado da melhor maneira possível, para que mantenha as suas características, fornecendo os nutrientes necessários às culturas.

Resumo da lição • O maracujá é originário da América do Sul, sendo o Brasil o principal produtor de maracujá do mundo; • As principais espécies de maracujá cultivadas de forma comercial são: Passiflora edulis-maracujá-roxo, Passiflora edulis f. flavicarpa Deg-maracujá-amarelo e Passiflora alata Ait-maracujá-doce; • O maracujazeiro é uma planta trepadeira, de crescimento vigoroso e contínuo, podendo atingir 10 m de comprimento; • As condições corretas do clima para a cultura do maracujá são do tipo tropical devendo ser evitados ventos quentes e secos com altitudes entre 10 e 900 m; temperatura média em torno de 26 ºC, umidade relativa baixa e precipitações pluviométricas anuais entre 800 e 1.750 mm; • O maracujazeiro se adapta aos mais diferentes tipos de solo, entretanto, não é recomendável implantar a cultura em solos pesados, com pH inferior a 5,0 e sujeitos a encharcamentos.

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá


Lição 2 Propagação

O

maracujá, como as demais fruteiras, tem como objetivo principal produzir frutos para formar as sementes e propagar a espécie. Ele pode se multiplicar por dois processos: através de sementes (propagação sexuada) ou por meio de estaquia, alporquia e enxertia (propagação assexuada). A propagação assexuada só deverá ser utilizada quando se dispuser de variedades bem estabelecidas e caracterizadas. O método de enxertia poderá ser recomendado em caso de infestação de nematoides, quando se utilizará o Passiflora laurifolia como o “cavalo”, uma vez que é tolerante a esta praga. Atualmente, o método mais empregado na prática, com bons resultados, é a multiplicação por meio de sementes.

Preparo da muda É fundamental para o sucesso da cultura do maracujá, o uso de mudas de alta qualidade. A reprodução por sementes, como vimos anteriormente, é o método usual para produção das mudas, embora ocasione variabilidade genética.

Obtenção das sementes As sementes devem ser obtidas de frutos grandes, oblongos, completamente maduros, com grande percentagem de suco, de coloração amarelo-ouro e livres de pragas e doenças. É importante que os frutos sejam coletados em diferentes plantas para evitar problemas de incompatibilidade, que reduzem a produtividade do pomar. As plantas selecionadas devem ser vigorosas, produtivas, pre-

coces e em bom estado fitossanitário. Preparo das sementes: pode ser realizado por diversos métodos que serão descritos abaixo. ■■ Extração: os frutos devem ser cortados ao meio, no sentido transversal, retirando-se a parte interna que deve ser colocada numa peneira. ■■ Lavagem: após a extração, as sementes devem ser lavadas em água corrente para eliminação da polpa e retirada total da mucilagem (arilo). Para facilitar esta operação recomenda-se adicionar “cal virgem”. ■■ Secagem: após a lavagem, as sementes devem ser colocadas sobre folhas de jornal, em local ventilado e sombreado, para retirar o excesso de umidade. ■■ Tratamento Químico: depois de secas, as sementes devem ser tratadas com fungicidas, utilizando-se 3 g de produto por quilograma de sementes. ■■ Acondicionamento: se as sementes não forem utilizadas imediatamente, devem ser colocadas em sacos plásticos e conservadas em geladeiras entre 7 e 8 ºC, evitandose, assim, a perda rápida do poder germinativo. Sementes armazenadas à temperatura ambiente, após um ano, reduzem o seu poder germinativo para 23 a 36%. ■■ Cálculo da quantidade de semente: para se plantar 1 ha de maracujá são necessárias, em média, 1.000 mudas, devendo ser preparadas pelo menos 4.000 sementes de 60 frutos diferentes, em média.

Alporquia é o tipo de multiplicação vegetativa em que o enraizamento é levado para cima da planta e colocado ao redor do ramo que se pretende enraizar.

Fitossanitário: relativo à saúde dos vegetais.

Podem ser obtidas plantas tolerantes ao ataque de nematoides ou vermes.

Como é feita a propagação do maracujazeiro? Como se preparam as sementes?

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Semeadura

Semeadura: ato ou efeito de semear sementes para que germinem.

A fim de se obter mudas sadias, a semeadura deve ser em sacos de polietileno preto, com dimensões de 9,0 x 18,0 cm ou 10,0 x 25,0 cm, contendo uma parte de esterco de curral bem curtido, previamente tratado. Para cada metro cúbico dessa mistura, deve-se adicionar 2,5 kg de superfosfato simples e 0,5 kg de cloreto de potássio. Com relação aos sacos para a semeadura devem ser observados os seguintes procedimentos: ■■Os sacos devem ser colocados lado a lado, formando canteiros com 1,20 m de largura e comprimento de acordo com as necessidades. Deve ser mantida uma distância de 50 a 60 cm entre os canteiros para facilitar o trabalho dos operários. ■■Em cada saco colocam-se 3 a 4 sementes, a uma profundidade de

2,0 cm, cobrindo-as a seguir com uma camada de terra peneirada. A germinação deve ocorrer com 15 a 20 dias e quando as mudas estiverem com 5,0 cm de altura, efetua-se o desbaste, deixandose apenas a mais vigorosa. ■■Para a proteção das mudas contra o sol, deve ser construída, logo após a semeadura, uma cobertura sobre os canteiros, com 70 cm de altura, utilizando-se ripas, palhas de coqueiro, etc. ■■ Essa cobertura evita a perda excessiva de umidade e ajuda no crescimento uniforme das mudas. ■■Qualquer que seja a cobertura utilizada, deve-se permitir que as mudas recebam 50% de sol. A cobertura deve ser raleada à medida que as mudas se aproximam da época de plantio, para ajustá -las gradualmente à luz solar.

Como se faz a semeadura?

Canteiro com mudas e cobertura protetora

Tratos culturais Tratos culturais são os diversos cuidados com os viveiros para que a produção de mudas seja satisfatória.

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O viveiro deve ser mantido sempre limpo, com capinas constantes. São muito importantes, também, as pulverizações, mantendo um rigoroso

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controle fitossanitário, com a finalidade de evitar possíveis ataques de pragas ou doenças, muito comuns nessa fase de produção.


Controle fitossanitário após a germinação O controle fitossanitário deve obedecer às seguintes etapas: ■■2ª semana: (Cartap, 15 mL/10 L de água): pulverizar as mudas até o escorrimento da calda. ■■3ª semana: (Cobre Sandoz BR ou Recop, 15 g/10 L de água por canteiro de 6 m² – 1.700 mudas): pulverização até o ponto de escorrimento da calda. ■■5ª semana (Cobre Sandoz BR ou Recop, 15 g + Agrimicina, 15 g/10 L de água): pulverizar até o ponto de escorrimento.

■■6ª

semana (Cobre Sandoz BE ou Recop, 15 g + Cartap, 15 mL/10 L de água): pulverizar as mudas até o escorrimento da calda. ■■15 dias após a germinação: pulverização, semanalmente (Solan com micronutriente, 10 mL/10 L de água).

Como deve ser feito o controle fitossanitário?

Transplante Após um período de 40 a 60 dias, as mudas, com 15 a 25 cm de altura serão transplantadas para o local definitivo.

Resumo da lição • O maracujá se propaga através de sementes ou por meio de estaquia, alporquia e enxertia; • As sementes do maracujá para as mudas devem ser de alta qualidade e devem ser obtidas de frutos grandes, oblongos, completamente maduros, com grande percentagem de suco, de coloração amarelo-ouro e livres de pragas e doenças; • A semeadura deve ser em sacos de polietileno preto; • O controle fitossanitário deve ser feito semanalmente.

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Lição 3

Instalação do pomar Como deve ser a localização do pomar?

A

localização do pomar deve ser a mais criteriosa possível sob pena de comprometer seriamente a viabilidade econômica do empreendimento. Deve-se considerar alguns pontos básicos: boas vias de acesso à propriedade, facilidade de mão de obra e, principalmente, as características da área.

Características do solo Todas as culturas necessitam, para um bom desenvolvimento, de solo com boas características:

Físicas ■■Textura

média (franco-argilo arenoso). ■■Boa permeabilidade. ■■Boa aeração e capacidade de armazenamento de água.

Químicas ■■Grande

quantidade de nutrientes minerais bem balanceados. ■■Reação de solo (pH) próximo à neutralidade. ■■Ausência de elementos tóxicos (Al3+ e Na+).

Biológicas ■■Elevada

população microbiana isenta de patógenos (causadores de doenças). ■■Ausência de substâncias orgânicas nocivas. As fruteiras possuem diferentes níveis de tolerância para sobreviverem às adversidades causadas pela

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

ausência de um ou mais dos fatores citados anteriormente.

Observações importantes ■■Cabe

ao técnico, usando bom senso e criatividade, identificar o(s) fator(es) que limita(m) a produção, optar pela melhor alternativa e adotar a melhor solução para o problema. ■■Para todas as culturas, o preparo do solo fica condicionado à topografia, e ao tipo, caracterizado pela análise, que nos diz sobre: textura, pH, salinidade, necessidade de correção ou adubação e outras práticas de manejo. ■■A topografia é a característica mais marcante do solo, havendo a necessidade de práticas conservacionistas, uma vez que é uma característica estática de grande efeito dinâmico. ■■Para uma fruticultura racional e de alta produtividade, algumas práticas de conservação de solo e água são indispensáveis. Por estarem espacialmente distribuídas, as plantas, quando jovens, não oferecem boa proteção aos solos (bastante mobilizados) contra as chuvas. ■■O consórcio com outras espécies de interesse econômico é uma boa prática vegetativa que deve ser implementada.


PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO Declividade

Práticas conservacionistas sugeridas

0 a 3%

Aração-gradagem, sulcamento e plantio em curvas de nível.

3 a 6%

Aração-gradação, sulcamento, plantio em faixas de retenção, conforme o tipo de solo.

6 a 12%

Terraços em nível ou gradiente, conforme tipo do solo.

12 a 18%

Terraços em nível ou gradiente, faixas de retenção para maior proteção ao solo.

acima de 18%

Aconselha-se destinar a área para fins de pastagem, refúgio da fauna e reflorestamento.

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Para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, necessita-se que as áreas sejam exploradas, levando-se em conta a sua aptidão agrícola. Existem áreas que melhor se prestam à pecuária, à agricultura ou a reservas florestais. Quais são as práticas para conservação do solo?

Coleta de amostras de solo Antes do preparo da área para plantio, deve-se fazer a coleta de amostras de solo para análise de fertilidade. Este procedimento trará economia para o agricultor, pois atualmente as despesas com corretivos e fertilizantes são significativas, chegando a representar até 20% dos custos de produção. A análise de solo é o principal meio de que dispomos, para a recomendação adequada de correção e adubação. A seguir é descrito um roteiro, que tem como objetivo orientar o produtor quanto à maneira mais prática e eficiente de coletar amostras de solos para análise de fertilidade. 1. Dividir a propriedade em áreas uniformes (de até 10 ha) quanto aos seguintes aspectos: a) Cor do solo: verificar se a terra é vermelha, amarela, escura, cinza ou de outras cores.

e) Peculiaridades: identificar, se for o caso, aquelas áreas que por algum motivo se comportam de forma diferente. Por exemplo: nunca produziram ou que deixaram de produzir. Neste caso poderemos estar diante de um problema de toxidez de subsolo ou de salinização. A amostragem precisa, nestes casos, ser diferenciada. Uma amostra do subsolo se torna necessária. 2. Cada uma das áreas escolhidas deverá ser percorrida em ziguezague retirando-se, com equipamentos apropriados, 15 a 20 subamostras, que constituirão a “amostra composta” representativa da área. 3. O material a ser utilizado se compõe de enxadão, trado, balde, facão e sacos de plástico que devem estar limpos. Nunca utilize embalagens de defensivos, adubos, sal, remédio.

b) Topografia: observar se as áreas encontram-se na baixada, na encosta ou alto do morro. Esta característica estática de maior efeito dinâmico definirá as práticas conservacionistas da área. c) Vegetação: verificar se a área é de mata, capoeira, cerrado, campo ou outros tipos de vegetação. A cobertura vegetal é uma forte indicadora do tipo de solo. d) Manejo: observar se a área já foi corrigida ou adubada. Isto é importante para a sugestão de correção e adubação.

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

Material usado para coleta do solo


Diagrama para coleta do solo para análise

4. As amostras deverão ser retiradas da camada superficial do solo até a profundidade de 20 cm, tendo antes, o cuidado de limpar a superfície do local escolhido removendo as folhas e outros detritos. Para trabalharmos com segurança na fruticultura, é importante que se retirem amostras de solos de duas profundidades: 0 – 30 cm e

30 – 60 cm, para estarmos cientes da ausência de elementos tóxicos (Alumínio e Sódio). Após a terra estar bem misturada no balde, retirar a quantidade suficiente para encher o saco plástico (± 500 g). Não retirar amostra perto de cupim, formigueiro, estrada, cerca, casa, galpão, depósito, chiqueiro, curral e no sulco de plantio.

Como fazer a coleta de amostra do solo?

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O fogo pode ser usado como instrumento de trabalho, mas nunca como agente de destruição.

5. A terra a ser colocada em saco plástico é a amostra composta, das várias subamostras de uma mesma área, que será enviada ao laboratório. Não envie terra

molhada. Sugerimos o uso de um saco plástico, dentro de um outro saco, a fim de proteger a etiqueta de identificação (ver modelo).

ETIQUETA DE IDENTIFICAÇÃO Amostra N.º ________

Quais as finalidades do preparo da área para o plantio?

Interessado: _____________________________________ Propriedade: ____________________________________ Município: ___________________ Estado:_____________ Uso atual: ______________________________________ Cultura anterior: __________________________________ Cultura a ser realizada: ____________________________ Obs: ___________________________________________ Data:___/___/20___

Preparo do terreno

Tecnologia de gradagem

O preparo da área para plantio tem como finalidades: a) Remover a vegetação existente, quando houver, ou incorporar os restos da cultura anterior. b) Eliminar plantas indesejáveis. c) Criar condições que sejam favoráveis ao desenvolvimento da cultura de maracujá. Todas estas etapas necessitam ser realizadas com cuidado, mantendo a matéria orgânica, mobilizando o mínimo possível o solo e executando práticas conservacionistas de solo e água. O desmatamento poderá ser feito manual ou mecanicamente, sugerindo-se o aproveitamento total da vegetação existente que geralmente se utiliza, como mourões, estacas, varas, lenha, estacotes, deixando-se os galhos e gravetos para serem incorporados ao solo ou incinerados (queimados).

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

Para que haja um bom desenvolvimento do sistema radicular, devese fazer uma boa aração, com a profundidade de 15 cm para solos arenosos e de 15 a 25 cm para solos de textura média. Posteriormente, para destorreamento e nivelamento do solo, realizam-se gradagens cruzadas, numa profundidade de 5 a 10 cm em solos arenosos e de 10 a 20 cm em solos de textura média. Nas regiões de encostas, logo após o preparo de área, deve-se proceder a locação das curvas de nível básicas com a finalidade de orientar o sentido da marcação das covas. O espaçamento das curvas de nível básicas deverá ser função da declividade e da textura do solo conforme o quadro a seguir. Nas práticas conservacionistas serão utilizados instrumentos simples, de locação de curvas de nível, tais como: Pé de galinha, Nível em U ou Nível de espelho.


DISTÂNCIA ENTRE NIVELADAS BÁSICAS, TERRAÇOS E/OU FAIXAS DE RETENÇÃO Tipo de solo - textura Argilosa

Média

Arenosa

Declividade (%)

EV (m)

EH (m)

EV (m)

EH (m)

EV (m)

EM (m)

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

0,40 0,80 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00 2,20 2,40 2,60 2,80 3,00 3,20 3,40 3,60 3,80 4,00 4,20 4,40 4,60

40,00 40,00 40,00 34,90 32,00 30,00 28,50 27,50 26,70 26,00 25,40 25,00 24,60 24,30 24,00 23,70 23,50 23,30 23,10 23,00

0,35 0,70 1,05 1,20 1,35 1,50 1,65 1,80 1,95 2,10 2,25 2,40 2,55 2,70 2,85 3,00 3,15 3,30 3,45 3,60

35,00 35,00 35,00 30,00 27,00 25,00 23,60 22,50 21,70 21,10 20,40 20,00 19,60 19,30 19,00 18,70 18,50 18,30 18,20 18,00

0,32 0,64 0,96 1,08 1,20 1,32 1,44 1,56 1,68 1,80 1,92 2,04 2,16 2,28 2,40 2,52 2,64 2,76 2,85 3,00

32,00 32,00 32,00 27,00 24,00 22,00 20,60 19,50 18,70 18,00 17,40 17,00 16,60 16,30 16,00 15,70 15,50 15,30 15,20 15,00

Nomenclatura química N = Nitrogênio P = Fósforo K = Potássio Ca = Cálcio Mg = Magnésio S = Enxofre B = Boro Cl = Cloro Cu = Cobre Fe = Ferro Mn = Manganês Mo = Molibdênio Zn = Zinco

EV - Espaçamento vertical; EH - Espaçamento horizontal

Calagem A calagem eleva o pH do solo, contribui para o aumento da disponibilidade de N, P, K, S e Mo, neutraliza a Al e/ ou Mn trocáveis, fornece Ca e Mg às plantas, eleva a saturação por bases, equilibra a relação K, Mg e melhora atividade microbiana dos solos. A aplicação do calcário deve ser feita com antecedência de 60 dias do plantio, e este deve ser aplicado a

lanço, após a aração e incorporado por meio de gradagem. Recomendase o uso de calcário dolomítico que contém Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg).

Espaçamento O espaçamento para a cultura do maracujazeiro tem sido objeto de muitas pesquisas. Em virtude da pouca longevidade da cultura em

Adubação de covas

Fundação Demócrito Rocha 17


Quais os sistemas de condução do maracujazeiro?

decorrência de problemas fitossanitários, deve-se retirar o máximo da área nos primeiros anos de exploração. Por isso, recomenda-se o adensamento de plantas. Os espaçamentos mais recomendados são o de 3,0 m entre plantas e de 2,5 m entre fileiras (1.333 plantas/ha) e o de 4,0 x 2,5 m (1.000 plantas/ha).

Abertura das covas De acordo com o espaçamento recomendado, as covas medindo 0,40 x 0,40 x 0,40 m deverão ser abertas, separando-se as camadas de terra da superfície e do subsolo. No enchimento das covas, invertese a ordem das camadas, jogando-

Sistema de condução em “T”

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

se primeiro a camada superficial misturada com a adubação recomendada pela análise do solo e complementando-se o enchimento com a camada do subsolo.

Sistema de condução O maracujazeiro, por se tratar de uma planta trepadeira, necessita de suporte para proporcionar boa distribuição dos ramos e garantir maior produção de frutos. Existem três sistemas de condução para o maracujazeiro: latada ou caramanchão, espaldeira vertical ou cerca e sistema em “T”. Em plantios comerciais, o sistema em “T” raramente é usado.


O sistema de latada é o preferido nos plantios em chácaras e quintais. Recentemente, observa-se uma preferência dos produtores por esse sistema nos plantios comerciais. Ele tem

a vantagem de proporcionar maior produtividade; entretanto, apresenta um custo elevado e favorece a ocorrência de doenças, devido à formação de massa vegetal muito densa.

Como deve ser feita a adubação de plantio?

Sistema de condução em latada

A espaldeira vertical ou cerca é o sistema mais utilizado nos plantios comerciais. Esse sistema usa estacas e mourões com 2,5 m de altura, espaçados de 3,0 a 4,0 m, com um, dois ou três fios de arame liso nº 12.

O fio superior deve ficar a dois metros do nível do solo e os outros, a distância de 0,40 m entre eles. Para que fiquem firmes e possam suportar o peso das plantas, as estacas devem ser enterradas 50 cm no solo.

Fundação Demócrito Rocha 19


Sistema de condução em cerca com dois fios

Informações importantes ■■Em

geral, utilizam-se espaldeiras com um só fio de arame, por ser mais econômico e funcional; ■■Nas regiões de ventos fortes recomenda-se, que a extensão das linhas de plantio não vá além de 80 m, formando talhões, deixando um espaço de 3 a 4 m entre eles para possibilitar a movimentação dentro do pomar.

Sistema de condução em cerca com um só fio

20

Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

■■Os

mourões devem ser colocados nas extremidades e no centro da espaldeira. ■■Os das extremidades necessitam receber uma escora complementar, para dar maior resistência ao suporte de sustentação.


Adubação de plantio Recomenda-se que a adubação seja feita de acordo com a análise de solo. Caso não seja realizada, poderão ser utilizados por cova, 15 L de esterco de curral ou 8 L de esterco de galinha, além de 200 g de superfosfato triplo e 70 g de cloreto de potássio.

Plantio

poderá ser efetuado em qualquer época do ano. Na colocação das mudas na cova, deve-se ter cuidado ao retirar o saco plástico para não quebrar o torrão, o que prejudicaria o “pegamento” da muda. Logo após o plantio, as plantas devem ser tutoradas com vara ou barbantes para condução até o arame.

A melhor época para plantio é durante a estação chuvosa. No entanto, caso haja facilidade de irrigação

Resumo da lição • A localização correta do pomar deve levar em conta alguns pontos básicos, tais como: boas vias de acesso à propriedade, facilidade de mão de obra e principalmente as características da área; • O cultivo do maracujá exige práticas de conservação do solo e coletas de amostras de solo para análise; • Os sistemas de condução do maracujazeiro são: latada, espaldeira vertical e sistema em T; • O plantio do maracujá exige adubação e deve ser feito na estação chuvosa.

Fundação Demócrito Rocha 21


Lição 4 Tratos culturais

O

maracujazeiro deve ser conduzido em haste única até o arame superior da espaldeira. Para tanto, é necessário percorrer semanalmente toda a área plantada para remover todas as brotações laterais que surgirem na haste principal.

Condução e poda Quando a planta ultrapassar o arame superior, em cerca de 10 cm, devese fazer a desponta, de modo a forçar a emissão de brotos laterais, os quais serão conduzidos para os dois lados do arame. Os ramos laterais devem ser despontados ao tocarem

os ramos da planta vizinha, dando origem aos ramos verticais, responsáveis pela produção dos frutos. Os ramos verticais não devem atingir o solo, realizando sempre que possível, uma poda para deixá -los a uma distância de 40 a 50 cm do nível do solo. Após a produção, é aconselhável uma poda de limpeza, a fim de eliminar ramos secos, doentes e praguejados. Esta prática propicia maior insolação e ventilação da planta, fatores que são muito importantes no processo produtivo e na diminuição de pragas e doenças.

Poda para emissão de brotos laterais

Irrigação O excesso de água durante o amadurecimento acaba produzindo frutos menos doces e mais aguados.

22

O maracujá necessita de água em quantidade suficiente durante o crescimento da muda e durante o período de florescimento e frutificação, quando a planta estará em plena produção. Nas regiões em que as chuvas são bem distribuídas e regulares, o maracujá não necessita de suplementação

Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

hídrica. No caso do Nordeste, onde os dias têm mais de 11 horas de luz durante o ano todo, ocorre floração constante. Neste caso, deve ser feita uma irrigação em períodos secos para se produzir maracujá o ano todo. Antes do florescimento não se deve irrigar, pois a planta desen-


volve demais a parte vegetativa. Isto faz com que o maracujazeiro produza poucas flores e, portanto, poucos frutos.

Informações importantes ■■Em

termos gerais, a irrigação sistemática implica em melhor florada e pegamento de frutos, o que resulta em aumento de produção na ordem de 35% e melhor qualidade do fruto, representada pelo maior tamanho e peso. ■■O sistema de irrigação por gotejamento permite uma grande econo-

mia de água e pode ser, inclusive, uma fonte de adubação, quando os nutrientes exigidos pelas plantas são dissolvidos na água. ■■Alguns projetos de irrigação vêm utilizando o sistema de pivô central que pode irrigar até 100 ha de maracujá. A irrigação por sulco que aproveita a declividade e as curvas de nível do terreno, levando a água até a base das plantas, também é muito utilizada.

Fábio Lima

Como deve ser conduzido a poda do pé de maracujá?

Cultura com irrigação por pivô central ■ ■O

turno de rega vai variar em função de características do solo, época do ano, umidade relativa e outros fatores inerentes à região.

■ ■A

irrigação pode ser feita também pelo sistema de aspersão convencional que aplica a água sobre as plantas ou através de microaspersor que apresenta vantagens sobre os aspersores comuns.

Qual a vantagem da irrigação por gotejamento?

Irrigação por microaspersor

Fundação Demócrito Rocha 23


Para plantio de grandes áreas, é recomendada a polinização artificial, uma vez que a polinização natural realizada pelas mamangavas, é insuficiente para polinizar todas as flores, principalmente nos surtos de grandes floradas.

Polinização Como vimos anteriormente, o principal agente polinizador das flores do maracujá no Brasil é a mamangava. Quando ele visita a flor do maracujá, encosta seu dorso nos estames onde estão os grãos de pólen. Por ser de grande porte, consegue alcançar o estigma de outras flores, efetuando a polinização.

Desta forma, é muito importante a preservação e incremento da população de mamangava mediante o plantio de espécies que produzam flores atrativas. Conservação das matas nativas próximas ao plantio e colocação de troncos apodrecidos nas imediações da plantação, para servirem de abrigos às mamangavas, potencializam o aumento da população.

Como é feita a polinização artificial?

Polinização artificial

Explique o que é adubação de cobertura.

A polinização artificial é feita efetuando-se a transferência dos grãos de pólen de uma flor para outra, com os dedos ou com auxílio de dedeiras de feltro. Esta operação permite aumentar a produtividade em 30 a 40%. O indicativo da necessidade de se realizar polinização artificial ou aumentar a população de mamangava é quando se observa uma grande quantidade de flores caídas. Isso geralmente ocorre quando a flor do maracujá não é fecundada.

Adubação de cobertura Na impossibilidade da realização da análise de solo, recomenda-se o seguinte esquema de adubação:

1º ano 30 dias após o plantio: 30 g de ureia + 20 g de cloreto; 60 dias após o plantio: 50 g de ureia + 30 g de cloreto; 90 dias após o plantio: 70 g de ureia + 60 g de cloreto.

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

2º ano Após as primeiras chuvas, realizar a primeira adubação utilizando 65 g de ureia + 35 g de superfosfato triplo + 65 g de cloreto de potássio. As duas últimas adubações deverão ser iguais e espaçadas de 30 dias. Recomendase ainda incorporar, por planta, 4 kg de esterco de gado. Nos pomares em formação, os adubos devem ser distribuídos em uma faixa de 20 cm ao redor da planta e distante 10 cm do tronco, aumentando gradativamente essa distância com a idade do pomar. Em pomares adultos, os adubos são aplicados em uma faixa de um metro de largura em ambos os lados das plantas ao longo das espaldeiras, longe o suficiente dos troncos, onde as raízes pequenas e absorventes são poucas. É importante salientar que a adubação deve ser realizada em período de boa umidade do solo.


Controle de ervas daninhas Quando a cultura for consorciada, deverão ser realizadas cinco capinas, três no inverno e duas no verão.

Quando não consorciada, serão realizados três roços e três espelhamentos no inverno e duas capinas no verão.

Capina com enxada

As capinas devem ser efetuadas, preferencialmente com enxadas e de modo superficial, para evitar danos ao sistema radicular. Grades e outros implementos pesados devem ser evi-

tados pelos danos que podem causar à cultura, uma vez que o sistema radicular está concentrado entre 15 e 45 cm de profundidade.

Resumo da lição • A forma de condução do maracujazeiro é feita em haste única até o arame superior da espaldeira; • A poda de condução do maracujazeiro é realizada com o objetivo de originar ramos verticais, responsáveis pela produção de frutos; • A irrigação sistemática do pé de maracujá, implica em melhor florada e pegamento de frutos. Ela pode ser por gotejamento, aspersão convencional, microaspersor, pivô central e por sulco; • A polinização do pé de maracujá pode ser realizada por insetos, ventos ou artificialmente, através dos dedos; • As adubações de cobertura devem ser feitas no maracujazeiro com ureia e cloretos; • O controle de ervas daninhas no pomar de maracujazeiro deve ser realizado através de capinas.

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Lição 5

Pragas e seu controle

A

s pragas são doenças causadas por insetos que podem provocar prejuízos à cultura do maracujá. A seguir, veremos como algumas pragas afetam as partes do maracujazeiro, os sintomas e as principais medidas de controle.

Lagartas desfolhadoras

Gregário: que vive em colônias.

Em que partes do maracujá as lagartas mais atacam? Por quê?

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As lagartas Dione juno juno e Agraulis vanillae vanillae são insetos que atacam o maracujá e causam o seu desfolhamento. a) Dione juno juno (Cramer, 1779): essas lagartas ao nascerem são muito pequenas, chegando a medir somente 1,5 mm e, no final do ciclo, as mesmas apresentam 30 a 35 mm de comprimento. Possuem o hábito gregário e formam colônias que parasitam as folhas. Sua coloração é amarela escura com a cabeça negra no início; à medida que evoluem vão tomando uma coloração pardacenta que vai também escurecendo. Apresentam duas faixas alongadas no corpo. Adultas, são borboletas de coloração alaranjada com as bordas das asas escuras, quase pretas, e duas faixas negras nas asas posteriores, no sentido transversal. Realizam a postura de grande número de ovos reunidos na face inferior das folhas. b) Agraulis vanillae vanillae (L. 1758): as borboletas dessa espécie depositam os ovos isolados, geralmente na face inferior das folhas novas. Os adultos também têm, nas asas anteriores e nas bordas dessas, pontos negros. Nas asas posteriores, além da pontuação, apresentam círculos

Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

maiores nas bordas ao longo das mesmas. As lagartas dessa espécie são encontradas com frequência, isoladamente. Têm coloração branca pardacenta, recoberta de pelos negros. Com o crescimento, as lagartas tornam-se escuras, adquirindo coloração amarela com duas faixas laterais de cor marrom e corpo recoberto com espinhos pilíferos de coloração negra.

Broca-do-maracujazeiro ou da haste (Philonis Passiflorae) O adulto do Philonis passiflorae é um besouro, com cerca de 5 mm de comprimento, de coloração marrom e com manchas amareladas no dorso. As larvas são brancas, sem pernas e medem aproximadamente 5 mm de comprimento, no seu máximo desenvolvimento.

Informações importantes ■ ■A

fase larval é a responsável pelos danos. Todo o desenvolvimento da broca se faz no interior do ramo do maracujazeiro. ■■Quando atinge a fase adulta, o inseto sai do ramo através de um pequeno orifício circular. ■■A ocorrência desse inseto é mais frequente em plantios novos, localizados em área recém-desmatada, na periferia da plantação e próxima à vegetação nativa. ■■ À medida que as larvas se desenvolvem, formam-se galerias no interior e ao longo dos ramos, tornando -os fracos e quebradiços, levando -os, em estágios mais avançados,


ao secamento, o que prejudica sensivelmente a produção. ■■Os sintomas externos do ataque aparecem com a dilatação nos ramos; muitas vezes, partem-se no seu comprimento. ■■Quando o ataque se dá na haste principal, os danos são mais severos, podendo causar a morte da planta.

Controle Para controlar as lagartas, assim como outras pragas, deve-se ter o máximo cuidado para não aplicar inseticidas com poder residual longo, uma vez que a colheita do maracujá é realizada toda semana. No início do ataque, devemos optar pela catação manual, destruindo-as. No caso de necessitar a aplicação de inseticida, aplicar de preferência Bacillus thuringienses.

Como fazer o controle das pragas a) A praga pode ser mantida sob controle mediante vistorias periódicas do pomar, visando detectar focos iniciais de infestação. b) Verificando-se o ataque, aconselha-se a poda e a queima dos ramos afetados. c) Na haste principal, pode ser utilizado o fosfato de alumínio (em pasta) ou outro inseticida, visando recuperar a planta e evitar o replantio. d) Essa operação não será viável se a praga estiver estabelecida na planta há muito tempo. e) Pode-se pincelar a haste principal com inseticida (ação de contato ou profundidade), objetivando restringir a disseminação do inseto para outras áreas.

Percevejos a) O percevejo-do-maracujá (Diactor bilineatus) é um inseto que apresenta, nas longas pernas traseiras, expansões em forma de folhas, de coloração verde escura com algumas manchas alaranjadas.

Entre as principais pragas do pé de maracujá, destaca-se a broca-do-maracujazeiro. Explique como ele atua.

b) O percevejo Holymenia clavigera é um inseto muito ágil que se alimenta dos frutos do maracujazeiro e da goiabeira. Apresenta coloração escura com manchas alaranjadas e asas quase incolores. As antenas são pretas, com as extremidades brancas. c) O Leptoglossis gonogra é um inseto conhecido como percevejo-do-melão-de-são-caetano e apresenta coloração predominantemente marrom. Os percevejos sugam a seiva de todas as partes da planta, ocasionando a queda de botões florais e de frutos novos e o murchamento de frutos mais desenvolvidos. Os produtos indicados para o controle de lagartas, com exceção do inseticida biológico, podem ser utilizados contra os percevejos.

Ácaros

O que os percevejos causam aos maracujazeiros?

Bacillus thuringienses inseticida natural contra pragas.

a) O ácaro-plano (Brevipalpus phoenicis) é um inseto também conhecido como ácaro-vermelho ou da leprose-dos-citros. Em altas infestações, ataca as folhas que acabam por morrer e cair. Depois, são também atacados os ramos mais tenros, que secam e morrem, a partir da extremidade em direção à base. b) O Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) é praticamente invisível a olho nu, ataca principalmente as folhas mais novas do ponteiro do maracujazeiro, localizando-se na face inferior delas.

Fundação Demócrito Rocha 27


As folhas atacadas intensamente secam e caem.

O que os ácaros do maracujazeiro causam nas folhas?

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Outras informações sobre os ácaros ■■Ao

atacar as brotações, causa deformações nas folhas e nervuras, deixando-as retorcidas e malformadas. ■■As folhas assumem uma coloração verde mais intensa, não se desenvolvem completamente, ocorrendo, depois, um bronzeamento generalizado, principalmente na face inferior, o que pode levar à sua queda. ■■O ataque às brotações resulta em uma redução do número de flores e, consequentemente, uma redução na produção de frutos. ■■As infestações, de modo geral, ocorrem em qualquer época do ano, mas são mais intensas nos períodos em que a temperatura e a umidade se mostram mais elevadas. ■■As duas espécies de acaros-vermelhos (Tetranychus mexicanus e T. desertorum) se desenvolvem em colônias, na face inferior das folhas, onde tecem uma grande quantidade de teia. O ataque, inicialmente na face inferior das folhas, provoca o aparecimento de manchas esbranquiçadas ou prateadas, e na face oposta ao local do ataque começam a surgir áreas bronzeadas.

Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

Controle Para o controle racional desses ácaros, recomenda-se ao produtor adotar as seguintes providências: 1. Inspecionar periodicamente o pomar, detectando sintomas e presença de ácaros com o auxílio de lupa (aumento de dez vezes) e vistoriar também culturas vizinhas, bem como as ervas invasoras, com o objetivo de verificar a presença da praga em hospedeiros alternativos.

2. Realizar o tratamento necessário com acaricida específico, escolhendo um que apresente maior seletividade, curta duração residual, de modo a evitar a sua presença nos frutos. No caso de se controlar o ácaro durante a floração, quando é intensa a visita de insetos polinizadores, aconselha-se empregar acaricidas menos tóxicos, como o enxofre e o clorofensom.

Moscas-das-frutas As moscas Anestrepha spp e Ceratitis capitata atacam o fruto do maracujá provocando grande prejuízo aos produtores. Os adultos da Anestrepha spp. apresentam colorido predominantemente amarelo, com duas manchas da mesma cor nas asas, medindo de 6,5 a 8,0 mm de comprimento,


maiores, portanto, do que os de C. capitata (4,0 a 5,0 mm de comprimento). Esta última espécie também tem coloração amarelada, mas suas asas exibem tonalidade rosada com listras amarelas. As moscas-das-frutas causam os seguintes danos: ■■Os principais danos causados por Anastrepha spp. são decorrentes da postura dos ovos em frutos ainda verdes, provocando o seu murchamento antes de atingirem a maturação. ■■As larvas de C. capitata podem destruir a polpa dos frutos, inutilizando-os para o consumo. O ataque das moscas provoca queda dos frutos em proporção elevada.

Controle A catação e enterramento de frutos atacados e o plantio em área distante de cafezais são medidas auxiliares para reduzir a população da praga. Recomenda-se também o uso de iscas envenenadas, compostas por 5 kg de melaço ou açúcar mascavo, ou 500 mL de proteína hidrolisada, inseticida e 100 litros de água. O controle das moscas-das-frutas pode ser feito com a aplicação de iscas a cada 15 dias, apenas de um

lado das plantas, de maneira descontínua, usando-se apenas 100 a 200 mL/planta.

Pulgões Myzus persicae e Aphis gossupii são insetos de aparência delicada, medindo aproximadamente 2 mm de comprimento (M. persiacae) e 1,3 mm (A. gossypii). A gravidade do seu ataque está relacionada com a transmissão de uma doença (Passion fruit woodness virus - vírus do endurecimento dos frutos do maracujazeiro).

Quais os danos causados pelas moscas-das-frutas do maracujazeiro? Fale sobre os pulgões. É recomendável a existência de apiário próximo à cultura de maracujá? Explique.

Controle As plantas com sintomas da virose devem ser imediatamente erradicadas. Evita-se o plantio nas imediações de espécies hospedeiras dos pulgões (pepino, melancia, abóbora, melão, ervilha e tomate).

Os inseticidas que têm sido recomendados são o trichorfon, malathion, fenthion e diazinon.

Abelhas As abelhas arapuás são melíferas (Trigona spinipes e Apis melífera), de coloração preta e atacam flores novas, podendo provocar sua queda. Recomenda-se destruir seus ninhos ou utilizar iscas envenenadas, idênticas às sugeridas para o controle das moscas-das-frutas.

Fundação Demócrito Rocha 29


CONTROLE DE PRAGAS DO MARACUJAZEIRO PRAGAS

PRODUTOS INDICADOS

DOSAGEM (%)

CARÊNCIA

Carbaryl

2,0

15 dias

Malathion

0,2

7 dias

DDVP

0,1

3 dias

Triclorfon

0,2

7 dias

Diazinon

0,15

10 dias

Fention

0,15

15 dias

Malathion

0,2

7 dias

DDVP

0,1

3 dias

Carbaryl

0,2

15 dias

Triclorfon

0,2

7 dias

Diazinon

0,15

10 dias

Monocrofós

0,1

20 dias

Carbaryl

0,2

15 dias

Mevinfós

0,2

3 dias

Dimetoato

0,15

15 dias

Monocrofós

0,1

20 dias

Mevinfós

0,2

3 dias

Dimetoato

0,15

15 dias

Diazinon

0,2

Triclorfon

0,3

Em isca adicionar 5 L de melaço mais 95 L d’água e borrifar as plantas.

Monocrotofós

0,1

20 dias

Diomeato

0,15

15 dias

Diazinon

0,15

10 dias

DDVP

0,1

7 dias

Mevinfós

0,2

3 dias

Lagarta Agraulis vanille Dione juno juno

Coleópteros Corcocelis marginata Philonis sp

Percevejos Diactor bilineatus Theognis gonnagra

Mosquito-do-maracujá Gargapha lunulata Mosca-das-frutas Anastrepha sp

Ácaros Tetranychus mexicanus T. desertorum Formiga Atta sexdens

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Dodecacloro

Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

Colocar nos carreiros das formigas 100 g/m2


Resumo da lição • As principais pragas do maracujazeiro são: lagartas, broca-domaracujá, ácaros, moscas-das-frutas, pulgões e abelhas; • As pragas são controladas com o uso de inseticidas de poder residual curto, por catação ou o uso de inseticidas natural como o Bacillus thuringienses.

Fundação Demócrito Rocha 31


Lição 6

Doenças e seu controle

D

oença é a denominação geral usada para qualquer desvio da normalidade em plantas e animais. Algumas doenças contribuem para reduzir a produção do maracujazeiro; assim, todo esforço deve ser feito para evitar que as plantas adoeçam. Micoses: doenças causadas por fungos. Bacterioses: doença causada por bactérias. Viroses: doenças causadas por vírus.

Explique o que vem a ser tombamento e antracnose.

O excesso de água na sementeira e de sombreamento e o uso de solo já contaminado favorecem o aparecimento da doença.

32

Micoses Tombamento, mela ou damping off: causado pelos fungos Rhizoctonia, Fusariam e Phytophthora que atacam o maracujazeiro, caracteriza-se por uma lesão na região entre as raízes e o caule (colo) da planta; acaba por provocar seu tombamento e morte. O controle se faz com o manejo correto da sementeira ou com o uso de Pentacloro-nitrobenzeno para o fungo Rhizoctonia, Benomil para o Fusarium e Fosetyl-Al para o Phytophtora. Antracnose: é causada pelo fungo Colletotrichum gloesporioides que ataca as folhas do maracujazeiro. Mostram manchas pequenas, a princípio claras, circulares, rodeadas por bordos verde-escuros, podendo, mais tarde, juntar-se, assumindo coloração pardo-avermelhada. Os ramos apresentam manchas alongadas que se transformam em cancros, expondo os tecidos do lenho, com morte dos ponteiros. Nos frutos, os sintomas são manchas oleosas que ressecam e tornam enrugadas suas superfícies. Os danos podem chegar à polpa. O controle se faz com a aplicação de produtos à base de oxicloreto de cobre mais mancozeb, chlorotalonil ou Benomil.

Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

Verrugose ou Cladosporiose: é causada pelo fungo Cladosporium herbarum. Sua presença fica caracterizada no fruto por manchas circulares de 5 mm, inicialmente de aspectos translúcido, depois cobrindo-se de tecido corticoso, áspero e saliente, de cor parda. Essas manchas quando se juntam dão ao maracujá um aspecto deformado. Nas folhas, o limbo tornase completamente enrugado. Os sintomas aparecem também em ramos, gavinhas e pecíolos, preferencialmente nos tecidos mais novos. A doença incide mais em épocas de temperaturas amenas (15 ºC a 22 ºC) e se mostra muito prejudicial às brotações que ocorrem nesses períodos. Para o controle da verrugose, recomenda-se uma cobertura com caldas fungicidas. Destacam-se os produtos à base de cobre, em aplicações semanais, sob chuvas; ou quinzenais, em períodos com chuvas esparsas e menor umidade. Não se recomenda a aplicação nos frutos, quando o seu destino é a indústria de suco, pois a doença não atinge a polpa. Podridão do colo: causada pelo fungo Phytophthora cinnamomi, tem como sintoma inicial um entumescimento exagerado da região do colo, onde surgem manchas escurecidas e úmidas, que depois apodrecem, lesionando inclusive o cilindro central do caule. A lesão pode desenvolver-se para cima ou para as raízes; as folhas tornam-se murchas e amareladas. Quando a lesão envolve totalmente o diâmetro do caule, a planta morre.


Para o seu controle, algumas medidas preventivas devem ser tomadas: ■■Não plantar em solos compactados, sem aeração. ■■Evitar ferimentos na planta ao fazer as capinas. ■■Retirar as lesões iniciais, raspar a área afetada e aplicar calda bordaleza. ■■No caso de aparecimento de plantas severamente atacadas, pulverizar a plantação com Fosetyl-Al (250 g/100 L de água), após a erradicação e destruição, pelo fogo, das plantas doentes. ■■Não replantar na cova antes ocupada com planta doente. Murcha ou Fusariose: é uma doença do sistema radicular causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. passiflore. Ataca os vasos lenhosos a partir das raízes, provocando murcha generalizada e morte rápida das plantas. A comprovação da murcha se faz pela observação dos tecidos sob a casca, no cilindro central: eles se mostram escurecidos, cor de vinho, no sentido do comprimento a partir do colo. A doença ocorre em focos isolados, disseminando-se de uma planta a outra, em progressão radical. Os solos arenosos contendo restos de desmatamento, pobres em fósforo e potássio, concorrem para aumentar a incidência da doença. O controle é muito difícil, devido à natureza sistêmica da doença e às formas de resistência do Fusarium. Contra ele recomendam-se escolher terrenos bem drenados, em locais altos e sem restos de mata ou capoeira, e evitar gradagens frequentes em áreas com focos da doença.

Eliminam-se as plantas atacadas, nas próprias covas (sem retirá-las do local). Uma vez localizado o foco, erradicam-se até cinco plantas sadias em volta das plantas doentes. Abremse valas de isolamento de 20 cm de profundidade, revolve-se o solo da área e aplica-se cal. Não se replanta nessa área. No momento do plantio e 20 dias depois, pulveriza-se o colo da planta com hidróxido de cobre (300 g/100 L de água) ou com Benomil (150 g/100 L de água). Ocorrendo chuvas no período, diminui-se o intervalo entre as aplicações. Caso o terreno tenha um histórico de ocorrência das doenças que causam murchas, deve-se observar os seguintes cuidados de natureza preventiva: ■■ Retirar sementes de boas matrizes. ■■Formar as mudas em sacos de polietileno de 30 x 12 cm cheios com solo esterilizado por produtos químicos ou pelo calor. ■■Usar adubo orgânico bem curtido, misturado com a terra; ■■Fazer covas mais profundas, 40 x 40 x 40 cm. Vale lembrar que a murcha e a podridão do colo apresentam sintomas muito parecidos (o sintoma de murchar, por exemplo, é comum às duas), tornando-se difícil, na prática, diferenciá-las. É necessário distinguir uma da outra, porque os métodos de controle são diferentes, principalmente quando se empregam produtos químicos. Indicamos a seguir algumas diferenças observadas na identificação de uma e outra doença.

Explique o que é verrugose. Como controlar a podridão do colo?

Quando a murcha se manifesta pelas extremidades do ramo, antes que se generalize, as raízes já estão apodrecidas.

As temperaturas abaixo de 20 ºC e acima de 25 ºC dificultam a ação do fungo que causa a murcha.

Como reconhecer a murcha?

Fundação Demócrito Rocha 33


DIFERENÇAS ENTRE MURCHAS E PODRIDÃO DO COLO MURCHA

PODRIDÃO DO COLO

Apodrecimento da região do colo e consequente morte de todas as raízes.

Apodrecimento, com frequência, de parte da região do colo, com morte das raízes do lado afetado.

Região do colo, logo acima da superfície do solo, com tecidos de casca apodrecidos e soltando-se da parte lenhosa do caule (câmbio) e presença de rachaduras.

Região do colo, logo acima da superfície do solo, com tecidos de casca entumescidos, mas firmes e aderidos ao câmbio.

Morte súbita da planta, tão logo se manifeste a murcha.

As folhas mostram-se amareladas, principalmente se a lesão não circunda o tronco. Morte mais lenta da planta.

Tecidos com vasos lenhosos cor de vinho na parte interna do câmbio.

A parte interna de câmbio não apresenta coloração especial, e com a evolução da doença os tecidos escurecem por inteiro.

Maior ocorrência em solos arenosos ou em áreas com maior concentração de matéria orgânica.

Maior presença em solos pesados e úmidos.

Bacterioses O que é bacteriose e como deve ser feito o seu controle? Quais os sintomas das viroses e que medidas preventivas podem ser adotadas?

São doenças causadas pela bactéria Xanthomonas passiflora. Tratase de doença típica de estação quente e chuvosa com sintomas, às vezes, semelhantes aos da antracnose, diferenciando-se por apresentar inicialmente pequenas manchas aquosas na superfície dos tecidos das folhas e dos frutos em qualquer fase do seu desenvolvimento. Já a antracnose tem incidência maior em tecidos maduros.

Observações importantes presente o fungo Phoma sp, a morte prematura deve-se a uma combinação de fatores desfavoráveis ao metabolismo da planta, tais como a produção precoce, o estresse por falta de água, a

■■Estando

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Formação para o trabalho 2 produtor de maracujá

deficiência ou o desequilíbrio nutricional, solos adensados, adubação orgânica de cobertura muito próxima ao colo da planta, etc. ■■Entre os principais sintomas incluem-se a desfolha, a presença nas hastes principais de manchas de coloração amarelada, que se juntam e secam, com a formação de grandes áreas descoloridas ou de cor pardo-avermelhada. Isso resulta em destruição do tecido cortical externo, provocando o secamento das hastes e a morte da planta. O controle das bacterioses pode ser feito com produtos à base de cobre, podendo também ser usado o esquema indicado para o controle da verrugose.


Viroses São doenças resultantes da ação de um vírus denominado woodness, transmitido por meios mecânicos e por insetos. Os sintomas podem ser observados nas folhas, ramos e frutos. As folhas dos ramos terminais ficam retorcidas e enroladas, com o limbo apresentando regiões em baixo relevo com áreas verde-claras e verde-escuras. As flores abortam e os frutos se mostram menores e deformados, com

pericarpo (casca) espessado e endurecido. Com a progressão da doença a casca fica fendilhada irregularmente no sentido do comprimento do fruto, formando linhas salientes. Não há controle eficiente da doença. Recomendando-se, como medidas preventivas, a desinfecção das ferramentas utilizadas nas áreas infectadas, assim como o combate aos pulgões, que são transmissores (vetores) do vírus.

INSETICIDAS E FUNGICIDAS RECOMENDADOS PRINCÍPIOS ATIVOS

MARCAS RECOMENDADAS

Carabaryl(1)

Agrivin, Sevin, Carvin

Diazinon(2)

Diazinon

Dimetoato(2)

Agridion, Perfektion, Quintion

DDVP(2)

Nuvan

Dodecacloro(1)

Mirex

Fention(1)

Lebaycid

Mevinfós(2)

Phosdrin

Monocrotofós(2)

Azodrin, Nuvacron

Triclorfon(2)

Leptex, Dipterex

Oxicloreto de cobre(1)

Agrinose, Cupravat, Copranol, Cobre, Sandoz, Peprosan

Maneb(2)

Dithane, Maneb

(1) Produtos registrados na cultura. (2) Produtos testados pela pesquisa.

Fundação Demócrito Rocha 35


CONTROLE DE DOENÇAS DO MARACUJAZEIRO PRAGAS

PRODUTOS INDICADOS

DOSAGEM (%)

Verrugose ou cladosporise

Manebe Dithane M-45 Oxicloreto de cobre

0,2

Antracnose

Maneb e Dithane M-45 Oxicloreto de cobre

0,2

Septoria

Maneb e Dithane M-45

0,2

Pulverizações preventivas semanais na época chuvosa e mensais durante o verão

Podridão

Oxicloreto de cobre

0,3

Pulverizações preventivas semanais na época chuvosa e mensais durante o verão

Mancha parda

Oxicloreto de cobre

0,3

Pulverizações preventivas semanais na época chuvosa e mensais durante o verão

Alternária

Oxicloreto de cobre

0,3

Pulverizações preventivas semanais na época chuvosa e mensais durante o verão

Murcha fusariana

Utilizar sementes sadias e evitar plantar em solos maldrenados, ácidos e argilosos que favorecem às doenças

Podridão do colo

Utilizar sementes sadias e evitar plantar em solos maldrenados, ácidos e argilosos que favorecem às doenças

0,3

0,3

CARÊNCIA Pulverização preventiva semanais na época chuvosa Pulverização preventivas semanais na época chuvosa e mensais durante o verão

Resumo da lição • As principais doenças do maracujazeiro são: tombamento, antracnose, verrugose, podridão do colo, murcha, bacteriose e virose; • No controle das micoses recomenda-se o uso de fungicidas; • O controle das bacterioses é feita com o uso de produtos à base de cobre; • Para as viroses não existem controles eficientes; recomendam-se medidas preventivas.

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Lição 7

Colheita, rendimento e coeficientes técnicos

A

colheita do maracujá deve ser realizada, preferencialmente, quando os frutos estiverem amarelados. Os coeficientes técnicos são expressões matemáticas que indicam as condições ou circunstâncias que contribuem para uma determinada avaliação da cultura do maracujá.

Colheita As primeiras colheitas do maracujazeiro são realizadas oito a nove meses

após o plantio. Os frutos, quando maduros, caem da planta, devendo ser apanhados o mais rápido possível, pois perdem rapidamente água e vão murchando. Pode-se também colher o fruto na planta quando estiver amarelado, mas não totalmente maduro, pois sua durabilidade será maior. Recomenda-se esta prática quando a produção se destina ao comércio de frutos in natura. Everton Lemos

Colheita do maracujá, com a retirada do fruto amarelado

Como fazer a colheita ■■Na

colheita são utilizadas caixas plásticas com capacidade para 13 kg. Os frutos ficam à sombra para não sofrerem queimaduras do sol; ■■As colheitas devem ser realizadas uma ou duas vezes por semana, na estação chuvosa e diariamente no período seco, evitando-se assim a queima dos frutos.

Rendimento O rendimento da cultura depende de fatores como clima, solo, espaçamento, tratos culturais e controle fitossanitário. Pode-se estimar, em termos médio, em plantios bem conduzidos, um rendimento por hectare de 8 a 10 t no primeiro ano e de 15 a 20 t no segundo. O pomar deve ser renovado a partir do terceiro ano para manter sua produtividade. O peso médio do fruto do maracujá amarelo é de cerca de 70 g.

Como deve ser realizada a colheita do maracujá?

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COEFICIENTES TÉCNICOS PARA IMPLANTAÇÃO DE UM HECTARE DE MARACUJÁ

Quais fatores interferem no rendimento do maracujazeiro?

ESPECIFICAÇÃO 1.

2.

3.

4.

UNIDADE

ANO 1

ANO 2

Roçagem e destoca

hora/trator

10

0

Encoivara e queima

dia/homem

06

0

Aplicação de calcário

dia/homem

02

0

Aração e gradagem

hora/trator

06

0

Marcação da área

dia/homem

08

0

Coveamento (estacas)

dia/homem

08

0

Coveamento (mudas)

dia/homem

12

0

Adubação (cova)

dia/homem

03

0

Espaldeiramento

dia/homem

14

0

Plantio/replantio

dia/homem

07

Tutoramento

dia/homem

03

0

Preparo do solo e plantio

Tratos culturais e fitossanitários Poda

dia/homem

05

05

Coroamento

dia/homem

22

14

Roçagem

dia/homem

22

30

Pulverizações

dia/homem

08

06

Adubação

dia/homem

08

08

Polinização

dia/homem

18

18

1.400

0

Insumos e materiais Mudas + 5% replanta

uma

Calcário dolomítico

tonelada

01

0

Ureia

quilo

223

223

Superfosfato simples

quilo

500

450

Esterco de gado

tonelada

03

0

Formicida

quilo

05

02

Inseticida

litro

03

02

Fungicida

quilo

03

05

Espalhe adesivo

litro

03

01

Arame N.º 12

quilo

120

0

Cordão

rolo

03

0

Mourões

um

800

1

dia/homem

45

60

Colheitas Serviços

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Resumo da lição • O momento certo para a colheita do maracujá, dá-se em torno do oitavo ao nono mês após o plantio e quando os frutos estiverem amarelados. • Na colheita do maracujá são utilizadas caixas plásticas. • O rendimento do maracujazeiro é estimado em torno de 8 a 10 t no primeiro ano e de 15 a 20 t no segundo.

Fundação Demócrito Rocha 39


Referências EMATERCE. Sistema de produção para cultura do maracujá: região da Ibiapaba - CE. 2. ed. Fortaleza: Epace, 1988. 24p. (Sistema de produção, 2). ENCONTRO ESTADUAL DA CULTURA DO MARACUJÁ, 1., 1980, Aracaju. Anais... Aracaju: EMATERCE, 1980. 108p. GONZAGA NETO, L. Cultivo do maracujá. Recife: IPA, 1992. (Instruções técnicas, 32). LIMA, A. de A. et al. A cultura do maracujá. Brasília: Embrapa-SPI, 1994. 24p. (Coleção Plantar, 13). LIMA, A. de A. A pesquisa no Brasil com a cultura do maracujá. Cruz das Almas, BA: Embrapa, 1994. 14p. (Documento, 55). PEREIRA, C. T. C. Diagnóstico da cultura do maracujá na serra da Ibiapaba. Fortaleza: EMATERCE, 1987. 18p. (Programas e projetos, 26). PIZA JÚNIOR, C. de T. Cultura do maracujá. Campinas: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, 1966. 102p. TAVARES, E. D. et al. Instruções para o cultivo do maracujá em Sergipe. Aracaju: Embrapa, 1995. 21p. (Circular Técnica, 5). UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Recomendações de adubação e calagem para o Estado do Ceará. Fortaleza, 1983. 248p.

Os estudiosos da economia estão de acordo que a educação é o motor do desenvolvimento e qualificar a população que possui baixa escolaridade é o grande desafio dos gestores do século XXI. REALIZAÇÃO

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