Produtor de Carcinicultura

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produtor de

carcinicultura

NaĂ­de Perna Evangelista | Carlos Aguiar AraĂşjo


Copyright © 2003 by Naíde Perna Evangelista e Carlos Aguiar Araújo

Fundação Demócrito Rocha (FDR)

Instituto Centro de Ensino Tecnológico (CENTEC)

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Gerente de Produção Sérgio Falcão Editor de Design Amaurício Cortez Coordenação Editorial Eloísa Maia Vidal Revisão Textual Miguel Leocádio Araújo Capa Welton Travassos Editoração Eletrônica Cristiane Frota Ilustrações Welton Travassos, Elinaudo Barbosa, Leonardo Filho e Erivando Costa Fotos Carlos Aguiar Araújo e Banco de Dados O POVO Catalogação na Fonte Kelly Pereira

Evangelista, Naíde Perna E148p Produtor de carcinicultura /Naíde Perna Evangelista; Carlos Aguiar Araújo. - Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha; Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC, 2014. 40 p.: il. color. - (Coleção Formação para o Trabalho 2)

Todos os direitos desta edição reservados a:

ISBN 978-85-7529-649-3

1. Camarão - Produção. I. Araújo, Carlos Aguiar. II. Título. CDU 639.512

Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora, Fortaleza-Ceará - CEP 60.055-402 Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 Fax: (85) 3255.6271 www.fdr.com.br


Sumário Apresentação..........................................4

Lição 5

Lição 1

Sistema de cultivo................................21

Contexto da Carcinicultura.....................5

Lição 6

Lição 2

Produção de pós-larvas........................26

Principais espécies cultivadas................7

Lição 7

Lição 3

Construção de viveiros.........................30

Biologia do camarão...............................8

Lição 8

Lição 4

Manejo de viveiros................................34

Parâmetros físico-químicos..................13

Referências......................................... 40


Este projeto conta com a parceria do Instituto Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC, que por meio de convênio interinstitucional com a Fundação Demócrito Rocha, assegura a elaboração dos textos visando trabalhar com a formação profissional básica para a população cearense. Este manual tem como objetivo disponibilizar material de baixo custo e alta qualidade técnica, editorial e pedagógica criando condições para que cidadãos tenham acesso a educação para o trabalho, com vistas à inclusão social, criando um ambiente propício para geração de emprego e renda.

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Apresentação E

ste manual, com informações de fácil compreensão, tem como objetivo levar ao produtor de camarão, especialmente ao produtor familiar, o domínio de técnicas para a produção do camarão em escala comercial, necessárias ao aumento da produtividade e à melhoria da qualidade do produto. Carcinicultura é a técnica de criação de camarões em viveiros ou gaiolas, muito desenvolvida, atualmente, no litoral brasileiro. O Brasil possui 8.400 km de extensão litorânea, com condições climáticas excelentes e um rico recurso hídrico continental com potencial para carcinicultura. A carcinicultura, no Brasil, é representada pelo cultivo de camarões peneídeos. Para Barbieri (1997), o Brasil se caracterizou, desde o começo dos anos 1980 até meados dos anos 1990, por cultivar espécies nativas Litopenaeus shimitti e P. subtilis na região nordeste, e Farfatepenaeus paulensis e L. schimitti na região sul,

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

passando a partir do meados dos anos 1990 a cultivar a espécie exótica Litopenaeus vannamei. O mesmo autor concluiu que essa situação ocorreu devido à falta de ração específica de boa qualidade para espécies nativas e, em contrapartida, um conhecimento tecnológico e de manejo para o L. vannamei. Isso contribuiu para colocar o Brasil no mercado produtor e exportador de camarões marinhos. O Nordeste brasileiro é o principal produtor de camarões e se apresenta como um dos mais promissores segmentos do agronegócio. No Brasil a produção de camarão utiliza técnicas e procedimentos de controle na seleção de matrizes, na produção de pós-larvas, no acompanhamento do período de engorda, nas operações de despesca e no processamento final do camarão. Além disso, rigorosas normas de biossegurança impedem a disseminação de doenças nos viveiros, o que garante um produto de excelente qualidade e grande aceitação.


Lição 1

Contexto da Carcinicultura

N

o Brasil, o cultivo de camarões marinhos teve início na década de 1970 no Estado do Rio Grande do Norte. Ao longo do tempo, alguns produtores desistiram da atividade devido aos baixos índices de produtividade e rentabilidade de seus empreendimentos, consequência direta do baixo nível tecnológico empregado na época. A década de 1980 foi caracterizada pela utilização de espécies nativas, baixa densidade de estocagem e carência de insumos básicos como pós-larvas e rações, causando vários insucessos na atividade. No início dos anos 1990 ocorreu uma retomada no desenvolvimento do setor, principalmente com a utilização de novas tecnologias aliadas à escolha de espécies com maiores potenciais produtivos, colocando a carcinicultura como um ramo do setor agropecuário de grande interesse econômico na atualidade. Ao longo dessas três décadas, foram utilizadas no Brasil seis espécies,

entre camarões nativos e exóticos. No entanto, a carcinicultura nacional se consolidou com o camarão branco do oceano Pacífico, batizado cientificamente de Litopenaeus vannamei. Esta espécie destacou-se entre as demais, principalmente pela sua resistência às condições ambientais, chegando muitas vezes a ser cultivada em altas e baixas concentrações de sais. Até então, as fazendas comerciais eram localizadas próximas a regiões estuarinas, devido à captação de águas salobras. Atualmente, muitos produtores têm aproveitado desta importante característica do L. vannamei, realizando seu cultivo em águas de baixa salinidade, em locais distantes do litoral. Entre as vantagens deste sistema de produção, está a grande disponibilidade de terras e menores riscos de disseminação de enfermidades virais, além de contribuir para diminuir o impacto ambiental nas regiões estuarinas.

Pós-larva: estágio do desenvolvimento de crustáceos no qual surgem os apêndices do tronco.

O que provocou a retomada dos investimentos na carcinicultura?

Regiões estuarinas: áreas de transição entre rios e oceanos.

Estuário com criação de camarões.

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Hidrobiológica: relativo à biologia da água.

Que características a região Nordeste apresenta que favorecem a carcinicultura?

A região Nordeste possui grandes vantagens para o desenvolvimento da carcinicultura, entre elas: melhores condições climáticas e hidrobiológicas; instituições de pesquisa e capacitação de mão de obra qualificada; disponibilidade de insumos básicos como ração e pós-larvas; plantas de beneficiamento; excelente estrutura aeroportuária, dentre outros. O cenário da carcinicultura brasileira é de franco crescimento, pois além das vantagens relacionadas acima, temos uma área cultivada no litoral relativamente pequena, se considerarmos os outros países produtores, além do grande potencial das áreas continentais. Para isto, torna-se necessária a aplicação de algumas medidas a fim de que a carcinicultura brasileira seja sustentável, como: ■■ Legalização ambiental dos projetos; ■■Adoção pelo carcinicultor de um código de conduta responsável; ■■Elaboração e implantação de empreendimentos por profissionais competentes; ■■Preservação das áreas de manguezais e matas ciliares; ■■Monitoramento e tratamento dos efluentes.

Os recursos ambientais são os principais fatores de sucesso na produção brasileira de camarão. O cultivo do camarão deve ter em vista a preservação do ecossistema e a sustentabilidade ambiental. A tecnologia utilizada pelo Brasil destaca o produto no mercado internacional, uma vez que um melhor ambiente gera o melhor camarão. O Brasil é um importante produtor de camarão e abastece os mercados mais exigentes com qualidade, rapidez e preços competitivos. A experiência do camarão de cultivo brasileiro se tornou uma marca de garantia. O camarão é considerado um alimento nobre, com preço relativamente elevado, sendo a produção nacional destinada, principalmente, à exportação. Os principais importadores são os Estados Unidos, Comunidade Europeia e Japão. Este crustáceo tem o seu valor cotado em dólar pelas bolsas de mercado, sendo um dos principais produtos na pauta de exportação do setor primário e o mais importante do setor pesqueiro no Brasil.

Resumo da lição • O cultivo do camarão no Brasil teve início nos anos 1970, no estado do Rio Grande do Norte; • Só a partir dos anos 1990 é que a carcinicultura no Brasil passa a receber mais investimentos; • A região Nordeste apresenta grande potencial para o desenvolvimento da carcinicultura, especialmente pelas condições climáticas e hidrobiológicas; • A sustentabilidade da cultura do camarão ainda depende de um conjunto de iniciativas governamentais no que se refere à política ambiental; • O camarão é um alimento nobre e muito consumido no mercado nacional e internacional.

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Lição 2

Principais espécies cultivadas

O

crescente aumento na carcinicultura brasileira pode ser atribuído a vários fatores, tais como: altos preços no mercado internacional, diminuição da captura pela pesca, interesse dos produtores rurais no setor e o grande potencial das condições climáticas no Nordeste do Brasil. Dentre as espécies utilizadas no cultivo, a maioria pertence à família Penaeidae, sendo algumas exóticas, enquanto outras são nativas da região de cultivo. Cada espécie tem o seu potencial biológico, pois a oscilação dos parâmetros de temperatura, salinidade, oxigênio, turbidez, dentre outros, fazem o sucesso ou o fracasso na escolha da espécie. Atualmente, das espécies de camarões marinhos que são cultivados em todo mundo, apenas duas se destacam no cenário internacional pela participação com cerca de 70% da produção mundial, que são: camarão tigre, da Ásia; e camarão branco do Pacífico. Outras espécies, como camarão branco-da-Ásia (Farfantepenaeus merguiensis, e F. indicus), camarão branco-da-China (F. chinensis), camarão-azul-do-Ocidente (Litopenaeus stylirostris) e o camarão-japonês (Marsupenaeus japonicus), merecem destaque devido às suas particularidades, embora representem apenas 30% da produção mundial.

cultivada em todo o mundo, com algumas vantagens sobre as demais espécies como altas taxas de crescimento e amplas variações de salinidade. O seu cultivo está concentrado nos países asiáticos como Tailândia, Indonésia, Filipinas e Vietnã.

Turbidez: turvo, escuro. Que fatores têm influenciado o crescimento da carcinicultura brasileira? Eurihalina: subordem dos equinodermos ofiuroides, com braços simples e ramificados.

Camarão-tigre

Camarão-branco-do-Pacífico (Litopenaeus vannamei) Esta espécie é nativa do oceano Pacífico, ocorrendo desde o Peru até o México. Este camarão, assim como o P. monodon, é uma espécie eurihalina, que se adapta bem a diferentes condições ambientais, com preferência por substrato de lama. O camarão vannamei foi o responsável pelo sucesso da carcinicultura nacional, com grandes perspectivas como cultivo em águas continentais. Os principais produtores são os países do Ocidente.

Camarão-tigre-da-Ásia (Penaeus monodon) Esta espécie é originária do oceano Índico e parte sul ocidental do Pacífico. É a espécie de maior porte e a mais

Exótico: que não é nativo; estrangeiro, esquisito, excêntrico, esdrúxulo, extravagante.

Camarão-branco

Cite as principais características do camarão tigre da Ásia e do camarão branco do Pacífico.

Resumo da lição • O sucesso na criação do camarão está relacionado a parâmetros como temperatura, salinidade, oxigênio e turbidez da água; • O camarão-tigre-da-Ásia e o camarãobranco-do-Pacífico respondem por 70% da produção mundial; • Os demais 30% da produção provêm de outras espécies como o camarãobranco-da-Ásia, o camarão-branco-daChina, o camarão-azul-do-Ocidente e o camarão-japonês.

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Lição 3

Biologia do Camarão Exoesqueleto: esqueleto externo. Quitina: substância que reveste os animais artrópodes em geral.

O

camarão-branco-do-Pacífico (L. vannamei) é um crustáceo da ordem Decápoda (possui 10 patas) da família Peneaeidae. Já o L. vannamei é uma espécie marinha, que vive, preferencialmente, em fundos de lama, e habita o fundo dos oceanos.

Morfologia Externa Os camarões são revestidos por uma carapaça ou exoesqueleto rígido constituído de quitina e sais de cálcio e possuem o corpo dividido em duas partes principais, como mostra a figura 1. ■■Cefalotórax ■■Abdome

Figura 1 – Morfologia do camarão peneídeo Cefalotórax

Abdômen

Rostro

Télson

Antenas

Urópodes Pleópodes

Antênulas: o segundo par de antenas dos crustáceos. Maxilípedes: cada um dos três pares de apêndices cefálicos dos crustáceos, situados imediatamente atrás das maxilas.

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Na região do cefalotórax se encontra o rostro, os olhos, as antenas, as antênulas, maxilípedes e pereiópodes (pernas). O rostro é uma estrutura com dentes serrilhados, tendo a função de defesa contra predadores. Os olhos são compostos e estão localizados na extremidade do pedúnculo ocular, permitindo ao animal uma ampla visão. Suas antenas têm a função sensorial (tátil e olfativa).

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Os maxilípedes, com as mandíbulas, são responsáveis pela condução do alimento até a boca. Os apêndices torácicos são constituídos por cinco pares de pernas, e os três primeiros são responsáveis pela manipulação e a condução do alimento, enquanto os dois últimos pares são responsáveis pela locomoção do animal.


Morfologia Interna O cefalotórax aloja os seguintes órgãos: coração, cérebro, estômago, brânquias e sistema reprodutor. Na região abdominal se encontram os pleópodes, os urópodes e o télson. O télson representa o segmento terminal do abdome.

Sistema Digestivo O sistema digestivo dos camarões é constituído de boca, esôfago, estômago, hepatopâncreas, intestino, reto e ânus. O estômago é revestido por quitina, tem a forma de saco e é dividido em duas cavidades: câmara cardíaca e câmara pilórica. A câmara cardíaca possui um moinho gástrico que realiza a mastigação e compressão do alimento digerido. O hepatopâncreas ou glândula digestiva atua na produção de enzimas digestivas utilizadas na degradação química do alimento, bem como na absorção e armazenamento de nutrientes, utilizados na construção de novos tecidos. No intestino, o material fecal é compactado, transportado para o reto e ânus, onde ocorre a excreção.

Sistema Circulatório Os camarões são animais de sangue frio, que variam a temperatura corporal de acordo com a temperatura ambiente. Respiram através de brânquias, órgãos respiratórios vascularizados que obtêm o oxigênio do meio externo transportando-os para os tecidos. As brânquias também possuem a função de eliminar as excreções

gasosas e localizam-se sob a carapaça na região lateral ou cefalotórax. O pigmento respiratório é a hemocianina que faz o transporte do oxigênio.

Sistema Excretor Os órgãos excretores dos crustáceos são constituídos por um par de glândulas antenais (também denominadas glândulas verdes), que realizam a filtração do sangue, eliminando os resíduos metabólicos e reabsorvendo substâncias que podem ser aproveitadas pelo animal, como a glicose. A amônia é o principal produto nitrogenado excretado pelas brânquias e pelo próprio tegumento dos animais.

Pleópodes: cada um dos apêndices abdominais anteriores. Urópodes: apêndice do sexto segmento abdominal dos crustáceos.

A partir da figura, descreva as principais partes do camarão.

Muda É um processo natural que consiste na troca da carapaça, permitindo o crescimento do esqueleto externo (exoesqueleto) do camarão. A frequência de muda (ecdise) está associada ao crescimento do camarão, sendo que os animais mais jovens apresentam um intervalo de muda menor do que os indivíduos adultos. Durante a muda, os camarões tornam-se vulneráveis e completamente indefesos e expostos à predação e não conseguem se alimentar, visto que seus apêndices alimentares estão moles. O processo de muda pode ser dividido em quatro estágios: ■■Muda ■■Pós-muda ■■Intermuda ■■Pré-muda

Hemocianina: proteína que contém cobre e não contém o grupo heme, encontrada na hemolinfa de alguns moluscos e artrópodes.

Observando a morfologia interna do camarão, explique como funcionam os sistemas digestivo, circulatório e excretor.

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O que é muda?

A tabela 1 apresenta o peso do camarão relacionado com os intervalos da muda em dias.

TABELA 1 - INTERVALOS DE MUDA DOS CAMARÕES PENEÍDEOS Peso do Camarão (g)

Intervalo da Muda (dias)

2–5

7–8

6–9

8–9

10 – 15

9 – 12

16 – 22

12 – 13

23 – 40

14 – 16

50 – 70 (fêmea)

18 – 21

50 – 70 (macho)

23 – 30

O ciclo de vida do camarão marinho é apresentado na figura 2 a seguir.

FIGURA 2 - CICLO DE VIDA DO CAMARÃO MARINHO

Estágios larvais Os camarões peneídeos possuem três fases larvais, que se subdividem em vários subestágios: Fase náuplios: após a desova, os ovos podem eclodir em um período de 13 a 20 horas, a uma temperatura de

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24 a 29 ºC. Dos ovos eclodem os náuplios, primeira forma larval dos camarões marinhos, que se alimentam exclusivamente das reservas nutritivas existentes em seu próprio corpo. Durante a fase náuplio, o camarão vannamei passa por 5 subestágios.


Depois de 2 a 3 dias, os náuplios passam por uma metamorfose e se transformam em Zoea.

Fase náuplios

c) Zoea III: esta fase leva o mesmo tempo que a transformação de Zoea I para Zoea II, tendo como principal característica o aparecimento dos urópodes. A partir dessa fase, a boca das larvas já consegue ingerir alimento à base de zooplâncton, podendo-se fornecer uma concentração de 0,5 a 0,6 de náuplios de Artêmia/mL. Fase Mysis: após a terceira fase de Zoea, as larvas passam para um estágio mais desenvolvido chamado de Mysis. Na fase Mysis, existem três subestágios com uma duração de 3 a 5 dias. Nessa fase, as larvas nadam de cabeça para baixo, nas camadas mais profundas do berçário.

Microalgas: pequenas algas.

Explique o que acontece na fase náuplio. Descreva os subestágios da fase Zoea.

Zooplâncton: qualquer organismo animal que compõe o plâncton.

Fase Zoea: a duração do estágio de Zoea, normalmente é de 3 a 6 dias, dividida em 3 subestágios. Durante esta fase, as larvas são alimentadas com microalgas, como as diatomáceas, com uma densidade de 3,0 x 103 a 1,0 x 104 células/cm3 de água de cultivo. Nos laboratórios, são cultivadas várias espécies de microalgas, para fornecer uma alimentação diversificada e rica em nutrientes importantes para o seu crescimento. Fase mysis

Fase Zoea

a) Zoea I: nesse subestágio, o corpo é consideravelmente mais longo do que a fase náuplio. Não são visíveis os olhos compostos. b) Zoea II: a transformação acontece no período de 30 a 40 horas. A principal característica é a presença de um par de olhos compostos, na parte frontal da cabeça.

a) Mysis I: as larvas possuem o corpo mais alongado que o Zoea III, e a principal característica é o surgimento do télson, sendo que os pereiópodes já estão desenvolvidos. b) Mysis II: neste momento começam a surgir os primeiros vestígios dos pleópodes. c) Mysis III: as larvas apresentam pleópodes completamente desenvolvidos e o abdôme segmentado. Possuem comprimento em torno de 4,0 mm.

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Plantônico: pertecente ao plancton. Bentônicos: diz-se de animal ou vegetal que vive no fundo do mar, lago ou lagoa.

O que acontece com as larvas de camarões na fase Mysis?

As larvas na fase mysis são alimentadas com microalgas e náuplios de artêmia. Os cistos de artêmia são eclodidos separadamente, para evitar que os restos comprometam a qualidade da água na larvicultura. Pós-larvas: a partir desta fase, a larva que até então era planctônico começa a adquirir hábitos bentônicos. Após cerca de 20 mudas, a forma do corpo e os apêndices são semelhantes ao da forma adulta. Durante o estágio de pós-larva, a profundidade nos tanques-berçários é aumentada gradualmente, até atin-

gir um volume adequado, sendo a água renovada na proporção de 20 a 40% por dia, ou até mais. Nestes tanques podem ser estocados em densidades de aproximadamente 20 a 30 PL10/L. As larvas neste estágio, já estão prontas para serem transferidas para os viveiros de engorda, ou levadas para o berçário durante 10 a 15 dias, tornando -as mais resistentes e com peso médio de 0,5 g. A figura 3 ilustra a forma e o tamanho de cada um dos estágios larvais.

FIGURA 3 - CICLO DE VIDA DO CAMARÃO Náuplios

Zoea

Mysis

Pós-larvas

Resumo da lição • Os camarões possuem exoesqueleto com o corpo dividido em duas partes: cefalotórax e abdômen; • No cefalotórax encontra-se o coração, o cérebro, o estômago, as brânquias e o sistema reprodutor; • No abdome localizam-se os pleópodes, os urópodes e o télson; • A muda é o um processo natural que consiste na troca de carapaça; • O processo de muda é dividido em 4 estágios: muda, pós-muda, intermuda e pré-muda; • As fases Zoea e Mysis apresentam, cada uma, três subestágios.

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Lição 4

Parâmetros físico-químicos

A

carcinicultura já desenvolveu tecnologias em relação à produção de pós-larvas e maior ganho de peso durante a fase de engorda, mas alguns aspectos vêm sendo deixados de lado, como a qualidade da água nos viveiros e a compreensão dos parâmetros que regem o comportamento e a reprodução dos camarões. O melhor conhecimento da composição da água, e quais as causas das suas mudanças são os fundamentos para manter condições favoráveis aos camarões e aos organismos que ali se desenvolvem. A seguir são detalhados um conjunto de fatores físico-químicos que são considerados importantes para a criação de camarão L. vannamei.

Salinidade É definida como a concentração total de íons dissolvidos na água. Comumente a salinidade é expressa em miligramas por litro (mg/L), mas na aquicultura é mais conveniente expressá-la em partes por mil (ppt). O valor da salinidade pode ser convertido de mg/L em ppt dividindo por mil, isto é, 2.500 mg/L = 2,5 ppt. Como padrão, a água doce é usualmente considerada uma concentração até 0,5 ppt. Em muitos casos de águas interiores, a salinidade pode oscilar de 0,05 a 1,0 ppt, especialmente em locais áridos que podem conter uma alta concentração de sais.

Em valores acima 1,0 ppt é possível notar o sabor da água salobra. Os oceanos apresentam uma salinidade em torno de 34,0 ppt, enquanto que os estuários de rios e mangues que sofrem mudanças extremas conforme a maré e a época do ano, possuem em média 18,0 a 22,0 ppt. Durante a estiagem, principalmente na maré seca, constatamos que a salinidade do estuário ou viveiro aumenta. Do mesmo jeito, um aumento de água proveniente da chuva ou de rios irá se misturar com a água salgada e diminuir a concentração de sais no estuário, portanto, diminui a salinidade. A água recebe algumas denominações quanto à salinidade: ■■Água doce: de 0 a 0,5 ppt. ■■Oligohalina: de 0,5 a 3,0 ppt. ■■Mesohalina: de 3,0 a 16,5 ppt. ■■Polihalina: de 16,5 a 30,0 ppt. ■■Marinha: de 30,0 a 40,0 ppt. ■■Hipersalina: acima de que 40,0 ppt. Sete íons (sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloreto, sulfato e bicarbonato) são os responsáveis pela salinidade das águas. Outras substâncias que compõem a água do mar em quantidades bem menores e responsáveis pela fertilização do ambiente em nutrientes importantes para o plâncton, são: Fósforo, Nitrogênio inorgânico, Ferro, Manganês, Zinco, Cobre e Boro, entre outros.

Aquicultura: é o processo de produção em cativeiro, de organismos com habitat predominantemente aquático, tais como peixes, camarões, rãs, entre outras espécies.

Que parâmetros físico-químicos são importantes conhecer para a criação de camarões? Explique em quais situações a salinidade do viveiro pode aumentar ou diminuir.

Íons: átomos ou grupos de átomos com falta ou excesso de elétrons, portador de carga elétrica.

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A tabela 2 mostra a quantidade de cada um dos íons para três tipos de águas.

TABELA 2 - QUANTIDADE DE ÍONS POR TIPO DE ÁGUA Íon

Água do Mar

Água Estuarina

Cloreto

19.000

12.090

6

Sódio

10.500

7.745

8

Sulfato

2.700

995

16

Magnésio

1.350

125

11

Cálcio

400

308

42

Potássio

380

75

2

Bicarbonato

142

156

174

86

35

4

34.558

21.529

263

Outros Total

Aclimatação: adaptação, ajustamento.

Refratômetro: instrumento para medir o índice de refração de uma substância.

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As larvas de camarão são capturadas ou produzidas em laboratórios com águas de salinidade compreendida entre 28,0 e 35,0 ppt. Entretanto, durante a fase de pós-larvas, os viveiros podem apresentar níveis mais baixos de salinidade. Quando as larvas são transferidas para os viveiros de engorda, estas devem passar por um processo de aclimatação gradual de salinidade, com a intenção de reduzir o stress e a mortalidade. O padrão é não exceder 1 a 2 ppt (partes por mil) de mudança da salinidade por hora, e caso a aclimata-

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Água Doce

ção exceda de 6 a 8 horas, devemos alimentar as larvas de camarão. O camarão L. vannamei, nativo do oceano Pacífico é cultivado com taxas de salinidade ideais entre 15,0 e 25,0 ppt. No Equador, muitos criadores afirmam que o vannamei pode ser cultivado em água doce, mas mesmo que ele tolere esse tipo de água por várias semanas, a salinidade de pelo menos 0,5 ppt é necessária para o crescimento e sobrevivência do camarão. Os refratômetros manuais não medem com precisão baixas salinidades.


A tabela 3 mostra a relação entre o índice pluviométrico de chuvas e a salinidade dos viveiros ao longo do ano.

TABELA 3 - CALENDÁRIO DO ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO E SALINIDADE DOS VIVEIROS Índice Pluviométrico (mm)

Salinidade nos Viveiros (ppt)

Janeiro

521

23,8

Fevereiro

206

8,4

Março

51

4,2

Abril

203

4,1

Maio

10

3,8

Junho

0

5,0

Julho

0

9,2

Agosto

0

10,2

Setembro

0

14,6

Outubro

0

20,7

Novembro

0

22,3

Dezembro

76

23,1

Mês do Ano

pH O termo pH informa a concentração de íons de hidrogênio (H+) na água, indicando se esta é ácida ou básica. A escala de pH varia de 0 a 14, sendo considerada neutra em 7 e quanto menor o valor, mais ácida será a solução. O pH da água estuarina oscila entre 7 e 9, e o fitoplâncton se desenvolve nos viveiros utilizando o Dióxido de Carbono (CO2) para a fotossíntese. Desse modo quanto mais CO2 for consumido, menos íons de H+ teremos dissociado na água, causando um aumento no pH. Inversamente, à noite, o fitoplâncton (como todo organismo vegetal) não remove mais o Dióxido de Carbono e vai competir com a respiração dos organismos aquáticos na assimilação de Oxigênio, fazendo o pH diminuir (maior acidez).

Apesar das poucas informações sobre a influência do pH para a criação do camarão, podemos seguramente dizer que em estuários dificilmente o pH vai cair para menos de 6,5 ou passar de 9,0. A presença de solos ácidos afetam o cultivo e precisam ser equilibrados. O equilíbrio do pH de solos ácidos é feito através da calagem, que consiste na adição de cal virgem ou calcário no substrato dos viveiros (a calagem também serve para dizimar qualquer bactéria ou protozoário que possa ter ficado nas poças do fundo do viveiro).

Refração: ato ou efeito de refratar(-se). Modificação da forma ou da direção de uma onda que, passando através de uma interface que separa dois meios, tem, em cada um deles, diferente velocidade de propagação.

Como devemos proceder para aclimatar o camarão à baixa salindade? Que fatores são responsáveis pelo aumento ou diminuição do pH dos viveiros?

Protozoário: ser unicelular que pode ser parasita ou não.

Matéria orgânica As águas dos rios usadas para abastecer os viveiros nos quais o camarão marinho é cultivado, normalmente apresentam uma alta concentração de partículas de solo e de matéria

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O que vem a ser a matéria orgânica e que efeitos ela pode causar na criação do camarão?

Dragagem: serviço de desobstrução do fundo dos rios ou do mar.

Que recomendações devem ser seguidas no que se refere à turbidez da água? Viveiros com águas transparentes são recomendados? Explique.

Disco de Secchi

orgânica, mantidas em suspensão devido ao movimento das correntes d’água. Esse material é proveniente da erosão causada pela ação das águas no leito e margens dos rios, carreando detritos como folhas e galhos decompostos, restos de animais e solos diversos, sendo mais acentuado se houver indícios de erosão ou desmatamento da vegetação ciliar. Como consequência, todo esse material será bombeado para os viveiros, aonde irão se depositar no substrato (fundo do viveiro), causando o acúmulo de sedimentos que, com o tempo, vão reduzindo a sua profundidade. Outra consequência negativa é a degradação desse material por bactérias decompositoras, que o aproveitarão como adubo orgânico, tornando as águas mais escuras, além de influenciar no decréscimo da quantidade de oxigênio dissolvido na água. Os métodos de controle de sedimentos envolvem: a remoção periódica destes no final de cada ciclo após a despesca; a dragagem dos viveiros e o uso de canais ou bacias de sedimentação para remover a maior parte dos sedimentos antes de um novo cultivo. As bacias de sedimentação devem ser tão profundas quanto possível, para maximizar a sua capacidade de armazenamento. Caso o nível da água dos canais de drenagem esteja 40 a 50 cm mais baixo que os viveiros de engorda, isso facilitará o transporte da água por meio da gravidade. As bacias de sedimentação devem ser subdivididas para permitir que o processo seja feito por etapas.

Turbidez Qual o papel do Nitrogênio nos viveiros?

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Existem dois tipos básicos de turbidez: a causada por material em suspensão e a que se dá pela grande proliferação do fitoplâncton. Ambas diminuem a

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

passagem dos raios solares na coluna d’água. Para o camarão é importante que haja, principalmente, produção de plâncton e a sua utilização como alimento natural pelos camarões. Viveiros com águas transparentes normalmente contém baixas concentrações de nutrientes orgânicos, devendo, portanto, ser tratados com fertilizantes químicos ou esterco curtido, para favorecer o aparecimento de microalgas e organismos aquáticos que poderão ser utilizados como alimento natural pelos camarões. É importante salientar que o excesso de fitoplâncton pode causar uma depleção (queda) nos níveis de oxigênio dissolvido na água dos viveiros. Para se medir a turbidez das águas, usa-se o Disco Secchi (disco de 20 cm de diâmetro nas cores branca e preta). A medida é tirada pela profundidade que ainda se consegue visualizar o Disco no viveiro. Visibilidades em torno de 30 a 40 cm são consideradas excelentes para o camarão cultivado. A medida da profundidade é conseguida através de um cordão marcado com espaços regulares, onde se pode saber a profundidade em que o Disco de Secchi se encontra.

Nitrogênio Uma das mais importantes classes de compostos que resultam da decomposição são os compostos nitrogenados, e o processo pelo qual eles são gradativamente transformados é chamado de Ciclo do Nitrogênio. No ciclo de nitrogênio, ocorrem diversas transformações do elemento nos viveiros de engorda, que geram substâncias como amônia orgânica e inorgânica, nitrito, nitrato e o próprio nitrogênio na sua forma mais simples. As fezes, a alimentação não consumida, os dejetos dos peixes e qualquer outra matéria


orgânica que se acumula não desaparecem da água sozinhos. Eles são decompostos por micro-organismos, muitas vezes resultando em substâncias tóxicas. Mas, existem seres que transformam essa matéria decomposta em outros compostos, que possam ser novamente aproveitados por outros organismos. São seres microscópios chamados bactérias nitrificantes, cuja função na natureza é atuar como decompositores dos compostos nitrogenados. Essas bactérias só existem em quantidades muito pequenas (trazidas junto com a água, com o cascalho, etc.). Portanto é fundamental, nas primeiras semanas, fazer com que esta colônia de bactérias se multiplique até atingir uma quantidade que seja capaz de processar os dejetos dos camarões que virão a seguir. Assim, dependemos da formação de uma boa colônia de bactérias nitrificantes para que possa haver vida saudável nos viveiros. Uma correta circulação da água, um aumento na aeração, uma boa iluminação, um pH ao redor de 7,0, e a não presença de detritos orgânicos acumulados no fundo dos tanques, evitam problemas com a amônia total. Isso se deve à alta capacidade da amônia passar para nitrito e mais rapidamente para nitrato, quando da presença de oxigênio (taxa fotossintética ideal). É bom lembrar que são as algas azuis, chamadas de cianofíceas, as responsáveis pela fixação do nitrogênio molecular N2, em águas de rios e represas. Porém, tais algas podem produzir odor e sabor desagradável e apresentar toxicidade. O controle apropriado dos parâmetros da qualidade da água é parte essencial para a solução de problemas que possam acontecer. Os resultados obtidos através de amostragens com equipamentos nos viveiros podem oferecer sinais de

advertência para o tratamento necessário. A seguir destacamos os parâmetros a serem monitorados nos diversos viveiros. Amônia: a amônia presente nas formas ionizada e não ionizada é extremamente tóxica no cultivo. Mesmo em baixos níveis, a amônia pode afetar o sistema central dos organismos, reduzindo a capacidade de obter oxigênio e baixando a resistência à doença. A amônia é proveniente da eliminação dos excrementos dos animais e resíduos da alimentação. Os níveis dependem do pH, e podem flutuar durante todo o dia. Nitrito: identificado como um produto intermediário entre a Amônia e o Nitrato durante os processos de decomposição, é extremamente tóxico. Níveis elevados de Nitrito juntamente com baixas concentrações de cloretos, podem ocasionar a methemoglobinemia, mais conhecido como a doença marrom no sangue dos animais. Alcalinidade: compostos como o Bicarbonato e o Carbonato de Cálcio funcionam como estabilizadores para a correção da alcalinidade, dureza e pH, que afetam a toxidade de muitas substâncias na água. Dióxido de Carbono (CO2): diversas espécies de organismos aquáticos apresentam diferentes suscetibilidades a toxidade do CO2. O dióxido de carbono afeta a capacidade do sangue de reter e transportar o oxigênio para as células. Produzido durante a fotossíntese (microalgas), os níveis de dióxido de carbono no camarão flutuam durante todo o dia, em oposição às concentrações de oxigênio. Um aumento no nível de gás carbônico faz o pH reduzir, acidifcando as águas dos viveiros. Cloretos: os níveis de cloretos podem afetar a saúde dos animais de duas maneiras: como constituinte principal

Micro-organismo: organismo microscópico.

Que aspectos devem ser considerados no controle da amônia nos viveiros?

Fotossíntese: síntese de substâncias orgânicas mediante a fixação do gás carbônico do ar através da ação da radiação solar. A clorofila tem participação fundamental nesse processo.

Fundação Demócrito Rocha 17


Despesca: colher com a rede ou tarrafa os peixes dos açudes, viveiros ou currais.

Qual o papel do dióxido de Carbono na criação de camarão? Explique o que é alcalinidade e dureza.

impedindo a toxidade do nitrito e para eliminar bactérias e outros organismos indesejáveis após a despesca dos viveiros. Cobre: na forma de sulfato de cobre, é frequentemente usado em sistemas de aquicultura como um bactericida; porém, em níveis elevados podem ser tóxico aos camarões. Oxigênio: o teor de oxigênio dissolvido é o mais importante na aquicultura. Os níveis de oxigênio dissolvido afetam na respiração, bem como na toxidade da amônia e do nitrito. A salinidade e a temperatura estão diretamente associadas com a variação de oxigênio. Fosfatos: substâncias fosfatadas fazem parte de muitas fontes de água, como em resíduos da agricultura, esgoto doméstico e industrial. O fósforo

é um ingrediente preliminar na fertilização de viveiros e no aparecimento de microalgas na aquicultura. Dureza: a dureza total é definida como a concentração de cálcio e magnésio na água. Níveis suficientes de dureza podem diminuir a amônia e a toxidade do pH. O cálcio também é importante na formação da carapaça e dos segmentos do camarão. Temperatura: a temperatura regula todas as reações químicas existentes na água, inclusive acelerando o metabolismo dos indivíduos. Mudanças drásticas na temperatura podem ocasionar variações nos processos químicos, físicos e biológicos, e comprometer a saúde e crescimento dos camarões.

TABELA 4 - PARAMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E CONCENTRAÇÕES RECOMENDADAS Parâmetros

Concentração (mg/L)

Parâmetros

Concentração (mg/L)

Alcalinidade

10 - 400

Manganês

< 0,01

Alumínio

< 0,01

Mercúrio

< 0,02

Amônia (NH3)

< 0,02

Nitrito (NO2)

0,1

Amônia Total

< 0,1

Nitrato (NO3)

0-3

Arsênico

< 0,05

Níquel

< 0,1

Cádmio

0,001

Oxigênio (O2)

5 a 100% saturação

Cálcio

4 - 160

pH

6,5 - 8,0

Dióxido de Carbono (CO2)

0 - 10

Potássio

<5

Cloro

< 0,003

Prata

< 0,003

Cobre

0,01

Salinidade

< 50 ppt

< 0,02

Sódio

75

Dureza Total

10 - 6.000*

Sólidos Dissolvidos

< 400

CN (Cianeto)

< 0,005

Sólidos em Suspensão

< 80

Gás Sulfídrico (H2S)

< 0,003

Sulfato (SO4-2)

< 50

Ferro

< 0,01

Sulfeto (S-)

<1

< 15

Zinco

< 0,005

Chumbo

Magnésio

* Para águas com 35 ppt (partes por mil)

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Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura


Fatores relevantes para escolha do local do empreendimento Atualmente, o grande interesse pela carcinicultura tem motivado alguns empresários a investirem na implantação de fazendas de camarão nos estados do Nordeste do Brasil. O local para localizar um projeto de carcinicultura é um fator preponderante no sucesso ou no fracasso do empreendimento, pois contribui, em grande escala, para a rentabilidade do projeto e sobre os custos de construção e operação. Para a seleção do local, primeiramente deve ser realizado um estudo amplo da região onde se deseja instalar o projeto, para só depois fazer uma avaliação específica do local onde serão construídos os viveiros. Vários aspectos devem ser levados em consideração, tais como: ■■Clima ■■Temperatura ■■Pluviosidade ■■Ventos ■■Água ■■Topografia ■■Solo ■■Vias de acesso ■■Eletricidade e comunicação ■■Mão de obra ■■Matéria-prima e insumos ■■Disponibilidade e custos dos insumos essenciais ■■Mercado Clima: o clima não influenciará somente na produção, mas também no tempo necessário para a construção do empreendimento. Este fator é de fundamental importância, pois permite que seja feito um levantamento detalhado de todas as variáveis. Temperatura: o local ideal não deve apresentar grandes variações de temperatura. O camarão L. vannamei é

uma espécie que vive em maior abundância em regiões tropicais; portanto, o seu desenvolvimento em cativeiro é mais adequado em temperaturas entre 26 a 31 ºC durante o ano. A região Nordeste possui excelente temperatura da água para o cultivo desta espécie durante todos os meses do ano, fato que não ocorre nas regiões Sul e Sudeste do País. Pluviosidade: durante as diversas épocas do ano, a quantidade de chuvas que ocorrem na região devem ser medidas. Períodos de chuvas fortes podem dificultar o acesso à área do projeto bem como ocasionar inundações severas regiões de cultivos, erosão dos diques, etc. Ventos: os ventos são fatores benéficos ao cultivo, pois promovem uma melhor aeração do viveiro, incrementando os níveis de oxigênio dissolvido na água e consequentemente diminuindo os custos com aeração artificial. No entanto, áreas que apresentam ventos fortes, associadas com altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, terão grande evaporação, o que pode acarretar aumentos indesejáveis à salinidade da água do viveiro. Água: a água para abastecimento dos viveiros deve ser isenta de poluição, pesticidas, herbicidas, despejos domésticos, metais pesados e apresentar as condições hidrobiológicas requeridas. Topografia: o terreno ideal para a carcinicultura deve apresentar relevo plano ou suavemente ondulado com pequeno desnível com declividade variando de 1,0 a 2,0%, que permite a movimentação de terra a um custo relativamente menor, além de possibilitar o abastecimento por bombeamento e a drenagem por gravidade. Solo: o tipo de solo determinará a viabilidade e a facilidade de construção dos viveiros. Um solo adequado para a carcinicultura marinha deve

Qual o papel da temperatura nos viveiros? Que variáveis devo levar em consideração para escolher o local de criação de camarões?

Dique: barragem feita de materiais diversos (pedra, terra, areia, etc.) para desviar ou conter a invasão da água do mar ou de rio.

Por que não se recomenda criação de camarão onde existe alta pluviosidade e fortes ventos?

Fundação Demócrito Rocha 19


Infiltração: movimento de água através do solo, causado pela gravidade.

Mão de obra qualificada é uma condição imprescindível para o sucesso do empreendimento. Para isso, programas de capacitação devem ser continuamente ofertados.

Como deve ser o pH do solo para criação de camarões?

O sucesso de todo e qualquer empreendimento está associado à existência de uma boa infraestrutura de acesso, que deve ser assumida pelo poder público.

apresentar capacidade de reter água e ser, de preferência, argiloso ou argilo-arenoso. Na construção dos viveiros deve-se evitar terrenos arenosos, devido aos altos índices de infiltração, o que resultará na elevação dos custos de bombeamento. É importante que o solo não apresente pH muito ácido (pH < 5), principalmente os solos sulfatados, que geralmente são ricos em ferro solúvel, magnésio e alumínio, e podem afetar negativamente no crescimento dos camarões. Vias de acesso e meios de transporte: o acesso ao local deve ser rápido e existir meios de transporte para escoar a produção. Eletricidade e comunicação: a propriedade deve dispor de energia elétrica e também de sistema de telefonia. Mão de obra: deve ser recrutada mão de obra especializada e não especializada para a atividade proposta. Matéria-prima e insumos: é de fundamental importância que a região onde vai ser instalado o projeto de carcinicultura disponha de pós-larvas

de qualidade reconhecida e quantidade suficiente. Deve haver também disponibilidade de insumos em geral necessários à produção, tais como ração de boa qualidade, fertilizantes, produtos para esterilização e calagem dos viveiros. Disponibilidade e custos dos insumos essenciais: os diversos insumos disponíveis necessários para a construção, manutenção e produção devem ter o menor custo possível. Mercado: a fim de facilitar e reduzir os custos com a venda dos camarões produzidos, deve-se levar em conta a proximidade do mercado consumidor. Uma boa alternativa é a comercialização do produto no mercado nacional que paga preços melhores e o produtor pode vender o camarão fresco, diminuindo assim os custos com o beneficiamento. Com a atividade estabelecida em diversos países, o mercado internacional também pode ser uma fonte segura para o escoamento da produção.

Resumo da lição • Os parâmetros físico-químicos que devem ser observados na carcinicultura em viveiros são: salinidade, pH, matéria orgânica, turbidez da água, dureza, temperatura, compostos nitrogenados, alcalinidade, CO2, cloretos, cobre, oxigênio, fosfatos; • Alguns fatores ambientais devem ser considerados na escolha do local do empreendimento, tais como: clima, temperatura e pluviosidade, ventos, água, topografia, solo, infraestrutura, mão de obra e mercado consumidor.

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Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura


Lição 5

Sistema de cultivo

O

s sistemas de cultivo de camarão são classificados de acordo com as fases operacionais em:

■■Monofásico; ■■Bifásico; ■■Trifásico.

Monofásico (estocagem direta): este sistema utiliza somente viveiros de engorda, onde as pós-larvas (geralmente PL10) provenientes dos laboratórios são diretamente estocadas. Bifásico: este sistema compreende a adoção de dois tipos de viveiros: tanques-berçários (berçários intensivos) e viveiros de engorda. Trifásico: sistema pouquíssimo utilizado, sendo constituído por três viveiros distintos com tamanhos crescentes, em que à medida que os camarões crescem, são transferidos para os outros viveiros de diferentes dimensões. De acordo com o nível de controle dos parâmetros ambientais, físico-químicos, densidade de estocagem, utilização de alimentos artificiais e taxa de renovação da água do viveiro, o sistema de cultivo pode ser classificado: ■■Extensivo; ■■Semi-intensivo; ■■Intensivo. A seguir encontram-se descritas as principais características dos três tipos de viveiros.

Extensivo ■■Viveiros

maiores do que 10 ha. ■■A alimentação é a produtividade natural (não há oferta de ração). ■■Densidade de estocagem baixa (1 a 5 camarões/m2). ■■Baixo aporte tecnológico (baixa taxa de renovação de água, controle mínimo das variáveis físicas e químicas da água do viveiro). ■■Produtividade: 200 a 700 kg/ha/ ciclo. ■■Não utiliza aeradores. ■■Baixo nível de mão de obra qualificada. ■■Baixo custo de produção. ■■Baixo impacto ambiental.

Semi-intensivo ■■Viveiros

entre 1 e 10 ha. ■■Predominância do alimento artificial sobre o natural. ■■Densidade entre 5 a 50 camarões/m2. ■■Médio aporte tecnológico. ■■Alta produtividade: 700 a 3.000 kg/ha/ciclo. ■■Utilização de aeração mecânica. ■■Médio a alto nível de mão de obra qualificada. ■■Custo de produção médio. ■■Uso de aeração mecânica.

Explique as fases operacionais do cultivo do camarão

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Intensivo ■■Viveiros

pequenos de 2 a 4 ha. ■■Predominância do alimento artificial sobre o natural. ■■Densidade de estocagem elevada: 50 a 100 camarões/m2. ■■Alta produtividade: 3.000 a 8.000 kg/ha/ciclo. ■■Alto nível de mão de obra qualificada. ■■Custo de produção elevado. Qual sistema de cultivo de camarão tem menor impacto ambiental?

Componentes de uma fazenda de camarão Uma fazenda de camarão marinho deve apresentar as seguintes instalações ■■Tanques-berçários ■■Viveiros de engorda ■■Casa de bombas (bombas para captação de água) ■■Canal de abastecimento ■■Canal de drenagem ■■Comporta de abastecimento e drenagem ■■Setor para estocagem de ração e almoxarifado ■■Bacia de sedimentação ou decantação

independente. A aeração deve ser originária do fundo do tanque para manter as partículas de alimento em suspensão. ■■Nos berçários de formatos circulares, o dreno deve ficar no centro, constituído de cano de PVC de 100 mm coberto com tela de 500 micras para permitir a renovação da água sem fuga dos animais. ■■A água utilizada para compensar as perdas sofridas pela evaporação passa por uma luva com 300 micras, para evitar a entrada de ovos e larvas de predadores e competidores. A fim de facilitar o esvaziamento do berçário, deve haver certo declive no sentido do dreno.

Tanques-berçários (Berçários Intensivos)

Tanques berçários

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Os tanques-berçários podem ser construídos em alvenaria, fibra de vidro ou concreto armado e apresentam uma profundidade média de 1,2 m com volume útil de 20.000 a 80.000 L. Apresentam ainda as seguintes características: ■■Têm formatos, preferencialmente, circulares, retangulares ou hexagonais. ■■Devem sem construídos em uma área aberta próximo ao canal de abastecimento. ■■São dotados de aeração constante, abastecimento e drenagem

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

Aeração artificial

Viveiros de engorda Apresentam as seguintes características: ■■São escavados em terreno natural. ■■Os taludes (paredes dos viveiros) são construídos com o solo retirado na escavação e terraplanagem e deve possuir uma inclinação de 3 : 1.


■■Para permitir o escoamento duran-

te a despesca, a terraplenagem deve permitir uma inclinação em torno de 10 cm a cada 10 m.

■■As

dimensões do canal de abastecimento variam de acordo com o porte do empreendimento. Em empreendimentos de grande porte podem se dividir em principais e secundários. ■■Deve apresentar uma profundidade que permita a decantação das partículas sólidas provenientes do bombeamento.

Explique como funcionam os tanques berçários e os viveiros de engorda.

■ ■O

custo para construção de viveiros deve ser barato, em termos de materiais de construção, terra, equipamento e mão de obra.

Casa de Bombas (bombas para captação de água) ■ ■O

local onde serão instaladas as bombas responsáveis pela captação das águas necessárias ao abastecimento e renovação dos viveiros deve ser seguro. ■■As bombas devem apresentar uma capacidade que permita renovar diariamente em 12 horas de funcionamento cerca de 10% do volume total de todos os viveiros da fazenda.

Bomba para captação

Canal de abastecimento ■ ■O

canal de abastecimento deve estar acima do nível do solo, pois permitirá acumular água em grande volume, funcionando como um reservatório de água, que lançará a água por gravidade aos viveiros.

Canal de abastecimento

Canal de drenagem ■■Os

canais de drenagem devem permitir o completo escoamento da despesca dos viveiros da fazenda. Suas dimensões e profundidade variam conforme o porte do empreendimento. ■■Atualmente em alguns empreendimentos há preocupação com os efluentes da aquicultura. Nesta situação estes canais devem ser mais largos e profundos, permitindo a sedimentação da água dos viveiros. ■■Deve situar-se pelo menos 30 cm. ■■ A água drenada não deve fluir para a área de coleta da água de abastecimento, pois, se isso acontecer, corre-se o risco de captar esta água que apresenta qualidade inadequada para o cultivo. ■■A parte posterior do canal de drenagem deve permitir a instalação de uma rede para coleta dos camarões durante a despesca.

Que cuidados são necessários para o funcionamento adequado da casa de bombas e do canal de abastecimento?

Sedimentação: processo de formação ou acumulação de sedimentos em camadas do solo.

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Fendas: rachaduras, sulcos.

Comporta de abastecimento e drenagem ■ ■A

comporta de abastecimento deve ser construída em concreto com capacidade para abastecer 100% dos viveiros em 24 horas.

■■Deve

estar sempre em nível superior ao dos viveiros para que a água escoe por gravidade para eles. ■■Deve apresentar fendas na sua parte frontal, onde são encaixadas telas protetoras para impedir a entrada de predadores.

Comporta de abastecimento

Setor para estocagem de ração e almoxarifado O armazenamento da ração deverá ser realizado em locais protegidos de roedores e outros animais bem como da baixa umidade e ventilação de modo a prevenir a ação de fungos e outras contaminações.

Depósito de estocagem

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Bacia de sedimentação ■■São

utilizadas para decantar os efluentes dos viveiros e os diversos resíduos sólidos. ■■Hoje em dia, existe um interesse cada vez maior dos órgãos ambientais pela recirculação e reaproveitamento das águas vindas da bacia de sedimentação.


A figura 4 apresenta um desenho esquemático de uma fazenda de camarões, composta por: viveiros,

casa de bombas, canais de abastecimento e drenagem e bacia de sedimentação.

FIGURA 4 - DESENHO ESQUEMÁTICO DE UMA FAZENDA DE CAMARÕES Canal de Drenagem

V6

Vias de Acesso

V5

V4

V3

V2

V1

Bacia de Sedimentação

Para que servem as bacias de sedimentação?

Canal de Abastecimento Casa de Bombas

Resumo da lição • Existem três sistemas de cultivo de camarões: monofásico, bifásico e trifásico; • O sistema de cultivo pode ser classificado em extensivo, semi-intensivo e intensivo; • Uma fazenda de camarões marinhos possui as seguintes instalações: tanques-berçários, viveiros de engorda, casa de bombas (bombas para captação de água), canal de abastecimento, canal de drenagem, comporta de abastecimento e drenagem, setor para estocagem de ração e almoxarifado e bacia de sedimentação.

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Lição 6

Produção de pós-larvas Teste de estresse

Por que e como deve ser feito o teste de estresse nos camarões? Que condições devem ser observadas no recebimento das pós-larvas nas fazendas de cultivo?

Sifonamento: provido de sifão.

Para a verificação da qualidade das pós-larvas, é feito o teste de estresse que consiste em: 1. Colocar um número conhecido de pós-larvas em um recipiente (em torno de 100 a 300 PLs) na salinidade de 35 ppt, na presença de aeração suave.

2. Transferi-los para água doce (salinidade em torno de 1 ppt) com temperatura constante, e mantê-los por 30 minutos. 3. Transferir novamente para água salgada a 35 ppt. 4. Aguardar mais 30 minutos e anotar o número de larvas sobreviventes. Caso a sobrevivência esteja acima de 80% pode-se considerar as larvas como de boa qualidade.

Análise macroscópica das pós-larvas Necrose: morte. Translúcida: que deixa passar a luz sem permitir que se vejam os objetos do outro lado. Dilacerações: despedaçamento.

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Verificar a presença de necrose e bactérias filamentosas na carapaça, coloração translúcida e cromatóforos discretos, presença de lipídios no hepatopâncreas, presença de alimento no tubo digestivo, deformações e dilacerações nos pleópodes, pereiópodes e brânquias. O transporte das pós-larvas nas fazendas de cultivo: ■■Feito em caixas de 1.000 L ou em bombonas, e oxigênio puro. ■■A densidade para pós-larvas com 10 a 12 dias é de 1.000 PL/L.

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

■■ Durante o transporte é feito o acom-

panhamento das condições das pós-larvas e dos parâmetros físicoquímicos da água como temperatura e oxigênio dissolvido.

Recebimento das pós-larvas nas fazendas de cultivo Durante o recebimento das pós-larvas, deverá ser feita uma amostragem verificando as seguintes condições: ■■Presença de larvas mortas. ■■Artêmia viva nos sacos. ■■Larvas em bom estado. ■■Canibalismo entre as pós-larvas e a presença de predação nos apêndices. Ao chegarem às fazendas de cultivo, as pós-larvas são transferidas diretamente do caminhão para os berçários por gravidade (sifonamento).

Tanque-berçários ■■As

pós-larvas nestes tanques são mantidas por um período de aproximadamente de 10 - 15 dias. ■■A densidade de estocagem é de 20 a 30 PLs por litro de água. ■■As pós-larvas provenientes de laboratório (PL10 ou PL11) são estocadas até atingirem fase PL21 - PL25, quando são transferidas para os viveiros de engorda. ■■Desde o laboratório até o momento antes do povoamento, é ofertada grande quantidade de biomassa de artêmia às pós-larvas.


FIGURA 5 - FLUXOGRAMA DE PREPARAÇÃO DOS TANQUES BERÇÁRIOS Limpeza para retirada de cracas e outros organismos incrustantes. Esterilização com cloro granulado e ácido muriático, para reduzir a ação patogênica de micro-organismos ao cultivo. Enchimento dos tanques com 50% do volume de água e fertilização com ureia e outros fertilizantes após 24 horas de esterilização. Lavagem com água, drenagem e exposição aos raios solares. Aumento do volume de água do tanque para 50%, após 48 horas de esterilização.

Cracas: a parte côncava das colunas estriadas. Estriadas: parte do vegetal provida de estrias.

Analise o fluxograma descrevendo sucintamente cada etapa.

Aumento do volume de água do tanque até o nível desejado em um prazo de dois dias.

Preparação dos tanques-berçários

necessário utilizar calcário dolomítico na proporção de 0,7 a 1,0 mg/m3.

Os tanques-berçários devem ser bem lavados e esterilizados com cloro, antes de receberem as pós-larvas.

Recebimento das pós-larvas nos berçários

Característica Observação: após 3 dias de fertilização, se a água do berçário não apresentar uma coloração amarronzada (característica de diatomáceas), é

As pós-larvas são transferidas do caminhão para os tanques por gravidade através de sifonamento. Antes de povoar os berçários, se for necessário, as pós-larvas são aclimatadas adicionando-se água do berçário às caixas de 1000 L.

TABELA 5 – AJUSTES DE PARÂMETROS DE QUALIDADE DE ÁGUA Parâmetro Temperatura pH Salinidade

Ajuste 1 ºC/hora 0,3 unidades hora 2 a 3 ppt/hora

Fundação Demócrito Rocha 27


Manejo Diário Monitoramento da qualidade da água O monitoramento da qualidade da água será feito diariamente através

das análises dos parâmetros hidrológicos: pH, temperatura, oxigênio dissolvido, salinidade, cor e transparência e seus valores ideais para a criação de larvas estão na tabela 6.

TABELA 6 – VALORES IDEIAIS DE PARÂMETROS PARA CRIAÇÃO DE LARVAS

Por que é necessário monitorar a qualidade da água?

Parâmetro

Valores ideais

Equipamento

pH

7,0 - 9,0

phmetro

Temperatura

28 ºC

Termômetro

Oxigênio dissolvido

> 5,0 mg/L

Soprador de ar tipo CR-4 com motor de 3,3 HP

Salinidade

25 – 30 ppt

Refratômetro

Cor

Marrom

-

Transparência

30 - 40 cm

Disco de Secchi

Sifonagem e renovação da água ■ ■A

sifonagem deverá ser realizada a cada 24 horas, ou em caso de urgência. ■■A taxa de renovação da água deverá ser realizada para compensar as perdas por evaporação/infiltração. A renovação de água por dia é de 10%, podendo ser aumentada para 20%, 30% e até 100%, dependendo das condições da água na fase de berçário.

Alimentação As pós-larvas devem ser alimentadas a cada duas horas, alternandose biomassa de artêmia e ração. A primeira alimentação deve ser ofertada às 7:00 h com artêmia. A tabela sete apresenta a quantidade de ração recomendada considerando o tamanho da pós-larva.

TABELA 7 – QUANTIDADE DE RAÇÃO POR FASE DA LARVA Fase PL10 – PL12

2,5

A partir de PL13

5,0

Obs: As quantidades de ração e biomassa são aumentadas 20% por dia de acordo com a avaliação do resultado do sifonamento (sobra ou falta

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Quantidade de ração (g)

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de alimento no fundo do tanque). Decorridos 10 a 20 dias de cultivo, as pós-larvas são transferidas para os viveiros de engorda.


As artêmias vivem nas águas salgadas ou salobras e são muito difundidas pelo mundo, apesar da sua necessidade de meio bastante especifico, que é a água pelo menos duas vezes mais salgada que a salinidade média do mar. A artêmia é um pequeno crustáceo que pertence ao filo Arthropoda e à classe dos crustáceos. São zooplânctons como Dáfnia e Copepoda,

os quais também são usados como alimento vivo. Seu tamanho é de 8 à 10 mm de comprimento e sua cor pode ser vermelho claro, rosado, cinza claro ou castanho, variando de acordo com o meio em que vive e os alimentos que ingere. Quanto mais avermelhadas melhor, pois contém mais caroteno (substância que estimula as cores dos peixes).

Resumo da lição • O teste de estresse é feito para verificar a qualidade do camarão; • A análise macroscópica das pós-larvas verifica a presença de aspectos que prejudicam o desenvolvimento dos camarões; • No recebimento das pós-larvas nas fazendas de cultivo deverá ser feita uma amostragem para verificar a qualidade das larvas; • Os tanques-berçários devem ser lavados e esterilizados; • A água dos tanques deve ser monitorada diariamente; • As pós-larvas devem ser alimentadas de duas em duas horas; • Entre 10 e 20 dias, as pós-larvas são transferidas para os viveiros de engorda.

Fundação Demócrito Rocha 29


Lição 7

Construção de viveiros

N

a escolha do terreno para construção dos viveiros de carcinicultura, é levada em conta sua característica química, isto é, sua composição química, e suas características físicas, compreendendo natureza e forma.

Características químicas do terreno Viveiro para carcinicultura

Savanas: planície das regiões tropicais de longa estação seca. Nomenclatura química Ca - cálcio Mg - magnésio K - potássio P - fósforo Al - alumínio Cl - cloro N - nitrogênio Na - sódio Fe - ferro

Para a construção de viveiros, quais devem ser as características químicas do terreno?

Impermeabilização: processo pelo qual se torna impermeável um solo.

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É a partir do solo que a água retira os minerais necessários à produção primária, isto é, à alimentação do fitoplâncton e das bactérias fotossintéticas. Portanto, a riqueza da água do viveiro depende dos minerais presentes no solo onde ele está assentado. As águas que escorrem em campos e savanas são melhores do que as de florestas. No entanto, as primeiras podem conter bastante argila em suspensão, ou seja, serem turvas. Na análise do solo torna-se necessário conhecer, principalmente, pH, dureza, alcalinidade e teores de N, P, K, Ca, Na, Mg, Fe e Al. Estes dois últimos quando em doses elevadas inviabilizam o uso do solo para construção de viveiros de carcinicultura. Para a análise, coleta-se mais ou menos 2 kg de solo, desde a superfície até a profundidade de 1,00 m num carrinho de mão ou balde. Para cada tipo de solo existente na área, será coletada uma amostra, como está indicado anteriormente.

Características físicas do terreno Textura e profundidade do solo: um dos fatores importantes a considerar é a textura do solo. Quanto a isto, ele pode ser:

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

■■Argiloso,

formado por partículas menores do que 0,002 mm (portanto, de natureza coloidal e chamado de argila) ■■Siltoso, constituído de partículas entre 0,002 e 0,02 mm, ditas silte. ■■Arenoso ou silicoso, formado de areias, cujas partículas variam de 0,02 a 0,2 mm (areia fina) e de 0,2 a 2,0 mm (areia grossa). Existem solos argilo-siltosos, silte-argilosos, argilo-arenosos, areno -argilosos, silte-arenosos e arenosiltosos, formados por misturas das partículas antes citadas. Os solos argilosos são os mais indicados para construir viveiros de aquicultura, em virtude do elevado grau de impermeabilização (grande capacidade de retenção de água) e por serem, na maioria das vezes, ricos em minerais. Os argilo-siltosos, siltosos e silte -argilosos também são bons. Os arenosos não prestam, pois não retêm água (são permeáveis) e são pobres em minerais essenciais. Solos formados por misturas de sílica e argila, isto é, sílico-argilosos, desde que contenham no mínimo 25% de argila, podem ser utilizados, contudo necessitam receber camadas compactadas de piçarra (terra argilosa), a fim de reterem água. Os solos pedregosos não podem ser usados para construção de viveiros. Outro fator a considerar é a profundidade do solo, pois às vezes, torna-se necessário escavar o viveiro no terreno natural, alcançandose profundidades de 2,00 m ou pouco mais.


Para estudar a textura e profundidade do solo escava-se uma trincheira (buraco) ou usa-se trado pedológico, instrumento que funciona como saca-rolhas, retirando as diversas camadas do perfil do solo. Forma, relevo ou topografia: a topografia do terreno é um dos principais fatores a considerar na escolha do local para construção de tanques e viveiros de carcinicultura. Ela indica: ■■A possibilidade de construção do viveiro. ■■O tipo de viveiro que pode ser construído. ■■A superfície do viveiro. ■■A forma do viveiro. ■■O número de tanques ou viveiros a construir. Isto porque nos viveiros de derivação há que se levar a água a uma altura tal que eles possam ser abastecidos e esvaziados por gravidade, qualquer que seja o nível da água no dreno natural. Nos viveiros de barragem não se deve construir diques muito compridos nem demasiadamente altos. Na prática, observa-se o declive ao longo do curso de água, que corre no fundo de um vale e o perfil transversal do vale. Para se projetar viveiros, o melhor é providenciar um levantamento planialtimétrico do terreno, em curvas de níveis de 0,5 em 0,5 m ou de 1 em 1 m, desenhando a respectiva planta nas escalas de 1 : 500 ou de 1 : 1.000. Nesta, devem constar cercas, edificações, estradas, linhas de transmissão de energia elétrica e, principalmente, fontes fornecedoras de água para os viveiros (rios, riachos, açudes, represas, poços, canais e outras). De posse do levantamento planialtimétrico, projetam-se os viveiros, definindo-se o tipo deles (derivação ou barragem, conforme a topografia do terreno), número, forma,

dimensões, profundidades e cotas de chegada de água e do ponto de esvaziamento.

Partes constituintes dos viveiros e suas construções Forma: um tanque de aquicultura pode ter formato padronizado ou irregular. Comumente, os viveiros são quadrados ou retangulares. Deve-se escolher o formato de maneira a reduzir os volumes e custos das escavações. Área: a área de um tanque ou viveiro é a superfície do espelho de água. Na carcinicultura, os viveiros têm, quase sempre, áreas em torno de 2,0 a 4,0 ha, pois grandes dimensões acarretam: ■■Dificuldade na alimentação e controle de enfermidades. ■■Em caso de depleção na taxa de O2 ou de qualquer outro problema na água do viveiro, fica impossibilitada sua renovação, dado o grande volume. ■■Elevados custos de construção e de motores elétricos. Profundidade: a profundidade de um tanque ou viveiro de aquicultura refere-se à sua lâmina de água. No primeiro, a máxima dificilmente ultrapassa 1,10 m e a mínima poucas vezes é inferior a 0,60 m. A média fica entre 0,80 a 1,20 m. Quanto ao viveiro, profundidades acima de 4,0 m são inaceitáveis, pois dificilmente a luz penetra além deste valor na água, o que acarreta diminuição ou cessação da produção orgânica. Além disso, quanto mais profundos os viveiros, mais se tornam caros. Deste modo, recomenda-se profundidade máxima variando de 1,00 a 1,30 m, dependendo da área (quanto maior, mais profundo é o viveiro), das condições climáticas (temperaturas muito baixas ou muito altas requerem viveiros mais profundos) e da topografia do terreno. Quanto à profundidade mínima, sugere-se, para o nordeste, valores entre 0,80 a 1,00 m.

Que aspectos do solo devem ser observados para a construção dos viveiros?

Viveiro

Fundação Demócrito Rocha 31


Ciperáceas: planta semelhante às gramíneas, dotada de caule trígono e folhas com bainhas fechadas.

Viveiros rasos facilitam a invasão de plantas aquáticas neles, tais como gramíneas e ciperáceas. Os de barragem tendem a ser mais profundos do que os de derivação.

A barragem apresenta Fundação: a barragem não se sustenta sobre lama, terra vegetal, areia e outros materiais permeáveis, que permitem a infiltração da água. Daí, surge a fundação, formada pela escavação e retirada desses mate-

riais, abrangendo toda extensão do dique e na largura de sua saia, até que se encontre material impermeável. Quando o terreno tem certo grau de firmeza, a fundação pode se restringir a uma vala central ou no pé da saia da barragem, parte de montante. A largura da vala pode corresponder a 1/3 da saia. A fundação é cheia com terra argilosa compactada, em camadas de até 0,15 em 0,15 m, se a compactação for manual, e de até 0,30 em 0,30 m, se mecânica.

Figura 6 - Modelo padrão de barragem Crista

Revanche

Nível do Viveiro

Talude de jusante 2,5:1 ou 2:1

Talude de montante 3:1

Enumere as partes constituintes dos viveiros e descreva suas principais características. O que é uma barragem, para que serve e como deve ser construída?

Barragem com passagem de veículos

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Fundação Saia

Saia: a barragem tem forma trapezoidal e sua saia corresponde à base maior (inferior) do trapézio. Sua largura depende da altura, da largura e da inclinação dos taludes da barragem. Quanto maiores os dois primeiros e mais deitados os taludes, mais larga será a saia e, consequentemente, mais caro o viveiro. Altura: normalmente a barragem do viveiro é baixa. Quando ele apresenta 1,00 m de lâmina máxima de água, aquela tem 1,50 m de altura, ficando 0,50 m de revanche ou folga (diferença entre o espelho máximo de água e o coroamento da barragem). Inclinação dos taludes: depende do material utilizado na construção da barragem e do grau de compactação

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

desta. Normalmente, o de montante é mais deitado (3 : 1) e o de jusante mais em pé, variando de 2,5 : 1 a 2 : 1. Largura do coroamento ou crista: se pretende usar para passagem de veículos por sobre a barragem, deve ser de 5,0 m, no mínimo. Caso contrário, poderá ser de 1,0 a 2,0 m. Quanto maior a largura da crista maior a da saia e mais caro será o dique. Após a marcação, limpeza do terreno e escavação e enchimento da fundação, inicia-se o erguimento da barragem propriamente dita. Utilizase terra argilosa (piçarra), se possível de primeira qualidade, isto é, que apresente bom grau de compactação. Isto pode ser detectado pela sua análise num laboratório de solo.


O local onde se retira a piçarra para a barragem é chamado de jazida ou empréstimo, sendo aquela escavada e transportada para a barragem em construção, onde é umedecida, espalhada e compactada. Antes de se colocar a primeira camada, o solo deve ser molhado, a fim de permitir boa aderência entre os materiais. Deste modo, à medida que se coloca camadas sucessivas de piçarra compactada, nos moldes descritos para o enchimento da fundação, elas vão se estreitando, no sentido do coroamento do dique, dando assim, a inclinação dos taludes. As larguras das camadas sucessivas podem ser marcadas com estacas ou acompanhadas por topógrafo.

Concluído o erguimento da barragem, faz-se o dimensionamento dos taludes, de modo que eles fiquem com a inclinação desejada. Após a preparação dos viveiros, definição dos canais de abastecimento e onde ficarão as bombas, iniciamos o trabalho de tratamento do solo para receber os camarões.

Que precauções devem ser tomadas na construção de barragem?

Construção da barragem

Resumo da lição • Ao escolher o terreno para construção dos viveiros, deve-se levar em consideração as características físico-químicas; • A analise do solo é importante para que se conheça o pH, dureza e alcalinidade; • O conhecimento sobre a textura do solo é fator relevante para a construção de viveiros; • A topografia do terreno é outro aspecto que deve ser considerado; • As partes constituintes de um viveiro são: forma, área, profundidade e barragem.

Fundação Demócrito Rocha 33


Lição 8

Manejo de Viveiros Revolvimento: abrir buracos, cavar, remexer.

Como é feito o manejo dos viveiros? Como se comporta o ciclo de alimentação nos viveiros?

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Manejo de Viveiros Quando a área se encontra totalmente seca, inicia-se o tratamento do substrato do viveiro, com o revolvimento do solo através de máquinas ou enxadas para permitir a sua aeração, seguida de uma calagem (adição de cal virgem ou calcário) utilizado para desinfetar o substrato, bem como para neutralizar a acidez do solo. Normalmente, a calagem é feita através de lanços manuais, cobrindo totalmente o fundo do viveiro, sendo indicada uma quantidade em torno de 100 g/m2. Considera-se uma boa calagem, quando o substrato apresenta-se todo esbranquiçado. A utilização do calcário é necessária como forma de combater possíveis bactérias ou fungos existentes na natureza, que poderiam ocasionar alguma enfermidade aos indivíduos durante a engorda. É recomendado que o viveiro permaneça de 5 a 10 dias com a calagem. Com o início do abastecimento de água, completamos os viveiros com 20% de água e iniciamos a fertilização dos viveiros. A fertilização é importante para o aumento da produtividade primária, (formação de fito e zooplâncton na água), servindo como alimento natural para os camarões e aumentando a produtividade com a ração artificial. Mesmo com o fornecimento diário de ração, a disponibilidade de organismos aquáticos no substrato, como poliquetas, copépodas e anfípodos, é grande na fase inicial do cultivo, decrescendo gradativamente à medida que a biomassa dos camarões vai

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

aumentando. Por outro lado, nos estágios intermediário e final do cultivo, as taxas de alimentação são suficientemente elevadas para suportar as densidades e promover o crescimento de microalgas, como as diatomáceas e as clorofíceas. Algumas considerações com relação à fertilização também devem ser observadas: ■■Águas com altas concentrações de nitrogênio e fósforo (águas poluídas) não requerem aplicação de fertilizantes, da mesma forma que águas com baixas concentrações. ■■As fertilizações perdem importância à medida que as taxas de alimentação crescem. ■■Microalgas como as diatomáceas são bons alimentos para camarões, e o seu crescimento pode ser maior com a adição de fertilizantes nitrogenados do que os fertilizantes fosfatados. ■■Altas taxas de alimentação e fertilização podem ocasionar a produção excessiva de fitoplânctons, resultando na diminuição dos níveis de oxigênio dissolvido na água. ■■A baixa salinidade, com altas concentrações de fósforo, favorece a produção de forma indesejável de algas azuis e verdes. ■■A fertilização e a alimentação criam uma turbidez que ajuda a controlar o crescimento de vegetais filamentosos indesejáveis na água. ■■ A renovação de água do viveiro, elimina os nutrientes de fertilização.


Fertilizantes Com relação aos fertilizantes químicos, existem dois tipos: em forma granulada e líquida. Quando o fertilizante granulado é espalhado pelo viveiro, grande parte vai sedimentar no fundo antes de dissolver completamente. Uma parcela do fosfato é absorvida pela lama, não sofrendo influência da água. Por outro lado, os fertilizantes líquidos são mais eficientes e não sedimentam no substrato. Os três fertilizantes líquidos mais comuns aproveitados na carcinicultura são o líquido de ureia, o ácido fosfórico e o polifosfato de amônia. Caso não seja possível adquirir estes compostos, pode-se dissolver o fertilizante granulado em água, para posteriormente ser aplicado na água do viveiro. Em viveiros onde a taxa de renovação diária da água varia de 5 a 10%, a fertilização deve ser feita duas vezes por semana, em pequena escala, para compensar as perdas ocasionadas pela adição de água pobre em nutrientes. Para águas com baixa fertilidade recomenda-se proporções de 20 kg de Nitrogênio e 1 kg de Fósforo por hectare. Em águas mais férteis, essa porcentagem diminui em 50% ou mais. No momento em que a visibilidade se tornar menor que 30 a 40 cm (utilização do disco de Secchi), deve ser interrompida a utilização de fertilizantes. O esterco não deve ser aplicado no cultivo, haja vista que este reduz o oxigênio dissolvido na água, além de propiciar o aparecimento de micróbios.

Aeradores Os aeradores servem para aumentar as taxas de oxigênio atmosférico na água dos viveiros, eliminando alguns gases tóxicos como o dióxido de carbono e reduzindo a ocorrência de estratificação.

Os aeradores devem ser utilizados, quando: ■■ As concentrações de oxigênio dissolvido estiverem abaixo de 3 mg/L. ■■No período da noite, para minimizar os problemas causados pela depleção (queda) do nível de oxigênio e ausência de fotossíntese. ■■Para minimizar a falta de oxigênio causada pelo excesso de dinoflagelados. Fatores combinados como a renovação diária de água, utilização moderada de fertilizantes e o funcionamento de aeradores nos períodos mais críticos, reduzem drasticamente a probabilidade dos camarões sofrerem uma queda acentuada nos níveis de oxigênio e a consequente flutuação dos camarões.

Que relações existem entre a fertilização e a taxa de renovação da água num viveiro? O que são aeradores, para que servem e como devem ser utilizados?

Bandejas As bandejas são posicionadas distando cinco metros dos taludes, e espaçadas em torno de 10 m umas das outras. As bandejas devem ser colocadas em fileiras, sendo utilizada uma média de 50 a 60 bandejas por hectare, aumentando-se a quantidade à medida que a densidade de camarões/m2 for incrementada. Os camarões juvenis, com peso médio em torno de 1 g, estarão aptos a serem transferidos aos viveiros de engorda onde permanecerão cerca de 120 dias, atingindo um peso médio de 12 g no final do cultivo. Nos primeiros 20 dias, a alimentação é feita a lanço (espalhada pelo viveiro em arremessos), sendo utilizada as bandejas após este tempo. A ração deve ser colocada nas bandejas, de acordo com a biomassa (peso vivo) dos camarões. Toda semana é feita uma amostragem no viveiro, para se estimar o peso médio dos camarões.

Aerador

Fundação Demócrito Rocha 35


Arraçoador: aquele que dá a ração.

Para que servem as bandejas e como elas funcionam?

Ao multiplicarmos o peso pela quantidade de camarões, temos a estimativa da biomassa existente no viveiro, onde podemos controlar a quantidade de ração que vai ser consumida por dia. O arraçoador deve retirar o alimento não consumido das bandejas, para evitar a decomposição desse material no viveiro e consequente perda na qualidade da água. Durante o processo de muda, os indivíduos reduzem a quantidade de alimento consumido, devendo o encarregado estar atento para evitar o desperdício de ração.

No início do cultivo, alimentamos as pós-larvas duas vezes ao dia, chegando até cinco vezes no final do cultivo. Atualmente, já estão sendo alimentados até às 22 horas, sendo os resultados alcançados promissores para a engorda. Após a engorda, os camarões são despescados através de uma rede posicionada na abertura das comportas de drenagem, que recolhe os que saem com a água do viveiro. Deve-se fazer uma amostragem dos animais no que se refere à quantidade de indivíduos necrosados, em fase de muda (no máximo 10%), e a aparência e peso médio alcançados.

TABELA 8 - ESTÁGIO DE ENGORDA, TAMANHO DO CAMARÃO, ALIMENTAÇÃO Estágio engorda (dias)

Peso do camarão (g)

0 - 30

3,0

31 - 45

46 - 60

61 - Despesca

3,0 – 6,5

6,5 – 11,0

11,0

Horário alimentação

% refeição diária

7:00

50

12:00

50

7:00

30

12:00

40

17:00

30

6:00

20

10:00

30

14:00

30

18:00

20

6:00

15

9:00

20

12:00

30

15:00

20

18:00

15 Fonte: ABCC

36

Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura


Todo camarão deve ser pesado e acondicionado em monoblocos de plásticos, para serem mortos através de choque térmico (imersão em água com gelo e metabissulfito de sódio), para conservarem a sua boa aparência e frescor depois de congelados no beneficiamento. O metabissulfito de sódio utilizado serve para evitar o aparecimento da cabeça preta nos camarões, além de ser um conservante durante o beneficiamento. Toda água misturada com ele deve ser separada e retirada das proximidades dos viveiros e canais, sendo volatilizado em depósitos próprios para a sua permanência.

O Metabissulfito de Sódio (Na2S2O5) é um pó cristalino de coloração branca a levemente amarelada, que ao reagir com a água libera o gás dióxido de enxofre (SO2). O SO2 é considerado de insalubridade máxima pelo Ministério do Trabalho e Emprego, quando atinge 4 ppm (partes do gás por milhão de partes do ar contaminado). A quantidade de SO2 gerada pelos sulfitos em dissolução depende do pH e da temperatura. Ele é um gás irritante e seus efeitos são devidos à formação de ácido sulfúrico e ácido sulfuroso ao contato com as mucosas umedecidas em consequência de sua rápida combinação com água, quando ocorre reação de oxidação.

Volatilizado: Reduzir-se a gás ou vapor; vaporizar-se.

Que procedimentos devem ser utilizados na morte dos camarões?

TABELA 9 - PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS, PROBLEMAS E MEDIDAS CORRETIVAS Parâmetros

Problema

Medida corretiva Aumentar a renovação de água.

Muito baixo durante todo o dia (<3 mg/L)

Não utilizar fertilização Não alimentar. Quantidade insuficiente de algas

Oxigênio dissolvido

Baixos valores à tarde (3 - 6 mg/L)

Mortalidade de algas Fertilização dos viveiros; Renovação de água à noite e durante o dia Quantidade excessiva de algas

Altas taxas à tarde (> 12mg/L)

Consumo de O2 durante a noite Aumentar renovação de água Excesso de algas

Alto (acima de 9,0) pH

Aumentar renovação de água Incrementar fertilização.

Baixo (abaixo de 7,0)

Quantidade insuficiente de algas Fertilização dos viveiros >>

Fundação Demócrito Rocha 37


Continuação

TABELA 9 - PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS, PROBLEMAS E MEDIDAS CORRETIVAS Parâmetros

Salinidade

Problema

Medida corretiva

Alta (maior que a do canal)

Aumentar renovação de água.

Baixa

Diminuir renovação de água;

Estratificação pela chuva

Remover água doce da superfície com renovação Aumentar a renovação de água

Secchi < 30 cm

Diminuir a alimentação Excesso de algas.

Secchi entre 30 - 40 cm

Boa produtividade O2 < 3 mg/L = Mortalidade de algas

Turbidez

Aumentar renovação de água Não oferecer alimentação. Secchi > 40 cm O2 > 3 mg/L Diminuir renovação de água Fertilização dos viveiros. Aumentar a renovação de água Alta > 35 ºC Aumentar nível da água Diminuir renovação de água

Temperatura Baixa < 25 ºC

Aproveitar aquecimento natural. Estratificação

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Formação para o trabalho 2 produtor de carcinicultura

Utilizar aerador de superfície.


A intoxicação aguda resulta da inalação de concentrações elevadas de SO2. A absorção pela mucosa nasal é bastante rápida, e aproximadamente 90% de todo o SO2 inalado são absorvidos na via aérea superior, onde a maioria dos efeitos ocorre. Logo após a absorção, ele é distribuído prontamente pelo organismo, atingindo tecidos e o cérebro. A pneumonia pode ser uma complicação após exposição aguda à substância. Reações alérgicas podem ocorrer e o SO2 penetra no tubo digestivo, diluindo-se na saliva e formando ácido sulfuroso. Os dentes perdem o brilho, surgem amarelamento do

esmalte, erosões dentárias e distúrbios das gengivas. É provável que a absorção de grande quantidade de SO2 tenha efeitos hematológicos, produzindo metemoglobina. O contato com a pele provoca irritação, devido à formação de ácido sulfuroso, com o suor. Na prevenção da intoxicação devese controlar a emissão dos gases, ventilação dos locais, equipamento de proteção respiratória para os locais com elevadas concentrações. Recomenda-se higiene pessoal rigorosa, escovação dos dentes após o trabalho e dieta rica em proteínas e vitaminas.

Resumo da lição • Quando a área onde vai ser construído o viveiro encontra-se seca, deve-se realizar o revolvimento do solo para permitir sua aeração seguida de uma calagem; • Com o abastecimento de água, inicia-se o processo de fertilização dos viveiros; • O processo de fertilização deve ser cercado de vários cuidados para se evitar falta ou excesso de alimentos no viveiro; • Os fertilizantes químicos podem ser na forma granula ou líquida; • O esterco não deve ser aplicado como fertilizante pois reduz o oxigênio dissolvido; • Conservação dos camarões com metabissulfito de sódio.

Fundação Demócrito Rocha 39


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Os estudiosos da economia estão de acordo que a educação é o motor do desenvolvimento e qualificar a população que possui baixa escolaridade é o grande desafio dos gestores do século XXI. REALIZAÇÃO

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