O Peixinho de Pedra

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Socorro Acioli Sebastião pegou uma das pedras, como se pegasse em um filho e entregou-a à sua neta. — Este é o primeiro peixe que eu achei, quando tinha quase a sua idade. Eu ainda vou levar esse bichinho pra ver o mar dele de novo. A menina estava encantada: era um peixe que viveu no mar do sertão. Nenhum homem ou mulher podiam contar como era o Cariri naquele tempo cheio de água, mas aquele peixe estava ali, nas suas mãos, contando a história.

ilustrações

Ronaldo Almeida



Socorro Acioli

Ilustrações

Ronaldo Almeida

1ª Edição Reimpressão Fortaleza, 2008


Copyright©2006 by Edições Demócrito Rocha

Editora

Albanisa Lúcia Dummar Pontes

Coordenação de Design Gráfico Deglaucy Jorge Teixeira

Coordenação de Produção Sérgio Sampaio

Projeto Gráfico Capa Deglaucy Jorge Teixeira Ronaldo Almeida

Editoração Eletrônica

Ronaldo Almeida e Suzana Paz

Revisão de Texto

Vessillo Monte e Edísio Fernandes

Catalogação na Fonte Rodrigo Leite

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A181p

Acioli, Socorro. O peixinho de pedra / Socorro Acioli; ilustrações Ronaldo Almeida. – 1. ed. – reimpr. – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2008. 32 p. ISBN 978-85-7529-323-2 1. Literatura infanto-juvenil. I. Título. CDU 82-93

Edições Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282 - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza - Ceará - Brasil Tel.: (85) 3255.6176 - 3255.6256 - Fax (85) 3255.6276 www.fdr.com.br/edr - E-mail: edr@fdr.com.br


Queridos leitores, Sempre me perguntam de onde me surgem as idéias para escrever os meus livros. Pois bem, antes que você comece a ler O Peixinho de Pedra, eu vou contar tudo o que aconteceu desde que esse peixe começou a nadar no mar dos meus pensamentos. Tudo aconteceu no ano de 1999, quando iniciei meu trabalho como professora voluntária na Fundação Casa Grande, uma escola de comunicação para crianças do sertão, na cidade de Nova Olinda, no sul do Ceará. A Casa Grande foi fundada em 1992 pelos músicos Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde. Foi lá que conheci as crianças e adolescentes que mudaram completamente a minha vida e me ensinaram outra forma de ver o mundo. No Cariri encontrei meninos e meninas que andam mais de uma hora no sol quente para ir e voltar da escola todos os dias. Conheci outros que nunca puderam ir à escola, porque trabalhavam ajudando os pais a sustentar famílias numerosas, morando em pequenas casas sem nenhum conforto. Muitos deles trabalham retirando pedras das serras, usando ferramentas pesadas, um trabalho de muito risco. Mas estes meninos, mesmo com todas as dificuldades, foram as pessoas mais fortes e criativas que conheci na vida. Foi junto deles que vi pela primeira vez um peixinho de pedra. Os meninos me contaram muitas lendas da região do Cariri e me explicaram que aquele lugar já foi um grande lago banhado por águas do mar, mas que um dia, por encanto, o lago secou e os animais ficaram presos no solo. Uma das lendas da região anuncia que um dia, uma grande rocha, chamada de Pedra da Batateira, vai desabar e o Cariri voltará a ser mar novamente. Pertinho de Nova Olinda, em Santana do Cariri, conheci o professor Plácido Cidade Nuvens, ex-prefeito da cidade e fundador do Museu de Paleontologia. Ele me contou como a ciência explica a existência dos fósseis – o nome científico dos animais e vegetais preservados nas pedras da região- uma história que começou no Período Cretáceo, há mais de 110 milhões de anos. O Museu de Paleontologia começou a preservar e pesquisar os fósseis e hoje é uma referência no mundo inteiro. Por causa desse museu, cientistas de vários países visitam Santana do Cariri. Entre os visitantes, conheci o escritor francês Michel Régnier, que estava na cidade fazendo uma pesquisa para escrever o romance Le fossile (O fóssil) que foi publicado em 2004 pela editora canadense Éditions Pierre Tisseyre. Acompanhei o trabalho de Michel, ajudei a traduzir as entrevis-


tas, e fiquei com muita vontade de escrever sobre os fósseis, mas de uma maneira diferente, contando a história para crianças. Isso aconteceu em 2002. O tempo passou e agora, tantos anos depois, chegou o momento certo para escrever sobre as pedras mágicas do Cariri. Enfim, o livro O Peixinho de Pedra é um pouco de tudo isso que tenho vivido com os meninos da Casa Grande e suas famílias, das minhas viagens para o Cariri, dos passeios com essas crianças e da emoção de ter levado muitos deles para ver o mar, em Fortaleza, pela primeira vez na vida. Os nomes dos personagens – Ana Vitória, Sebastião, Vanda, Plácido e Samara – são homenagens a pessoas reais que me deram inspiração para escrever. Mas o livro não foi feito somente por mim. Muitas pessoas me ajudaram e agora é a hora de agradecer: A José Marcos, meu marido e Beatriz, minha filha, pelo amor que me fortalece e inspira; A Alemberg Quindins, Rosiane Limaverde, Ana Sewi e Pedro Iã e todos os meninos da Casa Grande, pela carinhosa acolhida; A Michel Régnier, por me ensinar a fazer uma belíssima pesquisa de campo; A Jorge Pieiro, Flora, Raul, Beatriz Sá, Isadora Sá, Davi, Natália, Carlos Eduardo Bezerra e Mariana Cordiviola, meus leitores críticos que tanto ajudaram com as revisões finais; À equipe das Edições Demócrito Rocha, pela dedicação, talento, paciência e competência durante todo o trabalho; À minha afilhada Ana Vitória, que me ensinou muito durante o pouco tempo em que esteve perto de nós; A Plácido Cidade Nuvens, a quem dedico este livro. A melhor notícia vem agora: eu ainda tenho muitas, muitas histórias lindas para contar, inspiradas por esses meninos e meninas do Cariri. Espero ter uma vida bem longa para escrever vários livros e dedicar a cada um deles. Espero, também, que a história do Peixinho de Pedra consiga emocionar os leitores e transmitir todo o encanto e mistério dos fósseis do Cariri.

Com todo carinho, Socorro Acioli


Para Plรกcido Cidade Nuvens


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Dentro dos sonhos, ela molhava os pés na espuma, sentia o gosto da água salgada e deixava que o sol dourasse sua pele enquanto nadava entre as ondas, ouvindo a canção do vento. Enchia as mãos de búzios, enfeitava o cabelo com algas, olhava para o horizonte e brincava de imaginar os mundos que existem depois que o mar acaba.

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Socorro Acioli Sebastião pegou uma das pedras, como se pegasse em um filho e entregou-a à sua neta. — Este é o primeiro peixe que eu achei, quando tinha quase a sua idade. Eu ainda vou levar esse bichinho pra ver o mar dele de novo. A menina estava encantada: era um peixe que viveu no mar do sertão. Nenhum homem ou mulher podiam contar como era o Cariri naquele tempo cheio de água, mas aquele peixe estava ali, nas suas mãos, contando a história.

ilustrações

Ronaldo Almeida


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